35 RESPOSTAS PARA ENTENDER O ATUAL CENÁRIO Considerações acerca do recente movimento de desvalorização dos mercados Ao longo de 2011, em especial no mês de agosto, observamos um movimento bastante atípico nos mercados de capitais com intensa desvalorização das principais bolsas de valores. Como diz o título, o objetivo deste relatório é entender os principais pontos, que acreditamos ser pertinentes, acerca do atual cenário macroeconômico. CENÁRIO MACROECONÔMICO: ECONOMIA MUNDIAL 1. O que está acontecendo com o mundo? Estamos passando, possivelmente, por uma revisão das expectativas de crescimento global por conta da deterioração econômica de uma série de países, em especial as economias desenvolvidas. 2. Como isso começou? Observamos uma expressiva alavancagem das instituições financeiras até 2008, tendo seus balanços contaminados por carteiras de crédito consideradas “podres”. Para ajudar, os bancos centrais ao redor do mundo atuaram, conjuntamente, para recomprar os títulos em questão. 3. Onde isso foi parar? Com a “limpeza” dos balanços corporativos, os países que o fizeram passaram a ter seu balanço prejudicado. Excessos de gastos na tentativa de incentivar as economias contribuíram para uma alavancagem dos países, em especial os da Zona do Euro e os Estados Unidos, os mais afetados na crise de 2008. 4. O que esse movimento vem trazendo? Com seus balanços comprometidos e as economias alavancadas, países como Irlanda, Grécia, Portugal, e, mais recentemente, Itália e Espanha, vêm enfrentando dificuldades em realizar novos endividamentos. Esse movimento chamado de “rolagem de dívida” é crucial para que os governos consigam honrar seus empréstimos de curto prazo adquirindo outros com perfil de longo prazo. 5. E esta alavancagem? O gráfico ao lado mostra a relação de Dívida Líquida de diferentes países como proporção de seu Produto Interno Bruto (PIB). Fica claro que, atualmente, os países considerados desenvolvidos apresentam uma relação de dívida bastante elevada, inclusive bem superior a realidade dos emergentes como Brasil. Em condições extremas, como é o caso grego, torna-se muito “caro” rolar tal dívida, visto que o mercado exige taxas maiores para continuar a financiar a economia. Os receios de que tal evento aconteça com outros países como Itália e Espanha estão no cerne do noticiário macroeconômico atual. 6. Essa dificuldade pode levar ao fim da Zona do Euro? Difícil afirmar tal alegação, pois existe uma infinidade de variáveis que influenciam na construção de diversos cenários. Porém uma coisa é certa, nunca houve uma probabilidade tão elevada do fim da área comum européia como agora. Basicamente, a região é “sustentada” pelas economias superavitárias como da Alemanha e da França, que possuem uma situação macroeconômica mais confortável, mas ainda sim têm sua capacidade de atuação limitada. 7. Espanha e Itália são um problema? Sim, porque caso essas economias continuem a enfrentar dificuldades em “rolar” suas dívidas de curto prazo, os países em melhor situação fiscal podem não ter robustez para “acolher” esses dois países. É como dizer que Itália e Espanha são grandes demais para serem “carregados” pela Zona do Euro. 8. Os Estados Unidos também são um problema? Sim, pois os estímulos que o governo implementou desde a crise de 2008, não surtiram o efeito desejado. Com isso, importantes indicadores econômicos como atividade industrial, desemprego e confiança do consumidor permanecem em níveis alarmantes. Além disso, o país enfrenta a grave questão do seu elevado endividamento, que apesar de ter seu teto aumentado recentemente, ainda está em níveis preocupantes. CENÁRIO MACROECONÔMICO: FALTA DE REFERÊNCIA O mundo vive hoje um momento único de sua história. Paradoxalmente, a frase do ex-presidente Lula se faz apropriada para o atual momento: “nunca antes na história mundial recente vivemos um momento como o atual.” Estamos passando por uma “crise de referência”. Saímos da Guerra Fria com uma potência e um modelo vencedor, o capitalismo americano. Até