ENTENDA A CRISE DO CAPITALISMO NORTE-AMERICANO MARVADO MERCADO O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito). O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de 'emibiêi', decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia. Uns seis 'zécutivos' de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer. Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu). Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia desmorona.'' Autor desconhecido Entenda a crise financeira dos Estados Unidos Da Redação Em São Paulo Financeiras americanas confiaram de modo excessivo em clientes que não tinham bom histórico de pagamento de dívidas nos últimos anos. Esse tipo de financiamento, de alto risco, é chamado de "subprime" (traduzido como "de segunda linha"). Os clientes davam como garantia suas casas, mas o mercado imobiliário entrou em crise em meados do ano passado. Os preços dos imóveis caíram, reduzindo as garantias dos empréstimos. Com medo, os bancos dificultaram novos empréstimos. Isso fez cair o número de compradores de imóveis, agravando ainda mais a crise no setor, que começou a ser observada em julho de 2007. O problema pode afetar o nível de emprego e o consumo, causando uma recessão geral na economia dos EUA. Bancos transformaram esses empréstimos hipotecários em papéis e venderem a outras instituições financeiras, que também acabaram sofrendo perdas. Alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos anunciaram prejuízos bilionários, como o Citigroup e o Merril Lynch, que perderam quase US$ 10 bi cada um no 4º trimestre. Como os EUA estão entre os maiores consumidores do mercado global, todo o mundo é afetado. Países que exportam para lá, como o Brasil, podem vender menos. As Bolsas mundiais, incluindo a brasileira, sentiram o baque e tiveram perdas fortes nos três primeiros meses do ano. Na Europa e na Ásia, os índices de ações regionais tiveram o pior desempenho trimestral desde 2002. Nos últimos meses, têm-se falado em "blindagem" da economia brasileira. O raciocínio é de que a demanda de países emergentes, principalmente a China, por matérias primas (setor em que o Brasil é forte) e o consumo interno aquecido ajudariam contrabalançar uma eventual redução de exportações para os EUA. No plano financeiro, o inédito volume de reservas internacionais do Brasil, hoje próximo de US$ 200 bilhões, ajuda os investidores a manterem a confiança na capacidade do país de honrar suas dívidas. Últimos golpes No início de setembro, o Tesouro americano anunciou intervenção nas gigantes do setor hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac. Pelo plano, as duas companhias ficarão sob o controle do governo por tempo indeterminado, com a substituição dos executivos-chefes de ambas companhias e com um investimento de US$ 200 bilhões nas duas financiadoras de empréstimos imobiliários para mantê-las solventes. Alguns dias depois, o quarto maior banco de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers, anunciou que pretende pedir concordata na Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York. O quarto maior banco de investimentos dos EUA informou que seu conselho de administração autorizou o pedido de concordata a fim de proteger seus ativos e maximizar seu valor. O Bank of America, por sua vez, fechou um acordo de compra do banco de investimentos Merrill Lynch, que estava sob risco de quebrar, por US$ 50 bilhões, em uma transação que cria a maior companhia de serviços financeiros do mundo. Em 17 de março, o quinto maior banco de investimento dos Estados Unidos, o Bear Stearns, recebeu uma proposta de compra, por parte do JPMorgan, de US$ 2 por ação, preço irrisório, 90% inferior ao do pregão anterior. O motivo é que a instituição quase entrara em colapso, justamente por conta de problemas com o crédito de alto risco. Dois dias depois, um novo golpe nos investidores: o preço de commodities sofreu forte queda no mercado internacional, derrubando a cotação das ações das duas maiores empresas de capital aberto do país, a Petrobras e a Vale. (FSP) Entenda como começou a crise nos EUA As quebras e os problemas enfrentados por bancos até então considerados importantes e sólidos geraram o que se chama de "crise de confiança". Num mundo de incertezas, o dinheiro pára de circular --quem possui recursos sobrando não empresta, quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Isso fez cair e encarecer o crédito disponível. E numa economia globalizada, a falta de dinheiro em outro continente afeta empresas no mundo todo. Marianne Armshaw/AP Crise financeira começou com