76 Revista Saberes, Faculdade São Paulo – FSP, 2015 ________________________________________________________________________________________________________________ Lesões Por Esforços Repetitivos (Ler): Uma Doença Misteriosa Do Trabalho Alvaro Ragadali Filho1 Ivonilde Leal¹ Quesia da Silva dos Anjos¹ Suelen Araujo Leite2 Déborah Pereira Danelussi³ RESUMO: Ao longo da história da humanidade os trabalhadores têm demonstrado sintomas de doenças ocupacionais relacionadas a movimentos repetitivos que envolvem as atividades cotidianas. As mudanças tecnológicas e organizacionais no mundo dos negócios trouxeram consigo uma vida mais cheia de expectativa e oportunidades, porém, trouxe consigo o adoecimento do principal instrumento de trabalho do ser humano. A LER é uma síndrome genérica de causa multifatorial que afeta as partes mais moles do músculo esquelético dos membros superiores, principalmente, mãos, braços e ombro, causando dormência, dependendo da gravidade pode gerar dor crônica e incapacidade funcional, levando a pessoa à depressão. Desta forma, este estudo objetivou-se realizar uma revisão de literatura em universo literário, tendo como contrapartida investigar como as organizações modernas podem contribuir para a prevenção da Lesão por Esforços Repetitivos (LER) no ambiente de trabalho, visando assim, melhor qualidade de vida dos trabalhadores em seu ambiente interno e externo. PALAVRAS-CHAVE: Organização Moderna. Ambiente de trabalho. LER. Repetitive Strain Injury (RSI): a Mysterious Illness of Work ABSTRACT: Throughout the history of mankind workers have shown symptoms of occupational diseases related to repetitive movements that involve everyday activities. Technological and organizational changes in business world has brought a fuller life expectancy and opportunities , however, brought with it the illness of the main instrument of human labor . The RSI is a general syndrome of multiple factors affecting the softer parts of the skeletal muscle of the upper extremities, especially the hands, arms and shoulder, causing numbness depending on severity can cause chronic pain and disability, causing the person to depression. Thus, this study aimed to conduct a literature review in the literary universe , with an offsetting investigate how modern organizations can contribute to the prevention of Repetitive Strain Injury ( RSI) in the workplace , aiming thus better quality of life workers in their internal and external environment . KEYWORDS: Modern organization. Work environment. RSI. 1 Graduado em Bacharel e Licenciatura em Enfermagem (FACIMED). [email protected] Graduada em Bacharel e Licenciatura em Enfermagem (FACIMED). ³ Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários(UFPA) __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 2 77 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ INTRODUCÃO A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) é uma lesão que atinge as partes moles dos músculos esqueléticos causada pela atividade continua e repetitiva que sobrecarrega o organismo, resultante de fatores biológicos, sociais e/ou psicológicos, sendo uma doença misteriosa que tem desafiando a medicina e os profissionais de saúde. Este tipo de lesão inflamatória vai se instalando de forma lenta no organismo humano e muitas vezes só é percebida quando se encontra em estado mais avançado, onde a musculatura já está comprometida causando dor intensa, dormência e impotência, podendo chegar à dor crônica e até mesmo a depressão. Estudiosos reconhecem que em 1700 já era reconhecido à angústia sofrida pelos artesãos escriturários no desempenho de atividades com movimentos repetitivos, os sintomas descritos pelos antigos operários eram semelhantes aos expostos pelos trabalhadores da fase moderna, no entanto, a forma de adoecimento atual mostra-se diferente devido às diferenças sociais. Pode-se considerar que o avanço tecnológico e a informatização nas organizações de trabalho contribuíram para o aumento de casos de LER no país e no mundo, tendo em vista que a modernização determinou para a amplificação das atividades manuais, exigindo maiores movimentos recursivos principalmente na musculatura esquelética superior das mãos, ombros e braços. Diante deste estudo, enfatiza-se a seguinte problemática: Como as organizações modernas podem contribuir para prevenir contra a síndrome da LER em seu ambiente de trabalho? Tendo em vista que estudiosos relatam que o movimento contínuo e repetitivo no desempenho das atividades pode trazer complicações a saúde do trabalhador. