Caracterização do açaizal nativo da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA: Estudo fitossociológico e comportamento produtivo das plantas em função da densidade da touceira. JOSÉ RENATO MARQUES BORRALHO JUNIOR Engenheiro Agrônomo Orientador: Prof. Dr. José Ribamar Gusmão Araujo . SÃO LUÍS Maranhão – Brasil Fevereiro – 2011 II Caracterização do açaizal nativo da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA: Estudo fitossociológico e comportamento produtivo das plantas em função da densidade da touceira. JOSÉ RENATO MARQUES BORRALHO JUNIOR Engenheiro Agrônomo Orientador: Prof. Dr. José Ribamar Gusmão Araujo Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção de grau de Mestre em Agroecologia. SÃO LUÍS Maranhão – Brasil Fevereiro - 2011 III Borralho Junior, José Renato Marques. Caracterização do açaizal nativo da Comunidade São Maurício, Alcântara - MA: estudo fitossociológico e comportamento produtivo das plantas em função da densidade da touceira / José Renato Marques Borralho Junior.– São Luís, 2011. 77 f Dissertação (Mestrado) – Curso de Universidade Estadual do Maranhão, 2011. Agroecologia, Orientador: Prof. Dr.José Ribamar Gusmão Araújo. 1.Euterpe oleraceae Mart. 2.Produtividade. 3.Freqüência. I.Título CDU: 634.61(812.1) IV Caracterização do açaizal nativo da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA: Estudo fitossociológico e comportamento produtivo das plantas em função da densidade da touceira. JOSÉ RENATO MARQUES BORRALHO JUNIOR Comissão Julgadora: _______________________________________ Prof. Dr. José Ribamar Gusmão Araujo ______________________________________ Prof. Dr. Fabrício de Oliveira Reis ______________________________________ Drª. Renata da Silva Brant (Embrapa Cocais) V A Deus pela graça concedida durante a minha jornada na faculdade; Aos meus pais José Renato Marques Borralho e Altaides Maria Almeida Borralho, pela luta, amor e dedicação, à minha esposa Luciana Santos da Silva, pela paciência, amor, carinho e ajuda nos momentos difíceis; A meu Irmão Cristian Fábio Almeida Borralho pelo companheirismo; Aos meus amigos e companheiros de curso, pela ajuda, companheirismo e amizade. VI AGRADECIMENTOS A Deus; À Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, pela oportunidade dada para a realização do curso de pós-graduação; Ao professor José de Ribamar Gusmão Araujo, pela orientação, pelo aprendizado, paciência e amizade; À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa concedida; Aos meus pais José Renato Marques Borralho e Altaides Maria Almeida Borralho pelo carinho, amor, dedicação, credibilidade e oportunidade na vida de poder estudar; Á minha Esposa querida Luciana Santos da Silva pelo amor e dedicação concedidos ao longo de toda a nossa caminhada juntos; A meu Irmão querido Cristian Fábio Almeida Borralho pelo companheirismo, pela força e carinho; A meu grande amigo Ricardo Lucas Bastos Machado, companheiro de trabalho e de pesquisa, pela ajuda e orientação concedida durante toda a execução deste trabalho, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento da pesquisa maranhense; Aos professores Altamiro Ferraz Júnior, Ariadne Enes Rocha, Francisca Helena Muniz e Moisés Rodrigues Martins pela ajuda concedida tanto em orientações diversas para execução deste projeto quanto em orientações para a minha vida profissional; À Prefeitura Municipal de Alcântara, por meio da pessoa da Sra. Heloísa Helena Franco Leitão, pela ajuda logística e financeira concedida em alguns momentos da realização deste trabalho; Ao José Maria e Simão Silva, moradores da comunidade de São Mauricio, que muito contribuíram na execução deste projeto, enfrentando as dificuldades de acesso a área do projeto, auxiliando na coleta de dados deste trabalho; A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste trabalho. VII “Reparta o seu conhecimento. É uma forma de alcançar a imortalidade”. [Dalai Lama] VIII SUMÁRIO p LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... VIII LISTA DE TABELAS.......................................................................................... X LISTA DE QUADROS......................................................................................... XI RESUMO............................................................................................................... XII ABSTRACT........................................................................................................... XIII 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1 2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 3 2.1 Aspectos Ecológicos......................................................................................... 3 2.2 Variedades e Híbridos....................................................................................... 6 2.3 Classificação Botânica e Sinonímias................................................................ 8 2.4 Importância Econômica e Social do Açaizeiro................................................. 10 2.5 Manejo das Touceiras....................................................................................... 12 3 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 13 3.1 Local de Estudo................................................................................................ 13 3.2 Escolha da Área de instalação das parcelas experimentais.............................. 14 3.3 Identificação das parcelas para estudo fitossociológico.................................. 15 3.4 Definição dos tratamentos para avaliação dos parâmetros a serem analisados............................................................................................................... 17 3.5 Levantamento e parâmetros fitossociológicos.................................................. 18 3.6 Determinação da produção de frutos do açaí................................................... 19 3.7 Determinação da produção e análise físico-química........................................ 19 3.8 Estudo sócio-econômico da comunidade de São Maurício, Alcântara- 24 MA.......................................................................................................................... 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 25 4.1 Fitossociologia.................................................................................................. 25 4.1.1 Densidade (DR), Frequencia (FR) e Dominancia (DoR) relativas por espécie.................................................................................................................... 25 4.1.2 Densidade (DR), Riqueza e Dominância (DoR) relativas por família.......... 26 4.1.3 Distribuição dos valores de importância (VI) e de cobertura (VC) por família..................................................................................................................... 4.1.4 Classes de diâmetro....................................................................................... 27 4.1.5 Composição das touceiras de açaí na área da “baixa” da comunidade de 30 28 IX São Maurício........................................................................................................... 4.2 Produção dos açaizeiros.................................................................................... 33 4.2.1 Produção de cachos....................................................................................... 33 4.2.2 Peso de frutos................................................................................................ 35 4.2.3 Peso de polpa................................................................................................. 37 4.2.4 Rendimento de polpa..................................................................................... 39 4.2.5 Sólidos solúveis totais.................................................................................... 40 4.2.6 Acidez total titulável...................................................................................... 42 4.2.7 Referências de qualidade do açaí da comunidade São Maurício................... 43 4.3 Aspectos gerais e regionais da economia do açaí............................................. 44 4.3.1 Aspectos gerais.............................................................................................. 44 4.3.2 Aspectos regionais......................................................................................... 47 4.3.3 Preço do açaí praticado no cenário maranhense............................................ 51 4.3.4 Considerações finais...................................................................................... 52 5 CONCLUSÕES.................................................................................................. 56 REFERÊNCIAS................................................................................................... 57 APÊNDICE A........................................................................................................ 64 X LISTA DE FIGURAS p. Figura 1 Imagem via satélite ENGESAT, da localização geográfica da área de pesquisa.................................................................................................... 13 Figura 2 Vista parcial da vegetação da área de estudo........................................... 14 Figura 3 Demarcação das parcelas experimentais com fita zebrada...................... 15 Figura 4 Detalhe da medição do CAP e estimativa de altura (à esquerda) e detalhe da numeração da planta do levantamento fitossociológico (à direita)...................................................................................................... 17 Figura 5 A - Detalhes de sementes provenientes de fruto imaturo e completamente amadurecido B - aspecto de frutos amadurecidos........... 20 Figura 6 A- Debulha dos frutos; B- pesagem dos frutos; C– balança utilizada para pesagem e D– garrafas pet identificadas para retirada de amostra... 22 Figura 7 Detalhe do despolpamento do açaí de forma artesanal e controle da quantidade de água para produção do vinho............................................ 21 Figura 8 Detalhe refratômetro manual................................................................... 21 Figura 9 Coletores assépticos utilizados em coleta de amostras da polpa/vinho para análise em laboratório...................................................................... 22 Figura 10 Detalhe dos potes com amostras devidamente identificados a serem congeladas e enviadas ao laboratório....................................................... 22 Figura 11 Distribuição dos valores de DR, FR e DoR relativas por espécie......... 25 Figura 12 Distribuição do número de indivíduos (densidade), de espécies (riqueza) e dominância das espécies por família................................... 26 Figura 13 Distribuição dos valores de VI e VC por família................................... 28 Figura 14 Distribuição da freqüência dos indivíduos amostrados nas classes de diâmetros............................................................................................... 30 Figura 15 Composição das touceiras na área da baixa (indivíduos /touceira)........ 32 Figura 16 Composição das touceiras de açaí, segundo a relação do número de touceiras, plantas adultas e jovens......................................................... 33 Figura 17 Número de cachos colhidos em função da densidade de touceiras........ 34 Figura 18 Peso médio dos frutos em função da densidade de touceiras................. 37 Figura 19 Peso de polpa em função da densidade de touceiras.............................. 38 XI Figura 20 Rendimento de polpa de açaí em função da densidade de touceiras...... 40 Figura 21 Sólidos solúveis totais em função da densidade de touceiras................ 41 Figura 22 Acidez total titulável de polpa de açaí em função da densidade de touceiras.................................................................................................................... 43 Figura 23 Estados brasileiros produtores de açaí. (IBGE, 2008)............................ 45 Figura 24 Relação dos municípios de maior produção de açaí. Fonte: IBGE (2008)..................................................................................................... 46 Figura 25 Representação da produção de açaí nos municípios em relação a produção estadual. Fonte: IBGE (2008)................................................ 47 Figura 26 Freqüência de atividades praticadas pelos agricultores da comunidade de São Maurício, Alcântara, MA........................................................... 48 Figura 27 Consumo médio familiar diário de açaí na comunidade no período de safra........................................................................................................ Figura 28 Destino da produção de açaí da comunidade de São Maurício/Alcântara................................................................................ Figura 29 Preço de venda pago ao produtor de açaí no Maranhão. Fonte: IBGE (2008).................................................................................................... 