22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil INCORPORAÇÃO DE HINOQUININA EM MICROPARTÍCULAS DE POLI(ÁCIDO LÁTICO-CO-ÁCIDO GLICÓLICO) PARA AVALIAÇÃO DA CITOXICIDADE SOBRE DIFERENTES LINHAGENS DE CÉLULAS TUMORAIS R. G. de Lima 1; M. R. Moura1; R. S. de Laurentiz1. ¹Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, DFQ, Avenida Brasil Sul, 56, 15385-000, Ilha Solteira – SP, [email protected] RESUMO Os produtos naturais extraídos de plantas desempenham um importante papel na descoberta de novos fármacos sendo que cerca de 25% dos fármacos em uso no mercado são baseados direta ou indiretamente nesses compostos. A hinoquinina é uma lignana biologicamente ativa que dentre suas propriedades biológica apresenta citotoxicidade in vitro contra várias linhagens de câncer, entretanto apresenta baixa solubilidade e permeabilidade dificultando sua absorção e com isso diminuindo sua potência. Para potencializar os efeitos citotóxicos a hinoquinina foi encapsulada em micropartículas polimérica de poli(ácido lático-co-ácido glicólico) (PLGA). A hinoquinina foi incorporada nas micropartículas de PLGA pelo método de preparação de emulsão/precipitação com evaporação do solvente. A verificação da morfologia e tamanho das micropartículas ocorreu através de Microscopia eletrônica de Varredura (MEV). A incorporação do hinoquinina foi confirmada através de absorção de UV-vis, análise térmica e FTIR por comparação com os dados obtidos para as nanopartículas de PLGA vazias e hinoquinina pura. Palavras-chave: PLGA, micropartículas, hinoquinina, lignanas 9190 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil INTRODUÇÃO O tratamento para câncer de cabeça e pescoço inclui cirurgia, terapia por irradiação e quimioterapia. Quando a doença está avançada, o tratamento é normalmente com quimioterapia, a grande maioria das drogas, usadas em tratamentos quimioterápicos, causam muitos e sérios efeitos colaterais devido à grande dosagem necessária, pois somente parte do fármaco é absorvida sendo grande parte dele metabolizado antes de chegar ao sítio de absorção gerando metabólitos tóxicos. A cirurgia é o método mais antigo utilizado como tratamento do câncer, mas é um método altamente invasivo, podendo causar lesões estéticas irrecuperáveis, com um significativo comprometimento funcional (1). Desta forma, existe a necessidade de se buscar novos compostos com atividade antitumorais que possam atuar sobre as células cancerígenas com menos efeitos colaterais graves como os principais agentes quimioterápicos em uso. Neste contexto, os produtos naturais extraídos de plantas são sem dúvida uma fonte de estruturas químicas extraordinárias que devem ser investigados quanto às suas propriedades biológicas(2). As lignanas são metabólitos secundários produzidos pelas plantas que apresentam grande diversidade estrutural e geralmente estão associados à defesa da planta contra a ação de patógenos, ocorrem em várias espécies de plantas, sendo frequentes no gênero Piper. A Piper cubeba, é utilizada no tratamento fitoterápico de gonorréia, desinteria, sífílis, dores abdominais, diarréia, enterite, asma e tumores em geral (3). Piper cubeba contém várias lignanas com diferentes estruturas químicas cujos constituintes de maior ocorrência são a hinoquinina, cubebina e yateína às quais tem sido atribuída muitas das propriedades medicinais da Piper cubeba. Dentre estas lignanas biologicamente ativas foi dada ênfase na hinoquinina, como mostra a Figura 1, que apresenta atividade analgésica, antiinflamatória e antimicrobiana (2). Estudos recentes do nosso grupo de pesquisa demonstraram resultados muito promissores da ação citotóxica da hinoquinina sobre diferentes linhagens de câncer Hep-2 e SiHa. Entretanto, apesar de sua ação biológica a hinoquinina apresenta baixa solubilidade