Filosofia e problemas cotidianos1 A filosofia, apesar de ser uma

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Filosofia e problemas cotidianos1
Monica Aiub
A filosofia, apesar de ser uma atividade solitária – pois exige a solidão
pensar por si mesmo, não exige isolamento, ao contrário, nasce
encontro. Do encontro entre as culturas do oriente e do ocidente,
encontro entre diferentes universos, do diálogo entre diversas formas
vida.
do
do
do
de
Platão, no diálogo Teeteto, cuja temática é o conhecimento, afirmava que o
verdadeiro conhecimento está em nós, que necessitamos rememorá-lo, mas
para isso precisamos do outro, caso contrário corremos o risco de nos
perdermos em caminhos equivocados. Já ocorreu de você, pensando
isoladamente, confundir-se, chegar a conclusões equivocadas? Também já
ocorreu de expor seu pensamento ao outro e, ao ser questionado verificar
seu equívoco?
Obviamente, para que isto ocorra é necessário ter abertura ao
questionamento, pois se nos considerarmos os “donos da verdade”
dificilmente nos permitiremos o pensar junto com o outro. Esta é a principal
tarefa da filosofia, pensar junto com o outro, mantendo a autonomia do
pensar por si mesmo. Ou seja, ao mesmo tempo em que estamos abertos
ao diálogo, não aceitamos as ideias, sejam elas nossas ou de outros, sem
antes saber os motivos que temos para aceitá-las.
O surgimento da filosofia, no período Pré-Socrático, caracteriza-se pela
tentativa de compreender os fenômenos da natureza e da sociedade a
partir da observação e da investigação do real, assim como através da
organização racional do pensamento. Em oposição ao pensamento mítico,
que responsabilizava os deuses pelos acontecimentos da vida humana, a
filosofia traz para o ser humano a responsabilidade por seus modos de vida.
Os problemas humanos, cujas causas eram atribuídas aos deuses, e seus
tratamentos realizados através de cultos e rituais, passam a ser
investigados,
estudados,
buscando-se
formas
fundamentadas
na
observação da natureza e da sociedade para abordar as questões. Todavia,
acreditava-se, ainda, na existência de uma lei universal da natureza, que
necessitava ser conhecida e respeitada, encontrando-se, através dela, a
harmonia necessária à saúde.
Corpo, mente, sociedade e natureza deveriam estar equilibrados, sendo o
ser humano o responsável por conhecer a si mesmo e ao universo ao seu
redor, buscando a harmonia, o equilíbrio natural. Assim, a autonomia, o
pensar por si mesmo, exigia, também, conhecimento. É possível autonomia
sem ter conhecimento? Você busca conhecimento sobre as questões
fundamentais a serem resolvidas em seu cotidiano? Quais as fontes de
1
Artigo Publicado no Jornal Virtual Maturidades da Universidade da Maturidade da
PUC-SP.
conhecimento que busca? São seguras? Como avalia os resultados obtidos
em tais fontes? Costuma pensar por si mesmo e, ao mesmo tempo, partilhar
com o outro o que pensou?
É a isso que se propõe a filosofia: buscar o conhecimento para tornar nossas
vidas melhores, para que tenhamos parâmetros para nossas escolhas e,
com isso, tenhamos autonomia, possamos construir nossos caminhos de
acordo com nossas necessidades e possibilidades. Esta deveria ser uma
atividade natural ao ser humano, contudo, muitas vezes temos nossa
capacidade reflexiva diminuída por contextos nos quais estamos inseridos.
Problemas existenciais, sociais, pressões externas, medos, falta de
confiança, conflitos de interesses, ideologias são apenas alguns dos
aspectos que minam nossa capacidade reflexiva. É preciso que confiemos
em nossas capacidades para avaliar, refletir, ponderar, decidir. Será que
podemos confiar em nossos próprios pensamentos? Somos capazes do
“pensar por si mesmo”? Esta é uma capacidade humana, da qual todos
somos dotados. Contudo, corremos o risco dos equívocos, daí a importância
de estabelecermos critérios para a avaliação de nossos pensamentos, de
nossas decisões.
Como a filosofia pode nos auxiliar neste processo?
A filosofia, ao abordar um problema, considera não apenas a questão
isoladamente, mas esta em relação com os contextos nos quais se insere.
Os problemas não existem fora do mundo, fora da vida, mas se constroem a
partir destes. Para abordar uma questão filosoficamente, portanto, o
primeiro passo é compreender sua gênese, sua origem, e para tal, traçamos
sua história. Tratar um problema sem considerar sua história é, em filosofia,
tratá-lo superficialmente.
A partir da história do problema, temos acesso aos elementos que o
constituem, compreendemos seu processo de construção, e conseguimos
alguns dados sobre ele, tais como: “o que é isto?”; “como isto funciona?”;
“por que é desta maneira?”; “para que isto é?”. Muitas vezes, ao
respondermos tais questões o problema se dissolve. Noutras, precisamos
buscar elementos para a construção de novas formas de abordagem, ou
aprendermos maneiras para lidar com a questão.
Entendendo não apenas o problema, mas com o que ele se relaciona, o que
o influencia e o que é influenciado por ele, temos uma visão mais ampla do
conjunto, que nos permite considerar até que ponto a solução que
pensamos é viável ou não. Além disso, é importante que todo esse processo
ocorra de maneira logicamente organizada, a fim de evitar conclusões
precipitadas ou equivocadas.
Experimente considerar os problemas com os quais se depara em seu
cotidiano a partir destes procedimentos. Tal abordagem auxilia sua
reflexão? Como, habitualmente, você costuma pensar sobre suas questões?
Já observou seu próprio processo de pensamento? Não há um padrão
melhor ou pior para o pensar, há aquele que desenvolvemos. O importante
é que consideremos os vários aspectos envolvidos e encontremos as
melhores maneiras para lidar com o problema.
Monica Aiub – filósofa clínica
[email protected]
www.institutointersecao.com
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