50 51 52 XII LISTA DE TABELAS p Tabela 1 Identificação das parcelas para o levantamento fitossociológico da área de várzea da Comunidade São Mauricio, Alcântara, MA........... Tabela 2 Distribuição dos indivíduos em classes de diâmetro na área de São Mauricio, com intervalos de classes de 10 cm, aberto na esquerda e fechado na direita(n=500)................................................................... Tabela 3 Peso médio dos frutos por touceira e por cacho nas diferentes classes de estipes............................................................................................. Tabela 4 Variação do peso médio de polpa de açaí nos tratamentos utilizados na baixa da comunidade de São Maurício-Alcântara/MA.................. 15 29 36 38 XIII LISTA DE QUADROS p Quadro 1 Composição das touceiras de açaí e estimativa da densidade de estipes adultos por hectare, da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA..................................................................................... Quadro 2 Parâmetro entre trabalhos e norma técnica do Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento – MAPA com suas respectivas variações........................................................................... 31 43 XIV Caracterização do açaizal nativo da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA: Estudo fitossocioógico e comportamento produtivo das plantas em função da densidade da touceira. Autor: José Renato Marques Borralho Junior Orientador: Prof. Dr. José de Ribamar Gusmão Araújo RESUMO: O gênero Euterpe congrega cerca de 28 espécies, distribuídas das Antilhas a América do Sul, notadamente nas regiões com florestas tropicais. O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) da família Arecaceae, é uma palmeira nativa da Amazônia que se destaca pela abundância e por produzir o vinho do açaí, alimento importante para a população local em suas refeições diárias, e o palmito obtido a partir do corte dos estipes, com sua produção destinada ao mercado interno e externo. O trabalho, baseado no estudo prévio da fitossociologia da floresta de várzea de açaizal da Comunidade Quilombola São Mauricio, Alcântara, Maranhão, caracteriza o sistema agroextrativista de açaí praticado por pequenos agricultores e avaliar alternativas de manejo agroecológico da espécie Euterpe oleracea em seu ambiente natural, possibilitando melhorias nos indicadores de produção e qualidade dos frutos, conservação do ecossistema açaizal e aumento na geração de renda da comunidade. Foi realizada a análise da produção nativa, ou seja, sem manejo, coletando dados de número de cachos colhidos por parcela, total de peso dos frutos, média de peso dos frutos, total de peso da polpa, média de peso da polpa, média de rendimento da polpa em percentagem, além de analisar os sólidos solúveis presentes na polpa, a acidez total titulável e acidez em pH. Dentre os parâmetros analisados observou-se uma variação em termos de maior produção do número de cachos, peso de fruto e peso de polpa para os tratamentos com menor densidade de estipes por touceira. Os valores médios de 2,13 ºBrix, 0,2 para acidez total titulável e 5,05 para pH, servem de parâmetro para outras colheitas que serão realizadas na área quando manejada e mostram que a polpa de açaí estudada encontra-se dentro dos critérios estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento. Neste trabalho também se obteve informações importantes a cerca do perfil sócio-econômico do município de Alcântara comparando os dados de produção, comercialização e consumo em relação aos principais municípios produtores do Estado. Com base no perfil sócio-econômico traçado na comunidade verificou-se que a espécie E. oleraceae Mart. representa uma importante fonte de alimento para a Comunidade de São Maurício, tendo em vista que, a maior parte da produção é utilizada na alimentação e o excedente é comercializado em feiras locais. Palavras-chave: Euterpe oleraceae Mart., Frequência e Dominância, Produtividade, Qualidade de fruto. XV Characterization of native açaizal Community São Mauricio, Alcântara, MA: Study fitossocioógico and productive performance of the plants depending on the density of the clump. Author: José Renato Marques Borralho Junior Adviser: Prof. Dr. Jose de Ribamar Gusmão Araújo ABSTRACT: The genus Euterpe brings together about 28 species distributed from the Antilles to South America, especially in regions with tropical forests. The açaí palm (Euterpe oleracea Mart.) Arecaceae family, is a palm native from the Amazon that stands for abundance and for producing the wine açaí, important food for local people in their daily meals, made from palm and cutting the stems, with its production for the domestic and foreign markets. This study, based on prior study of phytosociological forest floodplain açaizal Community Quilombola São Mauricio Alcantara, Maranhão, aimed at characterizing the system Agroextrativista açai practiced by small farmers and assess alternative agroecological management of the species Euterpe oleracea in their environment natural, enabling improvements in indicators of production and fruit quality, and ecosystem conservation açaizal increase in income generation of the Community. We performed the analysis of native production, ie without any management, collecting data on the number of bunches harvested per plot, total fruit weight, average fruit weight, total pulp weight, average pulp weight average pulp yield as a percentage, to analyze soluble solids in the pulp, the total acidity, total acidity and pH. Among the parameters analyzed revealed a variation in terms of increased production of the bunch number, fruit weight and pulp weight for treatments with lower density of stems per plant. The average values of 2.13 ° Brix, 0.2 for total acidity and pH 5.05 to serve as parameter for other crops that will be undertaken in the area when handled and show that the pulp is studied within the criteria established by the Ministry of agriculture and drinking. This work also had important information about the socioeconomic profile of the municipality of Alcântara comparing data on production, marketing and consumption in relation to the main producing counties of the state. Based on the socio-economic path in the community it was found that E. oleracea Mart. represents an important source of food for the Community of São. Mauricio in order that the bulk of production is used in food and the surplus is sold in local markets. Keywords: Euterpe oleracea Mart., Frequency and Dominance, Productivity, Quality of fruit. 1 1 INTRODUÇÃO O gênero Euterpe congrega cerca de 28 espécies, distribuídas das Antilhas a América do Sul, notadamente nas regiões com florestas tropicais. O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) da família Arecaceae, é uma palmeira nativa da Amazônia que se destaca pela abundância e por produzir o vinho do açaí, alimento importante para a população local em suas refeições diárias, e o palmito obtido a partir do corte dos estipes, com sua produção destinada ao mercado interno e externo (Anderson &Jardim, 1987;; Lorenzi e Matos 1996; Jardim, 2002; e Viegas et al., 2004). Atualmente, a produção nacional anual de açaí é de 132 mil toneladas de frutos, 90% concentrada no Estado do Pará. Estima-se que o consumo médio na cidade de Belém é de 180 mil litros de açaí por dia (SUFRAMA, 2003). Na Pré-Amazônia, o maior produtor é o Maranhão, onde o açaizeiro é mais conhecido por juçara. Em 1992, o Pará foi responsável por 94% da produção nacional de frutos de açaí, seguido pelo Maranhão (3,05%), Amapá (2,26%), Acre (0,29%) e Rondônia (0,07%) (Rogez, 2000). No cenário de 2008, o Estado do Pará ainda figura como o maior produtor seguido Maranhão, com uma diferença já bem expressiva em relação aos números do ano de 1992, onde o Pará foi responsável por 86,81% da produção, seguido pelo Maranhão (9,44%), Acre (1,35%), Amazonas (1,13%), Amapá (0,96%), Bahia (0,19%) e Rondônia (0,12%) além de outros com menor expressão, como Pernambuco e Tocantins (IBGE, 2008). O açaí é uma espécie florestal típica da região do estuário Amazônico com características de cultura perene, indicada para as condições tropicais de grande precipitação pluviométrica e elevada temperatura, possibilitando proteção permanente ao solo. Apresenta perfilhação abundante (hábito cespitoso) formando o que popularmente chama-se "touceira", ideal para a exploração racional e permanente de palmitos e frutos (Calzavara, 1972). Outras espécies do gênero com importância sócio-econômica e ambiental são Euterpe edulis Mart. (juçara da mata atlântica) e Euterpe espiritosantensis Fernandes (açaí vermelho) distribuídas na Floresta Tropical Atlântica desde o sul da Bahia até o norte do Rio Grande do Sul. Outra espécie comum nas matas da Amazônia Ocidental é Euterpe precatoria Mart. (açaí solteiro) ocorrendo nos Estados do Amazonas, Acre, 2 Rondônia e Roraima (RIBEIRO, 2004). Uma característica comum às três espécies é o não perfilhamento, pois são monocaules ou solitárias. Dados comparativos de produção das quatro espécies denotam potencial superior para a E. oleracea devido ao número de perfilhos. No entanto, isso não deve ser causa de menor interesse econômico pelas outras três espécies, que se adaptam muito bem ao cultivo em terra-firme (Rogez, 2000). A Amazônia é composta por um conjunto de ecossistemas diversificados e na sua maioria frágeis. A ação antrópica, por meio da implantação de monoculturas ou atividades agropecuárias, tem causado efeitos desastrosos para o equilíbrio desses ecossistemas (Rogez, 2000). As várzeas e igapós proporcionam condições climáticas e biológicas ao desenvolvimento do açaizeiro (E. oleracea), por apresentarem condições de inundação, circulação de nutrientes e iluminação razoável. O açaizeiro se desenvolve bem nesses ecossistemas, porém, os diferentes padrões de adaptabilidade estrutural permitem pleno desenvolvimento reprodutivo em áreas de terra firme (VIÉGAS et al., 2004). A grande demanda pelo produto no mercado local, bem como a abertura para outras regiões, promove o açaí como produto potencial para a comercialização e alternativa de diversificação do sistema de produção dos agricultores familiares. A busca pelas informações está pautada em subsidiar (estimular) os pequenos agricultores, manejando e promovendo maior rendimento dos sistemas de produção e menor degradação dos recursos naturais, especialmente no caso dos açaizeiros que tradicionalmente eram derrubados para a extração sem controle de palmito. Objetivou-se com a realização deste trabalho o estudo prévio da fitossociologia da floresta de várzea de açaizal da Comunidade Quilombola São Maurício, AlcântaraMA, caracterizando o sistema agroextrativista de açaí praticado por pequenos agricultores e avaliar alternativas de manejo agroecológico da espécie Euterpe oleracea em seu ambiente natural, visando melhorias nos indicadores de produção e qualidade dos frutos, conservação do ecossistema açaizal e aumento na geração de renda da comunidade. 3 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Aspectos Ecológicos O açaí (Euterpe oleracea Mart.) é considerado como um importante membro da flora nativa, devido à diversidade de produtos obtidos a partir do fruto, principalmente da polpa. São 200 gêneros e mais de 2600 espécies que constituem a família Arecacea, distribuídos com predominância nas regiões tropicais e subtropicais (Jones, 1995). O Açaí tem grande participação na vegetação de igarapés, terrenos de baixada e de áreas alagadas, aparecendo naturalmente no estuário amazônico, Maranhão, Baixo Amazonas, Tocantins e Amapá, sendo encontrado quase que exclusivamente, no estágio plântula e juvenil (Aguiar et al., 2000). A adaptação das plantas é um processo que ocorre a longo prazo, envolvendo muitas gerações. Em condições desfavoráveis ao crescimento, utilizam diferentes recursos para obter condições mínimas ao desenvolvimento e reprodução (Sousa, 2006). As palmeiras se adaptam a diferentes ambientes como várzea, igapó¹ e terra firme, devido à sua habilidade de alocação de recursos para as folhas e raízes. A eficiência das folhas para captação de energia luminosa, a capacidade de conversão dessa energia em carboidratos, assim como o seu transporte e o metabolismo nas diversas partes das plantas, são fatores que influenciam no crescimento e sobrevivência das palmeiras quando crescem em locais adversos (Scariot, 2001). Estudando a estrutura de açaizais em ecossistemas inundáveis da Amazônia, Silva e Almeida (2004), observaram que o número de plantas que se desenvolveram na várzea foi maior que no igapó, sendo que o maior número de estipes por touceira foi encontrado no igapó. A espécie tem capacidade de desenvolve-se bem em uma gama variada de solos, desde o tipo bastante argiloso das várzeas altas do estuário do rio Amazonas até o areno-argiloso das áreas de terra firme. O crescimento da planta é favorecido pela existência de altos teores de matéria orgânica. As áreas muito arenosas, com baixa capacidade de retenção de água, devem ser evitadas. No que se refere a classificação do solo, Nogueira (2005) afirma que o solo predominante nas áreas de várzea do estuário amazônico é do tipo Gley pouco húmico, resultante do acúmulo de sedimentos deixados pelas águas das marés, mal drenados, elevado teor de argila, baixa saturação de bases e pH de 4,5 a 5,0. 1 Termo utilizado para denominar uma mata inundada, por sua vez, várzea se refere a áreas inundadas periodicamente por rios de água branca. 