1 - Macroplan

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Monitoramento 0ut/08
Resumo Executivo
A realidade é repleta de incertezas, e sua existência torna indispensável um esforço permanente
em acompanhar o movimento dos principais eventos que se desenvolvem em âmbito mundial e
nacional, de modo a identificar sinais e padrões de comportamento que possam alterar as
perspectivas previstas em relação ao futuro e, nesse caso, redirecionar as decisões estratégicas
tomadas no presente.
Nesse esforço de delimitação e organização das incertezas, a construção de cenários constitui
apenas o primeiro momento do processo de reflexão estratégica diante do futuro. Enquanto os
cenários alternativos conferem às instituições um referencial para o acompanhamento do futuro, o
monitoramento consiste em um processo permanente e sistemático de avaliação da realidade à
luz do que foi antecipado pela construção dos cenários de modo ajustar a estratégia à medida que
esta é implementada.
Em agosto de 2008, a Macroplan publicou o estudo “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil
2008-2014”.1 Um dos principais eventos previstos consistia na crise financeira americana –
incluindo a possibilidade de uma crise de confiança no mercado financeiro internacional. No início
de setembro, esta crise finalmente eclodiu e, embora fosse altamente previsível, está exibindo
intensidade e rapidez de propagação muito maior que as imaginadas pela grande maioria dos
analistas. Isso sinaliza a possibilidade de amplas mudanças no quadro econômico mundial, com
reflexos sobre o Brasil.
Desde que se instaurou a crise do subprime, em julho de 2007, os números são catastróficos. No
mundo, as bolsas acumularam perdas de, aproximadamente, US$16 trilhões, o equivalente a pouco
mais de 12 vezes o PIB do Brasil de 2007. Essa grande volatilidade nos mercados certamente afeta
toda a economia mundial, que está mais globalizada do que nunca. E o Brasil não foge à regra.
Mesmo que o sistema financeiro brasileiro não esteja envolvido com a crise do subprime, o País
não está imune às turbulências.
É verdade que, em 2008, o Brasil é uma economia bem mais sólida e menos vulnerável às
flutuações dos mercados internacionais do que era 10 anos atrás. Soma-se a isso a existência de
um sistema bancário sólido, bem regulado e reconhecido como um dos mais eficientes do mundo.
Mas, em momentos de crise, todo cuidado é pouco. O Brasil deve sofrer com a crise seja pela fuga
de capital especulativo, pela desaceleração da entrada de investimento direto estrangeiro ou
ainda pela queda no preço das commodities, e, portanto já é previsível uma desaceleração no
atual ritmo de crescimento. Desde o início de 2008, já saíram do País, aproximadamente, R$ 19
bilhões de investimentos estrangeiros. O primeiro impacto foi sobre as bolsas. A Bovespa acumula,
1
O leitor poderá ter acesso ao estudo “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014” mediante consulta ao site
www.macroplan.com.br , na seção Observatório (Cenários e Prospectiva).
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1
no ano, uma desvalorização de quase 54%. Nos últimos três meses, a taxa de câmbio real/dólar
desvalorizou, aproximadamente, 37% e o risco-país aumentou mais de 143%.
Diante de acontecimentos dotados de tamanha magnitude e imprevisibilidade, mapear certezas e
incertezas e antecipar possibilidades acerca do futuro é uma valiosa forma para se evitar a
irracionalidade e a contaminação pelo pânico e à paralisia por excesso de análise. É preciso
procurar entender a natureza do fenômeno, mapear os impactos previsíveis e identificar as novas
incertezas emergentes.
No mundo, as principais certezas se referem ao aumento da regulação sobre o sistema financeiro, à
diminuição da liquidez, à maior aversão ao risco e à desaceleração da economia global. Já no
Brasil, dentre os principais fenômenos que são certos ou quase certos, destacam-se pressões sobre
o câmbio e a inflação, contração de crédito e aumento do custo de capital, redução do
investimento estrangeiro direto e desaceleração do crescimento econômico.
Embora muitos impactos sejam visíveis, o fato é que a crise semeou novas incertezas em escala
global, dentre as quais podem ser destacadas: a economia mundial seguirá rumo a uma forte
recessão ou a uma reativação em prazo relativamente curto? Como evoluirão os preços das
commodities? Conseguirão as economias emergentes sustentar o crescimento econômico global
em patamar mediano, a despeito da desaceleração mais acentuada das economias
desenvolvidas?
Em face dessas incertezas, podem-se visualizar quatro cenários focalizados nos impactos da crise
do sistema financeiro sobre a economia real na dimensão mundial:
Impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real no mundo: quatro cenários
focalizados
Duração dos impactos
Disseminação dos impactos
na economia real
Localizada
Ampla
Longa
1. Recessão
prolongada nos EUA,
Europa e Japão e
moderada
desaceleração dos
emergentes
2. Recessão
mundial
prolongada
Curta
3. Recessão rápida
nos EUA, Europa e
Japão e pequena
desaceleração dos
emergentes
4. Recessão
mundial
passageira
2
2
Já para o Brasil, as principais incertezas neste momento são as seguintes: será o mercado interno
capaz de sustentar o crescimento econômico brasileiro em patamar elevado? Conseguirá a rede
de instituições financeiras privadas suprir os consumidores e o setor produtivo nacional de linhas
de financiamento adequadas? Qual será a resposta do Governo brasileiro frente à crise? Qual
será o comportamento dominante do setor privado de nossa economia?
As indicações hoje disponíveis sugerem que as condições externas estão mudando para pior, o que
torna mais provável, sobretudo, o cenário de “Travessia na Turbulência” como descrito no estudo
publicado pela Macroplan em agosto de 2008. Isso sinaliza para a oportunidade de, em resposta à
crise, se abrir um novo ciclo de reformas para tornar a nossa economia mais robusta e
competitiva frente aos desafios e às dificuldades trazidas pelo ambiente internacional.
3
3
Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014:
1º Monitoramento
4
Em agosto de 2008, a Macroplan publicou seus “Quatro Cenários Econômicos para o Brasil
2008-2014”, que têm como foco a principal incerteza se o Brasil alcançará ou não uma
trajetória de crescimento sustentado e em patamares elevados nos próximos 7 anos, que se
desdobra em duas incertezas de menor ordem:
Como evoluirá o comportamento do ambiente econômico mundial em relação ao
Brasil nos próximos 7 anos, considerando inclusive os desdobramentos da atual crise
econômica americana; e
Com que intensidade serão enfrentados os gargalos estruturais ao desenvolvimento
sustentado do Brasil, incluindo eventuais adversidades do ambiente econômico
mundial.
