Lesões Por Esforços Repetitivos (Ler): Uma Doença

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Revista Saberes, Faculdade São Paulo – FSP, 2015
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Lesões Por Esforços Repetitivos (Ler): Uma Doença Misteriosa Do
Trabalho
Alvaro Ragadali Filho1
Ivonilde Leal¹
Quesia da Silva dos Anjos¹
Suelen Araujo Leite2
Déborah Pereira Danelussi³
RESUMO: Ao longo da história da humanidade os trabalhadores têm demonstrado sintomas
de doenças ocupacionais relacionadas a movimentos repetitivos que envolvem as atividades
cotidianas. As mudanças tecnológicas e organizacionais no mundo dos negócios trouxeram
consigo uma vida mais cheia de expectativa e oportunidades, porém, trouxe consigo o
adoecimento do principal instrumento de trabalho do ser humano. A LER é uma síndrome
genérica de causa multifatorial que afeta as partes mais moles do músculo esquelético dos
membros superiores, principalmente, mãos, braços e ombro, causando dormência, dependendo
da gravidade pode gerar dor crônica e incapacidade funcional, levando a pessoa à depressão.
Desta forma, este estudo objetivou-se realizar uma revisão de literatura em universo literário,
tendo como contrapartida investigar como as organizações modernas podem contribuir para a
prevenção da Lesão por Esforços Repetitivos (LER) no ambiente de trabalho, visando assim,
melhor qualidade de vida dos trabalhadores em seu ambiente interno e externo.
PALAVRAS-CHAVE: Organização Moderna. Ambiente de trabalho. LER.
Repetitive Strain Injury (RSI): a Mysterious Illness of Work
ABSTRACT: Throughout the history of mankind workers have shown symptoms of
occupational diseases related to repetitive movements that involve everyday activities.
Technological and organizational changes in business world has brought a fuller life expectancy
and opportunities , however, brought with it the illness of the main instrument of human labor
. The RSI is a general syndrome of multiple factors affecting the softer parts of the skeletal
muscle of the upper extremities, especially the hands, arms and shoulder, causing numbness
depending on severity can cause chronic pain and disability, causing the person to depression.
Thus, this study aimed to conduct a literature review in the literary universe , with an offsetting
investigate how modern organizations can contribute to the prevention of Repetitive Strain
Injury ( RSI) in the workplace , aiming thus better quality of life workers in their internal and
external environment .
KEYWORDS: Modern organization. Work environment. RSI.
1
Graduado em Bacharel e Licenciatura em Enfermagem (FACIMED). [email protected]
Graduada em Bacharel e Licenciatura em Enfermagem (FACIMED).
³ Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários(UFPA)
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INTRODUCÃO
A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) é uma lesão que atinge as partes moles dos
músculos esqueléticos causada pela atividade continua e repetitiva que sobrecarrega o
organismo, resultante de fatores biológicos, sociais e/ou psicológicos, sendo uma doença
misteriosa que tem desafiando a medicina e os profissionais de saúde.
Este tipo de lesão inflamatória vai se instalando de forma lenta no organismo humano
e muitas vezes só é percebida quando se encontra em estado mais avançado, onde a musculatura
já está comprometida causando dor intensa, dormência e impotência, podendo chegar à dor
crônica e até mesmo a depressão.
Estudiosos reconhecem que em 1700 já era reconhecido à angústia sofrida pelos
artesãos escriturários no desempenho de atividades com movimentos repetitivos, os sintomas
descritos pelos antigos operários eram semelhantes aos expostos pelos trabalhadores da fase
moderna, no entanto, a forma de adoecimento atual mostra-se diferente devido às diferenças
sociais.
Pode-se considerar que o avanço tecnológico e a informatização nas organizações de
trabalho contribuíram para o aumento de casos de LER no país e no mundo, tendo em vista que
a modernização determinou para a amplificação das atividades manuais, exigindo maiores
movimentos recursivos principalmente na musculatura esquelética superior das mãos, ombros
e braços.