a concessão de créditos de alto risco no setor imobiliário Com a circulação de dinheiro congelada e o consumo comprometido, o resultado esperado é a contração das economias, uma vez que empresas, pessoas físicas e governos passam a encontrar dificuldade em financiarem seus projetos. Justamente para injetar liquidez (dinheiro nos mercados) os Bancos Centrais fazem leilões de moeda e criam linhas especiais de bilhões de dólares. No Brasil, é exatamente esse o principal efeito da crise: a dificuldade em se obter dinheiro. Grandes empresas que dependem de financiamento externo passam a encontrar menos linhas de créditos disponíveis, afinal, os bancos têm medo de emprestar em um contexto de crise. Por conseqüência, com a dificuldade em captar no exterior, ficam comprometidos projetos de construção dessas empresas, que por sua vez gerariam empregos e renda ao país. Até mesmo os bancos começam a sofrer com a dificuldade de captar recursos no exterior, o que deve fazer os empréstimos ficarem mais caros e mais difíceis também para as pessoas físicas. Por conta disso, as instituições de médio e pequeno porte já tiveram ajuda do governo brasileiro. Para reduzir os efeitos da crise internacional, o BC (Banco Central) anunciou mudanças nos depósitos compulsórios das instituições financeiras, um dos instrumentos usados para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. Antônio Gaudério/Folha Imagem Escassez de dinheiro em circulação dificulta investimentos de governos e empresas Por meio do depósito compulsório, o órgão obriga os bancos a depositar em uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança. Assim, quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes. Ainda na esteira da contração do crédito, outra conseqüência da crise nos EUA é haver alguma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Isso porque o consumo das famílias e o investimento das empresas, dois dos principais pilares de expansão da economia nos últimos anos, cresceram justamente pela farta oferta de crédito. Com menos dinheiro, gasta-se menos, produz-se menos e o crescimento é menor. Também serão afetadas as exportações do país, que devem cair porque os países compradores estão se desaquecendo e possuem menos dinheiro para comprar --e menos população com capacidade de consumir. Por isso, o governo já estuda linhas especiais de financiamento. Entre as possibilidades está colocar mais dinheiro no Proex (Programa de Financiamento às Exportações) e garantir recursos para ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), mecanismo que permite às empresas oferecer os dólares que receberão por suas exportações como garantia de empréstimos. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também já declarou que o banco de fomento conta com dinheiro suficiente até a primeira metade de 2009 para fazer face à escassez de crédito internacional. Por fim, pesa a alta do dólar --em momento de crise, a cotação sobe porque a moeda americana, considerada um investimento seguro, tem mais procura. E o dólar mais caro encarece os importados, o que pressiona a inflação e reduz o poder de compra. Folha on-line Mercado de capitais de todo o mundo acumula perdas com a crise financeira Bolsa de Valores Um dos reflexos mais visíveis da crise, porém, é a forte queda nos mercados acionários. Trata-se de um ciclo sem fim: com medo da crise financeira aumentar, os investidores tiram o dinheiro das Bolsas, consideradas investimentos de risco. Então, faltam recursos para as empresas investirem e a crise aumenta, o que faz o investidores tirarem mais dinheiro. Ou seja, como a crise americana provoca justamente aversão ao risco, os investidores em ações preferem sair das Bolsas, sujeita a oscilações sempre, e aplicar em investimentos mais seguros. Além disso, os estrangeiros que aplicam em mercados emergentes, como o Brasil, vendem seus papéis para cobrir perdas lá fora. Com muita gente querendo vender --oferta elevada--, os preços dos papéis caem e os índices (que refletem os valores das ações) desvalorizam. Um exemplo Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares, financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou para o Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares. Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou três casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares, que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas , notebooks, cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito. Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez. O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil! Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-fixadas) e Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre. Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Tinha casa para vender como nunca. Paul foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das três casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito. Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as três casas mas ou não havia compradores, ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul. Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as três casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir… Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseados nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls, esses títulos começaram a valer pó. Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos. Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel… Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores. Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou. Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir. O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo, porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão. O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado, insolvente. O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por dois dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira. O que começou com o Paul hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá. Crise econômica norte-americana - entrevista Plínio de Arruda Sampaio Jr. Rádio AgênciaNP (6'10'' / 1,41 Mb) - Em 2001 quando uma crise de oferta de capitais se abateu sobre a economia mundial, o Banco Central Americano (Federal Reserve) para estimular novamente a economia americana, utilizou-se de uma tática de abaixar os juros. A medida tinha como intenção estimular os empréstimos para a população, incentivar o consumo e com isso conseqüentemente, reaquecer a economia. O ramo mais impactado foi o imobiliário. Milhares de empréstimos foram feitos com a intenção de comprar imóveis. Os bancos por seu lado, não avaliaram se as instituições que tomaram crédito na época eram confiáveis ou não. Como conseqüência, os prejuízos foram enormes. Na casa de R$ 800 bilhões. Isso gerou um trauma que agora se dá pela falta de oferta de crédito que este ano pode atingir a casa R$ 4 trilhões. O Banco Central americano agora utiliza a mesma tática para tentar sanar a situação. No último mês o Federal Reserve diminui a taxa de juros de 4,25% para 3,5%. Para explicar melhor a crise na economia americana e os reflexos que ela pode causar para a população da brasileira, a Radioagência NP, entrevistou o economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Plínio de Arruda Sampaio Junior. Radioagência NP: Como você descreve o momento que a economia mundial está vivendo? Plínio de Arruda Sampaio Jr: Estamos vivendo uma crise de superprodução e uma crise de especulação financeira. A superprodução provoca um movimento de especulação financeira que, quando estoura, agrava o problema de superprodução. Ou seja, você cria um excedente que não tem como voltar para a economia e começa a ser valorizar na órbita da especulativa financeira e, no caso específico da crise que estamos falando, na órbita da especulação imobiliária. RNP: E como essa especulação gerou a crise? PAS: O problema apareceu no momento em que se descobriu que este “boom imobiliário” é fictício. Não há recursos para sancionar esse movimento especulativo. Você desvaloriza o patrimônio dos imóveis, as pessoas que compraram imóveis, depois ficam sem dinheiro para pagar as prestações e aí começa o processo inverso da euforia, que é o processo de pânico. Todo mundo passa a querer se desfazer do patrimônio comprado. Esse é o funcionamento da crise. Não é fenômeno novo, ele é histórico e agora apenas se manifesta com as suas especificidades próprias. RNP: Isso é parecido com o que aconteceu na quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929? PAS: De certa forma sim, mas com a diferença de quem em 1929, os Estados capitalistas centrais não estavam preparados para administrar a crise, ou seja, não deixar que a queima de capital se dê de forma anárquica e abrupta. O desafio de agora é ver se os mecanismos do Banco Central americano e os principais bancos centrais da Europa e da Ásia são suficientes para administrar o tamanho da crise. RNP: Essa crise pode afetar o Brasil? PAS: A economia mundial é interconectada, a desaceleração e a queda da economia norte-americana vão afetar as economias mundiais. No caso específico da economia