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho consiste em investigar como as organizações modernas podem contribuir para a prevenção da LER no ambiente de trabalho. Por meio dos objetivos específicos buscou-se: discorrer sobre o conceito e evolução histórica da LER; Identificar os fatores de determinação e causalidade; evidenciar os sinais e sintomas; caracterizar as formas de diagnostico, prevenção e tratamento da doença. Como justificativa a este problema, é possível considerar que o estilo de trabalho, os mecanismos e a qualidade do ambiente de trabalho tem contribuído para o agravamento da saúde do trabalhador moderno gerando diversos tipos de doenças ocupacionais, inclusive a LER. __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 78 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER) Os primeiros relatos sobre possíveis detrimentos musculares no ser humano é encontrado no século XVI onde os escribas e notários que trabalhavam para os príncipes já sofriam com detrimentos musculares devido às exigências de trabalho para manter os livros livres de manchas (MARANO, 2003). Há muitos anos é reconhecido que o trabalho leve e/ou profissões sedentárias podem gerar lesões do tipo ósteo muscular. Segundo Ramazzini (1992), no ano de 1700 já era descrito pelos antigos artesãos escriturários a angústia refletida pela leviandade dos esforços e repetição dos movimentos dos membros superiores do corpo, onde já existia a necessidade de maior atenção (BRAVERMAN, 1981). Apesar dos sintomas descritos pelos antigos artesãos escriturários serem bem semelhantes aos dos atuais digitadores, ainda existe uma diferença na forma do adoecimento devido às diferenças sociais. É provável que esta diferença existente entre as duas épocas está na questão da Lesão por esforço repetitivo (LER) pouco refletiu nos indivíduos das décadas anteriores, tendo em vista que até o século XIX o trabalho de escrita era uma tarefa executada por poucas pessoas, (RIBEIRO, 1997), diferente do trabalho moderno onde o avanço tecnológico impulsionou o mercado de trabalho a atuar com atividades mais leves como por exemplo, a digitação, uma vez que as máquinas e computadores executam o trabalho pesado e o trabalhador apenas comanda (DIEESE,1993). Estudiosos consideram que a mais significativa diferença entre o trabalho operário antigo e o moderno está relacionado à questão da LER apresentar uma forma mais rara de adoecer (DEMBE, 1995). No ano de 1830 a escrita por meio de caneta de pena de ave foi substituída pela caneta de aço, tornando o trabalho de escrita mais ágil e com maior sobrepeso, aumentando as reclamações dos trabalhadores quanto as Lesões por Esforços Repetitivos causadas por câimbras nas mãos e nos braços (DEMBE, 1995). Este mesmo sintoma manteve presença na década de 1870 no trabalhado dos profissionais telegráficos e em 1918 nas categorias de mecanógrafos/datilógrafos e telefonistas, época em que coube indenização dos trabalhadores por parte da empresa (RIBEIRO, 1997; DEMBE, 1995) e a partir de 1918 todos os trabalhadores que adoeciam por esta doença passaram a ser indenizados (OLIVEIRA, 2007, apud BAADER, 1960). O Japão foi o país pioneiro em identificar a síndrome da LER, ao fim da década de 50 (RIBEIRO, 1997), já no Brasil a primeira característica sintomática da LER foi sentida pelos __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 79 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ agentes bancários que atuavam como digitadores na década de 80 e com o decorrer do tempo passou a repercutir nos centros de processamento, chegando a periferia do sistema financeiro, seguindo para os setores industriais, metalúrgicos, químicos, eletrônicos