UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O PROTOCOLO DE QUIOTO: UMA ABORDAGEM SOBRE OS MECANISMOS DE FLEXIBILIZAÇÃO Autor: Pedro Alcântara Nunes Neto Orientador: José Romero Pereira Junior Brasília - DF 2008 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O PROTOCOLO DE QUIOTO: UMA ABORDAGEM SOBRE OS MECANISMOS DE FLEXIBILIZAÇÃO PEDRO ALCÂNTARA NUNES NETO Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais, sob a orientação do Professor José Junior. BRASÍLIA – DF NOVEMBRO / 2008 Romero Pereira AGRADECIMENTO Aos meus pais, por patrocinarem os meus estudos e pelo apoio incondicional. Aos meus irmãos, Roberto e Rodrigo, pela amizade. A minha namorada, Sandra, pelo apoio e amizade. Aos meus amigos que sempre me apoiaram em tudo. Ao Ludovino Lopes, pela inspiração. Ao meu orientador, José Romero, por suas contribuições, sugestões e amizade. Aos professores da UCB e a todas as pessoas que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização deste trabalho. RESUMO O presente estudo tem como tema central a preocupação internacional com a emissão de gases de efeito estufa, analisando o Protocolo de Quioto como um regime internacional capaz de contribuir para o Desenvolvimento Sustentável. O estudo fará uma abordagem a partir dos mecanismos de flexibilização, demonstrando como eles transformaram os princípios básicos do Protocolo de Quioto, atribuindo valor econômico aos recursos naturais, por meio de preços e quantificações. Para atingir os objetivos a que se propõe, a pesquisa apresenta um breve estudo sobre o aquecimento global, especificando o Protocolo de Quioto e seus desdobramentos. Avalia o mercado de crédito de carbono e sua evolução, além de analisar as oportunidades criadas pelo Protocolo de Quioto para os países em desenvolvimento, através do desempenho do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Palavras-chave: Gases de Efeito Estufa, Protocolo de Quioto, Desenvolvimento Sustentável, Mecanismos de Flexibilização, Aquecimento Global, Crédito de Carbono e Mecanismo de Desenolvimento Limpo. ABSTRACT This study focuses on the international concern regarding emissions of greenhouse gases by investigating the Kyoto Protocol as an international regime capable of advancing towards Sustainable Development. The study begins with the “flexibility” mechanisms which reveal how the Protocol’s basic principles have been transformed in terms of economic value attribution for natural resources in line with pricing and quantifications. In order to reach the envisaged aims, the research study discloses a brief survey on global warming, evaluating the Kyoto Protocol and its unfolding consequences in detail. Furthermore, the study assesses the carbon credit market and its evolution as well as the opportunities created by the Kyoto Protocol for developing countries to engage in Clean Development Mechanisms (CDM). Key Words: Greenhouse Gases, Kyoto Protocol, Sustainable Development, Flexibility Mechanisms, Global Warming, Carbon Credit and Clean Development Mechanism. SUMÁRIO 1. Introdução...............................................................................................06 1.1 Problema e Importância..........................................................................06 1.2 Hipótese..................................................................................................13 1.3 Objetivo...................................................................................................13 1.3.1 Objetivos Geral........................................................................................13 1.3.2 Objetivos Específicos..............................................................................13 1.4 Metodologia.............................................................................................13 2. Referencial Teórico.................................................................................14 2.1 Revisão Bibliográfica...............................................................................14 2.2 Marco Teórico.........................................................................................14 2.2.1 O regime de mudança do clima..............................................................14 2.2.2 O surgimento do pensamento sobre desenvolvimento sustentável.......16 2.2.3 As correntes de pensamento sobre o desenvolvimento sustentável.....22 3. Desenvolvimento.....................................................................................23 3.1 Aquecimento Global................................................................................23 3.1.1 As causas do aquecimento global...........................................................25 3.1.2 Os efeitos do aumento da temperatura...................................................26 3.2 O Protocolo de Quioto.............................................................................28 3.3 Os Mecanismos de Flexibilização...........................................................38 3.3.1 Implementação Conjunta........................................................................39 3.3.2 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.................................................40 3.3.3 Comércio de Emissões...........................................................................45 4. Conclusão...............................................................................................49 5. Referências Bibliográficas.......................................................................51 SIGLAS AND – Agência Nacional Designada ANGELA – Abatement of Nitrous Gas of Environment of Latin America CE – Comércio de Emissões CER´s – Certificate Emission Reduction CIMGL – Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima COP – Conferência das Partes CO2 - Dióxido de Carbono CH4 - Metano CQNUMC – Conferência Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas CTR – Central de Tratamento de Resíduos GEE – Gases de Efeito Estufa GWP – Global Warming Potential HFCs – Hidrofluorcarbonetos IC – Implementação Conjunta IPCC – International Panel on Climate Change N2O – Óxido de Nitrogênio MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ONU – Organização das Nações Unidas PCF – Prototype Carbon Fund PFCs – Perfluorcarbonetos RCE – Reduções Certificadas de Emissão SF6 – Hexafluorcarbonetos UNCED – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento QUADROS QUADRO I – Países anexos I e não anexos I..................................................29 QUADRO II – Desenvolvimento das Conferências das Partes.........................31 QUADRO III – Protocolo de Kyoto e os non-Kyoto compliance........................34 QUADRO IV – Emissões de gases de efeito estufa e estimativa.....................40 QUADRO V – Potencial de participação anual em 2005..................................41 QUADRO VI – Principais compradores de RCEs13..........................................43 QUADRO VII – Países que mais ofertam projetos de MDL..............................43 QUADRO VII – Metodologia para execução de um projeto..............................46 QUADRO VIII – Metodologias para venda do crédito.......................................46 QUADRO X – Categorias Principais de comércio de emissões.......................47 1. INTRODUÇÃO 1.1 Problema e Importância A mudança climática é um dos graves problemas ambientais deste século. Nos últimos anos, registrou-se um aumento preocupante na temperatura média da terra, evento conhecido como aquecimento global. A terra é naturalmente protegida por um estrato de gases que a conserva aquecida e, portanto, habitável. Esta camada de gases funciona como um cobertor que absorve parte da radiação solar que penetra na atmosfera terrestre ao invés de deixá-la retornar ao espaço (SEMA, 2007, p.3). Há milhares de anos, conseguimos viver no planeta, justamente por esse efeito estufa natural, que proporciona ao mundo as condições ideais para o desenvolvimento da vida. A evolução da espécie humana sempre foi balizada por mudanças no clima, sob o efeito de variações climáticas naturais. Ocorre que, quando a humanidade passou a desmatar de forma sistemática para fins agrícolas, e a utilizar como matriz energética para suas atividades a queima de combustíveis fósseis, o resultado foi uma extraordinária elevação na emissão para a atmosfera de gases que geram o efeito-estufa (GEE), potencializando os seus resultados e deixando o planeta mais aquecido do que deveria (RUDDIMAM, 2005, p. 54). Os lixões, os aterros sanitários, usinas termoelétricas e indústrias que usam e queimam combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), se tornam os maiores poluidores e emissores de gases de efeito estufa (GEE), principalmente dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). A interferência progressiva do homem no sistema climático do planeta cria conseqüências irreversíveis e possivelmente catastróficas para as sociedades humanas e para os ecossistemas. O aquecimento global proveniente da emissão de gases de efeito estufa (GEE) causado por ação humana tem causado grande preocupação à sociedade moderna, principalmente em cenários que configuram demanda crescente de energia, em grande parte de natureza não-renovável. Normalmente são situações decorrentes de sociedades que vem passando por um crescimento produtivo e populacional muito avançado. (ARAÚJO, 2006, p.7). Existem várias conseqüências geopolíticas provenientes do aumento da temperatura terrestre, fazendo com que os governos tenham que repensar o problema do aquecimento global, tema que passou a fazer parte dos assuntos de segurança e soberania nacional dos Estados. Internalizar os princípios do Desenvolvimento Sustentável nas políticas públicas e no comportamento dos agentes econômicos é hoje o nosso maior desafio (Gilney Viana, Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável – Ministério do Meio Ambiente, 2003, capa). Os governos, as empresas, os ambientalistas e a sociedade como um todo já sabem dos amplos efeitos negativos das mudanças climáticas, mas a problemática que surge aqui é quando e como os atores internacionais começarão a sofrer diretamente os efeitos desse aquecimento, e qual será o montante de investimento que os países terão que ceder, com políticas públicas por problemas gerados pelo aumento da temperatura. O aquecimento global pode fazer com que sejam excedidos os limites do equilíbrio climático, provocando, em alguns lugares, secas prolongadas e, em outros, tempestades e enchentes, o que desequilibrará os ecossistemas com a possível extinção de espécies animais e vegetais, tudo isso agravado pelo desmatamento desenfreado que levará à desertificação de algumas regiões (ALLEY, 2005,14-15). A primeira vez que surgiram evidências científicas que relacionavam as atividades do homem com o aquecimento global foi na década de 1980, aumentando o interesse global em se discutir mudanças climáticas A preocupação internacional com as alterações no clima levou os países membros da Organização das Nações Unidas, a criarem uma convenção para controle climático, a Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (CQNUMC), ou seja, a partir deste momento o aquecimento global passa a fazer parte de forma significativa da agenda internacional, e é visto então como uma dura realidade que a comunidade internacional terá que encarar, uma vez que as alterações no clima trarão também conseqüências socioeconômicas porque estão diretamente relacionadas com as matrizes energéticas que os países utilizam. A