Rev Dor 2010;11(1):12-19 ARTIGO ORIGINAL Comparação entre o sumatriptano, a trimebutina, o meloxicam e a associação dos três fármacos no tratamento agudo de enxaqueca * Comparison among sumatriptane, trimebutine, meloxicam and the association of those drugs in the acute treatment of migraine. Rafael Higashi1,2,3,5, Pedro Ferreira Moreira Filho1, Abouch Valenty Krymchantowski1,3,4 * Recebido do Departamento de Neurologia do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A crise aguda de migrânea geralmente leva a grande incapacidade econômica e social para aqueles que sofrem deste transtorno. A fisiopatologia é complexa e envolve múltiplos mecanismos centrais e periféricos. O tratamento agudo tem como objetivo aliviar a dor e os fenômenos associados como a náusea e fotofobia, sem causar efeitos adversos importantes. Apesar do desenvolvimento de fármacos específicos como os triptanos, para o tratamento agudo, a sua eficácia ainda é baixa. O objetivo deste estudo foi comparar a eficácia e a tolerância da trimebutina, meloxicam, sumatriptano e a associação dos três fármacos no tratamento das crises agudas de migrânea de moderada a forte intensidade. MÉTODO: Após aprovação pelo Comitê de Ética das Instituições foram incluídos neste estudo prospectivo, duplamente encoberto e aleatório, 50 pacientes, sendo 43 mulheres e 7 homens, com idade entre 18 e 65 anos, portadores de migrânea com ou sem aura, que utilizavam medicação profilática, exceto anti-inflamatórios não esteroides (AINES). Foram tratadas quatro crises de migrânea de moderada a forte intensidade de cada paciente, com 200 mg de trimebutina, 50 mg de sumatriptano, 15 mg de meloxicam ou com 1. Departamento de Neurologia do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. 2. Serviço de Neurologia do Hospital Naval Marcílio Dias, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3. Centro de Tratamento da Dor de Cabeça do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4. Instituto de Neurologia Deolindo Couto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 5. Hospital Pan Americano, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Endereço para correspondência: Dr. Rafael Higashi Rua Real Grandeza 108 (Real Medical Center), Sala 226 – Botafogo 22281-034 Rio de Janeiro, RJ. Fones: (21) 3439-8999 – (21) 8300-5500 E-mail: [email protected] 12 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 12 a associação de 200 mg de trimebutina, 50 mg de sumatriptano e 15 mg de meloxicam. Os pacientes foram aleatorizados em 4 grupos de acordo com a ordem de chegada, de modo que o primeiro paciente incluído recebeu trimebutina para a primeira crise, sumatriptano para a segunda crise, meloxicam para a terceira crise e a associação entre os 3 fármacos para a quarta crise. O segundo paciente incluído recebeu sumatriptano para a primeira crise, meloxicam para a segunda crise, a associação para a terceira crise e a trimebutina para a quarta crise, e assim sucessivamente. A intensidade da crise de migrânea foi avaliada a partir da ingestão da cápsula com escala categorizada verbal na qual: 0 - sem dor, 1 - cefaleia leve, 2 - cefaleia moderada e 3 - cefaleia intensa. Cada paciente foi orientado para preencher o relatório de crise para cada crise tratada, na qual anotava a intensidade da cefaleia, a presença de náusea, fotofobia e dos efeitos adversos, e o uso da medicação de resgate, 100 mg de indometacina por via retal. RESULTADOS: Completaram o estudo 42 pacientes. Em uma hora 9,5% dos pacientes que utilizaram a as­ sociação dos fármacos estavam livres da dor, comparados com 14,2% com a trimebutina e sumatriptano e 2,4% com o meloxicam (p = 0,479). Em duas horas 21,4% dos pacientes que usaram a associação estavam livres da dor, comparados com 11,9% com a trimebutina, 26,1% com sumatriptano e 23,8% com o meloxicam (p = 0,555). Tanto a associação trimebutina, sumatriptano e meloxicam como os fármacos