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Teoria da Comunicacao UNIP

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TEORIA DA COMUNICAÇÃO
Unidade I
Prof. Dr. César Augusto Belardi
BELARDI, César Augusto
Teoria da Comunicação (livro-texto) / César Augusto Belardi.
– São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019.
33 p.
1. Teorias comunicacionais. 2. Significação. 3. Produção
cultural. I. BELARDI, César Augusto. II. Pós-Graduação Lato
Sensu UNIP. III. Título.
1. PROPOSTAS
Atualmente, para entendermos os conceitos aplicados nas principais Teorias
da Comunicação, é importante considerarmos um fator em especial: a tecnologia da
comunicação. Em sua grande maioria, as ideias que constroem esse conteúdo das
ciências sociais tiveram sua origem em um período do século XX, em que a
interatividade pelos meios de comunicação de massa ainda era um fator distante e
pontual. O advento das redes sociais e do ambiente da internet proporcionou uma
expansão importante ainda em percurso.
Sob esse olhar, um dos princípios fundamentais, a Teoria Hipodérmica, passou
a obter respostas muito mais imediatas – e, por vezes, mais eficazes – do que quando
de sua formulação, momento em que o principal meio de comunicação de massa
ainda era o rádio. Então, aproximadamente um século atrás, o recorte entre massa e
indivíduo, em sua resposta ao estímulo, era separado tanto por tempo quanto por
volume de resposta. Façamos uma breve recapitulação dos principais conceitos,
iniciando com o Modelo de Lasswell para a própria Teoria Hipodérmica, antes de
seguirmos com aplicações mais contemporâneas.
A premissa de Lasswell é a de uma intromissão da mensagem no ambiente do
indivíduo, surtindo um efeito manipulatório quase imediato, em seu estado de
componente da massa (conceitos que serão discutidos mais adiante). Para identificar
potenciais estímulos manipulatórios, Lasswell propôs que se perguntassem, a partir
do emissor, suas intenções na forma similar a um lead jornalístico (quem, quando,
onde, como, por que, quanto) referente à mensagem em si (quem diz, o quê se diz,
para quem, por qual canal, assim por diante).
Podendo considerar como uma consequência da Teoria Hipodérmica, a
chamada Teoria da Persuasão atenua a resposta imediata da ideia anterior graças a
um contexto de perfil psicológico do receptor. De uma maneira metafórica, haveria
instalado no receptor um tipo de filtro de comunicação que selecionaria não só
mensagens completas, mas componentes delas, influenciando diretamente na sua
compreensão. Esse filtro será apresentado detalhadamente mais adiante, em um
contexto mais atual e multidisciplinar.
À medida que os meios de comunicação de massa e seu comportamento de
consumo foram se moldando às novas tendências e tecnologias, as teorias passaram
a integrar essas mudanças. Com a expansão das mídias de comunicação de massa,
seja na diversificação numérica e estilística dos programas de rádio, seja pela
participação da televisão e de mídias impressas mais segmentadas, os efeitos da
comunicação sobre o indivíduo passaram a ser diluídos, como é apresentada na
origem do que é conhecido como Teoria Empírica de Campo. Nela, o indivíduo está
imerso em um caldo de estímulos comunicacionais de cunho cultural, ideológico,
religioso, pessoal, além daqueles – em boa parte mercadológicos – advindos das
mídias de massa. Assim, os efeitos de tais estímulos teriam uma duração mais curta
e imediata.
Na década de 1950, boa parte das mídias de massa convencionais já estava
presente na sociedade ocidental. Algumas, como a televisão, eram novidade do ponto
de vista tecnológico, porém, como uma expansão natural do rádio, agregavam
técnicas de produção e comunicação (em especial, a comunicação de mercado) já
experimentadas e notoriamente funcionais apenas por meio de estímulos sonoros.
Nessa transição, podemos citar a eficácia da comunicação no formato de rádio teatro
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produzida por Orson Welles, inspirada em A Guerra dos Mundos, no final da década
de 1930. Diversas versões audiovisuais vieram depois, mas nenhuma atingiu o efeito
catártico do rádio, por mais convincentes que possam ter sido suas produções e
simulações de realidade.
Com essa crescente diversificação de formatos e tecnologias, as teorias
passaram a contemplar componentes pontuais da produção e transmissão de uma
mensagem. A diversificação de públicos – consequentemente, também uma
diversificação cultural – promovem novas e originais leituras sobre a duração dos
efeitos de uma mensagem e seu entendimento.
Nesse cenário, conceitos como os da definição de discursos, cujos conteúdos
contemplavam as expectativas dos seus receptores respondidas, entremeando
percepções particulares da realidade à própria realidade observada e vivida pelo
receptor, levaram a ideias de uma construção artificial e subjetiva da realidade notada,
inicialmente proposto pela Teoria do Agendamento. Dessa forma, os processos de
comunicação de massa e as mídias que promovem essa comunicação ganharam
campos específicos para estudo. A Teoria Funcionalista passa a discorrer sobre o
papel da mídia em relação aos seus receptores e não apenas os efeitos produzidos.
A Escola de Frankfurt, com sua constelação de pensadores, fundamentou o
que ainda hoje empregamos, de certa maneira atualizada e funcional, aos grandes
meios de comunicação de massa e suas expansões virtuais e interativas. Sob essa
visão, a Teoria Crítica explora a industrialização da produção artística e cultural. Em
sua origem, a tecnologia das comunicações de massa se caracterizava por um viés
essencialmente unilateral. Atualmente, por mais diversificadas que sejam as fontes de
produção de mensagens, elas ainda se encontram enquadradas em modelos e
parâmetros pré-determinados, o que não apenas as uniformiza na construção, mas
também em sua propagação e recepção. Considere os infinitos reenvios de
mensagens por meio de qualquer ferramenta de comunicação de redes sociais: a
mensagem de origem pode até trazer a identidade daquele que deu início ao
processo, tanto de transmissão quanto de produção da mensagem, porém a
reprodução exponencial, desapegada da validade de tempo da mensagem, faz com
que esse conteúdo – ou produto – vagueie infinitamente pelo espaço virtual. Em um
tempo no qual as fronteiras físicas geográficas e mesmo idiomáticas são de menor
importância, as produções apresentam ainda uma identidade cultural, como proposto
pela Teoria Culturológica, porém diluída em sua recepção e recomposta em sua
retransmissão.
É importante entendermos a diluição como um efeito de priorização, no qual
não há mais a predominância de uma mensagem por vez sendo recebida, mas
diversas, que se mesclam em um ambiente digital e que, ao ser retransmitida, pode
agregar componentes de interferência de outros, desde uma releitura local sob o
prisma da cultura daquele receptor, até rupturas do significado original da mensagem.
Observemos o exemplo da tradução por aproximação fonético cultural da palavra
inglesa ingenuity: para a cultura idiomática latina corrente, tende para ingenuidade,
quando, na verdade, seu significado saxônico é o oposto: engenhosidade.
Ingenuidade tem seu contraponto inglês na palavra naivety, absolutamente estranha
para o nosso glossário cotidiano.
O processo de comunicação continua a ser mapeado de maneira muito similar
às suas origens – emissor, receptor, mensagem, código – contudo as relações e os
resultados entre os próprios meios e seus receptores, ora consumidores de conteúdo,
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ora produtores de conteúdo, estabelecem uma rede de relações muito mais complexa
e tênue.
Já tendo percebido o caráter dinâmico de adaptação dos conceitos em função
tanto dos avanços tecnológicos influenciadores do processo de comunicação, quanto
das mudanças de hábitos de consumo de mídia, ideias como o Gatekeeper e o
Newsmaking surgem para explicar e justificar condições que versam sobre 1) quem
detém o poder da informação e de sua divulgação e 2) quem decide o que – e como
– deve ser informado.
Para uma proposta modernizada, a integração entre tecnologia e os conceitos
de comunicação necessitam passar por alguns exercícios que expandam suas
aplicações para a atualidade, portanto vamos fazer um percurso pelos principais
conceitos originais e as potenciais releituras que podem ser elaboradas para uma
adequação aos dias atuais.
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2. COMUNICAÇÃO
Pensemos nos fatores que levaram nossa espécie a desenvolver um processo
de comunicação que emprega tanto a codificação da linguagem, quanto o simbólico
da cultura.
Como espécie, surgimos e nos adaptamos da mesma forma que tantas outras,
porém, devido a influências ambientais, necessidade de sobrevivência e superação
de barreiras que levaram outras tantas ao desaparecimento, nosso cérebro se
desenvolveu de forma a comportar inteligência e consciência.
Alguns conceitos constituem o percurso de aprimoramentos para a espécie
humana, como vemos a seguir:
Evolução
É comum haver certa confusão sobre esse termo, em especial quando
associado à extinção de espécies, seja por motivos naturais, como os dinossauros,
seja por motivos consequentes da ação humana, como o que temos presenciado com
certa frequência nas últimas décadas. O termo se refere a questões de adaptação, e
não a um movimento em direção ao topo da pirâmide evolutiva, ou seja, indicando
melhoria. Um ser evoluído, do ponto de vista biológico apenas, é aquele melhor
adaptado à sua situação ambiental. Dessa forma, a espécie humana evoluiu no
sentido da adaptabilidade, o que significa ser capaz de sobreviver, na maioria das
situações, a ambientes adversos graças à sua capacidade de manipulá-los e de
construir artefatos que o ajudem nessa tarefa. Assim, o termo é aplicável apenas
àquilo que é vivo e autônomo. A tecnologia, como a informática, não evolui – ainda –
por conta própria, necessita da interferência externa humana para que se aprimore.
Uma cidade abandonada, sem a manutenção proporcionada pelo ser humano, decairá
e será reintegrada à natureza no período de algumas décadas. Portanto, animais e
vegetais evoluem. Coisas, na acepção inanimada da palavra, não.
Descobrimento
Partindo de um nível de conhecimento e de curiosidade necessários para a
percepção do mundo à sua volta, o processo de descobrimento ocorre quando o
indivíduo destaca do cenário do seu entorno componentes que podem ser utilizados
de forma diferenciada, seja in natura ou com certo processamento e elaboração. Esse
conceito engloba praticamente tudo o que existe no universo, mas ainda não
representa um uso imediato. Considere o fogo, um elemento já existente, mas que
ainda tinha como desconhecido o seu emprego para o cozimento de alimentos; o
mesmo vale para a penicilina e seu combate a enfermidades; as ondas
eletromagnéticas para a transmissão de mensagens; novos elementos químicos
naturais. Desse conceito serve-se a indústria farmacêutica, constantemente em busca
de novos compostos e drogas naturais para a composição de medicamentos mais
eficazes.
