Impacto da intervenção nutricional no perfil antropométrico e

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Artigo Original/Original Article
http://dx.doi.org/10.4322/nutrire.2012.019
Impacto da intervenção nutricional no perfil
antropométrico e consumo alimentar de
participantes da Estratégia de Saúde da Família
Impact of nutritional intervention on the
anthropometric profile and dietary intake of
participants of the Family Health Strategy (FHS)
ABSTRACT
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S.
D. Impact of nutritional intervention on the anthropometric profile
and dietary intake of participants of the Family Health Strategy (FHS).
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São
Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
The evaluation of the impact of nutritional intervention on dietary habits
and anthropometric profile of adults and elderly assisted by the Family
Health Strategy (FHS) consisted of a descriptive study carried out with
77 subjects enrolled in this program in a health center in the municipality
of Viçosa, State of Minas Gerais, Brazil . A clinical nutritional script was
used to collect data on the socioeconomic, health, anthropometric and
dietary profiles of patients. Anthropometric measures and dietary intake
were assessed in the first and last days of assistance. Dietary habits
were assessed using the Diet Quality Index (DQI). Hypertension was
prevalent among the diseases reported, with or without associations to
other comorbidities. At baseline, it was found that most patients (80.5%)
were overweight; at the end of the study, weight loss was 36% and
33.3% for the adult and elderly patients initially treated, respectively.
Weight gain occurred in 21.3% of adults and 26.7% of the elderly. It
was also possible to observe that the total fat (r=–0.494) and saturated
fat (r=–0.257) correlated negatively, while the dietary fiber (r=+0.421)
showed positive correlation with the DQI. Thus, nutritional intervention
promoted a positive impact among those who lost weight, as well as
among those who improved the quality of food intake measured by the
DQI, only through simple measures such as the increased consumption
of fruits and vegetables, encouragement of rice and beans consumption,
and discouragement of high-fat content foods consumption, especially
saturated fats and simple sugars.
DANIELLE SOARES GARDONE1;
SÔNIA MACHADO ROCHA
RIBEIRO1;
ROBERTA RIBEIRO SILVA2;
HÉRCIA STAMPINI DUARTE
MARTINO1
1
Universidade Federal de
Viçosa – UFV, Centro de
Ciências Biológicas – CCB-II,
Departamento de Nutrição e
Saúde.
2
Universidade Federal de
Alfenas – UNIFAL-MG,
Departamento de Nutrição.
Endereço para correspondência:
Danielle Soares Gardone.
Universidade Federal de
Viçosa – UFV.
Centro de Ciências Biológicas e
da Saúde.
Departamento de Nutrição e
Saúde. Campus Universitário,
S/N. CEP 36570-000.
Viçosa - MG - Brasil
E-mail: [email protected].
Agradecimentos:
Ao Programa Institucional de
Bolsa de Extensão (PIBEX) da
Universidade Federal de Viçosa
pela bolsa concedida à aluna; à
Equipe de saúde da Família do
bairro Silvestre em Viçosa pelo
apoio ao desenvolvimento do
projeto.
Keywords: Adult. Elderly. Family health. Anthropometry. Food habits.
245
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
RESUMEN
Este estudio evaluó el impacto de la intervención
nutricional en los hábitos alimentarios y el perfil
antropométrico de los adultos y los ancianos
atendidos por la Estrategia de Salud de la
Familia (ESF). Se trata de un estudio descriptivo,
realizado con 77 participantes de la ESF en
un centro de salud en la ciudad de Viçosa,
MG. Se utilizó un cuestionario clínico de
nutrición para colectar los datos del perfil
socioeconómico y de salud, perfil antropométrico
y alimentario. Las medidas antropométricas
y el consumo de alimentos se evaluaron en el
primer y último día de atención en el centro
de salud. Los hábitos alimentarios se evaluaron
utilizando el Índice de Calidad de la dieta (ICD).
Entre las enfermedades relatadas predominó la
hipertensión (55,9%), relacionada o no a otras
morbidades. Al inicio del estudio se encontró
que la mayoría de los pacientes (80,5%) tenían
sobrepeso. Al final del estudio hubo pérdida de peso
en 36% de los adultos y 33,3% de los ancianos. El
21,3% de los adultos y el 26,7% de los ancianos
aumentaron de peso. La grasa total (r=–0,494) y las
grasas saturadas (r=–0,257) se correlacionaron
negativamente con el ICD, mientras que las fibras
alimentares lo hicieron positivamente (r=0,421) .