trimebutina, sumatriptano e meloxicam isolados foram efetivos para controlar a náusea e fotofobia após 1 e 2h para náusea (p = 0,157 e 0,587) e fotofobia (p = 0,671 e 0,929, embora sem diferença estatisticamente significativa entre eles. Dez pacientes em uso da associação dos fármacos, 6 em uso da trimebutina, 5 em uso do sumatriptano e 5 em uso do meloxicam relataram efeitos colaterais. CONCLUSÃO: Este estudo demonstrou que a as­ sociação sumatriptano, meloxicam e trimebutina não foi c Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor 23.03.10 15:24:22 Comparação entre o sumatriptano, a trimebutina, o meloxicam e a associação dos três fármacos no tratamento agudo de enxaqueca superior a cada um desses fármacos isolados para controlar a dor, as náuseas e a fotofobia nas crises agudas de migrânea de moderada a forte intensidade. Além disso, a combinação dos fármacos apresentou maior incidência de efeitos adversos. Descritores: meloxicam, migrânea, sumatriptano, trimebutina. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Acute migraine crisis often leads to major economic and social disability for those suffering from such syndrome. Pathophysiology is complex involving several central and peripheral mechanisms. The acute treatment aims at evaluating pain and associated phenomena, such as nausea and photophobia, without causing major adverse effects. Notwithstanding the development of specific drugs for the acute treatment, such as triptanes, their efficacy is still low. This study aimed at comparing efficacy and tolerance of trimebutine, meloxicam, sumatriptane and the association of such drugs to treat moderate to severe acute migraine crises. METHOD: After the Institutions’ Ethics Committee approval, participated in this prospective, double-blind and randomized study 50 patients, being 43 females and 7 males, aged between 18 and 65 years, with migraine with or without aura, under prophylactic medication, except nonsteroid anti-inflammatory drugs (NSAIDS). Patients were treated for 4 moderate to severe migraine crises with 200 mg trimebutine, 50 mg sumatriptane, 15 mg meloxicam, or with the association of 200 mg trimebutine, 50 mg sumatriptane and 15 mg meloxicam. Patients were randomized in 4 groups according to their arrival, so that the first patient included received trimebutine for the first crisis, sumatriptane for the second crisis, meloxicam for the third crisis and the association of the three drugs for the fourth crisis. The second patient included received sumatriptane for the first crisis, meloxicam for the second crisis, the association for the third crisis and trimebutine for the fourth crisis, and so on and so forth. Migraine crisis intensity was evaluated as from the ingestion of the first tablet with verbal categorized scale where: 0 = no pain, 1 = mild headache, 2 = moderate headache, 3 – severe headache. All patients were oriented to fill a crisis report for each treated crisis, where they would record headache intensity, presence of nausea, photophobia and adverse effects and the use of rescue medication, 100 mg of rectal indometacin. RESULTS: Forty-two patients completed the study. In one hour 9.5% of patients using the association of drugs Rev Dor 2010;11(1):12-19 were free of pain, as compared to 14.2% with trimebutine and sumatriptane and 2.4% with meloxicam (p = 0.479). In two hours 21.4% of patients using the association were free of pain, as compared to 11.9% with trimebutine, 26.1% with sumatriptane and 23.6% with meloxicam (p = 0.555). Both the association of trimebutine, sumatriptane and meloxicam and trimebutine, sumatriptane and meloxicam alone were effective to control nausea and photophobia after 1 and 2 h for nausea (p = 0.157 and 0.587) and photophobia (p = 0.671 and 0.929) although without statistically significant difference among them. Ten patients under the association of drugs, 6 under trimebutine, 5 under sumatriptane