4 Para Oliveira (2003), o solo em que o açaí ocorre nos baixios da região de Maracanã em São Luís-MA, tradicional área produtora e centro de consumo de frutos, é classificado como Podzólico Vermelho Amarelo Petroplíntico (Concrecionário), pertence a classe textural Franco-arenosa, caracterizada por alto teor de areia e baixos teores de silte e argila. A disponibilidade de água no solo influencia no crescimento, distribuição e sobrevivência das plantas. Em condições naturais, plantas que habitam locais úmidos, como o açaí, em certas ocasiões são submetidas naturalmente ao déficit moderado de água. A capacidade de tolerar um estresse moderado é muito importante para a propagação da espécie em ambientes diferentes do seu habitat natural (Calbo & Moraes, 2000). Calbo & Moraes (2000) relataram que o déficit hídrico provoca diminuição nas atividades fisiológicas do açaizeiro (fotossíntese, condutância estomática e transpiração). Tsukamoto Filho et al. (2001) observaram que E. edulis plantado em florestas secundárias em pleno sol apresentou menor produção de biomassa em virtude do estresse hídrico ocorrido nas parcelas, e Carvalho et al. (1998) citam que o açaizeiro é adaptado a ambiente com alagamento periódico do sistema radicular ocasionado pelo efeito das marés, não afetando a absorção de água pelas raízes; já no período de seca, onde a maré alta não cobre parte da vegetação, a absorção de água é mantida em níveis suficientes para suprir a demanda de transpiração. A baixa disponibilidade de luz afeta o crescimento e a sobrevivência das plantas em função da quantidade de energia luminosa interceptada pelas folhas. O crescimento satisfatório de algumas espécies em ambientes com diferentes disponibilidades luminosas pode ser atribuído à capacidade de ajustar rapidamente seu comportamento fisiológico para maximizar a aquisição de recursos nesses ambientes (Dias-Filho, 1997). Segundo Scalon & Alvarenga (1993), as plantas nativas geralmente possuem respostas diferentes à luminosidade, principalmente quanto ao desenvolvimento vegetativo da parte aérea e a sobrevivência das plântulas. Por isso, a eficiência do crescimento da planta pode ser relacionada com a habilidade de adaptação às condições luminosas do ambiente. Gama et al. (2002) afirmaram que em ambiente de várzea o açaizeiro se desenvolve no sub-bosque com pouca luminosidade, contudo, as plantas têm respostas fisiológicas (fotossíntese) e morfológicas (crescimento) diferentes dependendo do nível de luz a que são submetidas. 5 Sampaio (2003), estudando o efeito da irradiância no crescimento inicial de plantas jovens de açaizeiro (E. oleracea) em sistemas agroflorestais no município de Bragança – PA, observou grande plasticidade no crescimento e na eficiência do uso da radiação disponível em função das intensidades de irradiância. O autor afirmou que a adaptação na faixa de irradiância vai do intenso sombreamento à intensidade alta de irradiância, constatando que o crescimento aumentou com a disponibilidade de luz até um máximo de 80% e que a adaptabilidade aumentou em função da idade dos açaizeiros. Nogueira & Conceição (2000) estudaram o crescimento de açaizeiro em área de várzea no estuário Amazônico, constatando que quatro anos após o corte do estipe para extração do palmito, os perfilhos estavam prontos para produção de frutos e de palmitos. O número de perfilhos produzidos em todos os estádios de crescimento da palmeira está associado ao vigor da planta nas primeiras fases de desenvolvimento. No entanto, não se deve permitir o número excessivo de perfilhos, pois a competição se torna acentuada, trazendo como conseqüência menor desenvolvimento do palmito (Bovi et al., 1998). Ohashi & Kageyama (2004) estudaram a variabilidade genética de nove populações de açaizeiro (E. oleracea) na região do estuário amazônico e observaram que o crescimento das plantas (altura e diâmetro do colo) foi influenciado pelas condições ambientais, não sendo possível selecionar populações como superiores ou mais produtivas com base nesses parâmetros e pela distribuição geográfica. Contudo, Bovi et al. (1998) estudando as correlações fenotípicas entre caracteres avaliados nos estádios juvenil e adulto de açaizeiro em Ubatuba – SP observaram que o crescimento do açaizeiro foi influenciado pelo número de perfilhos até o 4° ano após o plantio e que o desbaste das plantas inferiores com base em mensuração da circunferência acelerou o processo de florescimento e frutificação. As barreiras naturais à cultura do açaizeiro podem ser facilmente rompidas com o surgimento de pesquisas voltadas ao desenvolvimento sustentável em diversos ambientes. Dessa maneira, é esperada a transição entre um extrativismo de caráter extensivo para um extrativismo de caráter intensivo. 6 2.2 Variedades e Híbridos O açaizeiro apresenta duas variedades ou tipos que podem ser diferenciados pela coloração e característica do fruto quando maduro. O açaí roxo possui frutos roxos e violetas, polpa brilhante e escura que representam quase que 99% do volume da comercialização, sendo bastante procurado para a produção do tradicional “vinho” – termo utilizado na região amazônica para o suco de açaí e na produção de picolés e sorvetes destinados ao consumo pela população. O açaí “branco” possui frutos e polpa verde escura brilhante, produzindo suco de coloração creme-claro. Esta é a diferença marcante entre os dois tipos mencionados. Outras variedades de açaizeiros ocorrem, porém são poucos comuns (Calzavara, 1972; Cavalcante, 1991; Nogueira et al., 1995). Para garantir a sustentabilidade do açaí e a recuperação das áreas degradadas, pesquisas de manejo e enriquecimento de açaizais nativos foram desenvolvidas, assim como estudos de cruzamentos intra e interespecíficos, em busca de cultivares ou híbridos adaptados ao ambiente de terra firme, mais precoces e produtivos que seus genitores. Pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental produziram a cultivar BRS Pará destinada ao plantio em terra firme. A seleção foi a partir de açaizeiros (Euterpe oleracea) que apresentaram boa produção de frutos e alto vigor de perfilhamento. É uma planta precoce, iniciando seu ciclo de produção de frutos com três anos após o plantio a uma altura em torno de um metro, mais produtiva e com maior rendimento de polpa em torno de 15 a 25% (EMBRAPA, 2004). Bovi et al. (1987) obtiveram um híbrido do cruzamento das espécies E. edulis e E. oleracea também adaptado ao ambiente de terra firme com valor de desenvolvimento e produção de palmito superior aos genitores. Gonçalves (2001) define o fruto do açaizeiro como uma drupa globosa ou levemente depresso, apresentando resíduos florais, com diâmetro em torno de 2 cm e pesando, em média, 1,5 g contendo a semente, caroço duro e pequeno, que corresponde a 73% da sua massa total, cada quilo de frutos contém de 900 a 950 sementes. Os frutos se apresentam em cachos. Possuem coloração originalmente verdes adquirindo a cor violácea, quase preta, no estágio maduro. Já no chamado açaí branco, a coloração originalmente verde, permanece até o momento da colheita, fornecendo polpa esverdeada. Nos frutos são diferenciadas as seguintes partes: 7 Epiderme: representada por uma casca fina e lisa, facilmente destacável denominada epicarpo; Mesocarpo: camada de espessura de 1,0 a 1,5 mm de diâmetro, de cor arroxeada quando madura por maceração produz o vinho do açaí; Endocarpo: parte dura e fibrosa que recobre a amêndoa (Calzavara, 1972). O tamanho dos frutos, peso dos caroços e espessura da polpa. São características diretamente relacionadoas com o rendimento do fruto. O tamanho e peso dos frutos também podem ser influenciados pelo número de frutos no cacho e pela densidade desses frutos. A polpa de açaí e o açaí são produtos extraídos da parte comestível do fruto do açaizeiro (Euterpe oleracea, Mart.) após amolecimento através de processos tecnológicos adequados. A extração consiste na separação da semente (endocarpo) de polpa que a envolve. O método manual é feito normalmente em residências ribeirinhas, e é muito lento e trabalhoso. Para facilitar na extração, tanto o método manual, como o método mecânico, utilizam-se a imersão dos frutos em água a temperatura ambiente (25º C) durante uma hora. A fase de imersão pode ser acelerada utilizando-se temperatura entre 35º C a 40º C durante vinte minutos. Este procedimento é muito usado pelas Unidades de Beneficiamento (maquineiros). De maneira convencional três tipos de açaí são obtidos de acordo com o aspecto. O açaí popular ou fino - menos espesso; açaí médio e o açaí grosso ou especial, muito espesso, chamado também de papa. De acordo com a adição ou não de água e seus quantitativos, o produto será classificado em: Açaí grosso ou especial (tipo A) é a polpa extraída com adição de água e filtração, apresentando acima de 14% de sólidos solúveis totais e uma aparência muito densa. Açaí médio ou regular (tipo B) é a polpa extraída com adição de água e filtração, apresentando 11 a 14% de sólidos solúveis totais e uma aparência densa. Açaí fino ou popular (tipo C) é a polpa extraída com adição de água e filtração, apresentando de 8 a 11% de sólidos totais e uma aparência pouco densa. 8 De acordo com Oliveira (2002), em se tratando do “vinho do açaí” (suco da polpa), o mesmo habitualmente é consumido com farinha de mandioca, associado ao peixe, camarão ou carne, constituindo-se no alimento básico para as populações de origem ribeirinha. Da polpa, são fabricados sorvetes, licores, doces, néctares, geléias, energéticos, apresentando também potencial para extração de corantes, antocianinas e utilização na indústria de cosméticos, fitoterápicos e outros. De acordo com dados do IBGE (2006), a produção de polpa de açaí gera cifras que superam os R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) em todo o país, despertando grande interesse para os agricultores nacionais, os quais têm procurado praticar diferentes formas de manejo objetivando preservar a espécie e aumentar produtividade. Em razão disso, a produção de frutos, antes destinada somente ao consumo local, conquistou novos mercados, se tornando importante fonte de renda e emprego, havendo também a venda de polpa congelada para outros estados brasileiros, especialmente das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. 2.3 Classificação Botânica e Sinonímias Segundo Cronquist (1981), o açaizeiro foi classificado da seguinte maneira: DIVISÃO: Magnoliophyta; CLASSE: Liliopsida; Subclasse: Arecidae; Ordem: Arecales; Família: Arecaceae; Subfamília: Arecoidae; Gênero: Euterpe; Espécie: Euterpe oleracea Mart. Há outras espécies botânicas com a denominação vulgar de açaí, por apresentar palmeiras semelhantes, distribuídas pelo território nacional, conforme Gomes (1972). Açaí – caatinga (Euterpe controversa, Barb. Rodr. Euterpe caatinga wall. Var. aurentiacea Drude) sua polpa pode ser beneficiada. Açaí – Chumbo (Euterpe molíssima, Barb. Rodr., Euterpe caatinga Spruce) – tem estipes delgados e islolados, aproveitados para a exportação de palmito. Açaí – pardo (Euterpe badiocarpa, Barb. Rodr.), comum nas florestas próximas de Manaus, é considerado o maior dos açaís, conferindo sabor agradável quando convertidos em sucos. A terminologia “açaí” tem origem Tupy-yá-cá, significando fruto que chora, talvez por fluir lentamente em grandes gotas durante a maceração da polpa da fruta, 9 quer seja extraída manualmente, quer seja por despolpamento mecânico (Soares, citado por Braga, 1976). O açaí apresenta denominações diversas de acordo com a área de extrativismo, destacando os seguintes nomes “palmiteiro”, “piná” e “tukaney” pelos índios Curuaés; “açaí”, “açaí do Pará”, “açaí de touceira”, “açaí de baixo amazonas”, “açaizeiro” na região Norte; “Juçara” no Maranhão e Goiás. Destaca-se que no Maranhão, atribui-se a denominação “Juçara”, pertencente a mesma espécie do açaí do Estado do Pará (Euterpe oleracea Mart.) de ocorrência comum no Baixo Amazonas, diferindo basicamente da juçara da Mata Atlântica (Euterpe edulis Mart.) (Araujo et al., 2004). No município de Luis Domingues, micro região do Gurupi/Maranhão, foi identificada no ano de 2007, uma população de açaí nativo denominado, “açaí de terrafirme”, cuja ocorrência dá-se em plena mata de terra alta. Apresenta touceira, cachos médios e compactos e frutos pequenos e roxos. Foram produzidas mudas e as plantas foram plantadas para melhorar a caracterização do novo ecótipo (ARAUJO, 2010 – Informação pessoal). Em outros países, nas áreas de ocorrência natural, destacam-se as seguintes denominações: “chapil”, “murrapo”, “noidi”, “maqueque” e “palmicha” na Colombia, “bambil” e “palmicha” no Equador; “manicola palm” na Guiana; “assai”, “pinot” e “wassaie” na Guiana francesa; “manac” em Trinidad; “manaca”, “morroque” e “uassi” na Venezuela; “baoenpina”, “manaka”, “wapoe”, “wapa” no Suriname; “euterpe palm” nos Estados Unidos (Roosmalen, 1985; Cavalcante, 1991; Henderson et al., 1996; khan, 1997; Freire, et al., 2000). 2.4 Importância Econômica e Social do Açaizeiro O açaizeiro é uma espécie que apresenta multiplicidade de usos, dentre os quais se destacam as folhas para cobertura de casas, fibras, celulose, ração animal, adubo e proteção de plantações; os frutos para bebida, alimento, adubo, curtimento de couro, álcool, remédio anti-diarréico e ração animal; o palmito para alimento, adubo, curtimento de couro, álcool; as ráquilas para adubo, vassouras e proteção de plantações; os estipes para construções, celulose, lenha e isolamento elétrico e as raízes para vermífugo (Jardim, 1995). 