Metabolismo e Endocrinologia Teórica: 12 Tema: Funções Nervosas Superiores, Emoções, Amígdala e Auto-regulação Data: 18 de Maio de 2011 12.1 ENCÉFALO Um dos principais orgãos do sistema nervoso central é o encéfalo, sendo constituído por quatro lobos principais: frontal, parietal, temporal e occipital. Diferentes lobos apresentam diferentes funções. A actividade cerebral pode ser avaliada (ou medida) por várias técnicas imagiológicas, tais como a ressonância magnética funcional (fMRI) e tomografia de emissão de positrões, ou por electroencefalograma. 12.1.1 LATERALIZAÇÃO FUNCIONAL ENTRE HEMISFÉRIOS Ao passo que o hemisfério esquerdo é responsável pela linguagem e informações de carácter simbólico (raciocínio abstracto, cálculo,...), o hemisfério diretio é responsável pela integração global multi-sensorial (identificação de uma paisagem, melodia de uma música, informação do sistema emocional). Por vezes ocorrem conflictos entre hemisférios. Por exemplo, lendo as palavras YELLOW BLUE ORANGE BLACK, o hemisfério direito tentará dizer a cor, enquanto que o hemisfério esquerdo insistirá em ler a palavra. Outro caso é o facto de ambos os hemisférios apresentarem formas diferentes de processar informação. O hemisfério esquerdo focase nos detalhes, ao passo que o direito procura obter o significado geral. 12.1.2 DIFERENÇAS FUNCIONAIS DAS REGIÕES CEREBRAIS 12.1.2.1 LOBO FRONTAL O lobo frontal é responsável pela actividade motora, linguagem, pensamento, concentração, memória de trabalho, comportamento social e personalidade. 1 Como o córtex frontal é o centro de integração mais complexo do cérebro humano, lesões nessa zona provoca grandes mudanças de comportamento. Lesões no córtex frontal esquerdo levam a um déficit de atenção, pensamento abstracto, integração do pensamento e percepção, inisicativa e preserverança. Induzem, ainda, um estado de apatia, falta de motivação e perda de interesse sexual. Lesões no córtex frontal direito resultam num efeito de desinibição, oscilações de humor, comportamentos imaturos e comportamentos sexuais inapropriados e/ou hipersexualidade (caso Phineas Cage). 12.1.2.2 LOBO PARIETAL O lobo parietal preocupa-se com o processamento da sensibilidade LEUCOTOMIA – O QUE É? A leucotomia é uma intervenção circurgica cérebro desenvolvida pelo médico neurologista Egas Moniz, em 1935. As vias que ligam os lobos frontais ao tálamo são cortadas. Este procedimento foi utilizado, no passado, em casos graves de esquizofrenia, levando o doente a um estado de baixa reactividade emocional. Hoje em dia, a leucotomia exemplificada por Egas Moniz já não é utilizada. corporal e com as capacidades visuo-construtivas. 12.1.2.3 LOBO TEMPORAL O processamento das informações auditivas e memorização são responsabilidades do lobo temporal. 12.1.2.1 LOBO OCCIPITAL O lobo occipital é responsável pelo processamento das informações visuais. 12.1.3 ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO CORTICAIS As áreas de associação corticais são áreas que não são puramente nem sensitivas, nem motoras, mas estão inteiramente relacionadas com as funções nervosas superiores. Estas áreas servem para associar input sensorial a uma resposta motora, além de executar processos mentais de interpretação da informação sensitiva. Fazem, ainda, a associação de percepções com experiências prévias e focam a atenção. Percurso do estímulo nervoso: ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO MULTIMODAIS Infomação aferente Córtex sensitivo primário Área de As áreas de associação multimodais estão localizadas nas zonas: Anterior (lobo frontal) – planeamento motor, produção associação unimodal Área de associação multimodal sensitiva Área de associação multimodal motora (lobo frontal) Programação e planeamento dos movimentos Córtex pré-motor e motor primário de linguagem e julgamento; 12.1.3.1 CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO PRÉ-FRONTAL Límbica (lobos frontal, temporal e parietal) – emoção e memória; Posterior (zona temporal) – linguagem. parieto- atenção e É composto por duas regiões: Dorsolateral, responsável pelo planeamento estratégico de comportamente motor e memória do trabalho; Orbitofrontal, responsável por respostas emocionais e personalidade. 2 Lesões nesta área cerebral leva a deficits cognitivos, problemas com memória de trabalho, deficiente planeamento estratégico, alterações de personalidade e alterações emocionais. 