e supermercados (NUSAT, 1993; RIBEIRO, 1997), tornando-se na década de 90 a doença de trabalho que mais tem sido notificada pelo Instituto Nacional de Serviço Social (NSS) (NUSAT, 1994). “Ironicamente, o acelerado processo de automação do século XIX trouxe o adoecimento da ferramenta de trabalho mais importante, o homem” (PANINI, 2006, p. 2), nos dias atuais, a LER tem sido um dos graves problemas enfrentados pelas organizações de trabalho, tendo em vista que com a modernização tecnológica as organizações tornaram-se informatizadas, fazendo com que os funcionários realizem suas atividades de modo repetitivo (MUROFUSE e MARZIALE, 2001), “o mesmo trabalho que possibilitou a promoção do ser humano, tem produzido novos desafios para a área da saúde”, pois os avanços tecnológicos no mercado de trabalho trouxeram consigo os problemas de saúde (MUROFUSE e MARZIALE, 2001, p. 20). 2 CONCEITO A LER é atualmente uma doença que tem sido motivo de grandes discussões em debates em razão da terminologia, diagnóstico e tratamento (MUROFUSE; MARZIALE, 2001). É uma síndrome genérica de causa multifatorial relacionada ao ambiente de trabalho que pode resultar em incapacidade laboral temporária ou até mesmo permanente (RIBEIRO, 1997), e engloba diversas alterações no sistema muscular esquelético mais mole em razão do acumulo de sobrecarga gerada ao longo do tempo pelas atividades repetitivas ou postura inadequada (MAENO, 2001), geralmente as regiões afetadas são as que desempenham maior sobrecarga durante a realização das atividades cotidianas (MORAES, 2000; RIBEIRO, 1997). De acordo com publicação do Ministério da Saúde, dentre as doenças consideradas como ocupacionais que são enquadradas como LER/DORT, estão: “tendinite de flexores e extensores dos dedos, bursite de ombro, tenossinovite de DeQuervain, tenossinovite do braquio radial, síndrome do túnel do carpo, tendinite de supraespinhoso, tendinite de biciptal, epicondilite” (MAENO, 2001, p. 09), no entanto a tendinites, tenossinovites e bursites são as mais conhecidas atualmente no Brasil (GAIGHER, 2001) podendo ser ocasionada por diversos fatores como: tocar piano, dirigir, realizar atividades domesticas, fazer crochê, no entanto, a digitação constante é um das causas que mais propiciam para sua incidência (MARANO, 2003). 3 DETERMINAÇÃO E CAUSALIDADE __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 80 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ Dentre as mais diversas mudanças ocorridas no ciclo de desenvolvimento do trabalho da atual modernidade, é notável a diminuição do uso de força muscular (RIBEIRO, 1997). No mercado de trabalho contemporâneo, as organizações exigem outro tipo de esforço físico, que mesmo utilizando as estruturas esqueléticas musculares dos membros superiores, o esforço tornou-se mais leve, o que permite que as mãos e os dedos possam alcançar maior velocidade na realização das atividades, contudo, passa a exigir que do trabalhador uma postura mais adequada (KUORINKA et al., 1995). De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS) segundo uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo, tendo como projeção 508 mil trabalhadores que encontram-se em risco de desenvolver a lesão: 76% desenvolvem movimentos repetitivos, 62% atividades monótonas, 62% ausência de pausas, 52% junção de tarefa repetitiva e esforço físico e 49% por atividade de esforço físico (SALIM, 2003; MS, 2001a), e “os mais atingidos são os jovens, os pouco qualificados, do sexo feminino” (HIRATA, 2001, p.111), geralmente a faixa etária entre 20 a 40 anos estão mais propensas ao desenvolvimento das lesões musculares por movimentos repetitivos, pois os tendões e ligamentos femininos são mais frágeis do que o dos homens, além do mais, a mulher une a jornada de trabalho a suas atividades domesticas, se sobrecarregando cotidianamente (SCHMITZ, 2002). Sato (2001) considera a Lesão por Esforço Repetitivo um problema da saúde pública, uma vez que exige uma reavaliação do campo multidisciplinar do ambiente de trabalho. E apesar de ainda existirem pessoas que não acreditam em sua existência, a síndrome é reconhecida pela legislação brasileira, o que desperta interesse da medicina em maior aprofundamento sobre a mesma (MUROFUSE; MARZIALE, 2001). 