Os cenários resultantes encontram-se resumidos na figura abaixo:
Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014
Ambiente econômico externo
(em relação ao Brasil)
Intensidade de enfrentamento aos gargalos
estruturais ao desenvolvimento sustentado
Predominantemente
Favorável
Predominantemente
Desfavorável
Alta
Baixa
1. Salto para o
Futuro
2. Crescimento
Inercial
A travessia para o
crescimento sustentado
3. Travessia na
Turbulência
O crescimento com
barreiras
O desperdício das
melhores
oportunidades
4. Baleia
Encalhada
De volta ao atoleiro
Fonte: Quatro Cenários Econômicos para o Brasil 2008-2014 – Agosto, 2008
Um dos principais eventos previstos nos cenários consistia na crise financeira americana –
incluindo a possibilidade de uma crise de confiança no mercado financeiro internacional. No
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início de setembro, esta crise finalmente eclodiu e, embora fosse altamente previsível, está
exibindo intensidade e rapidez de propagação muito maior que as imaginadas pela grande
maioria dos analistas. Isso sinaliza a possibilidade de amplas mudanças no quadro econômico
mundial, com reflexos sobre o Brasil.
Uma reflexão inicial sobre as características desta crise e seus prováveis desdobramentos em
escala global e no Brasil constituem justamente o foco deste 1º monitoramento dos quatro
cenários elaborados pela Macroplan.
A Economia Global em Tempos de Crise
A cena econômica atual está dominada pela crise financeira mundial originada no mercado
subprime norte-americano, que apesar de já vir se desdobrando há mais de um ano, vem
evidenciando indícios, cada vez mais concretos, de que a crise ainda está distante do fim.
As origens da crise
No início da década de 2000, muitos americanos se viram diante da oportunidade de obter
sua casa própria, incentivados pela taxa de juros declinante. Além disso, o crescimento
econômico e o desemprego declinante da economia os encorajava a refinanciarem as suas
casas por meio de hipotecas imobiliárias.
Fruto deste aumento da demanda, os imóveis registraram forte valorização até meados de
2006, a partir de quando a bolha imobiliária, já existente nos anos anteriores, começou a
demonstrar seus primeiros sinais de saturação. No 2º semestre de 2006, com a
desaceleração econômica e o aumento do desemprego, as instituições financeiras passaram
a amargar duplo prejuízo em decorrência da intensificação da inadimplência e da
desvalorização dos imóveis reavidos.
E os primeiros calotes vieram justamente daí. O mercado imobiliário reagiu com pânico
quando uma das divisões do banco francês BNP Paribas congelou, em agosto de 2007, cerca
de 2 bilhões de euros temendo o crédito subprime nos EUA. Na seqüência, gigantes do setor
hipotecário norte-americano, como a American Home Mortgage (AHM) e a Countrywide
Financial, pediram concordata, e os grandes grupos financeiros globais começaram a
anunciar perdas bilionárias com os papéis ligados a hipotecas subprime.
Em meio ao boom imobiliário, as hipotecas do mercado subprime2 foram amplamente
disseminadas. Muitas dessas hipotecas foram agrupadas e transformadas em produtos
2
A classe do subprime é aquela em que o empréstimo é avaliado como de alto risco na medida em que é
concedido a pessoas com uma situação de crédito não muito favorável, em decorrência do alto risco de calote.
5
5
financeiros para serem negociados no mercado, em um processo denominado securitização.
Não demorou muito para que estes e outros exóticos produtos financeiros se disseminassem
pelos cada vez mais interligados mercados financeiros internacionais.
De fato, a securitização havia disseminado o risco por todo o mercado internacional,
transformando a crise do subprime imobiliário norte-americano em uma crise de confiança
no mercado financeiro global, com impactos nocivos sobre o nível de liquidez.
Em momentos de crises como esta, os estudos e análises que tentam compreender suas
origens se tornam freqüentes, apesar das opiniões nem sempre unânimes. Mas um ponto é
consenso entre analistas econômicos e políticos das mais variadas correntes de pensamento:
o sistema financeiro não soube “separar o joio do trigo”, isto é, não foi capaz de avaliar as
reais condições de risco nas operações de crédito no processo de securitização.
Relação entre a Economia Financeira e a Economia Real
Fonte: Revista VEJA | Edição 2079 | 24 de Setembro de 2008 – 24/09/2008
Se, em 1980, a relação entre o tamanho do mercado financeiro e o PIB mundial era de 1,2,
em 2006 esta mesma relação era de 3,6. Este crescimento é explicado pelo aumento do grau
de alavancagem das principais instituições financeiras mundiais nas últimas décadas. A
recomendação do BIS3 para o grau de alavancagem médio ideal está entre 10 a 12, mas, na
prática, apenas a minoria das instituições financeiras seguiu a recomendação. O Goldman
Sachs, por exemplo, tinha um grau de alavancagem de 25 em 2008.
3
O BIS (Banco de Compensações Internacionais) é uma organização internacional responsável pela supervisão bancária, que tem
como objetivo promover a cooperação entre os bancos centrais e as agências na busca de estabilidade monetária e financeira.
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6
Grau de Alavancagem das Instituições Financeiras
31
30
25
18
7
12
Merrill
Lynch
Lehman
Brothers
Goldman
Sachs
Citigroup
Recomendado
pelo BIS
Fonte: Revista VEJA
Edição 2079 | 24 de Setembro de 2008 – 24/09/2008
A crise financeira internacional em dados e fatos
Desde que se instaurou a crise do subprime, em julho de 2007, os números são catastróficos.
No mundo, as bolsas mundiais acumularam perdas de, aproximadamente, US$ 16 trilhões,
referente à desvalorização das suas ações negociadas no mercado financeiro, o equivalente a
pouco mais de 12 vezes o PIB do Brasil de 2007.
A situação se agravou, principalmente, após o anúncio da quebra, no dia 15 de setembro, do
Lehman Bothers, um dos principais bancos de investimento americanos. Desde este episódio
até a data de fechamento deste monitoramento (22/10/2008), as principais bolsas do mundo
caíram mais de 20%, já considerando a variação do dólar no período.
Desde o dia 15 de setembro, o índice Dow Jones e a Nasdaq caíram 21,97% e 25,91%,
respectivamente. O índice FTSE de Londres caiu 22,93% e o Nikkei de Tóquio perdeu 28,99%.
