Atualização em Farmacoterapia 1 Depressão e doença cardiovascular Sintomas depressivos são fatores de risco para a morbidade e mortalidade de pacientes com doenças cardíacas4. O tratamento com sertralina é eficaz no alívio dos sintomas depressivos, além de melhorar a função endotelial e reduzir a inflamação em pacientes que apresentam doença cardíaca coronariana e depressão5. A utilização do escitalopram é eficaz no tratamento da depressão maior além do seu efeito antiplaquetário, sendo aconselhado no tratamento de pacientes com desordens depressivas e doença arterial coronariana7. Estudos & Atualidades 2 Associação entre depressão e risco de doenças cardiovasculares. Depressão1,2 A depressão é um dos mais prevalentes transtornos psiquiátricos, estando associada ao declínio do bem estar geral e do funcionamento diário. Dentre os principais sinais e sintomas, incluem-se: Sentimento de tristeza, ansiedade ou vazio; Sensação de desamparo; Sentimento de culpa; Irritação ou agitação; Perda de interesse em atividades anteriormente agradáveis, incluindo o sexo; Sensação de cansaço o tempo todo; Dificuldade de concentração, de lembranças ou de tomada de decisões; Dificuldade em adormecer ou manter o sono, ou vontade de dormir o tempo todo; Excesso ou perda de apetite; Pensamentos de morte e suicídio ou tentativas de suicídio; Dores constantes incluindo dores de cabeça, cãibras, ou problemas digestivos que não amenizam com o tratamento. Doença cardiovascular1,2 O infarto agudo do miocárdio (IAM) possui elevada incidência e tanto seus fatores de risco como hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), tabagismo e dislipidemia, como suas complicações incluindo a insuficiência cardíaca (IC), são responsáveis por significativa diminuição da sobrevida, além de influenciar no surgimento de alterações cerebrovasculares, tais como aterosclerose, infartos lacunares e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Associação entre depressão e doenças cardiovasculares2,3,4 Pessoas que apresentam doenças cardiovasculares são mais propensas a apresentar depressão quando comparadas à população saudável. A angina e ataques do coração estão intimamente ligados aos quadros de depressão; Pesquisadores demonstram que alguns sintomas da depressão podem reduzir a saúde física e mental dos pacientes, aumentado o risco do aparecimento de doenças cardiovasculares e piora seus sintomas. É de grande importância a piora da mortalidade e morbidade de pacientes cardíacos deprimidos. A mortalidade destes pacientes pode ser 3,1 vezes maior quando comparado a cardiopatas de pacientes não-deprimidos, independentemente da gravidade cardiológica e da disfuncionalidade clínica; Várias vias foram sugeridas para correlacionar a depressão e a doença cardiovascular, incluindo a desregulação das vias serotoninérgicas e seus efeitos sobre a agregação plaquetária, inflamação, eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, disfunção do sistema nervoso autônomo e fatores psicossociais. A tabela abaixo resume os mecanismos que ligam a depressão a estes fatores: POSSÍVEIS MECANISMOS4 Disfunção serotoninérgica DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS4 Aumenta a sensibilidade da agregação plaquetária; Aumenta a ativação, secreção e agregação plaquetária. Inflamação sistêmica e ativação da imunidade Aumenta as citoquinas pró-inflamatórias, como a interleucina 6; Aumento da proteína C-reativa; Aumento dos níveis dos marcadores inflamatórios; Redução dos níveis das moléculas anti-inflamatórias. Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e disfunção do sistema nervoso autônomo Distúrbio no tônus autonômico; Aumento da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal; Aumento da ativação do sistema simpático; Aumento da frequência cardíaca; Redução da variabilidade da frequência cardíaca. Alterações vasculares Psicossocial Disfunção endotelial; Redução da vasodilatação; Redução dos níveis dos metabólitos do óxido nítrico. Redução da aderência; Aumento com consumo de cigarros; Aumento de peso corporal e obesidade, incluindo acúmulo de gordura visceral; Redução de exercícios e atividades físicas. A depressão e as doenças cardiovasculares apresentam complexas interações fisiopatológicas, demonstrando que os sintomas depressivos são fatores de risco para a morbidade e mortalidade de pacientes com doenças cardíacas 4. Estudos & Atualidades 3 Estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego e placebo controlado avalia a eficácia da sertralina na inflamação e função endotelial em pacientes que apresentam doença cardíaca coronariana e sintomas depressivos5. Neste estudo, 100 pacientes, apresentando doença cardíaca coronariana e sintomas depressivos (BDI ≥ 10)foram randomizados em dois grupos e receberam um dos seguintes tratamentos: Grupo 1 (n=50) 1ª à 6ª semana de tratamento: Sertralina 50mg/dia. Posteriormente, a dose foi aumentada gradualmente até a dose máxima de 200mg/dia entre a 7ª e 12ª semana, dependendo da resposta de cada paciente Grupo 2 (n=50) Placebo O tratamento teve duração de vinte semanas. Antes e após o período de tratamento, foram avaliados os sintomas depressivos de acordo com o BDI (Beck Depression Inventory), níveis séricos dos marcadores inflamatórios como a proteína C reativa (PCR) e interleucina 6 (IL-6) e FMD (dilatação fluxo-mediada endotélio-dependente) da artéria braquial. *Caso ocorrer efeitos adversos, a dose era reduzida até um nível tolerável pelo paciente. Resultados: O tratamento com sertralina proporcionou aos pacientes redução significativa do escore BDI quando comparado ao placebo e ao tempo zero, demonstrando redução dos sintomas depressivos; Os marcadores inflamatórios, como o PCR e IL-6 apresentaram redução significativa após vinte semanas de tratamento com sertralina, sendo que esta diminuição não foi observada no grupo placebo; Após vinte semanas de acompanhamento, o grupo de pacientes tratados com a sertralina apresentaram melhora significativa da FMD quando comparado aos que utilizaram o placebo; 25 Escala BDI 21 13 10 5 0 Semanas 0 Setralina 12 0 Placebo 12 *p<0,001 versus placebo ou tempo zero; escala BDI (Beck Depressiom Inventory) Valores do marcador inflamatório PCR antes e após vinte semanas de tratamento com sertralina ou placebo5. 1,5 *,# 1,3 1 1,3 1,3 0 12 0,9 0,5 Semanas 0 Setralina 12 Placebo *p<0,001 versus tempo zero; #p=0,007 verus placebo; PCR (proteína C reativa) Valores do marcador inflamatório IL-6 antes e após vinte semanas de tratamento com sertralina ou placebo5. IL-6 (pg;ml) 2 O tratamento com sertralina é eficaz no alívio dos sintomas depressivos, além de melhorar a função endotelial e reduzir a inflamação em pacientes que apresentam doença cardíaca coronariana e depressão5. * 21 15 0 Os efeitos do ISRSs (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) podem representar um tratamento adicional na melhora da função endotelial em pacientes que apresentam doença cardíaca coronariana e sintomas depressivos. 23 20 PCR (mg/dl) Estudos têm demonstrado que pacientes com sintomas depressivos apresentam altos níveis de marcadores inflamatórios e função endotelial alterada; Valores da escala BDI antes e após vinte semanas de tratamento com sertralina ou placebo5. * 2 1,5 2 2 1,5 1 0,5 0 Semanas 0 Setralina 12 0 Placebo 12 *p<0,001 versus placebo ou tempo zero; escala BDI (Beck Depressiom Inventory) Estudo demonstrou que há evidências consideráveis de ensaios clínicos randomizados e controlados que os antidepressivos, especialmente os ISRSs (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) são seguros no tratamento de depressão em pacientes com doenças cardiovasculares6. Estudos & Atualidades 4 Estudo aberto avalia