Por lo expuesto anteriormente, podemos concluir
que la intervención nutricional promovió un
impacto positivo entre quienes perdieron peso, así
como entre quienes mejoraron la calidad de su
alimentación (medida por el ICD) con medidas
simples como aumentar el consumo de frutas
y hortalizas, estimular el consumo de arroz y
frijoles y desestimular el consumo de alimentos
ricos en grasas, especialmente las saturadas y los
azúcares simples.
Palabras clave: Adulto. Anciano. Salud de la
familia. Antropometría. Hábitos alimenticios.
246
RESUMO
A avaliação do impacto da intervenção
nutricional nos hábitos alimentares e
perfil antropométrico de adultos e idosos
atendidos pela Estratégia Saúde da Família
consistiram de um estudo descritivo, realizado
com 77 indivíduos cadastrados em uma
unidade de saúde na cidade de Viçosa, MG.
Utilizou-se um roteiro clínico nutricional
para coletar os dados socioeconômicos e de
saúde, perfil alimentar e antropométrico.
As medidas antropométricas e consumo
alimentar foram avaliados no primeiro
e último dia de atendimentos. Os hábitos
alimentares foram avaliados por meio
do Índice de Qualidade da Dieta (IQD).
Entre as doenças relatadas a hipertensão
predominou relacionada ou não a outras
morbidades (55,9%). No início do estudo,
verificou-se que a maioria dos indivíduos
(80,5%) tinham excesso de peso e que, ao final
do estudo, houve perda de peso em 36% e 33,3%
dos adultos e idosos atendidos inicialmente,
respectivamente. O ganho de peso ocorreu
em 21,3% dos adultos e 26,7% dos idosos.
Observou-se ainda que as gorduras totais
(r=–0,494) e gorduras saturadas (r=–0,257)
correlacionaram-se negativamente e as fibras
alimentares (r=+0,421) positivamente com o IQD.
Logo, a intervenção nutricional promoveu
impacto positivo entre aqueles que perderam
peso, bem como entre os que melhoraram a
qualidade de sua alimentação, medida pelo IQD
com medidas simples como aumentar o consumo
de frutas e hortaliças, estimular o consumo
de arroz e feijão e desencorajar o consumo de
alimentos ricos em gorduras, principalmente as
saturadas e açúcares simples.
Palavras-chave: Adulto. Idoso. Saúde da família.
Antropometria. Hábitos alimentares.
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
INTRODUÇÃO
A transição nutricional, caracterizada pela redução contínua dos casos de desnutrição e pelas
prevalências crescentes do sobrepeso e obesidade, vem ocorrendo e, como consequência, há
o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (POPKIN, 2004; COUTINHO;
GENTIL; TORAL, 2008).
O excesso de peso corporal atinge cerca de 1/3 da população adulta no mundo e apresenta
uma tendência crescente nas últimas décadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997).
No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAIA E ESTATÍSTICA, 2010) realizada entre 2008 e 2009 mostraram que, dos adultos,
2,7% tinham déficit de peso, 1,8% dos homens e 3,6% das mulheres. O excesso de peso, por sua
vez, atingiu cerca da metade dos homens e das mulheres, excedendo em 28 vezes a frequência do
déficit de peso no caso masculino e em 13 vezes no feminino. Eram obesos 12,5% dos homens
e 16,9% das mulheres.
A alimentação desequilibrada e o sedentarismo constituem os fatores mais frequentemente
apontados como determinantes do súbito aumento dos casos de obesidade entre as populações
(MONTEIRO; RIETHER; BURINI, 2004). Além disso, o tratamento do excesso de peso ao
longo dos anos tem sido negligenciado, talvez por causa das inúmeras dificuldades que envolvem
sua abordagem clínica, como a adesão do paciente às propostas terapêuticas conservadoras, sendo
a principal delas a mudança no estilo de vida (SANTOS, 2006; CHIMENTI et al., 2006).
Tal situação reforça a necessidade de se desenvolver estratégias de intervenção nutricional,
como o estímulo à mudança de comportamento da população de risco e a divulgação de
informações sobre medidas de prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis
(RIBEIRO; CARDOSO, 2002). Essas propostas de intervenção para uma alimentação saudável
devem propor modificações dietéticas que estejam ao alcance da população como um todo e que
tenham um impacto sobre os mais importantes fatores relacionados às várias doenças. Aumentar o
consumo de frutas e hortaliças e estimular o consumo de arroz e feijão são exemplos de proposições
que preenchem estes requisitos.