tentativa de se conciliar desenvolvimento social e econômico com o respeito ao meio ambiente faz surgir um dilema internacional. O Relatório Brundtland define desenvolvimento sustentável como: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. Este conceito se fundamenta sobre dois pilares “o conceito de necessidade, sobretudo as essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade” e “a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras” (LIMA, 2006, p.102). A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do ClimaCQNUMC, criada no Brasil durante a Rio 921 e cuja aprovação ou adesão foi feita por 182 países signatários. A intenção primordial da Convenção era estabelecer um regime jurídico internacional para atingir o objetivo de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que contribuam para variações climáticas nos próximos anos. 1 A II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, conhecida como Rio 92, teve como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e a preocupação com o processo de degradação ambiental. O Brasil foi o primeiro país que assinou a CQNUMC, em 4 de junho de 1992, tendo sido ratificada pelo Congresso Nacional em 28 de fevereiro de 1994. Embora não defina a forma de atingir o objetivo de reduzir as taxas de emissão dos GEE, a CQNUMC estabelece mecanismos que dão continuidade ao processo de negociação em torno dos instrumentos necessários para que esse objetivo seja alcançado. Após a CQNUMC e observados seus princípios, nesse momento das discussões internacionais foi adotado em dezembro de 1997, o Protocolo de Quioto, como medida jurídica de combate ao aquecimento global, mas este somente entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, 90 dias após a Rússia ter formalizado sua adesão. Com a ratificação russa, foi possível cumprir os requisitos para sua entrada em vigor, ou seja, ter sido ratificado por 55 naçõespartes que respondam por pelo menos 55% das emissões globais. Entrou em vigência contando com 176 membros2 até o momento, já que nem todas as nações que são partes da Convenção ratificaram o Protocolo de Quioto. O Protocolo firmado para atingir o objetivo primordial da CQNUMC, estabelece metas para que as emissões antrópicas3 sejam reduzidas em 5,0%, na média, com relação aos níveis verificados no ano de 1990. Essas metas são diferenciadas entre os países, e deverão ser atingidas no período compreendido entre 2008 e 2012. A redução de 5% é uma média, sendo que os compromissos de emissão variam de 8% abaixo do nível aferido em 1990 a 10% acima; enquanto o Japão e o Canadá devem reduzir suas emissões em 6% do nível de 1990, a Islândia está autorizada a aumentar suas emissões em 10%, em razão do histórico de emissão de cada Parte do Protocolo. As regras para as emissões também se definem a partir do desenvolvimento do país parte. Os países mais desenvolvidos assumem maiores cotas de redução, enquanto os países em desenvolvimento não precisam ter o mesmo comprometimento. (SABBAG, 2008, p.26) 2 Disponível em: http//unfccc.int/files/essential_background/Kyotoprotocol/application/pdf/kpstats.pdf 3 Ação antrópica é toda ação realizada pelo homem. Hoje já se prevê a extensão ou a criação de um novo protocolo, pois em 2008, data prevista para o início das reduções, os países não estavam completamente preparados. Os países desenvolvidos entenderam como inviável a redução de emissões da forma como estava previsto no Protocolo de Quioto, o que gerou a necessidade de se desenvolver mecanismos que facilitassem a tarefa do Estado em reduzir suas emissões. O Protocolo de Quioto permite que as Partes negociem entre si parte de suas metas, como forma de ajudar suas ações internas de combate ao aquecimento global. Uma das inovações da CQNUMC é criação de um Mecanismo de Flexibilização do Protocolo de Quioto, que, segundo definição da Bolsa de Mercadoria e Futuros, São arranjos técnico-operacionais regulamentados pelo Protocolo de Quioto, para utilização por parte de empresas ou países, que oferecem facilidades para que as partes (países) incluídas no Anexo B possam atingir seus limites e metas de redução de emissões. Tais instrumentos também têm o propósito de incentivar os países emergentes a alcançar um modelo adequado de desenvolvimento sustentado. Há três mecanismos de flexibilização previstos: Comércio de Emissões; Mecanismo de Desenvolvimento Limpo; e Implementação Conjunta – implantação de projetos de redução de emissões de GEE em países que apresentam metas no âmbito do protocolo.(Bolsa de Mercadorias e Futuros – RJ, FACILY GUIDE,) Através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), os países puderam investir em projetos de redução de emissões alocados nos países em desenvolvimento, onde não há obrigação de cortar emissões e o custo desses projetos é menor. Esses projetos de MDL são bem interessantes para países como o Brasil, pois permitem a certificação de redução de emissões brasileiras, sendo que após a execução do projeto o governo brasileiro pode vender esses certificados no mercado para os países desenvolvidos, para ajudar no cumprimento das metas desses países. O Brasil já possui alguns projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo bem sucedidos. Promovido pela Prefeitura de São Paulo, um aterro de lixo foi reestruturado, com investimento direito estrangeiro holandês, com o objetivo de seqüestrar o metano emitido pelo lixão. Os créditos4 deste projeto foram vendidos a um Banco Holandês, que negociou esses créditos no mercado utilizando cifras milionárias. O Japão, que assumiu uma meta de 6% de suas emissões de 1990, atualmente deverá reduzir 13,6%, pois houve um aumento de emissão de 7,6% desde 1990.5 Nesse sentido, a demanda por crédito de carbono intensifica-se e leva países desenvolvidos a lançar mão de políticas públicas para aquisição de créditos de carbono. (SABBAG, 2008) Outro exemplo é a atuação da francesa Rhodia no mercado de carbono brasileiro. A empresa possui um portfólio que inclui consultoria e assessoria para a concepção de projetos no âmbito dos mecanismos de desenvolvimento limpo, e depois comercializa os certificados desses projetos no Mercado de Chicago6. Um dos exemplos de que a cultura dos créditos de carbono já está na mentalidade das empresas, é a realização do projeto ANGELA (Abatement of Nitrous Gas for Environment of Latin America), para a redução de emissão de gás de efeito estufa. Desenvolvido no conjunto industrial de Paulínia, em São Paulo, é um dos mais significativos projetos já ocorridos na América Latina, dentro do escopo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Utilizando tecnologia de ponta, a empresa Rhodia, implantou uma unidade industrial para a redução na emissão de N2O (óxido de nitrogênio) de aproximadamente 20 mil toneladas ao ano, equivalentes a seis milhões de toneladas anuais de gás carbônico – quantidade emitida por uma frota de 1,2 milhões de veículos movidos a gasolina. 4 Um crédito de carbono, cuja denominação oficial para o MDL é Redução Certificada de Emissão (RCE), nada mais é do que uma tonelada métrica de gás carbônico equivalente (CO2) e que deixou de ser emitida a atmosfera. 5 (Option Survey for Japan to acquire credits from abroad. Ministério do Meio Ambiente do Japão. Disponível em http//www.iges.or.jp/em/cp/report11.html). 6 Rhodia Energy Brazil é a primeira empresa do setor químico na América Latina a ingressar como “full member” no Chicago Climate Exchange – mercado auto-regulável de negociações de crédito de carbono vinculados a projetos de redução voluntária de gases de efeito estufa. Dentre os diversos segmentos de mercado voluntário, que poderão se beneficiar do comércio desses créditos, destacam-se principalmente: • projetos de recuperação de gás de aterro sanitário, de gás de auto-fornos, biodigestor, outros gases; • energias limpas (biomassas, PCHs, eólica, solar, etc.); • Troca de combustíveis (óleo x gás, biomassa, etc.); • Melhorias / tecnologias industriais: cimento, petroquímica, fertilizantes, etc.; • Projetos de reflorestamento. A idéia que surge com o MDL pode ser explicada na constatação de que reduzir a emissão de GEE, ou seqüestrar GEE da atmosfera de forma voluntária em um país em desenvolvimento, poderá gerar créditos para serem negociados no mercado mundial com os países industrializados que precisam desses “créditos” para cumprirem suas metas junto ao Protocolo de Quioto O Protocolo teve os seus princípios deturpados, à medida que os países signatários começaram a buscar medidas para flexibilizar o controle das emissões de GEE. O Protocolo de Quioto estaria perdendo um pouco de sua força ambiental, medida importante para o controle do aquecimento global, e passando a funcionar como um instrumento internacional de negociação de créditos de carbono “Alguns critérios são aplicados para que esses projetos sejam reconhecidos, tais como estarem alinhados às premissas de desenvolvimento sustentável do país hospedeiro, definidos por uma Autoridade Nacional Designada (AND), responsável pela validação, verificação e certificação das atividades e projetos incluídos na esfera do MDL. No caso do Brasil, essa Autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança do Clima. Somente após a aprovação pela comissão, é que esse projeto pode ser submetido à ONU para validação e registro.” (ARAÚJO, 2006, p. 29). Os certificados de redução de emissões (sigla em inglês CER´s) são depois negociados através de uma enorme plataforma financeira, criada para negociar esse ativo, fazendo hoje parte de uma das melhores opções de investimento no âmbito do mercado financeiro. O ponto principal da discussão então é descobrir se os países signatários não estariam mais interessados em um grande mercado do carbono, ancorado ao Protocolo de Quioto, sobrevivendo com o rótulo de ação para o desenvolvimento sustentável. Assim os Estados estariam deixando de investir em projetos ambientais, para negociar papéis de carbono no mercado financeiro. Os Estados desenvolvidos entendem que é melhor pagar para poluir, que promover políticas de controle de emissões globais. Isto é entendido como flexibilização das exigências do Protocolo de Quioto 1.2 Hipótese: Os países signatários do Protocolo de Quioto preferem abrir mão de políticas públicas de combate ao aquecimento global e voltar-se para a aquisição de créditos de carbono, em detrimento de ações efetivas para redução de emissões. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral: Analisar os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e o Mercado Internacional de Carbono, criados pelo Protocolo de Quioto, como instrumentos para a redução do aquecimento global. 1.3.2 Objetivos Específicos: – Estudar o Aquecimento Global e suas conseqüências; – Analisar os principais itens do Protocolo de Quioto; – Analisar os Mecanismos de Flexibilização do Protocolo de Quioto; 1.4 Metodologia: O presente estudo tem sua base pautada no Protocolo de Quioto, se aprofundando nos instrumentos de flexibilização do Protocolo, como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e o Mercado Internacional de Carbono. Para tanto, tem como foco o redirecionamento dos objetivos do Protocolo de Quioto e a preocupação internacional com o Aquecimento Global. Para realizar o estudo, a presente dissertação utilizou como método de pesquisa buscar conclusões a partir do referencial teórico. Partindo do geral, buscando aprofundar nos estudos sobre os fundamentos e bases do Protocolo de Quioto, estudando os mecanismos que surgiram com o Protocolo, e as conseqüências de um Protocolo de Quioto mais flexível. No marco teórico se utilizou do desenvolvimento sustentável sob uma perspectiva geopolítica. Os dados da pesquisa serão de origem primária e secundária, e de pesquisa bibliográfica e documental, que vai se utilizar de fontes seguras e de reconhecida qualidade. 