então, este tem sido totalmente hegemônico e influente para diversos ambientes da economia. Seus dois atores principais: (i) o dólar como referência de moeda e exercendo todas suas funções – uma moeda fiduciária que funciona como reserva de valor, como meio de troca para transações e unidade de medida referencial e; (ii) os títulos de dívida dos EUA servindo como parâmetro de títulos sem risco. Isso tudo se traduz no seguinte: em momentos de instabilidade econômica, no passado, a forma clássica de se precaver era através da compra de dólar ou dos títulos de dívidas americano (Treasury bonds ou títulos do tesouro). 9. Será que o dólar e os Treasuries representam uma opção segura? O estopim da discórdia foram as recentes discussões em torno da necessidade da elevação do teto da dívida norte-americana nas últimas semanas, culminando com o rebaixamento dos títulos de sua dívida. Para a agência de classificação de risco Standard & Poor´s (S&P), os EUA já não representam um porto tão seguro assim. Por isso, a agência rebaixou os títulos de dívida americanos, levantando dúvidas quanto a sua capacidade de pagamento. Para a S&P, os EUA deixaram de ser AAA = risco zero (triple A= conceitos como agilidade, adaptabilidade e alinhamento) e passaram a ser AA+. 10. Qual o efeito para economia americana? A medida pode elevar os custo de captação para o governo norte-americano e, conseqüentemente, para as empresas e os consumidores, gerando efeitos nocivos à economia. Por outro lado, tal medida tende a refletir no enfraquecimento do dólar como referência de valor, o que ajudaria nas exportações do país e equilibraria sua balança comercial. 11. Existe substituto para o Dólar e os Treasuries? Respondendo de forma objetiva, não. O substituto natural mais provável seria o Euro, mas dado a delicada situação econômica da Europa, que suscita dúvidas inclusive quanto a sustentabilidade do Euro, faz com que este também não funcione. De forma prática, os mercados vêm buscando outros ativos que funcionem especialmente como reserva de valor. Isso justifica a alta de 23% do Ouro em 2011 e 25% do franco suíço. Outro ponto que corrobora tal visão é o fato de que os treasurys bonds, assim como dólar, apresentaram forte demanda nos últimos dias, mostrando que na falta de referência, tais ativos ainda são demandados como uma resposta a busca pela liquidez e em momentos de aversão a risco. 12. Poderia surgir uma Nova Ordem capitaneada pelos países emergentes? Parece-nos um tanto quanto prematuro afirmar isso. O quadro ao lado mostra algo que já vem ocorrendo nos últimos anos. Os países em azul são aqueles que deverão apresentar maior crescimento de PIB em 2011 e são, justamente, aqueles considerados emergen-tes. Ou seja, tais países vêm sustentando o crescimento mundial. No entanto, dado o nível de abertura das economias e a dependência externa que algumas delas apresentam, não sabemos se estes países têm força para sustentar o crescimento em escala global. 13. Qual o papel assumido pela China? O gigante asiático vem se movendo de forma cautelosa. O país teme pelos Estados Unidos, pois além deste ser seu principal par-ceiro comercial, também detém a maior parte das suas reservas cambias em dólares. Além disso, o país possui uma economia ainda muito primitiva, voltada ao mercado externo e sem um mercado interno suficientemente desenvolvido para sustentar seu pujante crescimento. Apesar de crescer a passos largos, o gigante asiático possui uma cultura ainda muito diferente do mundo ocidental, um regime político não democrático e uma moeda artificialmente desvalorizada para sustentar suas exportações. 