R E S E N H A S ANJOS E MESSIAS: MESSIANISMOS JUD AICOS JUDAICOS E ORIGEM D A CRIST OL OGIA DA CRISTOL OLOGIA CELMO ANTÔNIO DE ARAÚJO SCHIAVO, Luigi. Anjos e messias: messianismos judaicos e origem da cristologia. Paulinas: São Paulo, 2006. (Coleção Bíblia e História). L uigi Schiavo é presbítero italiano, Doutor em Ciências da Religião, pesquisador, professor nos cursos de Teologia e de mestrado e doutorado em Ciências da Religião da Universidade Católica de Goiás. É autor de livros e de vários artigos em sua área de estudo e pesquisa. O livro Anjos e Messias: messianismos judaicos e origem da cristologia é uma publicação em sete capítulos, com 190 páginas, editado pela Editora Paulinas, no ano de 2006. O livro tem como objetivo fundamental responder a perguntas que, para o autor, são cruciais para a pesquisa bíblica relacionada ao Jesus Histórico: quem era Jesus de Nazaré para seus contemporâneos? E como passou a ser considerado “o Filho de Deus”? Em seu livro, o autor deixa claro que dará atenção aos messianismos judaicos e à origem da cristologia. Schiavo diz na introdução que a pessoa de Jesus encanta e conquista. Sua mensagem e seu testemunho de vida exerceram e continuam exercendo um fascínio nas comunidades de fé, como nas pesquisas acadêmicas. Segundo a literatura judaica e cristã do século I, seu poder e suas palavras, eram próprios dos seres divinos esperados para o fim dos tempos. Ajudados pelo instrumentário das modernas ciências historiográficas, bíblicas, antropológicas e 263 , Goiânia, v. 5, n. 1, p. 263-266, jan./jun. 2007 da leitura comparada de textos sagrados, considera as origens da fé em Jesus, o Cristo, privilegiando os movimentos messiânicos do judaísmo tardio. O autor convida os leitores para os capítulos seguintes do livro, onde apresenta “a busca pelo Jesus da história”, e situa o movimento de Jesus dentro do judaísmo, buscando explicar o conteúdo histórico e simbólico dos títulos: Filho de Deus, Messias Salvador, Juiz escatológico, Cristo Vitorioso. O propósito do I capítulo é mostrar a evolução da exegese na busca do Jesus histórico. Os títulos cristológicos aplicados à sua pessoa representam os vários estágios dessa caminhada. Messias era o título relacionado às expectativas judaicas. Filho do Homem é um título próprio da literatura apocalíptica. Filho de Deus é um título que na tradição judaica, designava seres angelicais abaixo de Deus. Senhor é o título tradicionalmente atribuído somente a Deus e que coloca Jesus no pedestal da divindade. A tradição cristã condensou sua fé em Jesus nos títulos cristológicos. Quanto às fontes, são referências do autor: as descobertas arqueológicas, os textos canônicos e extras canônicos e a Fonte Q - a Fonte dos Ditos de Jesus. No capítulo II, Schiavo ressalta Jesus dentro do judaísmo e o caráter apocalíptico do seu ensinamento e ação. O que mais caracteriza a literatura apocalíptica é sua cosmovisão: a visão dualística da realidade, entendida como campo de batalha de forças opostas e em conflito; a luta do Bem e do Mal entre si, no céu e na terra, etc.. No pensamento judaico, o termo messianismo se refere geralmente a dois elementos: a espera de um tempo futuro diferente do atual e a crença em várias figuras divinas, denominadas Messias. Pela tradição apocalíptica judaica, a função messiânica se refere uma figura angelical, que age em nome de Deus. O autor dá muita ênfase à tradição angelomórfica: um anjo em forma de homem ou homem elevado à condição angelical, tema relativamente recente nos estudos bíblicos. São típicas do Antigo Testamento, a figura do “Anjo do Senhor” e várias hipóstases divinas angelomórficas. A tradição angelomórfica é assimilada também pela tradição cristã. Na tradição angelomórfica, três figuras de anjos destacam-se, são eles: Miguel, o Filho do Homem e Melquisedec, tradições importantes, pois representam a raiz da cristologia posterior. E o autor faz um passeio histórico e com citações canônicas e apócrifas bastante interessantes por essas tradições, e os movimentos , Goiânia, v. 5, n. 1, p. 263-266, jan./jun. 2007 264 messiânicos que a elas