Crise econômica norte-americana - entrevista Plínio de

Propaganda
ENTENDA A CRISE DO CAPITALISMO NORTE-AMERICANO
MARVADO MERCADO
O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça 'na
caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da
dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo
crédito). O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em
curso de 'emibiêi', decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem,
afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento
tendo o pindura dos pinguços como garantia. Uns seis 'zécutivos' de bancos,
mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB,
CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que
ninguém sabe exatamente o que quer dizer. Esses adicionais instrumentos
financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações
estruturadas de derivativos na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo
desconhece (as tais cadernetas do seu Biu). Esses derivativos estão sendo
negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos
mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila
Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à
falência. E toda a cadeia desmorona.''
Autor desconhecido
Entenda a crise financeira dos Estados Unidos
Da Redação
Em São Paulo
Financeiras americanas confiaram de modo excessivo em clientes que não
tinham bom histórico de pagamento de dívidas nos últimos anos. Esse tipo de
financiamento, de alto risco, é chamado de "subprime" (traduzido como "de
segunda linha").
Os clientes davam como garantia suas casas, mas o mercado imobiliário
entrou em crise em meados do ano passado. Os preços dos imóveis caíram,
reduzindo as garantias dos empréstimos.
Com medo, os bancos dificultaram novos empréstimos. Isso fez cair o número
de compradores de imóveis, agravando ainda mais a crise no setor, que
começou a ser observada em julho de 2007.
O problema pode afetar o nível de emprego e o consumo, causando uma
recessão geral na economia dos EUA.
Bancos transformaram esses empréstimos hipotecários em papéis e venderem
a outras instituições financeiras, que também acabaram sofrendo perdas.
Alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos anunciaram prejuízos
bilionários, como o Citigroup e o Merril Lynch, que perderam quase US$ 10 bi
cada um no 4º trimestre.
Como os EUA estão entre os maiores consumidores do mercado global, todo o
mundo é afetado. Países que exportam para lá, como o Brasil, podem vender
menos.
As Bolsas mundiais, incluindo a brasileira, sentiram o baque e tiveram perdas
fortes nos três primeiros meses do ano. Na Europa e na Ásia, os índices de
ações regionais tiveram o pior desempenho trimestral desde 2002.
Nos últimos meses, têm-se falado em "blindagem" da economia brasileira. O
raciocínio é de que a demanda de países emergentes, principalmente a China,
por matérias primas (setor em que o Brasil é forte) e o consumo interno
aquecido ajudariam contrabalançar uma eventual redução de exportações para
os EUA.
No plano financeiro, o inédito volume de reservas internacionais do Brasil, hoje
próximo de US$ 200 bilhões, ajuda os investidores a manterem a confiança na
capacidade do país de honrar suas dívidas.
Últimos golpes
No início de setembro, o Tesouro americano anunciou intervenção nas
gigantes do setor hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac. Pelo plano, as duas
companhias ficarão sob o controle do governo por tempo indeterminado, com a
substituição dos executivos-chefes de ambas companhias e com um
investimento de US$ 200 bilhões nas duas financiadoras de empréstimos
imobiliários para mantê-las solventes.
Alguns dias depois, o quarto maior banco de investimentos dos EUA, o
Lehman Brothers, anunciou que pretende pedir concordata na Corte de
Falências do Distrito Sul de Nova York. O quarto maior banco de investimentos
dos EUA informou que seu conselho de administração autorizou o pedido de
concordata a fim de proteger seus ativos e maximizar seu valor.
O Bank of America, por sua vez, fechou um acordo de compra do banco de
investimentos Merrill Lynch, que estava sob risco de quebrar, por US$ 50
bilhões, em uma transação que cria a maior companhia de serviços financeiros
do mundo.
Em 17 de março, o quinto maior banco de investimento dos Estados Unidos, o
Bear Stearns, recebeu uma proposta de compra, por parte do JPMorgan, de
US$ 2 por ação, preço irrisório, 90% inferior ao do pregão anterior. O motivo é
que a instituição quase entrara em colapso, justamente por conta de problemas
com o crédito de alto risco.
Dois dias depois, um novo golpe nos investidores: o preço de commodities
sofreu forte queda no mercado internacional, derrubando a cotação das ações
das duas maiores empresas de capital aberto do país, a Petrobras e a Vale.
(FSP)
Entenda como começou a crise nos EUA
As quebras e os problemas enfrentados por bancos até então considerados
importantes e sólidos geraram o que se chama de "crise de confiança". Num
mundo de incertezas, o dinheiro pára de circular --quem possui recursos
sobrando não empresta, quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não
encontra quem forneça. Isso fez cair e encarecer o crédito disponível. E numa
economia globalizada, a falta de dinheiro em outro continente afeta empresas
no mundo todo.