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto da intervenção nutricional
nos hábitos alimentares, no perfil antropométrico e, consequentemente, nas condições de saúde
de adultos e idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da Família de uma Unidade de Saúde da
cidade de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
METODOLOGIA
A unidade de saúde em estudo conta com uma equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF)
composta por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários
de saúde e, no ano de 2009, possuía 2962 famílias cadastradas e nestas, 1848 eram adultos e 308
idosos. A Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998) propõe
que, para países em desenvolvimento, o limite etário seja de 60 anos ou mais de idade, na definição
da população idosa.
Trata-se de um estudo descritivo com indivíduos de ambos os gêneros, com idade entre
21 e 81 anos, que procuraram o atendimento nutricional na unidade de saúde por iniciativa
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GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
própria e/ou por encaminhamento dos profissionais da ESF, incluindo médico, enfermeiro e
agentes comunitários de saúde. Para o presente estudo, foram selecionados somente aqueles
que compareceram ao atendimento nutricional no período de abril de 2009 a janeiro de 2010,
utilizando como critério de inclusão o comparecimento em dois ou mais atendimentos, totalizando
77 indivíduos.
Os dados para a caracterização da população em estudo foram obtidos a partir de um roteiro
clínico-nutricional utilizado para atendimento e nele constavam informações socioeconômicas
e de saúde, perfil alimentar e antropométrico. Considerou-se para este estudo os dados de peso
corporal, circunferência da cintura e quadril e consumo alimentar realizado no primeiro e no
último dia de atendimento dietoterápico. Os hábitos alimentares como fracionamento, ingestão
de alimentos dentro e entre os grupos e Índice de Qualidade da Dieta (IQD) foram avaliados por
meio de análise de dois recordatórios de 24 horas que foram aplicados no primeiro e no último
dia de atendimento.
A intervenção nutricional foi realizada por meio de orientações nutricionais, planos alimentares,
estímulo à atividade física em nível individual e também sob a forma de palestras mensais.
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado por meio da relação entre peso corporal total,
em quilogramas, e estatura, em metros ao quadrado. Na interpretação do IMC, utilizaram-se os
pontos de corte para adultos propostos pela Organização Mundial da Saúde (ORGANIZACIÓN
MUNDIAL DE LA SALUD, 1995) e para idosos adotaram-se os pontos de corte propostos por
Lipschitz (1994).
As circunferências da cintura e do quadril foram mensuradas utilizando fita métrica
flexível e inelástica. A circunferência da cintura (CC) foi obtida durante a expiração normal,
sendo circundada a circunferência no ponto marcado acima da cicatriz umbilical que dista
dela duas polegadas. A circunferência do quadril (CQ) foi verificada na região glútea, sendo
circundada a maior circunferência horizontal entre a cintura e os joelhos (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1997). Os dados obtidos pela relação cintura-quadril (RCQ), que mede o
risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, foram comparados com referenciais
propostos por Bray e Gray (1988).
A adesão foi avaliada por meio do comparecimento dos indivíduos às consultas de retorno
agendadas e do tempo de acompanhamento dietoterápico. Para avaliação dos hábitos alimentares,
foram aplicados dois recordatórios de 24 horas, no primeiro e último dia de atendimento
dietoterápico. Posteriormente, o cálculo do valor nutritivo dos alimentos consumidos foi avaliado
utilizando-se o software Diet Pro 5i. Foi calculada a porção de cada grupo de alimentos empregando
os valores sugeridos na pirâmide alimentar adaptada por Philippi et al. (1999). Preparações
que envolveram mais de um grupo de alimentos, como sanduíches, pizzas, massas recheadas e
sucos enriquecidos, foram desmembradas em seus ingredientes e classificados em cada grupo
correspondente.
Para avaliação da qualidade da dieta, foi utilizado o Índice de Qualidade da Dieta (IQD)
proposto por Kennedy et al. (1995) e adaptado por Fisberg et al. (2004). Para melhor caracterizar
a alimentação da população em estudo, adotaram-se as modificações utilizadas por Godoy et al.
(2006), o qual substitui o componente “gordura saturada” pelo “grupo das leguminosas” e
considera o tamanho da porção para o cálculo da variedade da dieta. Este índice foi obtido por
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GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
uma pontuação distribuída em dez componentes que caracterizam diferentes aspectos de uma
dieta saudável. Cada componente avaliado foi pontuado de zero a dez, sendo que os valores
intermediários foram calculados na proporção consumida.