A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) sofreu queda de 27,57%. O grande destaque foi
para a Rússia, que perdeu 43,88% e chegou até mesmo em suspender as suas atividades por
alguns dias devido a sua enorme perda.
A explicação por trás da perda recorde da bolsa brasileira deve-se ao fato de que as
empresas com receita em commodities, que têm forte participação na formulação do
Ibovespa. Dessa forma, com a atual perspectiva de recessão global, estes produtos tendem a
sofrer queda nos seus preços, influenciando negativamente o valor de mercado das
empresas que os transacionam.
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Perdas das Principais Bolsas Mundiais Desde 15/09/2008 (Posição em 22/10/08)
-29,0%
Nikkei (Tóquio)
-22,0%
Dow Jones (Nova York)
-22,9%
FTSE (Londres)
Nasdaq (Nova York)
-25,9%
-43,9%
Rússia
Ibovespa
-27,6%
-50,0%
-40,0%
-30,0%
-20,0%
-10,0%
0,0%
Fonte: Economática
Ao longo de 2008, o governo norte-americano e o Federal Reserve (Fed) já intervieram
diversas vezes no sistema financeiro. O socorro das agências hipotecárias Fannie Mae e
Freddie Mac, a estruturação para venda do falido banco Bear Stearns e a recente aquisição
pelo governo do controle acionário da AIG, a maior seguradora dos EUA e uma participante
ativa no mercado dos chamados swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês)
ilustram esse aspecto.
Uma eventual falência dessas instituições poderia disseminar o pânico entre os agentes de
mercado, com implicações ainda mais negativas para a confiança e a liquidez do mercado
financeiro. De fato, o caos financeiro gerado a partir da falência do Lehman Brothers, quarto
maior banco dos EUA e a venda emergencial do Merrill Lynch, o terceiro maior, deram indícios
de que uma eventual ausência da intervenção do Tesouro e do Fed nos mercados poderia
gerar uma crise financeira de proporções catastróficas, seguindo a lógica das corridas
bancárias presente na literatura econômica.
E o movimento de intervenção do Estado e de consolidação (fusões e aquisições) do sistema
financeiro desencadeado pela crise se estende para além das fronteiras norte-americanas. Na
Europa, a maior hipotecária inglesa, o HBOS, foi vendida às pressas ao Lloyds, e o banco Fortis,
um dos maiores do continente, foi estatizado. A Islândia, o país com maior IDH do mundo, está
falida e pediu socorro à Rússia, em busca de uma injeção de 5 bilhões de dólares.
Estes e outros fatos não postos, porém nem por isso menos relevantes, sustentam o atual
sistema financeiro mundial marcado pela alta alavancagem, pouca regulação e profunda
interligação em todo o globo.
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Este sistema vem experimentando acentuado crescimento nas ultimas três décadas, mas a sua
explosão, sobretudo nos últimos anos, se deve a três fenômenos simultâneos e distintos: o
processo de desregulamentação, o uso intenso de inovações tecnológicas e a maior
mobilidade de capital internacional4.
Os desdobramentos completos da crise ainda são impossíveis de se avaliar, mas ela já produz
impactos negativos visíveis sobre o lado real da economia. A taxa de desemprego nos EUA
atingiu 6,1% em setembro, o maior nível em quase cinco anos, e o índice de confiança do
consumidor norte-americano caiu para 57,5 pontos em outubro, ante 70,3 em setembro,
registrando a maior queda mensal desde que começou a ser monitorada, em 1952. O número
de novas construções residenciais caiu 6,3%, em setembro, para o menor nível desde 1991. A
variação nas vendas do varejo, em setembro, frente ao mês anterior registrou quedas em
todos os setores, com destaque para o setor de automóveis, que cedeu 3,8%, e eletrônicos,
que caiu 1,5%. A projeção de crescimento do PIB norte-americano em 2008 é de apenas 1,3%,
e todos os dados mais recentes sugerem que a economia dos EUA está prestes a entrar na
recessão5 mais profunda desde o início dos anos 80.
E tal como ocorre no lado monetário da economia, os efeitos da crise sobre o lado real são
vistos também além dos EUA. O PIB dos 15 países que integram a Zona do Euro recuou 0,2%
no 2º trimestre de 2008, o pior resultado desde a adoção da moeda única, em 2002. No Japão,
os números recentes indicam a pior retração na atividade econômica em quase uma década, e
o PIB japonês contraiu 2,4% no mesmo período.
O consumo nos grandes países emergentes, os chamados BRIC, que incluem Brasil, China, Índia
e a Rússia, também registrou queda nos últimos meses. Na última década, o crescimento
econômico mundial foi predominantemente impulsionado por estes grandes países
emergentes e, diante a fragilidade, gerada pela crise, dos países desenvolvidos, a esperança
para a manutenção do crescimento recaiu ainda mais sobre o BRIC, em especial a China. No
entanto, aumentam as sinalizações de que a economia desses países também está
retrocedendo em decorrência da escassez de crédito. Na Rússia, o crédito fácil se contraiu. Na
Índia, o mercado de trabalho terceirizado está encolhendo. No Brasil, o preço das commodities
que o país exporta está caindo. E, finalmente, na China, a queda na bolsa e no volume de
exportações faz os empresários retraírem alguns de seus investimentos em novas plantas
produtivas.
Contudo, até o presente momento, os países emergentes ainda não foram tão afetados pela
crise quanto as economias desenvolvidas. Porém, a mesma exuberância de fácil acesso ao
crédito que possibilitou, nos últimos anos, o aumento da capacidade produtiva e os bons
4
Esta conclusão e as análises que se seguem nos parágrafos seguintes estão baseadas em The Economist, edição de 11 a 17 de
Outubro de 2008, Special Report, p. 6 a 16.
5
De acordo com o conceito clássico, caracteriza-se como recessão a sucessão, por dois trimestres consecutivos, do crescimento
negativo do PIB.
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momentos de crescimento econômico encontra-se, neste momento, cada vez mais escasso e
restrito. Assim, o desempenho econômico dos países do BRIC nos próximos anos está
ameaçado por três fatores: a expectativa de redução das exportações frente ao baixo
crescimento da economia mundial; a redução da disponibilidade de crédito; e a fuga de capital
estrangeiro que, em meio às turbulências, é obrigado a liquidar as suas posições nestes países
emergentes para sanar os prejuízos nos mercados dos países desenvolvidos situados no
epicentro da crise.