4 SINAIS E SINTOMAS A LER pode apresentar diversos sintomas concomitantes e não concomitantes (NASCIMENTO e MORAES, 2009, p. 27) como: dores musculares, inflamação nos tendões, sinóvias, edemas, limitações de movimentos e até mesmo ocasionar graves problemas ao sistema modulador da dor (MAENO, 2001), além de causar dores intensas à lesão pode levar a pessoa a impotência, pela dificuldade de movimentar seu braço e manusear objetos de trabalho (ONEIL, 2003). Os principais sintomas são dor, formigamento, dormência, sensação de peso, fadiga, fraqueza, queimação, repuxamento, choque. Esses sintomas geralmente aparecem __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 81 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ insidiosamente, isto é, vão se instalando vagarosamente. Podem estar presentes em diferentes graus de intensidade e podem estar presentes ao mesmo tempo (MAENO, 2001, p. 13), Dependendo do grau, a complicação pode “evoluir para quadros de dor crônica e gerar incapacidade funcional”, portanto, os sintomas manifestados pelo trabalhador irão depender da parte e da musculatura esquelética comprometida (NASCIMENTO; MORAES, 2000, p. 27). 5 DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO Os profissionais da área de saúde tem buscado perspectivas multifatoriais com intuito de investigar quais são as dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais e afetivas na execução do trabalho que tem desencadeado os distúrbios de LER, visando assim, seu diagnóstico, prevenção e tratamento (CIARLINI et al., 2005; FILHO; JUNIOR, 2004), além do mais, diversos são os fatores que devem ser levados em consideração quanto a prevenção e tratamento (BAÚ, 2002). A ciência do paciente sobre os distintos diagnósticos é de suma importância para a investigação médica e possível direcionamento terapêutico, evitando resultados incorretos (COUTO; NICOLETTI; LECH, 1998). A condução do diagnóstico na investigação de doenças ocupacionais deve abranger várias etapas, devendo partir da avaliação da alteração de saúde organizacional e funcional do trabalhador, “a busca caminha dos distúrbios aos fatores casuais” (MS, 2001b, p. 09), contudo, a junção do ambiente de trabalho, exercícios físicos de forma sadia, podem contribuir para o tratamento da LER, no entanto, ainda é escasso a ciência sobre a combinação de tais intervenções (IKARI, et al., 2007). Geralmente, o diagnóstico da LER é baseado em fatores ocupacionais seguido de análise laboratorial e físico do trabalhador (ASSUNÇÃO; ROCHA, 1993; BRASIL, 2000; ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003), quando possível, é interessante realizar uma diagnóstico ergonômico da atividade desempenhada pelo indivíduo que apresenta os indícios (SETTIMI et al., 1998), em muitos casos os resultados clínicos dos pacientes portadores de LER não condizem com os sintomas e dor crônica por eles relatada (MERLO, et al., 2001), todavia, o maior sintoma é a dor (ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003). É importante que haja um acordo da prevenção entre todos os empregados, independentemente do nível hierárquico, para que possa haver revezamento entre tarefas desenvolvidas na empresa (MUROFUSE; MARZIALE, 2001), com a finalidade de minimizar os fatores de risco ocasionados pelo trabalho excessivo e precavendo para o não desenvolvimento das afecções musculares e outras doenças ocupacionais __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 82 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ (BAÚ, 2002). 