EDUCAÇÃO EM SAÚDE: DIA MUNDIAL DO RIM

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE: DIA MUNDIAL DO RIM
ZIMMERMANN, Marlene Harger1 - UEPG
ALMEIDA, Eva Aparecida2 - UEPG
CINTHO, Lilian Mie Mukai 3 - UEPG
ZARPELLON, Lidia Dalgallo 4 - UEPG
MELLO, Rosiane Guetter 5 - FPP
Eixo Temático: Educação e Saúde
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
A Doença Renal Crônica (DRC) possui elevada morbidade e mortalidade e tem aumentado
progressivamente a cada ano, em proporções epidêmicas no Brasil e em todo mundo.
Principais fatores de riscos para a DRC: hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabettes
melittus (DM), história clínica, idade acima de 50 anos, algum tipo de doença renal, familiar
com doença renal e histórico. A HAS e o DM respondem por 50% dos casos de DRC.
População em geral (75%) desconhece a repercussão dos agravos que estas doenças
representam à função renal. Objetivou-se orientar quanto à prevenção da DRC e traçar perfil
dos participantes do Dia Mundial do Rim. Evento este organizado por discentes e docentes do
curso de enfermagem da UEPG, participantes do projeto de extensão “Prevenção da Doença
Renal Crônica em Adultos portadores de Hipertensão Arterial e/ou Diabetes Mellitus”.
Ocorreu no ano de 2013 nas dependências de um hipermercado do Município de Ponta Grossa
- Paraná. Contou com a colaboração de docentes e discentes dos cursos de farmácia,
1
Mestre em Educação pela PUC-PR: Professora Assistente do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública
da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pesquisadora do Grupo Pensa – Faculdades Pequeno Príncipe Curitiba, PR. E-mail: [email protected].
2
Enfermeira e bióloga pela UEPG_PR. Professora colaboradora do Departamento de Enfermagem e Saúde
Pública da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected]
3
Professora colaboradora do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Estadual de Ponta
Grossa. Aluna do Mestrado em Tecnologia em Saúde PUC-PR. E-mail: [email protected]
4
Mestre em Educação pela PUC-PR: Professora Assistente do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública
da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pesquisadora do Grupo Pensa – Faculdades Pequeno Príncipe Curitiba, PR. E-mail: [email protected].
5
Doutora em Ciências (Bioquímica) UFPR. Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Faculdades Pequeno Príncipe
- FPP. Pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação (Stricto Sensu), Curitiba, PR.Email:
[email protected]
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enfermagem e medicina da mesma universidade. Pesquisa exploratória, abordagem
quantitativa constituída das estações: coleta de informações, aferição de pressão arterial (PA),
glicemia capilar (GC), verificação de peso, altura, circunferência abdominal, orientações e
entrega de folheto preventivo da DRC. Os principais resultados foram o atendimento de 419
pessoas, 39% do gênero masculino e 61% do gênero feminino; 26% eram idosos com idade
entre 51 e 60 anos; 26% possuíam o 1º grau de escolaridade incompleto e 0,5% eram
analfabetos; 38% eram hipertensos e 13% eram diabéticos; 30% afirmaram já ter apresentado
algum tipo de doença relacionada ao sistema excretor. Conclui-se que a Educação em Saúde
está intimamente relacionada à prevenção tornando-se um importante instrumento. Sendo a
doença renal de caráter silenciosa, ressalta-se a importância dos esclarecimentos e da
necessidade do autocuidado pela população com fatores de risco a fim de evitarem
complicações futuras.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Prevenção. Doença Renal Crônica.
Introdução
Este trabalho pretende trazer à tona algumas reflexões sobre a importância da
educação em saúde no processo de formação do profissional de saúde, em especial o
Enfermeiro. Os dados levantados são decorrentes de ação elaborada no dia Mundial do Rim,
desenvolvida em 2013 na cidade de Ponta Grossa, PR, por meio do Projeto de Extensão
“Prevenção da Doença Renal Crônica em adultos portadores de Hipertensão Arterial e/ou
Diabetes Mellitus”.