14. Será que o mundo está preparado para essa mudança de referência? Difícil resposta. Grande parte dos contratos e negociações do mercado financeiro ainda têm como parâmetro o dólar. Além disso, os padrões de cálculo de juros cobrados por emissões de dívidas de empresas e países utilizam-se dos títulos de dívida americano como referência de ativos livres de risco. Tudo isso dificulta uma simples substituição do dólar e dos treasuries por outras referências. Seria necessário uma coalizão internacional capaz de desenvolver novos parâmetros confiáveis e aceitos pelo mercado. Na dúvida, a reação normal do mercado é a fuga do risco reduzindo exposição à ativos de renda variável. Esses recentes movimentos dos mercados corroboram a ideia de “manada”, atualmente. Os mercados vêm buscando outros ativos que funcionem como reserva de valor. Isso justifica a alta de 23% do ouro e 25% do franco suíço, em 2011 CENÁRIO MACROECONÔMICO: BRASIL O Brasil com certeza não é uma ilha e, por mais que fosse, certamente sentiria os reflexos dos fatores condicionantes da economia mundial internamente. Os principais fatores observados recentemente são: (i) pressões inflacionárias, em parte decorrente de preços elevados das commodities; (ii) Real sobrevalorizado ante o Dólar afetando nossas exportações e elevando a competição com produtos externos, dado o aquecimento de nossa economia. A economia brasileira está sólida para enfrentar mais uma “crise” internacional. O País vem fazendo o dever de casa, ajustando as contas públicas, mantendo saldos positivos na balança comercial e acumulando reservas cambiais. Em síntese, o Brasil tem gordura para queimar e por isso apresentou uma rápida recuperação após a última crise mundial. 15. Então a crise externa seria mais uma “marolinha” por aqui? Difícil responder tal questão, pois não temos como precisar o tamanho (magnitude e durabilidade) da crise atual. O ponto principal de “contágio” de tal crise externa no Brasil se daria, em nosso entendimento, através de uma queda acentuada da demanda e dos preços de commodities, dado que ainda somos uma economia exportadora de produtos básicos. 16. Brasil é uma economia dependente do mercado externo? Apesar de não ser uma ilha, vale a ressalva que o setor exportador hoje representa fatia inferior a 15% do PIB brasileiro, enquanto em economias emergentes comparáveis ao Brasil, tal número chega a 30%. Sendo assim, mesmo em um cenário de crise externa seríamos menos afetados que outros países. 17. Que condição diferenciada é essa? A figura ao lado dá o tom da diferença que existe entre o Brasil e as economias desenvolvidas como EUA, França e Reino Unido. Lá, o desemprego aumentou após a crise financeira de 2008 e manteve-se elevado. Já no Brasil a situação é diferente. O desemprego está próximo aos níveis mínimos da história (em 6%) e a renda do brasileiro nunca foi tão alta. Por isso vemos em diversos meios de comunicação artigos a respeito da emergência de uma nova classe média no Brasil. 18. Nova classe média? Segundo pesquisa realizada pelo instituto Data Popular, chegou-se a conclusão que existe no Brasil uma nova classe média. Tal classe que engloba 104 milhões de brasileiros, apresenta potencial de consumo de R$ 1 trilhão por ano, o que equivale ao PIB da Argentina, Portugal, Uruguai e Paraguai somados. 19. E qual é o perfil dessa nova classe? Dentre as constatações do estudo, verificou-se que 59% dessas pessoas possuem cartão de crédito e 53% têm conta em banco. Essa novo perfil de consumidores faz com que tenhamos uma grande vantagem em relação aos outros países: um mercado interno forte que sustenta uma demanda local relativamente aquecida mesmo com turbulências externas. 20. Mas só emprego e renda sustentam nossa economia? Não. A vantagem é que possuímos outras alternativas e mecanismos que atuam de forma anticíclica minimizando os efeitos de uma crise. Vejamos os principais: (i) Instrumentos de política monetária, tais como redução das taxas de juros, recompra de títulos, redução das taxas de redesconto e de compulsório. Todos fatores que elevam a oferta de moeda no âmbito interno e contribuem para expansão da economia; (ii) Medidas de Política Fiscal, como programas de incentivo a economia (PAC, MCMV,...), possibilidade de desoneração fiscal e estímulos setoriais; (iii) Parque fabril diversificado e menos dependente de um único tipo de produto ou mercado; (iv) Mecanismos estabilizadores da demanda, tais como benefícios sociais, seguro desemprego, FGTS, entre outros que ajudam a sustentar a demanda interna; (v) Elevado níveis de reservas que funcionam como um confortável colchão de liquidez. 