MAPEAMENTO DAS INSTALAÇÕES ESPORTIVAS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Acadêmico Marcelo da Cunha Matos1 Prof. Ms. Guilherme Ripoll2 RESUMO O Esporte enquanto uma manifestação cultural/lazer impregnada pelos valores da era moderna, ocupa-se de uma parte bastante visceral do cotidiano das pessoas, e trás consigo, ao mesmo tempo, as idiossincrasias de uma sociedade capitalista. Portanto considerar a prática esportiva é debruçar sobre as implicações possíveis envolvidas no fenômeno. Logo, tal mapeamento das instalações esportivas da cidade do Rio de Janeiro, é de grande importância para redimensionar a oferta e a procura desses espaços esportivos nos vários setores da sociedade, além de entendermos as necessidades de implementação de políticas públicas para o esporte no país. Palavras-chaves: Esporte; Lazer; Mapeamento; Políticas públicas. INTRODUÇÃO Nos espaços da cidade e no cotidiano das pessoas o esporte encontra formas variadas de existência e manifestação. Além disso, os sentidos e práticas sociais produzidos ao seu redor não podem ser negligenciados. Levantar a situação atual e o potencial de desenvolvimento esportivo da cidade do Rio de Janeiro a partir dos locais já existentes para a prática esportiva (escolas, praças, clubes e etc.), identificando os significados destes equipamentos para a população e suas necessidade básicas de manutenção, se faz um ponto de fundamental importância para o desenvolvimento constante de políticas públicas que priorizem a formação juvenil através do esporte. A prática esportiva depende, em parte, do número, da diversidade das instalações e a sua acessibilidade, e cabe ao poder público fazer a sua planificação global, tendo em conta as exigências nacionais, regionais e globais, assim como as instalações já existentes. Para isso, no início de 2004, foi criado na cidade do Rio de Janeiro o Instituto Virtual do Esporte (IVE), sediado no Centro de Memórias da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este Instituto tem como objetivo principal a criação de uma rede de promoção de pesquisa vinculado ao estudo do esporte e do lazer a partir de uma perspectiva multidisciplinar, no qual atuam diversas ciências como a Educação Física, Geografia, Economia, História, Sociologia, Antropologia. Todos com um único objetivo, analisar a temática esporte e lazer, questão muito discutida ultimamente pela mídia e por órgãos governamentais diversos. Dentre os vários projetos, destaca-se os “Mapeamentos das instalações esportivas da cidade do Rio de Janeiro”. As infra-estruturas são um fator decisivo, e devem ser pensadas no sentido de integração na malha urbana, segundo critérios de distribuição harmoniosa, de carências tipológicas e de qualidade estética, de forma a responder às necessidades dos diversos tipos e níveis de prática esportiva. O espaço urbano e suas ações que atuam sobre ele são capazes de gerar grandes conseqüências para a sociedade, já que “o espaço é concebido como locus da reprodução das relações sociais de produção, isto é, reprodução da sociedade” (CORRÊA, 1995, p. 26). Assim, o esporte pode ser um instrumento tanto segregador do espaço quanto um meio de unir classes sociais distintas. Este projeto foi baseado em trabalho similar realizado na Cidade do Porto, Portugal, durante o Período de 2000 a 2002, intitulado “Carta Desportiva Municipal”, tendo o professor Guilherme Ripoll como co-autor. Algumas alterações foram feitas para a cidade do Rio de Janeiro, já que a geografia dessas cidades são diferenciadas, além da cidade carioca possuir um número maior de habitantes, fator que tende a influenciar as conclusões do estudo. OBJETIVO Ao longo das pesquisas, percebemos que o projeto em questão tem como objetivo algo extremamente importante nos dias de hoje para a cidade a fim de analisarmos as dicotomias entre os bairros no que diz respeito ao lazer e ao esporte. Como explicitado no início deste artigo, além de analisar a situação da cidade do Rio de Janeiro e o seu potencial de desenvolvimento esportivo a partir dos locais já existentes para a prática esportiva e identificar seus significados para a população carioca, podemos destacar como objetivos: Dar conhecimento, com detalhes, do número de instalações construídas e respectivas superfícies; Constatar a oferta do número de instalações e da superfície útil por tipologia, por categoria, por bairro e por habitante; Detectar as eventuais carências em cada bairro, como também, viabilizar uma melhor gestão e aproveitamento das instalações já existentes (ex: torneios, Intercolegiais, projetos sociais etc); Assegurar o acesso progressivo da população a uma prática esportiva, adaptada às capacidades e preferências de cada um. METODOLOGIA Serão contabilizadas e avaliadas as instalações esportivas segundo suas categorias: Militares, Associativas, Públicas Municipais, Públicas Estaduais, Públicas Federais, Escolares Privadas e Escolares Públicas. E segundo suas tipologias: Campos, Quadras