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Invenção
Esse conceito reflete a capacidade de manufatura e criação da espécie
humana, que elabora alternativas diversas para a reprodução ou otimização de efeitos
naturais. Por exemplo, os aprimoramentos tecnológicos para a produção de fogo,
desde a pederneira, passando pelos palitos de fósforo até os mais diversificados
modelos de isqueiros. A necessidade de ampliar o raio de alcance de mensagens leva
a constantes invenções, desde o patamar global como é o caso dos satélites de
comunicação até as diversas funções de conectividade digital. O transporte,
possivelmente, é um dos cenários mais propícios para observações de invenções e
aprimoramentos originais tecnológicos. Com origem nas carroças movidas por tração
animal, chegou até os veículos terrestres motorizados e alimentados por uma
importante gama de combustíveis. Sem citar as variações temáticas de transportes
similares nas águas – sob e sobre elas – e o próprio trânsito aéreo em seus diversos
tetos de voo.
Desdobramento
Por fim, esse é o conceito que mais se reporta às questões da comunicação.
Sua premissa é a da originalidade e ramificação de atributos. Tomemos o exemplo
anterior do fogo: pode ser usado para o cozimento de alimentos, para aquecimento
de ambientes e também para a proteção – ou destruição – de inimigos. Amplie essa
ideia para as telecomunicações, em que a origem do rádio, da televisão e da própria
internet está na transmissão de mensagens na forma de ondas eletromagnéticas.
Umas mais limitadas (comportando apenas o som), algumas mais complexas (com
imagens em movimento) e, mais à frente, outras permitindo a inter-relação em tempo
real (sem muitas limitações de espaço, colocando em contado pessoas separadas por
continentes).
Uma proposta para o entendimento dos processos de comunicação em
constante desenvolvimento é o de associar os conceitos apresentados às motivações
naturais que levaram – e continuam a nos conduzir – em um constante percurso de
inter-relações socioculturais. Para entender a ideia de motivação, consideremos como
uma necessidade tanto de preservação quanto de avanço da humanidade. Tendo
início nos primórdios da nossa espécie, quatro principais fatores – apresentados sem
seguir uma ordem cronológica – emergiram para que desenvolvêssemos linguagem,
simbolizássemos o mundo percebido à nossa volta e aprimorássemos uma cultura.
O primeiro fator, nomeado como documentação, abarca a necessidade de
perpetuar para as próximas gerações aquilo que a atual aprendeu, descobriu e
desenvolveu. Valendo-se das práticas mais primitivas de contar histórias (por meio da
oralidade), uma geração transmitia os seus conhecimentos para a seguinte. Podemos
entender história oral como tudo aquilo que é passado por meio desse processo, sem
que haja um substrato físico tangível que acomode essa mensagem. Ora, devido à
fragilidade de tal procedimento, é possível imaginar que um passo seguinte ao da
oralidade foi o de imprimir sobre suportes físicos aquilo que era comunicado. A
perpetuação em tais substratos, como as pinturas rupestres em cavernas,
documentava experiências de caçadas ou combates para aqueles que vinham.
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Para tal perpetuação, culturalmente, passou-se a desenvolver modelos de
padronização que permitissem o entendimento da mensagem. Se pensarmos em
questões mais recentes, podemos aplicar esse conceito à direção que cada cultura
segue para seu processo de leitura. O ocidente adotou a orientação da esquerda para
a direita, de cima para baixo; o oriente seguiu outro percurso que se adequa à sua
história de desenvolvimento.
Podemos ampliar as questões de padrões para a atualidade, em especial para
a produção de vídeos caseiros, utilizando como ferramenta os recursos de aparelhos
de telefonia móvel, os smartphones. Com o crescimento dos hábitos de produção de
conteúdo para o ambiente digital e o acesso à tecnologia para tal, gravar um vídeo em
seu telefone e postá-lo na internet tornou-se parte integrante do cotidiano. Contudo, o
comportamento de uso do aparelho de telefone não é compatível com o de captação
de vídeo. O primeiro, por questões de ergonomia, exige que seja manipulado na
posição vertical – orientação natural do nosso ouvido e boca – enquanto que o
segundo, por questões estéticas, padrões audiovisuais e a própria origem de ambos,
pede para que o aparelho seja posicionado horizontalmente, como uma tela de
televisão, afinal, nossos olhos estão nessa mesma orientação horizontal.
Podemos relacionar as duas questões anteriores ao desenvolvimento da
representação como advento cultural. A transposição daquele conteúdo da
mensagem para outros formatos exige ajustes e adequações para que seja possível
sua compreensão plena. Em processos semióticos, é clássico o exemplo da obra de
René Magritte, em que há a representação gráfica de cachimbo e a legenda Isto não
é um cachimbo. De fato, aquela é a representação gráfica do objeto, da mesma forma
que representamos, na linguagem do trânsito metropolitano, o comando de parada na
cor vermelha e o de seguir em verde. Essas mesmas cores, em outro contexto,
poderão representar produtos perigosos para o manuseio ou produtos cuja
manufatura não é prejudicial ao meio-ambiente. Na linguagem das histórias em
quadrinhos, efeitos sonoros – onomatopeias – são representados por letras de
tipologias e cores as mais variadas, cada qual compatível com o efeito que se espera
causar no receptor.
Os três conceitos convergem para a quarta motivação, característica, mas não
predominante da espécie humana, que é a da integração. Nossa espécie
desenvolveu-se a fim de se comportar de maneira social, grupos a partir dos núcleos
familiares, ampliados para pequenas comunidades e aldeias, ampliando-se
naturalmente para cenários maiores e mais complexos. As motivações anteriores
surgiram e foram estimuladas pela necessidade de se inter-relacionar com indivíduos
da mesma espécie, fosse para manutenção da segurança, fosse pela perpetuação
biológica. O que resultou na continuidade dos processos – oportunamente adaptados
às potencialidades de novas descobertas e experimentados em sua praticidade por
novas invenções –, proporcionando aprimoramento e avanço evolutivo da espécie.
É possível observar, a partir desse ponto, que as práticas comunicacionais e
as teorias que versam sobre seus estudos e explicações atendem a um critério
cumulativo e constroem um repertório dinâmico de conhecimento e novas práticas.
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3. ORIGENS
A base para a leitura teórica das comunicações na Europa está profundamente
enraizada no Capitalismo. Assim é obrigatório, ainda que de forma sucinta, falar
sobre Karl Marx (1818 - 1883), filósofo, sociólogo, historiador e economista, e sobre
Friedrich Engels (1820 - 1903). Juntos, eles constituíram os principais estudos para
analisar criticamente e propor mudanças ao modelo capitalista de sociedade, em que
lucro e acúmulo de riqueza, mediante os meios de produção, são os principais
pressupostos.
O marxismo, nome atribuído a todos os pressupostos de Marx como corrente
de pensamento, partia basicamente de dois eixos: o primeiro – político – oriundo e
vivenciado pelo autor na Alemanha; o segundo – acadêmico – influenciado por Kant e
Hegel.
Sucintamente, de acordo com o método dialético de Marx, as contradições da
realidade social apenas seriam resolvidas com base em ações históricas e sociais.
Foi a partir do pensamento dialético que se chegou ao materialismo histórico. Tal
método negava a determinação mecânica do âmbito econômico sobre o social,
sugerindo a indução do pensamento à questão da dominação na sociedade e
ressaltando a luta de classes como eixo para a transformação social. Isto é, atribuía
aos homens organizados à condução da sociedade e apontava o socialismo como
fase transitória entre Capitalismo e Comunismo.
Já a dialética hegeliana estabelece a condução de uma tese para antíteses
podendo retomar conceitos originais sem abandonar suas características essenciais
como objeto de estudo, visando a tornar a tese ainda mais consistente.
Houve ainda a conceituação de alienação, em que o trabalhador assalariado
em uma sociedade capitalista perdia a posse sobre sua força de trabalho, que se
convertia em mera mercadoria sujeita às demandas da oferta e da procura. A única
forma de reversão dessa alienação seria, por parte dos trabalhadores, pela tomada
dos meios de produção (revolução proletária). Isso extinguiria o regime assalariado e
geraria o sentido de coletividade do trabalho social.
Ao citar as origens de alguns dos principais conceitos das Teorias da
Comunicação, torna-se imprescindível que, em sua descrição e definição, sejam
citados Theodor Adorno e Horkheimer, pensadores que empregaram pela primeira vez
o termo indústria cultural no livro/estudo Dialética do Esclarecimento, em Amsterdã.
Na obra, cuja redação inicia-se em 1942, mas somente é publicada em 1947, são
ressaltadas as mutações do progresso cultural inspirado nos fenômenos culturais e
sociais dos Estados Unidos da América no período compreendido entre a década de
1930 e 1940.
Nesse livro, o homem surge como refém de uma sociedade marcada pelo
amplo processo de esclarecimento (cuja definição equipara-se à do Iluminismo). Já
ao termo dialética atribui-se o significado das transformações constantes da vida
social, mais próxima à dialética hegeliana, em que as transformações permanecem
no campo das ideias e, a partir dessas, passam para a vida material.
A obra constitui a visão da sociedade em que o homem se encontra em um
ciclo real inserido no Capitalismo, em busca de seus objetivos por meio do utilitarismo
(em que o indivíduo procura compreender os fundamentos da ética e da moral a partir
das consequências das ações).
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Indústria cultural é o termo utilizado para substituir – segundo definição dos
próprios autores citados acima – a problemática cultura de massa. Tal substituição
possui o intuito de evitar que ao termo cultura de massa (oriunda do povo,
regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada) seja atribuída
uma cultura surgida e gerada espontaneamente pelas massas (cujo termo designa-se
ao grupo de indivíduos acríticos que apenas consumiam os produtos da indústria
cultural), como algo oriundo de uma arte popular.