se referiam no I século d.C., destacando como isso influenciou na origem da posterior cristologia (p. 44). Nos capítulos III, IV, V e VI, o autor convida os leitores para uma análise mais aprofundada sobre as muitas imagens de Jesus, fruto já da visão que dele tinham os seus seguidores. Trata-se dos títulos, como a expressão “Filho de Deus”, que aparece com significados diferentes na tradição do Antigo Testamento, na versão grega da Bíblia Hebraica e em outras culturas da época. A pergunta que subjaz é: porque o título “filho de Deus” foi aplicado a Jesus de Nazaré? Já em outro título: Jesus, o Messias Salvador, é bastante interessante o tema do “mito do combate” (p.85) – um conjunto simbólicomítico comum no Oriente Médio – que se expressa na estrutura literário-simbólica da batalha escatológica, própria do judaísmo pós-exílico, na qual as forças cósmicas do bem e do mal se enfrentam num eterno combate. Esse mito é um fantástico instrumento de legitimação do poder. Não podemos deixar de mencionar o relato da batalha escatológica proveniente da Fonte Q, provavelmente o 1º documento escrito cristão, num relato tradicionalmente conhecido como “tentações de Jesus”, onde se evidencia a força da palavra de Jesus, entendido como a encarnação do Messias, no entendimento e na crença dos seus primeiros seguidores. Em Q, aparecem outros títulos: o que vem, Filho de Deus e Filho do Homem. Nesse momento, Schiavo faz um relato desses nomes ao longo dos textos bíblicos e extra-bíblicos (p.122), que são de grande valia para o surgimento e o desenvolvimento da cristologia posterior. Quanto à imagem do Cristo, o autor trabalha o texto de Q 4, 1-13, que ele considera de matriz apocalíptica. Trata-se de uma narrativa estruturada em três cenas (p. 132). A imagem do Jesus vitorioso sobre Satanás, presente também no Novo Testamento em outras imagens, como a do cortejo triunfal e a do cavaleiro do Apocalipse, completam o quadro das imagens que estão na origem das primeiras afirmações cristológicas. Em seu VII e último capítulo, Schiavo, aborda o movimento social de Jesus. A comunidade de Q buscava ser a comunidade ideal, na qual se realizaria o Reino escatológico de Deus. O movimento de Jesus se insere na grande onda de renovação do judaísmo, e seus seguidores sofreram muito por causa dos judeus, pois acreditavam ser Jesus o agente celestial da salvação escatológica. Em sua análise percebemos a origem escatológica da comunidade social dos pri265 , Goiânia, v. 5, n. 1, p. 263-266, jan./jun. 2007 meiros seguidores de Jesus: sua posterior evolução culminará nas definições cristológicas do quarto século. Em conclusão, após percorrer um longo caminho, o autor trabalha as principais etapas do processo por meio do qual se elaborou a doutrina cristã a respeito de Jesus, valorizando o perfil que nos permite traçar de Jesus a Fonte comum a Mateus e a Lucas, denominada Fonte Q. Schiavo insiste, com razão, na continuidade entre a tradição judaica de matriz apocalíptica e o movimento palestino de Jesus, como um movimento de cunho apocalíptico-escatológico, formando, no início, uma comunidade ainda pequena, à imagem na sociedade judaica. Sem dúvida faz-se necessário uma nova aproximação à Bíblia levando em consideração os textos apócrifos. O livro de Schiavo oferece essa oportunidade. Não deixe de conferir os vários detalhes que esta resenha, propositadamente, não expôs – até porque acabaria sendo uma cópia ipsis litteris do livro. Trata-se de uma boa contribuição para a discussão sobre o objeto e o método no campo bíblico e das Ciências da Religião. Em suma, o livro Anjos e Messias: messianismos judaicos e origem da cristologia de Luigi Schiavo apresenta uma panorâmica interessante da evolução da cristologia nos primórdios do Cristianismo, a partir de dados bíblicos e extra-bíblicos, canônicos e não canônicos, fazendo uso das modernas teorias das ciências historiográfica e antropológica na busca de reconstruir o imaginário social dos primeiros seguidores de Jesus. CELMO ANTÔNIO DE ARAÚJO Mestre em Ciências da Religião. , Goiânia, v. 5, n. 1, p. 263-266, jan./jun. 2007 266