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Anais do SEFiM, Porto Alegre, V.02 - n.2, 2016.
Música e imaginário na ótica de Sartre
Music and imaginary in the perspective of Sartre
Palavras-chave: Filosofia da Música; Imaginário; Sartre; Consciência imaginante.
Keywords: Philosophy of Music; Imaginary; Sartre; Imaginative consciousness.
Abraão Carvalho Nogueira
Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected]
O presente estudo, pretende abordar inicialmente, a temática da música, a partir de passagens do romance A Náusea (1938), em que a demarcação deste tema é fixada no relevo desta obra literária do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). Uma
importante chave de leitura que será explorada aqui, será o percurso através da reflexão
filosófica de Sartre a partir do tema do imaginário, sobretudo em seu livro O imaginário:
psicologia fenomenológica da imaginação (1940).
E como objeto de nossa reflexão, articular, alguns indícios a respeito da música no romance sartreano, com a noção de consciência imaginante desenvolvida por Sartre, no sentido
de tomar a música, no âmbito da arte, como uma esfera privilegiada de intencionalidade
para esta consciência imaginante, mediada pela afetividade, na qual a negatividade do real
é o ponto de encontro com a perspectiva fenomenológica elucidada pelo filósofo francês.
Ao tomarmos a dimensão do quão recorrente é no romance sartreano A Náusea, o aparecimento da música, citada por diversas ocasiões ao percurso da leitura do livro lançado
originalmente em 1938, nos deparamos, com um interesse e perspectiva, de abordar, e
lançar ao relevo da reflexão, o tema da música, e suas relações com a perspectiva filosófica
de Sartre, em um recorte de sua obra O imaginário.
Nesta direção, encontramos alguns artigos que merecem destaque nesta temática e que
pudemos realizar uma leitura para este trabalho. Importante para nossa leitura e que demarca um caminho de interpretação que procura relacionar a temática da imaginação com
o tema da música, foi o artigo de 2006 da pesquisadora em Filosofia da Música, Martina
Stratilková, do Departamento de Musicologia da Faculdade de Filosofia da Universidade
de Palacký, na República Tcheca, de nome Music in Jean-Paul Sartre Philosophy (2011).
Dentre outros: contamos também, como material de apoio, com os artigos de P. E. Robinson de nome Sartre on Music (1973), e com o trabalho de Mark Carrol, ‘It is’: Refletions
on the role of Music in Sartre’s ‘La Nausée’ (2006). E como apoio para a leitura do texto
sartreano a respeito do tema do imaginário, contamos com o trabalho do pesquisador
francês da filosofia de Sartre, Philippe Cabestan, em seu livro L’imaginaire: Sartre (1999).
Segundo Mark Carrol, de acordo com nossa leitura, um dos aspectos de Sartre ter escolhido uma canção de jazz, e não uma menção à música clássica por exemplo, denota o
aspecto da crítica de Sartre, no que tange ao aspecto político da expressão musical, uma
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vez que em suas origens o jazz surge como uma criação afro-americana, e não como uma
criação da alta cultura européia na expressão da música erudita. Carrol nos apresenta uma
contextualização rica em informações a respeito da canção Some of These Day’s: na voz da
cantora Sophie Tucker (1884-1966), a canção foi escrita e composta pelo canadense de
descendência africana Shelton Brooks (1886-1975) que nesta canção teve como referência o blues de Frank Willians chamado Some o’ Dese Days, de 1905. Ainda de acordo com
Mark Carrol, Sophie Tucker gravou quatro versões desta canção em que o primeiro destes
registros data de 1911. E identifica que a versão citada pelo personagem Roquentin no
romance A Náusea, data de 1926, em que Tucker grava com a Ted Shapiro Orquestra. Esta
versão digitalizada e remasterizada encontra-se disponível na rede iTunes no álbum Last of
the Red Hot Mommas (1994). E a respeito de sua especificidade Some of These Day’s é um
ragtime, uma derivação do jazz que surgiu entre negros afrodescendentes e americanos.
O professor e pesquisador australiano do Conservatório de Música da Universidade de
Adelaide na Austrália, Carrol, demarca a importância da música para Sartre, como um
recurso que transcende, e o remove, no caso de Roquentin, de sua própria realidade, a
partir da beleza que a experiência de ouvinte lhe proporciona: “Sartre’s belief that the
appreciation of music should no be a passive act, that it should entail an engagement between the listener an the world around him or her. Listening to music far removed from
her own reality.. by the beauty that.. perceives in the music.” (CARROL, 2006, p. 403).
Referências
CABESTAN, Philippe. L’Imaginaire: Sartre. Édition Marketing S. A, 1999.
CARROL, Mark. ‘It is’: Reflections on the role of Music in Sartre’s ‘La Nausée’. Music & Letters, v. 87,
n. 3, p. 398-407, 2006.
ROBINSON, P. E. Sartre on Music. The Journal of Asthetics and Art and Art Criticism, v. 31, n.
4, p. 451-457, 1973.
SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. Trad. António Coimbra Martins. Publicações Europa-América.
Acessado em: mar. 2015.
______. O imaginário: Psicologia fenomenológica da imaginação. Trad. Duda Machado. Editora Ática, 1996.
______. Esquisse d’une theorie des émotions. Paris, 1938.
STRATILKOVÁ, Martina. “Music in Jean-Paul Sartre Philosophy”. Musicologica Olomucensia, n.
13, 2011.
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