Gabarito: Resposta da questão 1:D [Resposta do ponto de vista da disciplina de Biologia] A teoria evolucionista de Charles Darwin propõe que as espécies evoluíram a partir de modificações de ancestrais aparentados entre si. As espécies extintas deixaram descendentes que formaram as espécies atuais. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Filosofia] Na frase do enunciado, Darwin evoca, de maneira irônica, a possibilidade de sua teoria poder estar errada. Para ele, a ancestralidade é uma característica comum a todas as espécies de seres vivos, que, por isso, são considerados como sendo aparentados entre si, mesmo que através de um ancestral longínquo. Vale ressaltar que sua teoria da Evolução contraria tanto o criacionismo religioso quanto o essencialismo platônico ao desconsiderar a existência de espécies únicas e diferentes entre si em essência. Resposta da questão 2: E [Resposta do ponto de vista da disciplina de Filosofia] Galileu era não só um sujeito capaz da mais convincente retórica, como também um sujeito capaz das afirmações mais difíceis. Perante o forte discurso religioso – forte, porém inapropriado para a ciência –, Galileu cumpriu a delicada tarefa de afirmar uma ciência nova baseada puramente na matemática, distante da fé e de qualquer autoridade que não fosse a experiência. “E talvez tenha ocorrido em Siena o efetivo pronunciamento do famoso Eppur si muove. Vejamos que história é essa. Segundo dois livros de meados do século XVIII, logo depois de abjurar, Galileu teria dito “E, no entanto, se move”, referindo-se ao movimento da Terra que acabara de renegar. Os estudiosos sempre acharam esse rompante impossível, ou porque não haveria testemunhas favoráveis para registrá-lo ou porque Galileu saberia das terríveis consequências de tal gesto, se fosse percebido por um inquisidor. Porém, o restauro em 1911 de um quadro espanhol de 1643, no qual aparece inscrita aquela frase, mostra que a história quase certamente já era divulgada com Galileu ainda vivo. E é bastante possível que ele tenha altiva e jocosamente pronunciado tal afirmação numa das recepções de Picolomini”. (P. R. Mariconda & J. Vasconcelos. Galileu – e a nova Física. In Coleção Imortais da ciência. São Paulo: Odysseus Editora, 2006, p. 184) [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Galileu e suas ideias desafiaram a Igreja Católica e seus dogmas na época do Renascimento, propondo uma observação do mundo baseada em caracteres matemáticos e astronômicos e não mais religiosos. A passagem da questão ressalta que, para ele, a Bíblia pode ser interpretada de diferentes maneiras e que, para a observação da natureza, ela não tem valor nenhum. Resposta da questão 3: a) Em discordância em relação às afirmações dos três leitores, observa-se que Thomas Kuhn por meio da obra “A Função do Dogma na Investigação Científica”, estabelece que a ciência não está livre de dogmas. O autor coloca que, devido aos paradigmas que existem como modelos explicativos da realidade, as ciências naturais não são neutras, pois estão permeadas por ideologias e sofrem também a influência econômica. Isto se dá, pois os paradigmas estabelecem modelos que foram criados a partir de um contexto particular, sofrendo a influência das ideologias dominantes e da economia. Estas visões particulares vão se somando a outras e acabam por criar modelos gerais que, por sua vez, estão permeados por dogmas. Não é possível assim, como afirmam os três leitores, determinar que a ciência não possua um lado dogmático. b) Em concordância com o editorial, utilizando-se da perspectiva de Jürgen Habermas, deve-se entender que, segundo este autor, a questão da fé e religião misturou-se no fim da idade antiga e início da idade média. Esta forma de pensar acabou por moldar o modo como o ocidente compreende a questão religiosa. Assim, pensando na justificativa religiosa, Habermas entende que o conflito entre o senso comum, como fonte de explicação imediata, e a razão, com a exigência da justificativa racional, na verdade é mal compreendido. O autor percebe que uma destas concepções não se anula, pelo contrário, ambas as formas se combinam e possuem possibilidade de compreensão e explicação mútua. A maior dificuldade é o fato de que o Estado Liberal pretende determinar o modo como os indivíduos devem perceber a questão religiosa, isto é, o estado secular não compreende a questão da religião sob a visão de uma comunidade religiosa, mas estabelece que as crenças devam ser entendias a