Porém, para Adorno e Horkheimer, a indústria cultural une elementos diversos,
atribuindo à cultura uma qualidade e característica originadas de produtos adaptados
ao consumo das massas, o que em larga escala determinariam esse consumo. Para
Adorno e Horkheimer (1967):
Os diversos ramos se assemelham por sua estrutura, ou pelo menos ajustamse uns aos outros. Eles somam quase sem lacuna para constituir um sistema.
Isso, graças tanto aos meios atuais da técnica, quanto à concentração
econômica e administrativa. A Indústria Cultural é a integral deliberada, a
partir do alto, de seus consumidores.
A indústria cultural gera fruto da união entre duas artes: superior e inferior, com
perda de algumas características de ambas justamente por questões mercadológicas
voltadas às massas. Observa-se a presença de juízo de valores nas informações
transmitidas, ausência de fontes confiáveis, informações manipuladas e difusão de
informações voltadas ao interesse do transmissor.
Entretanto, ainda em alusão às artes superior e inferior, pode-se dizer que há a
construção de um sistema no qual as mídias se transformam de maneira a criar e
estabelecer padrões organizacionais crescentes, em que o público possui gostos
estereotipados e de qualidade baixa. Os padrões crescentes estão intimamente
atribuídos a uma questão cíclica, em que há sempre o retorno. Isto é, o sistema
manipula o produto voltado ao público, que exige mais de determinado produto, que
é novamente entregue ao público pelo mercado de forma dita inovadora, porém, os
valores atribuídos são antigos e adaptados. Exemplificando: ao ouvir o estilo musical
funk com letras ofensivas e com conteúdo de baixa qualidade, observa-se que ele –
que pode possuir referência em outros estilos musicais – ao perder mercado,
necessita de algo que pareça inovador, então mescla-se funk com sertanejo
universitário. Contudo, forma-se um ciclo crescente em que o funk não deixa de existir
e a ele foi acrescido outro estilo musical (um valor), algo dito como novo para que se
mantenha no mercado como produto da indústria cultural.
O conceito acima serve à lógica do sistema produtivo, em que, de acordo com
Adorno e Horkheimer, há a estratificação dos produtos ditos culturais segundo sua
qualidade,
A novidade que o sistema oferece continuamente é apenas a representação,
em formas sempre diferentes, de algo igual; a mudança mascara um
esqueleto, em que muda tão pouco no próprio conceito de proveito, desde
quando este conquistou o predomínio sobre a cultura (ADORNO apud
ADORNO; HORKHEIMER, 1967, p. 08).
O sistema da indústria cultural funciona automaticamente determinando o
consumo, excluindo novos valores que ameassem sua eficácia autônoma, sempre
com o objetivo de manter o ciclo de seus pressupostos e relação consumidor versus
mercado.
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Ao analisar o mercado que se adapta às questões da globalização,
compreende-se que todas as informações voltadas ao público a que se pretende
atingir chegam a esse de maneira sucinta e clara para facilitar o entendimento por
parte do receptor. Entretanto, seria conveniente citar a existência do senso comum e
científico. Se, no primeiro, há ausência de embasamento teórico e os fatos passam a
ser utilizados como única e real fonte de informações, no segundo, há a comprovação
empírica de cada fato.
Observam-se características da indústria cultural como: a difusão de uma
cultura de tipo homogêneo para a massa não formadora de opiniões, que apenas
absorve determinado conteúdo de uma cultura sem promover reações e
democratização da informação. A indústria cultural, agindo e possuindo como principal
foco o indivíduo consumidor de produtos promotores da satisfação compensatória,
dessa forma, submete-o a seu monopólio, tornando-o integrante de uma massa
acrítica com o intuito de motivar o consumo crescente.
Pode-se dizer que a indústria cultural inclui às características já citadas acima
o poder de dominação e disseminação que orienta os indivíduos em um mundo caótico
de consumo exacerbado (característica primordial de uma sociedade de consumo),
desarticulando qualquer movimento que seja contra seus pressupostos, isto é, a
satisfação dos indivíduos e a pseudofelicidade, com o objeto de impedir qualquer
mobilização crítica.
Entretanto, ressalta-se que há existência de um grupo de indivíduos, intitulado
público, que segundo Adorno e Horkheimer (1967) são definidos como
[…] envolvidos em dadas questões; que se encontram divididas em suas
posições diante dessa questão e que discutem a respeito do problema.
Assim, a presença de uma questão, de discussão e de uma opinião coletiva
constitui a marca do público.
O indivíduo da era da Indústria Cultura passa, portanto, a não ser autônomo,
pois há a adesão acrítica aos valores impostos. Ele passa a ser manipulado pela
sociedade de tal forma que os produtos de distração representam cópias ou
reproduções do próprio processo de trabalho a que o indivíduo é submetido e, nesse
processo contínuo, disciplina-se o homem enquanto consumidor, de acordo com as
demandas e proposições da indústria cultural. Para Adorno e Horkheimer:
Divertir-se significa concordar […]; significa sempre: não ter de pensar,
esquecer a dor, inclusive quando ela é mostrada. Em sua base está a
impotência. Com efeito, é uma fuga: não, como pretende, fuga da terrível
realidade, mas do último pensamento de resistência que a realidade ainda
pode ter deixado (ADORNO; HORKHEIMER, 1967, p. 156).
Observa-se então que a individualidade cede lugar à pseudoindividualidade,
isto é, o homem está vinculado à identidade de forma não reservada com a sociedade.
Atribuem-se a esse fato as questões da integração e indistinção com o meio em que
ele vive; integra-se à massa, sendo em sociedade apenas um item quantitativo
manipulado pelas normas sociais impostas.
Entre as características da indústria cultural, a partir do eixo de estudo, é
relevante citar a democratização da informação, cujo significado, segundo Adorno, é
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[…] aquilo que até medos do século XIX significava cultura (uma educação
humanística ampla, mas acessível apenas à nobreza e à alta burguesia) não
tem mais vigência à medida que os meios de informação, e mesmo de
formação profissional, vão se generalizando (ADORNO apud ADORNO;
HORKHEIMER, 1967).
Essa democratização leva à comunicação de massa. Segundo John Thompson
(apud ADORNO; HORKHEIMER, 1967), há tipos de interação para a compreensão
da mídia moderna, entre os quais:
Face-face
A interação social ocorre de maneira que os indivíduos estejam em uma
conversa em ambiente descontraído, possibilitando a abertura a novos assuntos.
Interação mediata
O embasamento teórico ocorre de maneira quase instantânea, imperceptível
em sua construção de estímulo e resposta.
Quase-Interação mediata
Em uma base comunicacional de estímulo e resposta, não há interação direta
entre os indivíduos envolvidos no processo.
Para Thompson, a mídia de massa proporciona, mesmo que de forma restrita,
a possibilidade de pensamento crítico, em que os indivíduos não são apenas meros
receptores passivos. A mídia de massa interfere diretamente nos conceitos de público
e privado na vida cotidiana.
Porém, contrapondo-se à teoria da indústria cultural, surge a Escola de
Frankfurt em 1923. Apenas em 1924 se constitui o Instituto para Pesquisa Social ou
Institut für Sozialforschung, cuja composição era de pensadores (cientistas sociais,
filósofos e psicólogos) marxistas. Destaca-se que a Escola foi fechada pela Alemanha
Nazista e apenas reaberta em 1950. Os principais autores dessa Escola são: Walter
Benjamin, Theodor Adorno, Leo Lowenthal, Hebert Marcuse, Max Horkheimer e Erich
Fromm, cujas biografias possuem semelhanças que resultam na produção acadêmica
conjunta.
A esse fato pode-se atribuir a contextualização histórica e biográfica de cada
pensador, pois se observa que apesar de os anos e locais de nascimento de cada
intelectual serem distintos, assim como origem familiar e religiosa e trajetórias de vida,
houve união de filosofias e pressupostos que resultaram na Escola de Frankfurt.
Um dos pensadores que contribuíram para sua fundação foi Walter Benedix
Schönflies Benjamin. Nascido em 15 de julho de 1892, em Berlim (Alemanha), veio
de uma família humilde de comerciantes judeus e, ainda jovem, familiarizou-se com
ideias socialistas, ideal que marca suas obras. Para não se alistar no exército, em
1917, migra para Suíça, local em que estuda, casa-se, tem um filho e se torna doutor
pela Universidade de Berna. A partir de 1920, retorna a Berlim e passa a sobreviver
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com sua família como escritor autônomo. Em 1933, migra para Itália para fugir do
Nazismo e, no mesmo período, integra como colaborador no Instituto de Pesquisas
Sociais. Em 1939, já na França, é capturado pelo Exército Alemão, porém livra-se da
prisão com auxílio de colegas. Um ano mais tarde em sua recaptura pelos nazistas,
comete suicídio.
Convém ressaltar que o legado de Benjamin possui como eixo principal o
materialismo histórico (advindo do socialismo marxista no qual o autor acredita).
Considerando o período histórico vivido pelo autor, seria uma crítica à evolução da
civilização sem consciência ideológica e social.
Um dos principais fundadores, autores e mestres da Escola de Frankfurt, foi
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno, nascido em Frankfurt (Alemanha), em 11
de setembro de 1903. Diferente de Walter Benjamin, as origens de Adorno o inseriram,
por parte de seus pais, em uma cultura que mesclava comércio de vinhos e música
lírica, isso o levou a publicar estudos sobre o tema musical. Em 1920, após cursar
inúmeras disciplinas relacionadas às ciências sociais na Universidade de Frankfurt,
Adorno passa a produzir suas principais obras e funda, juntamente aos colegas, em
1924, o Instituto para Pesquisa Social. Dedica-se aos estudos quando, em 1934,
fugido do Nazismo, passa a lecionar filosofia na Inglaterra.
Logo iria para os Estados Unidos da América, onde os objetos de estudo
passam a ser a sociedade de consumo, considerando todas as experiências que
vivenciou com os horrores da guerra. Antes de falecer, no final da década de 1960,
Adorno retorna a Frankfurt para dar continuidade aos trabalhos no Instituto para
Pesquisa Social.
Para esse autor, especificamente na Escola de Frankfurt, a razão instrumental
gerava, consequentemente, a desvalorização da filosofia e o fim do pensamento
crítico do homem. Isso porque, ao considerar o autor como fugitivo do Nazismo e não
apenas como um mero espectador dos fatos, torna-se evidente a quantificação do
homem, vinculando-o aos fatos imediatos, como foi feito nas Primeira e Segunda
Guerras Mundiais. Assim como no Nazismo, o homem passava a ser apenas mais um
número na massa, um mero espectador.