Assim, neste índice, os seis primeiros componentes correspondem aos grupos dos alimentos:
outros três são representados pelos nutrientes gordura total, colesterol e sódio; e o último, pela
variedade da dieta.
Depois de realizar os cálculos de cada grupo, os valores foram somados e o IQD de cada
indivíduo foi classificado de acordo com a seguinte pontuação: abaixo de 51 pontos – dieta
“inadequada”; entre 51 e 80 pontos – “dieta que necessita de modificações”; e superior a
80 pontos – “dieta saudável” (GODOY et al., 2006).
Calculou-se também a distribuição percentual dos macronutrientes, gordura saturada e
quantidade ingerida de fibra alimentar, por meio das médias obtidas após avaliação dos recordatórios
de 24 horas.
Os dados obtidos foram armazenados em banco de dados criado no programa Microsoft
Office Exel 2003. As análises estatísticas foram realizadas por meio do software SPSS Science
SigmaStat 2.03. Foram empregados Teste t-pareado para avaliar o efeito da intervenção sobre as
variáveis contínuas e correlação de Pearson para IQD e nutrientes. Para análises categorizadas, usou
o teste exato de Fisher. Em todos os testes estatísticos, foi adotada como nível de significância a
probabilidade de 5% (p<0,05).
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da Universidade Federal de Viçosa, MG, protocolo nº 123/2009 e realizado posteriormente à
assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido por todos os participantes.
RESULTADOS
A população em estudo foi constituída por 77 indivíduos, a maioria (83,1%, n=64) do sexo
feminino, sendo 61% (n=47) adultos e 39% (n=30) idosos, com média de idade, desvio padrão e
medianas de 41,6±16,4 e 39,0 anos, respectivamente (Tabela 1).
Em relação ao nível de escolaridade, houve predomínio de indivíduos com o ensino
fundamental incompleto, seguido daqueles com ensino médio completo. Em relação à renda,
verificou-se que a maioria dos participantes tinha renda familiar entre um e dois salários mínimos,
no entanto, 85,7% dos participantes tinham moradia própria (Tabela 1).
Quanto às doenças relatadas, observou-se que 29,9% eram hipertensos, 3,9% diabéticos e
6,5% relataram alguma alteração do perfil lipídico. Constatou-se ainda que 26% apresentavam
duas ou mais dessas doenças concomitantemente. Dos participantes, 74% faziam uso crônico
de medicamentos sendo que 11,7% chegavam a utilizar cinco ou mais tipos de medicamentos
diariamente (Tabela 2).
A adesão ao acompanhamento dietoterápico foi avaliada por meio do comparecimento dos
participantes às consultas de retorno agendadas e ao tempo de acompanhamento. Verificou-se
que 27,3% compareceram a duas ou mais consultas de retorno (Tabela 2), por um período médio
de 4,2+3 meses.
249
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Tabela 1 - Caracterização socioeconômica dos adultos e idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da
Família de uma Unidade de Saúde, Viçosa-MG, 2009
Variável
n
%
21 a 59 anos
47
61,0
60 a 81 anos
30
39,0
Feminino
64
83,1
Masculino
13
16,9
Nenhuma
7
9,1
Ensino Fundamental Incompleto
26
33,8
Ensino Fundamental Completo
8
10,4
Ensino Médio Incompleto
5
6,4
Ensino Médio completo
24
31,3
Ensino Superior Incompleto
2
2,6
Ensino Superior Completo
5
6,4
Menor que um salário mínimo
2
2,6
1 |– 2 salários mínimos
32
41,6
2 |– 4 salários mínimos
25
32,5
4 |– 6 salários mínimos
12
15,6
> 6 salários mínimos
1
1,3
Não souberam informar
5
6,4
Casa ou apartamento próprio
66
85,7
Casa ou apartamento alugado
11
14,3
77
100
Idade
Sexo
Escolaridade
Renda familiar
Moradia
Total
Quanto ao registro dos parâmetros, embora uma análise mais acurada desse quesito não
fosse o escopo principal deste trabalho, ele se tornou parte do processo de análise da atenção
prestada aos usuários. Ele foi considerado bastante insatisfatório em alguns parâmetros das
evoluções dos profissionais que realizaram os atendimentos, principalmente, para a aferição dos
dados antropométricos e realização dos recordatórios alimentares. Sendo assim, houve diferenças
nos números de registros das variáveis estudadas (IMC, CC, RCQ, IQD) no início e no fim do
acompanhamento nutricional.