and 5 under meloxicam have reported side effects. CONCLUSION: This study has shown that the as­ sociation of sumatriptane, meloxicam and trimebutine was not better than each of those drugs alone to control pain, nausea and photophobia during moderate to severe migraine crises. In addition, the combination of drugs has shown a higher incidence of adverse effects. Keywords: meloxicam, migraine, sumatripta���������� ne, trimebutine. INTRODUÇÃO Migrânea é um transtorno primário de cefaleia episódica, caracterizada por uma combinação de alterações neurológicas, gastrintestinais e autonômicas1. Estimativas americanas relatam que mais de 17% das mulheres e 6% dos homens sofreram pelo menos uma crise de migrânea no último ano2. De acordo com estudo conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre o Peso Global das Doenças, a migrânea foi classificada entre as primeiras causas de doença que levam a incapacidade no mundo3. O tratamento sintomático tem como objetivo abolir ou diminuir as crises de cefaleia, assim como os sintomas associados da crise de migrânea, com menor incidência de efeitos colaterais, recorrência da dor e restauração da função normal4,5. Os principais fármacos usados como sintomáticos são os analgésicos, antieméticos, ansiolíticos, antiinflamatórios não esteroides (AINES), derivados do ergot, esteroides, neurolépticos e mais recentemente, os agonistas seletivos 5-HT1, os triptanos. Apesar dos triptanos terem contribuído enormemente para o alívio da crise de migrânea, muitos pacientes não obtêm resposta e alívio completo, sendo que 31% dos pacientes descontinuam o uso do triptano pela falta de eficácia, recorrência da cefaleia, custo e/ou efeitos colaterais6-8, portanto novas propostas terapêuticas são necessárias9. 13 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 13 23.03.10 15:24:22 Rev Dor 2010;11(1):12-19 Higashi, Filho e Krymchantowski A patofisiologia da migrânea é complexa, e está relacionada a diferentes sistemas neuroquímicos. Isto envolve pelo menos uma disfunção no sistema serotoninérgico, inflamação neurogênica, hipersensibilidade dopaminérgica. Teoricamente direcionar vários sistemas biológicos poderia ser o ideal10-12, apesar da falta de estudos conclusivos para isto. Estudos têm demonstrado que a combinação de um triptano com um AINE é melhor em termos de eficácia e ausência de dor sustentada, comparado com o uso de um triptano isolado 13-15. Da mesma forma o uso de um fármaco gastrocinético, como a trimebutina, em as­sociação com o rizatriptano demonstrou ser seguro e mais efetivo quando comparado com o uso isolado do rizatrip­ tano16, possivelmente pela ação na gastroparesia da crise de migrânea, acelerando a reabsorção do triptano. A trimebutina é um fármaco derivado opioide, com ação exclusivamente periférica nos receptores κ, μ e γ do plexo mioentérico de Aouerbach e submucoso de Meissner do trato digestivo. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da combinação do sumatriptano, trimebutina e do anti-inflamatório não esteroidal meloxicam, isolados ou associados no controle da dor das crises de migrânea de moderada a forte intensidade. MÉTODO Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) da Universidade Federal Fluminense e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), foram incluídos em estudo prospectivo, duplamente encoberto e aleatório 50 pacientes do ambulatório especializados em cefaleia do HUAP da Universidade Federal Fluminense e do Centro de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça do Rio de Janeiro, sendo 43 mulheres e 7 homens, com idade entre 18 e 65 anos, com diagnóstico de migrânea com ou sem aura de acordo com os critérios da Sociedade Internacional de Cefaleia. Todos os pacientes utilizavam medicação profilática, exceto AINES. Foram tratadas quatro crises de migrânea de moderada a forte intensidade de cada paciente, com 200 mg de trimebutina, 50 mg de sumatriptano, 