e, portanto, baixa biodisponibilidade, além de ser parcialmente degradada em condições muito ácidas. Desta forma, visando melhorar a biodisponibilidade e estabilidade da hinoquinina a 9191 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil mesma foi incorporada em micropartículas de poli(ácido lático-co-ácido glicólico) (PLGA). Figura 1. Estrutura química da lignana Hinoquinina (4). As micropartículas são utilizadas pra diminuir os efeitos coletareis causados em tratamentos quimioterápicos devido à grande dosagem de drogas necessárias, sendo que somente parte da droga é absorvida, pois grande parte é metabolizada antes de chegar ao sítio de absorção gerando metabólitos tóxicos (5). Deste modo, o uso das micropartículas ao encapsular esses fármacos impede que os mesmos sejam decompostos antes de serem absorvidos e a liberação do fármaco é feita lentamente e no local adequado, por isso pequenas doses são suficientes (5). Entretanto, nem todos os efeitos colaterais desses quimioterápicos podem ser atribuídos à alta dosagem, alguns deles são tóxicos, mas são ainda assim usados devido à potência e a velocidade com a qual atuam em destruir as células tumorais. Desta forma, existe a necessidade de se buscar novos compostos com atividade antitumorais que possam atuar sobre as células cancerígenas com menos efeitos colaterais graves como os principais agentes quimioterápicos em uso(6). Neste contexto, as lignanas se encontram entre os produtos naturais que apresentam as mais variadas propriedades biológicas, como a citotoxidade sobre as linhagens de câncer propostas neste trabalho. A lignana hinoquinina possui esqueleto químico da mesma classe da enterolactona e enterodiol (lignanas naturais com potencial anticâncer avaliadas nos ensaios preliminares in vitro sobre as linhagens de câncer)(7). Os polímeros de PLGA são utilizados por serem biodegradáveis e assim sofrem hidrólise no corpo, produzindo metabólitos monoméricos biodegradáveis, tais como ácido láctico e ácido glicólico. Essas micropartículas são biocompatíveis com tecidos e células. Drogas poliméricas biodegradáveis nanopartículas conjugadas 9192 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil utilizadas para entrega de drogas são estáveis no sangue, não tóxicas e não trombogênicas (8). Foram preparadas micropartículas de PLGA com a incorporação da hinoquinina e micropartículas vazias, essas caracterizadas morfologicamente através da Microscopia eletrônica de Varredura, a estabilidade das micropartículas foram utilizadas a medida de potencial zeta (ξ) e a verificação das incorporações feitas através de espectrometria de absorção de Uv-vis, Infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), Análise Térmica Diferencial (DTA) e Termogravimetria (Tg) e a eficiência de encapsulamento foi por fotometria de absorção de Uv-vis. MATERIAIS E MÉTODOS As lignanas de hinoquina foram extraídas do extrato etanólico das sementes secas de Piper cubeba importadas de Floral Seed Company, Dehradun, Índia (9). As micropartículas foram preparadas pelo método de emulsão/precipitação com evaporação do solvente (10) utilizando polímeros pré-formados de PLGA (Sigma- Aldrich com a razão ácido láctido: ácido glicólido: 65:35) (Mw = 45000 – 70000). Para tal foram dissolvidos 100 mg de PLGA e 10 mg de hinoquinina (proporção hinoquinina : PLGA = 1:10) em 24 ml de diclorometano os quais foram adicionados lentamente, via seringa, a uma solução aquosa (20 mL) contendo 200 mg de álcool polivinílico (PVA) (Mowiol® 18-88, Sigma-Aldrich) (Mw = 130000) usando agitação mecânica por aproximadamente 2 horas em agitação de 5000 rpm. Após toda a deposição da solução orgânica na solução aquosa, as amostras são retiradas da agitação e separação das micropartículas foi realizada por centrifugação (1,680×g; 10 