Trabalho 2: Resolução do Ácido Fenilsuccínico Racémico com (-)-Prolina Lígia Figueiredo Gustavo Lopes 2 de Maio de 2006 Resumo Efectuámos a resolução de uma mistura racémica de ácido fenilsuccínico. Para o efeito, fizemos reagir a mistura com (-)-prolina (ácido (S)-pirrolidina-2-carboxílico) em propan-2-ol. Formou-se um precipitado, o sal (+)-bis prolina, e filtrámos a solução (o filtrado conteria o enantiómero (R)-(-)). O ácido (S)-(+)-fenilsuccínico foi obtido do sal por tratamento com ácido clorídrico; no caso da obtenção do enantiómero (R)-(-), este passo foi precedido da solução, em etanol puro, de (-)-prolina e do resíduo obtido pela evaporação do filtrado. A pureza dos produtos foi avaliada por medição do ponto de fusão (186,4-189,5 o C para o ácido (S)-(+) e 177,0-180,0 o C para a conformação (R)-(-)) e do poder rotatório específico (+136,6o para o ácido (S)-(+) e -104,4o para o ácido (R)-(-)). Concluímos que os isómeros foram separados em grande extensão. 1 Introdução Dois compostos dizem-se enantiómeros se forem a imagem no espelho um do outro – trata-se de um tipo de estereoisomeria e requer que os compostos apresentem uma propriedade denominada quiralidade1 . Os enantiómeros são especialmente difíceis de separar devido a possuírem propriedades químicas iguais. Uma excepção (que não é, no entanto, particularmente útil no que se refere à resolução, i.e., a separação da 1 Uma figura diz-se quiral se for distinta da sua imagem no espelho. Em três dimensões, uma condição necessária (mas não suficiente) para a existência de quiralidade é a figura não apresentar um plano ou centro de simetria[1]. 1 1 INTRODUÇÃO 2 mistura de enantiómeros) é o facto de, quando presentes num ambiente simétrico, rodarem o plano da luz polarizada segundo ângulos simétricos. Alguns enantiómeros, como o ácido tartárico, formam cristais que são a imagem no espelho um do outro e podem ser separados manualmente2 . Esta abordagem, embora simples, é pouco prática de realizar e apenas possível em casos raros. Uma estratégia melhor consiste em converter o par de enantiómeros em diastereómeros (estereoisómeros que não são a imagem no espelho um do outro) que difiram em propriedades chave como a solubilidade em dado solvente, por exemplo[3]. Por outro lado, um outro método, a resolução biológica, tem como ideia base a utilização de dado microorganismo que metabolize somente um dos enantiómeros. Neste trabalho, é levada a cabo uma reacção enantioselectiva, i.e., uma reacção em que um enantiómero específico é escolhido para reagir em detrimento do outro – esta selectividade requer que um solvente ou reagente quiral ou dado enzima exerçam algum tipo de influência na reacção[3]. Em particular, o sucesso da resolução deve-se à formação preferencial e precipitação do sal ácido (+)-fenilsuccínico-bis (-)-prolina ((S)-fenilsuccinato de bis((S)-2-carboxipirrolidínio)), na figura 1) em propan-2-ol. Uma vez removido o precipitado da solução (por filtração), esta é evaporada. Obtém-se ácido (-)-fenilsuccínico impuro (já que este não reagiu em grande extensão com a prolina). A obtenção de ácido (-)-fenilsuccínico opticamente puro é conseguida com novo tratamento com prolina (usando o etanol como solvente). Forma-se, então, um sal de (-)-mono prolina[4]. Ambos os enantiómeros são obtidos através dos respectivos sais mediante a protonização dos aniões fenilsuccinato com ácido clorídrico. Note-se que este processo de obtenção é eficaz porque o ácido fenilsuccínico neutro é pouco solúvel em água, enquanto o aminoácido prolina protonado é muito solúvel no mesmo solvente[5]. Avanços nos processos industriais químicos têm permito à indústria farmacêutica, quando útil, passar a incluir apenas um dos enantiómeros em drogas que eram originalmente comercializadas como misturas racémicas (com os isómeros presentes em igual proporção). Como muitas reacções realizadas no nosso corpo