Monitoramento 0ut/08 Resumo Executivo A realidade é repleta de incertezas, e sua existência torna indispensável um esforço permanente em acompanhar o movimento dos principais eventos que se desenvolvem em âmbito mundial e nacional, de modo a identificar sinais e padrões de comportamento que possam alterar as perspectivas previstas em relação ao futuro e, nesse caso, redirecionar as decisões estratégicas tomadas no presente. Nesse esforço de delimitação e organização das incertezas, a construção de cenários constitui apenas o primeiro momento do processo de reflexão estratégica diante do futuro. Enquanto os cenários alternativos conferem às instituições um referencial para o acompanhamento do futuro, o monitoramento consiste em um processo permanente e sistemático de avaliação da realidade à luz do que foi antecipado pela construção dos cenários de modo ajustar a estratégia à medida que esta é implementada. Em agosto de 2008, a Macroplan publicou o estudo “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014”.1 Um dos principais eventos previstos consistia na crise financeira americana – incluindo a possibilidade de uma crise de confiança no mercado financeiro internacional. No início de setembro, esta crise finalmente eclodiu e, embora fosse altamente previsível, está exibindo intensidade e rapidez de propagação muito maior que as imaginadas pela grande maioria dos analistas. Isso sinaliza a possibilidade de amplas mudanças no quadro econômico mundial, com reflexos sobre o Brasil. Desde que se instaurou a crise do subprime, em julho de 2007, os números são catastróficos. No mundo, as bolsas acumularam perdas de, aproximadamente, US$16 trilhões, o equivalente a pouco mais de 12 vezes o PIB do Brasil de 2007. Essa grande volatilidade nos mercados certamente afeta toda a economia mundial, que está mais globalizada do que nunca. E o Brasil não foge à regra. Mesmo que o sistema financeiro brasileiro não esteja envolvido com a crise do subprime, o País não está imune às turbulências. É verdade que, em 2008, o Brasil é uma economia bem mais sólida e menos vulnerável às flutuações dos mercados internacionais do que era 10 anos atrás. Soma-se a isso a existência de um sistema bancário sólido, bem regulado e reconhecido como um dos mais eficientes do mundo. Mas, em momentos de crise, todo cuidado é pouco. O Brasil deve sofrer com a crise seja pela fuga de capital especulativo, pela desaceleração da entrada de investimento direto estrangeiro ou ainda pela queda no preço das commodities, e, portanto já é previsível uma desaceleração no atual ritmo de crescimento. Desde o início de 2008, já saíram do País, aproximadamente, R$ 19 bilhões de investimentos estrangeiros. O primeiro impacto foi sobre as bolsas. A Bovespa acumula, 1 O leitor poderá ter acesso ao estudo “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014” mediante consulta ao site www.macroplan.com.br , na seção Observatório (Cenários e Prospectiva). 1 1 no ano, uma desvalorização de quase 54%. Nos últimos três meses, a taxa de câmbio real/dólar desvalorizou, aproximadamente, 37% e o risco-país aumentou mais de 143%. Diante de acontecimentos dotados de tamanha magnitude e imprevisibilidade, mapear certezas e incertezas e antecipar possibilidades acerca do futuro é uma valiosa forma para se evitar a irracionalidade e a contaminação pelo pânico e à paralisia por excesso de análise. É preciso procurar entender a natureza do fenômeno, mapear os impactos previsíveis e identificar as novas incertezas emergentes. No mundo, as principais certezas se referem ao aumento da regulação sobre o sistema financeiro, à diminuição da liquidez, à maior aversão ao risco e à desaceleração da economia global. Já no Brasil, dentre os principais fenômenos que são certos ou quase certos, destacam-se pressões sobre o câmbio e a inflação, contração de crédito e aumento do custo de capital, redução do investimento estrangeiro direto e desaceleração do crescimento econômico. Embora muitos impactos sejam visíveis, o fato é que a crise semeou novas incertezas em escala global, dentre as quais podem ser destacadas: a economia mundial seguirá rumo a uma forte recessão ou a uma reativação em prazo relativamente curto? Como evoluirão os preços das commodities? Conseguirão as economias emergentes sustentar o crescimento econômico global em patamar mediano, a despeito da desaceleração mais acentuada das economias desenvolvidas? Em face dessas incertezas, podem-se visualizar quatro cenários focalizados nos impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real na dimensão mundial: Impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real no mundo: quatro cenários focalizados Duração dos impactos Disseminação dos impactos na economia real Localizada Ampla Longa 1. Recessão prolongada nos EUA, Europa e Japão e moderada desaceleração dos emergentes 2. Recessão mundial prolongada Curta 3. Recessão rápida nos EUA, Europa e Japão e pequena desaceleração dos emergentes 4. Recessão mundial passageira 2 2 Já para o Brasil, as principais incertezas neste momento são as seguintes: será o mercado interno capaz de sustentar o crescimento econômico brasileiro em patamar elevado? Conseguirá a rede de instituições financeiras privadas suprir os consumidores e o setor produtivo nacional de linhas de financiamento adequadas? Qual será a resposta do Governo brasileiro frente à crise? Qual será o comportamento dominante do setor privado de nossa economia? As indicações hoje disponíveis sugerem que as condições externas estão mudando para pior, o que torna mais provável, sobretudo, o cenário de “Travessia na Turbulência” como descrito no estudo publicado pela Macroplan em agosto de 2008. Isso sinaliza para a oportunidade de, em resposta à crise, se abrir um novo ciclo de reformas para tornar a nossa economia mais robusta e competitiva frente aos desafios e às dificuldades trazidas pelo ambiente internacional. 