Marianne Armshaw/AP
Crise financeira começou com a concessão
de créditos de alto risco no setor imobiliário
Com a circulação de dinheiro congelada e o consumo comprometido, o
resultado esperado é a contração das economias, uma vez que empresas,
pessoas físicas e governos passam a encontrar dificuldade em financiarem seus
projetos. Justamente para injetar liquidez (dinheiro nos mercados) os Bancos
Centrais fazem leilões de moeda e criam linhas especiais de bilhões de dólares.
No Brasil, é exatamente esse o principal efeito da crise: a dificuldade em se
obter dinheiro. Grandes empresas que dependem de financiamento externo
passam a encontrar menos linhas de créditos disponíveis, afinal, os bancos têm
medo de emprestar em um contexto de crise. Por conseqüência, com a
dificuldade em captar no exterior, ficam comprometidos projetos de construção
dessas empresas, que por sua vez gerariam empregos e renda ao país.
Até mesmo os bancos começam a sofrer com a dificuldade de captar recursos
no exterior, o que deve fazer os empréstimos ficarem mais caros e mais difíceis
também para as pessoas físicas. Por conta disso, as instituições de médio e
pequeno porte já tiveram ajuda do governo brasileiro.
Para reduzir os efeitos da crise internacional, o BC (Banco Central) anunciou
mudanças nos depósitos compulsórios das instituições financeiras, um dos
instrumentos usados para controlar a quantidade de dinheiro que circula na
economia.
Antônio Gaudério/Folha Imagem
Escassez de dinheiro em circulação dificulta
investimentos de governos e empresas
Por meio do depósito compulsório, o órgão obriga os bancos a depositar em
uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos
depósitos à vista, a prazo ou poupança. Assim, quando reduz o compulsório, o
BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes.
Ainda na esteira da contração do crédito, outra conseqüência da crise nos EUA
é haver alguma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Isso
porque o consumo das famílias e o investimento das empresas, dois dos
principais pilares de expansão da economia nos últimos anos, cresceram
justamente pela farta oferta de crédito. Com menos dinheiro, gasta-se menos,
produz-se menos e o crescimento é menor.
Também serão afetadas as exportações do país, que devem cair porque os
países compradores estão se desaquecendo e possuem menos dinheiro para
comprar --e menos população com capacidade de consumir.
Por isso, o governo já estuda linhas especiais de financiamento. Entre as
possibilidades está colocar mais dinheiro no Proex (Programa de Financiamento
às Exportações) e garantir recursos para ACC (Adiantamento de Contrato de
Câmbio), mecanismo que permite às empresas oferecer os dólares que
receberão por suas exportações como garantia de empréstimos.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também já
declarou que o banco de fomento conta com dinheiro suficiente até a primeira
metade de 2009 para fazer face à escassez de crédito internacional.
Por fim, pesa a alta do dólar --em momento de crise, a cotação sobe porque a
moeda americana, considerada um investimento seguro, tem mais procura. E o
dólar mais caro encarece os importados, o que pressiona a inflação e reduz o
poder de compra.
Folha on-line
Mercado de capitais de todo o
mundo acumula perdas com a
crise financeira
Bolsa de Valores
Um dos reflexos mais visíveis da crise, porém, é a forte queda nos mercados
acionários. Trata-se de um ciclo sem fim: com medo da crise financeira
aumentar, os investidores tiram o dinheiro das Bolsas, consideradas
investimentos de risco. Então, faltam recursos para as empresas investirem e a
crise aumenta, o que faz o investidores tirarem mais dinheiro.
Ou seja, como a crise americana provoca justamente aversão ao risco, os
investidores em ações preferem sair das Bolsas, sujeita a oscilações sempre, e
aplicar em investimentos mais seguros. Além disso, os estrangeiros que
aplicam em mercados emergentes, como o Brasil, vendem seus papéis para
cobrir perdas lá fora. Com muita gente querendo vender --oferta elevada--, os
preços dos papéis caem e os índices (que refletem os valores das ações)
desvalorizam.
Um exemplo
Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares, financiado
em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares.
Aí, um banco perguntou para o Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como
800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez
uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares. Com os 800.000 dólares, Paul, vendo
que imóveis não paravam de valorizar, comprou três casas em construção dando como
entrada algo como 400.000 dólares.
A diferença, 400.000 dólares, que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou
carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do
dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas , notebooks, cuecas. Tudo financiado,
tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.
Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam
caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram
vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez. O negócio era refinanciar a
própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil!
Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o
Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-fixadas) e Paul percebeu que seu
investimento em imóveis se transformara num desastre. Milhões tiveram a mesma idéia
do Paul. Tinha casa para vender como nunca.
Paul foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das três casas que
ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos
carros, das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito. Aí as casas
que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande
parcela.
Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as três casas mas ou não havia
compradores, ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia
pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele
morava e das três casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram
sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não
quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as três casas que comprou como
investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família
pararam de consumir…
Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito
baseados nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de
milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com
valor de face. Com a inadimplência dos Pauls, esses títulos começaram a valer pó.
Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados
por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos
europeus e asiáticos. Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses
empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel… Preço que
despencou.
Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente
passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.
Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os
esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu
fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra
do crédito fácil um dia acaba. Acabou.
Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo
de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem
não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria
dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é
sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.
O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as
taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de
dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à
economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando
incrementar o consumo, porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos.
Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão
tecnicamente em recessão. O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias
esperançosas.
Até que o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise
bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um
dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado, insolvente.
O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase,
para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por
dois dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares.
Dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o
Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos
espera na próxima segunda-feira. O que começou com o Paul hoje afeta o mundo
inteiro.
A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.
Crise econômica norte-americana - entrevista
Plínio de Arruda Sampaio Jr.
Rádio AgênciaNP
(6'10'' / 1,41 Mb) - Em 2001 quando uma crise de oferta de capitais se abateu sobre a
economia mundial, o Banco Central Americano (Federal Reserve) para estimular
novamente a economia americana, utilizou-se de uma tática de abaixar os juros.
A medida tinha como intenção estimular os empréstimos para a população, incentivar o
consumo e com isso conseqüentemente, reaquecer a economia. O ramo mais impactado
foi o imobiliário. Milhares de empréstimos foram feitos com a intenção de comprar
imóveis. Os bancos por seu lado, não avaliaram se as instituições que tomaram crédito
na época eram confiáveis ou não.
Como conseqüência, os prejuízos foram enormes. Na casa de R$ 800 bilhões. Isso
gerou um trauma que agora se dá pela falta de oferta de crédito que este ano pode
atingir a casa R$ 4 trilhões.
O Banco Central americano agora utiliza a mesma tática para tentar sanar a situação. No
último mês o Federal Reserve diminui a taxa de juros de 4,25% para 3,5%.
Para explicar melhor a crise na economia americana e os reflexos que ela pode causar
para a população da brasileira, a Radioagência NP, entrevistou o economista da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Plínio de Arruda Sampaio Junior.
Radioagência NP: Como você descreve o momento que a economia mundial está
vivendo?
Plínio de Arruda Sampaio Jr: Estamos vivendo uma crise de superprodução e uma
crise de especulação financeira. A superprodução provoca um movimento de
especulação financeira que, quando estoura, agrava o problema de superprodução. Ou
seja, você cria um excedente que não tem como voltar para a economia e começa a ser
valorizar na órbita da especulativa financeira e, no caso específico da crise que estamos
falando, na órbita da especulação imobiliária.
RNP: E como essa especulação gerou a crise?
PAS: O problema apareceu no momento em que se descobriu que este “boom
imobiliário” é fictício. Não há recursos para sancionar esse movimento especulativo.
Você desvaloriza o patrimônio dos imóveis, as pessoas que compraram imóveis, depois
ficam sem dinheiro para pagar as prestações e aí começa o processo inverso da euforia,
que é o processo de pânico. Todo mundo passa a querer se desfazer do patrimônio
comprado. Esse é o funcionamento da crise. Não é fenômeno novo, ele é histórico e
agora apenas se manifesta com as suas especificidades próprias.
RNP: Isso é parecido com o que aconteceu na quebra da bolsa de Nova Iorque em
1929?
PAS: De certa forma sim, mas com a diferença de quem em 1929, os Estados
capitalistas centrais não estavam preparados para administrar a crise, ou seja, não deixar
que a queima de capital se dê de forma anárquica e abrupta. O desafio de agora é ver se
os mecanismos do Banco Central americano e os principais bancos centrais da Europa e
da Ásia são suficientes para administrar o tamanho da crise.
RNP: Essa crise pode afetar o Brasil?
PAS: A economia mundial é interconectada, a desaceleração e a queda da economia
norte-americana vão afetar as economias mundiais. No caso específico da economia
brasileira vai afetar fundamentalmente de duas maneiras. Dificilmente teremos o mesmo
volume de investimento de capital externo que tivemos nos últimos cinco anos.