15 mg de meloxicam ou com a associação de 200 mg de trimebutina, 50 mg de sumatriptano e 15 mg de meloxicam. Para manter a mesma aparência e permitir o estudo encoberto, os fármacos forma incluídos em cápsulas de gelatina animal com coloração branca inerte, de dióxido de titânio. Todos os pacientes receberam quatro frascos marcados com as letras A, B, C e D e cada frasco continha uma cápsula com trimebutina, sumatriptano, meloxicam ou a associação dos três fármacos. Os pacientes foram aleatorizados em 4 grupos de acordo com a ordem de chegada, de modo que o primeiro paciente incluído recebeu trimebutina para a primeira crise, sumatriptano para a segunda crise, meloxicam para a terceira crise e a associação entre os 3 fármacos para a quarta crise. O segundo paciente incluído recebeu sumatriptano para a primeira crise, meloxicam para a segunda crise, a associação para a terceira crise e a trimebutina para a quarta crise, e assim sucessivamente. Da segunda até a quarta crise os pacientes foram orientados para tomar o fármaco somente após um intervalo mínimo de 2 dias. Naqueles pacientes em que após 2h do uso do fármaco do estudo, a dor de moderada a forte intensidade persistiu, era permitido usar 100 mg de indometacina por via retal. A intensidade da crise de migrânea foi avaliada a partir da ingestão da cápsula com escala categorizada verbal na qual: 0 - sem dor, 1 - cefaleia leve, 2 - cefaleia moderada e 3 - cefaleia intensa. Cada paciente foi orientado para preencher o relatório de crise para cada crise tratada, na qual anotava a intensidade da cefaleia, a presença de náuseas, fotofobia e os efeitos adversos, e o uso da medicação de resgate. Pacientes que estavam recebendo tratamento para qualquer outra condição médica, mulheres em idade fértil que não usavam contraceptivos e aqueles que utilizaram qualquer tipo de medicação sintomática para migrânea até 6h antes, foram excluídos do estudo. Os dados foram submetidos à análise estatística pelo teste não paramétrico de X2 (Qui-quadrado) e teste não paramétrico de Friedman e adotou-se o nível de 5% de probabilidade (p ≤ 0,05). RESULTADOS Completaram o estudo 42 pacientes, sendo 35 mulheres e 7 homens, sendo que 5 pacientes não tiveram crise em número suficiente para completar o estudo 3 abandonaram o estudo, 2 deles por receio de eventuais efeitos adversos dos fármacos. Apresentaram migrânea sem aura 32 pacientes e migrânea com e sem aura 10 pacientes. A média de idade dos pacientes que completaram o estudo foi de 34 anos. A trimebutina foi utilizada para tratar 24 crises moderadas e 18 intensas. O sumatriptano foi utilizado para tratar 18 crises moderadas e 24 intensas. O meloxicam foi utilizado para tratar 21 crises moderadas e 21 intensas 14 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 14 23.03.10 15:24:22 Comparação entre o sumatriptano, a trimebutina, o meloxicam e a associação dos três fármacos no tratamento agudo de enxaqueca e a associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam foi utilizada para tratar 19 crises moderadas e 23 intensas. A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam foi usada em 19 pacientes que apresentavam náusea, a trimebutina em 23 pacientes, o sumatriptano em 18 pacientes e o meloxicam em 19 pacientes. A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam foi usada em 22 pacientes que apresentavam fotofobia, a trimebutina em 26 pacientes, o sumatriptano em 23 pacientes e o meloxicam em 23 pacientes que apresentavam o sintoma fotofobia. A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam controlou a dor em 1h em 4 dos 42 pacientes estudados, a trimebutina em 6 dos 42 pacientes, o sumatriptano em 6 dos 42 pacientes e o meloxicam apenas em 1 dos 42 pacientes. (p = 0,479) (Tabela 1). A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam controlou a dor em 2h em 9 dos 42 pacientes, a trimebutina em 5 dos 42 pacientes dos 42 pacientes, o sumatriptano