min), e assim, lavada com água destilada por três vezes e depois liofilizada por 12 horas. Por comparação micropartículas vazias, sem a incorporação da hinoquinina, foram produzidas de mesmo modo. As análises de morfologia para verificar os tamanhos das micropartículas foram efetuadas em um microscópio eletrônico de varredura (MEV) da ZEISS modelo EVO LS15; as imagens foram obtidas com um aumento de 5000 vezes. Foram feito análises térmicas DTA e TG para verificar interações dos polímeros e lignanas nas micropartículas através do equipamento da TA Instruments, SDT Q600, usando suportes de alumina e na faixa de temperatura 25 °C a 500 °C, também 9193 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil foram feitas medidas de Infravermelho por transformada de Fourier para confirmar a incorporação da lignana usando Espectrofotômetro IRTF da marca Nicolet do Modelo: NEXUS 670, na faixa de número de ondas de 4000 a 400 cm -1, usando pastilhas de KBr. As medidas de potencial zeta (ξ) reflete o potencial de superfície das partículas, verificando a estabilidade dos sistemas, estas foram realizadas em equipamento Zetasizer Nano ZS e os resultados obtidos em triplicada. A porcentagem de fármaco encapsulado em micropartículas de PLGA foi medida através do equipamento Espectrofotômetro de UV-Visível da marca Shimadzu do modelo UV 1800, e foi representada pela equação: eficiência de encapsulação (%) = quantidade total de determinada hinoquinina em micropartículas × 100 / quantidade total de hinoquinina teoricamente associada com micropartículas, à absorbância usada foi 288 nm, usando 3 mg de amostra em 3 ml de dclorometano, em cubeta de quartzo. Também usando Espectrofotômetro de UV-Visível foi possível afirmar a incorporação da hinoquina nas micropartículas. As medidas são sempre observadas em comparação com os dados obtidos para as nanopartículas de PLGA vazias e hinoquinina pura. RESULTADOS E DISCUSSÃO As microscopias eletrônicas de varredura das micropartículas de PLGA obtidos como mostra a Figura 2, que tanto as amostras sem hinoquinina quanto com as carregadas apresentam superfície lisa e esférica e com o tamanho de diâmetro em média 2 µm. As micropartículas estão maior que o ideal que é cerca de 1 µm, que seria mais adequadas para entrega parentérica (11). ( ( a) b) Figura 2. (a) Imagem obtida pela análise de MEV das partículas de PLGA. (b) Imagem obtida pela análise de MEV das partículas de PLGA com a hinoquinina. 9194 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil As medidas de FTIR foram feitas usando pastilhas de KBr, foram comparadas as micropartículas de PLGA vazia, PLGA com a incorporação da hinoquinina e da hinoquinina pura, como observado na Figura 3. Para amostra de hinoquinina pura forneceu uma banda de absorção na faixa 3500 cm -1 característica de hidroxila. A absorção em 2906 cm-1 foi atribuída a C-H sp³, observou-se absorção em 1768 cm -1 de C=O (12). Para amostra de PLGA vazia pode-se observar em 1750 cm-1 PLGA foi mostrado uma banda de absorção C=O característico do PLGA (13), que também foi observado nas micropartículas com a incorporação das nanopartículas. Comparando as micropartículas com a hinoquinina pura, observamos que a amostra PLGA/hinoquinina tem um pico de absorção mais intenso na faixa 2900 cm -1, que pode ser da hinoquinina incorporada. Figura 3. FTIR da hinoquinina pura, micropartículas de PLGA vazias e micropartículas de PLGA incorporadas com hinoquinina. Nas medidas de DTA pode-se observar na Figura 4 nas micropartículas PLGA com e sem hinoquinina um pico em torno de 46 °C correspondente à temperatura da transição vítrea do polímero. Em torno de 320 °C as micropartículas com hinoquinina apresenta um deslocamento em relação às micropartículas vazias sugere interações fracas entre a matriz de PLGA e da hinoquinina (14). Na medida de TG pode-se observar quem 265°C a hinoquinina é degradada, nas micropartículas de PLGA vazia a amostra degrada em 280°C e nas micropartículas de PLGA incorporadas às amostras degrada em 286°C, então quando incorporadas as amostras aparentam estar mais estáveis (14). 