UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROJETO Preparação de Microesferas de PLGA para Vetorização do Ácido Úsnico e Estudo In Vitro e In Vivo da Atividade Terapêutica Roseane Maria Ribeiro Costa Recife, 2002 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROJETO Preparação de Microesferas de PLGA para Vetorização do Ácido Úsnico e Estudo In Vitro e In Vivo da Atividade Terapêutica Orientanda: Roseane Maria Ribeiro Costa Orientadora:Profª. Drª. Nereide Stela Santos Magalhães Recife, 2002 3 1. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, numerosos estudos demonstraram que a distribuição de um fármaco no organismo pode ser modificada pelo uso de vetores medicamentosos coloidais ou partículas poliméricas. Estes carreadores protegem certos princípios ativos lábeis da degradação e/ou inativação pelo suco gástrico; melhoram a biodisponibilidade por aumento da penetração celular de substâncias hidrofílicas e proporcionam a liberação do fármaco no sítio de ação desejado (órgão, tecido ou célula), eliminando ou minimizando os efeitos colaterais que normalmente acompanham a terapêutica convencional (Puisieux & Roblot, 1989). Microesferas são micropartículas porosas que promovem a liberação controlada de fármacos. Elas são constituídas de um sistema matriz contendo o fármaco uniformemente distribuído através da matriz polimérica. Ambos polímeros naturais e sintéticos têm sido utilizados na sua preparação. As micropartículas têm sido utilizadas com sucesso para grande variedade de fármacos e substâncias bioativas, incluindo proteínas, enzimas, hormônios, e vacinas. A microencapsulação oferece vantagens no processo da encapsulação a estabilidade e a atividade biológica da droga não são afetadas durante o processo de fabricação; apresentando alta eficiência de encapsulação da droga (Rajeev, 2000). . O copolímero de ácido láctico e glicólico (PLGA) tem sido estudado nas formulações de microesferas biodegradáveis que contém fármacos anticancerígenos, hormônios esteroidais e peptídeos (Wang, 1997). As micropartículas de PLGA fabricadas por diferentes técnicas são versáteis em termos de encapsular várias classes de drogas e em particular são sistemas importantes onde vários perfis de liberação da droga podem ser alcançados pelo ajuste da composição de PLGA, peso molecular, droga encapsulada, tamanho da micropartícula, porosidade e outros fatores (Rajeev, 2000). Com o crescente número de casos de câncer, a medicina atual vem desenvolvendo esforços para sua cura, recorrendo a quimioterápicos cada vez mais eficientes, contando também com os adjuvantes. O problema, na maioria das vezes, é a ação tóxica dos medicamentos sobre os pacientes. Em poucas instâncias, as drogas atualmente conhecidas, são dirigidas somente contra as células neoplásicas; na maioria dos casos, células normais são atingidas por efeitos colaterais desses compostos. Por isso, a busca por antineoplásicos com menor toxicidade e maior eficácia contra o câncer é objeto de incansável estudo dos pesquisadores da atualidade (Wallerstein Jr., 1991). Substâncias liquênicas de natureza fenólica e/ou polissacarídeos apresentam comprovada eficiência contra tumores e células cancerígenas. Algumas delas com pouco efeito tóxico, outras 4 com alta toxicidade (Nishikawa et al. 1969; Pereira et al., 1994; Santos et al., 1997). Este é um dos problemas a serem minorados, a partir do uso de novas formas de administração de medicamentos que possam melhorar a biodisponibilidade e diminuir a toxicidade de fármacos. O ácido úsnico é um metabólitio secundário produzido por diversas espécies de liquens e seus derivados (Cochietto, 2002). O ácido Úsnico apresenta atividade terapêutica contra microorganismos gram-positivos e gram-negativos sendo conhecido também pelo seu potencial antituberculostático, antitumoral e agente enibidor de enzima. Tem apresentado também efeito contra a Mycobacterium lufo in vitro e é considerado um agente quimioterápico promissor contra vários tipos de doenças como tuberculose, certos tipos de tumores e possivelmente para lepra (Krishna, 1992). O interesse principal do trabalho é a encapsulação do ácido úsnico, da espécie Cladonia substellata, em forma microparticulada para estudar sua atividade in vitro e in vivo, visando aumento na eficácia e diminuição da citotoxicidade para uma possível aplicação terapêutica. OBJETIVO O objetivo principal deste projeto consiste em obter sistemas de liberação controlada na forma de microesferas de copolímero de ácido láctico e glicólico (PLGA) para vetorização da substância de origem liquênica, o ácido úsnico. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Fabricar microesferas de PLGA contendo ácido úsnico; 2. Caracterizar físico-quimicamente as micropartículas; 3. Avaliar o perfil da cinética de liberação in vitro do fármaco encapsulados nos sistemas obtidos; 4. Determinar a atividade citotóxica in vitro e interação com células; 5. Determinar in vivo a atividade antitumoral do ácido úsnico microencapsulado; 6. Avaliar a histopatologia de tecidos e tumores após tratamento com micropartículas contendo ácido úsnico. 