fatores efetivos na ocorrência de escorregamentos - Unifal-MG

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FATORES EFETIVOS NA OCORRÊNCIA DE ESCORREGAMENTOS:
ESTUDO DE CASO EM MACHADO-MG
Luís Fernando Borges Silva
[email protected]
Geografia -Universidade Federal de Alfenas
Lineo Aparecido Gaspar Junior
[email protected]
Professor Adjunto - Universidade Federal de Alfenas
Introdução
O conceito de área de risco, ainda gera discussões, mas de um modo geral, ele
sempre vai levar em conta a relação estabelecida entre vulnerabilidade e à ameaça a
eventos que possam provocar algum tipo de perda. Portanto é necessária uma
intersecção entre a susceptibilidade e a ocorrência de um determinado evento e
consequentemente a ocupação antrópica desse determinado espaço. Mas seria o
homem apenas um passivo diante do risco? No processo de construção e
transformação do espaço, o homem altera os processos e formas da paisagem, em
especial, no processo de urbanização.
A apropriação do espaço urbano leva a modificação da geometria das encostas,
através de técnicas, muitas vezes, precárias, e, frequentemente, manuais. A larga
ocorrência de áreas dobradas, e consequentemente com encostas, associada a
ocupação que não considera as condições do meio físico, denotam o Sudeste do
Brasil como uma região de larga ocorrência de áreas de risco a escorregamentos. É
justamente nessa região, mais especificamente no Sul de Minas Gerais, que se
encontra o município de Machado, cujas porções do perímetro urbano fora objeto do
presente estudo. (Figura1)
Varnes, (1978) nos lembra que as causas básicas da instabilidade de vertentes
são bem descritas. Dessa forma o que se procura alcançar, em geral, por meio do
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entendimento dos processos envolvidos, são os condicionantes ao desencadeamento
dos escorregamentos, quando, onde e quais são seus mecanismos, permitindo a
predição da suscetibilidade.
É importante lembrar que os fatores efetivos referem-se ao conjunto de
características que são diretamente responsáveis pelo desencadeamento do
movimento de massa, incluindo-se a ação humana. O presente estudo procurou
compreender e identificar os fatores efetivos que corroboram com a interpretação de
que a determinada população se encontra sob risco a escorregamentos, subsidiando
um zoneamento da área.
Figura 1 - Área de Estudo. Elaborado pelo autor
Objetivos

Identificar os fatores efetivos que atuaram sobre o último escorregamento
ocorrido na área no ano de 2011;