em 11 dos 42 pacientes e o meloxicam apenas em 10 dos 42 pacientes. (p = 0,555) (Tabela 2). A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam diminuiu a dor para leve intensidade após 1 e 2h, respectivamente em 9 e 13 dos 42 pacientes, a trimebutina respectivamente em 6 e 10 dos 42 pacientes, o sumatriptano, respectivamente em 8 e 6 dos 42 pacientes e o meloxicam, respectivamente em 13 e 13 dos 42 pacientes estudados. A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam abo- Rev Dor 2010;11(1):12-19 liu a náusea após 1 e 2h, respectivamente em 4 e 7 dos 19 pacientes que apresentaram o sintoma, a trimebutina em 5 e 8 dos 23 pacientes que apresentaram o sintoma, o sumatriptano em 2 e 6 dos 18 pacientes que apresentaram o sintoma e o meloxicam em 8 e 10 dos 19 pacientes que apresentaram o sintoma (Tabelas 3 e 4). A associação trimebutina, sumatriptano, meloxicam aboliu a fotofobia após 1 e 2h, respectivamente em 4 e 7 dos 22 pacientes que apresentaram esse sintoma, a trimebutina em 7 e 4 dos 26 pacientes que apresentaram o sintoma, o sumatriptano em 3 e 7 dos 23 pacientes que apresentaram o sintoma e o meloxicam em 5 e 9 dos 23 pacientes que apresentaram o sintoma (Tabelas 5 e 6). A trimebutina, o sumatriptano, o meloxicam e a associação dos três fármacos foram efetivos para eliminar a náusea e fotofobia embora não tenha sido identificada diferença estatisticamente significativa entre eles após 1 e 2h para ambas náusea (p = 0,157 e p = 0,587) (Tabelas 3 e 4) e fotofobia (p = 0,671 e p = 0,929) (Tabelas 5 e 6). Os efeitos adversos foram mais frequentes quando os pacientes usaram a associação dos três fármacos (23,8%), seguido da trimebutina (14,3%). Menor incidência quando usaram o sumatriptano (11,9%) e o meloxicam (11,9%), embora sem diferença estatisticamente significativa entre eles. Os efeitos adversos descritos quando os pacientes usaram a associação dos três fármacos Tabela 1 – Intensidade da dor após 1 hora da ingestão dos fármacos. Após 1h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem dor 6 6 1 4 Dor leve 6 8 13 9 Dor moderada 17 12 13 12 Dor intensa 13 16 15 17 Total 42 42 42 42 X2 = 8,66 (p = 0,479). Não Significativo Tabela 2 – Intensidade da dor após 2 horas da ingestão dos fármacos. Após 2h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem dor 5 11 10 9 Cefaleia leve 10 6 13 13 Cefaleia moderada 12 11 10 10 Cefaleia intensa 15 14 9 10 Total 42 42 42 42 X2 = 7,94 (p = 0,555). Não Significativo 15 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 15 23.03.10 15:24:22 Rev Dor 2010;11(1):12-19 Higashi, Filho e Krymchantowski Tabela 3 – Pacientes com e sem náusea 1 hora após a ingestão dos fármacos. Após 1 h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem náusea 5 2 8 4 Com náusea 18 16 11 15 Total 23 18 19 19 X2 = 5,20 (p = 0,157). Não Significativo Tabela 4 – Pacientes com e sem náusea 2 horas após a ingestão dos fármacos. Após 2h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem náusea 8 6 10 7 Com náusea 15 12 9 12 Total 23 18 19 19 X = 1,93 (p = 0,587). Não Significativo 2 Tabela 5 – Pacientes com e sem fotofobia 1hora após a ingestão dos fármacos. Após 1h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem fotofobia 7 3 5 4 Com fotofobia 19 20 18 18 Total 26 23 23 22 X2 = 1,55 (p = 0,671). Não Significativo Tabela 6 – Pacientes com e sem fotofobia 2 horas após a ingestão dos fármacos. Após 2h Trimebutina Sumatriptano Meloxicam Associação Sem fotofobia 9 7 9 7 Com fotofobia 17 16 14 15 Total 26 23 23 22 X2 = 0,45 (p = 0,929). Não Significativo foram dor no estômago, mal-estar, pontadas na cabeça, desconforto gástrico, tonturas, fraqueza e sonolência. Os efeitos adversos com a trimebutina foram tonturas, boca amarga, sonolência e desconforto gástrico, com o sumatriptano foram tremor, taquicardia, hipotensão, sonolência e desconforto gástrico, e com meloxicam os efeitos adversos foram disnomia (cheiro de