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DISCURSO 19/FS/GAB.827/2008
O SRº. DEP. FÁBIO SOUTO (PFL-BA. Pronuncia
o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, subimos a essa tribuna para trazer aos
ilustres Pares algumas importantes preocupações a
respeito da crise financeira que ora se desenrola nos
mercados internacionais. Sem sombra de dúvida tratase de uma conjuntura sem precedentes desde a
Grande Depressão de 1929, e está estabelecendo um
novo parâmetro de relacionamento entre os governos e
os
mercados.
Mais
ainda,
persistem
grandes
incertezas sobre a sua intensidade e duração e sobre
como afetará a economia real a nível mundial.
Não obstante, Senhores Deputados, desde já é
possível afirmar com razoável grau de certeza que se
encaminha
uma
ampla
recessão
mundial,
que
certamente afetará o nosso País, o que exige uma
postura atenta e responsável das autoridades, que,
infelizmente, vêm sendo surpreendidas pelos fatos, ao
invés de antecipá-los.
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Com efeito, a crise, que se originou no mercado
imobiliário norte-americano a partir de um processo de
valorização
irreal
de
ativos,
tomou
proporções
inimagináveis, atingindo instituições financeiras de
grande porte e sólida reputação em escala global.
Como não podia deixar de ocorrer, o fato gerou
uma grave de crise de confiança que acabou por travar
o fluxo de recursos entre as instituições financeiras,
trazendo como principal conseqüência a falência de
um grande número de bancos em diversos países. Tal
processo, que vem exigindo ações coordenadas e
intervenções de governos e bancos centrais na
tentativa de conter o pânico, tem tido um custo
elevadíssimo e não se pode dar como encerrado, face
a eventuais desdobramentos ainda desconhecidos por
parte das autoridades monetárias .
A gravidade da situação modificou radicalmente o
panorama
financeiro
mundial.
O
contágio
dos
mercados reais, assim chamados os que lidam com
produtos e serviços não financeiros, mostrou-se
inevitável a partir da grave crise de crédito decorrente
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de um comportamento defensivo de investidores e
instituições financeiras. O ambiente assim criado
forçou instituições e indivíduos a buscarem liquidez,
necessidade,
de
resto,
desconfiança
sobre
a
reforçada
solidez
pela
das
grande
instituições
financeiras.
Concretamente,
Senhor
Presidente,
esse
movimento defensivo provocou a derrocada dos preços
de ativos, desequilíbrios nas taxas cambiais, queda do
preço de commodities e, enfim, afetou de forma grave
e abrupta o planejamento e as perspectivas de todos
os tipos de negócio mundo afora.
Boa parte do chamado “mundo rico” já está em
recessão. O produto vem caindo na Grã-Bretanha,
França, Alemanha, Japão e já se anuncia uma
recessão para os Estados Unidos, onde os índices de
produção e consumo despencam aceleradamente,
junto com o preço dos imóveis. A ação firme e
coordenada dos governos para debelar a crise
financeira,
injetando
recursos
e
proporcionando
garantias para retomar a confiança dos mercados e
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normalizar os fluxos financeiros, traz esperanças de
uma recuperação mais rápida, mas o fato é que
mesmo as economias emergentes, que vinham tendo
desempenhos
acima
da
média
mundial,
serão
afetadas.
Nesse sentido, Senhores Deputados, não há
como ignorar a crise, fazer de conta que ela não existe,
subdimensionar
seus
efeitos
e
fazer
apostas
arriscadas de conveniência política no curto prazo,
traduzidas em uma inação de quem espera apenas
leves marolas ao invés de fortes ondas. Ao contrário,
nesse momento se requer o espírito público e a visão
de estadista para decidir sobre o que é o melhor para o
País, que sacrifícios devem ser feitos para evitar o pior,
que
ajustes
devem
ser
realizados,
que
ações
concretas devem ser planejadas para que os possíveis
efeitos negativos dessa crise não nos peguem de
surpresa em um futuro próximo.
E os riscos não são poucos, apesar de este fato
parecer desagradável aos ouvidos irresponsavelmente
otimistas de alguns. A crise de crédito pode ser muito
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deletéria a importantes segmentos de nossa economia.
A combinação da queda de commodities, elevação da
taxa cambial, corte de linhas de financiamento
internacionais, suspensão de investimentos externos,
entre outras conseqüências, pode trazer, no curto
prazo, sérios problemas para exportadores, produtores
agrícolas e outros setores econômicos que vinham
sendo o motor da nossa economia nos últimos anos.
A disponibilização de recursos para suprir essas
deficiências é urgente e deve ser arquitetada com
critério e antecipação. O financiamento da safra
agrícola, por exemplo, cujo plantio já está se iniciando,
está por ficar comprometido face a essa escassez de
crédito externo. No entanto, ainda não há nada de
concreto que nos permita vislumbrar a substituição
desses recursos internacionais, que antes fluíam com
naturalidade para muitos produtores, por outras fontes,
com custos equivalentes aos anteriormente praticados.
O financiamento do comércio exterior, os novos
investimentos que estão sendo adiados, enfim, uma
série
de
situações
reais
nos
trazem
grandes
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preocupações quanto à ausência de soluções efetivas
e imediatas.
Assim,
Senhor
Presidente,
nosso
país
não
escapará de ser afetado pela crise internacional, mas
uma boa parcela desse impacto dependerá das ações
internas a serem tomadas com responsabilidade e
antecipação, para que se possa tirar proveito efetivo da
alegada posição favorável de nossa economia no
cenário mundial. Os custos de curto prazo poderão ser
recompensados em um futuro próximo, quando a
situação voltar à normalidade, e o Brasil poderá sair
dessa conjuntura, no futuro, mais forte e mais atrativo
como economia emergente.
Era o que tínhamos a dizer.
Muito Obrigado.
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