6 TRATAMENTO Não apenas a prescrição de medicamentos, mas a associação de terapia corporal, acupuntura, fisioterapia também podem ser inseridas no processo de tratamento (BRASIL, 2000). Vale destacar que a intervenção por meio de trabalho multidisciplinar é um outro elemento que contribui com eficácia para melhoria do quadro do trabalhador, e caso necessário pode ser associada juntamente com medicamentos e acompanhamento de outros profissionais de saúde (IKARI et al., 2007). Afastar o paciente do exercício do trabalho e das tarefas domésticas é um elemento que pode contribuir inicialmente para o tratamento da Lesão (BRASIL, 2006), assim como a prescrição cautelosa de antiinflamatórios e antidepressivos (FILHO; JUNIOR, 2004). Quanto antes for diagnosticado e iniciado o tratamento adequado maiores as chances de obter resultados positivos, isso depende do nível de informação do paciente e da qualidade do procedimento médico (BRASIL, 2001b). Um dos tratamentos que tem se demonstrado eficaz no tratamento da Lesão por Esforço Repetitivo é a fisioterapia, já que contribui para o alivio da dor, relaxa os músculos e previne a ocorrência de deformidades, elevando a capacidade funcional do trabalhador (BRASIL, 2006), além do fisioterapeuta outros profissionais da área de saúde também podem contribuir no processo de reabilitação do paciente (IKARI et al., 2007), como por exemplo: médico, terapeuta ocupacional, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais (FILHO; JUNIOR, 2004), pois o tratamento realizado por uma equipe de diferentes profissionais de saúde mostrase mais favorável no alcance de resultados positivos do que o tratamento individual (BRASIL, 2000). A medicina não tem aconselhado o tratamento da LER por meio de cirurgia, tendo em vista que pesquisas demonstraram grande eficácia nesse tipo de doença. Além do mais, quando o paciente já sofre da síndrome há muitos anos, a tendência da pós-cirurgia é causar dor crônica de complexo controle (BRASIL, 2006). No entendimento de Fontes (1995, p. 71), a saúde é: “um estado de equilíbrio dinâmico que envolve as realidades físicas e psíquico-mentais dos indivíduos em suas interações com o meio ambiente natural e social. Portanto, a saúde e a doença são ambas as partes integrantes da auto-organização de um sistema vivo.” Com o aparecimento dos sintomas da LER, o trabalhador começa a apresentar __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 83 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ desestruturação de sua identidade, sintomas que tendem a se agravar levando a uma possível depressão (DIAS, 1995; BORGES, 1999), “pelo querer ser e não poder, ou ter que deixar de ser” (GAIGHER, 2001, p. 15). Por isso, é importante que a equipe de saúde conscientize o paciente de suas condições atuais, e explicar sobre a importância de sua participação no processo de reabilitação, esclarecendo todas as sintomalogias da LER, seus determinantes e consequências (RIBEIRO, 1997), desta forma irá diminuir a ansiedade, angústia e depressão do paciente no seu cotidiano de vida, desenvolvendo de forma gradativa sua capacidade laboral, o que irá possibilitá-lo a regressar ao trabalho (SETTIMI, et al., 1998). A LER é uma doença que tem desafiado as condutas médicas habituais, pois exigem investigações de diversos aspectos (ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003), ela pode ser resultante de fatores biológicos, sociais e/ou psicológicos, que de início é deflagrada por um único fator, no entanto, com o decorrer do tempo este sintoma irá afetando os demais sistemas humanos (ROSEMBERG; MINAYO, 2001), é um rompimento que pode comprometer a estrutura social, moral, familiar, etc. do indivíduo (FILHO; JUNIOR, 2004), por isso, o profissional de saúde precisa estar atento no início do tratamento da LER, tendo em vista que a dor pode local pode ir se alastrando fazendo com que o paciente adoeça psicologicamente, por isso, deve ser aplicado as interações de tratamento que apresentem maiores chances de sucesso (ROSEBERG; MINAYO, 2001). 