Já Leo Lowenthal, também nascido em Frankfurt (Alemanha), em 03 de junho
de 1900, era de origem judia, filho de médico, equiparando-se a Adorno em sua cidade
de origem. Na juventude, teve contato com os pressupostos socialistas. Tal contato o
levou a cursar disciplinas de cursos relacionados às ciências humanas e,
posteriormente, a ingressar no Instituto para Pesquisa Social, local em que se
interessou por psicanálise a partir das ideias de Erich Fromm. Assim como alguns
estudiosos da Escola de Frankfurt, para fugir do Nazismo, Lowenthal se estabeleceu
nos Estados Unidos da América, onde permaneceu como estudioso da área de
sociologia até seu falecimento, em 1992. Autor de análises críticas da cultura literária
popular do Renascimento à Modernidade, executou ainda inúmeros estudos voltados
à cultura de massa.
Hebert Marcuse, fundador e membro da Escola de Frankfurt, filho de judeus,
nasceu em 19 de junho de 1898, em Berlim (Alemanha). Em 1920, ingressou na
Universidade de Friburgo para estudar literatura, filosofia, política e economia. Após a
conclusão desses estudos, voltou-se às suas teses de doutorado em Berlim. Em 1933,
ingressou no Instituto para Pesquisa Social, porém mudou-se para Suíça para fugir
da perseguição aos judeus no Nazismo. Ainda fugindo da perseguição, Marcuse
migrou para os Estados Unidos da América e, ao obter cidadania norte-americana,
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integrou o Instituto de Pesquisas da Universidade da Columbia até 1942, quando
iniciou a prestação de serviços relacionados à Guerra, ao governo norte-americano,
até 1951. Sempre exerceu a função de pesquisador e professor nos eixos de
pensamentos relacionados a questões do Capitalismo, especificamente nos campos
de linguagem, cultura e vida cotidiana do homem.
Max Horkheimer, nascido em 14 de fevereiro de 1895, em Stuttgart
(Alemanha), era filho de industrial, com o qual trabalhou até os 19 anos. Ingressou em
cursos na área de ciências humanas até 1925. Um ano depois, casou-se e fundou,
juntamente com os demais autores citados, o Instituto para Pesquisa Social. Com a
perseguição do Regime Nazista, estabeleceu-se nos Estados Unidos da América e
integrou o corpo docente da Universidade de Columbia. Entre 1942 e 1947,
Horkheimer redigiu, juntamente com Adorno, Dialética do Esclarecimento. Ao retornar
para Alemanha, o estudioso retomou as questões referentes ao Instituto para
Pesquisa Social. Ao longo de sua trajetória e suas publicações, procurou constituir
uma teoria crítica da sociedade e, ainda com Adorno, fez veemente crítica à razão
instrumental.
Outro estudioso da Escola de Frankfurt foi Erich Fromm, nascido em Frankfurt
(Alemanha), em 23 de março de 1900. De família judia, filho de comerciante e de dona
de casa, ainda adolescente vivenciou os horrores da Primeira Guerra Mundial, quando
ingressou no curso de Direito na Universidade de Frankfurt. Logo se transferiu para
outro curso em uma universidade distinta. Aos 26 anos, casou-se e tornou-se
especialista em psicanálise pelo Instituto Psicanalítico de Berlim, que influenciou
diretamente sua formação acadêmica. Em 1929/1930, assumiu o Departamento de
Psicologia do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, local em que os primeiros
estudos científico-acadêmicos começaram a ser apresentados ao público. Com a
eclosão da Alemanha Nazista, Fromm migrou para Suíça e, em 1934, para os Estados
Unidos da América, onde exerceu a psicanálise em diversas Instituições até se tornar
cidadão norte-americano em 1940, quando foi possível estabelecer sua própria clínica
especializada em sua área de atuação. Na década de 1950, lecionou na Universidade
do México até se mudar definitivamente para a Suíça, local em que permaneceu até
seu falecimento, em 1980.
Erich Fromm destacava-se não apenas por suas obras, mas por fortes críticas
ao Capitalismo (apesar de jamais pertencer a qualquer escola socialista) e pela
proximidade com o Marxismo, levando ao entendimento de que o homem pode se
transformar em algo que não é, diante de inúmeras e adversas condições. O autor
ainda se tornou notório por obras que interpretavam a Alemanha Nazista a partir de
uma visão social e psicanalítica que rompia com Sigmund Freud.
Todos esses intelectuais vivenciavam fenômenos históricos mundiais que
repercutiram individualmente e na produção intelectual, como a Revolução Russa, a
República de Weimar (Estado alemão iniciado ao fim da Primeira Guerra Mundial, que
durou até 1933 com a constituição da Alemanha Nazista), a ascensão, o
desenvolvimento e a instauração do Nazismo, o qual gerou, consequentemente, o
exílio forçado desses pensadores.
A partir das migrações dos pensadores da Escola de Frankfurt e de seus
reestabelecimentos em regiões distintas do mundo, houve o surgimento da primeira
obra do grupo: Estudos sobre Autoridade e Família, cujo eixo principal era o
questionamento das posturas da classe operária frente à revolução social. Com a
publicação dessa obra, a Escola de Frankfurt sustentou que o Capitalismo passou por
mudanças que levaram a pensar na sociedade de consumo, pois:
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[…] por detrás do véu tecnológico e político de uma democracia, aparece a
realidade humana, a escravidão universal. A perda da dignidade humana,
substituída por uma liberdade de escolha pré-fabricada…A forma consumista
torna-se universal, enquanto que ao mesmo tempo, com o desaparecimento
da competição livre, a qualidade inerente ao bem de consumo deixa de ser
um fator decisivo na sua comerciabilidade (MARCUSE, 1972, p. 14-15 apud
WOLF, 2012).
Os teóricos da linha de pensamento frankfurtiana procuraram compreender a
capacidade destrutiva do Capitalismo como sistema não apenas econômico,
mas também político, induzindo o homem a ser acrítico em temas essenciais
para sua evolução e também como se deram os efeitos da comunicação moderna e
as características em uma sociedade capitalista. Essa afirmação deve considerar o
embasamento teórico oriundo do contexto histórico no qual esses intelectuais estavam
inseridos.
Retomando-se o tema da indústria cultural, tornam-se evidentes as
características da Escola de Frankfurt: construção analítica dos fenômenos existentes,
relatos desses fenômenos à sociedade que os determinam, novos pressupostos da
razão libertadora, emancipação do homem por meio do esclarecimento e, ainda,
utilização da ciência como ideologia, isto é, o combate às características da indústria
cultural que levaram à constituição do homem acrítico, como parte da massa.
Ainda, em reforço às teorias da Escola de Frankfurt, que ficaram conhecidas
como Teoria Crítica, justamente por sua contraposição às teorias ditas tradicionais,
pode-se concluir que os pressupostos frankfurtianos procuravam romper com a razão
instrumental, com alguns pressupostos positivistas e cientificistas limitantes com foco
na racionalidade. A Teoria Crítica configura-se de maneira a induzir a compreensão,
fugindo às temáticas que se aproximam da sociedade.
Em relação à Lógica do Consumo e a Sociedade de Consumo, teoriza-se
sobre o papel dos meios de comunicação inseridos na sociedade de consumo. Em
meados da década de 1940, Adorno lançava o conceito de indústria cultural: criadora
de produtos não mais considerados artísticos, porque eram exclusivamente
dependentes do mercado, oferecendo esses produtos para promover uma satisfação
compensatória e efêmera, agradável aos indivíduos para, por meio disso, poder imporse sobre esses, submetendo-os a seu monopólio e tornando-os acríticos (já que seus
produtos são adquiridos consensualmente):
[…] não é por nada que são escolhidas com frequência entre as fileiras dos
modelos comerciais. O gosto dominante tira o seu ideal da publicidade, da
beleza de uso. Assim o dito socrático para o qual o belo é o útil, por fim,
ironicamente se acha realizado. O cinema faz publicidade para o truste
cultural no seu todo; no rádio, os produtos pelos quais existem os bens
culturais são elogiados mesmo individualizadamente. Por 50 cents vê-se o
filme, que custou milhões, por 10 se obtém o chiclete que traz em si toda a
riqueza do mundo e que a incrementa com a sua venda (2002, p. 191, apud
ADORNO; HORKHEIMER, 1967).
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Em A Vida para o Consumo, Bauman argumenta que:
[…] a busca por prazeres individuais, articulada pelas mercadorias oferecidas
hoje em dia, uma busca guiada e a todo tempo redirecionada e reorientada
por campanhas publicitárias sucessivas, fornece o único substituto aceitável
– na verdade, bastante necessitado e bem-vindo – para a edificante
solidariedade dos colegas de trabalho e para o ardente calor humano de
cuidar e ser cuidado pelos mais próximos e queridos, tanto no lar como na
vizinhança (2008, p. 154).
Em uma primeira análise, temos o conceito irrefutável de que o modelo de
conduta do indivíduo, em nossa sociedade contemporânea de consumo, é
regulamentado pelo ato do consumo. O mercado é modelador da vida cotidiana dos
indivíduos: não há preocupação com o futuro, a prudência, a disciplina ou a
estabilidade. Tais tópicos são completamente refutados em detrimento de
instantâneas formas de satisfação momentânea. Novas necessidades são criadas e
promovidas constantemente, numa incessante remodelação de desejos, sob a forma
de produtos melhores e inéditos.
Obviamente, as mídias estão intrinsicamente relacionadas a essa catarse
consumista. A publicidade de produtos nos meios de comunicação justifica o consumo
imediato de produtos utilizando-se do preceito “esteja à frente do seu tempo”. Há uma
convocação implícita para que o indivíduo escolha. E o discurso midiático acaba
sugerindo, subjetivamente, que todo ato de escolha resulte em consumo.
É importante considerar, portanto, que há três determinações sobre os meios
de comunicação de massa no que diz respeito a apresentação e análise crítica dos
conceitos:
1. Contextualização Histórica: em que surgiram os meios de comunicação de
massa e como esses foram disseminados;
2. Teoria Social: que se refere aos modelos sociológicos implícitos, isto é, os
exemplos aplicados à comunicação de massa que geralmente englobam conceitos
sociológicos pré-existentes;
3. Modelo de Processo de Comunicação: que, na sua essência, é o padrão
no qual o processo de comunicação se enquadra desde sua concepção até sua
execução.
