Vareniclina, uma nova terapêutica para deixar de fumar. Joana

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vareniclina,
uma nova terapeutica
TEXTO_ Joan
a Matos
Carvalho,1 Judit
h Pradera2
para deixar de fumar
Revista Factor
es de
1- Joana Matos Carvalho
Licenciatura em Biologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Pós-graduação prática em Monitorização de Ensaios Clínicos pela Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Médicas.
Assistente de medical Advisor na Indústria Farmacêutica.
Introdução
2- Judith Pradera
Licenciada em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade Autónoma de Madrid.
Especialista em Aparelho Digestivo.
Assessora médica dos Laboratórios Pfizer, Lda.
Resumo do artigo
O tabagismo constitui um grave problema de Saúde Pública na actualidade, sendo a principal causa evitável de morte, doença e incapacidade no
mundo. A nicotina, presente no fumo do tabaco, é o principal agente responsável pelo desenvolvimento da dependência do tabaco e pode ser
considerada uma droga psicoactiva altamente potente e eficaz.
Embora, aproximadamente, 80% dos indivíduos que fumam expressem o desejo de deixar de fumar e cerca de 35% o tentem todos os anos, menos
de 5% têm êxito nessas tentativas se não forem ajudados. O tratamento farmacológico pode aumentar as possibilidades de conseguir deixar o tabaco
com êxito e conseguir uma abstinência a longo prazo. A vareniclina é uma molécula especificamente desenvolvida pela Pfizer para a cessação tabágica
que foi recentemente aprovada pela FDA e pela EMEA para esta indicação terapêutica. Este novo composto, agonista parcial e selectivo dos receptores
nicotínicos cerebrais, combina propriedades agonistas e antagonistas num único composto, promovendo assim a diminuição dos sintomas de privação
e do desejo de fumar, bem como a redução dos efeitos compensatórios e de reforço associados ao tabaco.
90
Aproximadamente, 1250 milhões de pessoas no
mundo são fumadoras de acordo com a
Organização Mundial de Saúde.1 A prevalência
do consumo de tabaco varia segundo o país, a
região e o sexo.
No que respeita a Portugal, os resultados obtidos
pelo Eurobarómetro 2006 apresentam uma
prevalência de fumadores com 15 e mais anos
de idade de 29%.2 Segundo dados do Instituto
Nacional de Saúde/Observatório Nacional de
Saúde (INS/ONSA, 2007) a percentagem de
indivíduos que fumam diariamente, de um
modo geral, diminuiu para o género masculino,
em Portugal Continental, no período 1998/1999
a 2005/2006. O decréscimo relativo mais
relevante verificou-se para o grupo etário dos 25
aos 44 anos (-17,5%). No grupo dos 15 aos 24
anos registou-se um ligeiro aumento (variação
relativa: +0,9%). Para o sexo feminino registou-se aumento do consumo de tabaco em todos os
grupos etários estudados. O aumento relativo do
consumo foi maior para as mulheres dos 45-64
anos (+84,4%).
O tabaco está relacionado com as causas
mais frequentes de mortalidade evitável. Em
Portugal, aproximadamente, 14% das mortes
em homens e 1% das mortes em mulheres são
atribuíveis ao tabaco. Entre as principais causas
de morte atribuíveis ao tabaco na população
Portuguesa com mais de 35 anos destacam-se:
o cancro do pulmão, a doença pulmonar
obstrutiva crónica (DPOC) e as doenças
vasculares. Com uma mortalidade atribuível ao
91
tabaco superior a 8.000 pessoas anualmente, o
tabaco constitui um dos problemas mais
relevantes de Saúde Pública em Portugal.3
O cigarro é o tipo de tabaco mais consumido em
Portugal e no mundo. Contudo, a qualquer tipo
de tabaco, está associada a criação de uma
dependência. Enquanto se fuma o cigarro, a
nicotina é absorvida rapidamente e produz os
seus efeitos através da sua ligação aos
receptores nicotínicos de acetilcolina no
cérebro.4 A ligação da nicotina a estes
receptores provoca uma despolarização
neuronal, com a posterior geração de impulsos
nervosos que libertam dopamina no núcleo
accumbens - o centro de “compensação” do
cérebro. A dopamina produz uma sensação de
calma e prazer. A semi-vida da nicotina é de
2–3 horas, pelo que entre os cigarros, os níveis
de dopamina no sistema de compensação vão
diminuindo gradualmente, o que provoca
sintomas de abstinência no fumador, como
irritabilidade, inquietação, sentimento de
frustração e raiva. Ao voltar a proporcionar
nicotina, o cigarro seguinte alivia esses sintomas
e volta a dar lugar à sensação de calma e
prazer. Este ciclo continua à medida que cada
cigarro reforça o comportamento fumador.5
Para se conseguir deixar o consumo de tabaco, o
tratamento farmacológico poderá ser uma mais
valia, na medida em que pode, aumentar as
possibilidades de se conseguir uma abstinência
a longo prazo.
