EITT/PUCSP – Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia RED ECONOLATIN – UNIVERSIA/Universidad Autónoma de Madrid Conjuntura Econômica do Brasil – Setembro 2010 Profa. Anita Kon Dados divulgados no final de agosto a respeito das contas públicas do Brasil, mostram uma piora no superávit primário previsto, acumulando em 12 meses até julho, uma participação de 2,03% do PIB, abaixo dos 3,3% previstos, o que levou o governo federal a fazer a primeira alteração na meta fiscal para este ano. Dessa forma, o Tesouro Nacional reduziu em R$ 10 bilhões (25%) a meta de economia do governo federal para o ano até agosto. Estes resultados ocorreram apesar do aumento de 10,76% na arrecadação de janeiro a julho de 2010, em comparação com o mesmo período de 2009. Por outro lado, a inflação permaneceu estável indicando uma desaceleração na economia e fica em 4,6% em 12 meses, próxima ao centro da meta do Banco Central (4,5%). A diminuição da inflação acalma a pressão para que o Comitê de Política Monetária do BC continue com um ciclo de aumento de juros mais longo e agressivo que o atual, no entanto as previsões sobre os juros mostram que devem ter mais uma alta em 2010, e os economistas ouvidos pelo BC esperam que taxa chegue a 11% em setembro, pois o Banco Central deverá promover em setembro a última elevação da taxa básica de juros do atual ciclo de aperto monetário. No entanto, apesar de subirem menos neste ano, a expectativa do mercado é de um novo ciclo de aumento dos juros em 2011, já no próximo governo e para os próximos dois meses, a estimativa é que o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) volte a subir, devido aos reajustes das tarifas e aluguéis (IGPs) que voltaram a subir e estão próximas a 8,5% para 2010. A previsão para a atividade econômica no segundo semestre é de aceleração, com o aumento da renda e do emprego e a inflação pode voltar a subir, o que poderia ser usado como argumento para a alta do juro oficial (Selic), usado pelo BC para controlar o ritmo da economia. Porem outros analistas dizem que o dado sobre preços mostra um cenário de inflação controlada, o que apoia a tese de manutenção da taxa básica de juros em setembro, após três altas consecutivas. A situação da moeda mostra que a sobrevalorização do Real em junho atingiu pela primeira vez o mesmo nível de sobrevalorização em termos reais (75,6) registrado em dezembro de 1998, às vésperas da maxidesvalorização da moeda brasileira, que levou à adoção do câmbio flutuante. O câmbio sobrevalorizado é sinônimo de menor competitividade dos bens e serviços comercializados pelo país. O saldo brasileiro em conta-corrente tem se deteriorado a uma velocidade rápida. Para alguns economistas, a valorização do real é explicada pela considerável diferença entre o nível de juros doméstico e as taxas internacionais, além da percepção de que o risco de investir no Brasil caiu, que ajudam a atrair capitais para o país,sustentando o valor do real. Esta sobrevalorização contribui para a continuação do crescimento do rombo nas contas externas, e o deficit é cada vez mais financiado por capital volátil, de curto prazo. As condições do Brasil de Real forte e juro alto atraem estrangeiros, desde que os investidores captam dinheiro com custo baixo no exterior e buscar investir recursos no país em busca de alto retorno, com expectativa de valorização da Bolsa de Valores. Este retorno de investidores estrangeiros para a Bolsa de Valores ajudou o Brasil a registrar em julho um saldo positivo no fluxo de dólares, que contribuiu para manter a cotação do dólar próxima de R$ 1,75. e a expectativa é que a moeda se mantenha nesse nível. Nas férias escolares brasileiras de julho, a valorização do real em relação às principais moedas mundiais levou os gastos dos brasileiros no exterior a novo patamar recorde, que não coincidem apenas ao período de férias escolares. No entanto, no mesmo período, turistas estrangeiros trouxeram ao Brasil 30% do valor gasto por brasileiros no exterior, tendo em vista o comportamento da economia nos EUA e na Europa, regiões de origem para o turismo no Brasil. Assim, o déficit das transações do país com o exterior volta ao nível de 2002. O resultado negativo de 2010 tem sido resultado do aumento nas remessas de lucros e dividendos para o exterior, pelos gastos com turismo e outros serviços e pelas importações. Com relação à Balança Comercial, corrente de comércio entre o Brasil e o resto mundo voltou a apresentar níveis anteriores à crise internacional. Em julho, tanto exportações quanto importações recuperaram as perdas registradas em 2009, porém o superavit de US$ 1,358 bilhão mostrou queda de 53,35% em relação ao verificado em julho de 2009. No caso das exportações, em julho houve crescimento nas vendas para o exterior de 30,7% e nas importações houve um incremento de 51,9%, o que explica que o crescimento mais acelerado nas importações resultou em um superavit brasileiro neste ano menor que o de 2009. A demanda para as importações de bens de capital, de insumos para indústria e de petróleo estão aquecidas. Levantamento da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica, que monitora a inovação na indústria, mostra que o déficit da balança comercial em produtos e serviços de alta e médiaalta tecnologia no país terá aumento inédito em 2010, particularmente pelas importações de chips, insumos da indústria farmacêutica e máquinas especiais e incluem ainda gastos com as compras de insumos, componentes e equipamentos para as indústrias química, eletroeletrônica e de bens de capital, gastos do país com o aluguel de equipamentos não disponíveis no Brasil, bem como pagamento de royalties pelo uso de tecnologias importadas. Dessa forma, a demanda doméstica é que vem impulsionando a atividade industrial, como indica o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que vem aumentando embora com desaceleração das taxas de crescimento. No entanto a dívida de consumidor de SP no mês cresceu 24%, e o limite do endividamento pessoal está próximo, como é verificado pelo aumento da lista de devedores do Serviço Central de Proteção ao Crédito, que no primeiro semestre foi 24% maior do que o registrado em igual período de 2009. O comportamento da indústria vem mostrando nos últimos meses uma inconstância, com queda no ritmo de produção embora o emprego no setor continue em ascensão e deve continuar em elevação nos próximos meses, mas, provavelmente, a taxas inferiores das registradas neste ano. Em julho a taxa de desocupação foi de 6,9%, diminuindo 1,1% em relação a julho de 2009, porém a população desocupada ficou estável no mês e recuou 11,3% na comparação anual, enquanto a população ocupada também manteve-se estável no mês e cresceu 3,2% em relação a julho do ano anterior. O que se verifica portanto, é que a pouco significativa queda do indicador não se deveu ao aumento do número de postos de trabalho no mês, mas sim à diminuição de pessoas à procura de emprego.. EITT/PUCSP – Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia Contatos: [email protected] - São Paulo/Brasil. Assistente de pesquisa: Emmanuel Nakamura