Apesar dos indicadores, ainda há certa descrença na possibilidade de uma recessão forte nas
economias emergentes, mais especificamente da China. A recente desaceleração econômica
do país se deve à intensificação das medidas do governo central voltadas à contenção da
inflação. Contudo, diante da crise, as autoridades chinesas já reverteram a estratégia de
aperto monetário e reduziram por duas vezes seguidas a taxa de juros no mês de setembro.
Esta postura relembra a reação chinesa durante a crise financeira na Ásia, em 1998, quando a
China conseguiu sobreviver à crise devido a rápidas movimentações do governo para estimular
a economia.
O mercado internacional de commodities, importante condicionante da evolução futura das
economias emergentes, vem registrando elevada volatilidade em meio à crise, de tal ordem
que nenhuma tendência de curto prazo é mais previsível. Sua dinâmica será definida pelo
confronto de duas forças econômicas antagônicas, com efeitos distintos sobre os preços. Por
um lado, a desaceleração econômica mundial implicaria a redução da demanda por
commodities, com impactos negativos sobre os preços. Por outro, em meio à crise de
confiança estabelecida nos mercados, aplicações financeiras em ativos reais, como ouro e
commodities agrícolas e industriais, poderia se mostrar uma eficaz salvaguarda contra as
turbulências do mundo financeiro. Nesse caso, o efeito sobre os preços seria positivo.
Frente à alta volatilidade, os especuladores tem sido o grande alvo dos governos que cada vez
mais aumentam o seu controle, criando restrições e incentivos para desencorajar a
especulação no mercado de commodities. Apesar dos esforços, investidores veteranos como o
George Soros afirmam que o mercado de commodities vive uma bolha especulativa. E se a
afirmação está correta, então as conseqüências são profundas, já que o preço das commodities
tem um impacto imediato muito maior sobre o lado real da economia do que as variações no
mercado acionário ou no mercado de títulos do governo.
Um dos motivos que explicam a elevada volatilidade do mercado de commodities se encontra
no fato de que, desde 2001, o número de contratos futuros de commodities mais que
quadriplicou. Em virtude da eclosão da crise do subprime, muitos instrumentos financeiros se
tornaram ilíquidos e de alto risco, o que levou muitos investidores a direcionarem seus capitais
para o mercado de commodities.
Cabe ressaltar que a dinâmica do mercado de commodities também tem sido influenciada
ainda por um fator estrutural ligado à economia real: o aumento da demanda por alimentos
10
10
advindos, em especial, das economias emergentes (com destaque para Índia e China). A
expectativa é que em 2015, 580 milhões de chineses alcançarão nível médio de renda e,
portanto, ingressarão na economia de mercado, o que produzirá efeitos reais e positivos sobre
a demanda por alimentos e commodities industriais6.
A crise financeira e o aumento da demanda dos países emergentes por commodities e
alimentos são explicações relevantes, porém incompletas. Outro fato que deve ser destacado
são as ações dos governos que induziram distorções no preço das commodities nos últimos
anos. Em muitos países, principalmente nos mercados emergentes, os governos mantiveram o
preço de combustíveis importantes, como o diesel ou a gasolina, abaixo do preço internacional
para auxiliar no controle da inflação. Os subsídios oferecidos acabaram por impactar nas
finanças do governo e, o mais importante, criou distorções no preço das commodities.
Somam-se a estas distorções as tentativas de diminuir a emissão de carbono, principalmente
nos EUA e na Europa, que introduziram programas para apoiar a produção de biocombustíveis
(etanol baseado no milho nos EUA e biodiesel na Europa) e, com isso, acabaram intensificando
o aumento do preço das commodities. Nos últimos anos, o preço do milho e da soja subiu mais
de 70% e 40%, respectivamente.
Com a evolução da crise financeira e os sinais de desaceleração da economia mundial, os
preços das commodities finalmente começam a sentir efeitos. O índice de alimentos da revista
The Economist registrou, no fim de setembro, uma contração de 23% em relação ao pico deste
ano. O preço do petróleo também ajustou nos últimos meses. A própria demanda começa a
responder diante dos altos preços, modificando os seus hábitos de consumo antes mesmo das
expectativas.
Todos esses elementos indicam que, no 2º semestre de 2008 e, principalmente, em 2009, a
economia mundial apresentará um quadro de crescente desaceleração. Deste modo, a
Macroplan revisa para baixo a projeção de crescimento da economia mundial em 2008, de
4% para cerca de 3,5% (Cenário 2 – Crescimento Inercial), e a previsão de crescimento para
2009, de 4% para valor próximo a 3%.
Previsões de Crescimento para a Economia Mundial
Variação (%) em relação ao ano anterior
2008
2009
FMI
3,9
3,0
Banco Mundial
2,7
3,0
3,0 a 3,5
2,5 a 3,0
Macroplan
6
Revista Exame. “800 milhões de novos consumidores”. Portal Exame, julho de 2006.
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Os ‘pacotes’ de socorro ao sistema financeiro
Após semanas de intensas negociações, finalmente foi aprovado pelo Congresso norteamericano o pacote de ajuda bilionária para o setor financeiro. O vai-e-vem nas discussões
em torno do pacote criou grande volatilidade em todo o mercado, que oscilou entre a euforia
e o pânico nas últimas semanas. Apesar das diversas mudanças, a idéia do pacote é absorver, e
depois revender no mercado, os instrumentos financeiros exóticos (podres) que inflaram a
bolha no mercado de crédito para empresas e consumidores. O projeto está estimado em US$
700 bilhões, que serão liberados em etapas.
Mas, mesmo com a aprovação do pacote, os principais mercados acionários continuam
despencando pelo mundo todo. Isto tanto por conta do elevado grau de incerteza que
persiste como porque o fato de o governo americano aparentemente possuir as armas (os
recursos) para combater a crise não garante que elas serão bem utilizadas. E, principalmente,
porque esta crise é, antes de tudo, uma crise de confiança.
Críticas ao Secretário do Tesouro Henry Paulson vêm de todas as partes, inclusive das
autoridades envolvidas na elaboração do pacote de resgate financeiro. O argumento é que
Paulson escolheu o alvo errado para combater a crise. Em vez de apostar na compra de ativos
podres, o secretário deveria ter adquirido participações dos bancos, evitando a falência de
bancos como o Lehman Brothers e o Wachovia, o que tranqüilizaria o mercado e diminuiria as
incertezas.