Este projeto, de iniciativa de docentes do Departamento de Enfermagem e Saúde
Pública da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), envolve 10 acadêmicos, 6
docentes e tem como objetivos orientar a população em geral sobre os cuidados preventivos
em relação à Doença Renal Crônica (DRC). Além de contribuir com informação a
comunidade, o projeto também proporciona aos discentes visualização, discussão e
enfrentamento da realidade social, permitindo dessa forma a ampliação dos
conteúdos
teóricos e práticos sobre a temática.
O projeto promove atividades de educação em saúde, que contemplam orientações e
esclarecimento acerca da DRC, fatores de riscos, prevenção e sintomas. Possui parcerias com
a Secretaria Municipal de Saúde de Ponta Grossa (SMSPG) e com a Sociedade Brasileira de
Nefrologia (SBN). Integrou-se também à Campanha Nacional denominada “Previna-se”,
promovida pela SBN, a qual disponibiliza camisetas e material educativo para a realização
das atividades.
Em 2006, a Sociedade Internacional de Nefrologia e a Federação Internacional de
Fundações do Rim instituíram o Dia Mundial do Rim com objetivo de alertar as pessoas dos
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riscos da doença renal, na tentativa de prevenção da mesma. Este evento acontece no
calendário anual, na segunda quinta-feira do mês de março, com diversas ações de prevenção
às doenças renais no mundo todo. O evento conta com a participação de mais de cem países,
entre eles o Brasil. Tendo em vista que a HAS e DM são as doenças que mais levam à DRC, a
campanha de 2013 teve como tema: “Pare de agredir seu rim”.
As Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) possuem grande parcela em
estatísticas que contabilizam a mortalidade por causas conhecidas e, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS) já fazem parte de 45,9% da carga global de doenças. Em 2008,
cerca de 62,8% das mortes ocorridas em território nacional foram ocasionadas por essas
patologias dentre as que mais se destacam a HAS e o DM.
Durante o período de 2006 a 2008 a secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde
realizou uma série de pesquisas que visava contabilizar os quadros diagnosticados dessas
patologias mais frequentes em todas as regiões do Brasil. A HAS apresentou índices de 24,4%
da população quando relacionada com todo território nacional e o estado do Paraná
apresentou porcentagens de 20,0 % e 19,5% para indivíduos do sexo masculino e feminino
respectivamente. Já para os índices que se relacionavam com o DM, apresentaram como 5,8%
quando analisado em todo o Brasil enquanto o estado do Paraná obteve índices de 5,0% e
5,2% quando analisados indivíduos do sexo masculino e feminino respectivamente.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Por meio do censo realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) no ano
de 2011, existiam mais de 91.314 pacientes em programa de diálise em todo território
nacional, levando-se em conta as 643 Unidades Renais cadastradas pela SBN. Ainda de
acordo com esse levantamento o diagnóstico base desses pacientes submetidos a diálise é em
sua grande maioria (cerca de 63%) de pacientes com HAS e DM com 35% e 28%
respectivamente (SESSO,C.C2012)..R, Esses dados demonstram que a grande causa de lesões
do sistema renal capazes de promover a perda da sua capacidade de funcionamento (filtração)
se localiza na capacidade lesiva dessas patologias que estão situadas entre as mais recorrentes
dentre as DCNT.
No Brasil, 91.314 pacientes estão em tratamento dialítico (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2011). Cerca de 10 milhões de brasileiros são portadores
de DRC e ainda não tem consciência disso (BASTOS, 2010).
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Também, no Brasil, 15 mil pessoas morrem por ano por conta da DRC. Em 2005
havia mais de 60 mil doentes em hemodiálise, um número que tem crescido em média 8% ao
ano; 95% das hemodiálises são bancadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), um gasto que,
junto aos custos do programa de transplante renal, chega a quase 2 bilhões de reais por ano, o
que representa 15% dos gastos ambulatoriais do SUS.
No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programas assistenciais destinados
ao controle e tratamento de Insuficiência Renal Crônica (IRC) dobrou nos últimos anos.
(QUEIROZ et.al. 2008). A mesma autora relata ainda que por ser uma doença progressiva e
silenciosa, seu diagnóstico, na maioria dos casos, só é feito na fase terminal, requerendo de
imediato, terapia renal substitutiva. Por isso, cada vez mais há a necessidade dos profissionais
da saúde se manter atualizados quanto ao assunto para que informações de autocuidado
ajudem os pacientes a se prevenirem.