12.1.3.2 CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO PARIETAL O córtex de associação parietal é responsável por reconhecer, ou identificar, a forma e os contornos dos objectos através do tacto (estereognosia) e pela relação espacial, incluíndo espaço extrapessoal e imagem corporal. A lesão nesta área do lobo pariental é designada por lesão à direita, pois o doente desenha objectos sem a sua parte esquerda. 12.1.3.3 CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO TEMPORAL O córtex de associação temporal é responsável pela memória verbal, padrões de estímulos, discriminação musical, reconhecimento de objectos e reconhecimento de faces (bilateral). Lesões neste córtex de associação levam a problemas na memória verbal e problemas de discriminação visual (exemplo: o livro The Man Who Mistook His Wife For a Hat, de Oliver Sacks, trata o problema da prosopagnosia, incapacidade para reconhecer e identificar rostos). 12.1.3.4 CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO OCCIPITAL Este córtex de associação é responsável pela percepção visual. Qualquer lesão nesta área cerebral leva a agnosia visual (incapacidade de reconhecimento visual de objectos na ausência de disfuções ópticas). 12.1.4 FUNÇÕES NERVOSAS SUPERIORES 12.1.4.1 ATENÇÃO Todos nós recebemos estímulos a todo o instante, provenientes das mais diversas fontes. Como não é possível, e necessário, atender a todos eles, a atenção é um processo muito importante em determinadas áreas, como a educação. A atenção é um processo multi-dimensional de foque e selecção de vários estímulos, estabelecendo relações entre eles. É um processo relacionado com a consciência. Os opostos da atenção são a inatenção ou neglect. O neglect espacial é a tendência de ignorar o lado esquerdo do corpo ou a parte esquerda de objectos. 12.1.4.2 APRENDIZAGEM E MEMÓRIA A aprendizagem compreende-se pela aquisição de informação que permite alterar o comportamento com base na experiência. A memória trata-se da retenção e armazenamento da informação adquirida. Tendo em conta a duração, uma memória pode ser: 1- Memória de curta duração - relacionada com o hipocampo e dura segundos a horas; 2- Memória de longa duração - envolve várias regiões do neocórtex e dura anos. Existem vários tipos de memória: explícita (envolve consciência e está relacionada com factos, datas, eventos,...) e implícita (não envolve consciência). A memória de trabalho é uma forma de memória explícita de 3 curta duração que mantém a informação disponível por um curto período de tempo enquanto o indivíduo planeia a acção baseada nisso. 12.1.4.2.1 MEMÓRIA EXPLÍCITA A memória explícita pode ser de dois tipos: Memória episódica (para eventos); Memória semântica (para palavras, para factos). O hipocampo é o local de armazenamento temporário da memória de longa duração, sendo depois encaminhada para o neocórtex, onde se aloja durante anos. As áreas do neocórtex especializadas no armazenamento da memória episódica são as áreas de associação do lobo frontal. Doentes com lesões no hipocampo conseguem recordar memórias antigas, mas não conseguem armazenar memórias novas de longo termo. No caso de doentes em áreas de associação corticais, estes têm defeitos na memória semântica e episódica de longo termo. Como se processa uma memória explícita? Codificação – dá-se o processamento de informação nova; Consolidação – a informação nova é alterada para se tornar uma memória de longo termo; Armazenamento – a informação é retida; Recuperação – a informação armazenada é utilizada. 12.1.4.2.2 MEMÓRIA IMPLÍCITA A memória implícita divide-se em: Memória não associativa (habituação e sensibilização); Memória associativa (reflexo condicionado clássico e operativo); Priming; Hábitos e perícias. A memória implícita não associativa está relacionada com a aprendizagem das propriedades de um estímulo único. A habituação trata-se da repetição de estimulos neutros várias vezes e verifica-se uma diminuição progressiva 4 da resposta evocada. A sensibilização ocorre na presença de um estímulo agradável/desagradável e verifica-se um aumento progressivo da resposta evocada. A memória implícita associativa está relacionada com a aprendizagem da relação entre dois estímulos. No reflexo condicionado clássico, um indivíduo aprende que um determinado estímulo prevê um evento; no reflexo condicionado operativo (aprendizagem tentativa-erro), um indivíduo aprende a prever as consequências de um comportamento. A memória implícita está relacionada com memória motora e perceptiva, liga a estímulos, e expressa-se na execução de tarefas sem esforço consciente. Evolve o cerebelo e a amígdala. 