Incentivado pelas medidas na Europa, o secretário Paulson, confirmou recentemente que será
utilizada a primeira parcela de US$ 250 bilhões na compra de participação de instituições
financeiras saudáveis. O secretário adverte as instituições que serão beneficiadas para que o
dinheiro seja canalizado para os seus clientes rapidamente, pois o congelamento de crédito
resultante da desconfiança está prejudicando toda a economia.
As mudanças como esta ao longo do caminho contribuem para aumentar o custo dessa
operação para os contribuintes americanos, e a conta já chegou aos surpreendentes US$ 4
trilhões. O déficit orçamentário dos EUA atingiu o recorde de US$ 455 bilhões no ano fiscal de
2008, superando as estimativas de US$ 389 bilhões.
Diante da ausência de liderança dos EUA, que parece estar mais escassa do que o próprio
credito, a Europa mostrou a liderança na reflexão do futuro. Pela primeira vez, de forma
coordenada, os países da Zona de Euro decidiram lançar um pacote de medidas contra a
crise. É a ironia do destino. A mesma Inglaterra que espalhou a última onda liberal, foi a
primeira a defender a estatização dos bancos.
O plano de medidas que influenciou os EUA incluem processo de estatização parcial através da
compra de participações acionárias em bancos, como também a compra de papéis da dívida e
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garantia dos empréstimos entre bancos para assegurar capital e liquidez às instituições
financeiras.
A França anunciou um plano de aproximadamente 490 bilhões de euros para impedir a
falência dos seus bancos, sendo que a maior parte deste recurso será mobilizada para garantir
os empréstimos entre bancos, que foram prejudicados com a crise. A Alemanha fornecerá
cerca de 500 bilhões de euros, maior intervenção do estado na economia desde a queda do
muro de Berlin em 1989. As suas ações serão para garantir empréstimos e injeções de capital
para fortalecer o seu sistema financeiro. O Reino Unido anunciou compra de ações dos bancos
dos seus países podendo alcançar recursos de até US$ 90 bilhões, alem de garantir
empréstimos bancários no valor de US$ 438 bilhões. Outros países, como a Áustria, Espanha,
Holanda, Itália, Portugal, Noruega e Rússia, também anunciaram suas medidas. Sensibilizados
pelos anúncios, os governos da Oceania e também do Oriente Médio divulgaram as suas
medidas em combate a crise.
O fato é que, felizmente, diante da crise a Europa agiu mais rápido que nunca. Após os
primeiros anúncios, em menos de uma semana os 27 países da União Européia aprovaram um
pacote de medidas incluindo mudanças nas regras contábeis de bancos, novos mecanismos de
supervisão de instituições financeiras, e o tão aguardado pacote anticrise de 2,2 trilhões de
euros para capitalizar bancos e garantir os depósitos e empréstimos. Não satisfeita, a Europa
propõe reformar o sistema de Bretton Woods para arquitetar um novo sistema financeiro
internacional, considerando como crucial a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Brasil e a Crise
A grande volatilidade nos mercados certamente afeta o mundo, que está mais globalizado do
que nunca. E o Brasil não foge à regra. Mesmo que o sistema financeiro brasileiro não esteja
envolvido com a crise do subprime, o País não está imune às turbulências.
É verdade que, em 2008, o Brasil é uma economia bem mais sólida e menos vulnerável às
flutuações dos mercados internacionais, o que pode ser melhor avaliado quando comparado
ao quadro existente há 10 anos atrás durante a eclosão da crise financeira desencadeada
pela moratória russa.
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Quadro Comparativo – Brasil 1998 x Brasil 2007
1998
2007
Câmbio fixo e ausência do
regime de metas de inflação
Câmbio flutuante e regime de
metas de inflação em pleno
vigor
Risco País (p.p)
1.121,45
145,5
Saldo das Reservas Internacionais
(US$ milhões)
44.556,44
180.334,00
Dívida Externa (US$ milhões)
92.020,90
70.272,00
Política Econômica
Fonte: IPEA
Soma-se a isso a existência, no Brasil, de um sistema bancário sólido, bem regulado e
reconhecido como um dos mais eficientes do mundo. De fato, a sucessão de crises financeiras
pelas quais o País atravessou nos anos 90 forçou modificações no sistema bancário, que ficou
muito mais confiável e robusto. Com isso, a regulação financeira brasileira já inclui atualmente
diversos dos dispositivos para evitar novas crises sistêmicas no futuro, que apenas agora os
americanos deverão adotar.
Brasil está na frente em regras financeiras
É certo que o Brasil também será afetado pela crise financeira, seja pela alta do dólar, restrição para
linhas de crédito, ou perdas de grandes empresas exportadoras no mercado futuro de câmbio. Uma
vantagem, porém, consiste na regulação financeira brasileira.
Após inúmeras crises que o país já enfrentou, o Brasil se encontra neste momento muito à frente de
muitos países desenvolvidos em termos de regulação financeira. O sistema brasileiro, apesar de
ainda possuir inúmeras deficiências, já inclui diversos dispositivos que os americanos deverão adotar
apenas agora diante da crise. O Banco Central do Brasil, diferentemente do Federal Reserve (Fed),
regula praticamente tudo, incluindo desde bancos comerciais, múltiplos e de investimento,
corretoras, consórcios e até cooperativas.
No Brasil, há uma consolidação de todos os aspectos da atuação de um conglomerado financeiro em
seu balanço, incluindo até atividades não financeiras. Assim, não é simples, como nos EUA, driblar os
limites de alavancagem, uma das condições para a eclosão da crise.
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/08
14
14
Portanto, apesar das instabilidades político-econômicas citadas, o contexto internacional
desfavorável não deverá influenciar decisivamente o crescimento econômico brasileiro em
2008, que vem sendo estimulado predominantemente pela demanda interna. O desempenho
do PIB brasileiro no 1º semestre de 2008 superou as expectativas do mercado. No período, o
Brasil cresceu 6% em relação ao mesmo semestre do ano anterior. Nesse contexto, a demanda
interna contribui com 8,5 pontos percentuais do crescimento, enquanto que a demanda
externa contribuiu negativamente com -2,5 pontos percentuais.