3 3 Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014: 1º Monitoramento 4 Em agosto de 2008, a Macroplan publicou seus “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014”, que têm como foco a principal incerteza se o Brasil alcançará ou não uma trajetória de crescimento sustentado e em patamares elevados nos próximos 7 anos, que se desdobra em duas incertezas de menor ordem: Como evoluirá o comportamento do ambiente econômico mundial em relação ao Brasil nos próximos 7 anos, considerando inclusive os desdobramentos da atual crise econômica americana; e Com que intensidade serão enfrentados os gargalos estruturais ao desenvolvimento sustentado do Brasil, incluindo eventuais adversidades do ambiente econômico mundial. Os cenários resultantes encontram-se resumidos na figura abaixo: Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014 Ambiente econômico externo (em relação ao Brasil) Intensidade de enfrentamento aos gargalos estruturais ao desenvolvimento sustentado Predominantemente Favorável Predominantemente Desfavorável Alta Baixa 1. Salto para o Futuro 2. Crescimento Inercial A travessia para o crescimento sustentado 3. Travessia na Turbulência O crescimento com barreiras O desperdício das melhores oportunidades 4. Baleia Encalhada De volta ao atoleiro Fonte: Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014 – Agosto, 2008 Um dos principais eventos previstos nos cenários consistia na crise financeira americana – incluindo a possibilidade de uma crise de confiança no mercado financeiro internacional. No 4 início de setembro, esta crise finalmente eclodiu e, embora fosse altamente previsível, está exibindo intensidade e rapidez de propagação muito maior que as imaginadas pela grande maioria dos analistas. Isso sinaliza a possibilidade de amplas mudanças no quadro econômico mundial, com reflexos sobre o Brasil. Uma reflexão inicial sobre as características desta crise e seus prováveis desdobramentos em escala global e no Brasil constituem justamente o foco deste 1º monitoramento dos quatro cenários elaborados pela Macroplan. A Economia Global em Tempos de Crise A cena econômica atual está dominada pela crise financeira mundial originada no mercado subprime norte-americano, que apesar de já vir se desdobrando há mais de um ano, vem evidenciando indícios, cada vez mais concretos, de que a crise ainda está distante do fim. As origens da crise No início da década de 2000, muitos americanos se viram diante da oportunidade de obter sua casa própria, incentivados pela taxa de juros declinante. Além disso, o crescimento econômico e o desemprego declinante da economia os encorajava a refinanciarem as suas casas por meio de hipotecas imobiliárias. Fruto deste aumento da demanda, os imóveis registraram forte valorização até meados de 2006, a partir de quando a bolha imobiliária, já existente nos anos anteriores, começou a demonstrar seus primeiros sinais de saturação. No 2º semestre de 2006, com a desaceleração econômica e o aumento do desemprego, as instituições financeiras passaram a amargar duplo prejuízo em decorrência da intensificação da inadimplência e da desvalorização dos imóveis reavidos. E os primeiros calotes vieram justamente daí. O mercado imobiliário reagiu com pânico quando uma das divisões do banco francês BNP Paribas congelou, em agosto de 2007, cerca de 2 bilhões de euros temendo o crédito subprime nos EUA. Na seqüência, gigantes do setor hipotecário norte-americano, como a American Home Mortgage (AHM) e a Countrywide Financial, pediram concordata, e os grandes grupos financeiros globais começaram a anunciar perdas bilionárias com os papéis ligados a hipotecas subprime. Em meio ao boom imobiliário, as hipotecas do mercado subprime2 foram amplamente disseminadas. Muitas dessas hipotecas foram agrupadas e transformadas em produtos 2 A classe do subprime é aquela em que o empréstimo é avaliado como de alto risco na medida em que é concedido a pessoas com uma situação de crédito não muito favorável, em decorrência do alto risco de calote. 5 5 financeiros para serem negociados no mercado, em um processo denominado securitização. Não demorou muito para que estes e outros exóticos produtos financeiros se disseminassem pelos cada vez mais interligados mercados financeiros internacionais. De fato, a securitização havia disseminado o risco por todo o mercado internacional, transformando a crise do subprime imobiliário norte-americano em uma crise de confiança no mercado financeiro global, com impactos nocivos sobre o nível de liquidez. Em momentos de crises como esta, os estudos e análises que tentam compreender suas origens se tornam freqüentes, apesar das opiniões nem sempre unânimes. Mas um ponto é consenso entre analistas econômicos e políticos das mais variadas correntes de pensamento: o sistema financeiro não soube “separar o joio do trigo”, isto é, não foi capaz de avaliar as reais condições de risco nas operações de crédito no processo de securitização. Relação entre a Economia Financeira e a Economia Real Fonte: Revista VEJA | Edição 2079 | 24 de Setembro de 2008 – 24/09/2008 Se, em 1980, a relação entre o tamanho do mercado financeiro e o PIB mundial era de 1,2, em 2006 esta mesma relação era de 3,6. Este crescimento é explicado pelo aumento do grau de alavancagem das principais instituições financeiras mundiais nas últimas décadas. A recomendação do BIS3 para o grau de alavancagem médio ideal está entre 10 a 12, mas, na prática, apenas a minoria das instituições financeiras seguiu a recomendação. O Goldman Sachs, por exemplo, tinha um grau de alavancagem de 25 em 2008. 3 O BIS (Banco de Compensações Internacionais) é uma organização internacional responsável pela supervisão bancária, que tem como objetivo promover a cooperação entre os bancos centrais e as agências na busca de estabilidade monetária e financeira. 6 6 Grau de Alavancagem das Instituições Financeiras 31 30 25 18 7 12 Merrill Lynch Lehman Brothers Goldman Sachs Citigroup Recomendado pelo BIS Fonte: Revista VEJA Edição 2079 | 24 de Setembro de 2008 – 24/09/2008 A crise financeira internacional em dados e fatos Desde que se instaurou a crise do subprime, em julho de 2007, os números são catastróficos. No mundo, as bolsas mundiais acumularam perdas de, aproximadamente, US$ 16 trilhões, referente à desvalorização das suas ações negociadas no mercado financeiro, o equivalente a pouco mais de 12 vezes o PIB do Brasil de 2007. A situação se agravou, principalmente, após o anúncio da quebra, no dia 15 de setembro, do Lehman Bothers, um dos principais bancos de investimento americanos. Desde este episódio até a data de fechamento deste monitoramento (22/10/2008), as principais bolsas do mundo caíram mais de 20%, já considerando a variação do dólar no período. Desde o dia 15 de setembro, o índice Dow Jones e a Nasdaq caíram 21,97% e 25,91%, respectivamente. O índice FTSE de Londres caiu 22,93% e o Nikkei de Tóquio perdeu 28,99%. A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) sofreu queda de 27,57%. O grande destaque foi para a Rússia, que perdeu 43,88% e chegou até mesmo em suspender as suas atividades por alguns dias devido a sua enorme perda. A explicação por trás da perda recorde da bolsa brasileira deve-se ao fato de que as empresas com receita em commodities, que têm forte participação na formulação do Ibovespa. Dessa forma, com a atual perspectiva de recessão global, estes produtos tendem a sofrer queda nos seus preços, influenciando negativamente o valor de mercado das empresas que os transacionam. 