12.1.4.3 LINGUAGEM1 A linguagem é a capacidade ou faculdade de exercitar comunicação, indo desde a expressão de ideias em discurso (ou em escrita) até à compreensão da palavra falada (e escrita). Algumas áreas do cérebro encontram-se envolvidas no processamento da linguagem: área de broca e área de wernicke. Sempre que a alteração da linguagem não é devida a defeitos de visão, audição ou paralisia motora, é necessário avaliar a fluência, compreensão, nomeação e repetição do discurso. 1 Não confundir com o conceito de língua, conjunto de palavras e expressões. 5 Tipo de Afasia Características Localização - Compreende; - Não fluente; Afasia de Broca - Não nomeia; - Não repete; - Não compreende; Afasia de - Fluente; Wernicke - Não nomeia; - Não repete; - Compreende; Afasia de Nomeação - Fluente; - Não nomeia; - Repete; - Não compreende; - Não fluente; Afasia Global - Não nomeia; - Não repete; Por fim, convém indicar que existem, ainda, outros tipos de afasias (condução, transcortical motora e transcortical sensitiva). A alexia (perda da capacidade de leitura) e a agrafia (perda de capacidade de escrita) são outras disfunções da linguagem. 12.1.4.4 PERCEPÇÃO VISUO-ESPACIAL A percepção visual-espacial é uma das formas de percepção associadas à visão (estímulos visuais). De acordo com as leis de organização da Gestalt, há seis factores que determinam como nós agrupamos as coisas utilizando a percepção visual: Proximidade – objectos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes do smais distantes; Similaridade ou semelhança – objectos similares em forma, tamanho, ou cor, são mais facilmente interpretados como um grupo; Closure – o cérebro tende a adicionar componentes que faltam para interpretar uma figura parcial como um todo; Simetria – elementos simétricos são mais facilmente agrupados em conjuntos do que os não simétricos; Destino comum – elementos movendo-se no mesmo sentido são mais facilmente agrupados entre si; 6 Continuidade – o cérebro dá continuidade a padrões formados, mesmo que os seus componentes sejam redistribuídos. 12.1.4.5 CÁLCULO E PENSAMENTO ABSTRACTO Duas das funções nervosas superiores é o cálculo numérico e o pensamento abstracto, tendo este último grande significado na arte (música, escultura, pintura, entre outros). Tanto o cálculo, como o pensamento abstracto, são importantes pois levam o pesamento a alcançar coisas que ainda não se conhece ou que ainda não são concretas (amor, ódio, felicidade, raiva, ...). Além do mais, o pensamento abstracto é muito importante na avaliação e escolha de caminhos alternativos. 12.1.4.6 FUNÇÕES EXECUTIVAS Um exemplo de funções executivas é a praxia, a qual compreende a realização de actos motores voluntários adaptados a um objectivo definido. Por outro lado, temos a apraxia, que é a incapacidade de executar uma sequência de movimentos ou actos complexos, embora a sensibilidade, motricidade e compreensão da tarefa estejam intactos (exemplo: pentear o cabelo, escovar os dentes). Existem vários tipos de apraxias: Apraxia ideomotora: não consegue executar gestos com significado simbólico tradicional (assobiar, chamar alguém com a mão,...); Apraxia ideativa: não consegue executar de forma lógica e harmoniosa uma sequência de movimentos; Apraxia construtiva: não consegue construir representações (desenhar uma árvore, um quadrado,...); Apraxia do vestir: não consegue colocar objectos no próprio corpo; Apraxia do olhar; Apraxia da marcha. 12.2. SISTEMA LÍMBICO O sistema límbico é a unidade responsável pela emoções, interferindo positiva ou negativamente no funcionamento visceral e na regulamentação metabólica de todo o organismo. Este sistema é composto por tecido cortical 2 que se localiza em redor do hilo do hemisfério central, estando associado à amigdala, hipocampo e núcleos do septo. O sistema límbico é caracterizado por ter poucas conexões com o neocórtex, embora este último tenha a capacidade de modificar o comportamento emocional. Após estimulação, o sistema límbico mantém descargas prolongadas. 2 Fissura ou depressão pela qual entram e saem elementos vasculares, nervosos e linfáticos. 