21. O que esperar para o cenário interno? Caso ocorra um recrudescimento de um cenário externo, acreditamos que o governo interrompa o ciclo de elevação de juros, apostando numa acomodação dos preços em função de um cenário externo mais adverso. Outro efeito possível seria uma valorização (ainda que tímida) do Dólar frente ao Real, o que surtiria efeito positivo para alguns setores, principalmente, no que tange a concorrência com o produto externo. Mesmo com um cenário mais fraco existe motivo para acreditar que o crescimento do PIB brasileiro, apesar de pouco expressivo, será o 6º maior do mundo em 2011, perdendo apenas para: 1º China; 2º Índia; 3º Argentina; 4º Arábia Saudita e 5º Turquia. 22. Então o país está mais preparado do que em 2008? Sim. É diante da lição da última crise que o investidor precisa ter calma e buscar entender os fundamentos da economia nacional, pois com certeza refletirá e concordará que o País está mais forte do que na última crise. Assim, na medida em que a economia está aquecida e o mercado de trabalho pulsante, uma desaceleração mundial abriria espaço para a queda nas taxas de juros, tornando o mercado de renda fixa menos atraente. 23. Como vem performando os principais mercados acionários? A situação é bem ruim. As bolsas européias oscilam com desvalorização entre 14% e 22% em 2011, enquanto que as americanas entre 6% e 11% de queda no ano. 24. E o Ibovespa? O índice que melhor representa a bolsa brasileira acumula desvalorização de 30% em 2011, a maior entre os principais índices das maiores bolsas de valores do mundo. Entendemos que a forte queda recai principalmente sobre: (i) cenário inflacionário no país tornando renda fixa atraente; (ii) medidas macroprudencias fragilizando a confiança do investidor; (iii) liquidez do mercado brasileiro entre as maiores do mundo; (iv) queda do Dólar frente o Real proporcionan-do ganho cambial ao investidor estrangeiro; 25. Seus múltiplos começam a chamar atenção? Sem dúvida. A recente queda do Ibovespa (17,3% nas primeiras 6 sessões de agosto) passa a chamar atenção dos investidores, principalmente por conta de distorções de preços, quedas acentuadas e até mesmo excesso de resiliência de alguns papéis. 26. Pelo indicador de Preço/ Valor Patrimonial (P/ VPA) é possível identificá-las? É uma das forma mais comuns e simplistas. Os múltiplos avaliam o valor de mercado da empresa sobre seu patrimônio líquido. Caso o valor de mercado seja maior que o patri-mônio líquido, significa dizer que a empresa é negociada com prêmio sobre seu patrimônio. Ao contrário, indica desconto frente ao valor contábil. 27. E como esta sendo negociado esse indicador? Após a forte queda dessa última segunda-feira, passamos a identificar 24 papéis que compõem o Ibovespa sendo negociados abaixo do valor patrimonial. Como o índice atual-mente é composto por 66 empresas, significa dizer que 36% dos papéis do Ibovespa estão descontados frente seu valor patrimonial. Vemos ativos de grandes empresas como Petrobras, Gerdau , Fibria, entre outras negociando a uma relação P/VPA de 0,8x, 0,7x e 0,4x respectivamente. 28. Como ficaria caso o Ibovespa rompesse a barreira dos 40 mil pontos? Estimamos que 50% dos papéis do Ibovespa estarão sendo negociados abaixo de seu valor patrimonial. 29. Qual seria a consequência? Difícil calcular com exatidão os movimentos do mercado, que acima de tudo são pautados pelo sentimento dos investidores, que oscilam de forma e em períodos não padronizados. Acreditamos que caso o cenário de contínua desvalorização perdure, teremos em contrapartida uma enxurrada de programas de recompra de ações e até mesmo fechamentos de capital. Na última semana inclusive, começaram especulações em relação à possibilidade da Gafisa ter seu capital fechado por um de seus ex-controladores; 30. Teria outra métrica para avaliar o Ibovespa? Outra usual medida para avaliar o valor das empresas brasileiras e principalmente a bolsa brasileira é o P/L. Tal indicador é composto do valor de mercado das empresas que compõem o Ibovespa, dividido pelo lucro que estas nos últimos 12 meses. 