10 A coleta e comercialização dos frutos constituem-se em atividades importantes sob o ponto de vista sócio-econômico, pois o suco extraído da polpa dos frutos é consumido em larga escala pela população amazônica. No entanto, essa espécie tem sido submetida à intensa exploração predatória, com vista à exploração de palmito, levando à sua eliminação na área (Carvalho et al., 1998). Contudo, foram tomadas providências pelas instituições competentes no sentido de racionalizar a exploração do açaí, tanto através do sistema de extrativismo manejado e sustentável quanto de seu cultivo (SUFRAMA, 2003). O Estado do Pará é o principal produtor de açaí, seguido do Maranhão. Em ambos, as maiores extensões de açaizais estão localizadas na região estuarina do rio Amazonas, abrangendo os municípios da microregião de Arari, de Cametá e de Belém no Pará. O processo de extração do fruto e do palmito está relacionado com os padrões fenológicos de floração e frutificação do açaizeiro, o que acarreta alternância de oferta desses produtos no mercado interno, gerando grande oscilação nos preços principalmente dos frutos. Nos meses de janeiro a julho a produção de frutos atinge 41%, enquanto que a de palmito 72%, este período é caracterizado pela elevada floração da espécie. Porém, nos meses de agosto a dezembro a produção média dos frutos atinge 98% e a de palmito 6%, este período é caracterizado por apresentar elevada frutificação. Isto demonstra que os moradores das ilhas estão mais concentrados na extração do fruto, pois é considerada uma prática extrativista não predatória para a espécie (Jardim & Anderson, 1987). O Brasil, apesar de ser um dos maiores produtores de palmito do mundo, não se encontra entre os países que mais exportam esse produto. O modo de exploração é na maioria extrativista. Atualmente, a pupunha (Bactris gasipaes Kunth), o açaizeiro (E. oleracea), a juçara (E. edulis), o açaí do Amazonas (E. precatoria) e o açaí vermelho (E. espiritosantensis) são as espécies com maior importância sócio-econômica e ambiental para exploração comercial do palmito e frutos, e por apresentarem potencial produtivo e baixo custo de produção de mudas (SUFRAMA, 2003). No estuário, encontram-se concentrações médias de 200 touceiras por hectare. Uma touceira pode atingir em torno de 20 estipes, dos quais, pelo menos três em produção, produzindo cada um de 6 a 8 cachos anualmente, com 2,5 kg cada, o que representa de 15 a 20 quilos de frutos por palmeira, num total aproximado de 12 ton de frutos/ha/ano. Estima-se que quase 204 ton de açaí são comercializadas por dia no 11 mercado do Ver-o-peso em Belém – PA, durante o pico de colheita do açaí, julho a dezembro, oriunda de municípios e localidades próximos a Belém (Rogez, 2000). A exploração excessiva dos palmiteiros (E. edulis) nativos da Mata Atlântica acarretou na diminuição drástica das populações da espécie, provocando êxodo das doze empresas extrativistas para a Amazônia em virtude da oferta de palmito proveniente do açaizeiro (E. oleracea). Em meados da década de 80, o extrativismo indiscriminado pelas comunidades ribeirinhas, para a comercialização do palmito, provocou uma redução drástica nas populações nativas dos açaizeiros (Mesquita e Jardim, 1996). A partir de 1990, o cultivo e o manejo de açaizais nativos começaram a ganhar significado devido a valorização do vinho do açaí no mercado nacional, gerando emprego e possibilitando um maior nível de renda ao trabalhador do interior do Estado, melhorando as condições de vida do homem do campo e diminuindo o êxodo rural (Lopes, 2001). 2.5 Manejo de touceiras Nogueira & Conceição (2000) estudaram o crescimento de açaizeiro em área de várzea no estuário Amazônico, constatando que quatro anos após o corte do estipe para extração do palmito, os perfilhos estavam prontos para produção de frutos e de palmitos. O número de perfilhos produzidos em todos os estádios de crescimento da palmeira está associado ao vigor da planta nas primeiras fases de desenvolvimento. No entanto, não se deve permitir o número excessivo de perfilhos, pois a competição se torna acentuada, trazendo como conseqüência menor desenvolvimento do palmito (Bovi et al., 1998). Jardim & Anderson (1987) e Nogueira (1995), verificaram que em populações nativas de açaizeiros houve um acréscimo significativo na produtividade de frutos por estipe, quando houve a eliminação das espécies competidoras. A adoção da prática do manejo, que consiste na remoção da cobertura vegetal original em áreas onde se encontram açaizeiros, cuja densidade é variável e em competição com outras espécies dominantes, mas com chances de sua proliferação, estas áreas são escolhidas (Nogueira, 1997). Alguns produtores efetuam a substituição integral da cobertura vegetal original, privilegiando apenas os açaizeiros que são plantados nos espaços livres. Outros produtores adotam sistema de substituição parcial, deixando buritizeiros do sexo 12 feminino e eliminando os de sexo masculino, pelo fato de não produzirem frutos. A eliminação de buritizeiros do sexo masculino é uma prática condenável, pois dependendo do número de plantas derrubadas, poderá tornar improdutivas as plantas de sexo feminino, pela não disponibilidade de grãos de pólen que possibilitem a fecundação e a conseqüente conversão de flores em frutos. Uma particularidade nas áreas manejadas é a não utilização do fogo, em decorrência dos danos que provocam nos perfilhos e plantas jovens oriundas da regeneração natural. A biomassa resultante da derrubada é deixada no local, apodrecendo no prazo de um ano. Apesar da imagem de sustentabilidade dos açaizais manejados nas várzeas, uma expansão em larga escala dessa prática na foz do rio Amazonas, esconde elevados riscos ambientais em médio e longo prazo. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Local de estudo O projeto foi desenvolvido nas terras de uso comum da comunidade rural quilombola de São Maurício (02º29’24.0” S e 44º35’06.7” W), localizado no Município de Alcântara, MA, à margem esquerda da estrada asfaltada de acesso que liga o porto de Cujupe à Rodovia MA 106 (Figura 1), distando cerca de 6 km do porto do Cujupe e 50 km da sede do Município de Alcântara – MA. 13 Sede do município de Alcântara Comunidade São Maurício Terminal do Cujupe Baía de São Marcos Ilha de São Luís Figura 1 Imagem via satélite ENGESAT da localização geográfica da área de pesquisa. 3.2 Escolha da área de instalação das parcelas experimentais As parcelas experimentais foram marcadas em uma área de várzea que possui aproximadamente 720 ha, cerca de 60% do povoado, de acordo com o diagnóstico participativo de Alcântara (DLIS, 2003). (Figura 2A e 2B). A escolha desta área foi realizada com base nas sugestões colhidas nas reuniões com os moradores da comunidade (conhecimento local); na observação das características da vegetação, levando-se em conta grau de adensamento da floresta de açaizal (Figura 2A e 2B); o baixo nível de interferência antrópica; e a importância que a várzea de açaizal proporciona para atividade extrativista para a comunidade de São Maurício. 14 A B Figura 2 Vista parcial da vegetação da área de estudo. O trabalho de demarcação das parcelas experimentais foi realizado pela equipe do projeto com a ajuda de moradores da comunidade. Neste trabalho fez-se uso de alguns de equipamento de GPS e fita de isolamento (fita zebrada) para facilitar o reconhecimento da parcela e possibilitar que a área escolhida não sofresse alterações durante a realização do trabalho (Figura 3). Cada parcela possui uma dimensão de 20 x 20 m. Figura 3 Demarcação das parcelas experimentais com fita zebrada. 3.3 Identificação das parcelas para estudo fitossociológico Para determinação do levantamento fitossociológico foram definidas 16 parcelas, distribuídas ao acaso, demarcadas com fita zebrada e identificadas com placas informando o tipo de parcela e repetição, além da colocação de bandeiras coloridas representando a localização da parcela (tabela 1). 15 Tabela 1. Identificação das parcelas para o levantamento fitossociológico da área de várzea da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA. Parcela Identificação da placa Identificação da cor Parcela 1 Repetição 1 P1R1 Azul Parcela 1 repetição 2 P1R2 Azul Parcela 1 repetição 3 P1R3 Azul Parcela 1 repetição 4 P1R4 Azul Parcela 2 repetição 1 P2R1 Laranja Parcela 2 repetição 2 P2R2 Laranja Parcela 2 repetição 3 P2R3 Laranja Parcela 2 repetição 4 P2R4 Laranja Parcela 3 repetição 1 P3R1 Vermelho Parcela 3 repetição 2 P3R2 Vermelho Parcela 3 repetição 3 P3R3 Vermelho Parcela 3 repetição 4 P3R4 Vermelho Parcela 4 repetição 1 P4R1 Branca Parcela 4 repetição 2 P4R2 Branca Parcela 4 repetição 3 P4R3 Branca Parcela 4 repetição 4 P4R4 Branca Estas mesmas parcelas também foram utilizadas para determinar o “marco zero da produção nativa” para fins comparativos e servirão para identificar o nível de desbaste que será utilizado na estratégia de manejo para a área de São Maurício, Alcântara - MA. 3.4 Definição dos tratamentos para avaliação dos parâmetros a serem analisados A partir das parcelas utilizadas para o levantamento fitossociológicos foi definido os tratamentos a serem trabalhados para a avaliação dos parâmetros físicoquímicos dos frutos e de produção das touceiras, sendo eles: produção de cachos (n°), 16 peso total de frutos, peso total de polpa, acidez total titulável (%), sólido solúveis totais (°Brix) e rendimento de polpa. Os tratamentos foram distribuídos nas classes de estipes por touceira: Tratamento 1: T[≤2] – touceiras com até dois estipes; Tratamento 2: T[3-4] – Touceiras com número de 3 a 4 estipes; Tratamento 3: T[5-6] – Touceiras com número de 5 a 6 estipes; Tratamento 4: T[7-8] – Touceiras com número de 7 a 8 estipes; Tratamento 5: T[9-10] – Touceira com número de 9 a 10 estipes; Tratamento 6: T[>10] – Touceiras com mais de 10 estipes. Definidos os tratamentos, obedecendo-se um delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos (classes de estipes) e quatro repetições, foram realizadas quatro colheitas para cada parcela, tomando-se o cuidado de marcar as duas plantas produtivas para que as colheitas subseqüentes fossem realizadas nas mesmas plantas. Os dados foram mensurados, analisados e comparados pelo Teste de Ducan a 10% de probabilidade utilizando o programa STATISTICA spreadsheet e o software Sigmaplot 10.0 foi adotado para gerar os gráficos. 3.5 Levantamento e Caracteristicas fitossociológicos O trabalho foi conduzido de acordo com, o sistema de manejo agroecológico desenvolvido pela EMBRAPA Amazônia Oriental (CPATU), envolvendo as etapas de levantamento fitossociológico. avalianou-se o número de espécies existentes na área, o nome comum e botânico, a família, a quantidade de indivíduos por espécie, a idade, o porte e a circunferência à altura do peito (CAP) (Figura 4); classificação das espécies em relação ao papel ecológico que exerce dentro do ecossistema, com ênfase para árvores de serviço e de uso múltiplo e o número de estipes de açaí por touceira, distribuídos entre adultos e jovens (altura inferior a um metro) 17 Figura 4. Detalhe da medição do Circunferência a altura do peito (CAP) e estimativa de altura (à esquerda) e detalhe da numeração da planta do levantamento fitossociológico (à direita). Para cada espécie vegetal foram analisados os seguintes parâmetros: (nº) número de indivíduos que ocorrem nas parcelas, (nº Am.) Números de parcelas que ocorre a espécie, freqüência absoluta (FAs), área basal (ABs), dominância relativa por área (DoAs), dominância relativa (DoRs), densidade relativa (DRs), freqüência relativa (FRs), valor de importância (VI), valor de cobertura (VC) e índice de diversidade de Shannon e Weaver (H’) da comunidade. As equações adotadas segundo MUELLER – DOMBOIS & ELLENBERG (1974) foram às seguintes: FAs = Os / PT) ABs = ∑ ABIs / ns DoAs = (DAs) (Abs) DRs = 100 (ns / N) FRs = 100 (Fas / FAT) DoRs = 100 (ABIs / ABT) VIs = DRs + FRs + DoRs VCs = DRs + DoRs Os = ns / N Onde: FAs = freqüência absoluta da espécie; ABs = área basal média da espécie; DoAs = dominância por área da espécie; DRs = densidade relativa da espécie; FRs = freqüência relativa da espécie; DoRs = dominância relativa da espécie VIs = valor de importância da espécie; VCs = valor de cobertura da espécie; ABIs = Área basal da espécie; ns = número de indivíduos amostrados da espécie; N = numero total de indivíduos amostrados 18 Para o cálculo dos parâmetros fitossociológico foi utilizado o programa FITOPAC 1 (SHEPHERD, 1994). 3.6 Determinação da produção de frutos de açaí Para a determinação da produção e qualidade de açaí nativo, colheu-se todos os cachos maduros produzidos em duas plantas selecionadas ao acaso de duas touceiras por parcela, conforme a classe de estipes definidos no item 3.4. As touceiras foram identificadas com a mesma numeração do levantamento fitossociológico e as plantas selecionadas foram marcadas em seus estipes com os números 1 e 2, nas cores amarela e branco, respectivamente. Nos tratamentos cuja touceira era composta de dois estipes adultos, ambos foram colhidos. 