Esta patologia renal é de elevada morbidade e mortalidade, aumentando
progressivamente a cada ano, em proporções epidêmicas no Brasil e em todo mundo. Estimase que o número de pacientes em diálise em 2015 chegará a 125.318, acarretando importante
impacto financeiro nas contas do Ministério da Saúde.
Já o índice de diabéticos e hipertensos que possuem DRC é significativo, pois a HAS e
o DM respondem por 50% dos casos de DRC (BRASIL, 2006).
Principais fatores de riscos para a DRC são a HAS, DM, história clínica, idade acima
de 50 anos, algum tipo de doença renal, familiar com doença renal. Entre a população
brasileira estima-se que tenha 30 milhões de hipertensos (24,4%), 7 milhões de diabéticos
(5,8%), 17 milhões de obesos (13,9%) e 17 milhões de idosos. O potencial para evoluir com
algum grau de insuficiência renal é de 85%. Dentre os diabéticos, 30% teriam potencial para
progredir para insuficiência renal.
O DM é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e
associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos. Configura-se hoje
como epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o
mundo.
Está associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos,
especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração, vasos sanguíneos (BRASIL, 2006).
Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da
doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350
milhões de pessoas em 2025 (BRASIL, 2006).
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As conseqüências humanas, sociais e econômicas são devastadoras: são 4 milhões de
mortes por ano relativas ao diabetes e suas complicações (com muitas ocorrências
prematuras), o que representa 9% da mortalidade mundial total. O grande impacto econômico
ocorre notadamente nos serviços de saúde, como conseqüência dos crescentes custos do
tratamento da doença e, sobretudo das complicações, como a doença cardiovascular, a diálise
por insuficiência renal crônica e as cirurgias para amputações de membros inferiores
(BRASIL, 2006).
No Brasil, o diabetes, junto com a hipertensão arterial, é responsável pela primeira
causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa
ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica
submetidos à diálise. De um modo geral, 40% dos pacientes diabéticos apresentam alguma
forma de neuropatia diabética. De acordo com dados do Sistema de Internação Hospitalar do
SUS (SIH/SUS), foram realizadas aproximadamente 5 mil amputações no ano de 2002. Deste
total, estima-se que entre 5% a 10% foram decorrentes de complicações do diabetes.
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (2007), e a Sociedade Brasileira
de Diabetes, os valores normais atribuídos para glicemia de jejum é entre 70 mg/dl e 99 mg/dl
e inferior a 140mg/dl 2 horas após sobrecarga de glicose.
O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida
pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes
responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do DM em todo o mundo (BRASIL,
2006).
Em relação à DM os autores inferem que:
Têm-se evidências que a evolução clinica se deve aos distúrbios secundários
ocasionados pela hiperglicemia em pacientes que não apresentam um bom controle
de seu nível glicêmico. Esse quadro hiperglicêmico promove o aumento na geração
de radicais livres, a depleção da forma reduzida de nicotinamida dinucleotídeo
fosfato, a ativação da via do poliol, a alteração na via da hexosamina e a glicação
proteica não enzimática que conjuntamente são responsáveis pelo desenvolvimento
de um quadro de nefropatia diabética (AUSIELLO; GOLDMAN, 2009, p. 1024).
A Sociedade Brasileira de Cardiologia considera HAS quando a pressão arterial
sistólica encontra-se maior ou igual a 140 mmHg e a pressão arterial diastólica maior ou igual
a 90 mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hipertensiva. A
doença é causada pelo aumento na contração das paredes das artérias para fazer o sangue
circular pelo corpo. Esse movimento acaba sobrecarregando vários órgãos, como coração, rins
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e cérebro. Se a HAS não for tratada, algumas das complicações poderão ocorrer, entre elas a
aterosclerose e arterioscleroses, acidente vascular cerebral, o infarto, além da DRC (SBN,
2010).
A HAS é a mais freqüente das doenças cardiovasculares. No Brasil 35% da população
acima de 40 anos é portadora desse diagnóstico. Seu aparecimento se faz cada vez mais
precoce, sendo que, cerca de 4% das crianças e adolescentes também os são.