7 A POSTURA DAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS NA PREVENÇÃO DA LER NO AMBIENTE DE TRABALHO No ambiente de trabalho a própria organização pode contribuir na prevenção de doenças ambientais que rodeiam sua equipe profissional (MIRANDA; DIAS, 1999), pois é a organização quem define “quem faz o quê, como faz, quando faz, quanto faz e em que condições físicas, organizacionais, gerenciais, ambientais, etc.” (RIO; PIRES, 2001, p. 191), além do mais, investir na qualidade de vida dos trabalhadores constitui atualmente um dos principais elementos para a prevenção contra doenças ocupacionais oriundos do exercício laboral que causam enfermidades à saúde dos funcionários (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2008). Segundo Nicoletti (1997), a organização precisa propiciar a sua equipe de trabalho: ferramentas que reduzam o excesso de movimentos repetitivos, efetuar revezamento de tarefas, melhorar o ambiente de trabalho para reduzir a repetição de movimentos, ajustar os setores de trabalho para melhorar a postura, realizar triagem médica da equipe, evitar pressões inúteis, __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 84 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ praticar exercícios de aquecimento antes de iniciar a jornada de trabalho, realizar pausas entre as tarefas, minimizar o nível de tensão do funcionário, melhorar a qualidade de vida no trabalho, etc. Diversos estudos demonstram que transformar o ambiente de trabalho é uma alternativa que contribui para na prevenção de lesões geradas por movimentos repetitivos (BRASIL, 2001b), um elemento importante que pode ser inserido neste plano é a ginástica laboral, pois a prática de exercícios físicos eficazes contribui para melhor qualidade de vida e previnem doenças ocupacionais (OLIVEIRA, 2007). É interessante, entretanto, notar que a ginástica, por si só, não terá resultados significativos, se não houver uma elaborada política de benefícios sociais, além de estudos ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos de segurança do trabalho, dos médicos ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos. (OLIVEIRA, 2007, p. 47) grifo nosso . Do ponto de vista organizacional, criar ações de promoção a saúde e a qualidade de vida da equipe de trabalho são um investimento que traz retornos positivos a médio e longo prazo (SESI/DN, 2009), todavia, vale destacar que a reorganização do sistema de trabalho da equipe é fundamental para o alcance de resultados (MORIN, 2000). 8 MÉTODO Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica no Universo Literário acerca de diversos materiais que abordavam questões relacionadas à Lesão por Esforço Repetitivo (LER). Os materiais utilizados foram: obras impressas, artigos periódicos/científicos, legislação vigente e revistas, entre os anos de 1992 a 2007, sendo selecionadas quarenta e cinco obras literárias. Foram exclusas as literaturas que não atendiam com êxito a temática proposta neste trabalho e as obras anteriores ao ano de 1992. O procedimento de coleta de dados ocorreu por meio da escolha dos materiais, leitura e seleção dos textos mais importantes a elaboração da fundamentação teórica. Ao findar a elaboração deste estudo, todas as obras citadas no decorrer da fundamentação teórica foram listadas na bibliografia. Este estudo não apresentou nenhuma limitação durante sua elaboração, tendo em vista que existe uma amplitude de literaturas acerca das Lesões por Esforços Repetitivos, o que contribuiu para o alcance dos objetivos propostos. 8 DISCUSSÃO __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 85 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ Por intermédio desta revisão bibliográfica percebe-se que os autores Marano (2003) e Braverman (1981) em concordância com demais autores, discorrem que a LER é uma doença ocupacional do trabalho que marca presença desde os primórdios da humanidade e tem se intensificado com as mudanças tecnológicas e organizacionais no mercado de trabalho. Murofuse e Marziale (2001) ainda complementam a colocação acima dizendo que o avanço moderno ao mesmo tempo em que promoveu a vida do ser humano também trouxe o adoecimento da mais valiosa ferramenta de trabalho humano, causando graves problemas à saúde do trabalhador. Os autores esclarecem que este problema está relacionado ao excesso de esforço repetitivo e contínuo que lesiona os membros superiores como braço, ombro e pescoço, causando inflamação das partes moles do músculo esquelético, dor, dormência e muitos outros sintomas que podem se agravar caso não seja realizado o tratamento