Entre as opções terapêuticas recomendadas
para deixar de fumar estão: as terapêuticas de
substituição da nicotina (TSN), a bupropiona e,
Risco 2007, N
º6, (Jul-Set), pá
g. 90 -98
recentemente, foi aprovada a vareniclina,
agente não nicotínico de prescrição médica. Este
medicamento pertence a uma nova classe
terapêutica: é um agonista parcial e selectivo
dos receptores nicotínicos cerebrais. Deriva de
um alcalóide natural presente em muitas
plantas, a citisina.4,5
Dependência de nicotina
A adicção ou dependência de nicotina do tabaco
é um problema médico caracterizado pelas
recaídas. A quarta edição do Manual Estatístico
e Diagnóstico de Perturbações Mentais
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, DSM-IV) inclui a dependência de
nicotina como um problema específico que se
pode diagnosticar em qualquer fumador que
cumpra 3 ou mais dos 6 critérios indicados na
Tabela 1. Ainda que alguns indivíduos tenham
êxito em deixar de fumar na sua primeira
tentativa, uma proporção importante continua a
fumar durante vários anos, tentando
repetidamente deixar essa prática, mas
voltando por vezes a ter uma recaída após um
curto período. Ao tentar deixar de fumar, os
fumadores geralmente apresentam sintomas
de abstinência conhecidos que reflectem tanto
os aspectos físicos, como os aspectos
psicológicos da adicção.6
De entre as dependências de substâncias
psicoactivas, a dependência nicotínica é a mais
prevalente na actualidade. Segundo o DSM-IV,
a prevalência na população geral é de
aproximadamente 20%, em quanto que a prevalência em pessoas que fumam é superior
(entre 50-80%).
Tabela 1. Principais critérios para a dependência
de nicotina. Adaptada do DSM-IV.
Diagnostica-se uma dependência de nicotina a
qualquer fumador que cumpra 3 ou mais dos 7
critérios seguintes, ocorrendo em qualquer
ocasião, no mesmo período de 12 meses:
1) Tolerância
2) Abstinência
3) Consumo frequente da substância em
quantidades superiores ou por um período
mais longo do que se pretendia
4) Desejo persistente ou esforços, sem êxito,
para diminuir ou controlar a utilização
da substância
5) É despendida grande quantidade de tempo
em actividades necessárias à obtenção
e utilização da substância e à recuperação
dos seus efeitos
6) Abandono de importantes actividades
sociais, ocupacionais ou recreativas devido
à utilização da substância
7) Utilização continuada da substância apesar
da existência de um problema persistente
ou recorrente, físico ou psicológico,
provavelmente causado ou exacerbado pela
utilização da substância
A abstinência de nicotina tem lugar quando o
consumo de tabaco cessa de forma abrupta ou
é reduzido de forma acentuada após, pelo
menos, várias semanas de uso diário. A
abstinência de nicotina caracteriza-se por um
mínimo de 4 dos 8 sintomas que têm lugar após
uma cessação brusca do hábito tabágico (ver
Tabela 2).6
passado mês de Março, a vareniclina. Esta,
embora se ligue aos receptores nicotínicos, não
contém nicotina.5
Tabela 2. Critérios diagnósticos para a abstinência de nicotina. Adaptada do DSM-IV.