Descobertas, Quadras Cobertas, Quadras de Tênis, Ginásios de Esportes, Salas, Piscinas, Pistas de Atletismo e Especiais. As quais ficaram assim definidas: Campos: instalações esportivas descobertas, que se destinam à prática de Futebol, Rugby, Hóquei em Campo, Beisebol etc. Quadras Descobertas: instalações esportivas descobertas, que se destinam à prática de Futsal, Basquetebol, Handebol, Voleibol, Hóquei etc. Quadras Cobertas: instalações esportivas cobertas, que se destinam à prática de Futsal, Basquetebol, Handebol, Voleibol, Hóquei etc. Quadras de Tênis: instalações esportivas cobertas ou descobertas, que se destinam à prática de tênis. Ginásios de Esportes: instalações esportivas cobertas e fechadas, que se destinam à prática de Futsal, Basquetebol, Handebol, Voleibol, Hóquei etc. Salas: instalações desportivas equipadas, que se destinam à prática de Musculação, Ginástica Rítmica, Ginástica Artística, Lutas, Dança etc. Piscinas: instalações esportivas cobertas ou descobertas que se destinam à prática da Natação, Pólo Aquático, Nado Sincronizado ou quaisquer outros esportes aquáticos. Pistas de Atletismo: instalações esportivas que se destinam à prática de atividade atléticas em todas as suas especialidades. Especiais: são todas as instalações esportivas que não pertencem aos tipos anteriormente mencionados como, por exemplo, Autódromos, Cartódromos, Pistas de Ciclismo, Ciclovias, Pistas de Skate, Campos de Golfe, Hipódromos, Campos de tiro e arco, Circuitos de manutenção, entre outras. Conforme sua morfologia, as instalações serão discriminadas detalhadamente no que diz respeito a: identificação, dimensões, coberturas, pisos, marcações, equipamentos, vestiários, iluminação, sonorização, placares, arquibancadas, alojamentos, salas e bares, com seus respectivos estados de conservação. Nas respectivas instalações também serão observados se há ou não acessos para pessoas portadoras de deficiência, informação bastante necessária e pertinente nos dias atuais de uma cidade metropolitana como a do Rio de Janeiro. Dessa forma, foi criado um grupo de trabalho para a elaboração do “Mapeamento das Instalações esportivas da Cidade do Rio de Janeiro” que tem como função: caracterizar a situação desportiva da cidade, através do diagnóstico das suas infra-estruturas e equipamentos, do movimento associativo e dos vários agentes esportivos. A finalidade principal é a elaboração das linhas orientadoras de desenvolvimento esportivo para cada bairro da cidade do Rio de Janeiro. Um programa informático desenvolvido por equipe técnica permitirá uma caracterização exaustiva de todos os aspectos da instalação, tipos de atividades, utilizadores, estado de conservação e aspectos específicos. Veremos a seguir a atual situação do projeto. SITUAÇÃO ATUAL DO PROJETO: RESULTADOS PARCIAIS Até então, concluímos no bairro carioca de Botafogo e de Bangu a coleta de dados em todas as áreas que possuem instalações esportivas. Especificamente falando, visto nosso acúmulo de experiências durante as visitas, sobre a categoria escolar privado e escolar pública, tivemos de acordo com a coleta de dados um número extremamente superior na oferta dessas categorias na área situada na Zona Sul da cidade. Onde na representação social das localidades podemos averiguar um quadro comparador dessas disparidades sociais. Além disso, é maior o número de clubes nesta região da cidade. Não que o número de instituições de ensino não represente significativamente o desenvolvimento social dos bairros, o que queremos compreender aqui nesse trabalho, são as disparidades no quantitativo de equipamentos esportivos e sua utilização nos diversos espaços sociais da cidade. Outro quadro bastante curioso seria a grande oferta de praças públicas esportivas na localidade de Bangu, comparando com o número bastante reduzido dessas instalações no espaço de Botafogo. Sendo assim, tendo como base os dados já coletados nesses dois bairros, já podemos concluir algumas questões, vejamos: Bangu e Botafogo: Bairros de classes sociais distintas (acesso aos bens culturais da cidade e distribuição de renda diferenciada), podemos constatar que em Botafogo, há maior número de clubes e escolas devido a alta especulação imobiliária e a um maior poder aquisitivo da população. Num segundo momento, estamos dando prosseguimento à pesquisa no bairro da Urca e na Cidade Universitária, Ilha do Fundão. A escolha por esses bairros deve-se a proximidade do bairro da Urca com Botafogo e pela nossa presença diária e fácil acesso à Cidade Universitária, sede do Instituto Virtual do Esporte. Vejamos suas características: Urca e Cidade Universitária: Bairro de classe alta e classe média alta, genuinamente residencial e militar, a Urca não possui nenhuma praça pública com instalações esportivas, concentrando a oferta de lazer esportivo nas instituições militares e nos clubes ou então fora do bairro. Na Cidade Universitária, Ilha do Fundão, a maioria das instalações está concentrada na Escola de Educação Física