31. Como vem sendo negociado tal múltiplo? Atualmente, o P/L do Ibovespa está em 7,51x. Isso quer dizer que caso as empresas mantenham seus lucros inalterados, em 7,5 anos 100% do investimento retornaria exclusivamente via seus lucros. 32. E no mercado externo? Conforme a tabela, o múltiplo da bolsa brasileira figura entre os menores do mundo, perdendo apenas para a bolsa espanhola (IBEX 35). Ou seja, significa que a bolsa brasileira é uma das mais baratas em termos de P/L no mundo. Importante também destacar que mercados emergentes como o chinês apresentam múltiplos cerca de 2x superiores ao da bolsa brasileira. 33. E como está sendo negociado o P/L em relação a 2008? Em outubro de 2008, no auge da crise, o Ibovespa havia alcançado a mínima de 29.435 pontos, sendo negociado a um P/L de 6,71x. Como o P/L atual é de 7,51x significa dizer que para voltarmos à mínima desde a crise, o Ibovespa ainda poderia desvalorizar-se 10,7%, o que representaria 43.461 mil pontos. 34. Ou seja, os 29 mil pontos de 2008 agora são 43 mil pontos? Exato. Essa mudança deve-se ao fato que, desde 2008 até hoje, as empresas brasileiras reportam maiores Lucros Líquidos e, com isso, a pontuação do Ibovespa ajusta-se a esse novo cenário, sendo necessariamente elevada. 35. É correto afirmar que atingindo 43 mil pontos a queda cessa? Devido ao cenário ser diferente de 2008 e não ser possível medir a reação dos agentes de mercado, entendemos que os 43 mil pontos representam uma barreira psicológica importante, mas não há como afirmar que seria exatamente esse o momento da inflexão do Ibovespa. CONCLUSÃO: Por meio deste relatório, tentamos discutir as principais questões dos investidores. Chegamos a uma clara constatação que os recentes movimentos envolvendo a economia dos Estados Unidos, Espanha e Itália, serviram de estopim para uma expressiva aversão ao risco nos mercados globais de renda variável. A solução não é simples pois deverá envolver uma ação coordenada de diversos bancos centrais provavelmente recomprando títulos de economias fragilizadas e conseqüentemente aliviando seus balanços. Por outro lado, os países ajudados seriam obrigados a promover cortes em seus orçamentos, bem como reduzir seus elevados benefícios sociais, o que por sua vez, refletiria negativamente na atividade econômica global. Dada a complexidade do cenário, especialmente o europeu, põe-se em cheque a continuidade dos países fragilizados na Zona do Europa, que poderia futuramente representar uma cisão, ou até mesmo o fim da área comum européia. Já no Brasil, fica evidente que o cenário é diferente. Nossa economia está superaquecida, sofrendo inclusive de inflação acima da sua meta. O país pode ser atingido por uma piora do cenário global, principalmente por conta de uma abrupta queda nas cotações das commodities, que são a base das exportações brasileiras. Ainda assim, com um “colchão de liquidez” bastante superior ao da crise de 2008 e com os fundamentos solidificados, acreditamos que, por mais que exista uma deterioração do cenário externo, o país encontra-se bem preparado. Além disso, é importante lembrar que como uma economia emergente, o país goza de um crescimento acima da média mundial, conforme a tabela na pág. 2, e ainda sim é negociado com desconto sobre seus pares emergentes que já não crescem tão vigorosamente. Por fim, tentamos esclarecer, da forma mais sucinta possível, o atual cenário da economia global e como a economia brasileira está inserida. O SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO Luiz Carlos Bresser-Pereira Conjuntura Econômica, 59 Um sistema é sempre um conjunto de elementos articulados entre si de forma a constituir um todo. Essa articulação ou coordenação dos elementos obedece a uma lógica, que é a da sobrevivência, quando