Da união dos três pontos acima temos a Teoria da Mídia, o que compreende
todas as etapas principais e sua sistematização na qual hipóteses e conceitos são
utilizados para abordagem acerca dos estudos sobre comunicação de massa, como
é o caso da Teoria Hipodérmica.
Considera-se que essa teoria teve origem entre os conturbados períodos da
Primeira e Segunda Guerras Mundiais, no qual há a disseminação da comunicação
de massa. Seu princípio é o da análise do homem – integrante da massa – por meio
de uma mensagem de forma direta, certeira e pessoal a todos. Nessa teoria,
endossando o conceito acima, ressalta-se a comunicação de massa como novidade
em meio à contextualização histórica marcada por regimes ditatoriais e totalitários,
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que necessitam de um instrumento de abordagem específico aos indivíduos, de forma
a torná-los receptores. Não é algo meramente simples entre mercado, produto e
consumidor, mas o tipo de comunicação que se aplica e se dirige à massa, de vertente
psicológica e mercadológica em sua aplicação.
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4. MODELO CLÁSSICO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA
Antes de continuarmos com algumas novas propostas atualizadas para a
aplicação das teorias comunicacionais, vamos rever o modelo clássico da
Comunicação de Massa. Vamos partir da seleção de eventos que geram informação
passível de comunicação. Essa seleção inicia o processo sofrendo influência de duas
variáveis: o contexto cultural e a realidade social.
Esses dois influenciadores são dinâmicos devido às mudanças que promovem
sobre a sociedade e que, como um processo de retroalimentação, reinventa-os a partir
de seus valores e crenças.
Consideremos o contexto cultural mais recente, no qual os conceitos de
politicamente correto são objetos de discussão e apreciação tanto acadêmica
quanto popular. Nesse critério, sem qualquer apologia ou justificativa para a ação,
mas apenas executando um exercício genérico, imaginemos uma apresentação de
cunho humorístico em um teatro mais intimista. Nessa apresentação, o humorista
elabora uma série de comentários e de argumentos absolutamente lúdicos, ainda que
com certa ancoragem na realidade social, sobre questões que tangenciam a
discriminação de um determinado grupo. É de se esperar que, devido ao ambiente no
qual essa comunicação é executada, todos os presentes compreenderiam que aquela
é uma encenação que busca evidenciar alguns exageros cometidos por motivos os
mais diversos, desde uma total ingenuidade daquele que verbaliza o texto, até seu
oposto, sua própria exclusão devido a conceitos absolutamente inaceitáveis para o
momento contemporâneo pelo qual passa a sociedade. Nesse critério, o contexto
cultural, em teoria, permitiria a apresentação sem maiores críticas por não se
estabelecer um vínculo direto com a realidade social. Contudo, essa realidade
predomina sobre a apresentação. Tanto os produtores quanto os receptores dessa
mensagem compartilham os limites aceitáveis para o conteúdo apresentado,
fundamentados em crenças e valores que refletem as características predominantes
daquela sociedade.
Nesse ponto, observamos a construção da mensagem e de sua comunicação
como a adequação midiática. Seguramente, uma apresentação como essa não seria
apresentada normalmente em uma mídia de massa de grande penetração, para a qual
o acesso, independentemente de faixa etária, estaria virtualmente liberado, o que se
torna inadequado devido às possíveis e potenciais interpretações que esses
receptores, cujos perfis se encontram em um espectro mais amplo – a massa –, sentirse-iam afrontados ou atingidos negativamente. O efeito mais imediato certamente
seria o de uma resposta na forma de opinião pública em relação ao fato.
Ora, esse modelo clássico contempla a relação entre causa e efeito de uma
mensagem e de sua comunicação, sob as influências do contexto cultural e da
realidade social contemporâneas, devido à forma como foi construído todo o processo,
sua veiculação e a propensão à interpretação daquilo que foi comunicado.
Para efeito de aplicação imediata, podemos lembrar o incidente ocorrido com o
ator Michael Richards do seriado americano Seinfeld (Seinfeld, 1989-1998). Em uma
apresentação sua, em 2006, foi acusado de executar um discurso racista contra o qual
a plateia se manifestou e que gerou uma série de problemas para o ator,
comprometendo inclusive sua atividade profissional nos anos seguintes. A
apresentação se deu uma casa que recebia o evento de stand-up Laugh Factory, que
recebeu diversos outros humoristas com certo sucesso.
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Lembremos que a observação desse modelo comunicacional realizada aqui se
presta apenas como proposta de exercício para o funcionamento do mesmo modelo,
independendo do conteúdo da mensagem e de sua construção. Podemos extrapolar
para outras condições também notáveis, como influências presentes do contexto
cultural e da realidade social. Pensemos, por exemplo, na comunicação de mercado
da indústria tabagista que, nos últimos anos, vem sofrendo limitações cada vez mais
incisivas, iniciando-se com a limitação dos horários de veiculação de campanhas e
locais de consumo. Inicialmente, abriu-se um cenário para discussão em que os
consumidores de produtos dessa indústria sentiram-se discriminados, relegados a um
local recluso para o consumo, o que incluía, em certo momento, a aplicação de multas
para estabelecimentos, como restaurantes e lanchonetes que não oferecessem um
espaço para esse perfil de cliente, ou mesmo para o cliente que não cumprisse com
a nova legislação. A discussão sobre a exclusão ainda existe na atualidade, porém
novos conteúdos foram agregados à comunicação, ampliando o cenário para
abrangências sociais, culturais e mercadológicas mais modernas. Esses conteúdos
abordam, de maneira mais voltada à conscientização, a qualidade de vida e de saúde,
além de questões relacionadas à cidadania.
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5. REFLEXOS
Uma das definições que mais parecem ser paradoxais para a Semiótica é de
estudar fenômenos naturais culturais. Traduzindo a ideia livremente, os processos de
comunicação, as representações, as construções simbólicas aplicadas às artes,
arquitetura e design são objeto de estudo dessa ciência uma vez que são
consequências naturais do desenvolvimento cultural da humanidade. De certa forma,
qualquer que seja a interferência ou produção artificial da humanidade sobre o meio
ambiente é passivo de estudo pelo viés semiótico.
Do ponto de vista das motivações comunicacionais, a mescla dessas
interferências e sua compreensão por parte do outro – entendido como outra cultura,
como um observador – tende a uma expansão para além dos limites geográficos,
políticos e, obviamente, culturais.
Tomemos os cenários sociopolíticos por estudiosos de mercado, partindo de
um conceito amplamente difundido, a Globalização. Sob a ótica mais moderna, que
chega mesmo a inserir um fator de “pós” ao termo – Pós-Globalização – para explicar
um efeito posterior, em que tudo se torna muito mais forma do que conteúdo,
espetacular e midiático. Mas, para o conceito original, um mundo globalizado se
caracteriza por relações de proximidade ideológica, cultural, econômica, sem que
haja, necessariamente, a proximidade geográfica. Dessa maneira, um país de um dos
lados do planeta pode aprender o idioma de outro, distante em outro hemisfério,
devido a interesse em sua produção cultural, como o cinema ou a literatura. Trocas
de produção industrial, em que um país é capaz de produzir a matéria prima, enquanto
outro a processa e manufatura bens de consumo, devolvendo-o ao país de origem. É
o exemplo clássico de uma relação de produção e consumo globalizada, iniciada na
segunda metade do Século XX.
Uma consequência dessa condição é a Mundialização que, de maneira mais
prática, otimiza os processos iniciados nas relações globalizadas como, por exemplo,
buscar alternativas geograficamente mais próximas, reduzindo distâncias, custos e
tempo. É a valorização de culturas aparentadas, com mais potencial de integração,
mas jamais negando – ao menos como conceito – outras nações distantes nesses
mesmos níveis. O efeito mais contundente que podemos observar é o da negação do
outro que, quase um invasor, busca abrigo ou apoio junto daqueles que podem ser
capazes de solucionar problemas imediatos e contundentes. Nesse caso, o início do
século XXI é marcado por refugiados de países chamados terceiro mundo, buscando
asilo em outros da região europeia e, de maneiras muitas vezes brutais, sendo negado
esse abrigo ou qualquer outro tipo de apoio. Podemos inferir que há a preocupação
em manter e preservar a cultura e a economia local do “contágio” a partir da ação dos
“invasores”, a qualquer custo.
Caso a tendência de valorização do meio ambiente seja levada adiante, a
Planetização será uma consequência natural das relações sociais, econômicas e
culturais, em um momento no qual o impacto da ação humana sobre o planeta parece
irreversível. Isso levará grande parcela da comunidade mundial à conscientização de
que temos apenas um único lugar para viver nesse momento da história, que é
necessário preservá-lo e, se possível, restaurá-lo a uma condição anterior à da
dilapidação industrial excessiva.
Correndo o risco de parecer muito mais voltado ao cenário mercadológico, cada
um desses conceitos produz uma gama quase infinita de mensagens e processos
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comunicacionais, incorporando nesses produtos informações que traduzem sua
identidade cultural, local ou mais expandida. Consideremos a indústria do cinema no
ocidente, que procura, às vezes sem muito sucesso, humanizar questões até então
sobre-humanas. A profusão de documentários nos mais variados formatos e
narrativas, que valorizam e propagam o meio ambiente e os riscos que corre sob
égides industriais globais, constituem um contraponto semiótico da cultura
contemporânea, significativamente avançada em tecnologia e conectividade, mas
ainda primitiva na produção de recursos alimentícios de origem animal.
Podemos retomar, a partir desse ponto, a questões de construção da uma
realidade social midiática. Um fator que deve ser considerado é o afunilamento de
visão proporcionado pelas grandes mídias de massa, que tende para uma repetição
quase infinita de mensagens e informações. Elas consolidam a presença do receptor,
na forma de audiência quantificada, sob critérios predominantemente mercadológicos,
revertidos na presença de anunciantes, de um lado, e na anulação de concorrência
de outro. Ao observarmos, por exemplo, duas emissoras de televisão que competem
no mesmo horário pela atenção de um recorte da população, notaremos a presença
de construções rasas de informação, tendenciosas na sua construção de opinião
pública, mas, principalmente, redundantes na fórmula comunicacional. Inicialmente,
prometem informação e entretenimento acessíveis – justificando a superficialidade
daquilo que oferecem –, em seguida, exploram particularidades e subjetividades da
mensagem em apresentações sensacionalistas que refletem muito mais uma fantasia
deturpada pelo emissor do que um retrato da realidade. O mesmo exercício é válido
para manchetes de jornais e capas de revistas do segmento de informação e notícias.