são enantioselectivas, frequentemente apenas um dos isómeros é eficaz. Por vezes, como no caso da talidomida, 2 Foi o que fez Louis Pasteur em 1843, enquanto investigava um sedimento cristalino que se acumulava em pipas de vinho (uma forma de ácido tartárico chamada ácido racémico). Pasteur usou uma pinça pequena para separar os dois tipos de cristais, com formas semelhantes, mas imagens no espelho um do outro. Ambos os tipos tinham todas as propriedades químicas do ácido tartárico, mas um rodava a luz para a esquerda (levorotatório) e outro para a direita (dextrorotatório). Pasteur não sabia, no entanto, que tipo de arranjo assimétrico estes enantiómeros apresentavam[2]. 2 PARTE EXPERIMENTAL 3 HO O +H N 2 -O O O -O HO NH2+ O Figura 1: Fórmula de estrutura do sal ácido (S)-fenilsuccínico-bis (S)prolina. um dos isómeros é tóxico. Aí, todavia, o problema não pode ser mitigado por qualquer processo de síntese enantioselectivo, já que os enantiómeros se convertem um no outro in vivo[6]. 2 2.1 Parte Experimental Aparelhagem e Montagens Para evaporar o propan-2-ol e o etanol, em dadas etapas relativas ao isolamento do ácido (-)-fenilsuccínico, utilizámos um evaporador rotativo da German Webber SA. A determinação dos pontos de fusão foram efectuadas com uma precisão de 0,1 o C, usando um medidor de pontos de fusão Stuart Scientific. O ângulo de rotação do plano da luz polarizada causado pelas soluções de ácido fenilsuccínico opticamente purificado foi determinado com um polarímetro Atago Polax-L, distribuído por Emídio Azevedo Campos & Ca Lda, o qual apresentava uma precisão de 0,01o . A fim de dissolver a prolina e causar a precipitação do sal (+)-bis prolina, empregou-se um método denominado refluxo, cuja respectiva mon- 2 PARTE EXPERIMENTAL 4 4 5 6 7 3 2 1 11 4 8 3 9 2 5 6 7 8 9 1 10 Figura 2: Esquema da montagem usada para o refluxo. tagem está representada na figura 2. O refluxo é uma técnica para aplicar energia a reacções durante períodos de tempo longos (no nosso caso, durante 30 m) sem que seja necessário adicionar mais solvente, já que qualquer vapor é imediatamente condensado no condensador. Ademais, como um dado solvente entra em ebulição a uma temperatura fixa, podemos ter a certeza de que a reacção ocorrerá sempre a essa mesma temperatura – inclusivamente, em certos casos, pode controlar-se essa temperatura através da escolha de um solvente apropriado[7]. As protonizações com ácido clorídrico foram realizadas a zero graus – o ácido foi colocado previamente num alguidar contendo uma mistura de gelo e água (a 0 o C e pressão ambiente, a água existe nas duas fases). Após se juntar o sólido, a solução era apenas retirada do alguidar para a agitar. Por fim, realizaram-se, tal como no trabalho anterior, várias filtrações à trompa, cujos detalhes não explicaremos novamente. 2.2 Reagentes Ao longo da actividade experimental usaram-se, como reagentes: Lprolina, C5 H9 NO2 , 99%, da Aldrich; ácido fenilsuccínico, C10 H10 O4 , mis- 2 PARTE EXPERIMENTAL 5 tura racémica, 98%, da Aldrich; propan-2-ol, C3 H8 O, 99,8%, da Panreac Química S.A.; acetona, CH3 COCH3 , 100%, da Higilim; ácido clorídrico, HCl, 6 M e, por fim, etanol, C2 H6 O, 99,5%, da Panreac Química S.A. 2.3 Método Experimental A experiência, nas linhas indicadas a seguir, foi iniciada Terça-feira, dia 28 de Março de 2006. Começámos por pesar 1,94 g de ácido fenilsuccínico racémico e 1,152 g de (-)-prolina e medir 50 ml de propan-2-ol; dissolvemos, então, os primeiros no último. Desta forma obteve-se uma mistura de cor branca que, em primeiro lugar, foi agitada durante cerca de 5 minutos, e de seguida, refluxada por pouco mais de 30 minutos, findos os quais, arrefecemos a solução colocando-a sob água corrente. Esta foi, então, filtrada à trompa (guardámos o filtrado) e lavada duas vezes com 15 ml de acetona. De modo a isolar o isómero (-), evaporámos o filtrado (que