a eficácia do escitalopram no tratamento da depressão maior e na alteração da atividade plaquetária em pacientes que apresentam desordens depressivas 7. Neste estudo, foram comparados os seguintes grupos de pacientes: Grupo 1 (n=15) Indivíduos apresentam desordem de depressão maior 1ª e 2ª semana: Escitalopram 10mg/dia 3ª a 8ª semanas: Doses flexíveis de escitalopram (entre 10 – 20mg/dia) de acordo com a tolerabilidade de cada pacientes Grupo 2 (n=17) Indivíduos mentalmente saudáveis Inicialmente os dois grupos de pacientes foram avaliados para mensurar o volume médio das plaquetas (VMP), que é um indicador da atividade plaquetária. Altos valores de VMP caracterizam pacientes com infarto de miocárdio ou angina instável, apresentando-se como fator de risco para os infartos e derrames. O tratamento com escitalopram teve duração de oito semanas. Amostras de sangue foram coletadas em jejum inicialmente e após o final do período de tratamento. Foi avaliado o volume médio das plaquetas (VMP), contagem das plaquetas. A severidade dos sintomas depressivos e resposta ao tratamento com escitalopram foi avaliado de acordo com a escala MADRS (Montgomery – Asberg Depression Rating Scale) Resultados: Após o tratamento com escitalopram, os pacientes apresentaram redução significativa do VMP quando comparado ao início do tratamento. Porém, este parâmetro continuou elevado quando comparado ao grupo de pacientes saudáveis; Valores do volume médio plaquetário (VMP) nos pacientes saudáveis e depressivos antes e após tratamento com escitalopram7. 11 VMP, fL Quando comparados os grupos de pacientes depressivos e saudáveis mentalmente, observou-se que o grupo depressivo apresentava maior atividade plaquetária quando comparado ao saudável, dado verificado através do aumento do VMP; 10,56 * 10 10,01 Pacientes saudáveis Pacientes depressivos Tempo zero Pacientes depressivos Oito semanas *p<0,001 versus pacientes pacientes depressivos Tzero; #p=0,039 versus paciente depressivo T0 Os pacientes tratados com escitalopram apresentaram melhora significativa dos sintomas depressivos, dado observado através da redução da escala MADRS. A utilização do escitalopram é eficaz no tratamento da depressão maior além do efeito antiplaquetário, podendo ser aconselhado como tratamento para pacientes com desordens depressivas e doença arterial coronariana7. # 10,92 10,5 9,5 Valores da escala MADRS antes e após tratamento dos pacientes depressivos com escitalopram7. 30 Escala MADRS 28,8 20 * 13,6 10 0 Tempo zero Após oito semanas *p<0,001 versus tempo zero; escala MADRS (Montgomery – Asberg Depression Rating Scale) Propostas Terapêuticas Cápsulas de Sertralina Sertralina....................................................50mg5 Administrar uma cápsula ao dia por seis semanas. Posteriormente, a dose foi aumentada gradualmente até a dose máxima de 200mg/dia, dependendo da resposta de cada paciente. Cápsulas de escitalopram Escitalopram...............................................10mg7 Administrar uma cápsula ao dia por duas semanas. Posteriormente, a dose foi aumentada gradualmente até a dose máxima de 20mg/dia, dependendo da resposta de cada paciente Estudo demonstrou que a prática de atividade física ou o tratamento com a sertralina proporcionou redução nos sintomas depressivos e melhora dos biomarcadores cardiovasculares, sugerindo efeitos benéficos e melhora na qualidade de vida de pacientes depressivos que apresentavam doença cardíaca coronariana 8. Observou-se que há relação entre os sintomas depressivos e o aumento da atividade plaquetária. A ativação das plaquetas tem sido sugerida como um possível mecanismo para o aumento do risco cardíaco associado ao diagnóstico de depressão. Há vários relatos que indicam o efeito antiplaquetário de medicamentos antidepressivos especialmente os seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), incluindo