A isso, podemos chamar de Mídia Autista, reclusa a seu próprio universo
redundante, simplesmente porque, dessa forma, garante um volume quantitativo de
receptores. Para essa construção, vejamos o percurso mais corriqueiro para esse
resultado, empregando parcialmente os conceitos de Gatekeeper e Newsmaking,
contudo, antes, é importante revermos o conceito de Natureza do Significado para
que, após isso, a seleção de fatos para sua comunicação componha a noção de
relevância e importância necessárias para que constituam o cenário midiático.
A primeira das quatro categorias de significados é a dos biofatos. Diretamente
relacionado com a natureza como um todo, mas em especial àqueles eventos
considerados acima da ação ou controle humano, tendem a imputar questões
relacionadas aos limites da humanidade. Podemos considerar os efeitos causados por
um terremoto ou um tsunami, como o de 2004, na região do Oceano Índico, que
arrasou toda uma região de litoral frequentada por turistas. Esse evento gerou
inúmeros documentários, reportagens, livros e filmes, na maioria das vezes
corroborando a incapacidade do ser humano em reagir efetivamente contra um evento
dessas proporções. A maioria dessas produções apresentou, de maneiras diversas,
como as pessoas se encontram à mercê de tais ocorrências. Em certa dose, é o efeito
supernatural, divino, da vontade de Deus. A finitude e a fragilidade nos eventos
presentes nessa categoria percorrem discussões e reflexos de cunho filosófico,
apresentando a consternação e a empatia para como os afetados por tal desastre.
A segunda categoria é a dos manufatos, opostos à categoria anterior
especificamente por sua origem. Como o termo sugere, a artificialidade dos eventos
pode abranger os mesmos reflexos dos biofatos, porém com uma perspectiva de
inevitabilidade ponderada, o que significa ter-se a percepção que, mesmo trágico, o
evento poderia ter sido contornado, minimizado ou evitado completamente. A
previsibilidade é o que predomina nesses casos. Grandes desastres metropolitanos,
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como desabamentos ou acidentes com veículos, são, muitas vezes, tratados como
tragédias anunciadas. As condições que levam a tal ocorrência estão – ou deveriam
estar – sob controle de alguém. Pensemos que, ao mesmo tempo em que se projetam
novos edifícios com centenas de metros de altura, também se deve considerar as
formas de evacuação das pessoas nessas construções no caso de uma emergência.
Os sociofatos constituem a terceira categoria. Nessa, os eventos são
puramente sociais e coletivos. Diferentemente da referência a Josef Stálin (18781953) – “Uma única morte é uma tragédia; um milhão de mortes é uma estatística” –,
eventos que envolvem um grande número de pessoas gera um impacto catártico
sobre os demais. A indignação para com um grupo de pessoas em condições de
precariedade de vida, em prol de um grupo maior, que se serve daquele para benefício
próprio, leva à exposição de situações como o trabalho escravo, a exploração infantil
para um imenso número de atos inadmissíveis, caça a grupos por discriminação
étnica, religiosa, de gênero, condição econômica, escolaridade. Essa categoria expõe
a fragilidade dos valores de uma sociedade.
Finalmente, a última categoria é a dos psicofatos, que, em uma escala menor
do que as anteriores, age sobre um grupo com menos componentes, quando não
apenas um indivíduo que tem a capacidade de, por meio de seus atos, influenciar e
afetar outros tantos. Grandes líderes políticos ou mesmo figuras midiáticas que são
considerados ícones na acepção social da palavra – mas que também se enquadram,
aqui, no conceito semiótico – estabelecem vínculos que são, por vezes, o oposto do
que se esperaria. Um exemplo é a chama Síndrome de Estocolmo que, de maneira
breve, afeta uma pessoa intimidada com frequência por um opressor a desenvolver
uma empatia, quase que um reflexo emocional afetivo favorável a esse opressor. Em
um extremo menos traumático, temos os grandes movimentos mercadológicos que
ditam a moda para um determinado período do ano.
É claro que essas categorias não se encontram em módulos isolados, como
tantas outras situações, no que tange as ciências da comunicação, também não se
encontram. As inter-relações existem como, por exemplo, nos cenários do naufrágio
do Titanic, em 1912, que envolvem as três categorias de eventos, cada uma em
intensidades distintas. O que vale é detectar qual delas é, de fato, digna de
comunicação. Outra observação importantíssima é a questão do viés desses eventos.
Por questões de audiência, percebe-se que eventos trágicos têm mais espaço nas
mídias do que aqueles mais lúdicos. Imaginemos um evento não tão improvável: um
grande bando de pássaros sobre um aeroporto. A beleza do evento – milhares de
aves em uma coreografia coordenada sobre uma região da cidade, portanto um
Biofato – poderá muito bem ser colocada em segundo plano devido aos prejuízos
causados nas agendas de voos daquele dia, prejudicando o cotidiano de diversas
pessoas em suas atividades, esses próprios, Sociofatos.
Agora, já tendo preparado o terreno para nosso exercício, comecemos por
selecionar, no universo de fatos reais ocorridos em um determinado período de tempo
– digamos, nas últimas 24 horas a contar de agora – que, para efeito de visibilidade
do mecanismo e as potenciais deformações promovidas pelos conceitos empregados,
serão trabalhadas numericamente na base de 3.000 (três mil) ocorrências, com
proximidade tanto física (portanto tangível, como uma tempestade ou um acidente
metropolitano nas imediações do público ao qual se direciona a notícia em
construção), quanto conceitual (consequentemente intangível, tal qual uma decisão
política tomada em outro país, distante o bastante para não refletir qualquer efeito
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sobre aquele para o qual a notícia está sendo construída, porém com efeitos
ideológicos).
Essas 3.000 ocorrências são eventos que afetam, com alguma intensidade, a
comunidade adjacente ao foco próprio do evento, portanto promovem certo tipo de
repercussão, como uma mensagem, um objeto de comunicação. A intensidade de
seus efeitos se acomoda em uma escala muito ampla para ter uma importância
uniforme a toda comunidade, partindo de um extremo que pode ser a subjetividade
dessa importância. Por exemplo, um semáforo que prejudica o trânsito em um
cruzamento da cidade ou, no extremo da objetividade, a eleição de um novo
representante do governo daquela mesma cidade. Portanto, é necessário que se
estabeleça um critério de relevância para a seleção desses eventos, partindo do
princípio que todos poderão e serão noticiados, transformados em mensagens e
transmitidos por meios de comunicação compatíveis. Em uma escala de relevância,
considera-se a causa ou aquilo que provocou o evento. Pensemos em condições de
ocorrência naturais para uma tempestade ser objeto de notícia: se foi causada apenas
pela sazonalidade climática, sua relevância do ponto de vista causal é menor, uma
vez que é esperado que esse evento ocorra em algum momento e afete o cotidiano
daquela cidade. Porém, se for um ciclone, cuja previsão de ocorrência e intensidade
esteja fora de qualquer possibilidade de previsão, torna-se muito mais importante
informar a população desse fato. Assim, com o uso desse primeiro recorte, as 3.000
ocorrências originais são reduzidas para 300.
Ainda assim, como um produto da comunicação de massa, 300 notícias não
competem igualmente como destaque nos grandes noticiários. Sua relevância pode
ser novamente avaliada, agora sob o prisma da continuidade e efeitos sobre a
comunidade, o que significa quantificar os efeitos no sentido de:
1) por quanto tempo essa ocorrência se estenderá como causadora de reflexos
positivos ou negativos;
2) quantas pessoas serão atingidas ou terão suas vidas alteradas de alguma
maneira por essa ocorrência.
Nesse novo recorte, as questões coletivas implicam muito mais na seleção da
mensagem. Pensemos novamente no exemplo da cidade. Entre o semáforo quebrado
e um novo governador eleito, qual das duas ocorrências representa,
quantitativamente, maior efeito sobre a população? Certamente, o novo governador
supera em questões de coletividade um simples o corriqueiro engarrafamento
causado pelo semáforo danificado. Esse novo critério reduziu as 300 ocorrências
anteriormente selecionadas para 30.
Contudo, não vemos nas primeiras páginas de um jornal impresso ou de um
noticiário televisivo tantas notícias apresentadas com o mesmo nível de importância.
A forma como as notícias são exploradas, seja pelo acesso à informação para a
construção de uma mensagem coerente, seja pela disponibilidade de imagens para a
apresentação do evento, pode tornar algumas naturalmente midiáticas. O interesse
do receptor, no caso a população atingida pelo evento, será muito maior se a
construção da mensagem lhe trouxer todos os componentes necessários para que
adquira o conhecimento sobre o assunto informado. Notícias parciais não cumprem
plenamente seu papel. Os 30 eventos são reduzidos a apenas 3, que podem ser
efetivamente veiculados como uma notícia, uma mensagem construída de forma a ser
absorvida e permita uma exploração minimamente aprofundada, seja por interesse do
receptor ou do emissor. A notícia sobre o novo governador vai permanecer nas mídias
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por muito mais tempo do que a do semáforo quebrado. Isso se o semáforo chegar a
ser uma notícia em algum momento.
Os exemplos apresentados são voltados pontualmente para a área de
informação e notícia, mas todas as áreas relacionadas à comunicação são afetadas
pelo mesmo mecanismo. Pensemos em mercado, para o qual apenas duas ou três
características de um produto, qualquer que seja, são selecionadas entre as dezenas
existentes para construir sua imagem. Um sabão em pó faz mais do que apenas se
econômico, “limpar mais branco” e conservar suas roupas sem desgastá-las.
Uma narrativa literária ou cinematográfica serve-se das mesmas métricas.
Observemos o número de personagens necessários para a narrativa, aqueles que
conduzem e desenvolvem o enredo, aqueles com os quais nos identificamos e
incorporamos a ação contada, aqueles cujos perfis são minimamente desenvolvidos.