2. Referencial Teórico 2.1 Revisão Bibliográfica: A revisão bibliográfica contou com a contribuição de DIAS e RAMOS (2001), BENEDICK (1993), SOUZA (2007), ARAUJO (2006), KLABIN (2000) e com relatórios técnicos do BNDES feitos em 2006, e foi amplamente trabalhadadentro do estudo, tendo sido inserida no desenvolvimento do trabalho, em conjunto com os outros autores estudados posteriormente. 2.2 Marco Teórico: O estudo aqui exposto está organizado com bases teóricas diversas. O estudo se pautou nos Regimes Internacionais e na evolução do pensamento sobre o Desenvolvimento Sustentável. O conteúdo do estudo se utilizou do pensamento do autor Eduardo Viola, sobre a construção do regime de mudança climática e, das correntes de pensamento sobre o desenvolvimento sustentável, desenvolvidas no último século. A base do trabalho foi balizada através da cronologia dos principais fóruns de discussão e estudos publicados a cerca do tema. 2.2.1 O regime de mudança do clima Quando se discute questões como a proteção do meio ambiente, todos os países sempre se colocam teoricamente a favor da cooperação entre eles para solução conjunta de como salvar o planeta. Mas esse posicionamento sempre se altera, na medida em que os países passam a tomar decisões a partir de posições de maximização do interesse nacional, o que na realidade atrapalha completamente a cooperação internacional (VIOLA, 2005). Os problemas da mudança climática vêm interferindo de maneira sistêmica nas relações internacionais contemporâneas, tendo sido colocados na agenda das Nações Unidas, dando origem ao processo mais demorado, complexo e fascinante de negociação internacional de uma questão ambiental (VIOLA, 2005). Entender os problemas ambientais globais, e suas complexidades, se tornou um dos grandes temas das agendas dos Estados Nacionais, em particular o aquecimento global, pois a formação de regimes internacionais ambientais passa a impor algumas restrições à soberania da grande maioria dos países. As nações passam a transferir poder e autoridade objetiva para agências internacionais, que desenvolvem estudos sobre o tema, construindo novos centros de poder, restando às nações somente o poder instrumental. Os países se submetem a regulamentos de instituições supranacionais, que definem as novas regras e procedimentos a serem seguidos para se atingir objetivos comuns (VIOLA, 2005). O autor Eduardo Viola relata que: os problemas de mudança climática estão vinculados aos bens comuns/coletivos globais. A atmosfera, por exemplo, é um bem público global, desde que sua utilização por um ator, não exclua a possibilidade de utilização por outro. Ela tem, no entanto, uma capacidade limitada em absorver poluição ou emissões de gases de efeito estufa sem provocar alterações na saúde humana ou no clima (VIOLA, 2005, p.189). É justamente por isso que as Nações Unidas, através de suas convenções, com o apoio dos países partes, definem a proteção do meio ambiente como algo global, atribuindo à atmosfera como tema que deve ser de preocupação internacionais comum sobre da humanidade proteção e o ambiental, nascimento dos surgem então regimes como regulamentadores de como os países devem atuar na preservação da atmosfera e do meio ambiente (VIOLA, 2005). O regime internacional de mudança climática, que tem como principal parâmetro a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, convenção que surgiu através da evolução do pensamento de diversos autores sobre os efeitos do meio ambiente para a vida das nações. O auge desta evolução seria o Protocolo de Quioto, regime internacional criado sobre as bases do desenvolvimento sustentável. 2.2.2 O surgimento do pensamento sobre desenvolvimento sustentável. A evolução do pensamento sobre o desenvolvimento sustentável demonstra que o liberalismo econômico patrocinou o uso irrestrito dos recursos naturais, cujos estoques eram considerados infinitos, apesar da importância atribuída aos recursos naturais no surgimento da Ciência Econômica. Os fisiocratas atribuíam a terra à origem dos excedentes. Os clássicos como Ricardo, com sua teoria dos rendimentos crescentes da terra; e Malthus, que via a expansão capitalista comprometida por uma suposta escassez de alimentos causada pelo crescimento populacional desenfreado e superior a capacidade produtiva à época. Porém, o progresso tecnológico, e a revolução agrícola se encarregaram de frustrar as previsões pessimistas de limites ao crescimento, estabelecidos no pensamento clássico, principalmente às relacionadas as teorias malthusiana (SILVA, 2003). A autora Silva (2003) ao analisar a relação entre progresso e limites do crescimento constatou que a evolução tecnológica atribuiu menor importância aos recursos naturais, na análise econômica. Apesar de na teoria neoclássica ter em seus pressupostos estudos específicos sobre a utilização dos recursos naturais, os seguidores dessa escola, que se tornava hegemônica, passaram a atribuir um papel secundário aos recursos naturais. Segundo a autora Silva (2003) importância dos recursos naturais só foi retomada na segunda metade do século XX, mais precisamente na década de 1970, com a publicação dos estudos sobre o Clube de Roma. Pensar o Desenvolvimento Sustentável, apesar da dificuldade de se criar um consenso entre as diversas correntes que estudavam o tema, tornou-se imprescindível quando se trata de desenvolvimento econômico. Mesmo tendo várias visões sobre sustentabilidade, quase todos os autores coincidem no aspecto que um país não pode planejar um desenvolvimento econômico, sem pensar na sustentação dos aspectos ambientais. Foi quando estudiosos resolveram discutir o assunto, buscando soluções para o desenvolvimento. O primeiro exemplo vem com o Clube de Roma. a) A tese dos limites do crescimento proposta no Clube de Roma: A degradação do meio ambiente pela exploração humana fez que se iniciasse uma série de debates no início da década de sessenta, e esses foram se tornando mais fortes com o passar dos anos. Em 1972, um grupo de pesquisadores denominados “O Clube de Roma”, publica o estudo intitulado “Limites do Crescimento”, que serviu como base para a primeira grande discussão internacional sobre o assunto: A Conferência de Estocolmo de 1972 (BRÜSEKE, 2003). A tese apresentada pelo Clube de Roma demonstrou as seguintes conclusões básicas: • Se forem mantidas as tendências da época de crescimento incluindo população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e utilização de recursos naturais; os limites de crescimento da Terra serão atingidos nos próximos 100 anos, acarretando um declínio súbito e incontrolável dos níveis de produção e população; • É possível planejar e modificar essas tendências de crescimento para uma condição de estabilidade econômica e ecológica para um futuro longínquo que possibilite o atendimento das necessidades materiais básicas de cada indivíduo, mantendo, ainda possibilidades iguais de realização do potencial humano de cada um; • Para alcançar o segundo cenário é necessário iniciar as transformações o quanto antes, aumentando, assim as possibilidades de êxito; A estabilidade, para o Clube de Roma, seria alcançada por meio do congelamento do crescimento populacional global e do capital industrial, tese que ficou conhecida como, a Tese do Crescimento Zero. A teoria proposta foi bastante criticada, provocando fortes reações. Segundo estudiosos da época, como Mahbud ul Haq, as nações ocidentais após um século de crescimento industrial acelerado, estavam tentando fechar as vias de desenvolvimento aos países pobres, utilizando um argumento ecológico como justificativa. O tema depois foi bastante discutido dentro da UNCED (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), onde os países debateram a legitimidade de um discurso em que os países em desenvolvimento teriam que pagar pelos erros dos desenvolvidos (BRÜSEKE, 2003). A insatisfação fez com que se iniciasse a criação de outras vias de pensamento sobre países em fase de desenvolvimento, como a de Inacy Sachs. b) Ecodesenvolvimento7 Uma das teorias que depois ficou muito conhecida internacionalmente foi a de Inacy Sachs, que formulou as bases de uma teoria alternativa sobre o desenvolvimento, que segundo BRÜSEKE (2003) continha os seguintes princípios: • Satisfação das necessidades básicas. • Solidariedade com gerações futuras. • Participação da população envolvida. • Preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral. • Elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito às outras culturas O Ecodesenvolvimento, influenciado pela base teórica da teoria do SelfReliance8, foi pensado tendo como foco central nações que estavam inseridas no âmbito africano, asiático e latino-americano. 7 Conceito utilizado inicialmente por Maurice Strong em 1973. Essa teoria foi radicalizado por Ul Haq (1973), que defendia a necessidade de rompimento na relação entre os países centrais e periféricos como condição para garantir o desenvolvimento das nações pobres. 8 O principal ponto desta teoria é a inter-relação proposta entre superdesenvolvimento e subdesenvolvimento. Foi um modelo precursor ao do Desenvolvimento Sustentável, e contribuiu bastante nos debates que precederam o relatório Brundtland, criador da teoria do desenvolvimento com sustentabilidade, demostrado adiante (BRÜSEKE, 2003). Neste mesmo momento em que surgiam debates entre desenvolvidos e em desenvolvimento, pensadores iniciaram pesquisas sobre quais eram os efeitos reais da falta de desenvolvimento social e, como isso afetava o meio ambiente, reportadas através da Declaração de Cocoyock. c) Cocoyock (1974)9 Segundo Brüseke (2003) foi uma declaração que contribuiu para discussão entre desenvolvimento e meio ambiente, mostrando já uma visão de exclusão social nos desequilíbrios ambientais. Dissertava sobre os seguintes pontos: • A explosão populacional tem como uma das causas a falta de recursos de qualquer tipo, logo, a pobreza gera o desequilíbrio demográfico; • A destruição ambiental na África, Ásia e América Latina é também resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do solo e dos recursos vegetais; • O nível exagerado de consumo dos países industrializados contribui para o acirramento do problema do subdesenvolvimento das nações periféricas; Esses estudos continuaram após Cocoyock e evoluíram já em 1975 para um novo relatório, desta vez num âmbito mais internacional. d) Relatório Dag-Hammarskjöld (1975) Considerado um aprofundamento da Declaração de Cocoyock, o relatório destacou a interligação entre o abuso de poder e a degradação ambiental. 