3.7 Determinação da produção e análises fisicoquímica Para a determinação da produção de açaí nativo, colheu-se todos os cachos maduros produzidos em duas plantas selecionadas aos acaso de duas touceiras por parcela. As touceiras foram identificadas com a mesma numeração do levantamento fitossociológico e as plantas selecionadas foram marcadas em seus estipes com os números 1 e 2, nas cores amarela e branco, respectivamente. A coleta foi realizada por moradores experientes da comunidade que participaram diretamente da execução do trabalho. Para subir no caule (estipe) até alcançar o cacho e colhê-lo, o “apanhador” utilizou uma espécie de cinto trançado por ele, regionalmente chamado de “pêa” e atado aos pés para apoiar na subida. Este cinto é feito com palha verde de folhas de açaizeiro, podendo ser também feito por fibra sintética. Cada cacho colhido foi trazido até o chão com muito cuidado para evitar a debulha de frutos na operação. A colheita é uma tarefa geralmente reservada aos homens ou adolescentes porque é árdua e arriscada. A única característica comum entre essas pessoas é seu peso, normalmente inferior a 60 kg, para evitar uma grande flexão do estipe, diminuindo o risco de queda. Considerou-se cachos maduros aqueles cujos frutos apresentavam coloração escura e ao mesmo tempo acinzentados, visando uniformizar o processo de colheita e garantir melhores características organolépticas (Figura 5A e 5B). 19 A B Figura. 5 A - Detalhes de sementes provenientes de fruto imaturo e completamente amadurecido B - aspecto de frutos amadurecidos. Dentro da área do açaizal foi montado um ponto de apoio composto de uma balança digital de três dígitos (capacidade de 15 kg), garrafas pet de 2 litros para armazenagem dos frutos, uma bacia de plástico para pesagem dos frutos, um côfo² de palha de babaçu para debulha dos frutos e um tapete de palha para acomodação do material, conforme figura 6. A A B A C D A A Figura 6 A - Debulha dos frutos; B - pesagem dos frutos; C - balança utilizada para pesagem e D - garrafas pet identificadas para retirada de amostra. 2 Utensílio semelhante ao jacá, balaio ou cesto, confeccionado com folha da palmeira de babaçu. 20 Os frutos armazenados nas garrafas PET e identificados com o número da planta e da parcela foram acondicionados por no máximo 12 horas em refrigerador para serem processados. O processamento para separação da polpa e sementes com resíduos foi realizado de forma artesanal, para garantir o controle da quantidade de água fornecida na fabricação do vinho de açaí. A temperatura da água era de aproximadamente 38ºC. Tal procedimento mostrou-se impreciso em equipamentos de despolpamento mecânico justamente pela falta de controle na quantidade de água emitida e temperatura para despolpamento (Figura 7). Figura 7 Detalhe do despolpamento do açaí de forma artesanal e controle da quantidade de água para produção do vinho. Foi adotada uma relação peso de frutos e quantidade de água para que sempre fosse utilizada a mesma relação água/fruto independente do peso dos frutos fornecida para despolpamento. Esta relação foi de 1 litro de água para 1 kg de frutos. Após o despolpamento, foram anotados os dados de peso de polpa (PP), cálculo de rendimento de polpa e tomada dos dados de sólidos solúveis totais presentes na polpa (ºBrix), por meio do aparelho de refratômetro manual (Figura 8). Figura 8 Detalhe refratômetro manual. As amostras de polpa foram acondicionadas em recipientes (potes plásticos) assépticos de fábrica (Figura 9) com peso médio de 70 gramas e levadas imediatamente 21 para congelamento em laboratório, até o momento das análises: determinação de percentagem de acidez e sólidos solúveis totais. Figura 9 Coletores assépticos utilizados em coleta de amostras da polpa/vinho para análise em laboratório. Em cada frasco com amostra foi anotado o número da planta e da parcela para análise em laboratório (Figura 10). Figura 10 Detalhe dos potes com amostras devidamente identificados a serem congeladas e enviadas ao laboratório. No Laboratório de pós-colheita da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA foram analisadas as amostras de açaí identificadas, conforme a figura 10. No laboratório foram realizadas as seguintes análises: a acidez total titulável e pH das amostras. O pH foi determinado pelo método potenciométrico em peagâmetro da marca Analyser modelo PH-300M, calibrado com soluções tampões de pH 4 e 7. A acidez total titulável foi obtida por meio da titulação da amostra com soda e levando em conta o ácido málico, conforme esquema a seguir: 22 PASSO 1 - PREPAROU-SE 500 ML DA SOLUÇÃO DE NaOH A 0,1 N. PM=40 Procedimento: Pesou-se 2 g de NaOH e dilui-se a 500 mL com água destilada em um balão volumétrico aferido. PASSO 2 - PREPARO DA SOLUÇÃO DE BIFITALATO DE POTÁSSIO 0,1 N PM=204,22 Procedimento: Pesou-se 2,0422 g de de bifitalato de potássio e diluiu-se em 100 mL de água destilada. PASSO 3 - PREPARO DA SOLUÇÃO DE FENOLFTALEINA A 1% Procedimento: Pesou-se 0,05 g de fenolftaleina e dilui-se em 50 mL de água destilada PASSO 4 - PREPARO DA SOLUÇÃO DE KIO3 Procedimento: Pesou-se exatamente 0,8917 g de KIO3 (após estufa de 110 ºC de peso constante + ou – 4 hs) e diluiu-se em 250 mL de água destilada. PASSO 5 - PREPARO DA SOLUÇÃO DE IODETO DE POTÁSSIO Procedimento: Pesou-se 1 g de iodeto de potássio e diluiu-se em 100 mL de água destilada em balão aferido. PASSO 6 - PREPARO DA SOLUÇÃO DE AMIDO 1% Procedimento: Pesou-se 0,5 gramas de amido e diluiu-se em 50 mL de água destilada aquecida. PASSO 7 - DETERMINAÇÃO DO FATOR DA SOLUÇÃO BÁSICA Procedimento: Pipetou-se 10 mL da solução de bifitalato de potásio 0,1 N, colocou-se em um erlemayer de 125 mL e acrescentou-se 3 gotas de fenolfitaleina a 1%. Titulou-se com uma solução de NaOH 0,1 N, obtendo-se o volume gasto da solução. PASSO 8 - DETERMINAÇÃO DA ACIDEZ DAS AMOSTRAS DE AÇAÍ Procedimento: 23 Pesou-se 10 g das amostras e diluiu-se em 100 mL de água destilada, colocouse três gotas da solução de fenolfitaleína a 1 % e titulou-se com uma solução de NaOH 0,1 N; fator 1,00. PASSO 9 – Cálculo de percentagem de acidez Procedimento: Cálculo: % de ácido = V x Megs x F x 100 --------------------------- x 10 Pa Para ácido Málico: V = volume Eg = 67,9 F = fator de correção Megs = 0,0679 Pa = Peso da amostra 3.8 Estudo sócioeconômico da comunidade de São Maurício, Alcantara – MA O diagnóstico sócioeconômico da comunidade de São Maurício foi realizado entre os meses de março e abril de 2008, área esta tradicionalmente conhecida como de extração do açaí, sendo entrevistadas 32 pessoas, abordando aspectos gerais da socioeconomia da comunidade. O questionário foi aplicado aos moradores da comunidade de forma aleatória, representando uma amostragem de 35% da população do povoado, onde a investigação abordou assuntos como: indicadores sociais, culturais, alimentares e econômicos; renda; características e perfil tecnológico do sistema de produção; produtividade e qualidade do produto; mercado e comercialização. Os dados foram tabulados e organizados em histogramas de médias e freqüências. Aspectos subjetivos também foram considerados, em virtude da pesquisa ocorrer in loco, com acesso direto às famílias e aos ambientes de cultivo (apêndice A). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Fitossociologia A configuração dos resultados apresentados pela análise fitossociológica mostra a importância da espécie Euterpe oleracea Mart. no cenário da área da “baixa” localizado na comunidade quilombola de São Maurício/Alcântara-MA. Os indivíduos 24 amostrados, totalizaram 500 indivíduos vivos distribuídos em 10 famílias botânicas e 21 espécies, com uma área equivalente de amostragem de 0,640 ha. A densidade total foi de 781,25 indivíduos/ha, a área basal total foi de 24,978 m², correspondente a 39,028 m²/ha e uma freqüência total de 562,5 indivíduos. Tal importância pode ser obesrvada na demonstração gráfica dos parâmetros fitossociológicos analisados. 4.1.1 Densidade (DR), Frequencia(FR) e Dominancia(DoR) relativas por espécie. A distribuição dos valores de densidade, frequência e dominância relativa das espécies amostradas na área da “baixa” na comunidade de São Maurício Alcântara – MA, pode ser observada na figura 11. 80 70 60 % 50 DR 40 FR 30 20 DoR 10 0 Espécies Figura 11 Distribuição dos valores de DR (densidade relativa), FR (frequência relativa) e DoR (dominância relativa) por espécie. As espécies mais abundantes encontradas nesta área foram: Euterpe oleracea Mart. com 339 indivíduos, representando 67,80% da densidade total, Symphonia globulifera L. com 49 indivíduos, representando 9,8%, Incurana (Desconhecida 1) com 41 indivíduos, representando 8,2%, Inga sp. com 22 indivíduos, representando 4,40% da densidade e Mauritia flexuosa Mart. com 18 indivíduos, representando 3,6%. De acordo com Queiroz (2005), em estudo de composição florística e estrutura de floresta realizado em área de várzea alta do estuário amazônico, as famílias mais abundantes são: Arecaceae com 416 plantas/ha (50,4%), com a espécie Euterpe 25 oleracea Mart., 207 plantas/ha (25,1%) e Astrocaryum murumuru Mart. 160 plantas/ha (19,4%); Caesalpiniaceae com 95 plantas/ha (11,5%) com a espécie Mora paraensis Ducke, 82 plantas/ha (9,9%) e família Mimosaceae com 83 plantas/ha (10,0%), com a espécie Pentaclethra macroloba (Willd.) Kuntze 56 plantas/ha (6,7%). A elevada densidade de indivíduos de Euterpe oleracea Mart. na área representa uma relativa segurança à comunidade em termos de coleta de frutos e que a reprodução da espécie tem sido bem sucedida. 4.1.2 Densidade (DR), Riqueza e Dominância (DoR) relativas por família A distribuição do número de indivíduos (densidade), de espécies (riqueza) e dominância por família na área da “baixa” na comunidade Quilombola de São Maurício, Alcântara – MA é mostrada na figura 12. 80 70 60 50 Densidade 40 Riqueza % 30 Dominância 20 10 0 Famílias Figura 12 Distribuição do número de indivíduos de açaí (densidade), de espécies (riqueza) e dominância das espécies por família. A família Arecaceae ocupa a primeira posição em número de indivíduos (358 equivalente a 71,6% de densidade), apresentando um número de espécies de três, (equivalente a 14,29%) e dominância 34,05%. A alta densidade pode estar relacionada à estratégia reprodutiva das espécies representantes como E. oleracea, que obteve maior densidade, provavelmente devido a sua capacidade reprodutiva por perfilhamento e germinação de sementes, como mostraram estudos de Pollak et al. (1995), Nogueira (1997) e Jardim (2000). 26 A segunda posição está representada pela família Guttiferae com um total de 49 indivíduos, equivalente a 9,8% de densidade, apresentando uma espécies (equivalente a 4,76%) e dominância 29,49%. O grupo das Desconhecidas representa o terceiro lugar com um total de 48 indivíduos, equivalente a 9,6% da densidade, apresentando um número de espécies de sete (equivalente a 33,33%) e dominância de 22,73%. O grupo das desconhecidas apresenta um nível de riqueza acima de todas as outras famílias, isto se deve ao fato que até o presente momento o grupo das desconhecidas possui sete espécies. A quarta posição é representada pela família Leguminosae com 22 indivíduos, perfazendo uma densidade de 4,4% com um total de espécies de 1, equivalente a 4,76% e dominância de 1,51%. As famílias Arecaceae, Guttiferae e Leguminosae representam 85,80% do total da densidade, 23,81% do total da riqueza e 65,05% do total da dominância, enquanto o restante das outras sete famílias totalizaram apenas 4,6% do total da densidade, 42,86% da riqueza e 12,22% da dominância. 4.1.3 Distribuição dos valores de importância (VI) e de cobertura (VC) por família As duas primeiras posições dos valores de importância (VI) e de cobertura (VC) por família estão representadas pelas famílias Arecaceae e Guttiferae, em ordem de maior expressão: Arecaceae (VI = 42,23% e VC = 52,82%), Guttiferae (VI = 20,12% e VC = 19,65%). As outras oito famílias (72,72% do total das famílias amostradas) totalizaram VI = 19,85% e VC = 11,36% (Figura 13). 27 60 50 40 % VI 30 VC 20 10 0 Arecaceae Guttiferae Outras (8) Famílias Figura 13 Distribuição dos valores de VI e VC por família. O índice de diversidade de Shannon e Weaver (H’) para espécies calculado para esta fitocenose foi de 1,276 nats/indivíduo e para famílias é 1,043 nats/indivíduo. Este índice apresenta-se baixo, no entanto, este valor é esperado, devido principalmente ao alto número de indivíduos de uma mesma espécie encontrado na área, representado pela espécie E. oleracea Mart. 4.1.4 Classes de diâmetro A distribuição da freqüência dos diâmetros de todos os indivíduos amostrados, em classes de 10 centímetros de intervalo, na área da “baixa” da comunidade quilombola de São Maurício, município de Alcântara, MA encontra-se na Figura 14. Verificou-se que a maioria dos indivíduos encontra-se na classe I, cujos diâmetros estão no intervalo de 9 a 18 cm, totalizando 409 indivíduos (81,8%). Essa é também a faixa de diâmetro na qual se enquadra Euterpe oleracea (açaí), espécie que apresentou a maior densidade de indivíduos na comunidade vegetal. Observou-se que houve uma interrupção nas classes IX, XI, XII, XIII e XIV (tabela 2), cuja comunidade vegetal apresentou um diâmetro médio de 19,76 cm (desvio padrão de 15,68), diâmetro máximo de 153,11 cm e mínimo de 9,55 cm. 28 A avaliação da distribuição dos diâmetros fornece a estrutura de tamanho e distribuição etária das populações de grande importância para predições sobre a produção florestal. A curva de distribuição dos diâmetros da área de estudo apresenta como aspecto geral a forma de “J” invertido (figura 14). Barros (1980 apud Muniz (1993) afirma que as distribuições de diâmetro decrescentes são encontradas principalmente em florestas naturais que apresentam árvores de todas as idades. No entanto, pode-se verificar que há uma falha nas classes IX, XI, XII, XIII e XIV (tabela 2), caracterizando uma ação antrópica já bastante acentuada. Tabela 2: Distribuição dos indivíduos em classes de diâmetro na área de São Maurício, com intervalos de classes de 10 cm, aberto na esquerda e fechado na direita (n = 500). N° de classe Intervalo da classe N° indivíduos % I 09 ┤19 409 81,8 II 19 ┤29 25 5 III 29 ┤39 10 2 IV 39 ┤49 22 4,4 V 49 ┤59 12 2,4 VI 59 ┤69 8 1,6 VII 69 ┤79 8 1,6 VIII 79 ┤89 4 0,8 IX 89 ┤99 - - X 99 ┤109 1 0,2 XI 109 ┤119 - - XII 119 ┤129 - - XIII 129 ┤139 - - XIV 139 ┤149 - - XV 149 ┤159 1 0,2 A área de estudo localiza-se próxima às residências da Comunidade de São Maurício e o açaizal dominante na área de várzea constitui-se no espaço de maior exploração econômica, pela sazonal coleta de açaí. Eventualmente, agricultores menos conscientes da preservação ambiental, coletam árvores para atender o auto-consumo da família (lenha, madeira para construção e cercas, dentre outros usos). Tal constatação 29 reforça a necessidade de se implementar ações de educação ambiental com vistas à sustentabilidade da exploração do açaí nativo. 