Incidência e danos causados pelo Tomato yellow vein streak virus (TYVSV) e Tomato yellow bottom leaf virus (TYBLV) em tomateiros em Sumaré-SP. Marilia G. S. Della Vecchia1; Frederico G. M. Condini1; Jorge A. M. Rezende1; Aílton Ribeiro2 1 ESALQ/USP, Depto de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, CEP 13418-900 Piracicaba-SP; 2 Nunhens do Brasil Com. Sem. Ltda. Caixa postal 921, CEP 13140-000 Paulínia-SP. RESUMO O tomateiro ocupa o terceiro lugar entre as hortaliças quanto ao valor comercial e ao volume de produção. Merecem destaque no mercado nacional as regiões Sudeste (50,3% da produção nacional) e a Centro-Oeste (26,8%). Dentre as inúmeras doenças que ocorrem na cultura, as viroses têm causado em alguns anos epidemias severas. Esse trabalho objetivou avaliar a incidência e os danos causados pelo TYVSV e TYBLV em um plantio comercial de tomateiro da cultivar Alambra. As avaliações foram feitas em 8 blocos com 504 plantas cada um, distribuídos ao acaso em um plantio com 250.000 plantas. As incidências do TYVSV e do TYBLV variaram de 0,3 a 4,97% e 0,1 a 5,5%, respectivamente. Plantas infectadas com esses vírus, separadamente, tiveram reduções na produção da ordem de 37,6 e 14,8%, respectivamente. A qualidade dos frutos, entretanto não foi afetada pela infecção isolada ou em conjunto por esses vírus. Palavras-chave: Lycopersicum esculentum, begomovirus, geminiviridae, luteovirus. ABSTRACT- Incidence and damage caused by Tomato yellow vein streak virus (TYVSV) and Tomato yellow bottom leaf virus (TYBLV) in tomatoes in Sumaré County, São Paulo State. Tomato is the third more important horticulture crop (in economic value and yield) in Brazil. The Southeast and Center-West regions are responsible for 50,3% and 26,8% of the nation’s production, respectively. Among all the diseases present affecting this crop, the viruses have been frequently associated with severe epidemics. This study evaluated the incidence and damage caused by TYVSV and TYBLV in one commercial planting of cultivar Alambra. Evaluations were carried out in 8 blocks of 504 plants, randomly distributed in an area with 250,000 tomato plants. The incidence of TYVSV and TYBLV varied from 0,3 to 4,97% and 0,1 to 5,5%, respectively. Yield of plants infected with each 2 virus was reduced by 37,6% and 14,8%, respectively. Fruit quality was not affected by single or multiple infections with these viruses. Keywords: Lycopersicum esculentum, begomovirus, geminiviridae, luteovirus. INTRODUÇÃO O tomateiro (Lycopersicum esculentum Mill.) é cultivado em regiões tropicais e subtropicais durante todo o ano, tanto para consumo in natura como para a indústria de processamento. Segundo estatísticas da FAO, essa olerícola ocupa o terceiro lugar entre as hortaliças quanto ao valor comercial e ao volume de produção mundial, só sendo superado pela batata e batata-doce (Espinoza, 1991). No mercado nacional merecem destaque como grandes regiões produtoras o Sudeste (50,3% da produção nacional) e o Centro-Oeste (26,8%). A cultura do tomateiro é afetada por inúmeros patógenos que reduzem sua produtividade (Kurosawa & Pavan, 1997; Fajardo et al., 2000). Dentre eles destacam-se os vírus. Há registros de pelo menos 37 diferentes espécies de vírus de importância econômica nessa cultura (Polston & Anderson, 1997). Infecções com diferentes espécies são freqüentes. Sikora et al. (1998) mostraram a presença de pelo menos cinco vírus que, isoladamente ou em conjunto, têm causado epidemias recorrentes, algumas delas devastadoras. A escassez de dados sobre a importância relativa das doenças e dos prejuízos causados pelos patógenos constitui um obstáculo para o desenvolvimento de qualquer programa bem sucedido de controle. Diante desse fato, esse trabalho teve por objetivo avaliar a incidência do Tomato yellow vein streak virus (TYVSV), uma espécie do gênero Begomovirus, transmitido por Bemisia tabaci e do vírus do amarelo baixeiro do tomateiro Tomato yellow bottom leaf virus (TBLYV), provável espécie do gênero Luteovirus, transmitido por afídeos e os danos por eles causados à quantidade e qualidade dos frutos produzidos. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em Sumaré-SP, no período de agosto a dezembro de 2004, em um plantio de 250.000 plantas da cultivar Alambra. Um total de 4.032 plantas, distribuídas ao acaso em 8 blocos com 504 plantas, foram avaliadas semanalmente, durante 14 semanas. As avaliações foram feitas com base nos sintomas característicos do TYVSV (mosaico amarelo das nervuras) e do TYBLV (amarelecimento e enrolamento das folhas baixeiras). As infecções em algumas plantas foram confirmadas por PCR para o TYVSV e por ELISA, usando o antissoro policlonal contra o Potato leafroll vírus (PLRV), 3 cedido pelo Dr. André N. Dusi da EMBRAPA-CNPH, para o TYBLV. Vinte e seis plantas sadias, 21 plantas com sintomas de begomovirus, 14 plantas com sintomas de luteovirus e 2 plantas com infecção mista, marcadas ao acaso, tiveram individualmente seus frutos colhidos e pesados (quilos acumulados por planta) durante todo o ciclo de cultivo. As médias foram contrastadas pelo teste T, a 5% de probabilidade, através do aplicativo SAS, excetuando os dados das plantas com infecção mista. Frutos colhidos na mesma data e, portanto, com fenologias muito similares, foram selecionados e agrupados em 4 categorias (tratamentos) conforme as condições das plantas: sadias, infectadas pelo TYVSV, infectadas pelo TYBLV e com infecção mista. Cada tratamento teve 4 repetições com 5 frutos cada uma. Extratos homogêneos de polpas dos frutos foram obtidos com um aparelho do tipo “mixer” de bancada. Foram avaliados os seguintes caracteres: teor de sólidos solúveis (SS, Brix); pH; acidez total titulável (ATT) e ratio (SS.ATT-1) (Mantovani et al., 1990). O teor de sólidos solúveis (Brix ) foi determinado pela média de duas leituras obtidas de uma gota de polpa num refratômetro. O pH foi obtido pela média de duas leituras em pHmetro. A determinação da ATT se deu pela diluição de 10 g da polpa em 90 mL de água destilada, sendo titulada com uma solução de hidróxido de sódio a 0,1 N, até que a solução alcançasse pH 8,1 (ponto de viragem da fenolftaleína). Os valores obtidos submetidos a análises de variância. As médias foram contrastadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade, por meio do aplicativo SAS. RESULTADOS E DISCUSSÃO As incidências do TYVSV e do TYBLV variaram de 0,3% a 4,97% e de 0,1% a 5,5%, respectivamente. Apenas duas plantas com infecção mista foram detectadas. As médias de produção das plantas infectadas pelo begomovirus e luteovirus foram 37,6% e 14,8% inferiores a das plantas sadias, respectivamente (Tabela 1). Esse fato permite sugerir que em condições de alta incidência, o produtor pode ter uma significativa redução no retorno financeiro, caso medidas de controle efetivas não sejam adotadas. A qualidade dos frutos, por outro lado, não apresentou diferença significativa entre os caracteres analisados (Tabela 2). LITERATURA CITADA ESPINOZA, W. Manual de produção de tomate industrial no vale do São Francisco. Brasília: CODEVASF, 1991, 301 p. 4 FAJARDO, T.V.M.; ÁVILA, A.C.; RESENDE, R.O. Doenças causadas por vírus em tomate. In Zambolim, L.; Vale, F.X.R.; Costa, H. Controle de Doenças de Plantas. Hortaliças. v. 2, Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2000, p. 843-877. KUROSAWA, C.; PAVAN, M.A. Doenças do tomateiro. In Kimati, H.; Amorim, L.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A.; Rezende, J.A.M. Manual de Fitopatologia. Doenças das Plantas Cultivadas. v. 2. São Paulo: Ceres, 1997, p. 690-719. MANTOVANI, D.M.B.; CARVALHO, C.R.L.; CARVALHO, P.R.N.; MORAES, R.M. Análises químicas de alimentos: Manual técnico. Campinas: ITAL, 1990. 121p. POLSTON, J.E.; ANDERSON, P.K. The emergence of whitefly-transmitted geminiviruses in tomato in the Western hemisphere. Plant Disease, v. 81, p. 1358-1369, 1997. SIKORA, E.J.; GUDAUSKAS, R.T.; MURPHY, J.F.; PORCH, D.W.; ANDRIANIFAHANANA, M.; ZEHNDER, G.W.; BAUSKE, E.M.; KEMBLE, J.M.; LESTER, D.F. A multivirus epidemic of tomatoes in Alabama. Plant Disease, v. 82, p. 117-120, 1998. Tabela 1. Produção de tomateiros sadios e infectados com o TYVSV e o TYBLV. Tratamentos Produção (kg/planta)* 5,64a 3,52b 4,80a Plantas sadias Infectadas com o TYVSV Infectadas com o TYBLV *Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste T, ao nível de 5% de probabilidade. Tabela 2. Qualidade de frutos infectados com o TYVSV e o TYBLV. Tratamentos Sadia TYVSV TYBLV TYVSV + TYBLV SS, Brix 4,68 a 4,77 a 4,50 a 4,36 a Caracteres avaliados* pH ATT 4,25 a 0,34 a 4,22 a 0,35 a 4,22 a 0,35 a 4,15 a 0,31 a SS.ATT-1 14,36 a 13,36 a 12,74 a 14,23 a *Valores na coluna, seguidos de mesma letra, não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.