Mecanismo de acção
A) Utilização diária de nicotina durante, pelo
menos, várias semanas
B) Interrupção abrupta da utilização da nicotina
ou redução da quantidade de nicotina
utilizada, com associação nas 24 horas
seguintes de quatro ou mais dos sinais
seguintes:
• Humor disfórico ou deprimido
• Insónia
• Irritabilidade, frustração ou raiva
• Ansiedade
• Dificuldades na concentração
• Inquietação
• Diminuição da frequência cardíaca
• Aumento do apetite ou ganho ponderal
C) Os sintomas do critério B causam sofrimento
clinicamente significativo ou défices no
funcionamento social, ocupacional ou de
outras áreas importantes
D) Os sintomas não são devidos a um estado
físico geral ou a qualquer outra perturbação
mental
Vareniclina
As opções farmacológicas para deixar de
fumar são4: os substitutos de nicotina que
proporcionam a nicotina que anteriormente se
obtinha a partir dos cigarros, mas sem a
exposição aos seus carcinogénios e outras
substâncias tóxicas; a bupropiona, inicialmente
aprovada como antidepressivo; e, desde o
nicotina). Os resultados deste estudo pré-clínico
podem observar-se na Figura 1.4
Desenvolvida especificamente para auxiliar os
fumadores a deixarem de fumar em 1997 pelos
Laboratórios Pfizer, a vareniclina é um agonista
parcial selectivo dos receptores nicotínicos de
acetilcolina ·4‚2 neuronais. Dos receptores
nicotínicos de acetilcolina cerebrais, os receptores ·4‚2 parecem ter um papel fundamental
nos processos de reforço e dependência
associados ao tabaco.4,7
Este fármaco mostrou, in vitro, uma maior
afinidade e selectividade para o receptor ·4‚2
em relação a outros subtipos de receptores
nicotínicos de acetilcolina, e não mostrou uma
afinidade apreciável por receptores muscarínicos ou por outros alvos não nicotínicos.4,7 A
actividade agonista parcial in vivo foi
demonstrada quando os seus efeitos sobre a
libertação de dopamina mesolímbica foram
avaliados em animais. Administrou-se 1 mg/kg
de vareniclina oral (dose eficaz máxima) e 0,32
mg/kg de nicotina subcutânea tanto isoladamente como em associação em ratos.
Determinaram-se as concentrações durante 6
horas no núcleo accumbens destes animais. A
vareniclina produziu um incremento sustentado
da libertação de dopamina até aproximadamente 60% do efeito máximo da nicotina,
que é de 188% (actividade agonista em
ausência de nicotina), e reduziu também os
efeitos potenciadores associados à administração posterior de nicotina nestes animais
(actividade antagonista na presença de
92
Mediante a actividade antagonista, este
fármaco evita que a nicotina se ligue e active os
receptores ·4‚2. Deste modo, consegue-se evitar
também o aumento da concentração de
dopamina mesolímbica induzido pela nicotina.
Acredita-se que esta libertação de dopamina é
o mecanismo neuronal subjacente às sensações
de reforço e recompensa experimentadas ao
fumar.4
Fig. 1
Figura 1. Libertação de dopamina no núcleo
accumbens de ratos após a administração de
vareniclina oral (1 mg/kg) ou nicotina subcutânea (0,32 mg/kg) isoladas ou em associação.
Adaptada de 4.
