Perspectiva Semanal De 03 a 07 de outubro de 2011 Cenário Sem perder de vista o cenário internacional, os mercados acompanharão com muito interesse a agenda doméstica, de onde sobressaem indicadores de atividade econômica e novas informações sobre a evolução dos preços. O destaque fica por conta da divulgação da produção industrial de agosto, para a qual projetamos aumento de 0,3% na comparação mensal e alta de 3,2% em relação a igual mês de 2010. Este resultado encontra-se em linha com o quadro de estagnação que a atividade industrial vem apresentando desde meados do ano passado. Caso nossa projeção esteja correta, a indústria acumularia alta de 2,35% nos doze meses terminados em agosto, contrastando com a alta de 10,5% com que encerrou o ano de 2010. No âmbito da inflação, será conhecido o IPCA de setembro, que deverá trazer uma leitura próxima ao do IPCA-15 do mês, que registrou inflação de 0,53%. Pressão dos alimentos, transportes e vestuário deverão se sobressair como as principais fontes de pressão altista sobre o índice. Um resultado semelhante aquele registrado pelo IPCA-15 do mês manterá a inflação oficial em 7,3% em termos anuais. No front externo, os novos indicadores conjunturais a serem conhecidos nos Estados Unidos, principalmente aqueles referentes ao mercado de trabalho poderão reforçar a percepção de que a economia caminha para a recessão, alimentando a aversão ao ricos dos mercados. Na Europa, a tróica (BCE, UE e FMI) deve fornecer o aval para a liberação trimestral do primeiro empréstimo da Grécia, fundamental para evitar o default desordenado do país a curto prazo. Economia Internacional Indicadores recentes mostram que a economia chinesa se desacelera, caminhando para um cenário de crescimento moderado (soft landing), em resposta ao aperto monetário implementado desde o ano passado, mesclando controle de crédito e alta das taxas de juros. A inflação ainda permanece no radar, mas já começa dar sinais de arrefecimento. Dos 6,2% atingidos em agosto, deve recuar para um valor próximo de 5% ao final do ano. Uma das dúvidas, no momento, refere-se a como reagiria a economia chinesa em uma ambiente de deterioração do cenário mundial, ante aos crescentes riscos recessivos que cercam as economias dos EUA e Zona do euro. Neste contexto, o PIB da 2ª maior economia do mundo, que deve crescer 9,5% neste ano, poderia escorregar para faixa de 8% a 7%, o que, segundo especialistas, desestabilizaria o mercado de trabalho local, com graves repercussões no quadro social. O governo chinês dispõe de armas para atenuar um choque externo negativo. Como ponto de partida, poderia desmontar boa parte do aperto monetário efetuado recentemente. A inflação em queda facilitaria essa ação. Dificilmente repetiria o evento de 2008, quando injetou mais de RMB 4 trilhões na economia, atenuando o impacto recessivo da crise financeira, mas as custas de inflação em alta, criação de bolha imobiliária e riscos elevados para as finanças públicas. Atualmente, o efeito de uma recessão mundial seria menor do que o observado em 2008. Uma das razões está no fato de que o crescimento da China encontra-se menos dependente do comércio exterior (as exportações líquidas representam entre 2% a 3% do PIB, contra 8% a 9% em 2008), cabendo ao consumo doméstico, ao lado dos investimentos, a sustentação de grande parte da expansão econômica. Além disso, a manutenção do crescimento econômico contará também com os estímulos decorrentes de investimentos em mais de 100 mil projetos em infra-estrutura em andamento, bem como a implementação de programas de construção de residências populares. Investimentos e gastos com consumo compõem a estratégia das autoridades chinesas para estabilizar o crescimento entre 8% e 9% nos próximos anos e atenuar o impacto de um eventual choque externo negativo. Perspectiva para a semana A agenda econômica americana desta semana mostra-se recheada de indicadores, agregando novas informações que possibilitarão uma melhor avaliação