O tratamento da HAS não requer necessariamente internação do paciente. Por suas
características de cronicidade, este poderá ser tratado em casa, devendo aderir ao tratamento
que será por tempo ilimitado. Também é fato que a doença traz consigo alguns fatores
emocionais de regressão, acentuando sentimento de fragilidade e de insegurança. O estado de
doença acarreta sempre algum nível de dependência.
Um alto valor pressórico pode atuar por meio da capacidade de danificar as células
endoteliais da arteríola aferente e dos glomérulos, causando uma lesão nesses vasos e uma
consequente trombose que diminuiria com certa capacidade de filtração do rim
(WHITWORTH, 2005, p9-10).
Outros fatores que podem atuar conjuntamente para a perda da função renal são o
colapso nos vasos glomerulares e o que, presume-se ser, o principal mecanismo que leva à
progressão da lesão renal por meio da transmissão da maior pressão sanguínea para a arteríola
aferente e ao glomérulo levando a um quadro de glomeruloesclerose (AUSIELLO;
GOLDMAN, 2009, p. 1067-68).
Entende-se por insuficiência renal a perda da capacidade que os rins têm para filtrar
o sangue ocorrendo assim o aumento da uréia e creatinina séricos. Esta perda pode
manifestar-se de forma reversível ou irreversível. “O diagnóstico da DRC baseia-se em
alterações na taxa de filtração glomerular e/ou presença de lesões parenquimatosa mantida
pelo menos três meses” (BASTOS, 2011). Há ainda uma diminuição ou parada total da
produção de urina. Assim as substâncias que normalmente o organismo eliminaria ficam
acumuladas gerando uma sobrecarga de fluidos e de eletrólitos podendo levar a mudanças
químicas no sangue, afetando o coração e o cérebro.
Já a DRC consiste em uma lesão glomerular com perda progressiva e irreversível da
função dos rins, acarretando no acúmulo de produtos metabólicos no sangue.
O diagnóstico da DRC baseia-se na identificação de grupos de risco, presença de
alterações de sedimento urinário (microalbuminúria, proteinúria, hematúria e leucocitúria) e
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na redução da filtração glomerular avaliado pelo clearance de creatina. A microalbuminúria é
especialmente útil em pacientes com DM e HAS e com história familiar de DRC sem
proteinúria detectada no exame de urina (BRASIL, 2006).
Os autores relatam ainda que por ser uma doença progressiva e silenciosa, seu
diagnóstico, na maioria dos casos, só é feito na fase terminal, requerendo de imediato, terapia
renal substitutiva, hemodiálise, diálise peritoneal ou transplante. O paciente com IRC terminal
tende a apresentar limitações físicas, sociais, psicológicas com transformações no contexto
familiar, social, econômico e até mesmo capacidade funcional.
A progressão das lesões renais se caracteriza por ser de evolução silenciosa. Os
primeiros estágios da patologia se caracterizam pelo início da perda da função excretória
renal, mas ainda de maneira discreta (valores da taxa de filtração glomerular se encontram
acima de 60 mL/min). Os estágios posteriores apresentam achados laboratoriais e o início do
aparecimento de sintomas que possam levar ao diagnóstico. Pacientes que possuem valores
que se encontram no intervalo de 29 - 15 mL/min, os sintomas já são presenciáveis como
anemia (em 29 % dos casos), HAS, e a ocorrência de edemas (ROMÃO; 2004).
Para valores inferiores a 15 mL/min o paciente perde o controle das ações internas
proporcionado pelos rins como a excreção de metabólitos, a manutenção da concentração dos
eletrólitos e o volume dos fluídos e a regulação da pressão sanguínea o que promove HAS
severa em mais de 75% dos casos (FAUCI et al; 2008.). Neste quadro as soluções terapêuticas
encontradas compreendem a diálise para retirada de solutos tóxicos e o transplante renal.
O tratamento dialítico é a alternativa para aumentar a sobrevida do indivíduo com
função renal inferior a 15%. Porém, a expectativa de vida destes pode estar diminuída em
virtude das complicações cardiovasculares (MARTINS, 2006).