93
Eficácia Clínica
A eficácia de vareniclina foi demonstrada
inicialmente em seis ensaios clínicos que
incluíram 3.659 fumadores crónicos de tabaco
(≥10 cigarros por dia). Três destes estudos
foram ensaios de fase II que investigaram
diferentes doses deste fármaco, tendo apoiado
a selecção da dose de 1 mg duas vezes por dia
e uma duração mínima do tratamento de 12
semanas nos 3 estudos de fase III. Os estudos
de fase II de dose-resposta também evidenciaram que a titulação da dose na primeira
semana de tratamento foi eficaz na prevenção
de efeitos adversos, nomeadamente náuseas.7,8
Dois dos estudos de fase III,9,10 identicamente
desenhados (estudos multicêntricos, de
distribuição aleatória, em dupla ocultação e
controlados com placebo) compararam 1 mg de
vareniclina duas vezes por dia com bupropiona
SR e placebo, com o objectivo de determinar a
eficácia e a segurança desta terapêutica na
cessação tabágica relativamente à bupropiona
SR e ao placebo.
Os critérios de inclusão destes dois estudos
contemplavam: indivíduos de ambos os sexos;
com idades compreendidas entre os 18 e os 75
anos; fumadores de 10 ou mais cigarros por dia;
motivados para deixarem de fumar; sem
período de abstinência tabágica superior a 3
meses no ano anterior e sem tratamento prévio
com bupropiona ou, nos últimos 30 dias, com
TSN. Era ainda critério, a ausência de doença
grave ou instável nos últimos 6 meses.
Os diferentes tratamentos e o placebo foram
administrados durante 12 semanas com um
período de seguimento de 40 semanas. A
primeira medida de eficácia foi a taxa de
abstinência tabágica contínua (nem mesmo
uma inalação de cigarro), durante as semanas 9
até à 12, reportada pelo doente e confirmada
mediante medições de monóxido de carbono
(CO) no ar expirado.
A análise modificada de intenção de tratar
(todos os doentes que receberam tratamento)
incluía 1025 doentes num dos estudos9 e 1027
doentes no outro10. Um total de 696 doentes
(33,9%) receberam vareniclina, 671 (32,7%)
receberam bupropiona SR e 685 (33,4%)
receberam placebo.
A vareniclina produziu taxas de abstinência
contínua de 4 semanas (nas semanas 9 à 12),
superiores a bupropiona e ao placebo
(p<0,0001). Nestes estudos, 44% dos fumadores que receberam vareniclina mantiveram-se em abstinência durante as semanas 9-12,
em comparação com 30% para o grupo com
bupropiona e 17,7% no grupo placebo. De
acordo com estes resultados, as razões de
probabilidade de deixar de fumar com este
fármaco foram de 3,69 (95% IC: 2,8 – 4,72)
vezes superiores ao placebo e 1,9 vezes
superiores à bupropiona (95% IC: 1,5 - 2,34).11
Na Figura 2 apresentam-se os resultados
obtidos para cada um dos respectivos estudos.
Fig. 2
60
40
OR=3.85*
OR=3.85*
(95% CI 2,70-5,50)
(95% CI 2,69-5,50)
OR=1,93*
OR=1,90*
(95% CI 1,40-2,68)
(95% CI 1,38-2,62)
OR=2*
44,0
(95% CI 1,40; 2,92)
43,9
(95% CI 1,38-2,89)
29,5
20
p=0,001
N=352
*p<0,001
OR = Odds Ratio
Os resultados destes estudos também
evidenciaram que a vareniclina induziu taxas de
abstinência tabágica contínua mais elevadas do
que o placebo e a bupropiona desde a semana
9 até à 52. Assim, a análise combinada destes
dois estudos evidenciou umas taxas de
abstinência contínua de 22,5% com vareniclina
versus 9,4% com placebo (p<0,001) e 15,7%
com bupropiona (p=0,0013).11 Na Figura 3,
apresentam-se os resultados obtidos para cada
um dos respectivos estudos.
29,8
17,7
0
Figura 2. Taxas de abstinência continua de
4 semanas confirmadas bioquimicamente
(semanas 9–12). Adaptada de 9 e 10.
OR=2,02*
N=329
Estudo 1
17,6
N=344
N=344
Vareniclina
N=342
Estudo 2
Bupropiona
N=341
Placebo
Taxa de resposta (%)
Fig. 3
Figura 3. Taxas de abstinência continua
confirmadas bioquimicamente (semanas 9–52).
Adaptada de 9 e 10.