apresentava, sensivelmente, uma tonalidade amarelada) através de um evaporador rotativo. O sólido resultante foi deixado no exsicador durante 15 dias. Para isolar o isómero (+), colocámos 10 ml de HCl num banho de gelo e juntámos-lhe o sal branco obtido na filtração. Agitámos a mistura, dentro do banho de gelo, durante cerca de 5 minutos. Esta foi, nesse momento, filtrada à trompa e lavada duas vezes com 15 ml de água. Apesar de termos secado a amostra, esta ainda apresentava um aspecto húmido quando a guardámos no frasco, que foi então também colocado no exsicador. Nove dias mais tarde, foi medida a massa do ácido (+)-fenilsuccínico e, de seguida, medido o ponto de fusão do mesmo. O resto da actividade experimental, que passamos a descrever de seguida, ocorreu 15 dias após o início, a 11 de Abril de 2006. Por forma a purificar o ácido (-)-fenilsuccínico, a amostra que fora colocada a secar no exsicador no dia 28 de Março foi dissolvida, junto com 0,40 g de (-)-prolina, em 40 ml de etanol absoluto. Esta mistura, antes de ser levada ao evaporador rotativo, de modo a evaporar o etanol, foi agitada durante cerca de 35 minutos, apresentando no final um aspecto leitoso. Depois de retirar o sólido branco das paredes do balão, o procedimento foi semelhante àquele realizado na sessão experimental anterior – adicionou-se o sólido a 10 ml de ácido clorídrico (num banho de gelo), agitou-se durante 5 m, filtrou-se a solução, lavou-se o sólido branco resultante com duas vezes 15 ml de água e deixou-se a secar. Mais uma vez, quando se passou o sólido para o copo, este ainda apresentava um aspecto um pouco húmido. A amostra foi pesada e uma porção retirada para outro 3 RESULTADOS 6 copo a fim de se lhe medir o ponto de fusão. Ao mesmo tempo que se foi processando a amostra de ácido (-)-fenilsuccínico, juntámos a nossa amostra do isómero (+) à de outro grupo3 . Pesámos a nova amostra e preparámos, com esse grupo, uma solução rigorosa de 25 ml de ácido (+)-fenilsuccínico em acetona (solução transparente). Infelizmente, a solução foi mal preparada – juntou-se demasiada acetona e excedeu-se a marca dos 25 ml. Uma vez obtido o ácido (-)fenilsuccínico puro, este foi sujeito a passos semelhantes. Preparadas as soluções rigorosas, estas foram transferidas para dois tubos do polarímetro. Mediu-se, então, a rotação que causavam ao plano de luz polarizada. Por fim, cerca de duas semanas mais tarde (dia 24 de Abril), medimos o ponto de fusão do ácido (-)-fenilsuccínico. Note-se que alguns passos da técnica, como as recristalizações e a mistura das amostras das conformações (+) e (-) com éter dietílico e acetona, respectivamente, foram omitidos. 3 Resultados 3.1 Quantidades de Reagentes e Produtos Na tabela 1 encontram-se as quantidades de reagentes realmente utilizadas. As massas de ambos os isómeros obtidos pelo nosso grupo estão expressas na tabela 2. Na tabela 3, estão quantificadas as massas após nós e o outro grupo termos retirado algum produto para medir o ponto de fusão e juntado os nossos produtos. A precisão da balança usada em todas as medições era 0,01 g, excepto a primeira pesagem de (-)-prolina, na qual foi usada uma balança com uma precisão de 0,001 g. É importante salientar que as amostras de ácido (-)-fenilsuccínico pesadas não foram sujeitas à secagem no exsicador. 3.2 Rendimento Usámos nesta experiência 1,94 g de ácido fenilsuccínico racémico (tabela 1). Dado ser uma mistura racémica, possuíamos à partida 1,94/2 = 0,97 g de cada um dos enantiómeros. De acordo com a tabela 2, obtivemos 0,47 g e 0,68 g dos isómeros (+) e (-), respectivamente. Isto implica que o 3 Grupo constituído pela Ângela Chan e pela Ana Rita Simões. 3 RESULTADOS 7 Substância (-)-prolina ác. fenilsuccínico rac. propan-2-ol acetona ác. clorídrico etanol água Quantidade 1,152 g; 0,40 g 1,94 g 50 ml 2 × 15 ml; ≈ 2 × 25 ml 2 × 10 ml 40 ml 4 × 15 ml Tabela 1: Quantidades de reagentes usados. Substância ác. (+)-fenilsuccínico ác. (-)-fenilsuccínico Quantidade 0,47 g 0,68 g Tabela 2: Quantidades de produtos obtidos. rendimento foi 0,47/0,97 = 48,4% para o isómero (+) e 0,68/0,97 = 70,1% para o (-). 