Esparta e a educação

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Esparta e a educação
Uma das principais características da cidade-estado de Esparta, na antiguidade, foi sua educação. A
cultura espartana caracterizou-se por três elementos fundamentais que foram responsáveis pela sua
formação ideológica: o militarismo, a xenofobia e o laconismo.
Situada nas margens do rio Eurotas, na região do Peloponeso, a cidade que na época era denominada
de Lacedemônia, é considerada a grande exceção da antiguidade grega, com características peculiares,
diferente das demais cidades, diferença essa utilizada ao longo do tempo como contraponto ao
desenvolvimento de Atenas. No estudo da História, enquanto a preocupação principal é compreender a
formação da democracia e o desenvolvimento da cidadania ao longo do período Arcaico da história grega,
entendendo as transformações vividas por Atenas, percebe-se a situação inversa em Esparta, ou seja, a
manutenção de suas estruturas tradicionais no mesmo período. Transformações e permanências colocam
em oposição as duas cidades.Se Atenas tornou-se paradigma para outras sociedades e criou modelos
ainda hoje valorizados, Esparta tornou-se a antítese dessa situação. Isso significa que, uma das maneiras
de valorizar a democracia e a cidadania e seu berço ateniense, é demonizar a situação oposta, aquela
que negou esses valores, que ainda hoje – apesar das grandes diferenças – são considerados
importantes.
Militarismo
Para o filósofo Aristóteles, em sua obra “Política”, "Todo o sistema da legislação dos lacedemônios visa
uma parte das qualidades do homem - o valor militar, por este ser útil nas conquistas; consequentemente
a força dos lacedemônios foi preservada enquanto eles estiveram em guerra, mas começou a declinar
quando eles construíram um império, porque não sabiam como viver em paz, e não foram preparados
para qualquer forma de atividade mais importante para eles do que a militar."
As grandes guerras e conquistas espartanas estão na base da própria formação da cidade. O processo
de conquista das terras centrais do sul da Grécia, em particular a planície da Lacônia, implicou em uma
sucessão de guerras que exigiam permanente estado de organização militar. Essa situação tendeu a
perpetuar-se na medida em que a resistência dos povos dominados foi constante.
O desenvolvimento do escravismo dos povos dominados – ou hilotismo, como muitos preferem –
representou uma eterna preocupação para os conquistadores ao longo do tempo, uma vez que a relação
numérica entre os grupos era desfavorável aos espartanos, chegando os escravos a um número dez
vezes maior do que o de espartanos.
As constantes revoltas dos povos dominados determinou a manutenção do militarismo, como forma de
preservar as terras férteis e a exploração do trabalho. Segundo o historiador Arnold Toynbee, “os
espartanos tornaram-se escravos dos seus escravos”.
Ao contrário das afirmações mais comuns, que associam o militarismo espartano a sua origem dória,
havia uma situação objetiva, material, que determinou as concepções e práticas militares. A idéia de que
os dórios invadiram a Grécia no século XII a.C. e provocaram a segunda diáspora reforça uma concepção
de “cultura militar” anterior, base da cultura espartana. No século XII a.C. os dórios migraram em direção
a Grécia, como outros povos já haviam feito e, caçadores e guerreiros nômades – como todo povo
nômade – se enfrentaram com aqueles que já estavam instalados na Grécia e viviam da criação de
animais e de pequena agricultura.
O militarismo foi justificado e teorizado ao longo dos séculos pela elite espartana que, para tanto, criou
elementos jurídicos e ideológicos, como as tradições de Licurgo e a xenofobia, apoiados no estímulo ao
laconismo.
Devido à militarização generalizada dos costumes, desenvolveram uma linguagem peculiar, com a
preocupação de expressar-se com o mínimo possível de palavras. Numa sociedade em que não se
cultivava a democracia nem o fascínio pela oratória, não era necessário um estudo muito profundo das
coisas nem estimulava-se os discursos retóricos, muito menos a especulação filosófica. A idéia final era
restringir a comunicação e desestimular os debates e, portanto, as possibilidades de críticas ao sistema
predominante
Licurgo
Os espartanos atribuíam a existência da sua severa e abrangente legislação a Licurgo, personagem
lendário, que seria um dos fundadores de Esparta, descendente de Hércules. Segundo a lenda, teria sido
um dos primeiros governantes da cidade, um estadista, considerado como “pai da nação” e responsável
pela implantação de rigoroso código, a Grande Rhetra, famoso em todo o mundo antigo e inspirado pelo
deus Apolo.
A Agogê, a educação espartana
Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê,
isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a domesticação dos seus jovens. O
objetivo maior dela era formar soldados educados no rigor para defender a coletividade. A educação
infantil tinha como objetivo a coletivização. Os jogos realizados tinham por objetivo não a competição e
vitória de um sobre os demais, mas a organização em equipe, assim como as histórias e as lendas eram
contadas para reforçar o patriotismo dos jovens. Os castigos físicos faziam parte desse adestramento e
admitiam o roubo como parte da formação dos jovens que, caso pegos em flagrante, sofriam castigos
violentos.
A etapa final da educação, entre os 16 e 20 anos, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e
espadas, no arco e flecha, preparados para o ingresso no serviço militar da pátria. Já participavam de
operações militres simuladas nas montanhas ao redor da cidade. Segundo Plutarco “ andavam como as
abelhas que sempre são partes integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe... parecendo
consagradas inteiramente à pátria.” Dessa maneira a educação produzia a jovem soldado necessário à
Esparta: silencioso, disciplinado , antiintelectual e antiindividualista, obediente aos superiores, vigoroso,
ágil, astuto , imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, odiando qualquer demonstração
de covardia e dedicado à cidade.
Laconismo
A cidade de Esparta foi fundada na planície da Lacônia e um dos hábitos de seus habitantes é o
laconismo; que significa “expressar-se em poucas palavras”. Por um lado esse comportamento é
entendido como um desdobramento da educação militarizada, pois as ordens deveriam ser cumpridas e
nunca discutidas. Por outro lado, Sabe-se que os homens da elite eram soldados até os 60 anos de
idade, quando poderiam participar mais ativamente da vida política. O direito de participação política
iniciava-se aos 30 anos, com o direito de voto nas assembléias, porém as votações não eram
acompanhadas de discussões e cada cidadão apenas aprovava ou rejeitava as propostas apresentadas.
Essa situação de dedicação quase exclusiva ao militarismo deu à mulher espartana uma situação
diferenciada, quando comparada aos demais povos da época. As mulheres espartanas também possuíam
uma educação militarizada e, posteriormente, eram incumbidas da administração das terras, do controle
sobre o trabalho dos hilotas e da administração da produção, além de participarem da vida política
cotidiana em funções administrativas
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