da evolução da economia no terceiro trimestre, podendo atenuar os temores relacionados a uma eventual volta à recessão da economia americana. Neste sentido, destaque para as novas informações contidas no relatório de emprego de setembro, que continuarão mostrando um mercado de trabalho fragilizado. Segundo a mediana das projeções do mercado, em setembro devem ter sido criados, liquidamente, 53 mil postos de trabalho (zero no mês anterior), refletindo os ajustes que têm ocorrido na máquina pública americana. O setor privado deve ter gerado cerca de 90 mil novos postos de trabalho no mês (17 mil em agosto). A taxa de desemprego deve ficar em 9,1% em setembro, mesma taxa observada no mês anterior. A avaliação dos empresários sobre a evolução da atividade econômica também jogará papel importante na definição das expectativas nesta semana, uma vez que poderão reforçar a percepção de que a economia continua flertando perigosamente com a recessão. Para o ISM manufatura, o índice deverá registrar 50,5 pontos em setembro (50,6 pts em agosto), sinalizando modesto ritmo de 1 expansão. No segmento de serviços, o ISM serviços, também referente a setembro, deverá registrar 53,0 pontos (53,3 pontos em agosto), refletindo uma dinâmica mais vigorosa. Merecerá destaque também o discurso anual de Ben Bernanke no Comitê Econômico Misto do Congresso, na terça-feira. O tema será “Perspectivas para a Economia”. O tom deverá ser o mesmo dos comunicados recentes do Fed, enfatizando a fraqueza da economia americana e os baixos riscos inflacionários. Os mercados, no entanto, procurarão por sinais de novas medidas de estímulo monetário. Na Zona do euro, na Inglaterra e no Japão, os grandes destaques serão as decisões de política monetária dos respectivos banco centrais, na quinta-feira. Esses eventos não deverão trazer novidades, uma vez que a fraqueza dessas economias não deve fazer com que as autoridades monetárias alterem suas respectivas taxas de juros. Atenção para o Banco da Inglaterra (BoE), do qual espera-se uma ampliação do programa de compra de títulos com objetivo de estimular a economia. Em realção ao banco central da Zona do euro (BCE) espera-se comentários sobre os problemas financeiros do bloco e algum sinal de queda da taxa de juros na próxima reunião. Perspectiva Semanal Economia Brasileira O Relatório de Inflação do 3º trimestre, divulgado pelo Banco Central na semana passada, conteve, na verdade, poucas novidades. Os resultados dos modelos de pequeno porte apresentados (cenário de referência e de mercado) estão defasados, uma vez que a data de corte do relatório quanto aos dados é de 09/set (assim, o cenário de referência tem câmbio a R$/US$ 1,60 e o de mercado a R$/US$ 1,65 ao final de 2012, sendo que a taxa tem ficado em torno de R$/US$ 1,85-1,90 ao final de setembro) e que os modelos não levam em conta o efeito da crise internacional (a não ser por um PIB com crescimento menor em 2011). Os dois modelos mostram inflação acima da meta em 2012, sendo que o de referência (que mantém a taxa de juros estável em 12,00% em todo o horizonte) faz o IPCA convergir para o centro da meta no começo de 2013. O cenário alternativo do BC usa o modelo de médio porte (SAMBA), que por sua própria natureza leva em conta os efeitos do câmbio depreciado com a crise econômica (de intensidade de ¼ da crise de 2008), uma vez que o câmbio é variável endógena. Infelizmente, a taxa Selic também é variável endógena nesse modelo, então não é possível perceber até quanto ela cai nesse cenário do BC. O IPCA nesse modelo fica em torno de 4,7% ao final de 2012. Muitos consideraram o relatório de inflação hawkish, por mostrar modelos em que a inflação não converge para a meta a não ser que a Selic fique estável em 12,00% (e que o câmbio fique em R$/US$ 1,60). Entretanto, a verdade é que os dois primeiros cenários, pela data de corte, não dizem muito sobre como está 2 a cabeça do BC. O terceiro cenário deve ter recebido mais importância na decisão de cortar