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV classes Figura 14 Distribuição da freqüência dos indivíduos amostrados nas classes de diâmetros. 4.1.5 Composição das touceiras de açaí na área da “baixa” da comunidade de São Maurício. De acordo com as informações levantadas pela fitocenose da área da baixa, pôde-se inferir sobre a composição das touceiras de açaí que o número de touceiras por hectare varia de 275 a 675 (quadro 1). XV 30 Quadro 1. Composição das touceiras de açaí e estimativa da densidade de estipes adultos por hectare, da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA. Parcela N° de touceiras (400m2) N° de touceiras /ha N° de plantas adultas N° de plantas jovens N° total de indivíduos N° de plantas adultas/touceira N° plantas adultas/ha P1R1 22 550 123 98 221 5,52 3036 P1R2 20 500 50 42 92 4,18 2090 P1R3 P1R4 P2R1 P2R2 P2R3 P2R4 P3R1 P3R2 P3R3 P3R4 P4R1 P4R2 P4R3 P4R4 Média da populaçã o 22 25 24 24 24 27 11 13 18 24 19 14 26 26 21,18 550 625 600 600 600 675 275 325 450 600 475 350 650 650 529,68 77 77 95 123 129 120 46 56 87 82 38 59 86 108 - 74 75 63 92 88 88 54 44 51 83 63 53 82 71 - 151 152 158 215 217 208 100 100 138 165 101 112 168 179 - 5,8 4,34 4,64 5,81 6,38 6,5 4,34 4,16 5,75 4,85 3,74 3,11 4,8 4,83 4,92 3190 2712,5 2784 3486 3828 4387,5 1193,5 1352 2587,5 2910 1776,5 1088,5 3120 3139,5 2667,5 No que se refere ao número de plantas adultas por touceira a variação foi 3,11 a 6,5 plantas/touceira e que em sua grande maioria o número maior de touceiras encontrase distribuído no intervalo de 1 a 9 indivíduos, como mostra a figura 15. Estes dados favorecerão a escolha do melhor método de manejo para a parcela, facilitando atividades como desbaste seletivo, conservação de espécies, reposição de plantas, dentre outras, e contribuindo em uma melhor compreensão da área de estudo. 31 40 35 N de touceiras 30 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 N de indíduos Figura 15. Composição das touceiras na área da baixa (indivíduos /touceira) Segundo a distribuição diamétrica mostrada na figura 14, tem-se uma configuração da distribuição das touceiras amostradas na área da várzea, a qual pôde-se verificar uma distribuição quase que equitativa em relação ao número de plantas adultas e jovens nas touceiras, (Figura 16). Essa distribuição segue a normalidade para a configuração da distribuição diamétrica das plantas de açaí amostradas na área, a qual mostra uma distribuição da espécie em diversas idades. Tal disposição contribuirá para uma melhor avaliação do manejo das touceiras em relação ao número de estipes manejadas e que servirão de comparativo entre outros modelos já sugeridos, Embrapa (2004). De acordo com a Embrapa (2004), o espaçamento entre as plantas tem influência sobre a taxa de sobrevivência, crescimento, práticas culturais ou manejo, início da produção e produtividade, com reflexos sobre o custo do processo de produção, recomendando-se o espaçamento de 5 x 5 metros, o que resulta em uma população de 400 touceiras por hectare ou 2000 estipes por hectare. A maior densidade de indivíduos foi verificada em uma touceira, com população de 26 estipes, sendo 20 adultos e seis jovens. 32 300 275 250 225 N° de indivíduos 200 144 175 112 150 108 91 125 100 25 0 Jovem Adulto 96 56 53 56 75 50 113 41 17 1 43 24 35 70 81 90 112 127 139 86 57 54 41 36 42 18 24 18 44 9 17 19 41 9 6 11 8 7 27 23 23 20 14 11 0 0 8 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 Touceiras Figura 16 Composição das touceiras de açaí, segundo a relação do número de touceiras, plantas adultas e jovens. 4.2 Produção dos Açaizeiros 4.2.1 Produção de cachos Os dados colhidos neste trabalho mostram uma pequena variação no número de cachos colhidos, em relação às classes estipes adultos produtivos (Figura 17). A produtividade dos frutos é bastante variável, dependente de vários fatores, tais como: concentração de planta na touceira, densidade de floresta e tipo de solo. Em condições ideais, a produção de frutos é estimada em 24 T/hectare/ano, considerando 200 touceiras por hectare e cinco indivíduos por touceiras (Calzavara,1976). Segundo Mota (2002), cada estipe produz anualmente de 5 a 8 cachos, em função da fertilidade e da umidade do solo, mas também da intensidade luminosa. Esses dados estão de acordo também com Machado (2008). 33 7 a ab 6 ab ab ab b N úm ero de cachos 5 4 3 2 1 > 10 ] ] 10 6[ T T 5[ 9- 7- 8] 6] 4[ T 3[ 5- -4 T 2 T T 1[ [3 < 2] ] 0 C la s s e s d e e s tip e s Figura 17 Número de cachos colhidos em função da densidade de touceiras. Verificou-se uma maior produção para o tratamento T1, com 24 cachos colhidos, perfazendo uma média de seis cachos por planta quando comparado ao tratamento T6, que apresentou 18 cachos colhidos e uma média de 4,5 cachos por planta; os demais tratamentos apresentaram médias decrescentes de produção seguindo a variação crescente do número de estipes por touceiras referente ao tratamento T1. De uma forma geral, verificou-se uma redução do número de cachos colhidos por planta, com o aumento da densidade da touceira. Os resultados para número de cachos produzidos mostram que mesmo nas condições naturais que se encontra a área da “baixa” da comunidade quilombola de São Maurício, sem o emprego de técnicas de manejo, visando o controle de densidade populacional das touceiras e luminosidade, apresentou uma tendência natural em relação aos modelos indicados para o manejo desta espécie. A variação segundo análises estatísticas apresentou diferenças significativas entre os tratamentos T[1] e o tratamento T[6]. As diferenças podem ser explicadas por uma provável competição entre os estipes ou particularmente por luminosidade, haja vista que estes fatores contribuem de forma significativa nas respostas da espécie. Verificou-se que o tratamento T[6] com densidade superior a 10 (dez) estipes/touceira 34 produziu 1,5 cachos a menos em comparação ao tratamento T[1] e um cacho a menos em relação ao tratamento T[3], com densidade entre 5-6 estipes/touceira, (próximo do ideal) indicando a necessidade de manejo na área. Segundo Dias-Filho (1997), a baixa disponibilidade de luz afeta o crescimento e a sobrevivência das plantas em função da quantidade de energia luminosa interceptada pelas folhas. O crescimento satisfatório de algumas espécies em ambientes com diferentes disponibilidades luminosas pode ser atribuído à capacidade de ajustar rapidamente seu comportamento fisiológico para maximizar a aquisição de recursos nesses ambientes Em ambiente de várzea o açaizeiro se desenvolve no sub-bosque com pouca luminosidade, contudo, as plantas têm respostas fisiológicas (fotossíntese) e morfológicas (crescimento) diferentes, dependendo do nível de luz a que são submetidas (Gama et al., 2003). Segundo Scalon & Alvarenga (1993), as plantas nativas geralmente possuem respostas diferentes à luminosidade, principalmente quanto ao desenvolvimento vegetativo da parte aérea e a sobrevivência das plântulas. Por isso, a eficiência do crescimento da planta pode ser relacionada com a habilidade de adaptação às condições luminosas do ambiente. Bovi et al. (1990), estudando as correlações fenotípicas entre caracteres avaliados nos estádios juvenil e adulto de açaizeiro em Ubatuba – SP, observaram que o crescimento do açaizeiro foi influenciado pelo número de perfilhos até o 4° ano após o plantio e que o desbaste das plantas inferiores com base em mensuração da circunferência acelerou o processo de florescimento e frutificação. No presente trabalho além da competição entre os estipes adultos, verificou-se elevada presença de plantas jovens (altura inferior a 1,0 m), especialmente nas touceiras com 9 a 12 estipes (figura 16). 4.2.2 Peso de frutos A variação do peso dos frutos pode ser observada nos dados contidos na tabela 3, que relaciona o peso médio dos frutos e número de cachos colhidos. 35 TABELA 3. Peso médio dos frutos por touceira e por cacho nas diferentes classes de estipes. Tratamentos N° de cachos Peso médio dos Peso médio de colhidos frutos/touceira (kg) frutos/cacho (Kg) T1[≤2] 24 6,535ab 1,089ab T2[3-4] 21 5,450b 1,038b T3 [5-6] 22 6,800ab 1,236ab T4 [7-8] 20 5,780ab 1,310ab T5 [9-10] 19 7,347a 1,546a T6[>10] 18 5,025b 1,116b Resultados com letras iguais na coluna não apresentam diferença significativa (p<0,1) pelo teste de Ducan. Pode-se verificar uma variação no peso médio dos frutos, principalmente no tratamento T5, com 7,347 Kg de fruto/tratamento, o qual apresentou uma maior média em relação aos tratamentos, T2 e T6 com respectivamente 5,450 Kg, 5,025 Kg. Em relação aos valores de peso médio de fruto por cacho, 1,546 Kg, 1,038 Kg e 1,116 Kg, respectivamente, estes valores ficaram bem abaixo dos valores encontrados por Rogez (2000), os quais apresentaram pesos entre 2 a 2,5 Kg por cacho. Tais variações podem ser melhor visualizadas na figura 18. 36 10 a 8 ab P eso de frutos/K g ab ab b 6 b 4 ] ] > 6[ T 5[ 9- 10 10 8] 7T T 4[ 53[ 3T 2[ T T 1[ < 4] 2] 0 6] 2 C la s s e s d e e s tip e Figura 18 Peso médio dos frutos em função da densidade de touceiras. A variação entre a diferença das médias de peso dos frutos nos tratamentos pode ser explicada pela variação no tamanho dos frutos, devido a produção de cachos menores com frutos menores e mais densos, tal variação poderá implicar em um rendimento maior do fruto quando processado, haja vista que, essa variação, quando comparada com os outros tratamentos apresentou diferença significativa. 4.2.3 Peso de polpa A qualidade da polpa do fruto estará diretamente ligada a qualidade do fruto e seu estádio de maturação. Além do estádio de maturação, outros fatores podem contribuir para a determinação de uma maior ou menor produção de polpa do fruto, dentre elas podemos citar o estresse hídrico, luminosidade, competição por nutrientes, oxigenação do solo, tamanho do fruto, relação caroço/polpa. Essa variação na produção de polpa pode ser observada na tabela 4 que mostra a variação do peso médio da polpa de açaí nos diversos tratamentos. 37 TABELA 4. Variação do peso médio de polpa de açaí nos tratamentos utilizados na baixa da comunidade de São Maurício-Alcântara/MA. Tratamentos N° de cachos Peso médio da Peso médio da colhidos polpa/touceira (Kg) polpa/cacho (Kg) T1[≤2] 24 4,051a 0,675a T2[3-4] 21 2,719ab 0,518ab T3 [5-6] 22 3,257ab 0,592ab T4 [7-8] 20 2,845ab 0,569ab T5 [9-10] 19 3,620ab 0,762ab T6[>10] 18 2,535b 0,563b Resultados com letras iguais na coluna não apresentam diferença significativa (p<0,1) pelo teste de Ducan. Podemos observar que se obteve no tratamento T[1] com 4,051 Kg as maiores médias de peso de polpa em relação ao tratamento T[6] com 2,535 Kg. Tais variações podem ser explicadas devido as variações no tamanho dos cachos, na quantidade de frutos por cacho, na variação do tamanho do fruto e idade das plantas. A relação das variações pode ser observada na figura 19. 6 a ab 4 ab ab ab 3 b 2 1 ] 6[ > 10 T 95[ T 10 ] 8] 7- 6] 4[ 5T 3[ 32[ 1[ < T T 2] 4] 0 T P eso de polpa/cacho (K g) 5 c la s s e s Figura 19 Peso de polpa em função da densidade de touceiras 38 Como se pode observar, a diferença entre os valores médios do peso de polpa de açaí evidenciados nos tratamentos apresentou uma diferença significativa quando submetido a avaliação estatística. A significância dos valores pode ser decorrente das variações dos fatores naturais que influenciam nas condições de desenvolvimento da Euterpe oleraceae Mart., haja vista que o experimento mostra o desempenho das parcelas em condições naturais da “baixa”. Nogueira et al. (1998) afirmam que o açaí de verão (açaí de safra) apresenta melhor qualidade em relação a polpa, coloração e maturação uniforme que o do inverno (açaí de entressafra), o que contribui para a valorização do produto, concentrada durante o segundo semestre do ano, prolongando-se durante os meses de dezembro/janeiro. A palmeira frutifica a partir do 4° ano, ocorrendo a produção máxima entre 5 e 6 anos de idade, por terem atingido a estabilidade produtiva e, conseqüentemente, um percentual de frutificação mais elevada, diminuindo com a elevação da idade. 4.2.4 Rendimento de polpa Os tratamentos adotados apresentaram rendimento médio de polpa superior a 30%, dentro de um intervalo que varia desde um rendimento médio mínimo de 32,51% (T1) até um rendimento médio máximo de 36,34% (T5). Essa variação, assim como para os outros parâmetros, quando submetidos a análise estatística, apresentou significância, como pode-se observar na figura 20. 