250
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Tabela 2 - Caracterização do estado de saúde e adesão ao acompanhamento nutricional dos adultos
e idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da Família de uma Unidade de Saúde, Viçosa, MG, 2009
Variável
n
%
Nenhuma
26
33,7
Hipertensão arterial
23
29,9
Diabetes mellitus
3
3,9
Dislipidemias
5
6,5
Hipertensão+diabetes
7
9,1
Hipertensão+dislipidemias
7
9,1
Hipertensão+diabetes+dislipidemias
6
7,8
0
20
26,0
1a2
32
41,5
3a4
16
20,8
5 ou mais
9
11,7
Não retornou
35
45,4
1 retorno
21
27,3
2 retornos
11
14,3
3 ou mais retornos
10
13
77
100,0
Morbidades referidas
Quantidade de medicamentos utilizados
Adesão ao acompanhamento
Total
Segundo dados do IMC, no início do acompanhamento dietoterápico, a maior prevalência foi
de obesidade, seguido de sobrepeso, eutrofia e de baixo peso. Esses resultados foram encontrados
tanto para adultos quanto para idosos. Observou-se ainda, pela circunferência de cintura e pela
relação cintura quadril, que a maioria dos indivíduos atendidos, cerca de 63,8% dos adultos e 73,4%
dos idosos, possuía risco muito elevado para doenças cardiovasculares (Tabela 3).
Ao final do acompanhamento dietoterápico, observou-se perda de peso em 36% e 33,3% dos
adultos e idosos atendidos inicialmente, respectivamente. O ganho de peso ocorreu em 21,3%
dos adultos e 26,7% dos idosos.
Ao analisar os recordatórios alimentares de 24 horas dos indivíduos no primeiro e último
dia de atendimento pelo índice de Qualidade da Dieta (IQD), constatou-se que, no início do
acompanhamento nutricional, a maioria dos adultos e idosos necessitava de modificações na dieta
a fim de torná-la adequada. Depois do período de acompanhamento, observou-se que, entre os
adultos, aumentou a prevalência de indivíduos com a dieta adequada, passando de 17% para 34%.
251
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Tabela 3 - Caracterização antropométrica e do consumo alimentar dos adultos e idosos atendidos pela
Estratégia de Saúde da Família de uma Unidade de Saúde, Viçosa, MG, 2009
Adultos % (n)
IQD
Antes
Depois
Adequado
16,7 (3)
33,3 (6)
Necessita de modificações
77,8 (14)
66,7 (12)
Inadequado
IMC
CC
RCQ
p
0,97
Idosos % (n)
Antes
Depois
23,1 (3)
15,4 (2)
69,2 (9)
76,9 (10)
5,5 (1)
0 (0)
7,7 (1)
7,7 (1)
0 (0)
0 (0)
6,7 (2)
10,5 (2)
Eutrofia
17,0 (8)
14,8 (4)
16,7 (5)
10,5 (2)
Sobrepeso
36,2 (17)
37,0 (10)
23,3 (7)
10,5 (2)
Obesidade
46,8 (22)
48,2 (13)
53,3 (16)
68,5 (13)
Adequado
14,6 (6)
11,8 (2)
13,6 (3)
15,4 (2)
Risco elevado
22,0 (9)
29,4 (5)
13,6 (3)
7,7 (1)
Risco muito elevado
63,4 (26)
58,8 (10)
72,8 (16)
76,9 (10)
Adequado
29,3 (12)
31,2 (5)
27,3 (6)
27,3 (3)
Risco aumentado
70,7 (29)
68,8 (11)
72,7 (16)
72,7 (8)
Baixo peso
0,00
0,002
0,003
p*
0,006
0,00
0,002
0,006
*Teste exato de Fisher.
A porcentagem de inadequação entre esses indivíduos após o acompanhamento foi zero (p=0,97)
(Tabela 3). Entre os idosos, a porcentagem de adequação da dieta caiu de 23,5% para 16,7%, o
que refletiu no aumento daqueles indivíduos que necessitavam de adequações na dieta.
O consumo médio de nutrientes da dieta dos adultos e idosos atendidos antes e após o
acompanhamento está apresentado na Tabela 4. O nutriente que apresentou melhoria significativa
(p=0,050) no consumo, após o acompanhamento nutricional, foram as fibras alimentares.
Quando se comparou consumo médio de nutrientes com o IQD, observou-se que antes do
acompanhamento dietoterápico, o IDQ baixo teve correlação com alto consumo de gordura total
(p=0,009; r=–0,494). Depois da intervenção, o IDQ baixo teve correlação com alto consumo
de gordura saturada (p=0,018; r=–0,421). O nutriente que influenciou de forma significativa na
melhoria do IQD foi a fibra alimentar (p=0,022; r=0,353) (Tabela 5).