7 As funções límbidas são o olfacto, comportamento sexual, emoções de raiva e medo, memória, motivação, respostas autonómicas (alterações de pressão arterial e respiração) e interpretação de uma experiência como agradável ou desagradável. 12.2.1 HIPOCAMPO O hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, tendo conecções com o córtex cerebral e estruturas basais do sistema límbico. É um “canal” adicional pelo qual os estímulos sensoriais podem iniciar comportamentos com diversos propósitos. Por exemplo, a estimulação do hipocampo pode causar prazer, raiva, impulso sexual, entre outros. O hipocampo cria respostas prolongadas e tem um papel importante na aprendizagem e memória. 12.2.2 AMÍGDALA .As amígdalas são grupos de neurónios que, no seu conjunto, formam uma massa esferóide de substância cinzenta com cerca de dois centímetros de diâmetro, situada no polo temporal do hemisfério cerebral. Apresentam, ainda, múltiplas conexões com o córtex límbico e com o neocórtex dos lobos temporal, parietal e occipital. A expressão autonómica das emoções é medida pelas amigdalas e pelas suas conexões com o hipotálamo e sistema nervoso autónomo (SNA). A estimulação das amígdalas pode causar os mesmos efeitos que a estimulação directa do hipotálamo. A conexão das amígdalas com o neocórtex permite a incorporação da aprendizagem e da experiência nas emoções. 12.2.3 EMOÇÕES A concepção e expressão de emoções provém do trabalho conjunto do sistema límbico e do hipotálamo. As emoções têm componente metal e físico e englobam cognição, afecto, exercício da vontade e alterações físicas. 8 12.2.3.1 MEDO São os núcleos das amígdalas que são responsáveis pelo registo de memórias que evocam medo, pelo que a amígdala é considerada um disparador de medo e ansiedade. A destruição das amígdalas leva ao desaparecimento da reacção de medo e das manifestações autonómicas e endócrinas. Curiosidade: no ser humano, ver faces com expressões de medo activam a amígdala esquerda. 12.2.3.2 ANSIEDADE A ansiedade está associada ao aumento bilateral do fluxo sanguíneo na região anterior do lobo temporal. 12.2.3.3 RAIVA E PLACIDEZ A raiva e a placidez estão relacionados entre si. Quando o balanço entre a raiva e a placidez é afectado devido, por exemplo, a remoção do neocórtex e certas zonas do hipotálamo, é normal observar-se ataques de raiva. Outro caso é o da destruição bilateral dos núcleos da amígdala. Embora causem um estado anormal de placidez, a destruição subsequente dos núcleos ventromediais do hipotálamo convertem a placidez em raiva. Ao passo que a castração diminui a agressividade, os androgéneos aumentam. 12.2.3.4 CENTROS DE RECOMPENSA E DE PUNIÇÃO O sistema límbico está relacionado com a natureza afectiva dos estímulos sensoriais, isto é, serem agradáveis ou desagradáveis. Os centros de recompensa são centros responsáveis pela estimulação de estímulos agradáveis e localizam-se no hipotálamo lateral, núcleo ventromedial e certas regiões do tálamo. Os centros de punição localizam-se na 9 amígdala, hipocampo e zonas periventiculares do hipotálamo, sendo responsáveis por desencadear comportamentos de raiva. O que é a adição? A adição é o uso repetido e compulsivo de uma substância apesar das suas consequências negativas para a saúde. Está associada ao sistema de recompensa e, em particular, ao núcleo de accumbens, localizado próximo do hipocampo. A adição crónica envolve desenvolvimento de tolerância, havendo necessidade de maiores quantidades para obtenção do mesmo efeito. A abstinência causa sintomas físicos e psicológicos. 12.2.3.5 COMPORTAMENTO SEXUAL A actividade sexual envolve várias partes do sistema nervoso e vários reflexos com integração na medula espinhal e centros do tronco cerebral. No entanto, as componentes comportamentais são regulados pelo sistema límbico e hipotálamo. O comportamento sexual está inteiramente relacionado com a libertação e inibição de hormonas como a testosterona, estrogéneos, entre outros. Controlo Nervoso no Homem Remoção do neocórtex inibe o comportamento sexual; Lesões na amígdala causam hipersexualidade; Hipotálamo está envolvido no controlo da actividade sexual. Controlo Nervoso na Mulher A actividade seuxal é cíclica; A actividade sexual ocorre ao longo do ciclo menstrual, com maior iniciativa espontância durante a ovulação; Lesões no córtex límbico deprimem o comportamento maternal, ao passo que a prolactina facilita. 10