Em O Senhor dos Anéis, é quase impossível contar quantos personagens estão
presentes na saga, tanto no formato de livro quanto nos filmes. Porém, apenas alguns
poucos são responsáveis por nos contar a história e nos guiar nos eventos. Os demais
contextualizam o enredo, compõe o cenário e permitem que os protagonistas – o novo
governador, o ciclone, o sabão em pó mais econômico – se destaquem.
Quanto mais essa fórmula é repetida sobre os mesmos critérios, mais
hermética se torna a comunicação, com menos alternativas, previsível e redundante,
pouco criativa, apenas ocupando tempo e espaço nos processos de comunicação de
massa. É essa a essência da Espiral do Silêncio. Não discutimos o semáforo quebrado
há mais de uma semana que nos atrapalha no cotidiano de nossas residências, pois
a grande maioria predominante discute apenas o novo governador eleito. Nosso
semáforo quebrado torna-se surdo e mudo como mensagem, mas o resultado da
eleição será reverberado por muito tempo. Afinal, esse evento é muito mais importante
do que o outro, menor, independentemente do fato de o semáforo quebrado impedir
que você consiga sequer sair da própria garagem com seu carro, tamanho o
engarrafamento causado!
Nossa percepção de realidade, uma realidade social, pode ser construída e
mantida dessa forma.
24
6. CATEGORIAS DA COMUNICAÇÃO: FORMA E CONTEÚDO
Existem adequações para os formatos de construção de conteúdos de
informação. Atualmente, mensagens são construídas enquanto discurso como
sempre foram, mas a convergência de tecnologia proporcionou também a
convergência de linguagem. Vejamos o caso de um anúncio publicitário veiculado em
uma revista impressa.
Até o início do século XXI, uma campanha de comunicação de mercado fazia
uso de diversas mídias – rádio, televisão, revistas, jornais – explorando as
características exclusivas, físicas, de cada um desses meios – áudio, imagem, texto,
informação, respectivamente – construindo peças que se uniam em uma uniformidade
de campanha atenta às características específicas de veiculação e consumo desse
meio por parte do receptor, ou público-alvo ao qual se destinavam tais campanhas.
Com os aprimoramentos tecnológicos de conectividade, interatividade e
portabilidade – apenas para citar alguns dos mais imediatos e acessíveis ao público
em geral, pois praticamente todos esses meios estão disponíveis em qualquer
dispositivo móvel de comunicação, seja na forma de um smartphone ou de um tablet
– é possível ler uma revista no formato digital, em um desses dispositivos, manusear
virtualmente suas páginas até chegarmos a um anúncio típico de veiculação em
revista com foto e texto. Com um toque, a imagem se move tal qual o filme publicitário,
o texto impresso passa a ser narrado, como em uma locução radiofônica ou um ebook. A foto do anúncio pode muito bem ser apenas um frame do filme publicitário,
congelado e sobreposto com um texto, proveniente de um roteiro de locução. Isso,
sem falarmos das trilhas musicais e de efeitos sonoros, uma vez que o anúncio de
revista estático se transformou em um filme publicitário. E há, ainda, a possibilidade
de, com mais um toque, acessarmos o site de ofertas do produto anunciado e
imediatamente executarmos sua compra, com as melhores opções de pagamento e
locais de entrega.
Consideremos essa ideia apresentada como um ponto de partida para
discutirmos o conceito de tangibilidade, o suporte ou substrato no qual a mensagem
se acomoda para que seja transmitida e recebida. Na verdade, não se trata de um
conceito muito complexo, em sua origem: um suporte tangível é aquele que acomoda
fisicamente, de maneira palpável, a mensagem e, nesse caso, enquadram-se todas
as formas de comunicação impressa, desde textos até imagens, em um cenário
composto por revistas, jornais, livros, cartazes, painéis, banners, catálogos, além
daquelas cuja expressão – que discutiremos a seguir – são de cunho absolutamente
natural, como a fala. O suporte intangível, na oposição do conceito anterior, é aquele
que exige um aparato mais elaborado, pois, sem ele, a mensagem não pode ser
recebida, como é o caso da televisão e do rádio. Com o advento da tecnologia digital,
uma revista pode ser tanto tangível quanto intangível, dependendo do seu formato de
recepção, ou seja, pode ser impressa ou virtual.
A realização de uma mensagem, a maneira como seu conteúdo é comunicado
constitui o conceito de Expressão, composto por quatro categorias: Expressões
Corporais, Expressões Impressas, Expressões Eletrônicas e Expressões
Multimidiáticas.
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Expressões corporais
Como o próprio nome indica, são as formas de comunicação que se expressam
a partir do corpo humano, em sua totalidade ou parcialmente. Nessa categoria, o que
prevalece é a identidade autoral da mensagem, o que significa utilizar recursos
pessoais e particulares para a composição da mensagem. Imaginemos um ator que
esteja desempenhando um papel específico, um personagem cujas características de
personalidade e diálogos estejam pré-definidos em um roteiro. Por mais detalhado
que sejam essas informações, outro autor qualquer, que não aquele original, poderá
desempenhar o papel com precisão, porém inevitavelmente empregará
particularidades pessoais, seja por meio de gestos, impostação de voz ou
movimentação em palco. Por esse motivo, a prática de interpretação de um
personagem presume a maneira como esse ator incorpora aquilo que lhe é indicado
por meio do texto, isso sendo válido para o teatro e para a dança.
Variações sobre os temas, como o teatro de sombras, o balé – que usa dos
recursos tanto do teatro quanto da dança – e os espetáculos circenses de palhaços e
mímicos se enquadram nessa categoria. Em sua essência, essa categoria valoriza a
expressão comunicacional original e única, sendo facilmente observada a referência
quando aplicada diretamente ao teatro: uma mesma peça apresentada em dias
distintos, pelo mesmo grupo de atores e no mesmo local, jamais será idêntica em cada
uma dessas apresentações. Cada evento será único e original.
Expressões impressas
Primeiramente, devemos definir a questão de impressão. Sendo empregada
com mais frequência em sua relação com a imprensa – jornais, livros e revistas – suas
demais formas comportam também a pintura, a escultura e a fotografia. O princípio
é o de apoiar a mensagem sobre um suporte, seja na questão da literatura, as
palavras sobre o papel ou um substrato similar (papiro, por exemplo); a pintura suporta
a tinta sobre uma tela ou sobre uma parede; a luz, suportada quimicamente sobre um
papel fotográfico (escrito com luz) preparado para reagir e refletir uma imagem; um
bloco de mármore ou gesso que suporta a ação do autor ao remover os excessos, por
meio do uso de ferramentas apropriadas, moldando uma forma. A definição do
substrato, sobre o qual será sustentada a mensagem e o instrumento usado para tal,
estabelece um padrão, por exemplo, tinta, pintura, tela… De acordo com a
combinação desses componentes, surgem os padrões, como vemos pelas mãos de
artistas como Michelangelo e o Renascimento Italiano, Salvador Dali e o Surrealismo,
Vincent van Gogh e o Pós-Impressionismo, apenas para referenciarmos alguns.
Expressões eletrônicas
Essa categoria caracteriza-se pelos meios de comunicação nos quais a
tecnologia está presente de uma maneira notável e em constante avanço. Devido à
sua capacidade em distribuir uma mensagem a partir de um único ponto de origem
para diversos pontos de recepção, atualmente com poucas limitações físicas de
alcance, esses meios estabelecem e concretizam o conceito de comunicação de
26
massa, de modo eficiente. Trabalham a construção de mensagens com maior
abrangência geográfica, penetração em estratos sociais diversos e distintas
abordagens e versões mais amplas de assuntos comuns, como consequência da
diversificação caracterizada pela própria massa. Nesse recorte, enquadramos
cronologicamente o rádio, o cinema, a televisão e as releituras e recombinações
convergentes presentes no ambiente digital da internet. Para esses meios que
obrigatoriamente exigem o intermédio de um aparato tecnológico, tanto para a
emissão como para a recepção da mensagem, os efeitos de uma comunicação mais
basal são notados com grande destaque.
A transmissão radiofônica da versão de Orson Welles para a novela de ficção
científica A Guerra dos Mundos, no final da década de 1930, causou reflexos sociais.
Mais tarde, o surgimento de grandes ícones como Humphrey Bogart, Marlene Dietrich
e Vivien Leigh marcaram as primeiras décadas do cinema norte-americano, com
efeitos contundentes até a atualidade, com DiCaprios, Pacinos e Kidmans dando
continuidade ao surgimento e reinvenção de padrões de beleza, moda e consumo de
massa. A intromissão do que o cinema iniciou, com um peso muito maior para o
consumo, com espaços para anunciantes competindo com programas de
entretenimento e notícias, marcou sensivelmente a segunda metade do século XX,
com o advento da televisão. Mais recentemente, com o perfil das convergências
presentes em um mesmo aparato, a internet permite que se consuma rádio,
independentemente de ser AM ou FM, e que se assista a um filme ou seriado de
televisão simultaneamente.
Expressões multimidiáticas
O predomínio nessa categoria não está na construção da mensagem
propriamente dita, mas na forma imediata como o receptor responde a ela. Em alguns
casos, é possível interferir na continuidade da mensagem e, por vezes, em seu
conteúdo. O composto de interatividade diferencia, por exemplo, um programa de
rádio convencional do final do século XX, que era colocado no ar com pouco retorno
imediato dos ouvintes: envio de cartas e, mais tarde, telefonemas para pedido de
músicas ou participação de alguma ação de promoção de mercado de um dos
diversos anunciantes e patrocinadores. A atualidade transformou as cartas em emails, muito mais imediatos, e os telefonemas em WhatsApp com a opção de texto ou
voz. O ouvinte passou a ser um colaborador, contribuindo para a construção do
conteúdo de uma mensagem durante sua transmissão. Há uma dose de “jogabilidade”
nessa ação, pois, dependendo da interferência promovida por um receptor, aquele
programa de auditório televisionado pode se desviar de sua pauta original, agregando
novos conteúdos e, simultaneamente, verificando o perfil e interesses daquela
audiência. A convergência se dá, nessa categoria, nos níveis de tecnologia, linguagem
e reflexos comportamentais. Em tecnologia, equipamentos e aparatos são capazes
de transmitir e receber os mais diversos formatos de mensagem; para a linguagem, a
proximidade entre o cinema e a televisão – a partir mesmo da uniformização das
proporções de tela – destaca de maneira notável o que já havia ocorrido nas rádios
AM e FM; nos reflexos, tanto o emissor quanto o receptor de uma mensagem
respondem imediata e instantaneamente aos estímulos apresentados.