7 Perdas das Principais Bolsas Mundiais Desde 15/09/2008 (Posição em 22/10/08) -29,0% Nikkei (Tóquio) -22,0% Dow Jones (Nova York) -22,9% FTSE (Londres) Nasdaq (Nova York) -25,9% -43,9% Rússia Ibovespa -27,6% -50,0% -40,0% -30,0% -20,0% -10,0% 0,0% Fonte: Economática Ao longo de 2008, o governo norte-americano e o Federal Reserve (Fed) já intervieram diversas vezes no sistema financeiro. O socorro das agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, a estruturação para venda do falido banco Bear Stearns e a recente aquisição pelo governo do controle acionário da AIG, a maior seguradora dos EUA e uma participante ativa no mercado dos chamados swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) ilustram esse aspecto. Uma eventual falência dessas instituições poderia disseminar o pânico entre os agentes de mercado, com implicações ainda mais negativas para a confiança e a liquidez do mercado financeiro. De fato, o caos financeiro gerado a partir da falência do Lehman Brothers, quarto maior banco dos EUA e a venda emergencial do Merrill Lynch, o terceiro maior, deram indícios de que uma eventual ausência da intervenção do Tesouro e do Fed nos mercados poderia gerar uma crise financeira de proporções catastróficas, seguindo a lógica das corridas bancárias presente na literatura econômica. E o movimento de intervenção do Estado e de consolidação (fusões e aquisições) do sistema financeiro desencadeado pela crise se estende para além das fronteiras norte-americanas. Na Europa, a maior hipotecária inglesa, o HBOS, foi vendida às pressas ao Lloyds, e o banco Fortis, um dos maiores do continente, foi estatizado. A Islândia, o país com maior IDH do mundo, está falida e pediu socorro à Rússia, em busca de uma injeção de 5 bilhões de dólares. Estes e outros fatos não postos, porém nem por isso menos relevantes, sustentam o atual sistema financeiro mundial marcado pela alta alavancagem, pouca regulação e profunda interligação em todo o globo. 8 8 Este sistema vem experimentando acentuado crescimento nas ultimas três décadas, mas a sua explosão, sobretudo nos últimos anos, se deve a três fenômenos simultâneos e distintos: o processo de desregulamentação, o uso intenso de inovações tecnológicas e a maior mobilidade de capital internacional4. Os desdobramentos completos da crise ainda são impossíveis de se avaliar, mas ela já produz impactos negativos visíveis sobre o lado real da economia. A taxa de desemprego nos EUA atingiu 6,1% em setembro, o maior nível em quase cinco anos, e o índice de confiança do consumidor norte-americano caiu para 57,5 pontos em outubro, ante 70,3 em setembro, registrando a maior queda mensal desde que começou a ser monitorada, em 1952. O número de novas construções residenciais caiu 6,3%, em setembro, para o menor nível desde 1991. A variação nas vendas do varejo, em setembro, frente ao mês anterior registrou quedas em todos os setores, com destaque para o setor de automóveis, que cedeu 3,8%, e eletrônicos, que caiu 1,5%. A projeção de crescimento do PIB norte-americano em 2008 é de apenas 1,3%, e todos os dados mais recentes sugerem que a economia dos EUA está prestes a entrar na recessão5 mais profunda desde o início dos anos 80. E tal como ocorre no lado monetário da economia, os efeitos da crise sobre o lado real são vistos também além dos EUA. O PIB dos 15 países que integram a Zona do Euro recuou 0,2% no 2º trimestre de 2008, o pior resultado desde a adoção da moeda única, em 2002. No Japão, os números recentes indicam a pior retração na atividade econômica em quase uma década, e o PIB japonês contraiu 2,4% no mesmo período. O consumo nos grandes países emergentes, os chamados BRIC, que incluem Brasil, China, Índia e a Rússia, também registrou queda nos últimos meses. Na última década, o crescimento econômico mundial foi predominantemente impulsionado por estes grandes países emergentes e, diante a fragilidade, gerada pela crise, dos países desenvolvidos, a esperança para a manutenção do crescimento recaiu ainda mais sobre o BRIC, em especial a China. No entanto, aumentam as sinalizações de que a economia desses países também está retrocedendo em decorrência da escassez de crédito. Na Rússia, o crédito fácil se contraiu. Na Índia, o mercado de trabalho terceirizado está encolhendo. No Brasil, o preço das commodities que o país exporta está caindo. E, finalmente, na China, a queda na bolsa e no volume de exportações faz os empresários retraírem alguns de seus investimentos em novas plantas produtivas. Contudo, até o presente momento, os países emergentes ainda não foram tão afetados pela crise quanto as economias desenvolvidas. Porém, a mesma exuberância de fácil acesso ao crédito que possibilitou, nos últimos anos, o aumento da capacidade produtiva e os bons 4 Esta conclusão e as análises que se seguem nos parágrafos seguintes estão baseadas em The Economist, edição de 11 a 17 de Outubro de 2008, Special Report, p. 6 a 16. 