100
OR=2,66
OR=3,09
40
OR=1,77
OR=1,46
(95% CI 1,19-2,63) p=0,004
(95% CI 0,99-2,17) p<0,057
20
(95% CI 1,72-4,11) p<0,001
(95% CI 1,95-4,91) p<0,001
p=0,001
23,0
21,9
16,1
0
OR = Odds Ratio
N=329
Estudo 1
p=0,08
14,6
8,4
N=352
OR=1,50
(95% CI 0,94; 2,39)
N=344
N=344
Vareniclina
N=342
Estudo 2
Bupropiona
10,3
N=341
Placebo
Um outro estudo de fase III foi efectuado com o
objectivo de determinar se um tratamento
adicional de vareniclina de mais 12 semanas
(isto é, duração total do tratamento 24
semanas) era ou não mais eficaz na
manutenção da abstinência e na prevenção das
recaídas. Este estudo tinha um desenho
diferente, mas os critérios de inclusão eram
semelhantes aos dos dois estudos comentados
anteriormente.12
94
Os fumadores eram incluídos numa fase inicial
em aberto, com 12 semanas de tratamento com
o fármaco. A esta primeira fase, seguia-se uma
outra em dupla ocultação sendo os doentes
distribuídos aleatoriamente em dois grupos
para receberem vareniclina ou placebo durante
12 semanas. Nesta segunda fase apenas eram
incluídos os participantes que tinham deixado
de fumar após o primeiro período de
tratamento. O número total de doentes que
foram incluídos na segunda fase do estudo foi
1210.
Desde a semana 13 à 24 (Figura 4), 70,5% dos
doentes que continuaram a tomar o fármaco
continuavam sem fumar versus cerca de 49,6%
dos que se encontravam no grupo que fazia
placebo (p<0,001). A taxa de abstinência
contínua tabágica desde a semana 13 à 52 foi
significativamente mais elevada com vareniclina (43,6%) versus placebo (36,9%) (p= 0,02).
abstinência quando comparado com placebo no
fim do tratamento (semana 24) e no
seguimento (semana 52). Nestes estudos, os
doentes receberam em cada visita clínica,
durante a fase de tratamento e fase de
seguimento, aconselhamento breve sobre a
cessação tabágica.
Nestes estudos também foram avaliados o
desejo imperioso de fumar, os sintomas de
privação tabágica e as sensações de prazer e
recompensa associadas ao tabaco mediante
questionários validados. A vareniclina diminuiu
de forma significativa versus placebo a
necessidade imperiosa de fumar, bem como, os
sintomas de privação de afecto negativo
(depressão, irritabilidade, frustração, raiva,
Semanas 13-24
Figura 4. Taxas de abstinência continua
confirmadas bioquimicamente no estudo de
manutenção da abstinência. Adaptada de 12.
Em resumo, os estudos clínicos de fase III
demonstraram que vareniclina 1 mg 2 vezes por
dia foi superior tanto ao placebo como à
bupropiona na cessação tabágica no fim do
tratamento (semana 12) e no seguimento
posterior (semana 52). Um tratamento
adicional com vareniclina de mais 12 semanas
foi também mais eficaz na manutenção da
95
ansiedade e dificuldade na concentração) e a
satisfação ligada ao consumo de tabaco.9,10,12
Segurança e Tolerabilidade Clínicas
Durante o programa de desenvolvimento clínico
de vareniclina, anterior à sua comercialização,
mais de 4500 indivíduos receberam este
medicamento. A maioria dos participantes
recebeu o tratamento durante 12 semanas ou
menos. Aproximadamente, 450 indivíduos
foram tratados durante pelo menos 24 semanas, e 100 indivíduos durante um ano.8
Os acontecimentos adversos mais frequentes
associados a este fármaco (com uma incidência
superior a 5%) foram as náuseas, as
Fig. 4
Taxa de resposta (%)
Taxa de resposta (%)
100
100
Semanas 13-52
OR=2,48
(95% CI 1,95-3,15) p<0,001
80
60
OR=1,34
70,5
40
(95% CI 1,06-1,69) p=0,02
49,6
20
43,6
36,9
0
N=602
Vareniclina
OR = Odds Ratio
N=604
Placebo
N=602
Vareniclina
N=604
Placebo
“EM PORTUGAL,
APROXIMADAMENTE,
14% DAS MORTES EM
HOMENS E 1% DAS MORTES
EM MULHERES SÃO
ATRIBUÍVEIS AO TABACO.