3.3 Poder Rotatório Específico Na tabela 4, encontram-se os valores do ângulo de rotação do plano da luz polarizada induzido pelas nossas amostras, conforme lidos no polarímetro4 . O solvente foi acetona, usou-se a risca D do sódio (λ = 589 nm) e a medição realizou-se à temperatura ambiente. As concentrações das soluções estão indicadas na tabela 5. O poder rotatório específico, [α]D , pode então ser calculado a partir da expressão α [α]D = c×l onde α é a rotação observada, c a concentração da solução em g/ml e l o comprimento do tubo em dm (o tubo usado tinha 2 dm). Dado o volume das soluções preparadas ser 25 ml, podemos facilmente determinar as concentrações a partir dos dados da tabela 3. Os resultados obtidos para a concentração e poder rotatório específico das soluções estão expressos na tabela 5. 4 Na verdade, no caso do isómero (-), a máquina mostrou -7,10o ; a este valor foi necessário aplicar uma correção de -0,75o . 3 RESULTADOS 8 Substância ác. (+)-fenilsuccínico ác. (-)-fenilsuccínico Quantidade 0,97 g 0,94 g Tabela 3: Quantidades de produtos obtidos (os dois grupos). Soluto ác. (+)-fenilsuccínico ác. (-)-fenilsuccínico Rotação +10,60o -7,85o Tabela 4: Rotações induzidas pelas soluções dos isómeros. 3.4 Pureza Óptica O excesso enantiomérico (ee) é definido segundo a expressão ee = [α]obs [α]max (1) onde [α]obs é o poder rotatório específico da amostra e [α]max o poder rotatório específico máximo (aquele de uma solução pura do enantiómero em causa). O valor de ee ser positivo significa que o enantiómero está em excesso na amostra, ser negativo significa que está em défice (o enantiómero em causa roda a luz no sentido oposto à amostra) e ser nulo implica que o poder rotatório específico da amostra é nulo, i.e., que a amostra é uma mistura racémica. O poder rotatório específico publicado para o ácido (+)-fenilsuccínico é [α]D = +173,3o (c 1,8235; acetona)[4]. Tomando este valor para o poder rotatório específico máximo da nossa amostra do isómero (+), [α]+ max , e o simétrico para [α]− , obtém-se um excesso enantiomérico ee = 78,8% + max para a amostra do isómero (+) e ee− = 60,2% para o (-). Denotemos a proporção de um dado composto x face ao conjunto deste com o seu enantiómero y, numa dada amostra, por px (e definição análoga para py ). Estes valores podem ser determinados a partir do excesso enan- 3 RESULTADOS Soluto ác. (+)-fenilsuccínico ác. (-)-fenilsuccínico 9 Concentração 0,0388 g/ml 0,0376 g/ml Pod. Rot. Esp. +136,6o -104,4o Tabela 5: Concentração e poder rotatório específico das soluções. tiomérico do composto x, eex , resolvendo o sistema de equações5 px + py = 1 ⇒ px − py = eex 1 1 ⇒ px = + eex 2 2 (2) (3) Para a amostra de ácido (+)-fenilsuccínico, substituindo em (3), obtémse que a proporção do enantiómero (+) face à soma dos dois é p+ x = 89,4%; para o amostra do outro enantiómero tem-se p− = 80,1%. y Os resultados obtidos nesta subsecção estão sumariados na tabela 6. Amostra ác. (+)-fenilsuccínico ác. (-)-fenilsuccínico Exc. Enant. (+): 78,8% (-): 60,2% Prop. dos enant. (+): 89,4%; (-): 10,6% (+): 19,9%; (-): 80,1% Tabela 6: Excesso e proporção dos enantioméricos das amostras. 