Crescimento trimestral do PIB
1º Trimestre/2006 a 3º Trimestre/2008
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
1T
2T
3T
4T
1T
2T
3T
4T
1T
2T
2006 2006 2006 2006 2007 2007 2007 2007 2008 2008
Fonte: IBGE
Sob a ótica da demanda, os investimentos registraram alta de 15,7% no período, o que
permitiu à taxa de investimento em relação ao PIB alcançar a marca de 18,7%. O consumo das
famílias, com peso de cerca de 60% do PIB, continuou em patamar elevado, registrando
crescimento de 6,7% no período. Essa expansão do consumo foi motivada, principalmente,
pelo aumento da massa salarial. No 2º trimestre, a massa salarial dos brasileiros teve alta de
8,1% em relação ao trimestre anterior. Além disso, o crédito farto e os prazos longos de
pagamento dos empréstimos contribuíram para o aquecimento da economia: houve um
crescimento de 32,9% no saldo de operações de crédito com recursos livres para pessoas
físicas.
Buscando controlar os efeitos do aquecimento da economia sobre a inflação – cujas projeções
para o final de 2008 já antecipavam a ultrapassagem da meta estipulada pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN) –, o Banco Central (Bacen) retomou o aperto monetário,
promovendo sucessivos aumentos na taxa básica de juros (Selic). Em setembro, após quatro
elevações consecutivas, a taxa Selic alcançou 13,75%.
A partir de setembro, no entanto, as expectativas do mercado quanto à inflação de 2008
começaram a se reduzir, retornando aos limites da margem superior da meta. Isso decorreu,
em grande parte, da redução dos preços das commodities agrícolas e industriais nos mercados
15
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financeiros internacionais. Esse movimento no mercado de commodities resultou na
depreciação da taxa de câmbio – entre jul/2008 e out/2008 o Real apresentou desvalorização
de 36% em relação ao dólar – e em sucessivas quedas no Ibovespa, que acumulou queda de
40% no período.
Nesse sentido, a maxidesvalorização do câmbio vem se cristalizando como o principal fator
de desestabilização proporcionada pela crise sobre a economia brasileira. Seu efeito
perturbador sobre os projetos de investimento das empresas e sobre as decisões de consumo
das pessoas físicas consiste no mais visível canal de propagação da crise do lado financeiro
para o setor real.
Taxa de câmbio x inflação acumulada 12 meses
jan/2006 - set/2008
Taxa de Câmbio
RS/US$
Variação (%) 12
meses - IPCA
2,5
7
6
2
5
1,5
4
1
3
2
0,5
1
0
0
2006.01 2006.05 2006.09
2007.01 2007.05 2007.09 2008.01 2008.05
Taxa de Câmbio
IPCA
Fonte: IBGE
O impacto da elevação dos juros sobre o desempenho do PIB só deverá ser sentido no último
trimestre do ano e, principalmente, em 2009. Nesse sentido, a Macroplan revisa para cima
sua projeção de crescimento para a economia brasileira em 2008 dos atuais 4,7% (Cenário 2
– Crescimento Inercial) para cerca de 5,5%, com a taxa de investimento da economia se
mantendo em 18,5% do PIB. Para 2009, espera-se a acentuação das dificuldades trazidas pela
deterioração do ambiente externo, especialmente se houver uma queda adicional dos preços
de commodities. O crescimento econômico brasileiro na melhor das hipóteses deve alcançar
no máximo 3% no próximo ano, abaixo da projeção anterior (4,5%).
16
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Previsões do Crescimento Econômico Brasileiro
(%) em relação ao ano anterior
2008
2009
Focus
5,0
3,6
Instituto de Economia – UFRJ
5,0
4,5
The Economist
4,6
3,6
FMI
5,2
3,5
5,0 a 5,5
2,5 a 3,0
Macroplan
17
A inflação, medida pelo IPCA, provavelmente encerrará o ano de 2008 em torno dos 6,5%,
dentro do limite superior da meta, e abaixo da expectativa anterior (7%). Quanto à taxa de
câmbio real/dólar no final de 2008, a volatilidade é tamanha que é impossível qualquer
previsão categórica. Neste momento, uma faixa entre R$1,80 a R$2,00 por dólar é a que
parece mais plausível.
Mas, em momentos de crise, todo cuidado é pouco. O Brasil deve sofrer com a crise seja
pela fuga de capital especulativo, pela desaceleração da entrada de investimento direto
estrangeiro ou ainda pela queda no preço das commodities, e, portanto já é previsível uma
desaceleração no atual ritmo de crescimento.
Desde o início de 2008 até a data de fechamento deste monitoramento (22/10/2008), já
saíram do País, aproximadamente, R$ 19 bilhões de investimentos estrangeiros. O primeiro
impacto foi sobre as bolsas. A Bovespa acumula, no ano, uma desvalorização de quase 54%.
Nos últimos três meses, a taxa de câmbio real/dólar desvalorizou, aproximadamente, 37% e
o risco-país aumentou mais de 143%.
A curto prazo, o principal canal de contágio da crise se dá por meio da contração do crédito.
A falta de confiança é muito acentuada, e o dinheiro que deveria fluir para o setor produtivo
secou ou está muito escasso, apesar da competente atuação do Banco Central. A
modificação dos critérios para concessão de financiamentos, cada vez mais rígidos, afeta a
expansão da capacidade produtiva. Bancos e montadoras de automóveis diminuem os prazos
de financiamento e produtores agrícolas já sentem ameaças quanto ao financiamento da
próxima safra.
A pesquisa mensal do Comércio do IBGE já aponta que a menor oferta de crédito afetou as
vendas em agosto, antes mesmo de a crise piorar, e o próprio Governo já prevê uma
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desaceleração no ritmo de geração de emprego com carteira, que, ainda assim, deve
ultrapassar 2,1 milhões de postos este ano.
Além disso, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, cerca de 25%
dos investimentos feitos no Brasil são de origem estrangeira. As multinacionais instaladas no
território nacional nunca enviaram tanto dinheiro disponível para as suas matrizes
diminuírem os seus prejuízos.
A incapacidade dos bancos nacionais de atender às demandas de créditos das pessoas e das
empresas sinalizou a necessidade do governo intervir no mercado financeiro. Formalmente,
o Banco Central não controla o câmbio. Sua obrigação é manter o controle inflacionário
dentro da meta estabelecida. Entretanto, é sua obrigação garantir a solidez do sistema
financeiro. E é isso que ele vem fazendo nas últimas semanas. O Banco Central injetou,
aproximadamente, R$ 70 bilhões nos bancos para fazer frente à escassez de crédito em duas
frentes: na diminuição do compulsório e na venda de dólares no mercado à vista e futuro.
Ademais, será criado também incentivo para os grandes bancos comprarem as carteiras de
crédito das instituições pequenas voltadas para o crédito consignado e para o financiamento
do varejo.