COM UMA MORTALIDADE
ATRIBUÍVEL AO TABACO
SUPERIOR A 8.000
PESSOAS ANUALMENTE,
O TABACO CONSTITUI UM
DOS PROBLEMAS MAIS
RELEVANTES DE SAÚDE
PÚBLICA EM PORTUGAL.”
perturbações do sono, a obstipação, a
flatulência e os vómitos. Contudo, a maioria dos
acontecimentos adversos reportados fora de
intensidade ligeira a moderada, e transitórios.8
As náuseas foram o acontecimento adverso
mais frequentemente relatado. Para os doentes
tratados com a dose máxima recomendada de
1 mg duas vezes por dia após a titulação inicial
da dose, a incidência das náuseas foi de 30%,
em comparação com 10% nos doentes que
tomavam um regime comparável à base de
placebo. As náuseas descritas foram geralmente
de intensidade ligeira a moderada, habitualmente transitórias e menos frequentes quando
a medicação fora administrada com alimentos.
Não obstante, para alguns doentes, estas foram
persistentes ao longo de todo o período de
tratamento.8
Nos estudos controlados por placebo de fase II
e fase III, de 12 semanas de tratamento, a taxa
de abandono do tratamento devido aos
acontecimentos adversos em doentes que
recebiam vareniclina 1 mg duas vezes por dia
foi de 12%, em comparação com uma taxa de
10% correspondente aos doentes tratados com
placebo. Nestas populações, as taxas de abandono do tratamento devido aos acontecimentos
adversos mais frequentemente notificados
pelos doentes foram náuseas (3% nos doentes
tratados com vareniclina versus 0,5% para
placebo), cefaleias (0,6% para vareniclina
versus 0,9% para placebo), insónias (1,2% para
vareniclina versus 1,1% para placebo), e sonhos
anómalos (0,3% para vareniclina versus 0,2%
para placebo).8
Nos estudos clínicos não foram observadas
alterações significativas nos sinais vitais, no
electrocardiograma e nos parâmetros laboratoriais. Adicionalmente, o aumento médio de
peso foi comparável ao do grupo placebo e
inferior a 3 Kg após 12 semanas de tratamento.
Também não foram observadas interacções
medicamentosas significativas nos estudos
clínicos efectuados.7
Não existe experiência clínica suficiente deste
fármaco nas seguintes populações: crianças,
adolescentes, mulheres grávidas ou em período
de aleitamento, doentes com epilepsia ou
com patologias graves ou instáveis nos últimos
6 meses.7,9,10
Os dados clínicos e pré-clínicos indicam que esta
terapêutica tem baixo potencial de abuso e de
dependência ou que estes são mínimos.7
Posologia e modo de administração13
A vareniclina está indicada para a cessação
tabágica em adultos motivados para deixar de
fumar. Os fumadores devem estabelecer uma
data para deixar de fumar e começar a
terapêutica 1-2 semanas antes da referida data.
A dose deve ser titulada durante a primeira
semana de tratamento - começando com 0,5
mg uma vez por dia nos dias 1 a 3, e
continuando depois com 0,5 mg duas vezes por
dia nos dias 4 a 7. A dose recomendada de 1
mg duas vezes por dia deve ser iniciada no dia
8, e continuar até ao fim do tratamento. Os
doentes que apresentem efeitos adversos
com a dose máxima, podem beneficiar de uma
96
redução da dose para metade. A administração
depois das refeições pode aumentar a tolerabilidade ao fármaco.14
No que respeita a populações especiais, não é
necessário ajustamento posológico em doentes
com insuficiência renal ligeira ou moderada. No
entanto, em indivíduos com insuficiência renal
grave, as doses devem começar com 0,5 mg
uma vez por dia e ir aumentando até uma dose
máxima de 1 mg uma vez por dia. Não se
recomenda o tratamento em doentes com
insuficiência renal em fase terminal devido à
insuficiente experiência clínica. Em doentes com
insuficiência hepática ou idosos não é
necessário nenhum ajustamento posológico.