Além dos exames de uréia sanguínea e creatinina sérica, o exame de urina também
pode ser empregado para analisar a função renal. Neste aspecto, Douglas (2002) comenta que
o exame de urina pode fornecer várias informações referentes à avaliação renal e que a
presença de proteinúria pode ser um sinal importante de lesão. Dessa forma, a investigação da
função renal, por meio de exames laboratoriais como a dosagem de creatinina sérica, uréia
sanguínea e proteinúria constituem uma maneira de identificar precocemente a DRC, com o
objetivo de prevenir e/ou retardar a sua progressão. De acordo com Fischbach (2006), o
exame de creatinina sérica é um dos exames utilizados para verificar o comprometimento da
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função renal. Seus valores normais para adultos estão entre 0,6-1,5mg/dL. A creatinina,
produzida a partir do fosfato de creatina muscular, é excretada pelos rins.
Segundo dados da SBN, cerca de 75% dos 1,2 milhões de brasileiros que possuem
DRC desconhecem o problema e só procuram atendimento médico quando já estão com 10%
da função renal o que determina que os mesmos entrem diretamente em tratamento dialítico.
Os pacientes com DRC instalada, só manifestam sintomas quando a função renal se encontra
com 50% de comprometimento. É primordial então que os indivíduos que apresentem fatores
de riscos para a DRC sejam investigados e descubram a doença com até 60% a 90% da
função renal.
Diante do exposto, tem-se que as doenças crônicas degenerativas são consideradas
grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Ainda não foram desenvolvidas
tecnologias de aprimoramento e avaliação com ênfase no trabalho multiprofissional e
interdisciplinar com forte conteúdo informativo (PEREIRA, 2006).
O desconhecimento de que a DRC pode ser causada por doenças que são consideradas
comuns entre a população pela sua alta incidência é um fator agravante e que pode ser uma
das causas desse número crescente de pacientes submetidos à diálise no Brasil.
Identificar a DRC em seus estágios iniciais permite intervenções com potencial de
alterar a evolução natural da doença e de diminuir a mortalidade precoce (MAGACHO,C.J.E;
et al., 2012). Para prevenir a doença renal em portadores de HAS e/ou DM necessita-se fazer
um grande trabalho educacional e de conscientização da população acometida em relação a
prevenção de agravos a médio e longo prazo. Importante também se faz o uso de dieta
apropriada, mudança no estilo de vida e uso de medicamentos para doenças de base.
O tratamento ideal da DRC é baseado em três pilares de apoio: 1) diagnóstico precoce
da doença, 2)encaminhamento imediato para tratamento nefrológico e 3) medidas para
preservar a função renal (BASTOS, 2011).
Sendo assim, a prevenção e/ou tratamento correto do DM e HAS constitui maneira
eficaz de evitar complicações cardiovasculares, em especial a IRC. Nesse sentido, a Educação
em Saúde constitui ferramenta indispensável para a promoção da saúde e prevenção de
agravos às centenas de pessoas.
Isso remete a importância que o processo educacional assume no contexto como fator
de promoção e proteção à saúde. Esta promoção tem sido amplamente discutida tendo em
vista que o modelo curativo, centrado em hospitais, consultas médicas e no incentivo ao
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consumo abusivo de medicamentos vem resultando, historicamente, numa atenção à saúde
baseada principalmente em ações curativas. A prevenção permeada pelo processo de
educação em saúde é fundamental para que este paradigma seja quebrado.
Diante do exposto, questiona-se: a população em geral, em especial, portadores de
HAS e/ou DM estão orientados quanto à prevenção da DRC, na cidade de Ponta Grossa?
Conhecem a repercussão dos agravos que estas doenças crônicas degenerativas representam à
função renal?
Para responder essas questões, o objetivo geral do presente estudo foi orientar quanto à
prevenção da DRC e traçar perfil dos participantes do Dia Mundial do Rim. Os específicos
foram realizar ações educativas principalmente para os hipertensos e diabéticos; repassar
material educativo em relação à prevenção de doença renal; proporcionar aos discentes,
visualização da realidade social em relação à prevenção da doença renal, oportunizando
ampliação de conteúdos teóricos e práticos, bem como a importância do trabalho em equipe
multidisciplinar de saúde.
Desenvolvimento
A base metodológica mais adequada que fundamentou este estudo foi a pesquisa
exploratória de abordagem quantitativa.