5 De acordo com o conceito clássico, caracteriza-se como recessão a sucessão, por dois trimestres consecutivos, do crescimento negativo do PIB. 9 9 momentos de crescimento econômico encontra-se, neste momento, cada vez mais escasso e restrito. Assim, o desempenho econômico dos países do BRIC nos próximos anos está ameaçado por três fatores: a expectativa de redução das exportações frente ao baixo crescimento da economia mundial; a redução da disponibilidade de crédito; e a fuga de capital estrangeiro que, em meio às turbulências, é obrigado a liquidar as suas posições nestes países emergentes para sanar os prejuízos nos mercados dos países desenvolvidos situados no epicentro da crise. Apesar dos indicadores, ainda há certa descrença na possibilidade de uma recessão forte nas economias emergentes, mais especificamente da China. A recente desaceleração econômica do país se deve à intensificação das medidas do governo central voltadas à contenção da inflação. Contudo, diante da crise, as autoridades chinesas já reverteram a estratégia de aperto monetário e reduziram por duas vezes seguidas a taxa de juros no mês de setembro. Esta postura relembra a reação chinesa durante a crise financeira na Ásia, em 1998, quando a China conseguiu sobreviver à crise devido a rápidas movimentações do governo para estimular a economia. O mercado internacional de commodities, importante condicionante da evolução futura das economias emergentes, vem registrando elevada volatilidade em meio à crise, de tal ordem que nenhuma tendência de curto prazo é mais previsível. Sua dinâmica será definida pelo confronto de duas forças econômicas antagônicas, com efeitos distintos sobre os preços. Por um lado, a desaceleração econômica mundial implicaria a redução da demanda por commodities, com impactos negativos sobre os preços. Por outro, em meio à crise de confiança estabelecida nos mercados, aplicações financeiras em ativos reais, como ouro e commodities agrícolas e industriais, poderia se mostrar uma eficaz salvaguarda contra as turbulências do mundo financeiro. Nesse caso, o efeito sobre os preços seria positivo. Frente à alta volatilidade, os especuladores tem sido o grande alvo dos governos que cada vez mais aumentam o seu controle, criando restrições e incentivos para desencorajar a especulação no mercado de commodities. Apesar dos esforços, investidores veteranos como o George Soros afirmam que o mercado de commodities vive uma bolha especulativa. E se a afirmação está correta, então as conseqüências são profundas, já que o preço das commodities tem um impacto imediato muito maior sobre o lado real da economia do que as variações no mercado acionário ou no mercado de títulos do governo. Um dos motivos que explicam a elevada volatilidade do mercado de commodities se encontra no fato de que, desde 2001, o número de contratos futuros de commodities mais que quadriplicou. Em virtude da eclosão da crise do subprime, muitos instrumentos financeiros se tornaram ilíquidos e de alto risco, o que levou muitos investidores a direcionarem seus capitais para o mercado de commodities. Cabe ressaltar que a dinâmica do mercado de commodities também tem sido influenciada ainda por um fator estrutural ligado à economia real: o aumento da demanda por alimentos 10 10 advindos, em especial, das economias emergentes (com destaque para Índia e China). A expectativa é que em 2015, 580 milhões de chineses alcançarão nível médio de renda e, portanto, ingressarão na economia de mercado, o que produzirá efeitos reais e positivos sobre a demanda por alimentos e commodities industriais6. A crise financeira e o aumento da demanda dos países emergentes por commodities e alimentos são explicações relevantes, porém incompletas. Outro fato que deve ser destacado são as ações dos governos que induziram distorções no preço das commodities nos últimos anos. Em muitos países, principalmente nos mercados emergentes, os governos mantiveram o preço de combustíveis importantes, como o diesel ou a gasolina, abaixo do preço internacional para auxiliar no controle da inflação. Os subsídios oferecidos acabaram por impactar nas finanças do governo e, o mais importante, criou distorções no preço das commodities. Somam-se a estas distorções as tentativas de diminuir a emissão de carbono, principalmente nos EUA e na Europa, que introduziram programas para apoiar a produção de biocombustíveis (etanol baseado no milho nos EUA e biodiesel na Europa) e, com isso, acabaram intensificando o aumento do preço das commodities. Nos últimos anos, o preço do milho e da soja subiu mais de 70% e 40%, respectivamente. Com a evolução da crise financeira e os sinais de desaceleração da economia mundial, os preços das commodities finalmente começam a sentir efeitos. O índice de alimentos da revista The Economist registrou, no fim de setembro, uma contração de 23% em relação ao pico deste ano. O preço do petróleo também ajustou nos últimos meses. A própria demanda começa a responder diante dos altos preços, modificando os seus hábitos de consumo antes mesmo das expectativas. Todos esses elementos indicam que, no 2º semestre de 2008 e, principalmente, em 2009, a economia mundial apresentará um quadro de crescente desaceleração. Deste modo, a Macroplan revisa para baixo a projeção de crescimento da economia mundial em 2008, de 4% para cerca de 3,5% (Cenário 2 – Crescimento Inercial), e a previsão de crescimento para 2009, de 4% para valor próximo a 3%. Previsões de Crescimento para a Economia Mundial Variação (%) em relação ao ano anterior 2008 2009 FMI 3,9 3,0 Banco Mundial 2,7 3,0 3,0 a 3,5 2,5 a 3,0 Macroplan 6 Revista Exame. “800 milhões de novos consumidores”. Portal Exame, julho de 2006. 11 11 Os ‘pacotes’ de socorro ao sistema financeiro Após semanas de intensas negociações, finalmente foi aprovado pelo Congresso norteamericano o pacote de ajuda bilionária para o setor financeiro. O vai-e-vem nas discussões em torno do pacote criou grande volatilidade em todo o mercado, que oscilou entre a euforia e o pânico nas últimas semanas. Apesar das diversas mudanças, a idéia do pacote é absorver, e depois revender no mercado, os instrumentos financeiros exóticos (podres) que inflaram a bolha no mercado de crédito para empresas e consumidores. O projeto está estimado em US$ 700 bilhões, que serão liberados em etapas. Mas, mesmo com a aprovação do pacote, os principais mercados acionários continuam despencando pelo mundo todo. Isto tanto por conta do elevado grau de incerteza que persiste como porque o fato de o governo americano aparentemente possuir as armas (os recursos) para combater a crise não garante que elas serão bem utilizadas. E, principalmente, porque esta crise é, antes de tudo, uma crise de confiança. Críticas ao Secretário do Tesouro Henry Paulson vêm de todas as partes, inclusive das autoridades envolvidas na elaboração do pacote de resgate financeiro. O argumento é que Paulson escolheu o alvo errado para combater a crise. Em vez de apostar na compra de ativos podres, o secretário deveria ter adquirido participações dos bancos, evitando a falência de bancos como o Lehman Brothers e o Wachovia, o que tranqüilizaria o mercado e diminuiria as