Diante deste estudo, enfatiza-se a seguinte problemática: Como as organizações
modernas podem contribuir para prevenir contra a síndrome da LER em seu ambiente de
trabalho? Tendo em vista que estudiosos relatam que o movimento contínuo e repetitivo no
desempenho das atividades pode trazer complicações a saúde do trabalhador.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho consiste em investigar como as
organizações modernas podem contribuir para a prevenção da LER no ambiente de trabalho.
Por meio dos objetivos específicos buscou-se: discorrer sobre o conceito e evolução histórica
da LER; Identificar os fatores de determinação e causalidade; evidenciar os sinais e sintomas;
caracterizar as formas de diagnostico, prevenção e tratamento da doença.
Como justificativa a este problema, é possível considerar que o estilo de trabalho, os
mecanismos e a qualidade do ambiente de trabalho tem contribuído para o agravamento da
saúde do trabalhador moderno gerando diversos tipos de doenças ocupacionais, inclusive a
LER.
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1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER)
Os primeiros relatos sobre possíveis detrimentos musculares no ser humano é
encontrado no século XVI onde os escribas e notários que trabalhavam para os príncipes já
sofriam com detrimentos musculares devido às exigências de trabalho para manter os livros
livres de manchas (MARANO, 2003).
Há muitos anos é reconhecido que o trabalho leve e/ou profissões sedentárias podem
gerar lesões do tipo ósteo muscular. Segundo Ramazzini (1992), no ano de 1700 já era descrito
pelos antigos artesãos escriturários a angústia refletida pela leviandade dos esforços e repetição
dos movimentos dos membros superiores do corpo, onde já existia a necessidade de maior
atenção (BRAVERMAN, 1981). Apesar dos sintomas descritos pelos antigos artesãos
escriturários serem bem semelhantes aos dos atuais digitadores, ainda existe uma diferença na
forma do adoecimento devido às diferenças sociais.
É provável que esta diferença existente entre as duas épocas está na questão da Lesão
por esforço repetitivo (LER) pouco refletiu nos indivíduos das décadas anteriores, tendo em
vista que até o século XIX o trabalho de escrita era uma tarefa executada por poucas pessoas,
(RIBEIRO, 1997), diferente do trabalho moderno onde o avanço tecnológico impulsionou o
mercado de trabalho a atuar com atividades mais leves como por exemplo, a digitação, uma vez
que as máquinas e computadores executam o trabalho pesado e o trabalhador apenas comanda
(DIEESE,1993).
Estudiosos consideram que a mais significativa diferença entre o trabalho operário
antigo e o moderno está relacionado à questão da LER apresentar uma forma mais rara de
adoecer (DEMBE, 1995).
No ano de 1830 a escrita por meio de caneta de pena de ave foi substituída pela caneta
de aço, tornando o trabalho de escrita mais ágil e com maior sobrepeso, aumentando as
reclamações dos trabalhadores quanto as Lesões por Esforços Repetitivos causadas por
câimbras nas mãos e nos braços (DEMBE, 1995). Este mesmo sintoma manteve presença na
década de 1870 no trabalhado dos profissionais telegráficos e em 1918 nas categorias de
mecanógrafos/datilógrafos e telefonistas, época em que coube indenização dos trabalhadores
por parte da empresa (RIBEIRO, 1997; DEMBE, 1995) e a partir de 1918 todos os
trabalhadores que adoeciam por esta doença passaram a ser indenizados (OLIVEIRA, 2007,
apud BAADER, 1960).
O Japão foi o país pioneiro em identificar a síndrome da LER, ao fim da década de 50
(RIBEIRO, 1997), já no Brasil a primeira característica sintomática da LER foi sentida pelos
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agentes bancários que atuavam como digitadores na década de 80 e com o decorrer do tempo
passou a repercutir nos centros de processamento, chegando a periferia do sistema financeiro,
seguindo para os setores industriais, metalúrgicos, químicos, eletrônicos e supermercados
(NUSAT, 1993; RIBEIRO, 1997), tornando-se na década de 90 a doença de trabalho que mais
tem sido notificada pelo Instituto Nacional de Serviço Social (NSS) (NUSAT, 1994).