O cenário deste estudo foi a dependência de um hipermercado da cidade de Ponta
Grossa. O critério de seleção para a inclusão dos sujeitos, qualquer pessoa dentro do
hipermercado interessada em receber informações, que concordassem em responder perguntas
relativas ao estado de saúde pregresso e que concordassem em realizar a mensuração da
pressão arterial, glicemia capilar, peso, altura e circunferência abdominal.
A coleta de dados realizou-se no mês de março de 2013, com aplicação de
questionário do tipo estruturado com trinta e duas perguntas fechadas, o qual possibilitou
verificar o perfil e a história clínica.
O instrumento para coleta de dados foi baseado no modelo da Ficha Unificada de
Atendimento da campanha Previna-se, desenvolvido em 2005 e modificado em 2013.
Para a análise foram usadas tabulações dos dados medidas em frequência simples.
O planejamento das ações a serem desenvolvidas iniciou um mês de antecedência ao
evento, em que 04 docentes e 25 discentes receberam informações sobre o transcorrer do dia,
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em relação às atribuições e responsabilidades. O referido evento contou com a participação de
discentes e docentes dos cursos de enfermagem, farmácia e medicina. Foi amplamente
divulgado pela assessoria de imprensa por acadêmicos da Universidade Estadual de Ponta
Grossa, uma semana antes de sua realização.
Como estratégia de atuação, cinco estações foram montadas no espaço interno do
hipermercado: a primeira para coleta de dados sobre histórico de saúde relacionado à doença
renal e ao uso de medicamentos, a segunda para aferição da pressão arterial, a terceira para
realização do hemoglicoteste (HGT), a quarta para mensuração do peso, altura e
circunferência abdominal e a quinta estação para orientações relacionando os valores obtidos
com entrega de folhetos e orientações sobre prevenção da doença renal. As estações foram
constituídas por discentes sob supervisão dos docentes, conforme se observa no Esquema 1.
Os indivíduos iniciavam pela primeira estação e percorriam todo o percurso sucessivamente.
Esquema 1 - Fluxograma das estações para atendimento ao público- Dia Mundial do RIM, 2013.
Fonte: Zimmermann et al., 2013
No instrumento de coleta utilizado, foram levantados dados relativos a sexo, cor,
escolaridade, profissão, procedência, histórico de saúde e familiar do indivíduo (cardiopatias,
diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, doença renal, medicamentos), além dos
hábitos de saúde (tabagismo, exercícios físicos).
A aferição da pressão arterial foi realizada com esfignonamômetro e estetoscópio
utilizando-se técnica preconizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Foram
considerados indivíduos com risco, aqueles que apresentavam pressão arterial sistólica maior
que 140mmHg e diastólica superior à 90 ou 100mmHg.
A terceira estação destinou-se para a realização de hemoglicoteste. As lancetas e os
glicosímetros foram doados por empresa do ramo farmacêutico da cidade, apoiador da
iniciativa. Tendo em vista que os indivíduos não estavam em jejum, foi considerada como
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índice de risco de glicemia capilar pós prandial maior que 140mg/ dl. Para a coleta de sangue
da glicemia capilar foi utilizada técnica asséptica com o uso de luvas de procedimento
descartáveis. Os resíduos sólidos com contaminantes biológicos foram descartados em
recipiente específicos, conforme normas de biossegurança, e foram posteriormente
encaminhados ao serviço de gerenciamento de resíduos de saúde da UEPG.
As informações relacionando os índices de PA e HGT com a prevenção da DRC foram
realizadas na última estação. Os folhetos utilizados no evento foram doados pela SBN
(apoiadora da iniciativa).
Houve entrevista e filmagem, realizada por três emissoras de televisão e dois jornais
da cidade mostrando a importância das ações desenvolvidas com a comunidade, por meio
através do projeto de extensão.
A procura por atendimento dos serviços ofertados do Dia do Rim 2013 foi muito
significativa com o atendimento de 419 pessoas, sendo o período da tarde com maior
movimento devido à divulgação do evento no jornal da TV local.