partir da visão privada, exigindo uma postura clara e pública da fé professada. Assim ocorre a separação da questão religiosa com a questão racional. A exigência de uma tradução da fé para a linguagem racional cria uma perda do sentimento religioso, apenas para que as maiorias deem o seu consentimento em relação àquilo que o crente acredita, ampliando ainda mais o abismo entre uma possível conciliação entre fé e razão. Resposta da questão 4: 01 + 02 + 16 = 19. Uma ciência madura, de acordo com Kuhn, experimenta fases alternativas de ciência normal e revoluções. Durante o período de ciência normal, as teorias chaves, os instrumentos, os valores e as pressuposições metafísicas, que compreendem a matriz disciplinar, são mantidos fixos, permitindo a geração cumulativa de soluções para quebra-cabeças (puzzle-solutions), enquanto durante uma revolução científica, a matriz disciplinar perpassa uma revisão, isto em vista da solução de perplexidades maiores e mais sérias que perturbavam o funcionamento da ciência normal. Para uma noção geral: Kuhn, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2010. Resposta da questão 5: A Ao contrário de Popper, que pensa a ciência a partir da noção de refutabilidade, Kuhn desenvolve a noção de paradigma para explicar o desenvolvimento científico. Resposta da questão 6: E Somente a alternativa [E] está incorreta. De fato, o texto afirma que “a ciência normal, conforme Kuhn, funciona submetida por paradigmas estabelecidos historicamente num campo contextual de problemas e soluções concretas”, e isso é justamente o contrário do que está afirmado na alternativa [E]. Resposta da questão 7: 02 + 04 + 08 + 16 = 30. Ótima questão, que compara as teorias de Thomas Kuhn e de Karl Popper a respeito do desenvolvimento científico. Somente a afirmativa [01] é falsa. Ambos não consideram que o desenvolvimento ocorre de forma linear. Entretanto, a forma como explicam tal desenvolvimento é bastante diferente, sendo que a teoria de Kuhn está bem expressa nas afirmativas [02] e [08], enquanto que a de Popper está apresentada nas afirmativas [04] e [16]. Resposta da questão 8: Popper parte do pressuposto de que não podemos atingir a verdade de uma teoria, pois são todas indutivas (método proposto pelo positivismo), portanto não pode abarcar todos os casos a que se propõe. Assim o filósofo estabelece como método mais adequado para as ciências, o método da refutação. O critério de falseabilidade relaciona-se com a necessidade de submeter uma teoria à prova, buscando demonstrar sua falsidade ou de refutá-la com base em um método crítico. Este método de pesquisa científica proposto por Popper consiste em formular hipóteses e depois, por meio de exames experimentais cruciais, procurar exaustivamente contestá-las ou refutá-las. Se essas se permitem ser testadas com o intuito de serem falseadas, então elas são consideradas teorias científicas. Em outras palavras, somente teorias capazes de se submeterem ao crivo da refutação ou falseamento podem ser consideradas científicas. Para Popper, uma teoria se manterá válida até o momento em que não resistir à refutação de outras possíveis teorias. Quando uma teoria resiste à refutação, a objetividade de sua descrição do mundo real é corroborada: é essa a condição que garante a validade de um discurso científico. A validade científica de uma teoria, portanto, não se mede por sua verdade confirmada indutivamente, mas pela possibilidade de, por um método crítico, intersubjetivamente desenvolvido, resistir à refutação ou ao falseamento. Resposta da questão 9: A] Segundo as teorias desenvolvidas por Karl Popper, todo conhecimento científico é falível e provisório, pois não é possível confirmar a veracidade de uma teoria apenas pela confirmação de alguns resultados que esta teoria pretende prever. Os resultados previstos em uma teoria podem ser alterados por de fatores diversos que podem impossibilitar a previsão feita sobre todos os resultados a que a teoria se refere. Desta maneira, para este autor, a verdade é inalcançável, só podemos nos aproximar dela por meio de tentativas. Segundo ele, as teorias devem passar por um processo de falseamento, no qual por meio de procedimentos científicos racionais e sérios, seja possível identificar o alcance das previsões que a teoria pretende. Quanto mais a teoria puder resistir às tentativas de falsificação, mais confiável ela é. Este método proposto por Karl Popper é conhecido como falsificacionismo. Portanto, mesmo que uma