DISCUSSÃO
Foi demonstrado, no presente trabalho e por Cervato et al. (2005) e Amado, Arruda e Ferreira
(2007), maior presença feminina nas unidades de saúde. Segundo esses autores, as mulheres
possuem maior longevidade, o que explica a predominância desse gênero na busca de uma
assistência sistemática e contínua à saúde. As mulheres tornam-se mais sensibilizadas às necessidades
demandadas para a promoção de saúde, em decorrência de sua experiência na utilização dos serviços
de saúde em outras fases da vida, em especial, para realização do pré-natal, parto e puericultura.
252
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Tabela 4 - Média e desvio padrão das estimativas do consumo de nutrientes da dieta dos adultos e idosos
atendidos pela Estratégia de Saúde da Família de uma unidade de saúde de Viçosa, MG, 2009
Adultos - Média (±DP)
Antes
Idosos - Média (±DP)
p*
Depois
Antes
1676,9±869,2
1420,4±497,8
1279,1±359,4
1540,4±610,3
0,719
21,7±12,6
19,0±9,2
16,3±5,9
19,4±9,0
0,874
222,4±138,4
197,3±68,7
173,8±59,8
206,2±122,6
0,956
2,9±2,0
2,6±1,3
2,2±1,0
2,6±1,7
0,833
Proteína (g)
65,5±27,7
53,2±15,0
56,0±13,9
64,1±22,3
0,424
Proteína (g/Kg de peso)
0,85±0,5
0,7±0,32
0,7±0,2
0,8±0,3
0,605
Lipídio (g)
59,3±33,7
46,6±23,3
40,0±16,0
45,9±19,3
0,357
Lipídio (g/Kg de peso)
0,8 ±0,4
0,6±0,3
0,5±0,2
0,6±0,3
0.424
Gordura saturada (g)
12,3 ±9,6
9,2±4,1
8,4±5,2
10,7±5,0
0,638
Colesterol (mg)
147,6±73,4
120,6±59,4
137,2±76,4
150,3±98,7
0,627
15.6±12.5
17.1 ±7.3
12,8±5,6
18,2±10,81
0,050*
2058,7±1126,5
3304,6±3216,3
0,938
Energia (Kcal)
Energia (g/Kg de peso)
Carboidrato (g)
Carboidrato (g/Kg de peso)
Fibra alimentar (g)
Sódio (mg)
3314,8±3317,5
2334,9±1392,5
Depois
*Teste t-pareado.
Tabela 5 - Coeficiente de correlação entre Índice de Qualidade da Dieta e energia e nutrientes da dieta
dos adultos e idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da Família do bairro Silvestre, Viçosa, MG, 2009
Antes
Depois
r
p
r
p
0,101
0,588
0,230
0,213
Gordura total (%)
–0,494
0,009
–0,257
0,163
Gordura saturada (%)
–0,267
0,147
–0,421
0,018
Colesterol
–0,059
0,753
–0,123
0,508
Sódio
0,070
0,708
0,105
0,572
Fibras
0,353
0,051
0,353
0,022
Energia
r=Correlação de Pearson.
No que se refere à escolaridade, observou-se que 42,9%, a maioria dos indivíduos, era analfabeta
ou não concluíra o ensino fundamental, o que caracterizou menos de oito anos de estudo. Sichieri,
Castro e Moura (2003) também observou prevalências parecidas de baixa escolaridade quando
estudou a associação de fatores ao consumo da população. Ela ainda concluiu que escolaridade e
renda são os fatores que mais determinam o consumo alimentar da população urbana.
253
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Com relação à renda, observou-se que a maior parte dos indivíduos neste estudo tinha renda
familiar entre um e dois salários mínimos. Dados semelhantes foram encontrados por Paz et al.
(2011) em um estudo que avaliou os estilos de vida dos pacientes hipertensos, também atendidos
pela ESF.
Ao longo do presente estudo, muitos indivíduos justificavam a monotonia alimentar e ou a
falta de alguns alimentos em seu cardápio pela falta de condições financeiras. Se considerarmos a
faixa de renda que delimita a linha de pobreza proposto por Hoffmann (1996) que é de 2,5 salários
mínimos, muitas famílias deste estudo encontram-se abaixo desse limiar.