9195 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Figura 4. (a) Analise de DTA da hinoquinina, micropartículas de PLGA com hinoquinina e micropartículas de PLGA vazias. (b) Medida de TG hinoquinina, micropartículas de PLGA com hinoquinina e micropartículas de PLGA vazias. O estudo de estabilidade das micropartículas foi avaliado através da medição do potencial zeta. O potencial zeta (ξ) das micropartículas de PLGA vazias é o valor de -10,8 ± 0,2 mV indicam que não está estável, para as micropartículas de PLGA com a hinoquinina o valor foi -10,1 ± 0,2 mV, com a incorporação a instabilidade não foi alterada. Os valores de potencial zeta negativos são devidos à hidrólise do polímero, originando grupos carboxílicos na superfície das partículas (14). A eficiência de encapsulação foi através um detector de UV de comprimento de onda variável, ajustado no comprimento de 288 nm, a porcentagem de fármaco encapsulado em micropartículas de PLGA foi representada pela equação: eficiência de encapsulação (%) = quantidade total de determinada hinoquinina em micropartículas × 100 / quantidade total de hinoquinina teoricamente associada com micropartículas, usando a equação linear y = 24,43615x+0,09851 e o coeficiente de correlação, r2=0,99943 como mostra a Figura 5, pode-se afirmar que a porcentagem de incorporação foi de 84%. Com a medida espectrometria de absorção de UV-vis pode-se confirmar na Figura 6 que a incorporação da hinoquinina nas micropartículas de PLGA foram obtidas. 9196 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Figura 5. Curva de calibração da hinoquinina em várias concentrações. Figura 6. Espectroscopia de UV-vis para a hinoquinina, micropartículas de PLGA e micropartículas de PLGA incorporadas com a hinoquinina. CONCLUSÃO Sendo assim, este trabalho possibilitou a produção de micropartículas de PLGA com tamanhos de diâmetros de 2 µm, sendo necessário diminuir. Com as medidas de FTIR, DTA, e UV-vis pode-se confirma a incorporação da lignana hinoquinina nas micropartículas. A analise térmica de TG pode-se observar que houve uma melhora com a incorporação da lignana no polímero, porém com a medida de potencial zeta não é possível confirmar a estabilidades das micropartículas. Pode – se confirmar 9197 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil que a hinoquinina foi incorporada nas partículas de PLGA com uma ótima eficiência. Os resultados obtidos indicam que as nanopartículas de PLGA são candidatas promissoras para a utilização como dispositivos de liberação de fármacos para o tratamento de câncer Hep-2 e SiHa . REFERÊNCIAS [1] INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Carcinoma epidermóide da cabeça e pescoço. Revista Brasileira Cancerologia, v. 47, n. 4, p. 361-76, 2001. [2] MARCOTULLIO, M. C. PELOSI, A. CURINI M., Hinokinin, an Emerging Bioactive Lignan, Molecules. V. 19, p. 14862-14878, 2014. [3] ELFAHMI, et al. Lignan profile of Piper cubeba, an Indonesian medicinal plant. Biochemical Systematics and Ecology, v.35, p.397-402, 2007. [4] RESENDE F.A. 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The hinokinin was incorporated in PLGA microparticles by the nanoprecipitation method. The particle size and morphology were examined using SEM. The incorporation of the hinokinin in the microparticles PLGA was confirmed through UV Spectroscopy, DSC, and FTIR and by comparison with data obtained for the empty PLGA microparticles and pure hinokinin. Key-words: Hinokinin, PLGA, microparticles, lignans 9200