3.5 Pontos de Fusão O ponto de fusão da amostra de ácido (+)-fenilsuccínico, medido nove dias depois de ter sido colocado a secar no exsicador, situou-se na região dos 186,4-189,5 o C. A fusão da amostra de ácido (-)- fenilsuccínico, que secou durante aproximadamente duas semanas, deu-se entre os 177,0 e os 180,0 o C. 5 Segue-se a prova de que px − py = eex . Seja px função proporcional a [α]obs (esta hipótese, assumida em toda esta secção do relatório, introduz, na verdade, um erro). Dado que acabámos de assumir que a relação entre px e [α]obs é linear, bastam-nos dois pontos para a descrevermos completamente. Dadas as hipóteses sobre px e py (são as proporções de cada enantiómero face ao conjunto dos dois), então px (0) = 1/2 (mistura racémica) e px ([α]xmax ) = 1 (amostra opticamente pura). Então px ([α]obs ) = 1/2 + (1/2)([α]obs /[α]xmax ). Pela definição de excesso enantiomérico, esta equação é equivalente à da equação (3). Uma vez que px + py = 1 (segue-se também da definição das quantidades envolvidas), temos que py = 1 − px = 1/2 − (1/2)([α]obs /[α]xmax ), donde px − py = [α]obs /[α]xmax = eex . 4 DISCUSSÃO 4 10 Discussão A melhor medida para avaliar os resultados deste trabalho são aqueles publicados por Stephani et al.[4], os quais estão sumariados a par dos nossos na tabela 7. Amostra ácido (+) (Steph) ácido (+) (nosso) ácido (-) (Steph) ácido (-) (nosso) Massa (Rend.) 0,39 g (40%) 0,47 g (48%) 0,57 g (59%) 0,68 g (70%) P. Rot. Esp. (Prop.) +151o (94%) +136,6o (89%) -160o (96%) -104,4o (80%) Pto. Fusão N/D 186,4-189,5 o C 176-179 o C 177,0-180,0 o C Tabela 7: Comparação com os resultados de Stephani et al.[4] Note-se que os valores referidos no artigo de Stephani são valores médios e não há qualquer informação acerca da dispersão dos mesmos. Além disso, o método a que se referem os valores inclui um passo que não realizámos – a solução do (-)-sal em acetona (o que só deverá, naturalmente, afectar a amostra de ácido (-)-fenilsuccínico). Temos muitas reservas em relação aos valores obtidos para o poder rotatório específico (e, portanto, também para o excesso enantiomérico e proporções) dos enantiómeros. Em primeiro lugar, referem-se à mistura dos nossos produtos com os de outro grupo, cuja extensão da aderência ao protocolo e rigor na execução desconhecemos. Ademais, estão ambos provavelmente abaixo da realidade porque as massas usadas para o cálculo da concentração das soluções rigorosas estão sobreavaliadas. No caso do enantiómero (+), juntou-se solvente a mais na preparação da solução rigorosa; no caso do (-), a amostra estava ainda claramente húmida quando foi pesada e de seguida dissolvida na acetona, i.e., este composto não foi submetido ao mesmo processo de secagem do outro enantiómero. A última objecção aplica-se também à massa de ácido (-)-fenilsuccínico indicada e ao correspondente rendimento. Teria sido interessante medir a massa do ácido (+)-fenilsuccínico também antes da secagem (e não apenas depois). A comparação dos dois ter-nos-ia fornecido uma indicação sobre o erro introduzido na avaliação da massa do ácido (-)-fenilsuccínico. A nossa amostra de ácido (+)-fenilsuccínico possui uma massa um pouco superior à apontada por Stephani et al. (o qual recomenda que se deixe secar completamente o sal, algo que não fizemos). Ao analisarmos o valor do poder rotatório específico, devemos ter as conta as considerações já tecidas. Acrescenta-se que a medição no polarímetro tem um grau de subjectividade e causa cansaço rapidamente. Para mais, o ângulo medido no 4 DISCUSSÃO 11 polarímetro é muito inferior ao poder rotatório específico – o mesmo erro relativo em ambos os valores causa um erro absoluto bastante maior6 no poder rotatório específico. Tudo isto implica que não possamos afirmar que existe uma diferença entre os nossos resultados e os publicados por Stephani et al. No caso do ácido (-)-fenilsuccínico, os valores são ainda menos fiáveis (e, portanto, mais inconclusivos). O único resultado fiável é o ponto de fusão, que se encontra muito próximo do valor apontado por Stephani et al. Note-se que, mesmo assim, este valor se situa ainda um pouco longe daquele que os autores indicam para uma amostra opticamente pura dos compostos (obtida após recristalização de água), os 185-186 o C7 . Para esta diferença contribuirá essencialmente alguma contaminação da amostra com prolina (que, além do mais, é opticamente activa e