juros, e não é dita a magnitude dos cortes que ele incorpora. Dessa forma, a inflação de 4,7% ao final do ano que vem pode até mesmo ser compatível com uma Selic mais baixa que o mercado vê atualmente (entre 10% e 10,50%). Além disso, grande ênfase foi dada no relatório ao fato de o cenário internacional ser desinflacionário (mesmo sem eventos extremos de crise, e.g. default da Grécia), e de afetar o crescimento brasileiro (e de outras economias emergentes). Então, não é possível dizer realmente que o relatório de inflação foi hawkish, uma vez que peso menor deve ser dado a modelos que parecem importar menos para a decisão do Copom (e que têm dados defasados), que o modelo preferido pelo BC não disse quanto corte de juros incorpora e que o linguajar do relatório mostra o BC acreditando em pressões desinflacionarias vindas do exterior. O relatório não pode ser descrito como dovish também, porque mostra que a razão pela qual o BC cortou juros é a crise internacional e que o BC leva em conta um cenário sem eventos extremos. Dessa forma, a aceleração do corte de juros (para 75 pb ou 100 pb) pode ocorrer, na opinião da SulAmérica Investimentos, apenas em caso de evento extremo, como default da Grécia. O cenário base da SulAmérica Investimentos permanece de corte de juros de 50 pb nas próximas três reuniões, fazendo a Selic ficar em 10,50% a.a. no começo de 2012. Perspectiva Semanal Projeções SulAmérica Focus Expediente SulAmérica Semana anterior Esta semana IPCA em 12 meses 5,70 5,76 5,71 IPCA 2011 6,52 6,52 6,52 IPCA Setembro 0,52 0,49 0,50 IPCA Outubro 0,45 0,48 0,48 IPCA 2012 5,68 5,52 5,53 Selic final 2011 11,00 11,00 11,00 Selic média 2011 11,63 11,78 11,78 Selic final 2012 10,50 10,75 10,50 Selic média 2012 10,50 10,56 10,50 Câmbio final 2011 1,65 1,68 1,73 Câmbio médio de 2011 1,62 1,63 1,65 Câmbio final 2012 1,75 1,68 1,70 Câmbio médio de 2012 1,70 1,67 1,71 PIB 2011 (%) 3,30 3,51 3,51 PIB 2012 (%) 4,00 3,70 3,70 Preços Administrados 2011 5,50 5,60 5,80 Preços Administrados 2012 4,50 4,57 4,57 Economista-chefe: Newton Rosa [email protected] Economista Rafael Yamano [email protected] Informações: Maria Augusta [email protected] Site: www.sulamericainvestimentos.com.br Clique aqui e conheça os fundos da SulAmérica Investimentos. Este material foi preparado pela SulAmérica Investimentos DTVM S.A. e apresenta caráter meramente informativo, não podendo ser reproduzido ou copiado sem a expressa concordância da mesma. As análises aqui contidas foram elaboradas a partir de fontes fidedignas e de boa-fé. As informações aqui apresentadas deverão ser consideradas confiáveis apenas na data em que este foi publicado. Ainda assim, a SulAmérica Investimentos DTVM não garante, expressa ou tacitamente, exatidão, nem tampouco assertividade sobre os temas aqui abordados. Todas as análises aqui contidas estão sujeitas a alteração sem aviso prévio. As opiniões aqui expressas não devem ser entendidas, em hipótese alguma, como uma oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. Mercados Câmbio O real deve permanecer oscilando entre R$ 1,80 e R$ 1,90/US$ nesta semana. Redução das incertezas devido ao afastamento dos riscos de um default desordenado da dívida grega no curto prazo pode levar o câmbio a se situar mais próximo do piso do intervalo. Juros A curva de juros futuros continuará refletindo o discurso oficial, objetivando reduzir os juros da economia para atenuar o efeito recessivo da crise internacional, em que pese o quadro inflacionário doméstico. Os ajustes na Selic, no entanto, devem ser moderados, conforme salientou o Relatório de Inflação divulgado na semana passada. Bolsas Ainda que a volatilidade continue ditando os rumos nos próximos dias, bons resultados econômicos nos EUA e liberação da tranche trimestral à Grécia devem contribuir para redução das incertezas. Ante um ambiente de menor aversão ao risco, o Ibovespa poderá recuperar parte do terreno e voltar a operar acima dos 55 mil pontos. Alta 3 Queda Estável Volátil