brasileira vai afetar fundamentalmente de duas maneiras. Dificilmente teremos o mesmo volume de investimento de capital externo que tivemos nos últimos cinco anos. Também irá impactar pelo lado real, pois hoje o principal fator dinâmico da economia brasileira é a exportação, e é inevitável que ela caia. Isso porque a demanda externa vai cair e também porque os preços dos produtos que nos vendemos que são basicamente commodities tendem a sofrer mais em momentos de crise. RNP: Essa atitude do Banco Central de diminuir os juros e estimular novamente uma oferta de crédito e pagamento de dívidas, pode tanto sanar como estimular um outro movimento especulativo. O que se pode fazer para realmente solucionar essa crise? PAS: Para você resolver a crise dentro do modelo capitalista, você teria que abrir novas frentes de investimento. É preciso dois movimentos, primeiro criar demanda para a capacidade produtiva. Uma maneira de fazer isso é distribuir renda e em paralelo a isso, você abre novas oportunidades de investimento. Então, por exemplo, se você não pode investir na produção de automóveis porque este ramo já está saturado, você investe em saúde ou educação pública. Daí esse excedente de capital não será jogado na bolsa para ser usado para comprar imóveis de forma especulativa. Isto ele [estudunidenses] não estão fazendo e foi justamente por causa disso que esse dinheiro foi para o mercado especulativo. De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues. Adicionar Comentário A crise norte-americana e o resto do mundo Escrito por Wladimir Pomar Correio da Cidadania 12-Mar-2008 A presente globalização, em certa medida, deu sobrevida ao capitalismo. O progresso tecnológico nos países em desenvolvimento cresceu de 40% a 60% mais rapidamente do que nos países desenvolvidos, entre o final de 1990 e o início dos anos 2000, expandindo o modo capitalista de produção para áreas até então consideradas inviáveis. Contrariamente ao que muitos pensavam, esse progresso capitalista não aumentou o número de pessoas vivendo em miséria absoluta nos países em desenvolvimento. Esse número foi reduzido de 29%, em 1980, para 18%, em 2004, em grande parte porque a industrialização dos países emergentes absorveu grandes contingentes de trabalhadores rurais, cuja renda estava abaixo da linha da pobreza. Por outro lado, isto não significa que as contradições capitalistas estejam sendo resolvidas. Ao contrário, ao disseminar ainda mais seu modo de produção ao redor do mundo, o capitalismo agrava mais fortemente as contradições presentes nos países desenvolvidos. E, no mundo em desenvolvimento, prepara o terreno para que tais contradições comecem a convergir, globalmente, para um ponto em que se tornará patente a incapacidade capitalista de, ao mesmo tempo, gerar riqueza, distribuí-la segundo as necessidades de cada membro da sociedade, e preservar a natureza que fornece aos seres vivos as condições de sua existência. Se compararmos a atual crise financeira norte-americana a crises idênticas, de um passado não muito distante, não será difícil notar que existe uma nova situação global. A crise está abalando principalmente os países desenvolvidos, enquanto o mundo em desenvolvimento está sendo afetado relativamente muito pouco. O exemplo da China é emblemático. Muitos analistas previam que esse país deveria crescer 10%, em 2008, contra 11,4%, em 2007, se a economia mundial não sofresse abalos. Eles também acreditavam que, caso a crise norte-americana descambasse para a recessão, isto deveria causar um estrago significativo na economia chinesa, fazendo com que sua taxa de crescimento caísse para 8%. Porém, essas previsões "pessimistas" sobre a economia chinesa são o sonho otimista dos planejadores chineses. Desde a crise financeira de 1999, eles têm feito esforços para reduzir o ritmo de crescimento de sua economia para 7% a 8% ao ano. O fato de eles terem que continuar redobrando seus esforços para diminuir aquele ritmo, independentemente da crise americana, apenas mostra que uma parte do mundo está eventualmente blindada contra as ondas de choque das crises do capitalismo desenvolvido. O que não é pouco. Wladimir Pomar é escritor e analista político. Compartilhe : Torne Página Inicial Como surgiu a Crise Econômica Mundial Saiba como surgiu a Crise Econômica Mundial, as dicas dos especialistas, como o Brasil vai reagir a crise e qual a previsão para acabar a crise econômica mundial. Publicidade Desde dezembro de 2007 a economia dos Estados Unidos está oficialmente em recessão. Desde então o governo aprovou pacotes de estímulos de