fumaça), parestesia nas mãos, fraqueza e desconforto gástrico. Foi necessário o uso de medicação de resgate após 2h para 2 pacientes quando em uso da associação dos três fármacos, para 4 pacientes com a trimebutina, 1 paciente com o sumatriptano e nenhum paciente com o meloxicam, porém não houve diferença estatística entre eles. Em relação à recorrência da dor durante 24h, para os 9 pacientes que estavam sem dor após 2h do uso da associação dos três fármacos, houve a recorrência em 1 paciente, dos 5 que estavam sem dor após 2 horas do uso da trimebutina houve a recorrência em 3 pacientes, dos 11 que estavam sem dor após 2 horas do uso do sumatriptano houve a recorrência em 5 pacientes e dos 10 que estavam sem dor após 2 horas do uso do meloxicam houve a recorrência em 2 pacientes. DISCUSSÃO Os fármacos trimebutina, sumatriptano e meloxicam, usadas em regime de monoterapia se mostraram efetivos no alívio da crise aguda de migrânea de moderada a forte 16 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 16 23.03.10 15:24:22 Comparação entre o sumatriptano, a trimebutina, o meloxicam e a associação dos três fármacos no tratamento agudo de enxaqueca intensidade. A eficácia do uso isolado de cada um desses fármacos mostrou-se equivalente quando foi usada a combinação dos três, nas mesmas doses em que foram usados quando em monoterapia. A dose de trimebutina (400 mg) foi a mesma utilizada quando foi avaliada a eficácia do fármaco em associação com o rizatriptano16, embora nenhum estudo antes, tenha avaliado o uso deste fármaco isolado para o tratamento agudo de migrânea. A dose de sumatriptano (50 mg) foi utilizada em estudo que demonstrou sua eficácia e tolerabilidade quando comparada com as doses de 25 mg e 100 mg17. O meloxicam (15 mg) foi utilizado nos estudos que demonstram a eficácia dos AINES na crise aguda de migrânea18-23. Foi demonstrado neste estudo equivalência da eficácia e tolerabilidade da dose de 200 mg de trimebutina e 15 mg de meloxicam usadas como monoterapia por via oral, no controle da crise aguda de migrânea, obtendo o alívio da dor após 2h, respectivamente em 35,7% e 54,8% dos pacientes, resultado comparável ao obtido com uso do sumatriptano que possibilitou o alivio para 40,4% dos pacientes e com a associação dos 3 fármacos que aliviou a dor em 52,4% dos pacientes. Um estudo que comparou a eficácia e tolerabilidade da formulação oral do cetoprofeno com o zomitriptano demonstrou alívio da dor equivalente, entretanto com menor incidência de efeitos adversos24. Três estudos duplamente encobertos e aleatórios que compararam os AINES diclofenaco de potássio25, a combinação de aspirina e metoclopramida26,27 com o sumatriptano oral concluíram que no tratamento agudo de migrânea, os AINES são tão eficazes quanto o sumatriptano oral; entretanto, mais bem tolerados. A trimebutina isolada não havia sido observada em ensaios clínicos para o tratamento agudo de cefaleia, embora a sua associação com o rizatriptano tenha tido maior eficácia quando comparada com o rizatriptano isolado, uma vez que 73% daqueles que utilizaram a associação estavam sem dor após 2h comparado com 31,2% dos que usaram o rizatriptano isolado16. Neste estudo demonstrou-se que 11,9% dos pacientes quando utilizaram a trimebutina estavam sem dor após 2h, versus 26,1% dos pacientes quando em uso do sumatriptano, sugerindo menor eficácia, embora não tenha sido encontrada uma diferença estatisticamente significativa entre esses valores. Apesar da terapia combinada com a associação de um triptano, um AINE e um gastrocinético ter sido suge­ rido por alguns autores11,28, baseado principalmente nos múltiplos mecanismos fisiopatológicos da migrânea e também devido à eficácia demonstrada pela associação Rev Dor 2010;11(1):12-19 de um triptano com um AINE e de um triptano com um gastrocinético12,13-15, este estudo não conseguiu demonstrar superioridade da associação trimebutina, sumatriptano e