48 nações estiveram envolvidos na redação do relatório. O mesmo 9 Resultado de uma reunião em 1974, entre UNCTAD e UNEP, conhecida como Declaração de Cocoyock. defendia que o processo de colonização concentrou as terras mais adequadas nas mãos de uma elite minoritária, apoiada pelas monarquias européias. Sendo que a população restante, que ficou a margem dessa divisão de terras, obviamente de classes inferiores, foi expulsa das melhores terras, tendo que se satisfazer com o uso de solos menos aptos, o que levou a marginalização dessas castas sociais, que ficaram ao longo do processo de geração de riquezas, contribuindo para a degradação ambiental, devastando paisagens inteiras (BRÜSEKE, 2003). Tanto Cocoyock como o Dag-Hammarshjöld, se baseavam na teoria da mobilização das próprias forças. Corrente de pensamento que prega mudanças estruturais na propriedade da terra e no controle da produção. O que fez com que essas duas declarações fossem bastante criticadas pelas elites que dominavam o processo de produção e que conseqüentemente eram proprietários das terras (BRÜSEKE, 2003). e) O Relatório Brundtland Coordenado por Gro Brundtland, então Primeira Ministra da Noruega, foi o resultado de um trabalho que envolveu uma série de países interessados na problemática do meio ambiente, dentro do âmbito das Nações Unidas. O estudo foi feito através da análise das causas dos problemas sociais, econômicos e ecológicos da sociedade globalizada, verificando as interrelações entre economia, tecnologia, sociedade e política, com enfoque em uma nova postura ética que se caracteriza pela responsabilidade com as gerações futuras e com os participantes contemporâneos da sociedade atual, dando origem ao famoso conceito de desenvolvimento sustentável do relatório (BRÜSEKE, 2003). Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades (NOSSO FUTURO COMUM, 1983). A inovação do relatório é que ele cobrava atitudes dos Estados nacionais e organismos internacionais. Para os Estados Nacionais as medidas cobradas foram (BRÜSEKE, 2003): • Limitação do crescimento populacional; • Garantia de alimentação a longo prazo; • Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; • Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; • Aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas. No âmbito internacional: • As organizações de desenvolvimento devem adotar a estratégia do desenvolvimento sustentável; • A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas internacionais como a Antártida, os oceanos, o espaço; • As guerras devem ser banidas; • A ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável; O relatório, comparado com as teorias e relatórios que o antecederam, apresentou maior aceitação na comunidade internacional, isto se deve ao seu maior realismo, uma vez que não propagava a dissociação entre centro e periferia, nem a teoria do self-reliance e nem a redução do crescimento econômico. Essa aceitação se deve também pelo reflexo do abrandamento das críticas à sociedade industrial e o tom diplomático utilizado para tratar os assuntos dos Estados Nacionais (BRÜSEKE, 2003). A partir desse momento, as conferências e debates entre os países sobre meio ambiente, já traziam em sua pauta o desenvolvimento sustentável como objetivo. f) Rio 92 No Rio de Janeiro 106 chefes de governo e 35 mil pessoas estavam envolvidas na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em julho de 1992, para discutir como o mundo poderia desenvolver de forma mais sustentável, conferência que infelizmente não correspondeu às esperanças e as expectativas a ela relacionadas. O Worldwatch Institute, em 1993, fez um relatório em que citava as frustrações causadas pela ação da delegação dos Estados Unidos, que pressionou para a eliminação das metas e do cronograma de redução das emissões de CO2, transformando a conferência em uma declaração apenas de boas intenções, além de não assinar a convenção sobre a proteção da biodiversidade (BRÜSEKE, 2003). g) Rio + 10 - Joanesburgo Em 2000, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU sugeriu a realização de uma nova cúpula mundial, mas que desta vez não ficasse atada aos problemas da Rio 92, e que tivesse como tema principal o Desenvolvimento Sustentável. Em 2002, na África do Sul, o mundo se reuniu para realizar a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo. O objetivo foi avaliar se houve avanço no que havia sido discutido e regulamentado no Rio de Janeiro em 1992 e, nos compromissos assumidos através da Agenda 2110. As Nações Unidas queriam identificar as razões pelas quais se avançou tão pouco os compromissos assumidos em 1992, e criar medidas que pudessem ser tomadas com o objetivo de viabilizar a sua realização. 2.2.3 - As correntes de pensamento sobre o Desenvolvimento sustentável. O cerne da questão sobre o desenvolvimento sustentável repousa sobre a definição de sustentabilidade, que segundo Hauwermeiren (apud DENARDIN; SULZBACH, 2002) é uma característica de um processo ou estado que se pode manter indefinidamente. Para Harte (apud DENARDIN; SULZBACH, 2002), sustentabilidade refere-se a um consumo sustentado 10 A Agenda 21 foi um dos principais resultados da conferência Eco‐92, ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992. É um documento que estabeleceu a importância de cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não‐governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio‐ ambientais. indefinidamente, ou seja, sem degradar o estoque de capital total, no qual estão abrigados os recursos naturais. Existem várias correntes de pensamento que definem o desenvolvimento sustentável, o que faz que não seja um conceito teórico consolidado, em função justamente das divergências entre as correntes de pensamento (ROMEIRO, 2003). Proposto por Sachs (apud ROMEIRO, 2003), o conceito buscava o estabelecimento de um caminho viável, de equilíbrio entre o crescimento econômico e a sustentabilidade. Inicialmente denominado de Ecodesenvolvimento, teoria que reconhecia a capacidade do progresso técnico de atenuar os impactos ao meio ambiente, tendo como o crescimento econômico como condição necessária, porém não suficientes, para eliminar as desigualdades sociais (ROMEIRO, 2003). Rumo a uma nova teoria do desenvolvimento, o conceito de desenvolvimento internacionais, sustentável que passaram influenciou a as incorporá-lo principais na sua instituições filosofia de desenvolvimento, baseando suas ações nos preceitos de eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica. Dentre essas entidades destacam-se o Banco Mundial e a UNESCO (BRÜSEKE, 2003). O modelo de desenvolvimento sustentável, utilizado após Brundtland, firma uma teoria importante para que os Estados nacionais e organismos internacionais trabalhem no objetivo de se construir uma economia global sustentável, portanto a teoria do Desenvolvimento sustentável, ainda em fase de consolidação, firma-se como a direção certa (BRÜSEKE, 2003). Um dos principais temas atuais sobre a questão do meio ambiente, reflexo de uma profunda falta de políticas de sustentabilidade dos Estados Nacionais, é o aquecimento global. Problema esse que cresce a cada dia, pela falta de conhecimento e de comprometimento dos países em deixarem de poluir. A correção do fenômeno das mudanças climáticas está relacionada aos modelos de desenvolvimento, fato que nos encaminha para o desenvolvimento de uma teoria, em que política, economia e ecologia fiquem em um mesmo patamar de importância. 3 – Desenvolvimento 3.1 – Aquecimento Global As mudanças climáticas tem se tornado uma das principais pautas das Nações Unidas. Conforme amplamente noticiado pela imprensa internacional, a repercussão do relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre a mudança do clima, que surgiu da famosa Agenda 21, foi bastante importante, ao reconhecer que é a ação do homem a responsável pelo aquecimento global. Vários estudiosos do assunto, que participaram da criação do Painel, relataram que é possível, que em cerca de 80 anos, países como Austrália, China, e Bangladesh sofram conseqüências catastróficas por causa das mudanças climáticas, podendo enfrentar, inundação, seca e falta de água potável, atingindo milhares de pessoas e podendo criar a figura dos “Refugiados do Clima” (SOUZA, 2007). O Brasil de acordo com estudo também sentirá os efeitos, haverá agravamento das secas e desertificação no Nordeste e inundações ao Sul, e os dados deste Painel, chamado de Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) soam como um convite, a um estudo sobre o aquecimento global (SOUZA, 2007). O Presidente Luís Inácio Lula da Silva em entrevista declarou que: Nesse início de século XXI, nenhum cientista, líder político ou cidadão informado tem o direito de ignorar que vivemos dias decisivos. O aquecimento global e o ritmo de exploração dos recursos naturais tornaram-se insustentáveis e põem em risco a própria vida humana na terra. Diante disso, uma agenda está acima de todas as outras: como conciliar desenvolvimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental? (Luís Inácio Lula da Silva – Presidente da República Federativa do Brasil, O Estado de S. Paulo, grandes reportagens, p.113) Um dos maiores desafios no combate ao maior problema ambiental da história é o da informação. Governantes bem preparados, instituições conscientizadas e sociedade preparada são as condições fundamentais para enfrentar as alterações climáticas que já estão em curso (FURRIELA, 2005). O mundo já consegue notar e perceber claramente as mudanças climáticas, ocasionadas por conseqüência do aquecimento terrestre, que vem ganhando muita força recentemente. O fenômeno chamado pelas Nações Unidas de “Mudanças Climáticas Globais”, afeta o planeta com várias implicações para a economia e para as sociedades. O IPCC assegura que o aumento de concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera do planeta, resultante do crescimento demográfico e econômico acelerado, está alterando a variabilidade do clima, e causando uma variação climática global irreversível. Além disso, o IPCC previu a alterações nos padrões das chuvas, o que aumentará a possibilidade de secas, inundações e tempestades fortes em algumas regiões. As Nações Unidas apresentaram alguns dados preocupantes sobre o século XX, em termos de mudanças no clima do planeta. Confirmaram que a temperatura média global da superfície da Terra subiu em 0,6 graus Celsius nesse período e identificaram os anos de 1990 como sendo os mais quentes daquele século (FURRIELA, 2005). O sistema climático é algo muito complexo, e muito resta a ser compreendido pelos cientistas em relação a magnitude. O fenômeno do aquecimento global, tanto como a influência antrópica no aumento da temperatura afetará todo o planeta, sendo que provavelmente as populações mais pobres, dos países mais vulneráveis, ficarão mais suscetíveis aos impactos negativos (FURRIELA, 2005). 3.1.1 – As causas do aquecimento global Ao longo de dois séculos, tendo como ponto inicial a Revolução Industrial, a concentração de gases de efeito estufa tem aumentado rapidamente. São eles: • CO2 – dióxido de carbono • CH4 – metano • N2O – Óxido Nitroso • HFCs Hidrofluorcarbonos • PFCs – Perfluorcarbonos • SF6 - Hexafluoreto de Enxofre Dentre as principais causas do efeito estufa está o incremento das atividades antrópicas utilizadoras de combustíveis fosseis. Pode-se destacar a queima de carvão, petróleo e gás natural para uso em transporte, desmatamento, e queimada das coberturas florestais, criação de gado e cultivo de arroz (SABBAG, 2008). Os elevados níveis históricos da emissão dos países desenvolvidos, aliados ao desenvolvimento desenfreado e não-sustentável de certos países em desenvolvimento, certamente tornarão o problema das mudanças climáticas, cada vez mais presente nas discussões internacionais (SABBAG, 2008). Se as emissões continuarem aumentando, é quase certo que os níveis de dióxido de carbono na terra, passarão a ser no século 21, duas vezes maiores do que as concentrações do período pré-industrial. De acordo com um consenso científico, as conseqüências seriam um aumento na temperatura em até 3,5 graus nos próximos cem anos (FURRIELA, 2005). 