Hepatites virais, um diagnóstico fácil e necessário

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ID: 65465851
28-07-2016
Tiragem: 32680
Pág: 51
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 19,83 x 30,82 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Hepatites virais, um diagnóstico
fácil e necessário
MIGUEL MANSO
A
Debate Dia Mundial
José Cotter
s hepatites virais são doenças
comuns na população mundial,
originadas pela penetração
no organismo humano de
vírus que, apesar de terem
características e agressividades
diferentes, têm em comum
o facto de provocarem
inflamação do fígado. Em
alguns casos, como mais
frequentemente acontece nas hepatites B
e C, se essa inflamação não for controlada
ou o vírus eliminado, desencadear-se-á
uma deterioração progressiva das funções
hepáticas originada por uma destruição
irreversível das suas células, que em alguns
casos só é possível de resolver com um
transplante hepático.
Vários vírus podem provocar hepatites,
de entre os quais se destacam o vírus da
hepatite B e da hepatite C. Estes são mais
focados do que os vírus da hepatite A,
D ou E, que são menos agressivos e/ou
menos frequentes, o primeiro e o último
habitualmente provocando infecções
autolimitadas e o segundo surgindo
sempre associado à infecção pelo vírus B
(e principalmente em grupos de risco bem
identificados). No referente à hepatite A, a
melhoria das condições higieno-sanitárias
decresceu o seu impacto e reduziu a sua
incidência comparativamente com a
realidade do passado. Portanto, hoje em
dia, devido à sua gravidade, as atenções
estão mais voltadas para as hepatites B e C.
Para a hepatite B possuímos hoje uma
vacina integrada no Programa Nacional de
Vacinação, muito eficaz, que tem permitido
baixar a sua incidência. Estima-se que
esta infecção possa afectar cerca de 1%
da população. A imigração africana e dos
países do Leste europeu poderão fazer
subir a prevalência. Em cerca de 20% dos
casos pode evoluir para a cronicidade,
com uma elevada taxa de transmissão
por via sexual, mas também através do
sangue e dos seus derivados, além da
transmissão vertical (de mãe para filho
quando do parto). Na maior parte dos casos
a infecção crónica é assintomática. Esta
é apenas detectável por simples análises
sanguíneas. Também cerca de 22% dos
cancros hepáticos a nível europeu estão
associados à existência de infecção pelo
vírus da hepatite B. Torna-se importante
a adequação dos cuidados necessários
nos doentes infectados (ausência de
partilha de instrumentos traumáticos ou
que possam ter contacto com sangue,
utilização sistemática de preservativo
quando de relação sexual com parceiros
não vacinados, vacinação do agregado
familiar). Os tratamentos disponíveis nas
consultas de gastrenterologia e hepatologia,
administrados por via oral, com
pouquíssimos efeitos colaterais, ainda que
raramente proporcionem a cura definitiva,
permitem um controlo da inflamação
com consequente diminuição do risco de
evolução para cirrose ou para cancro do
fígado.
No respeitante à
hepatite por vírus
C, a situação é
substancialmente
diferente. Existem
hoje tratamentos
muito eficazes que
levam a que as taxas
de cura definitiva
sejam superiores
a 95%, isentos
de significativos
efeitos colaterais. A
hepatite C poderá
infectar cerca de
1,0% da população
portuguesa, em
muito maior escala
nos consumidores
de drogas, entre
os quais infecta
mais de 80%.
Sabe-se que o
sangue infectado é
a principal via de
transmissão, sendo
rara a transmissão
por via sexual ou da
mãe para o bebe.
Mas num numero
importante de
cidadãos infectados
com este vírus
não é possível
Uma precoce
referenciação
dos doentes
com hepatites
víricas a
consultas
especializadas
de gastrenterologia por
parte dos
médicos de
medicina
geral e familiar
afigura-se muito
importante
identificar a causa da transmissão, pelo
que, tendo em consideração que a infecção
decorre na maior parte das vezes de forma
silenciosa, a Sociedade Portuguesa de
Gastrenterologia vem sugerindo que pelo
menos uma vez na vida o cidadão faça
um rastreio desta hepatite, através de
uma simples analise sanguínea. Estimase que o número de mortes relacionados
com a infecção pelo vírus da hepatite C
em Portugal será de cerca da 1000/ano,
uma vez que a infecção não tratada pode
desencadear complicações graves, como
cirrose hepática em 30-40% dos casos ou
cancro do fígado.
Duas referências para o facto de o
diagnóstico das hepatites víricas ser fácil
de fazer, recorrendo-se apenas a simples
análises sanguíneas e também para a
necessidade de os doentes considerados
curados após tratamento, no caso de
terem tido infecções ao longo de anos ou
diagnóstico de cirrose associada, deverem
manter consultas regulares, pois algumas
alterações que se geraram no fígado podem
permanecer e em alguns casos desencadear
complicações.
A necessidade de uma precoce
referenciação dos doentes com hepatites
víricas a consultas especializadas de
gastrenterologia por parte dos médicos de
medicina geral e familiar afigura-se muito
importante, para que atempadamente se
possa fazer a avaliação necessária e iniciar
o tratamento indicado, de forma a evitar
danos no fígado (por vezes irreversíveis) e
manter a qualidade de vida dos doentes.
Gastrenterologista e hepatologista,
presidente da Sociedade Portuguesa de
Gastrenterologia
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