39 40 a ab abc ab bc c R endim ento % 30 20 10 ] > -1 6[ T [9 T 5 10 0] ] -8 ] [7 -6 4 T 3 [5 3T 2[ T T 1[ < 4] 2] 0 C la s s e s Figura 20 Rendimento de polpa de açaí em função da densidade de touceiras. Houve diferença significativa para rendimento da polpa do açaí entre os tratamentos T[5] com rendimento de 36,34% em relação aos tratamentos T[3] com 33,27% e o tratamento T[1] com 32,51% de rendimento. Novamente observou-se os melhores resultados para o tratamento T[5] em relação ao tratamento T[3] (densidade próxima do ideal). Essa diferença expressada pelo tratamento T[5] pode ser explicada devido ao desenpenho apresentado pelo tratamento, quando comparado aos outros em relação aos parâmetros anteriores como número de cachos colhidos, peso de fruto e peso de polpa, o qual sempre apresentou valores dentro ou acima da média. 4.2.5 Sólidos solúveis totais O teor dos sólidos solúveis totais (ºBrix) nos frutos é muito importante, pois quanto maior a quantidade de sólidos solúveis existentes, menor será a quantidade de açúcar a ser adicionada aos frutos, quando processados pela indústria, diminuindo assim, o custo de produção e aumentando a qualidade do produto (Costa et al., 2004). A amplitude do teor de açúcares totais dos frutos de açaí das amostras coletadas variou de 1,81 a 2,79 graus Brix. 40 Sousa et al. (2006), analisando os sólidos solúveis de suco de açaí in natura, encontraram valores que variaram entre intervalos de 1,8 a 3,2 graus Brix. Mendonça (1999) constatou que o congelamento a -18°C até 180 dias de armazenamento não afeta os sólidos solúveis totais (°Brix) em polpa de pinhas, tanto para as amostras controle quanto para as amostras com aditivos permitidos pela legislação. Os valores de sólidos solúveis totais submetidos a análise estatística não apresentaram diferenças significativas como pode-se verificar na figura 21. 4 a a G rau B rix 3 a a a a 2 1 ] > 6[ T 5 T 10 0] ] [9 -1 -8 ] [7 -6 4 T 3 [5 3T 2[ T T 1[ < 4] 2] 0 C la s s e s Figura 21 Sólidos solúveis totais em função da densidade de touceiras. Acredita-se que a região ecológica, o ecótipo de açaí e a baixa luminosidade prevalecentes nos açaizais nativos (sem manejo das touceiras), respondem pelo baixo valor dos teores de açúcares dos frutos. Em ambiente de várzea o açaizeiro se desenvolve no sub-bosque com pouca luminosidade, contudo, as plantas têm respostas fisiológicas (fotossíntese) e morfológicas (crescimento) diferentes dependendo do nível de luz a que são submetidas (Gama et al., 2003). Assim, verificou-se que nas densidades menores de touceiras 41 (menor que 2 estipes e entre 3 – 4 estipes), com aparente maior luminosidade e menor competição por nutrientes, os valores de sólidos solúveis totais foram mais elevados, sugerindo que a prática de desbaste contribui para a melhoria da qualidade dos frutos. 4.2.6 Acidez total titulável Os ácidos orgânicos presentes em alimentos influenciam o sabor, odor, cor, estabilidade e manutenção da qualidade. A proporção dos ácidos orgânicos presentes em frutas e hortaliças varia com o grau de maturação e condições de crescimento (CECCHI, 1999). A percepção de sabor depende de uma combinação de compostos capturados pelo paladar. O teor de acidez, juntamente com a composição de açúcares, respondem em grande parte pelo sabor final dos frutos e a relação entre as duas variáveis é indicativa do estádio de maturação. O nível de acidez dos frutos de açaí é normalmente baixo, se comparado com outras frutas. Neste trabalho o valor médio máximo ficou na faixa de 0,27 % e mínimo de 0,13%. No Pará, Sousa et al. (2006), analisando a acidez titulável de suco de açaí in natura, encontraram valores médios de 1,8%. Novamente os valores quando submetidos a análise estatística, não apresentaram significância conforme observa-se na figura 22. 0 ,4 a a 0 ,3 a 0 ,2 a a 0 ,1 5 T C la s s e s ] 10 > 6[ T [9 [7 -1 -8 0] ] ] -6 4 T 3 [5 3T 2[ T 1[ < 4] 2] 0 ,0 T Acidez % a 42 Figura 22: Acidez total titulável de polpa de açaí em função da densidade de touceiras. Outros trabalhos foram realizados na caracterização da porção comestível do açaí maduro (fruto), com valores médios de acidez total titulável de 0,20% citados por Freire et al. (2000). 4.2.7 Referências de qualidade do açaí da comunidade de São Maurício Três variáveis em comparação com trabalho de Sousa et al. (2006), e com os padrões máximo e mínimo de qualidade de polpa de açaí, estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (DOU, 2000), podem ser observadas nesta pesquisa (Quadro 2). Quadro 2. Parâmetro entre trabalhos e norma técnica do Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento – MAPA com suas respectivas variações. Borralho Sousa et JUNIOR al. (2010)* (2006) 2,13 3,2 Acidez total titulável (%) 0,20 pH 5,05 Variável Sóllidos solúveis totais (°Brix) Normas do MAPA para polpa fina (DOU, 2000) mínimo máximo - - 1,8 - 0,27 2,4 4,0 6,20 *Dados do presente trabalho De acordo com o MAPA, em publicação no Diário Oficial da União (DOU, 2000), segundo a instrução normativa nº 01, de 07 de janeiro de 2000, que dá regulamento técnico para fixação dos padrões de identidade e qualidade para polpa de fruta de açaí, existem três classificações de polpa, a primeira é a polpa de açaí grosso ou especial (tipo A), polpa de açaí médio ou regular (tipo B) e polpa de açaí fina ou popular (tipo C). Para este trabalho adotou-se a polpa tipo C como referência, pois é a mais comumente encontrada no mercado regional. Verifica-se pelos resultados que a polpa de açaí de São Maurício, Alcântara, MA, atende os padrões estabelecidos pelo MAPA, no que se refere a acidez total e pH (quadro 2). Para a variável sólidos solúveis totais, que inclui a quantidade de açúcares presentes na polpa, o MAPA não estabelece valores, mas tão somente para sólidos 43 totais, cuja a faixa de variação é 8 a 11%. No entanto, comparando com Sousa et al. (2006) os valores de sólidos solúveis totais foram inferiores. 4.3 Aspectos gerais e regionais da economia do açaí 4.3.1 Aspectos Gerais O Estado do Pará é o maior produtor e consumidor de açaí do Brasil, entretanto na entressafra é abastecido parcialmente com frutos oriundos dos Estados do Amapá e Maranhão (figura 23). A produção “dita” do Estado do Amapá é, na sua quase totalidade, oriunda de municípios paraenses situados ao noroeste da Ilha de Marajó, principalmente Chaves e Afuá, cuja produção se concentra no período de dezembro a abril, com pico de produção, geralmente, nos meses de fevereiro e março. Parte da produção é enviada para a microrregião de Belém, cuja safra se situa entre junho e dezembro, com pico de produção nos meses de outubro e novembro. É, em parte, porque alguns açaizais de várzea localizados em Mazagão e Anauerapucu produzem açaí “fora da época”. (Homma et al., 2006). 100000 Toneladas 10000 1000 TONELADAS 100 86,81 % 9,44 10 1,35 1,13 1 PA MA AC AM AP BA RO TO Figura 23 Estados brasileiros produtores de açaí (IBGE, 2008). PE 44 No Estado do Amazonas, a extração de açaí é da variedade Euterpe precatoria e concentra-se nos Municípios de Codajás, Tefé e Coari. A safra vai de março a julho, mas sem condições de exportar para o Estado do Pará, em decorrência da distância. Antes da expansão da demanda de frutos do açaizeiro, a extração tinha por objetivo o consumo doméstico, com pouca venda de excedente, associado à produção de alimentos: arroz, mandioca, captura de peixes e camarões, e o cultivo da cana-de-açúcar para aguardente. A partir da década de 1970 estas áreas sofreram fortes derrubadas dos açaizeiros para extração do palmito, o que levou o presidente Ernesto Geisel a assinar a Lei nº 6.576/1978, proibindo a sua derrubada, que não obteve êxito. A valorização do fruto teve efeito positivo sobre a conservação de açaizais. Os açaizeiros, nas áreas próximas aos grandes mercados consumidores de açaí da Amazônia, deixaram de ser derrubados para a extração de palmito e passaram a ser mantidos na área para produção de frutos (Nogueira & Homma, 1998). O crescimento do mercado de polpa do fruto do açaí tem induzido a implantação de plantas industriais, visando atender aos mercados interno e externo. Este movimento pode trazer no futuro diversos desdobramentos, como a substituição em médio e longo prazo de batedeiras de açaí, onde a compra de produtos beneficiados nos supermercados, como já se adquire tucupi, farinha de mandioca, massa de maniçoba pré-cozida, entre outros, pode beneficiar os consumidores. A nova dinâmica, portanto, tem forçado uma mudança de atitude por parte dos extrativistas que, segundo Lopes (2001), passaram a buscar novas alternativas de exploração de açaí, com o objetivo de atender às expectativas atuais e futuras do mercado. No Estado do Maranhão, a safra ocorre no período de Novembro – Abril e é extraída nos Municípios de Carutapera, Luís Domingues e Godofredo Viana. Uma parte desta produção é deslocada para o Estado do Pará, coincidindo exatamente na época da escassez do fruto. Dentre os municípios com produções de destaque no cenário estadual podemos citar ainda Cândido Mendes, Centro do Guilherme, Boa vista do Gurupi entre outros, ilustrados na figura 24, com sua respectiva significância em termos de percentagem de produção referente a produção estadual (Figura 25). Produção (%) estadual (IBGE, 2008). Figura 24 Relação dos municípios de maior produção de açaí (IBGE, 2008). 25 20 15 10 5 0 Figura 25 Representação da produção de açaí nos municípios em relação a produção Morros São Luís Pinheiro Alcântara Axixá Serrano do Maranhão Pedro do Rosário 100 Nova Olinda do Maranhão 191 Maracaçumé 305 285 280 250 Junco do Maranhão Centro Novo do Maranhão Governador Nunes Freire Viana 508 408 Maranhãozinho Boa vista do gurupi 773 746 Godofredo Viana 1000 Centro do Guilherme 2399 12771131 Cândido Mendes Amapá do Maranhão Carutapera Luís Domingues Produção (t) 45 10000 131 116 115 101 97 78 63 60 15 10 1 46 4.3.2 Aspectos regionais Oliveira (2003), ao analisar a ocupação dos feirantes da “festa da juçara” realizada na comunidade de Maracanã, São Luís – MA, detectou que a grande maioria dos feirantes não são agricultores ou extrativistas da juçara, sendo que muitos deles praticam atividades diversas como: profissional autônomo, funcionário público, domésticas, dentre outras. Segundo Machado (2008), a referida situação não acontece na comunidade de São Maurício como mostra a figura 26, na medida em que todos os entrevistados exercem, além do extrativismo do açaí, outras atividades voltadas somente para a agricultura, sendo que 15% cultivam feijão, 20% melancia e macaxeira, 30% criação de pequenos animais, 45% arroz, 85% milho e 95% cultivam mandioca. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Melancia Mandioca Macaxeira Milho Arroz Feijão Pequenos animais Figura 26 Frequência de atividades praticadas pelos agricultores da comunidade de São Maurício, Alcântara, MA. O mercado de frutos de açaí é suprido, em grande parte, pela produção extrativista. No entanto, a produção de cultivo e a de manejo de açaizais nativos, começou a ganhar significado nas últimas décadas, em face do impacto negativo produzido pelo processo extensivo de extração de palmito sobre a produção de frutos do açaizeiro, situação ainda não verificada na comunidade de São Maurício. Tal fato caracteriza a existência de uma oferta inelástica de preço para o produto em estudo. 47 Como uma parcela da produção é destinada à subsistência dos produtores, elevações nos preços do açaí provocam aumentos em menor proporção na produção destinada ao mercado. Outro fator que pode influenciar neste resultado é o fato de o açaí ser um produto de base fortemente extrativista e sazonal. A polpa congelada, chamada simplesmente açaí, ganha cada vez mais destaque na agroindústria. A exploração racional da cultura do açaí tem se expandido principalmente nos estados onde o cultivo é praticado, seguindo-se recomendações técnicas de espaçamento, adubação e plantas melhoradas geneticamente sendo, portanto mais produtivas e precoces, o que tem proporcionado uma produtividade média das áreas plantadas da ordem 15t/ha/ano (IBGE, 2008). A produção de suco que antes era destinado ao mercado local, conquista as Regiões Sul e Sudeste, sendo Rio de Janeiro e São Paulo seus maiores importadores, que têm como principais consumidores, jovens que fazem parte da chamada “Geração Saúde”, pois encontram no açaí um produto com grande valor energético. O Maranhão, assim como, a comunidade de São Maurício/Alcântara ainda figuram no cenário nacional com pouca expressão no que diz respeito a comercialização, haja vista que a quase totalidade da produção ainda é destinada ao consumo local. Segundo machado (2008), em pesquisa realizada na comunidade de São Maurício e conforme mostra a figura 27, o consumo médio de açaí por família no período de safra varia de 5 a 20 litros de suco diários, sendo que 30% dos entrevistados declararam que consomem até cinco litros de açaí por dia, 45% declararam que consomem até 10 litros por dia, enquanto que 25% consomem até 20 litros por dia. É colhida diariamente no período de safra uma média de 2,75 cachos por dia na comunidade, para consumo da família. Como o açaí neste período é o principal item da alimentação na comunidade, e que 100% das pessoas do povoado São Maurício trabalham com o açaí, entende-se que o consumo de açaí está diretamente ligado à quantidade de pessoas existentes por família. Assim, famílias que possuem um número maior que cinco componentes consomem mais em relação a famílias que possuem somente uma média de três componentes. 