3.1.2 - Efeitos do aumento da temperatura global De acordo com Furriela (2005) os efeitos previsíveis da mudança do clima no planeta são: • Os padrões regionais de chuva podem mudar. Poderá chover mais e chuva poderá evaporar mais depressa, o que deixará os solos mais secos em algumas estações do ano • Zonas climáticas e agrícolas poderão migrar em direção aos pólos. O aumento da secura nos verões poderá afetar a produção agrícola e é possível que grandes áreas produtoras de grãos passem a sofrer secas e ondas de calor mais freqüentes • O derretimento das geleiras e a dilatação térmica das águas dos oceanos causarão a elevação dos níveis dos mares, ameaçando as zonas costeiras, áreas densamente povoadas • As tempestades tropicais ficarão mais intensas, o que causará chuvas e ventos fortes deixando grande saldo de desabrigados e mortos • As doenças propagadas por vetores associados à alteração da temperatura, como dengue e malária, poderão ter a sua incidência potencializada • Os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos, não terão recursos suficientes para precaverem-se sobre os impactos, o que irá gerar enormes impactos sociais e econômicos • Poderá haver redução no potencial de produção alimentícia, o que irá gerar maiores problemas de fome e miséria • A variabilidade climática poderá causar impactos sobre diferentes ecossistemas, o que poderá causar eventual desaparecimento de algumas espécies de fauna e flora (FURRIELA, 2005, p.9) Algumas instituições, em particular o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, tem se preocupado em estudar as implicações das mudanças climáticas. Segundo a ONU, dentre os impactos decorrentes do aquecimento global destacam-se: • O aumento da temperatura pode eliminar a grande maioria das áreas úmidas do planeta • O aumento do nível do mar afetando a vida costeira • O aumento de incêndios e tempestades, causando problemas para o s ecossistemas florestais • Os habitat das regiões do Ártico estão sujeitos a mudanças em sua vegetação, com perda da extensão de florestas e tundra • As regiões dos Alpes sofrerão derretimento maior das geleiras, e aumento na duração das estações do ano • As inundações de ilhas e países baixos com o aumento do nível do mar • Os recifes de corais poderão desaparecer com o aumento das temperaturas • Os mangues irão diminuir de áreas devido as inundações das áreas costeiras Esses dados começaram a aparecer a partir do final da década de 1980, quando as Nações Unidas apoiaram a criação do painel internacional de cientistas para estudar e comprovar o fenômeno do aquecimento global e das mudanças climáticas. O primeiro relatório em 1990 foi bastante criticado, mas foi suficiente para que as Nações Unidas apoiasse os cientistas, e solicitasse esforços conjuntos dos países na tentativa de se travar uma solução, ou o início de um trabalho conjunto, contra o aquecimento global. A ONU então patrocinou o surgimento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima (CQNUMC). São dois os principais tratados que disciplinam as iniciativas para conter efeitos do fenômeno das mudanças climáticas: a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e o Protocolo de Quioto. A Convenção e o Protocolo surgem como um sistema de regras, acordadas internacionalmente entre governos, para regular as ações dos diversos atores internacionais sobre a questão do aquecimento global. 3. 2 – O Protocolo de Quioto A Assembléia Geral das Nações Unidas estabeleceu, em 1990, o Comitê Intergovernamental de Negociação para a Convenção-Quadro11 sobre Mudança do Clima. Os representantes de mais de 150 países se encontraram durante cinco reuniões celebradas entre fevereiro de 1991 e maio de 1992 e, finalmente, em 9 de maio de 1992 (DAMASCENO, 2007). Foi criado na CQNUMC um processo de tomada de decisão coletiva entre todos os países, partes signatárias, que iriam fazer parte das rodadas de negociação futuras, reconhecendo a mudança do clima como uma preocupação comum a humanidade, tentando desenvolver uma idéia global, que possuía inserida uma estratégia de como proteger o sistema climático para as gerações presentes e futuras. O principal objetivo proposto foi estabilizar as emissões e conseqüentemente as concentrações de GEE na atmosfera num nível que reduza a interferência antrópica no sistema climático, assegurando que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao crescimento econômico, prosseguir de maneira sustentável (PEREIRA, 2003; MAY, 2003). Segundo Damasceno (2003): 11 O termo “quadro”, traduzido do termo framework, transmite uma idéia de continuidade em um trabalho/processo de negociação internacional que prevê múltiplas etapas e grande complexidade. O Brasil foi o primeiro país que assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima, em 4 de junho de 1992, tendo sido ratificada pelo Congresso Nacional em 28 de fevereiro de 1994, por meio do Decreto Legislativo no 1, de 3 de fevereiro de 1994, e promulgada pelo Decreto no 2.652, de 1o de julho de 1998. Entrou em vigor para o Brasil em 29 de maio de 1994, nonagésimo dia após a ratificação pelo Congresso Nacional. (DAMASCENO, 2007). Tal como o Brasil, os signatários reconheciam naquele momento a existência do problema da alteração do clima no planeta e, o mais importante, que as atividades do homem estavam diretamente ligadas ao aumento das concentrações de gases do efeito estufa, acarretando no problema comum aos países: o aquecimento global. Definiam as obrigações comuns, mas diferenciadas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, assinalando a necessidade de medidas coordenadas e integradas entre os Estados-Partes para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. (DAMASCENO, 2007). A Convenção dividiu, segundo quadro abaixo, as partes envolvidas da seguinte forma: Quadro I – Países anexos I e não anexos I Regiões Anexo I Regiões não Anexo I 1. EUA 2. Japão 7. Países exportadores de energia 8. China 3. União Européia 9. Índia 4. Outros países OCDE 10. Economias dinâmicas na Ásia 5. Europa Oriental 11. Brasil 6. Ex-União Soviética 12. resto do mundo Fonte: ARAUJO, 2006. A Convenção adotou os seguintes princípios (DAMASCENO, 2007): • As partes devem proteger o sistema climático em benefício das gerações presentes e futuras da humanidade com base na equidade e em conformidade com suas responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades. • Devem ser levadas em plena consideração as necessidades específicas e circunstâncias especiais das Partes – países em desenvolvimento; • As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. • As partes têm o direito ao desenvolvimento sustentável e devem promovê-lo. • As partes devem cooperar para promover um sistema econômico internacional favorável e aberto que conduza ao crescimento e ao desenvolvimento econômico sustentável de todas as Partes, em especial das Partes - países em desenvolvimento, possibilitando-lhes, assim, melhor enfrentar os problemas da mudança do clima (DAMSCENO, 2007, p.47) A Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Meio Ambiente passava a determinar responsabilidades comuns, estando todos os países envolvidos em um processo coletivo de controle e proteção ao planeta, mas cada qual, dependendo do seu grau de desenvolvimento, se diferenciava no que diz respeito às obrigações. Esse modelo foi adotado em virtude de a concentração atual dos gases do efeito estufa na atmosfera ser conseqüência principalmente das emissões realizadas por países industrializados no passado. Assim, cada país tem uma responsabilidade diferente. Para a divisão de responsabilidades, os países foram divididos em diferentes blocos, conforme exposto anteriormente (DAMASCENO, 2007). Os países em desenvolvimento não possuem metas de emissão junto à Convenção, mas se comprometeram a adotar medidas que controlem o crescimento de suas emissões, contando, com recursos financeiros dos países desenvolvidos. No caso, o Brasil tem suas atribuições definidas em conformidade com o o art. 4 da Convenção, que estabelece a obrigação de Elaborar, publicar, tornar disponíveis e atualizar periodicamente inventários de emissões antrópicas por fontes e por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal12 (DAMASCENO, 2007, p.44). 12 O Protocolo de Montreal sobre substâncias que empobrecem a camada de Ozônio é um tratado internacional em que os países signatários se comprometem a substituir as substâncias que se demonstrou estarem reagindo com o ozônio (O3) na parte superior da estratosfera, conhecida como ozonosfera. Um dos passos mais importantes da Convenção é a criação da Conferência das Partes (COP). O órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima é o COP, e ele reúne regularmente todos os países signatários da Convenção. Abaixo quadro com os principais desdobramentos das Conferências das Partes: Quadro II - Desenvolvimento das Conferência das Partes COP Local Data Principais Desdobramentos COP-1 Berlim, Alemanha Mar/Abr 1995 Limites de emissão e o calendário a ser cumprido COP-2 Genebra, Suiça Jun 1996 Criação das obrigações legais para reduzir emissões COP-3 Kyoto, Japão Dez 1997 Assinado o Protocolo de Kyoto COP-4 Buenos Aires, Nov 1998 Argentina Acordaram como seriam feitos os financiamentos COP-5 Bonn, Alemanha Out/Nov 1999 Projetos em países em desenvolvimento COP-6 Haia, Holanda Nov 2000 MDL Bonn, Alemanha Jul 2001 Saída dos EUA, incertezas COP-7 Marrakesh, Marrocos Nov 2001 Acordo de Marrakesh COP-8 Nova Déli, Índia Out 2002 As pendências de Marrakesh COP-9 Milão, Itália Dez 2003 As regras para o MDL, reflorestamento! COP-10 Buenos Aires, Dez 2004 Argentina Última conferência antes da entrada em vigor do Protocolo COP-11 Montreal, Canadá Nov 2005 Evento histórico, onde foi discutido o comércio de emissões e o MDL. O COP reuniu-se pela primeira vez em 1995 em Berlim. A COP-1 adotou 21 decisões, incluindo o Mandato de Berlim, que previa novas discussões sobre o fortalecimento da Convenção. A COP -2 aconteceu em julho de 1996 nas Nações Unidas em Genebra, quando foi assinada a Declaração de Genebra, contemplando um acordo para a criação de obrigações legais com vistas à redução de emissões de CO2, que viria a ser celebrado através de Protocolo na Terceira Convenção das Partes COP -3 em Quioto, no Japão, que vai marcar uma nova fase sobre o fortalecimento dos compromissos dos países desenvolvidos (DAMASCENO, 2007). O Conhecido Protocolo de Quioto foi adotado então na COP-3, em 11 de dezembro de 1997, quando cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram do evento. A convenção estabelecia que as partes listadas13, deveriam adotar políticas e medidas de mitigação capazes de fazer que seus níveis de emissão antrópicas de GEE retornassem aos níveis de 1990. Estava nascendo um Protocolo segundo o qual os países desenvolvidos, ou relacionados no Anexo I da Convenção, reduziriam suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990, até o período de 2008 e 2012 (ARTIGO 3o do Protocolo de Quioto). Segundo GAZONI (2007), esse compromisso de vinculação objetiva, pretendeu uma reversão histórica de crescimento das emissões de gases poluentes iniciadas nesses países há mais de 100 anos. A COP-3 criou então, um instrumento legal, com metas quantitativas de redução de emissão de GEE e instrumentos para seu alcance efetivo pelas partes da Convenção, documento chamado de Protocolo de Quioto (MAY, 2003). O Protocolo reconhece a responsabilidade dos países