[ECONOMIA - 6] ECONOMIA/ECONOMIA 25-11-06

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Expresso, 25 de Novembro de 2006
ECONOMIA
MACROECONOMIA
Os salários mais rígidos da Europa
O mercado de
trabalho é um
dos maiores
problemas
portugueses
João Silvestre
O mercado de trabalho português é um dos principais entraves à convergência económica
com a União Europeia. No relatório anual ‘The EU Economy
2006 Review’ publicado esta semana pela Comissão Europeia,
Portugal surge como o país onde os salários são mais rígidos.
Isto é, onde as remunerações
são menos sensíveis às oscilações do ciclo económico e, por
isso, dificultam o ajustamento
em períodos de crise. Para os
técnicos de Bruxelas, esta será
uma das principais causas da divergência da economia portuguesa desde 2002.
Nos últimos anos, os custos do
trabalho aumentaram mais rapidamente que a produtividade
em comparação com os restantes países da moeda única e a situação económica portuguesa
degradou-se. Durante a década
de 90, os salários portugueses
cresceram 4% em termos acumulados acima dos restantes
países da zona euro, enquanto
os ganhos de produtividade foram inferiores a 1%.
Desemprego inevitável
É aqui que a questão da rigidez
dos salários se coloca. Nas fases
baixas do ciclo, quando a procura interna abranda e as empresas têm que procurar mercados
externos para escoar os seus produtos, não conseguem ser suficientemente competitivas para
ganhar quotas de mercado. Sem
conseguirem diminuir os custos
num mercado europeu que é o
principal destino das exporta-
ções e onde não existe o instrumento cambial, ficam reféns de
uma estrutura salarial exageradamente pesada. As falências e
o desemprego acabam por ser
as consequências inevitáveis.
Com os salários a poderem diminuir com maior facilidade, talvez os postos de trabalho pudessem ser salvos.
Olivier Blanchard, especialista
no mercado de trabalho europeu, referia na última edição do
Expresso que os salários nominais deveriam cair 20% em Portugal para a economia recuperar rapidamente. O economista
francês, professor no MIT, é o
pai da teoria dos «insiders-outsiders» que explica a persistência
de elevadas taxas de desempre-
Tecnologia sobe nas exportações
Apesar dos problemas de competitividade da economia portuguesa, as exportações de produtos de média/baixa intensidade
tecnológica têm vindo a aumentar. Nos primeiros seis meses deste ano, representaram 21,3% do total contra os 19,2% de 2005 e
os 16,8% de 2004, de acordo com as estatísticas do Gabinete de
Estratégia e Estudos do Ministério da Economia. As vendas de
máquinas ao exterior foram as principais responsáveis pela aceleração do comércio externo no primeiro semestre deste ano. Quase 15% do crescimento das exportações vieram desta rubrica. Os
segmentos de produtos energéticos e de minérios e minerais representaram, cada um, cerca de 13%.
go no Velho Continente. Blanchard atribui ao elevado peso negocial dos sindicatos um desequilíbrio a favor dos trabalhadores («insiders») face aos desempregados («outsiders») o que leva à fixação de um salário acima
do que seria desejável.
Salários pagos na inflação
Segundo os números agora divulgados pela Comissão Europeia, Portugal foi o segundo país
com maior inflação gerada pelos aumentos salariais desde
1990. Entre 1990 e 1998, o índice de preços cresceu 4,3% em
termos acumulados à custa do
preço do trabalho. Desde 1999 a
progressão salarial abrandou
mas, ainda assim, contribuiu
com um aumento de 1,7% para a
subida do nível de preços.
À frente da economia portuguesa surge apenas a Grécia
com efeitos de, respectivamente, 7,3% e 3,8%. A economia grega teve, apesar de tudo, uma
evolução da produtividade bastante mais favorável, o que lhe
permitiu acomodar maiores custos salariais. Enquanto Portugal regista um ritmo de crescimento da produtividade em quase 1% inferior à zona euro desde
1999, a Grécia tem crescido em
média 1,8% acima.
Exportações reféns da competitividade
EMPREGO
FOTO JOÃO CARLOS SANTOS
E AINDA
150 mil desempregados sem subsídio
Economia
portuguesa acelera
INE A economia portuguesa ace-
Um terço
dos desempregados
em Portugal não recebe
subsídio. A região Norte
é mais afectada com quase
metade sem protecção
da Segurança Social
Mais de 150 mil desempregados
não receberam subsídio em Outubro. No final do mês passado,
segundo os dados divulgados esta semana pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional
(IEFP), estavam inscritos nos
centros de emprego 453 mil desempregados, mas a Segurança
Social apenas pagou subsídio a
298,4 mil. Este valor inclui já os
beneficiários do subsídio social
de desemprego que é atribuído
a desempregados que ultrapas-
sem o período-limite para receber subsídio e que foi pago a
mais de 41 mil pessoas no mês
de Outubro.
Ou seja, cerca de um terço do
total de desempregados registados em Portugal não está a receber qualquer protecção da Segurança Social. Isto numa altura
em que a taxa de desemprego se
mantém próxima do nível mais
elevado dos últimos 10 anos. No
terceiro trimestre a taxa fixou-se nos 7,3%.
DESEMPREGADOS SEM PROTECÇÃO
Região
Norte
Centro
Lisboa
Alentejo
Algarve
Açores
Madeira
IEFP
205956
63810
138693
20906
11442
3710
8511
Seg.Social
117329
56201
93554
14483
9005
2925
4940
Diferença
88627
7609
45139
6423
2437
785
3571
Norte é o mais afectado
A situação mais grave verifica-se na região Norte onde reside cerca de metade do total de
inscritos nos centros de emprego portugueses. O IEFP contabi-
lizou quase 206 mil desempregados em Outubro e a Segurança Social apenas atribuiu subsídio a pouco mais de 117 mil.
Com isto, cerca de 90 mil traba-
lhadores sem emprego estão
nesta altura sem receber subsídio. Um número que corresponde a quase 66% do total. No resto do país, a diferença entre de-
sempregados e beneficiários do
subsídio de desemprego é menor. Lisboa e Vale do Tejo é a
segunda região mais afectada
com 45 mil trabalhadores sem
receber subsídio.
Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, explica que esta situação é
normal e já não é nova. “É um
problema que não é de hoje e
que está relacionado com o facto de alguns desempregados terem esgotado o período a que
têm direito de receber e outros
não terem contribuído o suficiente para poderem receber
subsídio”. O desemprego voluntário, a procura do primeiro emprego ou a suspensão por incumprimento são as outras razões
avançadas. J.S.
lerou no terceiro trimestre, segundo a Síntese de Conjuntura
do Instituto Nacional de Estatística. O indicador de clima situou-se, em Outubro, no patamar mais elevado desde há dois
anos. Os sinais favoráveis são visíveis em todos os sectores de actividade, excepto na construção.
Sobem encomendas
na construção
OBRAS As novas encomendas na
construção e obras públicas subiram 5,3%, no 3º trimestre, face
a igual período de 2005, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Esta evolução ficou a dever-se, sobretudo, ao bom comportamento das obras de engenharia (mais 28,8%).
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