“Ironicamente, o acelerado processo de automação do século XIX trouxe o adoecimento
da ferramenta de trabalho mais importante, o homem” (PANINI, 2006, p. 2), nos dias atuais, a
LER tem sido um dos graves problemas enfrentados pelas organizações de trabalho, tendo em
vista que com a modernização tecnológica as organizações tornaram-se informatizadas, fazendo
com que os funcionários realizem suas atividades de modo repetitivo (MUROFUSE e
MARZIALE, 2001), “o mesmo trabalho que possibilitou a promoção do ser humano, tem
produzido novos desafios para a área da saúde”, pois os avanços tecnológicos no mercado de
trabalho trouxeram consigo os problemas de saúde (MUROFUSE e MARZIALE, 2001, p. 20).
2 CONCEITO
A LER é atualmente uma doença que tem sido motivo de grandes discussões em debates
em razão da terminologia, diagnóstico e tratamento (MUROFUSE; MARZIALE, 2001).
É uma síndrome genérica de causa multifatorial relacionada ao ambiente de trabalho
que pode resultar em incapacidade laboral temporária ou até mesmo permanente (RIBEIRO,
1997), e engloba diversas alterações no sistema muscular esquelético mais mole em razão do
acumulo de sobrecarga gerada ao longo do tempo pelas atividades repetitivas ou postura
inadequada (MAENO, 2001), geralmente as regiões afetadas são as que desempenham maior
sobrecarga durante a realização das atividades cotidianas (MORAES, 2000; RIBEIRO, 1997).
De acordo com publicação do Ministério da Saúde, dentre as doenças consideradas
como ocupacionais que são enquadradas como LER/DORT, estão: “tendinite de flexores e
extensores dos dedos, bursite de ombro, tenossinovite de DeQuervain, tenossinovite do braquio
radial, síndrome do túnel do carpo, tendinite de supraespinhoso, tendinite de biciptal,
epicondilite” (MAENO, 2001, p. 09), no entanto a tendinites, tenossinovites e bursites são as
mais conhecidas atualmente no Brasil (GAIGHER, 2001) podendo ser ocasionada por diversos
fatores como: tocar piano, dirigir, realizar atividades domesticas, fazer crochê, no entanto, a
digitação constante é um das causas que mais propiciam para sua incidência (MARANO, 2003).
3 DETERMINAÇÃO E CAUSALIDADE
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Dentre as mais diversas mudanças ocorridas no ciclo de desenvolvimento do trabalho
da atual modernidade, é notável a diminuição do uso de força muscular (RIBEIRO, 1997). No
mercado de trabalho contemporâneo, as organizações exigem outro tipo de esforço físico, que
mesmo utilizando as estruturas esqueléticas musculares dos membros superiores, o esforço
tornou-se mais leve, o que permite que as mãos e os dedos possam alcançar maior velocidade
na realização das atividades, contudo, passa a exigir que do trabalhador uma postura mais
adequada (KUORINKA et al., 1995).
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS) segundo uma pesquisa realizada na
cidade de São Paulo, tendo como projeção 508 mil trabalhadores que encontram-se em risco de
desenvolver a lesão: 76% desenvolvem movimentos repetitivos, 62% atividades monótonas,
62% ausência de pausas, 52% junção de tarefa repetitiva e esforço físico e 49% por atividade
de esforço físico (SALIM, 2003; MS, 2001a), e “os mais atingidos são os jovens, os pouco
qualificados, do sexo feminino” (HIRATA, 2001, p.111), geralmente a faixa etária entre 20 a
40 anos estão mais propensas ao desenvolvimento das lesões musculares por movimentos
repetitivos, pois os tendões e ligamentos femininos são mais frágeis do que o dos homens, além
do mais, a mulher une a jornada de trabalho a suas atividades domesticas, se sobrecarregando
cotidianamente (SCHMITZ, 2002).