Também irá impactar pelo lado real, pois hoje o principal fator dinâmico da economia
brasileira é a exportação, e é inevitável que ela caia. Isso porque a demanda externa vai
cair e também porque os preços dos produtos que nos vendemos que são basicamente
commodities tendem a sofrer mais em momentos de crise.
RNP: Essa atitude do Banco Central de diminuir os juros e estimular novamente
uma oferta de crédito e pagamento de dívidas, pode tanto sanar como estimular
um outro movimento especulativo. O que se pode fazer para realmente solucionar
essa crise?
PAS: Para você resolver a crise dentro do modelo capitalista, você teria que abrir novas
frentes de investimento. É preciso dois movimentos, primeiro criar demanda para a
capacidade produtiva. Uma maneira de fazer isso é distribuir renda e em paralelo a isso,
você abre novas oportunidades de investimento. Então, por exemplo, se você não pode
investir na produção de automóveis porque este ramo já está saturado, você investe em
saúde ou educação pública. Daí esse excedente de capital não será jogado na bolsa para
ser usado para comprar imóveis de forma especulativa. Isto ele [estudunidenses] não
estão fazendo e foi justamente por causa disso que esse dinheiro foi para o mercado
especulativo.
De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.
Adicionar Comentário
A crise norte-americana e o
resto do mundo
Escrito por Wladimir Pomar Correio da Cidadania
12-Mar-2008
A presente globalização, em certa medida, deu sobrevida ao capitalismo. O progresso
tecnológico nos países em desenvolvimento cresceu de 40% a 60% mais rapidamente
do que nos países desenvolvidos, entre o final de 1990 e o início dos anos 2000,
expandindo o modo capitalista de produção para áreas até então consideradas
inviáveis.
Contrariamente ao que muitos pensavam, esse progresso capitalista não aumentou o
número de pessoas vivendo em miséria absoluta nos países em desenvolvimento. Esse
número foi reduzido de 29%, em 1980, para 18%, em 2004, em grande parte porque a
industrialização dos países emergentes absorveu grandes contingentes de trabalhadores
rurais, cuja renda estava abaixo da linha da pobreza.
Por outro lado, isto não significa que as contradições capitalistas estejam sendo
resolvidas. Ao contrário, ao disseminar ainda mais seu modo de produção ao redor do
mundo, o capitalismo agrava mais fortemente as contradições presentes nos países
desenvolvidos. E, no mundo em desenvolvimento, prepara o terreno para que tais
contradições comecem a convergir, globalmente, para um ponto em que se tornará
patente a incapacidade capitalista de, ao mesmo tempo, gerar riqueza, distribuí-la
segundo as necessidades de cada membro da sociedade, e preservar a natureza que
fornece aos seres vivos as condições de sua existência.
Se compararmos a atual crise financeira norte-americana a crises idênticas, de um
passado não muito distante, não será difícil notar que existe uma nova situação global.
A crise está abalando principalmente os países desenvolvidos, enquanto o mundo em
desenvolvimento está sendo afetado relativamente muito pouco. O exemplo da China é
emblemático.
Muitos analistas previam que esse país deveria crescer 10%, em 2008, contra 11,4%,
em 2007, se a economia mundial não sofresse abalos. Eles também acreditavam que,
caso a crise norte-americana descambasse para a recessão, isto deveria causar um
estrago significativo na economia chinesa, fazendo com que sua taxa de crescimento
caísse para 8%.
Porém, essas previsões "pessimistas" sobre a economia chinesa são o sonho otimista
dos planejadores chineses. Desde a crise financeira de 1999, eles têm feito esforços
para reduzir o ritmo de crescimento de sua economia para 7% a 8% ao ano. O fato de
eles terem que continuar redobrando seus esforços para diminuir aquele ritmo,
independentemente da crise americana, apenas mostra que uma parte do mundo está
eventualmente blindada contra as ondas de choque das crises do capitalismo
desenvolvido. O que não é pouco.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Compartilhe : Torne Página Inicial
Como surgiu a Crise Econômica
Mundial
Saiba como surgiu a Crise Econômica Mundial, as
dicas dos especialistas, como o Brasil vai reagir a
crise e qual a previsão para acabar a crise econômica
mundial.
Publicidade
Desde dezembro de 2007 a economia dos Estados
Unidos está oficialmente em recessão. Desde então o
governo aprovou pacotes de estímulos de ajuda às
empresas e bancos em dificuldades financeiras. O
atual presidente dos EUA, Barack Obama, conseguiu
aprovar na câmara e senado os pacotes de estímulo à
economia americana.