a sertralina, o escitalopram, a fluoxetina e a paroxetina9. Propriedades e Mecanismo de Ação Fisiopatologia da depressão e doença arterial coronariana10 Depressão Alterações no nervoso central; 5 sistema Secreção de serotonina; Ativação do eixo hipotálamo-pituitária; Desestabilização balanço simpático. do Supressão do sistema imune Aumento da secreção de citocinas próinflamatórias A depressão pode resultar em alterações do sistema nervoso central (SNC), que causam a secreção de neurohormônios e ativação do eixo hipotálamo-pituitária, resultando na desestabilização do balanço simpático. Ocorre a supressão do sistema imunológico com o aumento da secreção de citocinas pró-inflamatórias, podendo levar ao desenvolvimento gradual de doença arterial coronariana (DAC), a ativação da placa aterosclerótica, podendo levar a um episódio agudo. Desenvolvimento gradual da doença arterial coronariana Ativação de placas, estágio prótrombótico Desestabilizaçãodas placas ateroscleróticas Episódios agudos INIBIDORES SELETIVO DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA FÁRMACO DOSE USUAL PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS12 Sertralina5 50-200mg/dia. Náuseas, insônia, diminuição da função sexual, perda do apetite; mas raramente confusão e sedação. Escitalopram7,11 10-20mg/dia. Náuseas, insônia, diminuição da função sexual, perda do apetite; mas raramente confusão e sedação. OUTROS FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO MAIOR PERTENCENTES À CLASSE DOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA Citalopram12 10-60mg/dia. Náuseas, insônia, diminuição da função sexual, perda do apetite; mas raramente confusão e sedação. Fluoxetina12 20-60mg/dia. Náuseas, insônia, diminuição da função sexual, perda do apetite; mas raramente confusão e sedação. Paroxetina12 10-60mg/dia. Náuseas, insônia, diminuição da função sexual, perda do apetite; mas raramente confusão e sedação. Literatura Consultada 1. Kessler RC, Chiu WT, Demler o, Merikangas KR, Walters EE. Prevalence, severity, and comorbidity of 12-month DsM-Iv disorders in the National Comorbidity survey Replication. Arch Gen Psychiatry. 2005 Jun;62(6):617–27. 2. Alves TCTF, Fraguas R, Wajngarten M. Depression and myocardial infarction. Rev Psiq Clín. 2009;36(3):88 -92. 3. Teng CT, Humes EC, Demetrio FN. Depression and medical comorbidity. Rev. Psiq. Clín. 32 (3); 149-159, 2005. 4. Sher Y, Lolak S, Maldonado JR. The impact of depression in heart disease. Curr Psychiatry Rep. 2010 Jun;12(3):255-64. 5. Pizzi C, Mancini S, Angeloni L, Fontana F, Manzoli L, Costa GM. Effects of selective serotonin reuptake inhibitor therapy on endothelial function and inflammatory markers in patients with coronary heart disease. Clin Pharmacol Ther. 2009 Nov;86(5):527-32. 6. Mavrides N, Nemeroff C. Treatment of depression in cardiovascular disease. Depress Anxiety. 2013 Jan 4. 7. Ataoglu A, Canan F. Mean platelet volume in patients with major depression: effect of escitalopram treatment. J Clin Psychopharmacol. 2009 Aug;29(4):368-71. 8. Blumenthal JA, Sherwood A, Babyak MA, Watkins LL, Smith PJ, Hoffman BM, O'Hayer CV, Mabe S, Johnson J, Doraiswamy PM, Jiang W, Schocken DD, Hinderliter AL. Exercise and pharmacological treatment of depressive symptoms in patients with coronary heart disease: results from the UPBEAT (Understanding the Prognostic Benefits of Exercise and Antidepressant Therapy) study. J Am Coll Cardiol. 2012 Sep 18;60(12):1053-63. 9. Canan F, Ataoglu A. The effect of escitalopram on platelet activity. Thromb Res. 2011 Jan;127(1):57. 10. Stefanatou A, Kouris N, Lekakis J. Treatment of depression in elderly patients with cardiovascular disease: research data and future prospects. Hellenic J Cardiol. 2010 Mar-Apr;51(2):142-52. 11. Stein DJ, Lopez AG. 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