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7. RELAÇÕES COMUNICACIONAIS
Os processos de comunicação podem ser ajustados a uma infinidade de
modelos. Contudo, a necessidade de fazer com que esses modelos se relacionem e
produzam um entendimento mais amplo e aplicável só é estabelecida quando
observamos os diversos ângulos de conceituação das mensagens e seus conteúdos.
Um dos conceitos com os quais trabalhamos é o emprego da palavra, no sentido do
conteúdo, da produção e da condução da mensagem. Sua definição dependerá do
uso que podemos estabelecer em três situações distintas, mas jamais herméticas.
Palavra física
Consideremos a existência real da mensagem, como um produto tangível,
ainda que seja subjetivo o emprego desse termo. A grafia de um determinado termo
como, por exemplo, “casa”, pode acontecer a partir de diversas e variadas
combinações de tipologias, formatos e tamanhos, ou mesmo por representações
imagéticas, resgatando o conceito original, como o desenho de uma casa tipicamente
infantilizada – com telhado triangular, cercas e chaminé –, a qual, tal como sua
representação escrita, está presente sobre algum substrato, como papel, madeira,
filme… sendo sua existência material notável e indiscutível. Quando pronunciada por
uma pessoa, não será possível observar sua existência material sem suporte de
equipamentos especializados, porém é indiscutível que exista. Caso contrário, não a
ouviríamos quando pronunciada. Mesmo na forma de som, “casa” existe sob os
critérios físicos da acústica, da mesma maneira que seu contraponto impresso ou
escrito existe do ponto de vista ótico.
Palavra fisiológica
Apesar da terminologia, não devemos ignorar uma fonte artificial para a
produção de uma mensagem. Inicialmente, a voz humana aparenta ser a origem de
toda produção de mensagem e comunicação, contudo não devemos esquecer do
corpo como um instrumento para esse mesmo fim, lembrando o que foi apresentado
anteriormente nas Categorias da Comunicação. A construção da caixa de
reverberação acústica humana, da mesma forma que suas cordas vocais, são
variadas e distintas entre si. Para que uma palavra seja pronunciada, por exemplo
“casa”, uma série de músculos e uma boa dose de energia são necessários para essa
ação. Devido a essas características individuais, cada pessoa despenderá um
conjunto orgânico e doses de energia distintos para a mesma tarefa. A pronúncia é o
primeiro indício dessa diversificação; o segundo é a variação que a mesma pessoa
pode aplicar a essa ação, pronunciando de maneiras diferentes (inflexões) ou com
intensidades – mais agudas ou graves, mais intensas ou fracas –, exercitando as
relações fisiológicas para isso. Para incluir a questão do corpo como ferramenta de
produção de mensagem, imaginemos uma situação na qual o indivíduo está
incapacitado de usar a voz para chamar a atenção de outro. Nesse caso, o corpo –
um bater de palmas, por exemplo – cumprirá essa função, utilizando outros conjuntos
de órgãos, musculatura e energia para isso.
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Palavra psicológica
Aqui, observamos as condições simbólicas envolvidas. Questões semióticas,
culturais e lúdicas se relacionam aos efeitos produzidos pela mensagem. Vejamos,
por exemplo, as variações mais imediatas sobre o exemplo “casa”: de uma forma mais
subjetiva, essa palavra, temporariamente independente de sua construção na
mensagem, seja fonética, grafada ou imagética, pode resgatar conceitos mais
distantes e subjetivos naquilo que ela representa devidamente adequada ao contexto
da mensagem. “Minha casa” pode representar o local no qual resido, incluindo não só
a forma da construção à qual se remete, mas também aos seus similares, como um
apartamento. O efeito psicológico dessa variável é o mesmo se, em lugar de “minha
casa”, fosse empregada a palavra “lar”, que amplia a ideia de residir para habitar e,
de forma mais coloquial, “onde vivo”. A aplicação de um termo, contextualizado em
relação ao conteúdo da mensagem, direciona seu entendimento e, em especial, sua
apreensão no âmbito do significado. Pensemos, para efeito de fixação do exercício,
em “fera” que pode, dependendo do contexto, representar um animal ou alguém cuja
habilidade é superior à da média. Certamente, torna-se claro o viés cultural – no
sentido de particularidade e identidade de uma sociedade – do uso do simbólico para
a construção de uma mensagem com objetivos específicos.
Com esses conceitos, torna-se evidente o critério de Divisão das
Comunicações no que tange ao meio de transporte de uma mensagem. Atualmente,
com o advento da convergência de tecnologia e linguagem, muitos formatos
característicos de comunicação foram agrupados, por vezes, de maneiras um tanto
grosseiras. Considere as questões relacionadas a audiovisual, em específico à
linguagem cinematográfica e à televisiva. De certa forma, a uniformização das
proporções de tela, em 9 unidades por 16, um retângulo horizontal mais longo, veio
diretamente da influência cinematográfica. Aparelhos de televisão, monitores de
computador, telas de smartphones e tablets, filmadoras e câmeras fotográficas (em
menor intensidade) adotaram um recorte de imagem característico de outro meio. De
maneira um tanto equivocada, também a estética foi incorporada. Imaginemos
questões de especificidade de narrativa. Uma tela nas proporções cinematográficas
prevê, também, uma maior área de exposição. São telas grandes, para observação
mais distante, que proporcionam imagens panorâmicas ricas em detalhes. Mesmo que
a tela de um smartphone tenha as mesmas proporções da tela de cinema, não tem as
mesmas dimensões, o que compromete a absorção do conteúdo. Grosso modo,
consideremos assistir a qualquer episódio cinematográfico da saga O Senhor dos
Anéis (The Lord of The Rings, 2001-2003) em uma tela de proporções e dimensões
cinematográficas. Isso pode representar um evento de imersão, enquanto que o
mesmo jamais acontecerá em todo seu potencial em um tablet por melhor que sejam
seus recursos de imagem e áudio.
Existe um predomínio, ou uma capacitação, para que uma mensagem surta o
efeito desejado sobre seu receptor quando integrada ao seu suporte ideal, como
veremos.
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Ótica
As mensagens cujo conteúdo exige o predomínio de um meio ótico para sua
comunicação exploram muito mais questões de simbolismo objetivo, ou seja, que não
requerem muito tempo para sua decodificação devido ao imediatismo e à
instantaneidade que o processo exige. Consideremos como ótica a relação basal de
um semáforo: a apreensão e reposta à mensagem, composta pelas três cores desse
indicador, não permite perda de tempo em sua interpretação, o que está diretamente
relacionado também à instantaneidade de sua emissão. Imagens de indicação
iconográfica, em sua acepção semiótica, incorporam o conceito e comando que
representam.
A grande maioria das placas sinalizadoras de trânsito, com exceção daquelas
que empregam também texto, elabora o conteúdo da mensagem de forma a ser
interpretado e a estimular uma resposta precisa. Mesmo as que empregam texto,
fazem-no com certa parcimônia e objetividade. Isso também pode ser observado nas
interfaces ditas amigáveis ou intuitivas de computadores e outros equipamentos, cujos
comandos são facilmente interpretados. Não se espera que um ícone de comando,
cujo desenho é o de uma impressora em um software qualquer, faça outra coisa
diferente que não enviar um determinado arquivo para impressão. Caso esse ícone,
em lugar do comando esperado, realize outro – desconexão com a internet, por
exemplo –, o processo de comunicação, desde a mensagem até seu efeito, está
corrompido em algum ponto. A relação visual é dominante para que o processo seja
executado com eficácia, entre fotos, logotipos, logomarcas, embalagens, textos,
anúncios publicitários em revistas ou jornais e assim por diante.
Acústica
Podemos migrar a mesma ideia para o cenário sonoro. Contudo, o grau de
dispersão dessa divisão é muito maior do que o anterior. Invariavelmente, o receptor
não se encontra com a atenção exclusiva para a mensagem sonora, pela própria
característica de seu consumo. Não há a necessidade física de direcionar o receptor
para o emissor. Sua construção permite o desempenho de atividades secundárias
que, dependendo de qual seja, pode superar o foco de atenção original, invertendo
suas prioridades. Experimente o exercício de apenas ouvir rádio, qualquer que seja o
conteúdo da mensagem. Estatisticamente, o limite para que o foco de atenção
permaneça exclusivo para o som está entre 3 e 4 minutos; passado esse tempo, o
receptor, naturalmente, terá sua atenção desviada para outro estímulo que se
apresente. É natural pois, se o receptor se mantiver por muito tempo apenas sob o
estímulo sonoro, a tendência ao relaxamento tanto do corpo quanto da consciência
vai se tornando cada vez mais presente. Para evitar esse apagão, o receptor entrará
em atividade o que o levará, na maioria das vezes, à exposição a outro foco de
atenção. Dessa forma, aquilo que antes era uma mensagem sonora passa a ser muito
mais ruído de fundo, apenas dividindo a atenção do receptor parcialmente em sua
forma reduzida do que em seu conteúdo.
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Mista
A combinação dos dois conceitos anteriores é o que constitui o audiovisual,
porém com critérios mais amplos do que apenas um filme. Essa combinação abrange
uma complexidade que segue a questão ótica como um todo, desde a imagem –
estática ou em movimento – até implementos de grafia e texto. Para a acústica,
algumas variações sonoras – como veremos mais adiante – também agregam
camadas de informação e significado. Longe de ser apenas uma simples combinação
de imagem e som, essa divisão proporciona, de maneira mais elaborada, a
reprodução e consequente representação da realidade, promovendo o efeito de
imersão nessa construção, uma vez que todos os estímulos sensoriais podem, de
alguma forma, ser explorados.
Existem limitações, da mesma maneira que existem competências, para que
se construa uma mensagem eficaz fazendo uso dos recursos disponíveis. Por
exemplo, a limitação natural de uma transmissão sonora, radiofônica, é carente de
imagem do ponto de vista objetivo. Contudo, sendo a construção desse conteúdo,
associada ao processo ideal para sua comunicação, é possível estimular a construção
de uma imagem no outro extremo do processo, diretamente, a partir do receptor, que
poderá reconstruir todo um cenário dinâmico advindo de seu próprio repertório.
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