Por fim, a recente aprovação da Medida Provisória (MP) 442 traz mais poderes ao Banco
Central para combater a crise. A MP vai permitir que o Banco Central faça empréstimos em
dólares para as empresas com o intuito de estimular os canais de créditos, e também
emprestar dinheiro para bancos que estejam em situação vulnerável.
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Reflexos da Crise no Mundo Empresarial
Empresas brasileiras que apostaram no dólar baixo amarguram perdas bruscas no mercado futuro. Os
mais pessimistas apostam em perdas que podem ultrapassar R$ 30 bilhões. A Sadia anunciou perdas
de R$ 760 milhões, a Aracruz perdeu R$ 2 bilhões e a Votorantin R$ 2,2 bilhões. Há riscos de novas
empresas anunciarem problemas na medida em que os contratos de derivativos cambiais possuíam
vários períodos de vencimento. Segundo a Federação de Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), pelo
menos 200 empresas estariam envolvidas com estas operações. Um levantamento recente da
Economática aponta que os lucros recentes das empresas estavam além da atividade principal, ou
seja, se não incluísse o ganho com atividades não-operacionais, muitas empresas poderiam ter
registrado prejuízos.
A economia real também começa a revelar os primeiros impactos da crise. O crédito está mais restrito
em redes de varejo, e as empresas revisam os seus planos de expansão. O mercado está aumentando
os juros e diminuindo os prazos. O pedido de garantias e a parcela de entrada para financiamentos
estão cada vez maiores. Nesse contexto, os consumidores também revisam os seus planos e pensam
mais antes de comprar.
Os investimentos privados estão ameaçados em praticamente todos os setores. A crise deve induzir
uma desaceleração no ritmo de investimento no setor de tecnologia dos atuais 7% para 4% no ano que
vem. Os grandes produtores de celulose do país paralisam as linhas de produção e as estimativas
apontam que a produção mensal seja reduzida em torno de 20%. Além disso, montadoras do setor
automobilístico anunciaram férias coletivas.
Segundo pesquisa realizada pela Revista Exame com 268 empresas atuantes no País, 89% já
começaram a sentir os impactos da crise internacional; 36% revisaram ou estão revisando para baixo
as projeções das vendas para o último trimestre; e 57% crêem que sua rentabilidade em 2009
diminuirá. Diante deste quadro, 54% das empresas pesquisadas planeja responder aos impactos da
crise adiando investimentos e cortando custos.
Além disso, os projetos em infra-estrutura, base do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já
começam a ser atingidos pela crise global. Cerca de R$ 35 bilhões de investimentos já foram adiados
ou estão seriamente ameaçados. O adiamento do leilão da linha de transmissão das usinas do rio
Madeira, projeto avaliado em R$ 7 bilhões é um dos exemplos da atual situação que poderá ainda se
agravar. Sem esta linha de transmissão, essa energia não chegará ao país em 2012. A situação
portuária é mais grave ainda, pois sem os portos e a logística ineficiente, a produção será gravemente
afetada.
Fonte: Revista Exame e Jornal Valor Econômico (outubro/2008)
Já no campo fiscal, os reflexos da crise internacional levará os governos a revisar seus
orçamentos para 2009, pois a expectativa dominante é de redução de receita ou, pelo
menos, de sua taxa de crescimento, o que impõe revisões e cortes nas despesas previstas.
19
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|nfelizmente, nos dias de hoje quase 90% das despesas do Governo Federal são obrigatórias,
e, portanto será necessário aprofundar cortes no campo das despesas discricionárias. Mas,
como estas despesas afetam setores politicamente sensíveis, como saúde, educação e Bolsa
Família, é provável que o corte das despesas aconteça novamente pelo lado dos
investimentos, com reflexos negativos sobre o PAC. Frente à possibilidade de os efeitos da
crise acarretarem em aperto do Orçamento de 2009, o Governo poderá rever reajustes de
servidores e também cancelar concursos públicos já previstos.
Certezas e Incertezas quanto ao Futuro
Diante de acontecimentos dotados de tamanha magnitude e imprevisibilidade, mapear
certezas e incertezas e antecipar possibilidades acerca do futuro é uma valiosa forma para se
evitar a irracionalidade e a contaminação pelo pânico e à paralisia por excesso de análise. É
preciso procurar entender a natureza do fenômeno, mapear os impactos previsíveis e
identificar as novas incertezas emergentes.
O que é certo ou quase certo no horizonte 2008-2010
Apesar do contexto macroeconômico internacional ser portador de inúmeras incertezas e
imprevisibilidades, pode-se afirmar que muitos acontecimentos já são esperados e, portanto,
visível. É certo que, no contexto internacional, os desdobramentos mais visíveis ou previsíveis
da crise financeira são:
O aumento da regulação sobre o sistema financeiro. Como conseqüência, o excesso
de concessão de crédito deve acabar. Uma maior restrição ao crédito diminuirá a
liquidez mundial.
Acabou o vento favorável e já é certa uma desaceleração da economia norteamericana. Além disso, o déficit fiscal dos EUA ficará cada vez maior.
O mundo de hoje é globalizado e interconectado. A diminuição do crédito nos EUA
implica que ele ficará mais escasso em qualquer outro país. Como conseqüência,
outras economias desenvolvidas – como a Europa e o Japão – e emergentes – como
Rússia, China, Índia e Brasil – também apresentarão ritmo de crescimento menor. As
previsões para o crescimento mundial em 2009 estão ficando cada vez menores e nem
o pacote de socorro ao sistema financeiro norte-americano deverá modificar este
panorama.
20
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Países emergentes exportadores de produtos primários serão afetados pela queda da
demanda mundial. A desaceleração da entrada de investimento direto estrangeiro
deverá afetar também o crescimento dessas economias.
Haverá uma forte aversão ao risco por parte dos investidores, com impactos
negativos, sobretudo, para países emergentes como o Brasil.
Aumento da demanda por ativos reais de baixo risco, o que pode abrir boas janelas
de oportunidades para atração de investimentos privados em projetos de infraestrutura no Brasil.
Já no caso do Brasil, os principais fenômenos que são certos ou quase certos são os seguintes:
Fortes pressões sobre o câmbio, a curto prazo, com pressões inflacionárias e também
sobre o nível de atividade econômica.
Restrição de crédito e diminuição das linhas de financiamento para os investimentos,
as exportações e o consumo. Aumento do custo de capital para empresas e pessoas
físicas.
Redução do investimento externo direto no País devido à queda da liquidez mundial.