desenvolvidos e industrializados em conter suas emissões, solicita a comprovação desses países de que os mesmos estão criando políticas e medidas que resultem na 13 Países do Anexo I redução das emissões e que estejam de acordo com as suas circunstâncias nacionais, tais como (GAZONI, 2007): • Aumento da eficiência energética em setores relevantes da economia nacional. • A proteção e o aumento de sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, levando em conta os compromissos assumidos em acordos nacionais e internacionais relevantes sobre o meio ambiente, a promoção de práticas sustentáveis de manejo florestal, florestamento e reflorestamento. • Promoção de formas sustentáveis de agricultura à luz das considerações sobre a mudança do clima. • A pesquisa, desenvolvimento e o aumento do uso de formas novas e renováveis de energia, de tecnologias de seqüestro de dióxido de carbono e de tecnologias ambientalmente seguras, que sejam inovadoras. • Redução gradual ou eliminação de imperfeições de mercado, de incentivos fiscais, de isenções tributárias e de subsídios para todos os setores emissores de gases efeito estufa que sejam contrários ao objetivo da Convenção. • O estímulo a reformas adequadas em setores relevantes, visando a promoção de políticas públicas e medidas que limitem ou reduzam emissões de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal. • Medidas para limitar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal no setor de transporte. • A limitação ou redução de emissões de metano por meio de sua recuperação e utilização no tratamento de resíduos, bem como na produção, transporte e na distribuição de energia (GAZONI, 2007, p.56) Mas nem todos os países concordavam com a forma no qual estava estabelecido o Protocolo de Quioto, como Estados Unidos e Austrália, e os mesmos criaram mecanismos a margem do Protocolo, conforme o quadro a seguir: Quadro III – Protocolo de Kyoto e os non-Kyoto compliance Protocolo de Kyoto Grupo dos EUA non-Kyoto compliance Inclui metas e prazos relativos à redução ou Baseia-se na criação de novas tecnologias limitação das emissões futuras de dióxido de energéticas, menos poluentes carbono e outros gases estufa, exceto aqueles já controlados pelo Protocolo de Montreal Contou com a presença de representantes de Pressupõem medidas voluntárias, sem mais de 160 países com vistas ao compromissos de redução de gases cumprimento do Mandato de Berlim adotado em 1995 Inclui três mecanismos de flexibilização a Chamado Parceria Ásia-Pacífico para serem utilizados para cumprimento dos Desenvolvimento Limpo e Clima, é liderado compromissos da Convenção: pelos Estados Unidos - Joint Implementation, JI -Emission Trade, ET -Clean Development Mechanism, CDM Também integram o bloco Austrália, Índia, China, Coréia do Sul e Japão, países que juntos produzem quase metade dos gases causadores do aquecimento global Os EUA e Austrália, países que não assinaram o Protocolo de Quioto, desenvolveram regras próprias de restrição de GEEs e comercialização de créditos de carbono. Em geral, os mercados “não-Quioto” procuram atender às exigências técnicas de Quioto, mas estabelecem metas de reduções menos rigorosas (ARAUJO, 2006). É interessante observar que apesar de existir uma previsão que determina a quantidade de emissão a ser reduzida e as políticas públicas que deverão ser implantadas para alcance da meta estabelecida, a Convenção vincula todas as partes de forma muito subjetiva, principalmente quando incita a cooperação e deixa claro que as metas só serão atingidas através do trabalho conjunto entre as partes. (GAZONI, 2007). O Protocolo de Quioto delimita responsabilidades comuns aos países, porém diferenciada no que tange aos limites de emissão. Enquanto os desenvolvidos devem reduzir objetivamente as emissões até os níveis medidos em 1990, os não listados no Anexo I devem apresentar um inventário nacional de emissões antrópicas, o que tornou as medidas assumidas em Quioto muito genéricas. O Protocolo reconhece que a mudança global do clima requer um trabalho conjunto de todos os países, e afirma que as medidas para mudar o cenário atual, para serem eficazes, terão que ser coordenadas de forma integrada (GAZONI, 2007). A generalização criou margem aos países desenvolvidos para aprovarem posteriormente uma flexibilização do Protocolo, que é justamente o momento em que os países deixam de se basear nos princípios de controle ambiental, criados com o Protocolo, e passam a utilizar do Protocolo para fins financeiros. O Protocolo cria sob a égide de princípios econômicos como custo efetividade e regulamentação baseada em incentivos, mecanismos de flexibilização (GAZONI, 2007). Focado na atribuição de quotas para cada país, ou bloco de países para a redução de emissões para seis gases, dos quais o CO2 é o principal, o Protocolo se firmou como um instrumento internacional de trabalho conjunto e mundial que propõe diretrizes, regras e ferramentas econômicas para a execução de políticas internacionais de controle ambiental, no sentido de reduzir as emissões de gases poluidores. Alinhou principalmente aos mecanismos econômicos para a eficácia na redução de emissões, num rearranjo financeiro visando à eficiência dos resultados, e não mais aos princípios básicos de investimento público e criação de políticas para a proteção e sustentabilidade do desenvolvimento global. Segundo Trigueiros (2007) e Domingues (2007) o Protocolo é um acordo legal e, como tal, prevê penalidades no caso de inadimplemento obrigacional por parte de seus signatários. Existem penalidades previstas dentro de Quioto para o caso dos países não cumprirem as regras firmadas: • Primeira: prestar explicações e contas de seus insucessos a um conselho, que lhe ditará diretrizes e caminhos para que consiga atingi-las. (Ou seja, descrédito público internacional por seu fracasso e ingerência externa em assuntos de foros internos.) • Segunda: Exclusão da sistemática de compra crédito de carbono. • Terceira: O país que desacelera o ritmo de redução de sua meta após 2012, terá a diferença entre a meta e o valor apurado acrescentado no período subseqüente e, este valor será multiplicado por 1.3 (TRIGUEIROS, 2007; DOMINGUES, 2007, p.64). Os países que não cumprirem suas metas, vão acabar sofrendo uma exposição negativa perante a comunidade internacional, além das próprias sanções do Protocolo de Quioto, com a elevação das metas de redução de emissões. Na Europa, muito embora o Protocolo tenha entrado em vigor em 2008, a Comissão Européia decidiu antecipar a aplicação das metas de Quioto já para 2005, evitando um impacto econômico com a entrada brusca em vigor do Protocolo (TRIGUEIROS, 2007 ; DOMINGUES, 2007). A Europa criou, já havia criado anteriormente um mecanismo de intercâmbio comercial de emissões entre as entidades participantes, fazendo que os países começassem desde daquele momento a investir em projetos de redução, principalmente as certificadas, criando um enorme mercado europeu de redução de emissões. A Comunidade Européia ao se antecipar a Quioto fez com que seus países signatários criassem uma capacidade gerencial nesse assunto muito grande, gerando maturidade nos mercados europeus de carbono, antes do Protocolo entrar em vigor. Quando o Protocolo de Quioto entrou em vigor a Europa possuía além dos seus limites já bem reduzidos, também reservas de emissões, que serão comercializadas com os países com dificuldades em cumprir as metas, assim pode estabelecer acordos e realizar concessões com os demais países signatários, em cumprimento ao seu regime interno e, em total atenção às diretrizes estabelecidas no Protocolo. O ponto principal que fica é que o Protocolo teve suas origens completamente deturpadas, e suas bases que tiveram início na tentativa de se criar um desenvolvimento sustentável, acabou por criar um verdadeiro mercado de crédito de carbono, que através dos mecanismos de flexibilização, permite que os países não necessitem realmente investir em políticas internas para o controle das emissões, mas apenas investirem em bons projetos, em países que conseguem desenvolver atividades de redução avançada de crédito, através de mecanismo de desenvolvimento limpo e com a comercialização dos certificados de emissões. Enquanto isso muitos cientistas e ambientalistas argumentam que seria necessária uma redução de 60% das emissões para alcançarmos um nível seguro de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Estando o Protocolo de Quioto em um patamar muito distante da realidade para se conter o aquecimento global. Uma série de eventos, desastrosos no que tange a catástrofes naturais aconteceram após a assinatura do Protocolo de Quioto, e mesmo assim não serviu de argumento para os países inscritos no acordo, deixassem de flexibilizar o Protocolo. As Américas possivelmente presenciaram a pior temporada de furacões nos últimos cem anos (Katrina em New Orleans, com 1.325 vítimas, Rita, com 119 vítimas, Stan na Guatemala, com 1.153 vítimas, e Wilma, com 60 vítimas), sem contar o Indian Ocean Tsunami em 2004 que matou mais de 300.000 pessoas (SABBAG, 2008). O Protocolo de Quioto teve seu início nas evidências dos graves efeitos adversos do aquecimento global, confirmando o fenômeno das mudanças climáticas e da preocupação internacional com o aquecimento do mundo. Tinha como missão alcançar a estabilização da concentração de gases na atmosfera, reduzindo sua interferência no clima e, portanto, contribuindo para a sustentabilidade do planeta. O Protocolo de representou o maior momento histórico de conscientização internacional para o controle da emissão dos gases de efeito estufa, mas os países redirecionaram os seus objetivos em favor do desenvolvimento econômico. Os países conseguiram garantir através dos mecanismos de flexibilização, formas legais de não cumprimento de suas obrigações, em função do pleno exercício das atividades econômicas, deixando de lado as políticas ambientais, na busca de alternativas energéticas. 3.3 - OS MECANISMOS DE FLEXIBILIZAÇÃO Em razão das reivindicações dos países desenvolvidos que entenderam como inviável economicamente a redução da emissão dos gases de efeito estufa, o Protocolo de Quioto criou mecanismos facilitadores. Os mecanismos de flexibilização têm já em seu próprio nome uma das explicações sobre a sua real função, que é a de flexibilizar o Protocolo de Quioto, tendo o propósito de incentivar os países emergentes a alcançar um modelo adequado de desenvolvimento sustentável através do suporte financeiro dos desenvolvidos. Segundo GAZONI (2007) são instrumentos operacionais para utilização dos países, ou empresas situadas nestes países, que oferecem facilidades para que as Partes possam atingir as metas de redução de emissões. De acordo com Pereira (2003) e May (2003) esses mecanismos permitem que um país inserido no Anexo I, contabilize para si unidades de redução de emissão de GEE, sendo que não interessa se irão adquirir por aquisição direta, ou por intermédio de investimento em projetos em outros países. As Nações Unidas entendem que ao contrário da poluição localizada, não importa o local de origem das emissões de GEE, devido ao seu caráter global, a atmosfera absorve e mistura uniformemente esses gases, sem discriminar o local de origem. Ao permitir que parte dos projetos de redução de emissões seja realizada em locais além das fronteiras nacionais, os mecanismos ampliam as opções disponíveis para que os países consigam cumprir as suas metas, e confere aos países envolvidos no escopo do Protocolo de Quioto, certo grau de flexibilidade econômica (PEREIRA, 2003; MAY, 2003). Há três mecanismos de flexibilização previstos no Protocolo: Implementação Conjunta, Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, Comércio de Emissões. No entanto, dos três mecanismos de flexibilidade definidos pelo Protocolo, apenas um, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), diz respeito aos países em desenvolvimento. 