Sato (2001) considera a Lesão por Esforço Repetitivo um problema da saúde pública,
uma vez que exige uma reavaliação do campo multidisciplinar do ambiente de trabalho. E
apesar de ainda existirem pessoas que não acreditam em sua existência, a síndrome é
reconhecida pela legislação brasileira, o que desperta interesse da medicina em maior
aprofundamento sobre a mesma (MUROFUSE; MARZIALE, 2001).
4 SINAIS E SINTOMAS
A LER pode apresentar diversos sintomas concomitantes e não concomitantes
(NASCIMENTO e MORAES, 2009, p. 27) como: dores musculares, inflamação nos tendões,
sinóvias, edemas, limitações de movimentos e até mesmo ocasionar graves problemas ao
sistema modulador da dor (MAENO, 2001), além de causar dores intensas à lesão pode levar a
pessoa a impotência, pela dificuldade de movimentar seu braço e manusear objetos de trabalho
(ONEIL, 2003).
Os principais sintomas são dor, formigamento, dormência, sensação de peso, fadiga,
fraqueza, queimação, repuxamento, choque. Esses sintomas geralmente aparecem
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insidiosamente, isto é, vão se instalando vagarosamente. Podem estar presentes em
diferentes graus de intensidade e podem estar presentes ao mesmo tempo (MAENO,
2001, p. 13),
Dependendo do grau, a complicação pode “evoluir para quadros de dor crônica e gerar
incapacidade funcional”, portanto, os sintomas manifestados pelo trabalhador irão depender da
parte e da musculatura esquelética comprometida (NASCIMENTO; MORAES, 2000, p. 27).
5 DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO
Os profissionais da área de saúde tem buscado perspectivas multifatoriais com intuito
de investigar quais são as dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais e afetivas na
execução do trabalho que tem desencadeado os distúrbios de LER, visando assim, seu
diagnóstico, prevenção e tratamento (CIARLINI et al., 2005; FILHO; JUNIOR, 2004), além do
mais, diversos são os fatores que devem ser levados em consideração quanto a prevenção e
tratamento (BAÚ, 2002).
A ciência do paciente sobre os distintos diagnósticos é de suma importância para a
investigação médica e possível direcionamento terapêutico, evitando resultados incorretos
(COUTO; NICOLETTI; LECH, 1998). A condução do diagnóstico na investigação de doenças
ocupacionais deve abranger várias etapas, devendo partir da avaliação da alteração de saúde
organizacional e funcional do trabalhador, “a busca caminha dos distúrbios aos fatores casuais”
(MS, 2001b, p. 09), contudo, a junção do ambiente de trabalho, exercícios físicos de forma
sadia, podem contribuir para o tratamento da LER, no entanto, ainda é escasso a ciência sobre
a combinação de tais intervenções (IKARI, et al., 2007).
Geralmente, o diagnóstico da LER é baseado em fatores ocupacionais seguido de análise
laboratorial e físico do trabalhador (ASSUNÇÃO; ROCHA, 1993; BRASIL, 2000;
ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003), quando possível, é interessante realizar uma diagnóstico
ergonômico da atividade desempenhada pelo indivíduo que apresenta os indícios (SETTIMI et
al., 1998), em muitos casos os resultados clínicos dos pacientes portadores de LER não
condizem com os sintomas e dor crônica por eles relatada (MERLO, et al., 2001), todavia, o
maior sintoma é a dor (ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003). É importante que haja um acordo da
prevenção entre todos os empregados, independentemente do nível hierárquico, para que possa
haver revezamento entre tarefas desenvolvidas na empresa (MUROFUSE; MARZIALE, 2001),
com a finalidade de minimizar os fatores de risco ocasionados pelo trabalho excessivo e
precavendo para o não desenvolvimento das afecções musculares e outras doenças ocupacionais
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(BAÚ, 2002).