Existem versões de especialistas para os motivos da
atual crise econômica. A mais comentada é a do
mercado imobiliário dos EUA.
Os EUA entraram em recessão em 2001, após o
estouro da bolha das empresas da chamada Nova
Economia (as empresas "ponto com"). Os juros foram
baixados para apenas 1% ao ano em junho de 2003.
A conseqüência do corte de juros foi o reaquecimento
da economia americana, o que gerou o "boom" no
mercado imobiliário dos Estados Unidos.
As empresas hipotecárias focaram no grupo de
clientes chamado "subprime". Estes clientes
representam um risco maior de pagamento, mas
trazem taxas de retorno mais altas. Gestores e
fundos bancários se interessaram nessas dívidas
hipotecárias.
Essas instituições compraram os títulos hipotecários
do grupo "subprime" e parte da quantia foi
emprestada, antes da primeira dívida ser quitada.
Investidores passaram a recomprar esses títulos,
Em agosto de 2007 o banco BNP Paribas Investment
Partner congelou os resgates em fundos, que segundo
o banco, eram difíceis para avaliar os valores dos
investimentos que eram ligados às hipotecas de risco.
Este foi considerado o primeiro grande golpe ao setor
financeiro da Crise Econômica Mundial.
Logo após a decisão do BNP, outras entidades
passaram a tomar a mesma atitude, que gerou
desconfiança e pânico aos investidores. Aumentado
pela concordata da AHM, uma das maiores empresas
de hipotecas dos Estados Unidos.
A partir daí, empresas de crédito imobiliário tiveram de
pedir concordata ou foram compradas por outras
empresas ou bancos. Estes também passaram a sofrer
seriamente com a crise. Em agosto de 2008, o Lehman
Brothers pediu concordata. O Lehman Brothers foi
fundado em 1850 e era um dos mais importantes
bancos dos EUA, com negócios no ramo de
investimentos de capital, renda fixa, negociação e
gestão de investimento.
Desde então outros importantes bancos como o
Citigroup, Wells Fargo e o Bank of America, sinalizaram
as conseqüências da crise econômica.
Todos os setores da economia foram afetados como
uma bola-de-neve. O PIB americano recuou 3,8% no
último trimestre de 2008 - pior desempenho desde
1982.
O governo americano aprovou em outubro de 2008 um
pacote de ajuda de US$ 700 bilhões. O objetivo do
pacote era ajudar os bancos afetados com os
derivativos lastreados nas hipotecas "subprime".
Mesmo assim, foram incluídos na ajuda bancos que não
foram tão afetados, empresas de créditos, montadoras
de automóveis, entre outros.
As montadoras de automóveis receberam uma atenção
especial devido a sua enorme importância na economia
criando uma cadeia de venda de títulos baseada na
confiança da compra do consumidor.
Em 2006 surgiram os problemas perceptíveis. Os
preços das casas a as taxas de juros não pararam de
subir. Em junho de 2004 a taxa de juros alcançou
5,25%. Os proprietários ficaram em dificuldades de
manter as prestações das hipotecas, já que os
contratos previam correções. O aumento da
inadimplência foi inevitável.
As instituições financeiras que revenderam derivativos
dos títulos "subprime" ficaram em situação
problemática. Gerando uma cascata de
inadimplências, que resultou numa crise de liquidez e,
consequentemente, retração de crédito.
O que são os derivativos?
Os derivativos são considerados arriscados, porque
são papéis com valor derivado de outros ativos. Os
derivativos tem o propósito de limitar, assumir ou
transferir determinados riscos.
mundial. A General Motors (GM) e a Chrysler
precisaram de mais de US$ 17 bilhões para continuar
em operação e evitar milhares de mais desempregados
em empregos diretos e indiretos.
O desemprego aumentou consideravelmente em todo o
país. Em 2008, a taxa de desemprego foi de 7,2% - a
pior desde 1993.
Um novo pacote de ajuda de mais de US$ 800 bilhões
será destinado para obras de infra-estrutura e geração
de três milhões de empregos.
Enquanto o próprio presidente Barack Obama apontou
que a crise pode demorar anos, analistas prevêem que
a recuperação econômica pode dar sinais no final de
2009 ou em meados de 2010. Alguns especialistas
mais céticos apontam que esta crise pode gerar numa
nova depressão econômica que pode ser igual ou ainda
pior que a dos anos 30.
Muitos apontam que em cenário de crise surgem
oportunidades. A qualidade jamais deve ser
descartada. Ela pode ser um diferencial. O
entretenimento, por exemplo, pode ter aumentos
significativos, assim como a compra e venda de
produtos locais.
l
Download