adequado com prescrição medicamentosa e acompanhamento médico. Na visão dos autores Miranda e Dias (1999); Sampaio e Oliveira (2008); SESI/DN (2009), entre outros autores, recomenda-se que as organizações reorganizem seu sistema de trabalho, adotando ações de promoção a saúde e qualidade de vida do trabalhador, uma vez que este tipo de investimentos trará grandes resultados a sua gestão, pois o bem estar do funcionário reflete no seu desempenho de trabalho, e o próprio ambiente de trabalho pode contribuir na prevenção de doenças ocupacionais. Deste modo, é de suma importância que as organizações reavaliem sua gestão e campo funcional e invistam na qualidade de vida de seu capital intelectual, prezando pelo seu bem estar dentro e fora do local de trabalho. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer desta revisão de literatura, foi possível entender que ao longo de sua evolução o homem tem sofrido consequências de seu ritmo de trabalho, constatou-se que desde os primórdios da humanização os tecelões, os escribas e os escriturários já manifestavam sinais de movimentos excessivos refletidos do cotidiano de seu trabalho. Com o decorrer do tempo, o mundo passou por diversas mudanças socioeconômica e culturais em razão do avanço tecnológico que trouxe uma nova característica a vida social e organizacional da população devido à informatização. A LER é uma doença genérica de causa multifatorial (biológicos, sociais e/ou psicológicos) que afeta as partes mais moles do músculo esquelético dos membros superiores __________________________________________________________________________________________ Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. 2, jul./dez., p. 76-89, 2015. ISSN: 2358-0909 86 Docência no Ensino Superior e o uso de novas tecnologias ________________________________________________________________________________________________________________ devido ao movimento continuo e repetitivo, atingindo principalmente as mãos, os braços e o ombro, gerando dor por causa da inflamação a qual pode tornar-se crônica se não for tratada imediata e adequadamente por profissionais especializados. Apesar da LER ser uma síndrome que tem desafiado as condutas médicas habituais, entende-se que um tratamento em grupo de vários especialistas na área de saúde como enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, entre outros profissionais, e acompanhado de prescrição de anti-inflamatórios e antidepressivos pode contribuir para alcance de resultados positivos ao paciente. Entretanto, vale destacar a importância das organizações em adotar instrumentos de grande valia na prevenção de doenças ocupacionais do trabalho como a LER, por meio de melhoria do ambiente de trabalho, revezamento e pausa na execução das atividades da equipe, realizar ginástica laboral antes de iniciar a rotina de trabalho, criar táticas ergonômicas e fornecer equipamentos e ambientes mais adequados. Pois quando a organização pensa no bem estar de seus funcionários, ela também tem a ganhar muito com isso. Interessante destacar que o enfrentamento deste tipo de doença é um problema que diz respeito não apenas as organizações de trabalho e ao trabalhador, mas ao poder público, que precisa fiscalizar as organizações e verificar sua estrutura de trabalho e puni-la se for o caso. Após este contexto, considera que este estudo alcançou o objetivo proposto uma vez que a pesquisa demonstrou que as organizações modernas podem contribuir na prevenção de doenças ocupacionais, além de elevar o conhecimento acadêmico dos autores quanto à saúde do trabalhador. Sendo assim, pela relevância que o tema representa ao mercado de trabalho atual nos mais diversos segmentos, fica o tema como sugestão para investigações futuras mais amplas acerca de como as organizações do Estado de Rondônia tem se postado diante da qualidade do ambiente de trabalho de sua equipe. REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, A. A.; ALMEIDA, I. M. Doenças osteomusculares relacionadas com o trabalho: membro superior e pescoço. In: MENDES, R. (Org.) 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