teoria resista a este método e seja considerada uma teoria científica válida, ela jamais poderá ser geral ou definitiva. Os itens [II], [III] e [IV] descrevem de forma coerente conceitos trabalhados nas teorias desenvolvidas por Karl Popper. Resposta da questão 10: A No texto da questão dois pontos são destacados como referente ao papel dos direitos humanos, sendo eles: o “caráter racional e regulador da vida humana” e “ratificam a ordenação normativa para comandar a sociedade”. Estas afirmações encontram respaldo na filosofia política dos contratualistas que estabelece que os direitos inerentes aos seres humanos, e que não estão sujeitos à discussão, pois surgem devido à conveniência dos homens que abrem mão de sua liberdade para viverem em sociedade. Assim, surge o direito natural como polo regulador dos limites que a sociedade organizada não pode ultrapassar na consolidação de sua estrutura. Contudo, o texto nos coloca que devido ao progresso das ciências atualmente se descaracterizou sua fundamentação passando estes, a serem tratados como conceito obsoleto que pode ser questionado livremente sem que haja qualquer empecilho caso se julgue que eles não atendam mais as concepções vigentes. Portanto, da mesma forma, os direitos humanos não se fazem mais uma garantia absoluta para a proteção a vida, mas constituem-se como meras referências formais na realidade universal. Resposta da questão 11: D Segundo o fragmento de texto, embora os procedimentos científicos sejam baseados em procedimentos lógicos, deve-se atentar para o fato de que a Lógica é o ramo da filosofia que trata das leis gerais que regem o pensamento, no intuito de alcançarmos a verdade através da análise da correlação entre as informações obtidas pelo intelecto. Assim, a lógica se divide basicamente em três tipos de raciocínio: dedutivo, indutivo e analogia. Estes raciocínios são estruturados por meio de proposições ou premissas (frases que relacionam conceitos afirmando-os ou negando-os) que geram inferências. As inferências representam o resultado de uma operação que afirma a verdade de uma proposição em decorrência de outras proposições verdadeiras. Na inferência da dedução, a verdade da conclusão obtida está contida dentro das proposições, sem que o conteúdo descrito na conclusão vá além das informações descritas. Na inferência da analogia, as proposições são dispostas por meio da comparação com outras proposições, mas não há uma garantia de verificação, portanto sua conclusão não pode ser validada. Na inferência da indução, a conclusão vai além do conteúdo descritos nas proposições, isto quer dizer que a conclusão extrapola o número de casos descritos nas proposições, criando uma generalização. No caso da teoria de Darwin, suas conclusões foram obtidas por meio de inferências indutivas. Resposta da questão 12: No primeiro texto o emprego da palavra ciência esta no sentido de que o conhecimento, ou seja, as teorias científicas não são absolutas, elas são temporais e podem ser desmentidas, ou “falseadas”. Segundo Karl Popper as explicações fornecidas pelas teorias científicas não podem assumir um caráter infalível, com o desenrolar do tempo, formas de conhecimento, isto é, teorias mais gerais e mais amplas substituirão as teorias antigas assim como na teoria darwiniana da evolução das espécies, nas quais espécies mais adaptadas ao meio superar seus antecessores. No segundo texto o termo ciência é utilizado como um conhecimento integrado no qual não se pode prever ou determinar com exatidão seu sentido, separado do todo. O hermetismo propõe uma síntese do universo que recebe influências da realidade suprassensível, ou seja, a influência do pensamento de Platão, mas destacadamente de Plotino, marca esta concepção de ideal que não pode ser alcançado plenamente, mas que pode ser apenas contemplado. O conhecimento da ciência seria então uma compreensão divinizada da natureza. Resposta da questão 13: A ciência propõe teorias e hipóteses como forma de se produzir conhecimento a partir do exercício da observação da realidade empírica e da experimentação. Tal forma de produção de conhecimento não se situa nas fórmulas prontas e dogmáticas que interpretam o mundo. Arquimedes foi, de fato, um físico e matemático que desconfiava das verdades dogmáticas e absolutas. A ciência “pede” que se admita que o mundo assuma uma determinada forma, isso significa que o conhecimento científico tem um caráter hipotético e dinâmico, diferente da visão dogmática que impõe