3.3.1 - Implementação Conjunta (IC) Lançado pela Noruega na década de 1990, o conceito de Implementação Conjunta foi um dos temas relevantes nas negociações prévias à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (UNCED), no Rio de Janeiro em 1992. Segundo GAZONI (2007) o conceito de IC foi refletido no artigo 4o parágrafo 2o da Convenção, que autorizava as partes do Anexo I a contribuírem para os objetivos da Convenção implementando políticas e medidas conjuntas, ou seja, projetos conjuntamente com outras partes. Permitia a implementação conjunta de projetos para a redução de emissões ou seqüestro de CO2, mas era uma política restrita ao Anexo I, o que deixava o Brasil de fora. Da forma como estavam previstas inicialmente os trabalhos dos países, os mesmos poderiam usar as reduções alcançadas como crédito no cumprimento de parte dos compromissos de redução de emissão. Porém, na COP-1, em Berlim, a insatisfação de alguns países, com este modelo de projeto, levou a criação de um novo modelo, e os projetos passaram a serem denominados Atividades Implementadas Conjuntamente, durante o período piloto até janeiro de 2000 (GAZONI, 2007). A idéia destes projetos era simplesmente estabelecer os protocolos que seriam utilizados e trocar experiências, ou seja, não poderiam reivindicar créditos de carbono antes do período definido para início dos compromissos. Os países do Anexo I poderiam financiar projetos para a redução de emissões em outros países desenvolvidos, recebendo crédito por isso a partir de 2008 e com vigência até 2012, quando termina a primeira fase do Protocolo de Quioto. O Objetivo desse mecanismo é tornar mais barato para cada país a sua meta de redução de emissões de gases de efeito estufa, bem como gerar commodities a serem utilizadas no mercado internacional de emissões de carbono. 3.3.2 - O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) Anterior a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima é a idéia de promover a cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. A idéia é incentivar estes últimos a seguirem um caminho de crescimento mais eficiente no que se refere ao uso de energia, e menos intensivo em emissões de gases de efeito estufa. Esse incentivo acontece porque as ações dos países do Anexo I, em termo de emissões e aumento da temperatura global, são substancialmente superiores as dos países não-Anexo I, conforme o quadro seguinte: Quadro IV – Emissões de gases de efeito estufa e estimativa Países Anexo I Países não-Anexo I Emissões em 1990 75% 25% Concentrações em 1990 79% 21% da temperatura em 1990 88% 12% Estimativa para 2010 82% 18% Estimativa para 2020 79% 21% Contribuição no aumento Fonte: ARAUJO, 2006. A cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento teria a intenção de reduzir emissões de gases de efeito estufa, a custos possivelmente menores nos países em desenvolvimento, que possuem um grande potencial de melhoria de eficiência energética. Essa idéia de cooperação incorpora a noção de “leap – frogging”, ou seja, de um “salto tecnológico” no processo de desenvolvimento desses países, não cometendo os mesmos erros, aqui referindo aos processos de destruição ambiental promovidos pelos países industrializados. Seria uma troca de experiência, em que os desenvolvidos ajudariam os países em desenvolvimento a saltar as etapas erradas e a seguirem por um caminho mais limpo. Mas a problemática que fica é que os desenvolvidos acabam não reduzindo as suas emissões (PEREIRA, 2003; MAY, 2003). O MDL é a alternativa que mais interessa ao Brasil, pois permite que países do Anexo I possam investir em projetos de redução de emissões alocados nos países em desenvolvimento. Foi regulamentado pela COP-7 (Acordos de Marrakesh), e é proveniente da mistura de duas idéias: de um novo fundo de desenvolvimento limpo, proposto pelo Brasil, e de um plano de implementação conjunta entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os diplomatas brasileiros que representavam a Comitiva Oficial do Brasil, haviam rejeitado a proposta original de implementação conjunta. A chamada proposta brasileira, apresentada pela primeira vez na COP-3, trazia uma diferente abordagem sobre como os países deveriam coordenar seus “investimentos ambientais” (PEREIRA, 2003; MAY, 2003). A proposta brasileira marcou a conclusão de um longo ciclo de importantes negociações e inaugurou uma era na evolução do mercado de carbono, garantindo aos países desenvolvidos maiores facilidades ao estabelecer regras claras sobre a geração de créditos de carbono em países em desenvolvimento. O Brasil tem uma posição de destaque nas negociações internacionais acerca da mitigação do aquecimento global, pois possui um potencial muito grande para operar no mercado de créditos de carbono. Abaixo um quadro que demonstra o potencial de participação anual do Brasil no mercado, para o primeiro período do compromisso estabelecido pelo Protocolo de Quioto Quadro V – Potencial de participação anual em 2005 Emissões Mercado Emissão dos países desenvolvidos (em 1990) 13,7 bilhões de t de CO2 Redução comprometida (5,2 do total) 714 milhões de t de CO2 / ano Preço em 2005 (US$ 5,63/ tonelada de CO2 US$ 4,0 bilhões/ano Estimativa da Participação do MDL (40%) US$ 1,6 bilhões/ano Expectativa do Brasil no mercado de MDL US$ 400 milhões/ano (25%) Potencial do Agronegócio no MDL brasileiro (40%) Fonte: Emprapa/MAPA US$ 160 milhões/ano Os dados mostram como é impressionante a capacidade brasileira para sediar projetos de MDL. Para entender melhor o MDL é interessante observar os principais pontos de como ele está previsto no Protocolo de Quioto: - Sob o mecanismo de desenvolvimento limpo: (a) As Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões; e (b) As partes incluídas no Anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitações e redução de emissões, assumidos no Artigo 3, como determinado pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo. - As reduções de emissões resultantes de cada atividade de projeto devem ser certificadas por entidades operacionais a serem designadas pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo, com base em: (a) Participação voluntária aprovada por cada Parte envolvida; (b) Benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a mitigação da mudança do clima, e (c) Redução de emissões que sejam adicionais as que ocorreriam na ausência da atividade certificada de projeto. - A Participação no mecanismo de desenvolvimento limpo, incluindo nas atividades mencionadas no Parágrafo 3 (a) acima e na aquisição de redução certificadas de emissão, pode envolver entidades privadas e/ou públicas e deve sujeitar-se a qualquer orientação que possa ser dada pelo conselho executivo do mecanismo de desenvolvimento limpo. Da forma como está descrito o MDL, a partir deste momento os países desenvolvidos tiveram acesso ao direito da poluição compensada. Após o MDL os desenvolvidos podem financiar projetos de redução de emissão, e após o projeto, comprar as certificadas de emissões, resultantes de projetos executados em países em desenvolvimento, que não façam parte do Anexo I, ou seja, que não possuam metas definidas de redução de emissões. Quadro VI – Principais compradores de RCEs14 Países Share compras (%) Japão 21 Holanda 16 Reino Unido 12 Restante União Européia 32 Demais 19 Fonte: Banco Mundial Os números acima refletem o Princípio do Poluidor Pagador, onde se prevê a cobrança de uma taxa daquele que polui e a destinação dos recursos provenientes dessa taxa para alguma iniciativa de correção daquela poluição. De forma simplista, está dentro do direito de poluir, contanto que se pague por isso (ARAUJO, 2006). O Brasil tem recebido uma série de investimento direto estrangeiro para projetos de MDL. Em três anos de operação, 40 milhões de toneladas de carbono foram negociadas a preços entre 5 e 20 euros. O Brasil já inscreveu mais de 150 projetos de MDL junto as Nações Unidas. A cidade de São Paulo, por exemplo, que é a maior geradora de lixo no país, criou um projeto de biogás e já está recebendo pelos seus créditos (CARBONO BRASIL, 200815). Como o Brasil, diversos outros países têm recebido investimentos para projetos de MDL. O quadro abaixo ilustra os países que ofertam o maior volume de créditos: Quadro VII – Países que mais ofertam projetos de MDL Países Share Ofertas (%) Índia 31 Brasil 13 Restante da Ásia (inclusive China) 14 Restante da América Latina 22 Demais 20 Fonte: Banco Mundial 14 Reduções Certificadas de Emissões, que são os créditos de carbono. www.carbonobrasil.com.br – carbon datas 14 Segundo Araujo (2006) a participação da Índia e do restante da Ásia é expressiva por seus projetos de destruição do HFC23, gás cujo potencial de aquecimento global é 11.700 vezes do CO2 . O Protocolo define que os países que façam investimento em países em desenvolvimento devem, obrigatoriamente, transferirem tecnologia e KnowHow aos receptores dos projetos, para que essas nações ganhem conhecimento suficiente, para a elaboração de um desenvolvimento sustentável. O Brasil possui praticamente todas as áreas, consideradas pelo Protocolo de Quioto, como favoráveis para sediar projetos de MDL: • Agronegócio (agropecuária, floresta, aproveitamento de biomassa) • Energia (álcool, biodiesel e biomassa em geral, eólica, solar, hídrica e eficiência energética) • Resíduos (através da redução de emissões, ou pelo seqüestro do carbono) O Protocolo também define critérios de elegibilidade para que um projeto de MDL seja reconhecido pelas Nações Unidas: • Participação voluntária aprovada por cada Parte envolvida; • Benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a mitigação do clima • Redução de Emissões que sejam adicionais às que ocorreria na ausência da atividade certificada de projeto Para as empresas brasileiras, o MDL se constitui numa grande oportunidade para o desenvolvimento de programas de redução de emissão (ou absorção de CO2), principalmente no que se refere a energias renováveis e a projetos de aumento de eficiência energéticas, pois como dito anteriormente, este tipo de projeto conta com a possibilidade de transferência de tecnologia e de recursos externos de empresas de países do Anexo I, interessadas na obtenção das certificadas de redução de emissão de gases de efeito estufa (ARAUJO, 2006). Os créditos de carbono provenientes desses projetos serão emitidos por organizações credenciadas pelas Nações Unidas, e corresponderão a reduções que decorram da implementação do MDL, estando provado que sem a execução do projeto as emissões estariam mais elevadas (ARAUJO, 2006). EXEMPLO: Uma termoelétrica na Amazônia consome 200 toneladas de óleo diesel por dia e emite por ano cerca de 50 mil toneladas de carbono. Se substituir óleo diesel por gás natural, as emissões cairão pela metade e ela deixará de emitir 25 mil toneladas de carbono por ano. Essa redução poderá ser vendida sob a forma de certificados a uma firma holandesa, que a usará para cumprir suas metas de redução naquele país (ARAUJO, 2006, p.26). A quantificação é feita com base em cálculos que demonstram a quantidade de dióxido de carbono a ser removida ou a quantidade de gases que deixará de ser lançada na atmosfera com a efetivação de um projeto. Após definido a capacidade do projeto, registrado e executado, a autoridade designada pelas Nações Unidas, no país hospedeiro do projeto, irá contabilizar a quantidade de toneladas de dióxido de carbono16 que poderá ser comercializada. 