48 50% 45% 40% 35% Famílias 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Até 5 litros Até 10 litros Até 20 litros consumo diário (L) Figura 27 Consumo médio familiar diário de açaí na comunidade no período de safra. De acordo com a pesquisa realizada, 50% da produção extraída da área de várzea de açaí, fica na própria comunidade, 30% são destinadas a comunidades vizinhas e somente 20% são vendidas em feiras livres (Figura 28). Estes dados confirmam o fato de que o açaí é a principal fonte de alimentação da população, ou seja, o que fica dentro da comunidade é para o próprio consumo e somente 1/5 da produção destina-se à comercialização propriamente dita, que é realizada principalmente na feira do Porto do Cujupe/Alcântara. 49 60% 50% Produção 40% 30% 20% 10% 0% Própria comunidade Comunidades vizinhas Feiras-livres Destino da produção Figura 28 Destino da produção de açaí da comunidade de São Maurício/Alcântara. 4.3.3 Preço do açaí praticado no cenário maranhense A comunidade de São Maurício vive às margens da MA 206 que dá acesso ao Porto de Cujupe, que liga a capital São Luís à Baixada Maranhense. Este aspecto facilita o processo de comercialização visto que há um grande número de viajantes diariamente passando pela localidade, além da proximidade do porto do Cujupe que é considerado na região como um local de comercialização. De acordo com MACHADO (2008), 100 % dos entrevistados comercializam os frutos de açaí com o preço de R$ 10,00 (dez reais) a lata de 18 litros no período de safra e R$ 15,00 (quinze reais) fora do período de safra. Os preços praticados no mercado não diferem dos praticados no restante do estado, como pode ser observado na figura 29, que trata dos preços médios praticados nos municípios de maior expressão na produção de açaí no estado. Morros São Luís Pinheiro Alcântara Axixá Serrano do… Pedro do… Nova Olinda… Maracaçumé Junco do… Centro Novo… Governador… Viana Maranhãozinho Boa vista do… Godofredo… Centro do… Cândido… Amapá do… Carutapera R$ 2,00 R$ 1,80 R$ 1,60 R$ 1,40 R$ 1,20 R$ 1,00 R$ 0,80 R$ 0,60 R$ 0,40 R$ 0,20 R$ 0,00 Luís Domingues Preço por litro (R$) 50 Figura 29 Preço de venda pago ao produtor de açaí no Maranhão (IBGE, 2008) O povoado não dispõe de freezer ou qualquer outro meio de armazenamento, para que sejam estocadas as polpas e vendidas fora do período de safra. No entanto, a várzea de açaí nativo da comunidade produz o ano todo, sendo que com proporções bem inferiores ao que se produz na safra principal. O período de safra na área de várzea da comunidade de São Maurício inicia entre os meses de outubro e novembro se estendendo até o mês de março com início do declínio da produção no mês de abril. 4.3.4 Considerações Finais O levantamento de informações sobre as características de composição vegetal, comportamento produtivo e as características comercias da produção de açaí (Euterpe oleraceae Mart.) no Maranhão e na comunidade de São Maurício, vem contribuir de forma significativa para o entendimento da dinâmica da área da “baixa” nativa de açaí e servir de base para os ensaios das condições estudadas com a intervenção no manejo das touceiras e da vegetação acompanhante, nesta primeira etapa. As informações levantadas nos tratamentos, cujos arranjos foram realizados com base em modelos divulgados e trabalhados em outros estados pela EMBRAPA, com a ressalva que os modelos aqui foram adaptados às condições naturais da área, ou seja, sem nenhuma forma de manejo das touceiras ou da vegetação acompanhante, observando-se apenas a resposta da espécie em termos de produção e parâmetros físico- 51 químicos dos frutos, conforme a distribuição das estipes em classes de indivíduos adultos. Pôde-se verificar a variação de alguns parâmetros como a produção de cachos, apresentando uma resposta quase que linear em relação à variação, para mais, no número de touceiras, sendo que no tratamento contendo até duas estipes T1[≤2] obtevese um total de 24 cachos em 4 colheitas, uma média de 6 cachos por colheita, nos demais tratamentos verificou-se uma produção decrescente, com exceção do tratamento T3[5-6] com o número de 5 a 6 estipes na touceira que apresentou um total de 22 cachos em 4 colheitas, superior também aos demais tratamentos. No entanto, essa variação apresentou diferença apenas em relação ao tratamento T[6] quando comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 10% de significância. Outro parâmetro trabalhado foi a verificação do peso do fruto, que também apresentou variação nas suas médias, com destaque para o tratamento T5[9-10] com uma média de 7,34 Kg de frutos. Em se tratando do peso de polpa, obteve-se valor máximo de média para o tratamento T1[≤2] com 4,05 Kg e valores intermediários nos tratamentos T5[9-10] e T3[5-6] com valores médios respectivos de 3,62 e 3,25 Kg. Para os valores de sólidos solúveis totais (°Brix) destacou-se os tratamentos T2[3-4] com valor máximo de média de 2,78°Brix e o tratamento T1[≤2] com média 2,28°Brix seguido dos demais tratamentos com médias na faixa de 1,81 a 1,99°Brix de sólidos soveis totais. Quando verificado os valores de acidez titulável nos tratamentos, obteve-se valores próximos dos encontrados em outros trabalhos nos tratamentos T1[≤2], T6[≥10] e T2[3-4], com respectivamente 0,27%; 0,26% e 0,21%, mas não se verificando diferente entre os tratamentos quando submetidos ao teste de Duncan (p<0,1). Tendo como base os parâmetros citados anteriormente, verificou-se que a variação entre os tratamentos foi suficiente para alterar os valores finais do parâmetro diretamente relacionado ao quantitativo da produção final, que é o rendimento do fruto. Para este parâmetro verificou-se valores médios superiores para o tratamento T5[9-10] com valor máximo de 36,34%, apresentado uma amplitude máxima de 3,81% entre os tratamentos. Verificou-se, ainda, que houve diferença em relação às caracteristicas analisadas, como número de cachos produzidos, peso de fruto peso de polpa e 52 rendimento, o que nos leva a crer na relevância e na possibilidade de resultados mais expressivos quando realizado o manejo das touceiras e da vegetação acompanhante. Em relação à pratica de comercialização e ao destino dado à produção de açaí da comunidade São Maurício, observou-se que as particularidades acompanham os modelos de trabalho em outros municípios do Estado do Maranhão, onde a produção e a prática do extrativismo do açaí ainda não é encarada de forma que esta atividade venha a responder por uma fatia maior na renda familiar dos comunitários diretamente ligados à atividade. Assim como no Maranhão, na comunidade de São Maurício a grande maioria da produção ainda tem como destino o consumo familiar, o que corresponde a 50% da produção, destinando apenas o pequeno excedente às feiras locais. Outro ponto importante a ser observado é o baixo preço empregado na comercialização desta produção, chegando a cifra média de R$ 0,47 centavos, preço baixo quando comparado ao maior valor empregado na capital maranhense, que chega a média de R$ 1,72, preços ainda bem distantes dos que são empregados em outros centros produtores de açaí como o Estado do Pará, que já destina boa parte da sua produção para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, além de exportar para outros países. Haja vista as considerações feitas a respeito do perfil da comunidade quilombola de São Maurício – Alcântara, MA, no que diz respeito à forma como é trabalhada a extração de açaí da várzea nativa e a destinação do produto obtido, pôde-se inferir que o emprego de técnicas que venham melhorar a produtividade dos açaizais nativos, assim como a qualidade do produto, são de extrema importância para a mudança do quadro de sub-aproveitamento deste recurso natural. No entanto, deve-se ressaltar os cuidados no emprego de técnicas de manejo em áreas de grande pressão antrópica e fragilidade ambiental, evitando-se assim, problemas como a “derrubada verde”, e a homogeinização das várzeas ocorrida no estado do Pará, onde áreas foram desmatadas e suprimidas espécies de pouco expressividade econômica mais no entanto representavam um importante elemento no equilíbrio ambiental da área, transformado-as em áreas de uma cultura só, ferindo os preceitos ecológicos da prática 53 5 CONCLUSÕES A família Arecaceae apresenta a maior densidade e valores de importância (VI) e valores de cobertura (VC), dentre as famílias identificadas no local, apresentando como espécie principal o açaí (Euterpe oleraceae Mart), com maior densidade e frequência. A espécie E. oleraceae representa 80,92% dos indivíduos agrupados na menor classe de diâmetro (09 a 19 cm) e 60,20% do total de indivíduos amostrados na área. A produtividade por planta em número de cachos colhidos é decrescente com o aumento da densidade da touceira. A maior produtividade é alcançada na menor densidade (até 2 estipes), que proporcionou média semelhante à densidade de [5 -6] estipes adotados como padrão de recomendação para manejo de açaizal nativo. As três variáveis utilizadas como parâmetro para estabelecimento da qualidade do suco “in natura” do açaí, sólidos solúveis totais, pH e acidez total titulável, enquadram-se dentro dos padrões do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA. O açaí é um alimento de grande importância na dieta da comunidade de São Maurício, visto que a maior parte da produção é destinada ao consumo da comunidade. 54 REFERÊNCIAS AGUIAR, M.O.; MENDONÇA, M.S. Aspectos morfológicos das plântulas de açaí (Euterpe Precatoria Mart.). Boletim do Museu Paraense Emílio goeldi. Série Botânica, p. 53-62. 2000. ARAUJO, J.R.G., MARTINS, M.R., SANTOS, F. N. 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Revista Brasileira de Fruticultura, 26(2):382-384, 2004. 60 APÊNDICE A Questionário sócio-econômico aplicado à comunidade de São Maurício, Alcântara – MA (adaptado de MACHADO 2008) UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA MESTRADO EM AGROECOLOGIA DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÔMICO E TECNOLÓGICO DA CULTURA DO AÇAÍ OBJETIVO GERAL: Caracterizar o sistema agroextrativista de açaí praticado por pequenos agricultores em área de várzea da Comunidade São Maurício, Alcântara, MA. A partir do conhecimento fitossociológico do ecossistema e dos requerimentos agronômicos de manejo, pretende-se gerar um modelo de manejo agroecológico do açaí (Euterpe oleraceae Mart.), que implica em práticas ecológicas e/ ou tradicionais de baixo impacto sócio-ambiental, visando aumentar a produtividade das áreas de floresta e a geração de renda. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: espécie Euterpe oleracea e diversidade da vegetação acompanhante no ecossistema de várzea; jovens por touceira da área de estudo para se definir o nível de manejo do açaizeiro; e em áreas submetidas a técnicas de manejo da touceira e da vegetação acompanhante; nível de interferência (sombreamento) da vegetação acompanhante com a produtividade do açaizeiro. Área abrangida pela pesquisa: município de Alcântara, MA; Comunidade São Maurício. Publico a ser pesquisado: 30 % dos produtores/famílias envolvidas no cultivo do Açaí 61 FORMULÁRIO DE PESQUISA NOME DO ENTREVISTADO: IDADE: Sexo: [ ] 1 – Masculino [ ] 2 – Feminino Grau de Instrução: [ ] 1 – Fundamental completo [ ] 2 – Fundamental incompleto [ ] 3 – Médio completo [ ] 4 – Médio incompleto [ ] 5 – Superior completo [ ] 6 – Superior incompelto SUA PROFISSÃO? ____________________________________________ MORADOR DA LOCALIDADE [ ] 1 – Sim [ ] 2 – Não Onde: ________________________________________ Há quanto tempo mora aqui? _______________________________________ Considera-se descendente de alguma etnia em especial? [ ] 1 – Sim [ ] 2 – Não Quais? [ ] – Negro [ ] – Índio [ ] – Português [ ] – Francês [ ] – Quilombola [ ] – Mestiço [ ] – Outra ____________________________________ Exerce outra atividade fora do período de safra do açaí? [ ] 1 – Sim Qual? _______________________________ [ ] 2 – Não Tipo de funcionários contratados para o serviço de coleta do açaí? [ ] 1 – Contratada - Valor por lata R$_____________________ [ ] 2 – Familiar [ ] 3 outra: _______________________________ Local de coleta do açaí? [ ] 1 – Área própria e cultivada [ ] 2 – Área nativa Quantidade de lata tirada por dia? Venda ___________________ Consumo ______________________________ Preço da lata no período da Safra? R$ ____________________________________ Preço da lata fora do período de safra? R$ ____________________________________ A venda é feita em outros meses fora do período de safra? [ ] 1 – Sim. Valor médio da lata neste período R$ _____________________ [ ] 2 – Não Tipo de processamento: [ ] 1 – Manual [ ] 2 – Mecanizado 62 Tipo de mão-de-obra de processamento [ ] 1- Própria (familiar) [ ] 2 – Contratada – Valor R$ ____________________________ Outra ________________________________________ Aproveitamento de resíduos: [ ] 1 – Sim [ ] 2 – Não Qual? _______________________________________ Estoca a polpa do açaí? [ ] 1 – Sim [ ] 2 – Não Quais cuidados de manejo você conhece e faz no açaizal? [ ] limpeza [ ] desbaste de touceiras [ ] desbaste de outras plantas [ ] plantio [ ] outras ___________________________