incertezas. Incentivado pelas medidas na Europa, o secretário Paulson, confirmou recentemente que será utilizada a primeira parcela de US$ 250 bilhões na compra de participação de instituições financeiras saudáveis. O secretário adverte as instituições que serão beneficiadas para que o dinheiro seja canalizado para os seus clientes rapidamente, pois o congelamento de crédito resultante da desconfiança está prejudicando toda a economia. As mudanças como esta ao longo do caminho contribuem para aumentar o custo dessa operação para os contribuintes americanos, e a conta já chegou aos surpreendentes US$ 4 trilhões. O déficit orçamentário dos EUA atingiu o recorde de US$ 455 bilhões no ano fiscal de 2008, superando as estimativas de US$ 389 bilhões. Diante da ausência de liderança dos EUA, que parece estar mais escassa do que o próprio credito, a Europa mostrou a liderança na reflexão do futuro. Pela primeira vez, de forma coordenada, os países da Zona de Euro decidiram lançar um pacote de medidas contra a crise. É a ironia do destino. A mesma Inglaterra que espalhou a última onda liberal, foi a primeira a defender a estatização dos bancos. O plano de medidas que influenciou os EUA incluem processo de estatização parcial através da compra de participações acionárias em bancos, como também a compra de papéis da dívida e 12 12 garantia dos empréstimos entre bancos para assegurar capital e liquidez às instituições financeiras. A França anunciou um plano de aproximadamente 490 bilhões de euros para impedir a falência dos seus bancos, sendo que a maior parte deste recurso será mobilizada para garantir os empréstimos entre bancos, que foram prejudicados com a crise. A Alemanha fornecerá cerca de 500 bilhões de euros, maior intervenção do estado na economia desde a queda do muro de Berlin em 1989. As suas ações serão para garantir empréstimos e injeções de capital para fortalecer o seu sistema financeiro. O Reino Unido anunciou compra de ações dos bancos dos seus países podendo alcançar recursos de até US$ 90 bilhões, alem de garantir empréstimos bancários no valor de US$ 438 bilhões. Outros países, como a Áustria, Espanha, Holanda, Itália, Portugal, Noruega e Rússia, também anunciaram suas medidas. Sensibilizados pelos anúncios, os governos da Oceania e também do Oriente Médio divulgaram as suas medidas em combate a crise. O fato é que, felizmente, diante da crise a Europa agiu mais rápido que nunca. Após os primeiros anúncios, em menos de uma semana os 27 países da União Européia aprovaram um pacote de medidas incluindo mudanças nas regras contábeis de bancos, novos mecanismos de supervisão de instituições financeiras, e o tão aguardado pacote anticrise de 2,2 trilhões de euros para capitalizar bancos e garantir os depósitos e empréstimos. Não satisfeita, a Europa propõe reformar o sistema de Bretton Woods para arquitetar um novo sistema financeiro internacional, considerando como crucial a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil e a Crise A grande volatilidade nos mercados certamente afeta o mundo, que está mais globalizado do que nunca. E o Brasil não foge à regra. Mesmo que o sistema financeiro brasileiro não esteja envolvido com a crise do subprime, o País não está imune às turbulências. É verdade que, em 2008, o Brasil é uma economia bem mais sólida e menos vulnerável às flutuações dos mercados internacionais, o que pode ser melhor avaliado quando comparado ao quadro existente há 10 anos atrás durante a eclosão da crise financeira desencadeada pela moratória russa. 13 13 Quadro Comparativo – Brasil 1998 x Brasil 2007 1998 2007 Câmbio fixo e ausência do regime de metas de inflação Câmbio flutuante e regime de metas de inflação em pleno vigor Risco País (p.p) 1.121,45 145,5 Saldo das Reservas Internacionais (US$ milhões) 44.556,44 180.334,00 Dívida Externa (US$ milhões) 92.020,90 70.272,00 Política Econômica Fonte: IPEA Soma-se a isso a existência, no Brasil, de um sistema bancário sólido, bem regulado e reconhecido como um dos mais eficientes do mundo. De fato, a sucessão de crises financeiras pelas quais o País atravessou nos anos 90 forçou modificações no sistema bancário, que ficou muito mais confiável e robusto. Com isso, a regulação financeira brasileira já inclui atualmente diversos dos dispositivos para evitar novas crises sistêmicas no futuro, que apenas agora os americanos deverão adotar. Brasil está na frente em regras financeiras É certo que o Brasil também será afetado pela crise financeira, seja pela alta do dólar, restrição para linhas de crédito, ou perdas de grandes empresas exportadoras no mercado futuro de câmbio. Uma vantagem, porém, consiste na regulação financeira brasileira. Após inúmeras crises que o país já enfrentou, o Brasil se encontra neste momento muito à frente de muitos países desenvolvidos em termos de regulação financeira. O sistema brasileiro, apesar de ainda possuir inúmeras deficiências, já inclui diversos dispositivos que os americanos deverão adotar apenas agora diante da crise. O Banco Central do Brasil, diferentemente do Federal Reserve (Fed), regula praticamente tudo, incluindo desde bancos comerciais, múltiplos e de investimento, corretoras, consórcios e até cooperativas. No Brasil, há uma consolidação de todos os aspectos da atuação de um conglomerado financeiro em seu balanço, incluindo até atividades não financeiras. Assim, não é simples, como nos EUA, driblar os limites de alavancagem, uma das condições para a eclosão da crise. Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/08 14 14 Portanto, apesar das instabilidades político-econômicas citadas, o contexto internacional desfavorável não deverá influenciar decisivamente o crescimento econômico brasileiro em 2008, que vem sendo estimulado predominantemente pela demanda interna. O desempenho do PIB brasileiro no 1º semestre de 2008 superou as expectativas do mercado. No período, o Brasil cresceu 6% em relação ao mesmo semestre do ano anterior. Nesse contexto, a demanda interna contribui com 8,5 pontos percentuais do crescimento, enquanto que a demanda externa contribuiu negativamente com -2,5 pontos percentuais. Crescimento trimestral do PIB 1º Trimestre/2006 a 3º Trimestre/2008 7,0% 6,0% 5,0% 4,0% 3,0% 2,0% 1,0% 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 2006 2006 2006 2006 2007 2007 2007 2007 2008 2008 Fonte: IBGE Sob a ótica da demanda, os investimentos registraram alta de 15,7% no período, o que permitiu à taxa de investimento em relação ao PIB alcançar a marca de 18,7%. O consumo das famílias, com peso de cerca de 60% do PIB, continuou em patamar elevado, registrando crescimento de 6,7% no período. Essa expansão do consumo foi motivada, principalmente, pelo aumento da massa salarial. No 2º trimestre, a massa salarial dos brasileiros teve alta de 8,1% em relação ao trimestre anterior. Além disso, o crédito farto e os prazos longos de pagamento dos empréstimos contribuíram para o aquecimento da economia: houve um crescimento de 32,9% no saldo de operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas. Buscando controlar os efeitos do aquecimento da economia sobre a inflação – cujas projeções para o final de 2008 já antecipavam a ultrapassagem da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) –, o Banco Central (Bacen) retomou o aperto monetário, promovendo sucessivos aumentos na taxa básica de juros (Selic). Em setembro, após quatro elevações consecutivas, a taxa Selic alcançou 13,75%. A partir de setembro, no entanto, as expectativas do mercado quanto à inflação de 2008 começaram a se reduzir, retornando aos limites da margem superior da meta. Isso decorreu, em grande parte, da redução dos preços das commodities agrícolas e industriais nos mercados 15 15 financeiros internacionais. Esse movimento no mercado de commodities resultou na depreciação da taxa de câmbio – entre jul/2008 e out/2008 o Real apresentou desvalorização de 36% em relação ao dólar – e em sucessivas quedas no Ibovespa, que acumulou queda de 40% no período. Nesse sentido, a maxidesvalorização do câmbio vem se cristalizando como o principal fator de desestabilização proporcionada pela crise sobre a economia brasileira. Seu efeito perturbador sobre os projetos de investimento das empresas e sobre as decisões de consumo das pessoas físicas consiste no mais visível canal de propagação da crise do lado financeiro para o setor real. Taxa de câmbio x inflação acumulada 12 meses jan/2006 - set/2008 Taxa de Câmbio RS/US$ Variação (%) 12 meses - IPCA 2,5 7 6 2 5 1,5 4 1 3 2 0,5 1 0 0 2006.01 2006.05 2006.09 2007.01 2007.05 2007.09 2008.01 2008.05 Taxa de Câmbio IPCA Fonte: IBGE O impacto da elevação dos juros sobre o desempenho do PIB só deverá ser sentido no último trimestre do ano e, principalmente, em 2009. Nesse sentido, a Macroplan revisa para cima sua projeção de crescimento para a economia brasileira em 2008 dos atuais 4,7% (Cenário 2 – Crescimento Inercial) para cerca de 5,5%, com a taxa de investimento da economia se mantendo em 18,5% do PIB. Para 2009, espera-se a acentuação das dificuldades trazidas pela deterioração do ambiente externo, especialmente se houver uma queda adicional dos preços de commodities. O crescimento econômico brasileiro na melhor das hipóteses deve alcançar no máximo 3% no próximo ano, abaixo da projeção anterior (4,5%). 16 16 Previsões do Crescimento Econômico Brasileiro (%) em relação ao ano anterior 2008 2009 Focus 5,0 3,6 Instituto de Economia – UFRJ 5,0 4,5 The Economist 4,6 3,6 FMI 5,2 3,5 5,0 a 5,5 2,5 a 3,0 Macroplan 17 A inflação, medida pelo IPCA, provavelmente encerrará o ano de 2008 em torno dos 6,5%, dentro do limite superior da meta, e abaixo da expectativa anterior (7%). Quanto à taxa de câmbio real/dólar no final de 2008, a volatilidade é tamanha que é impossível qualquer previsão categórica. Neste momento, uma faixa entre R$1,80 a R$2,00 por dólar é a que parece mais plausível. Mas, em momentos de crise, todo cuidado é pouco. O Brasil deve sofrer com a crise seja pela fuga de capital especulativo, pela desaceleração da entrada de investimento direto estrangeiro ou ainda pela queda no preço das commodities, e, portanto já é previsível uma desaceleração no atual ritmo de crescimento. Desde o início de 2008 até a data de fechamento deste monitoramento (22/10/2008), já saíram do País, aproximadamente, R$ 19 bilhões de investimentos estrangeiros. O primeiro impacto foi sobre as bolsas. A Bovespa acumula, no ano, uma desvalorização de quase 54%. Nos últimos três meses, a taxa de câmbio real/dólar desvalorizou, aproximadamente, 37% e o risco-país aumentou mais de 143%. A curto prazo, o principal canal de contágio da crise se dá por meio da contração do crédito. A falta de confiança é muito acentuada, e o dinheiro que deveria fluir para o setor produtivo secou ou está muito escasso, apesar da competente atuação do Banco Central. A modificação dos critérios para concessão de financiamentos, cada vez mais rígidos, afeta a expansão da capacidade produtiva. Bancos e montadoras de automóveis diminuem os prazos de financiamento e produtores agrícolas já sentem ameaças quanto ao financiamento da próxima safra. A pesquisa mensal do Comércio do IBGE já aponta que a menor oferta de crédito afetou as vendas em agosto, antes mesmo de a crise piorar, e o próprio Governo já prevê uma 17 desaceleração no ritmo de geração de emprego com carteira, que, ainda assim, deve ultrapassar 2,1 milhões de postos este ano. Além disso, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, cerca de 25% dos investimentos feitos no Brasil são de origem estrangeira. As multinacionais instaladas no território nacional nunca enviaram tanto dinheiro disponível para as suas matrizes diminuírem os seus prejuízos. A incapacidade dos bancos nacionais de atender às demandas de créditos das pessoas e das empresas sinalizou a necessidade do governo intervir no mercado financeiro. Formalmente, o Banco Central não controla o câmbio. Sua obrigação é manter o controle inflacionário dentro da meta estabelecida. Entretanto, é sua obrigação garantir a solidez do sistema financeiro. E é isso que ele vem fazendo nas últimas semanas. O Banco Central injetou, aproximadamente, R$ 70 bilhões nos bancos para fazer frente à escassez de crédito em duas frentes: na diminuição do compulsório e na venda de dólares no mercado à vista e futuro. Ademais, será criado também incentivo para os grandes bancos comprarem as carteiras de crédito das instituições pequenas voltadas para o crédito consignado e para o financiamento do varejo. Por fim, a recente aprovação da Medida Provisória (MP) 442 traz mais poderes ao Banco Central para combater a crise. A MP vai permitir que o Banco Central faça empréstimos em dólares para as empresas com o intuito de estimular os canais de créditos, e também emprestar dinheiro para bancos que estejam em situação vulnerável. 