3.3 - Comércio de Emissões O Prototype Carbon Fund (PCF), criado pelo Banco Mundial, define as metodologias para a geração e comercialização dos créditos de carbono conforme os dois quadros a seguir: 16 Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Essa medida internacional foi criada com o objetivo de medir o potencial de aquecimento global (Global Warming Potencial, GWP) de cada um dos seis gases causadores do efeito estufa. Por exemplo, o metano possui um GWP de 20, pois o seu potencial causador do efeito estufa é 20 vezes mais poderoso que o CO2 (ARAUJO, 2006). Quadro VIII – Metodologias para execução de um projeto 1. Elaboração da realização do Projeto 2. Estudo de linha base de monitoramento e verificação 3. Processo de validação 4. Negociação dos Acordos do Projeto 5. Construção e Partida 6. Verificação e Certificação Periódicas Quadro IX – Metodologia para venda do crédito Apresentação Discussão do Carta de Elaboração do Venda das do Portfólio ao Term-sheet da Intenção de contrato de RCEs comprador oferta Compra compra e venda Idéias do projeto Estudos de Elaboração de Contrução do Venda das examinadas viabilidade e de LOI – Letter of contrato de RCEs e sua pelo Fundo atendimento às Intent, como compra em si liquidação Protótipo de necessidades da uma promessa Carbono demanda de compra financeira O comércio de emissões define um mercado de compra e venda do “direito de emitir gases de efeito estufa” – os créditos de carbono. As negociações podem também ser feitas através de promessas de crédito, ou seja, antes mesmo ou durante o ciclo do projeto do MDL, caracterizando o mercado a termo17 de reduções ainda não certificadas de emissão (ou promessas de RCE). Existem dois tipos de comércio de emissão: o comércio de permissões e o de redução de emissões. Ambos podem ocorrer nas Bolsas de Valores, tanto internacionais quanto nacionais, bem como por meio de contratos privados firmados entre as partes interessadas (SABBAG, 2008). 17 É a compra ou a venda de uma determinada quantidade de ações, a um preço fixado, para liquidação em prazo determinado, a contar da data da operação em pregão, resultando em um contrato entre as partes. Quadro X – Categorias principais do comércio de emissões Comércio de permissões de emissão Comércio de reduções de emissão Comércio de permissões de emissão Comércio de reduções de emissão – Res (emission allowances) dentro de regimes (emission reduction) geradas em projetos do Cap-and-trade, como o Comércio de tipo – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Emissões previsto pelo Protocolo, ou os e Implementação COnjunta esquemas de comércio europeu e do Reino Unido As permissões de emissão são As REs já vinham sendo negociadas mesmo comercializadas em quatro mercados antes da entrada em vigor do Protocolo de principais, Reino Unido, Austrália e EUA. Já a Kyoto. Como já existe ainda o risco da não maioria das transações de créditos via certificação, as REs costumam ter valor de projetos de redução ou absorção de GEEs, mercado inferior às permissões de emissões são realizadas em mercados de balcão, ou que, por serem emitidas por governos, seja, registradas em Bolsas oferecem menos risco para o investidor Apesar de ser o ponto de partida, além de elemento catalisador, para o estabelecimento do mercado de emissões, o Mercado de Quioto não é o único do mercado de carbono. Entre outros, existem ainda o Mercado de Chicago, liderado pelos mecanismos auxiliares criados pelos Estados Unidos e o Mercado Europeu, regulamentado pelo regimento interno da União Européia. Grandes empresas e investidores internacionais vêm investindo na compra antecipada de crédito de carbono. O investimento se dá com a compra dos direitos sobre os créditos de carbono que um empreendimento vai gerar, quando o projeto ainda está no papel, ou mesmo na fase inicial. A vantagem da compra antecipada é pagar um preço reduzido pelos créditos, os quais, quando estiverem validados, registrados na ONU e posteriormente verificados, poderão ser vendidos por cerca de cinco vezes o valor inicial. Para os países desenvolvidos e grandes companhias que precisam reduzir o nível de emissões de CO2 e se enquadrar no Protocolo de Kyoto, o investimento no mercado futuro de carbono tem sido a melhor opção (VIDIGAL, 2007). O Brasil é pioneiro na geração de créditos de carbono através de projetos de MDL: O Projeto Novagerar, desenvolvido na Central de Tratamento de Resíduos Nova Iguaçu, RJ, foi o primeiro do mundo a ser oficialmente inscrito como projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, MDL do Protocolo de Kyoto. O registro foi feito no Executive Board da ONU no Comitê de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, em 18 de novembro de 2004, na sede do MDL em Bonn, Alemanha (ARAUJO, 2006, p33). O gás que foi produzido na CTR de Nova Iguaçu foi reutilizado para a produção de energia limpa. A matéria orgânica do lixo em decomposição produz gás de aterro (Biogás), composto por 50% de metano, um dos gases do efeito estufa. Esse gás foi drenado, canalizado e transformado em combustível que alimenta as unidades de tratamento dentro da própria CTR. O projeto ainda prevê a instalação de usinas geradoras de energia elétrica que terão capacidade para iluminar os prédios públicos de cidade de Nova Iguaçu, cuja a população é de quase 1 milhão. O Projeto Novagerar atraiu interesse do governo da Holanda que por meio do Banco Mundial, BIRD, fechou contrato com a empresa para a compra dos créditos de carbono. Este é o primeiro projeto do Brasil ligado à destinação final do lixo que tem o apoio do BIRD (ARAUJO, 2006, p.33). Hoje o Brasil conta com quase 200 projetos geradores de crédito de carbono, considerando os que estão em análise pela Comissão Interministerial de Mudança Climática (CIMGC) do governo federal, bem como aqueles já registrados pela ONU, o que pode resultar em RCEs geradoras de um potencial mercado de aproximadamente 3 bilhões de euros. Esse mercado gigantesco faz que os países e suas empresas, incluam no quadro de investimento corporativo, uma porcentagem específica para os créditos de carbono. Atualmente é sem dúvida um dos maiores mercados financeiros da história. O direito de poluir, ancorado pelo Protocolo de Quioto, colocou nas mãos do mundo em desenvolvimento o poder de executar transações eficientes, formatando o meio ambiente como um novo mercado. É o surgimento das commodities ambientais. As iniciativas de redução de emissões, para inclusão no mercado de carbono, envolvem diversos países. O Governo Federal brasileiro está propagandeando de forma intensiva o fato de o Brasil possuir uma das matrizes energéticas mais limpas e renováveis do mundo. Tem apoiado uma série de investimentos em projetos de MDL no Brasil, chamando a atenção dos investidores para os projetos bem sucedidos no qual utiliza combustível alternativo aos derivados de petróleo, como álcool, biodiesel. O governo vem tentando qualificar o Brasil positivamente no processo de implantação do MDL. Mas o Brasil não está sozinho, vai enfrentar bastante concorrência internacional, principalmente de China, Índia, México, Indonésia, Malásia e África do Sul, sendo que os dois primeiros possuem oportunidades de redução de emissão maiores, já que têm uma matriz energética altamente poluente, com base na queima de carvão mineral e uso intensivo de derivados do petróleo. Dentro do próprio Brasil as empresas entram em concorrência, como a indústria de papel, siderurgia, alimentos, mineração açúcar e álcool, aterros sanitários, petróleo, cimento, transportes. Competem entre si juntamente com outras de demais países pelos fundos ambientais (CORNEJERO, 2007). O mercado de carbono hoje funciona como os mercados regulares de commodities. As firmas então entrando neste mercado, não pela questão ambiental, mas para lidar com esta nova commodity que têm demonstrado gerar uma resposta econômica, muito superior a outros negócios tradicionais. 4- Conclusão: As principais conclusões do que foi exposto no estudo, podem ser entendidas de acordo com a própria estrutura da pesquisa. O primeiro passo foi mostrar que as ações antrópicas afetam diretamente o clima do planeta, gerando fortes influências para o fenômeno do aquecimento global, evento que pode gerar conseqüências catastróficas para o mundo. A atenção também foi chamada para a evolução do pensamento sobre o desenvolvimento sustentável, tendo como âncora a ONU, que demonstrou através de diversas conferências e relatórios (IPCC), que os países podem se desenvolver transformando produtivamente a natureza de modo ecologicamente equilibrado. A ONU, por meio da criação da Conferência-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, tentou promover mudanças radicais nos sistemas socioeconômicos e sociais dos países, demonstrando ao mundo através de diversos relatórios climáticos, que o grande dilema que a humanidade enfrentará neste século será conseguir promover desenvolvimento econômico sem agravar o aquecimento global. Em um segundo momento, estudou-se a criação de um instrumento criado pela CQNUMC, o Protocolo de Quioto, que visava o trabalho conjunto dos países interessados em reduzir as emissões de gases de efeito estufa da atmosfera. Esse instrumento buscava reduzir de forma eficiente as emissões e incitava o trabalho cooperado global na busca por resultados positivos contra as mudanças climáticas. Os signatários do Protocolo por sua vez, ao entender que os custos de redução das emissões eram altos, criaram mecanismos de flexibilização que facilitavam o cumprimento das metas previstas no Protocolo. É justamente neste momento, que os países desenvolvidos deixaram de investir em políticas públicas de redução de emissões em seus territórios, e passam a negociar créditos de carbono no mercado financeiro. O mercado mundial de trocas de créditos de carbono cresce exponencialmente com base nos projetos de MDL. E os países em desenvolvimento que não possuem metas de redução de emissões no Protocolo, agora tentam convencer países desenvolvidos a investirem em projetos de carbono, aproveitando as oportunidades geradas pelo Protocolo de Quioto, na tentativa de lucrar com elas. Finalmente, o estudo demonstrou que o Protocolo de Quioto que tinha como objetivo contribuir com a sustentabilidade do planeta, se transformou em um mercado financeiro sem precedentes, capaz de movimentar cifras importantes, através de mecanismos que permitem a certificação de projetos de redução de emissões e a posterior venda desses certificados. O comércio de emissões criou uma das mais interessantes áreas de investimento do mercado, as commodities ambientais, mas que estão às margens das regras morais para a mitigação do aquecimento global. 5- Referências Bibliográficas: ALLEY, Richard B, tradução Alberto Holtz. Mudanças Climáticas Brusca. Especial Scientific American Brasil: A terra na estufa. São Paulo, 2005. ARAUJO, Antonio Carlos Porto, Como comercializar créditos de carbono, São Paulo, 2006. BENEDICK, Richard E. Contrasting approaches: the ozone layer, climate change and resolving the Kyoto dilemma. Berlim, 1999. 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