Dos indivíduos que procuraram atendimento a maioria, 26% eram idosos com idade
entre 51 e 60 anos. Em relação ao gênero, 39% masculino e 61% feminino. A população
atendida apresentou nível de escolaridade de 2º grau completo em 30%, seguida de 1º grau
incompleto em 26% e apenas 0,5% analfabetos. Quanto à prevalência de HAS e DM entre as
pessoas atendidas, 38% se declararam hipertensas e 13% disseram ser diabéticas, porém, 90%
dos hipertensos faziam uso de medicamento para HAS e 82% dos diabéticos usavam
medicamento para o controle do DM ; 30% afirmaram já ter apresentado algum tipo de
doença relacionada ao sistema excretor. Em relação aos hábitos de saúde dos indivíduos 52%
não pratica nenhuma atividade física e 15% são fumantes. Sobre o Índice de Massa Corporal,
40% estavam com sobrepeso e 53% apresentaram circunferência abdominal maior ou igual a
102 cm no gênero masculino e maior ou igual a 88 cm no gênero feminino, considerado risco
aumentado substancialmente para doença cardiovascular.
Alguns valores de glicemia capilar e de PA mostraram-se preocupantes por
apresentarem valores muito acima da média recomendável. Estes foram encaminhados aos à
serviços especializados. Em relação à glicemia foi detectada um valor capilar de 424mg/dl,
feito então encaminhamento do paciente também ao serviço especializado.
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Durante a realização das atividades houve compartilhamento de informações entre os
cursos de enfermagem, farmácia e medicina de modo que cada curso, com seu conhecimento
específico, forneceu sua contribuição nos serviços prestados à comunidade.
As atividades elencadas formaram uma rede cujo desfecho culminaram na educação à
comunidade. A parceria entre Universidade e comunidade torna-se fundamental para que o
aprendizado possa ser consolidado mediante aplicação dos diferentes conhecimentos em
diferentes situações. O ambiente se torna mais propício para o aprendizado correlacionando a
teoria com a prática da educação em saúde.
Os indivíduos que participaram deste processo educacional puderam comprovar que a
HAS e o DM são doenças silenciosas, agressivas cuja repercussão é a função renal.
Considerações finais
O processo de ensino e aprendizagem voltado à saúde não ocorre somente em sala de
aula, mas sim em todos os lugares. A adoção de metodologias envolvendo projetos voltados
ao enfrentamento do discente à realidade da saúde da população assume importância enquanto
partícipe da promoção à saúde e prevenção de agravos.
A multidisciplinaridade, a interação com o mundo cuja teoria e prática se articulam é
fundamental para alunos e comunidade tendo em vista que interferir sobre o processo
saúde/doença é dever de todos para uma sociedade mais saudável em que só há ganho com
esta troca.
Indivíduos com fatores de risco em desenvolver DRC, são os mais beneficiados
quando universidade e sociedade se dão as mãos.
Este resultado de pesquisa por meio de projeto de extensão, tem propiciado processo
único e contínuo de aprendizado aos usuários, bem como aos acadêmicos, englobando ações
que transcendem as atividades realizadas na unidade de saúde da família colocando
universidade e comunidade frente às reais condições de saúde das doenças da população.
A educação em saúde é um importante instrumento de prevenção que auxilia os
indivíduos no conhecimento e na realização do autocuidado. Salienta-se a importância do
profissional da saúde enfatizando a prevenção da DRC atuando de forma educativa e
contribuindo com o aprendizado dessas pessoas.
REFERÊNCIAS
26844
AUSIELLO, D; GOLDMAN, L. Cecil medicina. Tradução de Adriana Pitella Sudré et al. 23.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009
BASTOS,M.G.; KIRSZTAJN,G.M. Doença Renal Crônica: importância do Diagnóstico
precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada para melhora do
desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise. Jornal Brasileiro de Nefrologia, vol.
1, nº33, p.93-108, 2011.
BASTOS, M. G.; BREGMAN, R; KIRSZTAJN, G. M. Doença renal crônica: frequente e
grave, mas também prevenível e tratável, São Paulo. Rev. Assoc. Med. Bras. v.56, n.2,
p.248-253, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica, 2006.
DOUGLAS, R. C. Tratado de fisiologia médica à saúde. 5. ed. São Paulo: Rob Editorial,
2002.
FAUCI, et al. Harrisson medicina interna. 17.ed. Rio de Janeiro: Mc Graw-Hill, 2008.
FISCHBACH, F. Manual de Enfermagem: exames laboratoriais e diagnósticos. 7. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
MAGACHO, C.J.E. et al. Tradução, adaptação cultural e validação do questionário
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