meloxicam a cada um desses fármacos quando usados isoladamente, em relação aos parâmetros dor e fenômenos associados á migrânea. A incidência de efeitos adversos foi maior quando os pacientes estavam em uso da associação dos três fármacos, corroborando com dados de estudos prévios, com a associação do rizatriptano e trimebutina16, do sumatriptano e naproxeno de sódio13,29 e do rizatriptano com rofecoxibe14. O efeito adverso mais frequentemente relatado com o uso da associação foi tontura, seguida de dor epigástrica. A terapia combinada apresentou menor porcentagem de pacientes com recorrência da dor no dia seguinte, com diferença estatisticamente significante (p < 0,001) quando comparado com a trimebutina e meloxicam, porém não estatisticamente superior ao sumatriptano isolado, possivelmente pela baixa taxa de recorrência com o sumatriptano presente neste estudo, menor que a encontrada em estudos prévios que relatam uma taxa de recorrência variável entre 25% e 78% do sumatriptano, sendo que a incidência neste estudo foi de apenas 18,1%. Estudo retrospectivo com 50 pacientes que utilizaram a combinação do ácido tolfenâmico e sumatriptano demonstrou uma taxa de 23,8% de recorrência, comparada com 62,5% do sumatriptano isolado30. A comparação dos fármacos com o sumatriptano em relação à eficácia pode ser falha, pois 5 estudos aleatórios e controlados que tiveram como objetivo avaliar a eficácia e tolerabilidade oral do sumatriptano para o tratamento agudo de migrânea em adultos demonstrou ausência de diferença significativa na dose de 50 mg, quando comparado com placebo (n = 127), embora 14 estudos usando 100 mg demonstrassem diferença estatisticamente significativa. Outro estudo avaliou a eficácia do sumatriptano oral nas doses de 25, 50 e 100 mg comparado com placebo e demonstrou que após 2h do uso do fármaco, maior número de pacientes obteve alívio da dor com o sumatriptano, embora somente a dose de 100 mg apresentasse diferença estatisticamente significativa (p = 0,053). Pode-se então aventar a hipótese que a dose de sumatriptano de 50 mg31 tenha resultados comparados com o placebo e não seja parâmetro de efetividade29 embora outros estudos mostrem o contrário32. Este estudo tem suas limitações principalmente devido a ausência do braço placebo e a não utilização dos fármacos em sua apresentação oral original, não se pode afirmar com absoluta certeza que o processo de 17 06 - Comparacao entre sumatriptano.indd 17 23.03.10 15:24:22 Rev Dor 2010;11(1):12-19 Higashi, Filho e Krymchantowski e­ ncapsulação não tenha alterado o perfil farmacocinético interferindo nos resultados, como se aventou em um estudo com 1138 pacientes aleatorizados, que comparou a eficácia e tolerabilidade oral do tratamento da combinação do sumatriptano de 50 mg e naproxeno de 500 mg, na crise aguda de migrânea, demonstrando baixa eficácia do sumatriptano em relação ao placebo33. Neste estudo o meloxicam e a trimebutina usados como monoterapia apresentaram eficácia e tolerabilidade semelhante ao sumatriptano, demonstrando ser uma opção atrativa no tratamento agudo de migrânea, embora sejam necessários mais estudos com a utilização do placebo e uso dos fármacos em sua forma de apresentação original. CONCLUSÃO Este estudo demonstrou que a associação sumatriptano, meloxicam e trimebutina não foi superior a cada um desses fármacos isolados para controlar a dor, as náuseas e a fotofobia nas crises agudas de migrânea de moderada a forte intensidade. Além disso, a combinação dos fármacos apresentou maior incidência de efeitos adversos. REFERÊNCIAS 1. Silberstein SD, Lipton RB. Overview of diagnosis and treatment of migraine. Neurology, 1994;44:(Suppl7) S6-S16. 2. Stewart WF, Lipton RB, Celentano DD, et al. Prevalence of migraine headache in The United States. Relation to age, income, race, and other sociodemographic factors. JAMA, 1992;267:64-69. 3. 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