5 METODOLOGIA 1. Estudo Farmacotécnico 1.1. Obtenção das microesferas contendo fenóis liquênicos Preparação de microesferas de PLGA pelo método de emulsão múltipla seguida da evaporação do solvente (Rajeev, 2000). Etapas da fabricação de microesferas: a) Formação de uma emulsão primária água /óleo (w/o) b) Formação de uma emulsão múltipla água /óleo/água (w/o/w) c) Evaporação do solvente d) Centrifugação e lavagem das micropartículas e) Filtração ou liofilização 1.2. Caracterização físico-química de micropartículas de PLGA contendo ácido úsnico Aspecto macroscópico As microesferas serão examinadas a olho nu, para verificar alguma alteração no seu estado físico. Caracterização microscópica das micropartículas Além da análise simples feita através da microscopia óptica, a morfologia das micropartículas e as características da parede polimérica serão analisadas por microscopia eletrônica de varredura (SEM), após metalização com ouro coloidal (Hamilton-Attwell, 1987). Desenvolvimento do método de dosagem do fármaco A análise quantitativa da substância encapsulada será determinada por cromatografia de alta eficiência (CLAE) (Krishna, 1992). A quantidade total será obtida pela extração do princípio ativo das microesferas utilizando solvente orgânico adequado. O resultado será avaliado em termos de área do pico do ácido úsnico em relação a uma curva de calibração do ácido. Estudo Farmacocinético in vitro A cinética de liberação in vitro será estudada pela incubação das microesferas de ácido úsnico em tampão fosfato pH 7,4 colocadas sob agitação de 180 stokes/min a 37°C, para manter as condições “sink”. A cada intervalo de coleta as microesferas serão centrifugadas e a quantidade do produto liberada será determinada pela análise em CLAE. (Rafati, 1997; Rajeev, 2000). 6 Estudo in vitro de Citotoxicidade O estudo da citotoxicidade das microesferas de PLGA contendo ácido úsnico será realizado pelo método de cultura de tecidos com células do tipo linhagem Hep-2 (carcinoma epidermóide de laringe). As células são mantidas em meio mínimo essencial (MME), diluído em água deionizada estéril na proporção 1:10 (v/v), suplementado com 10% de soro fetal bovino, 1% de L-glutamina e 1% de solução de antibióticos, segundo Eagle (1959). As amostras purificadas serão utilizadas nos ensaios de citotoxidade de acordo com o protocolo para triagem de agentes químicos e produtos naturais (Protocol for Screening Agents and Natural Products-NCI) (Geran et al., 1972). As microesferas serão acrescentadas ao meio contendo células, em concentrações variadas. Em seguida, as placas serão incubadas por 72h em atmosfera de 5% de CO2. A atividade citotóxica será avaliada pela percentagem de inibição do crescimento da amostra em relação ao grupo controle. A proliferação celular será mensurada pela concentração de proteínas (Oyama & Eagle, 1956). Estudo in vivo atividade antitumoral Nos testes de atividade anti-tumoral são utilizados tumores experimentais do tipo sarcoma180 em camundongos. O líquido ascítico contendo as células tumorais crescidas durante 7 dias, será aspirado e centrifugado a 70 g durante 5 minutos a 4C. Uma alíquota do sedimento celular será utilizada para contagem e teste de viabilidade celular com azul de tripan. A concentração será ajustada com solução de NaCl 10 mM estéril para 5,0 10+7 células/ml. O volume de 0,1 ml será inoculado via subcutânea na região dorsal direita de cada camundongo. Cada grupo controle será constituido de 15 animais e os grupos teste de no mínimo 10 animais. Após 24 h de implantação do tumor, os camundongos serão tratados por via intra-peritonial com o fármaco em solução e encapsulado em micropartículas. O grupo controle recebe NaCl 150 mM por via intraperitonial. O acompanhamento e avaliação do efeito do fármaco nos animais tratados serão efetuados segundo metodologia de Bradner e colaboradores (1958), através da medida dos raios perpendiculares para cálculo do volume médio dos tumores e da porcentagem de inibição. Ao término do tratamento, os animais dos dois grupos serão sacrificados e os tumores dissecados para avaliação da inibição anti-tumoral e estudos histopatólogicos. 7 Estudo Histopatológico de Tecidos e Tumores Ao final dos testes de atividade antineoplásica, os animais serão sacrificados com éter sulfúrico. Órgãos como baço, rins, fígado, intestino e fragmento de tumor serão dissecados, lavados rapidamente em PBS 0,01 M (pH 7,2). As espécimes teciduais retiradas serão fixadas com formalina 10% (v/v) tamponada. Após 5 dias, a solução fixadora será trocada. Após fixação, as amostras serão submetidas a lavagens consecutivas com álcool a 70%, 80% e 90%, álcool absoluto I, II, III, Alcool/xilol (1/2), xilol I, xilol II, xilol III e parafina a 56°C. Em seguida, o material será processado em histotécnico automático (Sakura, Japão), incluído em emblocador Tissue-Tec (Miles Scientific, E.U.A.) e cortes de 4 µm serão obtidos em micrótomo horizontal (Yamato Kohki, Japão). Após coradas com hematoxina e tricromio de Masson, as amostras serão analisadas em microscópio ótico Olympus BH-2 (Olympus Optical, Japão). Financiamento: CAPES-COFECUB 269/99; BNB; CNPq 8 BIBLIOGRAFIA COCHIETTO, M.; Skert, N.; Nimis, P.L.; Sava, G. A review on usnic acid, an interesting natural compound, Naturwissenschaften, vol. 89, p. 137-146, 2002. COUVREUR, P.; FATTAL, E.; ANDREMONT, A. Pharm. Research, 8, 1079-1086, 1991. CUATRECASAS, P.; TELL, G.P.E. Proc. Nat. Acad. Sci., 70:485-489, 1973. DENIZOT, F., LANG, R. Rapid colorimetric assay for cell growth and survival. Modifications to the tetrazolium dye preocedure giving improved sensitivity and reliability. J. Immunol. Methods, v. 89, p. 271-277, 1986. EBINA T. FUJIMIYA Y. Antitumor effect of a peptide-glucan preparation extracted from agarius blazei in a double-grafted tumor system in mice. Biotheraphy,11(4):259-65, 1998. 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