uma interpretação inflexível, não baseada em experimentos dos fenômenos. Um pedido na concepção metodológica da ciência soa como uma “suponhamos”, abrindo assim portas para o levantamento de hipóteses capazes de se aproximar do mundo real. Resposta da questão 14: Para Kuhn, a alteração dos paradigmas dificulta a continuidade dos esforços realizados para solucionar problemas que surgem no interior do próprio paradigma. Os paradigmas se alteram quando ocorre uma ruptura radical, que altera significativamente as condições vigentes, criando assim um novo paradigma. Contudo, os ecos do paradigma anterior ainda se farão presentes por um longo período. Assim, a sorte para Kuhn representa a grande dificuldade que a mudança de paradigma representa. Portanto, quanto maior o esforço (adesão) para a manutenção de um paradigma, mais haverá tempo para que as práticas desenvolvidas pela ciência e pelos cientistas se mantenham no intuito de obter resultados, mesmo que difíceis, para a solução dos problemas que surgem. Resposta da questão 15: Para Kuhn, um paradigma maduro mostra-se fortemente enraizado na comunidade científica, isto faz com que se torne difícil realizar mudanças em concepções que se apresentam fortemente enraizadas. Todas as sucessões de concepções científicas trazem consigo mudanças que questionam os modelos que se apresentam como explicativos da realidade. A libertação de formas de compreender a realidade, neste sentido, refere-se às maneiras particulares de ver o mundo. Daí a resistência da comunidade científica em se desvincular de suas concepções consagradas. Por exemplo, destaca-se a complexidade enfrentada pela astronomia no caso da mudança de explicação da realidade proposta pelo modelo geocêntrico pelo modelo heliocêntrico. Resposta da questão 16: Segundo Kuhn, as mudanças de paradigmas são chamadas de “revoluções científicas”, pois estas mudanças trazem consigo inovações científicas importantes. Kuhn reconhece que é necessário “mudar as regras do jogo” para que se avance no desenvolvimento científico. Esta nova condição, ou melhor, nova exigência, modifica o modo existente de compreender a realidade e colabora para uma ampliação da visão de mundo, pois o paradigma que foi quebrado já alcançou seu ápice no que diz respeito às respostas que poderia formular para a compreensão do mundo. Fazem-se necessárias, assim, novas maneiras de formular respostas mais abrangentes. Estas mudanças sempre trazem consigo rupturas significativas, senso assim determinadas de revoluções, em, outras palavras, no caso da ciência, revoluções científicas. Resposta da questão 17: D A experiência ou experimentação é o estudo dos fenômenos em condições que foram determinadas pelo observador e sua importância está no oferecimento de condições privilegiadas para a observação, podendo assim, repetir e varias as experiências, tornar mais rápido ou mais lento os fenômenos e até simplificá-los. No geral a experimentação confirma a hipótese, porém quando isto não ocorre, precisam repeti-la ou modificá-la. A observação científica é rigorosa, precisa, metódica e, portanto, orientada para a explicação dos fatos e para isto, se utilizam de microscópio, telescópio, sismógrafo, balança, termômetro, entre outros instrumentam que proporcionam maior rigor à observação bem como a tornam mais objetiva porque quantificam o que está sendo observado. Resposta da questão 18: A Karl Popper, um dos principais filósofos da ciência do século XX, analisa o progresso científico mediante a eliminação do erro e das refutações teóricas, que devem ser criticadas experimentalmente. Resposta da questão 19: C A objetividade da ciência é bastante controversa. Atualmente, sabe-se que não existe neutralidade nem objetividade absoluta na ciência. Esta, ainda que se utilize de métodos rigorosos e dados empíricos, é guiada por uma série de regras institucionais e limitações teóricas e metodológicas que não lhe permitem desenvolver um conhecimento absolutamente correto e objetivo. O que existe são aproximações e formas de criação de legitimidade para o conhecimento produzido por cientistas. Resposta da questão 20: E A alternativa [E] é aquele que mais se aproxima à argumentação de Galileu Galilei. Sua visão, acompanhando o pensamento renascentista, não se baseia na religião para a explicação das causas e do universo, mas coloca a razão como instrumento principal de conhecimento. Tal conhecimento exigiria uma linguagem adequada (a matemática) e um método (a experimentação).