terá afectado também a rotação que a amostra induziu ao plano de luz polarizada – consequentemente, terá afectado também os nossos resultados concernentes à proporção dos dois enantiómeros). Por fim, refira-se que ambos os pontos de fusão apresentaram intervalos com amplitude de vários graus, o que aponta também para alguma contaminação (espera-se que amostras puras registem um intervalo muito curto para o ponto de fusão). Uma boa parte da explicação para a obtenção destes rendimentos está no facto de, por diversas vezes, ser difícil transferir na totalidade as amostras entre recipientes. Esta dificuldade fez-se sentir principalmente quando se retiravam sólidos do balão após evaporação ou resíduos húmidos de funis. Entre outros factores, considerem-se ainda as reacções de formação dos sais, o ponto crítico do método, que determinará a qualidade da separação enantiomérica. A (-)-prolina reage preferencialmente com o isómero (+), mas parte também reagirá com o outro isómero (é aliás o que é feito na segunda parte da experiência, após aumentar a concentração de prolina, se bem que num solvente diferente). Isto acabará por contaminar a amostra de ácido (+)-fenilsuccínico. Por outro lado, a reacção ácido-base de formação dos sais não será completa. No caso do (+)-sal, isto significa que parte do enantiómero (+) ficará na solução, contaminará a amostra de ácido (-)fenilsuccínico e diminuirá o rendimento da obtenção da amostra de ácido 6 Neste caso, cerca de 13 vezes maior. O ponto de fusão do ácido fenilsuccínico está geralmente listado em cerca de 167 o C. Este foi, aliás, o valor que colocámos no pré-relatório. No entanto, este ponto de fusão diz respeito à mistura racémica. Uma vez que os enantiómeros possuem formas distintas, interferirão com a organização cristalina um do outro, o que causará uma depressão do ponto de fusão da mistura. Após a separação, a formação de uma rede cristalina regular é mais fácil[5]. 7 5 CONCLUSÃO 12 (+)-fenilsuccínico. No caso da formação do (-)-sal, que é feita posteriormente, isto significa que haverá uma diminuição do rendimento da obtenção do enantiómero (-). No caso das protonizações com ácido clorídrico, a extensão incompleta das reacções causará simplesmente uma perda de rendimento. Outro factor poderá ser o de todos os compostos em causa não serem totalmente solúveis ou insolúveis nos respectivos solventes. 5 Conclusão O principal objectivo desta experiência era a resolução da mistura racémica de ácido (-)-fenilsuccínico. As reservas que temos em relação aos dados disponíveis para avaliar a pureza óptica das amostras impedem-nos de apresentar uma conclusão forte relativamente ao sucesso do trabalho. Os valores de que dispomos para o poder rotatório específico devem pecar por defeito8 ; ainda assim, estes apontam para proporções do enantiómero desejado superiores a 80%, o que indica a existência de uma separação significativa. Os pontos de fusão e rendimentos obtidos estão próximos daqueles indicados por Stephani et al.[4] e são bastante satisfatórios. Referências [1] Chirality (Mathematics). 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No entanto, o poder rotatório específico da (-)-prolina é o o apenas [α]20 D = −85,2 (c 0,04; H2 O)[8], bem longe dos -173,3 do ácido (-)-fenilsuccínico. REFERÊNCIAS 13 <http://www.linfield.edu/chem/C321/Labs/resolution _of_enantiomers.pdf>. [6] Enantiomer. Wikipedia. 20 Abr. 2006. 23 Abr. 2006 <http://en.wiki pedia.org/wiki/Enantiomer>. [7] Reflux. Wikipedia. 11 Abr. 2006. 24 Abr. 2006 <http://en.wiki pedia.org/wiki/Reflux>. [8] USB Tech Library. USB Corporation. 30 Apr. 2006 <http://www. usbweb.com/reference2.asp?id_ref=25>. [9] Katz, Jeffrey. "Chemical Resolution of (±)-Phenylsuccinic Acid with ()-Proline."CH241 Spring 2005. 21 Feb. 2005. Department of Chemistry, Colby College. 19 Apr. 2006 <http://www.colby.edu/chemis try/CH241S/Experiment%202.pdf>.