18 18 Reflexos da Crise no Mundo Empresarial Empresas brasileiras que apostaram no dólar baixo amarguram perdas bruscas no mercado futuro. Os mais pessimistas apostam em perdas que podem ultrapassar R$ 30 bilhões. A Sadia anunciou perdas de R$ 760 milhões, a Aracruz perdeu R$ 2 bilhões e a Votorantin R$ 2,2 bilhões. Há riscos de novas empresas anunciarem problemas na medida em que os contratos de derivativos cambiais possuíam vários períodos de vencimento. Segundo a Federação de Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), pelo menos 200 empresas estariam envolvidas com estas operações. Um levantamento recente da Economática aponta que os lucros recentes das empresas estavam além da atividade principal, ou seja, se não incluísse o ganho com atividades não-operacionais, muitas empresas poderiam ter registrado prejuízos. A economia real também começa a revelar os primeiros impactos da crise. O crédito está mais restrito em redes de varejo, e as empresas revisam os seus planos de expansão. O mercado está aumentando os juros e diminuindo os prazos. O pedido de garantias e a parcela de entrada para financiamentos estão cada vez maiores. Nesse contexto, os consumidores também revisam os seus planos e pensam mais antes de comprar. Os investimentos privados estão ameaçados em praticamente todos os setores. A crise deve induzir uma desaceleração no ritmo de investimento no setor de tecnologia dos atuais 7% para 4% no ano que vem. Os grandes produtores de celulose do país paralisam as linhas de produção e as estimativas apontam que a produção mensal seja reduzida em torno de 20%. Além disso, montadoras do setor automobilístico anunciaram férias coletivas. Segundo pesquisa realizada pela Revista Exame com 268 empresas atuantes no País, 89% já começaram a sentir os impactos da crise internacional; 36% revisaram ou estão revisando para baixo as projeções das vendas para o último trimestre; e 57% crêem que sua rentabilidade em 2009 diminuirá. Diante deste quadro, 54% das empresas pesquisadas planeja responder aos impactos da crise adiando investimentos e cortando custos. Além disso, os projetos em infra-estrutura, base do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já começam a ser atingidos pela crise global. Cerca de R$ 35 bilhões de investimentos já foram adiados ou estão seriamente ameaçados. O adiamento do leilão da linha de transmissão das usinas do rio Madeira, projeto avaliado em R$ 7 bilhões é um dos exemplos da atual situação que poderá ainda se agravar. Sem esta linha de transmissão, essa energia não chegará ao país em 2012. A situação portuária é mais grave ainda, pois sem os portos e a logística ineficiente, a produção será gravemente afetada. Fonte: Revista Exame e Jornal Valor Econômico (outubro/2008) Já no campo fiscal, os reflexos da crise internacional levará os governos a revisar seus orçamentos para 2009, pois a expectativa dominante é de redução de receita ou, pelo menos, de sua taxa de crescimento, o que impõe revisões e cortes nas despesas previstas. 19 19 |nfelizmente, nos dias de hoje quase 90% das despesas do Governo Federal são obrigatórias, e, portanto será necessário aprofundar cortes no campo das despesas discricionárias. Mas, como estas despesas afetam setores politicamente sensíveis, como saúde, educação e Bolsa Família, é provável que o corte das despesas aconteça novamente pelo lado dos investimentos, com reflexos negativos sobre o PAC. Frente à possibilidade de os efeitos da crise acarretarem em aperto do Orçamento de 2009, o Governo poderá rever reajustes de servidores e também cancelar concursos públicos já previstos. Certezas e Incertezas quanto ao Futuro Diante de acontecimentos dotados de tamanha magnitude e imprevisibilidade, mapear certezas e incertezas e antecipar possibilidades acerca do futuro é uma valiosa forma para se evitar a irracionalidade e a contaminação pelo pânico e à paralisia por excesso de análise. É preciso procurar entender a natureza do fenômeno, mapear os impactos previsíveis e identificar as novas incertezas emergentes. O que é certo ou quase certo no horizonte 2008-2010 Apesar do contexto macroeconômico internacional ser portador de inúmeras incertezas e imprevisibilidades, pode-se afirmar que muitos acontecimentos já são esperados e, portanto, visível. É certo que, no contexto internacional, os desdobramentos mais visíveis ou previsíveis da crise financeira são: O aumento da regulação sobre o sistema financeiro. Como conseqüência, o excesso de concessão de crédito deve acabar. Uma maior restrição ao crédito diminuirá a liquidez mundial. Acabou o vento favorável e já é certa uma desaceleração da economia norteamericana. Além disso, o déficit fiscal dos EUA ficará cada vez maior. O mundo de hoje é globalizado e interconectado. A diminuição do crédito nos EUA implica que ele ficará mais escasso em qualquer outro país. Como conseqüência, outras economias desenvolvidas – como a Europa e o Japão – e emergentes – como Rússia, China, Índia e Brasil – também apresentarão ritmo de crescimento menor. As previsões para o crescimento mundial em 2009 estão ficando cada vez menores e nem o pacote de socorro ao sistema financeiro norte-americano deverá modificar este panorama. 20 20 Países emergentes exportadores de produtos primários serão afetados pela queda da demanda mundial. A desaceleração da entrada de investimento direto estrangeiro deverá afetar também o crescimento dessas economias. Haverá uma forte aversão ao risco por parte dos investidores, com impactos negativos, sobretudo, para países emergentes como o Brasil. Aumento da demanda por ativos reais de baixo risco, o que pode abrir boas janelas de oportunidades para atração de investimentos privados em projetos de infraestrutura no Brasil. Já no caso do Brasil, os principais fenômenos que são certos ou quase certos são os seguintes: Fortes pressões sobre o câmbio, a curto prazo, com pressões inflacionárias e também sobre o nível de atividade econômica. Restrição de crédito e diminuição das linhas de financiamento para os investimentos, as exportações e o consumo. Aumento do custo de capital para empresas e pessoas físicas. Redução do investimento externo direto no País devido à queda da liquidez mundial. Deterioração do saldo das transações correntes e uma desaceleração do crescimento econômico. Aumento das pressões sobre as contas públicas. Intensificação da necessidade de rever o Orçamento para 2009, de revisar despesas e, sobretudo, de melhorar a qualidade do gasto. Uma gestão intensiva das prioridades será fundamental. As incertezas para 2009-2010 Embora muitos impactos, principalmente aqueles acima citados, sejam visíveis, o fato é que a crise semeou novas incertezas em escala global, dentre as quais podem ser destacadas para o horizonte futuro: Diante da crise, a economia mundial seguirá rumo a uma forte recessão ou uma reativação em prazo relativamente curto em conseqüência de ações anti-recessivas dos governos europeus, americano e japonês? Como evoluirão os preços das commodities? Se por um lado a pressão do preço ocorre via redução da demanda mundial, por outro lado a aversão ao risco aumenta a procura pelos ativos reais, e, portanto deverá aumentar a demanda pelas commodities. 