6 TRATAMENTO
Não apenas a prescrição de medicamentos, mas a associação de terapia corporal,
acupuntura, fisioterapia também podem ser inseridas no processo de tratamento (BRASIL,
2000). Vale destacar que a intervenção por meio de trabalho multidisciplinar é um outro
elemento que contribui com eficácia para melhoria do quadro do trabalhador, e caso necessário
pode ser associada juntamente com medicamentos e acompanhamento de outros profissionais
de saúde (IKARI et al., 2007).
Afastar o paciente do exercício do trabalho e das tarefas domésticas é um elemento
que pode contribuir inicialmente para o tratamento da Lesão (BRASIL, 2006), assim como a
prescrição cautelosa de antiinflamatórios e antidepressivos (FILHO; JUNIOR, 2004). Quanto
antes for diagnosticado e iniciado o tratamento adequado maiores as chances de obter resultados
positivos, isso depende do nível de informação do paciente e da qualidade do procedimento
médico (BRASIL, 2001b).
Um dos tratamentos que tem se demonstrado eficaz no tratamento da Lesão por
Esforço Repetitivo é a fisioterapia, já que contribui para o alivio da dor, relaxa os músculos e
previne a ocorrência de deformidades, elevando a capacidade funcional do trabalhador
(BRASIL, 2006), além do fisioterapeuta outros profissionais da área de saúde também podem
contribuir no processo de reabilitação do paciente (IKARI et al., 2007), como por exemplo:
médico, terapeuta ocupacional, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais (FILHO; JUNIOR,
2004), pois o tratamento realizado por uma equipe de diferentes profissionais de saúde mostrase mais favorável no alcance de resultados positivos do que o tratamento individual (BRASIL,
2000).
A medicina não tem aconselhado o tratamento da LER por meio de cirurgia, tendo em
vista que pesquisas demonstraram grande eficácia nesse tipo de doença. Além do mais, quando
o paciente já sofre da síndrome há muitos anos, a tendência da pós-cirurgia é causar dor crônica
de complexo controle (BRASIL, 2006).
No entendimento de Fontes (1995, p. 71), a saúde é: “um estado de equilíbrio
dinâmico que envolve as realidades físicas e psíquico-mentais dos indivíduos em suas
interações com o meio ambiente natural e social. Portanto, a saúde e a doença são ambas as
partes integrantes da auto-organização de um sistema vivo.”
Com o aparecimento dos sintomas da LER, o trabalhador começa a apresentar
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desestruturação de sua identidade, sintomas que tendem a se agravar levando a uma possível
depressão (DIAS, 1995; BORGES, 1999), “pelo querer ser e não poder, ou ter que deixar de
ser” (GAIGHER, 2001, p. 15).
Por isso, é importante que a equipe de saúde conscientize o paciente de suas condições
atuais, e explicar sobre a importância de sua participação no processo de reabilitação,
esclarecendo todas as sintomalogias da LER, seus determinantes e consequências (RIBEIRO,
1997), desta forma irá diminuir a ansiedade, angústia e depressão do paciente no seu cotidiano
de vida, desenvolvendo de forma gradativa sua capacidade laboral, o que irá possibilitá-lo a
regressar ao trabalho (SETTIMI, et al., 1998).
A LER é uma doença que tem desafiado as condutas médicas habituais, pois exigem
investigações de diversos aspectos (ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003), ela pode ser resultante
de fatores biológicos, sociais e/ou psicológicos, que de início é deflagrada por um único fator,
no entanto, com o decorrer do tempo este sintoma irá afetando os demais sistemas humanos
(ROSEMBERG; MINAYO, 2001), é um rompimento que pode comprometer a estrutura social,
moral, familiar, etc. do indivíduo (FILHO; JUNIOR, 2004), por isso, o profissional de saúde
precisa estar atento no início do tratamento da LER, tendo em vista que a dor pode local pode
ir se alastrando fazendo com que o paciente adoeça psicologicamente, por isso, deve ser
aplicado as interações de tratamento que apresentem maiores chances de sucesso (ROSEBERG;
MINAYO, 2001).