e Desportos, sendo utilizada em sua maioria pelos alunos da Universidade com exceção dos fins de semana, em que muitos moradores das regiões próximas utilizam dessa área para a prática esportiva. Seguindo algumas considerações sobre as representações dessas disparidades que estamos presenciando nos bairros até então visitados na cidade, argumentamos sobre como o imaginário das diversas comunidades que compõe o quadro social do Rio de Janeiro, identificam em seus bairros as ofertas desses equipamentos e a possibilidade de utilização desses espaços. Peres (2003), trabalha com a elaboração de um possível índice de Desenvolvimento de Acesso Cultural (IDAC), onde em seu trabalho travava-se o debate sobre o número de equipamentos culturais (Cinemas, Museus, Teatros e etc.) e o índice de desenvolvimento humano (IDH), apontando uma possível relação entre estes dois parâmetros. Não que esta relação aponte as especificidades sócio-econômicas determinantes para os espaços, mas em contrapartida aponta sim para um possível entendimento de como a distribuição destes equipamentos complexifica o ordenamento da localidade. “Deve-se ter em vista que o IDAC de modo algum expressa se uma determinada população é mais desenvolvida culturalmente do que outra – inclusive acreditamos que qualquer tentativa nesse sentido partiria de uma perspectiva limitada e etnocêntrica de cultura – mas trata-se de uma tentativa de revelar a desigualdade que uma determinada população está sujeita no acesso aos equipamentos culturais (PERES, 2003. p. 07).” Não obstante com as informações acima, ainda podemos caracterizar dentro de nossas observações, a grande dificuldade em obtermos o acesso as instalações categorizadas como escolar pública. Nesses espaços significativos não foram colocados, inclusive da Secretaria Geral de Educação com quem até o momento nos encontramos em negociações para a liberação da averiguação das localidades de ensino público, argumentos claros que representassem a negação de nossa solicitação. Assim, assumimos na própria esfera pública, onde teoricamente teríamos que contar com o maior apoio para o estudo proposto, o total descaso para com a nossa investigação. Nesse sentido, podemos categorizar os ensejos governantes, diante as possibilidades de uma ampliação de suas políticas para a educação e para a prática esportiva, como fatores que passam a compreender o esporte e a cidadania como pilares de uma complexificação das relações sociais existentes, onde busca-se nos termos citados um entendimento diferenciado no que concerne a contestação da lógica sistêmica, vide a proliferação de espaços que buscam o desenvolvimento da prática esportiva enquanto um verdadeiro celeiro de novos talentos e a tal da formação cidadã: “A partir de um certo senso comum de que políticas esportivas que objetivam a formação de novos talentos representam um grande retrocesso, e que isto se relaciona com o projeto esportivo já amplamente criticada no âmbito da Educação Física, e em busca de novos paradigmas para legitimar tais políticas, atrela-se no discurso a relação entre esporte e cidadania. Não mais formar atletas, e sim formar cidadãos (MELO, 2004, p. 177).” CONCLUSÃO Assim, após compreendermos algumas das várias nuances que compões o contorno social e as especificidades dos bairros estudados assim como a intervenção da esfera pública com suas políticas partiremos para trabalho em outros bairros da cidade. Sempre tentando manter nas localidades por nós pesquisadas uma dimensão distinta no que refere a disparidade social e econômica. O que necessariamente contemplaria nossos anseios de investigação, principalmente no que tange a grande diferença na proliferação de equipamentos específicos para as práticas esportivas e conseqüentemente as políticas públicas e as iniciativas de caráter privado para a discussão do esporte. Nesse sentido colocamos aqui alguma de nossas observações, e esperamos que possamos contar, principalmente com a boa vontade de nossas instituições públicas para o desenvolvimento deste trabalho que consideramos de grande importância para o estudo do tema em tela. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, Roberto, Lobato. Espaço, um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, I. E., CORREA, R. L. e GOMES, P. C. C. (orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 15-47. MELO, Marcelo, de Paula. Novas Configurações das Políticas de Esportes e Cidadania: Dimensões Críticas Desta Relação. Anais do V Seminário o Lazer em Debate. Rio de Janeiro, 2004. PERES, Fábio, de Faria. Desigualdades Sócio-Espaciais na Distribuição dos Equipamentos Culturais na Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2003. 1 Acadêmico da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ e Geógrafo formado pela Uerj. Rio de Janeiro, RJ. 2 Coordenador do projeto; Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense; Mestre em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto (Portugal) 2001. Niterói, RJ.