Deterioração do saldo das transações correntes e uma desaceleração do crescimento
econômico.
Aumento das pressões sobre as contas públicas. Intensificação da necessidade de
rever o Orçamento para 2009, de revisar despesas e, sobretudo, de melhorar a
qualidade do gasto. Uma gestão intensiva das prioridades será fundamental.
As incertezas para 2009-2010
Embora muitos impactos, principalmente aqueles acima citados, sejam visíveis, o fato é que a
crise semeou novas incertezas em escala global, dentre as quais podem ser destacadas para o
horizonte futuro:
Diante da crise, a economia mundial seguirá rumo a uma forte recessão ou uma
reativação em prazo relativamente curto em conseqüência de ações anti-recessivas
dos governos europeus, americano e japonês?
Como evoluirão os preços das commodities? Se por um lado a pressão do preço
ocorre via redução da demanda mundial, por outro lado a aversão ao risco aumenta a
procura pelos ativos reais, e, portanto deverá aumentar a demanda pelas
commodities.
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Nos últimos anos, as economias emergentes vem assumindo crescente participação e
importância da geração da riqueza mundial. Serão essas economias substancialmente
afetadas pela crise ou conseguirão mitigar e se descolar parcialmente dos seus efeitos?
Nesse sentido, conseguirão as economias emergentes sustentar o crescimento
econômico global em patamar mediano, a despeito da desaceleração mais acentuada
das economias desenvolvidas?
Em face dessas incertezas, podem-se visualizar quatro cenários focalizados nos impactos da
crise do sistema financeiro sobre a economia real na dimensão mundial:
Impactos da crise do sistema financeiro sobre a economia real no mundo: quatro cenários
focalizados
Duração dos impactos
Disseminação dos impactos
na economia real
Localizada
Ampla
Longa
1. Recessão
prolongada nos EUA,
Europa e Japão e
moderada
desaceleração dos
emergentes
2. Recessão
mundial
prolongada
Curta
3. Recessão rápida
nos EUA, Europa e
Japão e pequena
desaceleração dos
emergentes
4. Recessão
mundial
passageira
Já para o Brasil, as principais incertezas neste momento são as seguintes:
O consumo doméstico ainda está aquecido, e pode ser um dos motores da economia
em 2009. Em meio a um cenário de crise internacional, será o mercado interno capaz
de sustentar o crescimento econômico brasileiro em patamar elevado?
O BNDES e demais bancos estatais não serão suficientes para compensar a escassez de
crédito no mercado nacional. Sendo assim, conseguirá a rede de instituições
financeiras privadas suprir os consumidores e o setor produtivo nacional de linhas de
financiamento adequadas a garantir o nível de exportações, consumo e investimentos
em patamares elevados?
Qual será a resposta do Governo brasileiro frente à crise, especialmente em relação
ao déficit em conta corrente do balanço de pagamentos e aos gastos correntes cada
vez maiores?
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Sem poder reduzir as despesas obrigatórias, de onde virão os cortes nas despesas para
equilibrar o orçamento? Conseguirá o Governo sustentar a plena execução dos
principais projetos contidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?
Qual será o comportamento dominante do setor privado de nossa economia?
As indicações hoje disponíveis sugerem que as condições externas estão mudando para pior, o
que torna mais provável, sobretudo, o cenário de “Travessia na Turbulência” como descrito no
estudo publicado pela Macroplan em agosto de 2008. Isso sinaliza para a oportunidade de,
em resposta à crise, se abrir um novo ciclo de reformas para tornar a nossa economia mais
robusta e competitiva frente aos desafios e às dificuldades trazidas pelo ambiente
internacional.
23
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Sobre a Macroplan
A Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão é uma empresa de consultoria especializada
em estudos prospectivos, administração estratégica e modernização organizacional, com sede
no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.
Suas principais linhas de produtos e serviços, desenvolvidos segundo metodologias próprias
amplamente testadas e aprovadas “em condições brasileiras”, são as seguintes:
1. estudos de cenários, que organizam e reduzem suas incertezas relativas ao futuro;
2. processos de planejamento estratégico, que definem o posicionamento atual da
organização (onde estamos), sua visão de futuro desejado (aonde queremos chegar) e
a trajetória para “chegar lá” sob condições de incerteza;
3. soluções de gestão estratégica orientada para resultados para alavancar, a curto
prazo, a capacidade das organizações em produzir, medir e comunicar benefícios
relevantes para a sociedade e para os público-alvo que constituem sua razão de ser;
4. apoio à implantação de planos e da gestão estratégica por antecipação, que
desdobram a visão de futuro da organização, fazem acontecer o que foi planejado e
ajustam as estratégias vigentes em face de novas mudanças;
5. métodos e instrumentos de monitoramento e gestão estratégica em tempo real, que
mobilizam, engajam e focalizam decisões e ações de dirigentes, gerentes e técnicos
em mudanças inesperadas e em questões e resultados estratégicos imediatos;
6. soluções de gestão estratégica da tecnologia e inovação para reforçar, a curto e
médio prazo, os valores da inovação na cultura empresarial por meio de ações de
mobilização e sensibilização;
7. projetos de reconfiguração organizacional e de design de sistemas de gestão
orientados para assegurar a obtenção de resultados almejados pela organização, seus
públicos-alvos e parceiros;
8. pesquisas qualitativas que mapeiam e interpretam as percepções e expectativas de
atores relevantes para o planejamento e gestão de governos, empresas ou
instituições; e
9. programas de capacitação técnica e gerencial em cenários e estratégia.
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A Macroplan® trabalha "sob medida", construindo e implantando soluções, sempre em
conjunto com os clientes. O estilo de trabalho alia discrição, empenho, criatividade e muita
dedicação, buscando as alternativas mais eficazes que atendam às necessidades do cliente.
Comentários, críticas e sugestões a este trabalho, assim como solicitações de estudos
adicionais poderão ser encaminhados à Macroplan:
25
Rua Visconde de Pirajá, 351 - Sala 718
Ipanema, Rio de Janeiro/RJ - CEP 22410-003 - Fone: (21) 2287.3293
E-mail: [email protected]
www.macroplan.com.br
25
Equipe
Supervisão Técnica e Coordenação Geral
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Claudio Porto
Coordenação Executiva
Rodrigo Ventura
Equipe de Elaboração
Claudio Porto
Rodrigo Ventura
José Teruo Watari
Comunicação Visual
Luiza Raj
Mariana Bahiense
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