7 A POSTURA DAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS NA PREVENÇÃO DA LER NO
AMBIENTE DE TRABALHO
No ambiente de trabalho a própria organização pode contribuir na prevenção de doenças
ambientais que rodeiam sua equipe profissional (MIRANDA; DIAS, 1999), pois é a
organização quem define “quem faz o quê, como faz, quando faz, quanto faz e em que condições
físicas, organizacionais, gerenciais, ambientais, etc.” (RIO; PIRES, 2001, p. 191), além do mais,
investir na qualidade de vida dos trabalhadores constitui atualmente um dos principais
elementos para a prevenção contra doenças ocupacionais oriundos do exercício laboral que
causam enfermidades à saúde dos funcionários (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2008).
Segundo Nicoletti (1997), a organização precisa propiciar a sua equipe de trabalho:
ferramentas que reduzam o excesso de movimentos repetitivos, efetuar revezamento de tarefas,
melhorar o ambiente de trabalho para reduzir a repetição de movimentos, ajustar os setores de
trabalho para melhorar a postura, realizar triagem médica da equipe, evitar pressões inúteis,
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praticar exercícios de aquecimento antes de iniciar a jornada de trabalho, realizar pausas entre
as tarefas, minimizar o nível de tensão do funcionário, melhorar a qualidade de vida no trabalho,
etc.
Diversos estudos demonstram que transformar o ambiente de trabalho é uma alternativa
que contribui para na prevenção de lesões geradas por movimentos repetitivos (BRASIL,
2001b), um elemento importante que pode ser inserido neste plano é a ginástica laboral, pois a
prática de exercícios físicos eficazes contribui para melhor qualidade de vida e previnem
doenças ocupacionais (OLIVEIRA, 2007).
É interessante, entretanto, notar que a ginástica, por si só, não terá resultados
significativos, se não houver uma elaborada política de benefícios sociais, além de
estudos ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos de segurança do
trabalho, dos médicos ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos.
(OLIVEIRA, 2007, p. 47) grifo nosso .
Do ponto de vista organizacional, criar ações de promoção a saúde e a qualidade de vida
da equipe de trabalho são um investimento que traz retornos positivos a médio e longo prazo
(SESI/DN, 2009), todavia, vale destacar que a reorganização do sistema de trabalho da equipe
é fundamental para o alcance de resultados (MORIN, 2000).
8 MÉTODO
Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica no Universo Literário acerca de
diversos materiais que abordavam questões relacionadas à Lesão por Esforço Repetitivo (LER).
Os materiais utilizados foram: obras impressas, artigos periódicos/científicos, legislação
vigente e revistas, entre os anos de 1992 a 2007, sendo selecionadas quarenta e cinco obras
literárias. Foram exclusas as literaturas que não atendiam com êxito a temática proposta neste
trabalho e as obras anteriores ao ano de 1992.
O procedimento de coleta de dados ocorreu por meio da escolha dos materiais, leitura e
seleção dos textos mais importantes a elaboração da fundamentação teórica. Ao findar a
elaboração deste estudo, todas as obras citadas no decorrer da fundamentação teórica foram
listadas na bibliografia. Este estudo não apresentou nenhuma limitação durante sua elaboração,
tendo em vista que existe uma amplitude de literaturas acerca das Lesões por Esforços
Repetitivos, o que contribuiu para o alcance dos objetivos propostos.
8 DISCUSSÃO
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Por intermédio desta revisão bibliográfica percebe-se que os autores Marano (2003) e
Braverman (1981) em concordância com demais autores, discorrem que a LER é uma doença
ocupacional do trabalho que marca presença desde os primórdios da humanidade e tem se
intensificado com as mudanças tecnológicas e organizacionais no mercado de trabalho.
Murofuse e Marziale (2001) ainda complementam a colocação acima dizendo que o avanço
moderno ao mesmo tempo em que promoveu a vida do ser humano também trouxe o
adoecimento da mais valiosa ferramenta de trabalho humano, causando graves problemas à
saúde do trabalhador.