ajuda às empresas e bancos em dificuldades financeiras. O atual presidente dos EUA, Barack Obama, conseguiu aprovar na câmara e senado os pacotes de estímulo à economia americana. Existem versões de especialistas para os motivos da atual crise econômica. A mais comentada é a do mercado imobiliário dos EUA. Os EUA entraram em recessão em 2001, após o estouro da bolha das empresas da chamada Nova Economia (as empresas "ponto com"). Os juros foram baixados para apenas 1% ao ano em junho de 2003. A conseqüência do corte de juros foi o reaquecimento da economia americana, o que gerou o "boom" no mercado imobiliário dos Estados Unidos. As empresas hipotecárias focaram no grupo de clientes chamado "subprime". Estes clientes representam um risco maior de pagamento, mas trazem taxas de retorno mais altas. Gestores e fundos bancários se interessaram nessas dívidas hipotecárias. Essas instituições compraram os títulos hipotecários do grupo "subprime" e parte da quantia foi emprestada, antes da primeira dívida ser quitada. Investidores passaram a recomprar esses títulos, Em agosto de 2007 o banco BNP Paribas Investment Partner congelou os resgates em fundos, que segundo o banco, eram difíceis para avaliar os valores dos investimentos que eram ligados às hipotecas de risco. Este foi considerado o primeiro grande golpe ao setor financeiro da Crise Econômica Mundial. Logo após a decisão do BNP, outras entidades passaram a tomar a mesma atitude, que gerou desconfiança e pânico aos investidores. Aumentado pela concordata da AHM, uma das maiores empresas de hipotecas dos Estados Unidos. A partir daí, empresas de crédito imobiliário tiveram de pedir concordata ou foram compradas por outras empresas ou bancos. Estes também passaram a sofrer seriamente com a crise. Em agosto de 2008, o Lehman Brothers pediu concordata. O Lehman Brothers foi fundado em 1850 e era um dos mais importantes bancos dos EUA, com negócios no ramo de investimentos de capital, renda fixa, negociação e gestão de investimento. Desde então outros importantes bancos como o Citigroup, Wells Fargo e o Bank of America, sinalizaram as conseqüências da crise econômica. Todos os setores da economia foram afetados como uma bola-de-neve. O PIB americano recuou 3,8% no último trimestre de 2008 - pior desempenho desde 1982. O governo americano aprovou em outubro de 2008 um pacote de ajuda de US$ 700 bilhões. O objetivo do pacote era ajudar os bancos afetados com os derivativos lastreados nas hipotecas "subprime". Mesmo assim, foram incluídos na ajuda bancos que não foram tão afetados, empresas de créditos, montadoras de automóveis, entre outros. As montadoras de automóveis receberam uma atenção especial devido a sua enorme importância na economia criando uma cadeia de venda de títulos baseada na confiança da compra do consumidor. Em 2006 surgiram os problemas perceptíveis. Os preços das casas a as taxas de juros não pararam de subir. Em junho de 2004 a taxa de juros alcançou 5,25%. Os proprietários ficaram em dificuldades de manter as prestações das hipotecas, já que os contratos previam correções. O aumento da inadimplência foi inevitável. As instituições financeiras que revenderam derivativos dos títulos "subprime" ficaram em situação problemática. Gerando uma cascata de inadimplências, que resultou numa crise de liquidez e, consequentemente, retração de crédito. O que são os derivativos? Os derivativos são considerados arriscados, porque são papéis com valor derivado de outros ativos. Os derivativos tem o propósito de limitar, assumir ou transferir determinados riscos. mundial. A General Motors (GM) e a Chrysler precisaram de mais de US$ 17 bilhões para continuar em operação e evitar milhares de mais desempregados em empregos diretos e indiretos. O desemprego aumentou consideravelmente em todo o país. Em 2008, a taxa de desemprego foi de 7,2% - a pior desde 1993. Um novo pacote de ajuda de mais de US$ 800 bilhões será destinado para obras de infra-estrutura e geração de três milhões de empregos. Enquanto o próprio presidente Barack Obama apontou que a crise pode demorar anos, analistas prevêem que a recuperação econômica pode dar sinais no final de 2009 ou em meados de 2010. Alguns especialistas mais céticos apontam que esta crise pode gerar numa nova depressão econômica que pode ser igual ou ainda pior que a dos anos 30. Muitos apontam que em cenário de crise surgem oportunidades. A qualidade jamais deve ser descartada. Ela pode ser um diferencial. O entretenimento, por exemplo, pode ter aumentos significativos, assim como a compra e venda de produtos locais. l