21 21 Nos últimos anos, as economias emergentes vem assumindo crescente participação e importância da geração da riqueza mundial. Serão essas economias substancialmente afetadas pela crise ou conseguirão mitigar e se descolar parcialmente dos seus efeitos? Nesse sentido, conseguirão as economias emergentes sustentar o crescimento econômico global em patamar mediano, a despeito da desaceleração mais acentuada das economias desenvolvidas? Em face dessas incertezas, podem-se visualizar quatro cenários focalizados nos impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real na dimensão mundial: Impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real no mundo: quatro cenários focalizados Duração dos impactos Disseminação dos impactos na economia real Localizada Ampla Longa 1. Recessão prolongada nos EUA, Europa e Japão e moderada desaceleração dos emergentes 2. Recessão mundial prolongada Curta 3. Recessão rápida nos EUA, Europa e Japão e pequena desaceleração dos emergentes 4. Recessão mundial passageira Já para o Brasil, as principais incertezas neste momento são as seguintes: O consumo doméstico ainda está aquecido, e pode ser um dos motores da economia em 2009. Em meio a um cenário de crise internacional, será o mercado interno capaz de sustentar o crescimento econômico brasileiro em patamar elevado? O BNDES e demais bancos estatais não serão suficientes para compensar a escassez de crédito no mercado nacional. Sendo assim, conseguirá a rede de instituições financeiras privadas suprir os consumidores e o setor produtivo nacional de linhas de financiamento adequadas a garantir o nível de exportações, consumo e investimentos em patamares elevados? Qual será a resposta do Governo brasileiro frente à crise, especialmente em relação ao déficit em conta corrente do balanço de pagamentos e aos gastos correntes cada vez maiores? 22 22 Sem poder reduzir as despesas obrigatórias, de onde virão os cortes nas despesas para equilibrar o orçamento? Conseguirá o Governo sustentar a plena execução dos principais projetos contidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)? Qual será o comportamento dominante do setor privado de nossa economia? As indicações hoje disponíveis sugerem que as condições externas estão mudando para pior, o que torna mais provável, sobretudo, o cenário de “Travessia na Turbulência” como descrito no estudo publicado pela Macroplan em agosto de 2008. Isso sinaliza para a oportunidade de, em resposta à crise, se abrir um novo ciclo de reformas para tornar a nossa economia mais robusta e competitiva frente aos desafios e às dificuldades trazidas pelo ambiente internacional. 23 23 Sobre a Macroplan A Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão é uma empresa de consultoria especializada em estudos prospectivos, administração estratégica e modernização organizacional, com sede no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Suas principais linhas de produtos e serviços, desenvolvidos segundo metodologias próprias amplamente testadas e aprovadas “em condições brasileiras”, são as seguintes: 1. estudos de cenários, que organizam e reduzem suas incertezas relativas ao futuro; 2. processos de planejamento estratégico, que definem o posicionamento atual da organização (onde estamos), sua visão de futuro desejado (aonde queremos chegar) e a trajetória para “chegar lá” sob condições de incerteza; 3. soluções de gestão estratégica orientada para resultados para alavancar, a curto prazo, a capacidade das organizações em produzir, medir e comunicar benefícios relevantes para a sociedade e para os público-alvo que constituem sua razão de ser; 4. apoio à implantação de planos e da gestão estratégica por antecipação, que desdobram a visão de futuro da organização, fazem acontecer o que foi planejado e ajustam as estratégias vigentes em face de novas mudanças; 5. métodos e instrumentos de monitoramento e gestão estratégica em tempo real, que mobilizam, engajam e focalizam decisões e ações de dirigentes, gerentes e técnicos em mudanças inesperadas e em questões e resultados estratégicos imediatos; 6. soluções de gestão estratégica da tecnologia e inovação para reforçar, a curto e médio prazo, os valores da inovação na cultura empresarial por meio de ações de mobilização e sensibilização; 7. projetos de reconfiguração organizacional e de design de sistemas de gestão orientados para assegurar a obtenção de resultados almejados pela organização, seus públicos-alvos e parceiros; 8. pesquisas qualitativas que mapeiam e interpretam as percepções e expectativas de atores relevantes para o planejamento e gestão de governos, empresas ou instituições; e 9. programas de capacitação técnica e gerencial em cenários e estratégia. 24 24 A Macroplan® trabalha "sob medida", construindo e implantando soluções, sempre em conjunto com os clientes. O estilo de trabalho alia discrição, empenho, criatividade e muita dedicação, buscando as alternativas mais eficazes que atendam às necessidades do cliente. Comentários, críticas e sugestões a este trabalho, assim como solicitações de estudos adicionais poderão ser encaminhados à Macroplan: 25 Rua Visconde de Pirajá, 351 - Sala 718 Ipanema, Rio de Janeiro/RJ - CEP 22410-003 - Fone: (21) 2287.3293 E-mail: [email protected] www.macroplan.com.br 25 Equipe Supervisão Técnica e Coordenação Geral 26 Claudio Porto Coordenação Executiva Rodrigo Ventura Equipe de Elaboração Claudio Porto Rodrigo Ventura José Teruo Watari Comunicação Visual Luiza Raj Mariana Bahiense 26 1 1