Os autores esclarecem que este problema está relacionado ao excesso de esforço
repetitivo e contínuo que lesiona os membros superiores como braço, ombro e pescoço,
causando inflamação das partes moles do músculo esquelético, dor, dormência e muitos outros
sintomas que podem se agravar caso não seja realizado o tratamento adequado com prescrição
medicamentosa e acompanhamento médico.
Na visão dos autores Miranda e Dias (1999); Sampaio e Oliveira (2008); SESI/DN
(2009), entre outros autores, recomenda-se que as organizações reorganizem seu sistema de
trabalho, adotando ações de promoção a saúde e qualidade de vida do trabalhador, uma vez que
este tipo de investimentos trará grandes resultados a sua gestão, pois o bem estar do funcionário
reflete no seu desempenho de trabalho, e o próprio ambiente de trabalho pode contribuir na
prevenção de doenças ocupacionais.
Deste modo, é de suma importância que as organizações reavaliem sua gestão e campo funcional
e invistam na qualidade de vida de seu capital intelectual, prezando pelo seu bem estar dentro e fora do
local de trabalho.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desta revisão de literatura, foi possível entender que ao longo de sua
evolução o homem tem sofrido consequências de seu ritmo de trabalho, constatou-se que desde
os primórdios da humanização os tecelões, os escribas e os escriturários já manifestavam sinais
de movimentos excessivos refletidos do cotidiano de seu trabalho. Com o decorrer do tempo, o
mundo passou por diversas mudanças socioeconômica e culturais em razão do avanço
tecnológico que trouxe uma nova característica a vida social e organizacional da população
devido à informatização.
A LER é uma doença genérica de causa multifatorial (biológicos, sociais e/ou
psicológicos) que afeta as partes mais moles do músculo esquelético dos membros superiores
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devido ao movimento continuo e repetitivo, atingindo principalmente as mãos, os braços e o
ombro, gerando dor por causa da inflamação a qual pode tornar-se crônica se não for tratada
imediata e adequadamente por profissionais especializados.
Apesar da LER ser uma síndrome que tem desafiado as condutas médicas habituais,
entende-se que um tratamento em grupo de vários especialistas na área de saúde como
enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, entre outros profissionais, e acompanhado de prescrição
de anti-inflamatórios e antidepressivos pode contribuir para alcance de resultados positivos ao
paciente.
Entretanto, vale destacar a importância das organizações em adotar instrumentos de
grande valia na prevenção de doenças ocupacionais do trabalho como a LER, por meio de
melhoria do ambiente de trabalho, revezamento e pausa na execução das atividades da equipe,
realizar ginástica laboral antes de iniciar a rotina de trabalho, criar táticas ergonômicas e
fornecer equipamentos e ambientes mais adequados. Pois quando a organização pensa no bem
estar de seus funcionários, ela também tem a ganhar muito com isso. Interessante destacar que
o enfrentamento deste tipo de doença é um problema que diz respeito não apenas as
organizações de trabalho e ao trabalhador, mas ao poder público, que precisa fiscalizar as
organizações e verificar sua estrutura de trabalho e puni-la se for o caso.
Após este contexto, considera que este estudo alcançou o objetivo proposto uma vez que
a pesquisa demonstrou que as organizações modernas podem contribuir na prevenção de
doenças ocupacionais, além de elevar o conhecimento acadêmico dos autores quanto à saúde
do trabalhador.
Sendo assim, pela relevância que o tema representa ao mercado de trabalho atual nos
mais diversos segmentos, fica o tema como sugestão para investigações futuras mais amplas
acerca de como as organizações do Estado de Rondônia tem se postado diante da qualidade do
ambiente de trabalho de sua equipe.
REFERÊNCIAS
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trabalho: membro superior e pescoço. In: MENDES, R. (Org.) Patologia do trabalho. São
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Recebido em: 30/11/2015
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