No que se refere às morbidades relatadas, observou-se que a hipertensão arterial isolada ou
associada com outras morbidades foi a enfermidade mais frequente, seguida de dislipidemias,
corroborando com estatísticas nacional e mundial (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HIPERTENSÃO, 2010). A coexistência de hipertensão arterial e diabetes mellitus multiplicam
de maneira exponencial o risco de morbidade e mortalidade por problemas relacionados com
macro e microangiopatia. Quando há dislipidemia associada a outras patologias, seu impacto como
fator de risco cardiovascular chega a ser duas vezes maior (CAZARINI et al., 2002; TRÊS et al.,
2009, PAZ et al., 2011).
Observou-se ainda que a maioria dos participantes (74%) fazia uso de algum tipo de
medicamento e, em 11,7% deles, esse consumo era superior a cinco medicamentos diferentes ao
dia. Dados semelhantes foram observados por Bortolon et al. (2008) em um grupo de idosos,
que é o grupo mais exposto à polifarmacoterapia na sociedade, com uma média de utilização
entre dois a cinco tipos de drogas. Essa utilização elevada de medicamentos concomitantemente
favorece o aumento de efeitos adversos que interferem na digestão, absorção e metabolismo de
nutrientes. Deve-se salientar que a maioria dos indivíduos possui uma renda familiar baixa, que,
associada aos elevados gastos com medicamentos, interfere na adequada aquisição de alimentos.
Outro dado importante foi a qualidade do registro dos dados dos indivíduos atendidos.
Verificou-se que dados antropométricos importantes como peso, CC, RCQ, bem como
recordatórios alimentares não foram registrados em todos os atendimentos. Donabedian (1988)
afirma que a qualidade dos registros efetuados é reflexo da qualidade da assistência prestada e,
no presente estudo, bem como no estudo de Vasconcellos, Gribel e Moraes (2008), que avaliou
a qualidade do prontuário do paciente na atenção básica, foram encontradas muitas falhas no
registro dos atendimentos prestados.
Quanto ao estado nutricional, encontrou-se elevada prevalência de sobrepeso e obesidade
e baixa prevalência de baixo peso, que ocorreu somente entre os idosos. Esses achados estão de
acordo com os recentes resultados divulgados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
2008-2009 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (2010) em parceria com o
Ministério da Saúde. Segundo essa pesquisa, o excesso de peso quase triplicou entre homens e a
obesidade cresceu mais de quatro vezes entre os homens e mais de duas vezes entre as mulheres.
Os dados encontrados para circunferência de cintura e relação cintura-quadril (RCQ) também
foram preocupantes, visto que a maioria dos adultos e idosos possui risco muito elevado para
doenças cardiovasculares, corroborando com estudo de Girotto, Andrade e Cabrera (2010) e
também de Machado e Sichieri (2002), que constataram aumento elevado da prevalência de doenças
cardiovasculares com a idade, em ambos os sexos, e de forma mais acentuada em mulheres e idosos.
254
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
Entre os indivíduos com registros antropométricos do primeiro e último atendimento,
observou-se perda de peso em 36% e 33,3% dos adultos e idosos atendidos inicialmente,
respectivamente. Entre esses indivíduos, essa melhoria é importante, uma vez que estudos como
os de Barbato et al. (2006) e Teixeira et al. (2006) demonstraram que a perda de 5% a 7% de peso
em obesos de grau I é suficientemente efetiva para reduzir a pressão arterial, os níveis de colesterol
total e o LDL - colesterol. No entanto, ocorreu ganho de peso em 21,3% dos adultos e 26,7%
dos idosos, o que pode refletir uma dificuldade de adesão ao tratamento dietoterápico proposto.
A adesão é o determinante primário para o sucesso de qualquer tratamento e pode ser definida
como extensão do comportamento individual (administração de medicamento, seguimento de
orientações dietéticas, mudanças de estilo de vida), correspondendo e concordando com as
recomendações de um profissional de saúde (CHIMENTI et al., 2006). A dificuldade de adesão
ao tratamento nutricional, principalmente quando este visa à perda de peso, justifica-se pelas
inúmeras dificuldades que envolvem sua abordagem clínica. Neste estudo, observou-se que 45,4%
não compareceram a atendimentos de retorno agendados.
DiMatteo (1994) relatou que 75% dos pacientes não seguem as recomendações médicas
relacionadas às mudanças no estilo de vida, como restrições alimentares, abandono do fumo e
outros. Ainda segundo Chimenti et al. (2006), apesar de não haver medida padrão para estabelecer
adesão, estima-se que as taxas de não adesão aos diversos tratamentos terapêuticos sejam altas.