O período mínimo de tratamento é de 12
semanas. Para aqueles que consigam deixar de
fumar ao finalizar as 12 semanas, recomenda-se um período adicional de 12 semanas com
1 mg duas vezes por dia para aumentar as
possibilidades de abstinência tabágica a longo
prazo.12
Conclusão
A dependência do tabaco é uma perturbação
crónica e recorrente classificada como doença
pela comunidade médica internacional. Crê-se
que a nicotina provoca dependência e reforça a
conduta fumadora ao activar os receptores
nicotínicos de acetilcolina, que estimulam a
libertação de dopamina no centro de
compensação cerebral (uma situação análoga à
de outras dependências de drogas).
97
“A VARENICLINA ESTÁ
INDICADA PARA A
CESSAÇÃO TABÁGICA EM
ADULTOS MOTIVADOS PARA
DEIXAR DE FUMAR. OS
FUMADORES DEVEM
ESTABELECER UMA DATA
PARA DEIXAR DE FUMAR
E COMEÇAR A TERAPÊUTICA
1-2 SEMANAS ANTES DA
REFERIDA DATA.”
A vareniclina é um medicamento desenvolvido
especificamente para deixar de fumar, que se
caracteriza por ser um agonista parcial e
selectivo dos receptores nicotínicos neuronais
de acetilcolina ·4‚2. Estes receptores parecem
ter um papel fundamental nos processos de
reforço e dependência associados à nicotina.
Este fármaco estimula parcialmente os
receptores, sem criar um efeito nicotínico
completo sobre a libertação de dopamina.
Adicionalmente, bloqueia a capacidade que a
nicotina tem para os activar, e portanto de se
libertar dopamina mesolímbica no sistema
nervoso central.
Os resultados dos estudos clínicos efectuados
demonstraram os benefícios clínicos deste
fármaco como terapêutica farmacológica na
cessação tabágica em adultos fumadores
motivados para deixar de fumar. As taxas de
abstinência tabágica foram estatisticamente
superiores quando comparadas com placebo ou
bupropiona. Em comparação com o placebo, a
vareniclina revelou-se mais eficaz ao reduzir a
necessidade imperiosa de fumar, os sintomas
de privação tabágica de afecto negativo
(depressão, irritabilidade, frustração, raiva,
ansiedade e dificuldade na concentração) e os
efeitos de recompensa, satisfação e reforço
associados ao tabaco.
Nos estudos clínicos, foi em geral segura e bem
tolerada. Os acontecimentos adversos que lhe
estão mais frequentemente associados são as
náuseas, as perturbações do sono, a obstipação,
a flatulência e os vómitos.
A dose recomendada é de 1 mg duas vezes por
dia durante 11 semanas, depois de uma
semana de titulação do medicamento. Para os
fumadores que deixam de fumar no final do
período inicial de 12 semanas, recomenda-se
um período adicional de 12 semanas, de forma
a aumentar ainda mais as probabilidades de
conseguir uma abstinência a longo prazo.
O OBJECTIVO PRIMÁRIO
Podemos concluir portanto que este fármaco
constitui uma alternativa terapêutica entre as já
existentes e indicadas para a cessação tabágica
podendo ser considerado como um fármaco
pertencente a uma nova classe terapêutica.
Contudo, os profissionais de saúde não podem
esquecer que as terapêuticas para deixar de
fumar têm maior probabilidade de sucesso
quando se administram a indivíduos motivados
e que a combinação da terapêutica farmacológica e não farmacológica (informação,
aconselhamento e apoio comportamental ao
doente fumador) continua a ser a abordagem
recomendada e mais adequada para estes
doentes.
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