Identificar os fatores efetivos na ocorrência de atuais instabilizações na área.
Fundamentação Teórica
Cunha (1991) aponta que entende-se por risco a possibilidade de perigo, perda
ou dano, do ponto de vista social e econômico, a que a população esteja submetida
caso ocorram escorregamentos e processos correlatos.
Procurando compreender esses processos, e os possíveis riscos da área se faz
necessário identificar e compreender os diversos fatores desencadeantes desses
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eventos. Tominaga (2009, p.34) nos lembra que os agentes predisponentes são “as
condições naturais dadas pelas características intrínsecas dos materiais, sem a ação
do homem”. Correspondendo ao conjunto de condições geológicas, topográficas e
ambientais da área onde se desenvolve o movimento de massa.
Guidicini & Nieble (1984) nos lembram que são exemplos de agentes efetivos
imediatos: chuva intensa, erosão, terremotos, ondas, vento, interferência do homem,
entre outros. Para Tominaga (2009) os agentes efetivos referem-se ao conjunto de
fatores diretamente responsáveis pelo desencadeamento do movimento de massa,
incluindo-se a ação humana. Dessa forma podemos compreender que para a
ocorrência de um escorregamento é necessário um conjunto de fatores, dentre os
quais podemos separar os predisponentes, que levam em consideração apenas
aspectos naturais; e os efetivos, que além de naturais incluem a ação humana, e que
no caso específico deste trabalho, fora alvo de maiores atenções.
Metodologia
Realizou-se primeiramente a análise de imagens SPOT 5 (2011) disponíveis no
Google Earth Pro, buscando-se identificar alterações antrópicas que efetivamente
contribuíssem com o processo em áreas do perímetro urbano de Machado-MG. A
metodologia, ainda, se baseou em 4 trabalhos de campo, onde se buscou identificar
ações que alteraram as feições nas encostas, e as implicações que isso pode
acarretar na compreensão, desencadeamento e prevenção de possíveis movimentos
de massa. As feições identificadas foram georreferenciadas e fotografadas, para
auxílio de zoneamento da área.
Os agentes predisponentes de risco, como aqueles ligados as condições
geológico-geotécnicas e topográficas, foram contempladas em outros trabalhos
realizados pelos autores, compondo uma análise geológico-geotécnica e zoneamento
de riscos geológicos, trabalhos estes realizados sob financiamento do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Resultados
As encostas urbanas talvez sejam as mais alteradas formas de relevo nos
espaços urbanos, como podemos observar na figura 2 o bairro Vila do Céu é um
exemplo dessa alteração, em especial pela densidade de edificações e pela criação de
taludes artificiais. Para Guerra (2011, p.37) “a ocupação e o uso da terra talvez sejam
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ainda mais críticos para a ocorrência de impactos ambientais do que as próprias
características naturais das encostas.”
Para Guidicini & Nieble (1984, p.53) “uma das causas mais comuns e óbvias no
desencadeamento de condições de instabilidade consiste em modificar as condições
geométricas da massa terrosa”. Esse pode ser entendido como um importante agente
efetivo para a ocorrência do escorregamento de 2011. A geometria da vertente onde
ocorreu o escorregamento foi brutalmente alterada, sendo essa alteração mais visível
em sua base, ao longo da Avenida Ricardo Annoni Filho.
A figura 2, mostra ainda a cicatriz produzida pelo escorregamento em 2011, o
último na área, que afetou diretamente duas edificações, as quais foram interditadas
pela Defesa Civil, sendo que uma ainda continua habitada. As evidências levam a crer
que o fator que levara a resistência ao cisalhamento decrescer, sendo assim o
principal fator efetivo, tenha sido a entrada abrupta de água no sistema, que só fora
possível graças a inadequabilidade e incapacidade das galerias pluviais a montante de
onde ocorrera o escorregamento. Essa situação fez com que, ao receber chuvas
acima da média, as galerias não pudessem conter, controlar ou direcionar o fluxo
momentaneamente, direcionando-o diretamente para a área onde ocorreu o evento.
Figura 2 – Vista do bairro Vila do Céu, com destaque para talude de escavação e cicatriz de
escorregamento translacional ocorrido em 2011. Arquivo dos autores.
Pohl (1996) em estudos de solos tropicais contaminados por chorume e esgoto
obteve concentrações maiores de Fe no chorume percolado no solo que no chorume e
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esgoto sem percolação, mostrando que houve uma redissolução de oxi-hidróxidos de
Fe dos solos, devido a uma redução do pH, que por sua vez, foi promovida pelo
tampão residual entre o solo e o chorume ou esgoto. Ainda notou que, com a
ressaturação, a permeabilidade se tornou menor em conseqüência do colapso do solo.
Foram muitos os pontos encontrados nos bairros Vila do Céu e Centenário com
tubulações aparentes e/ou vazamentos de esgoto, corroborando para a remoção do
oxi-hidróxido de Ferro, que assume grande importância por afetar a estabilidade
estrutural do solo e promover a mudança de comportamento ao longo do tempo.
Dessa forma, os vazamentos de esgoto encontrados na área caracterizam-se como
expressivos fatores efetivos, que contribuem com atuais instabilizações, que diante de
um quadro extremo de chuva podem culminar em um novo escorregamento.
Há de se lembrar que os escorregamentos e outros acidentes ou desastres
naturais decorrem de uma série de fatores, que não agem de modo isolado. O
exemplo escolhido para exemplificar os agentes efetivos que tornam a área mais
vulnerável a novas ocorrências, fora os amplos vazamentos de esgoto, porém é
necessário citar, além dos já discutidos, fatores considerados pela literatura como
efetivos, que ampliam essa vulnerabilidade e que foram identificados na área, como: o
acúmulo de material tecnogênico, padrões construtivos que ampliam a alteração da
geometria da encosta, vegetação que acumula umidade em suas raízes, lançamento
de águas pluviais diretamente na vertente, entre outros.
Conclusões
A compreensão dos fatores que levam a ocorrência de escorregamentos e
processos correlatos é complexa. Há uma sinergia, que para ser compreendida
demanda esforços múltiplos. Há de se lembrar que cada evento é único, e é
justamente aí que reside os desafios das tentativas de compreensão e previsão de
riscos geológicos. Há de se lembrar que além dos fatores efetivos, cujas alterações
antrópicas nos espaços urbanos foram os principais alvos desse trabalho, as
características químicas e físicas dos solos, o regime pluviométrico, a cobertura
vegetal, entre outros fatores predisponentes formam importantes características a
serem levantadas e compreendidas para interpretação de risco.
A análise dos presentes fatores efetivos, junto ao histórico de escorregamentos
da área foram os principais combustíveis para que fossem avaliados também os
fatores predisponentes, de modo a coletar a maior quantidade possível de dados, para
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que os mesmos subsidiem um zoneamento e sejam disponibilizados ao poder público
para a tomada de decisões e ações mitigatórias.
Referências Bibliográficas
CUNHA, M. A. (coord.). Ocupação de Encostas. São Paulo: IPT, 1991.
GUERRA, A. J. T. Encostas Urbanas. In: GUERRA, A.J.T. (Org.). Geomorfologia
Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 278p.
GUIDICINI, G. & NIEBLE, C. M. Estabilidade de Taludes Naturais e de Escavação.
São Paulo: 2a ed. Edgard Blücher, 194p. 1984
POHL, D. H.. Tropical residual soils: Applications in solid waste containment.
Thesis submitted to the Faculty of Drexel University. 1996
TOMINAGA, L.K. Escorregamentos. In: AMARAL, R.; SANTORO, J.; TOMINAGA,
L.K. Desastres Naturais: Conhecer para Prevenir. 1ª edição. São Paulo: Instituto
Geológico, 196p,2009.
VARNES, D. J. Slope movement types and processes. In: SCHUSTER, R.L. &
KRIZEK, R.J. (eds.). Landslides: analysis and control. Transportation Research Board
Special Report 176, National Academy of Sciences, Washington DC. p. 11-33. 1978
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