Uma vez que o tratamento é aceito, ele se torna parte da vida, como algo rotineiro, e não
mais como uma obrigação. Um dos papéis do nutricionista é ser corresponsável no auxílio das
pessoas na modificação dos seus hábitos alimentares, com a assistência nutricional a indivíduos
e grupos populacionais.
Outra dificuldade verificada foi a de mensurar o consumo alimentar de forma acurada. Este
é um problema inerente a todos os métodos de avaliação da ingestão alimentar que dependem
do relato individual (SCAGLIUSI; LANCHA JÚNIOR, 2003). Essa justificativa pode explicar os
baixos valores de consumo de carboidratos, colesterol e fibra alimentar.
No entanto, mesmo com essa possibilidade de subestimação do consumo de alguns nutrientes,
foram encontrados valores médios elevados de consumo de sódio. Fato que pode ser preocupante,
uma vez que esse consumo pode ser ainda maior e que a prevalência de hipertensão no presente
estudo foi cerca de 56%, associada ou não a outras morbidades.
No início do presente estudo, foi encontrado, pelo IQD, que 77,8% dos adultos e 69,2% dos
idosos possuíam uma dieta com necessidade de modificações para se tornar adequada. Resultados
semelhantes foram encontrados por Fisberg et al. (2004). Sabe-se que a idade apresenta correlação
positiva com o sub-relato na ingestão alimentar. Em 2001, Johansson et al. (2001) notaram em
193 indivíduos, que o sub-relato variou de 26%, entre os indivíduos de 30 anos, a 54% naqueles
com 60 anos de idade. Uma provável explicação é que idosos possuem menor capacidade de
concentração e estão mais sujeitos aos lapsos de memória.
Ao se analisar a ingestão de nutrientes específicos separadamente e comparar a ingestão
destes com o IQD, observou-se que, antes do acompanhamento dietoterápico, a ingestão elevada
de gorduras totais influenciou (p=0,009) a inadequação do IQD. Depois do acompanhamento,
foi o consumo de gordura saturada que influenciou (p=0,018) a inadequação do IQD. O único
255
GARDONE, D. S.; RIBEIRO, S. M. R.; SILVA, R. R.; MARTINO, H. S. D. Impacto da intervenção nutricional na ESF. Nutrire: rev. Soc. Bras.
Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 37, n. 3, p. 245-258, dez. 2012.
nutriente que influenciou de forma significativa (p=0,022) na melhoria do IQD foram as fibras
alimentares. Além disso, a fibra foi também o único nutriente que teve melhoria no consumo após
a intervenção nutricional.
Independente do tipo de fibra alimentar, os estudos comprovam os benefícios destas na
alimentação. As fibras solúveis reduzem o tempo de trânsito intestinal, ajudam na diminuição
das concentrações séricas de colesterol, melhoram a tolerância à glicose, sendo responsáveis
pela maioria dos benefícios cardiovasculares atribuídos às fibras alimentares (MAKI et al., 2007).
Já as fibras insolúveis não têm ação na colesterolemia, mas aumentam a saciedade, auxiliando
na redução da ingestão energética (RIQUE; SOARES; MEIRELLES, 2002). Dessa maneira, o
aumento da ingestão de fibras alimentares pode promover a perda de peso (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1997).
De acordo com Fisberg et al. (2004), em seu estudo com um grupo de mulheres que validaram o
IQD em relação aos seus componentes e biomarcadores, os valores altos de IQD foram associados
à variedade da dieta, alta ingestão de frutas, baixa ingestão de gordura total e gordura saturada,
e alta concentração plasmática de α-caroteno, β-caroteno e vitamina C, entre outros elementos.
CONCLUSÃO
Dos indivíduos que aderiram ao acompanhamento dietético, a intervenção nutricional
promoveu impacto positivo no perfil antropométrico e nos hábitos alimentares. Nesse contexto,
a ESF é o ambiente importante e ideal para estimular a mudança de comportamento de indivíduos
em risco e oferecer uma abordagem integral capaz de reduzir risco de doenças e diminuir a
prevalência de excesso de peso corporal.
É evidente que a melhoria da qualidade da dieta, do estado nutricional e de saúde e,
consequentemente, da qualidade de vida pode ser alcançado com medidas simples como aumentar
o consumo de frutas e hortaliças, estimular o consumo de arroz e feijão e desencorajar o consumo
de alimentos ricos em gorduras, principalmente as saturadas e açúcares simples.
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