se trata de sistema vivo. Quando se trata de um sistema social, o objetivo mínimo é igualmente a sobrevivência, ou a segurança, mas como e formado de agentes racionais dotados de vontade, há um objetivo econômico adicional: o bem-estar. Esta afirmação não e arbitraria: com o trabalho, que é o elemento básico de qualquer sistema econômico, o homem visa melhorar seu padrão de vida. Quando, finalmente, se trata de um sistema social dotado de um Estado moderno e democrático, ou seja, dotado de um instrumento de ação coletiva, o bem-estar deixa de ser um objetivo implícito e passa a ser explicito. Os governos dos Estados-nação, apoiados e legitimados por seu povo ou nação, passam a desenvolver estratégias buscando o desenvolvimento econômico. A lógica do sistema passa a ser o desenvolvimento. Por outro lado, todo sistema econômico tem como principio de coordenação o mercado. Através do mercado e com o uso do dinheiro, os produtores competem entre si, e dessa forma o mercado aloca recursos e determina a distribuição da renda. No papel de alocador de recursos, o mercado é um mecanismo maravilho só embora cheio de falhas, e depende da ação regulatória do Estado para poder ser efetivo. Como instrumento distribuidor de renda, e cego e injusto. Por isso, a ação deliberada da sociedade através do Estado está sempre presente na regulamentação do mercado, e na tentativa de correção das suas falhas. No Brasil, porém, o sistema econômico vigente não obedece à lógica do bem estar ou do desenvolvimento. Sua lógica é a dos juros. Usando uma linguagem que os economistas entendem bem, sua função-objetivo é a obtenção de rendimentos ‘satisfatórios’ para os rentistas e seus comissiona dos na área financeira, entendendo-se por rendimento satisfatório uma taxa de juros básica Selic em torno de 10% ao ano em termos reais, ou cerca de 7% anuais após o Imposto de Renda. Enquanto nos países desenvolvidos a taxa de juros real para aplicações seguras em títulos de renda fixa está em torno de 2%, e em outros países em desenvolvimento é um pouco maior do que isto, aqui é cinco vezes maior. Por que tanto? Foram provavelmente as altas taxas de crescimento durante os anos 70 e a alta inflação durante os anos 80 até 1994 que levaram os rentistas, especificamente os credores internos e externos do Estado, a entender consensualmente que essa taxa lhes é devida. E foi certamente a política frouxa, submissa, dos diversos governos, que legitimou essa pretensão. Afirmo que a função-objetivo do sistema econômico brasileiro é um rendimento financeiro de cerca de 10% reais porque toda a lógica da política econômica aponta nessa direção. Evidentemente, não é esse o entendimento dos interessados e das autoridades monetárias. Para eles, o objetivo está claro: e a meta de inflação, que seria condição para o desenvolvimento. Não há dúvida que manter o controle da inflação é fundamental, mas para isso não é necessário manter a taxa de juros básica em um nível sem qualquer relação com a classificação de risco do país. Se fosse verdade que o controle da inflação é o objetivo principal da política econômica, nos momentos em que a demanda agregada caísse e a inflação entrasse correspondentemente em declínio, o Banco Central aproveitaria a oportunidade para baixar a taxa de juros básica para os níveis internacionais compatíveis com a classificação de risco do Brasil. Ora, isso é impensável para seus diretores, que adotam um modelo onde a taxa de juros de equilíbrio estaria em torno de 9% reais. Além disso, se o objetivo principal fosse combater a inflação, o governo já teria acabado definitivamente com toda indexação na economia brasileira. Mas também essa medida está fora da agenda do Ministério da Fazenda e do Banco Central. A política fiscal encontra-se também subordinada a taxa de juros satisfatória. Uma vez definida essa taxa, é preciso evitar que o endividamento público cresça em relação ao PIB. Em outras palavras, é preciso que o devedor não fique endividado a ponto de tender a se tornar insolvente, e assim arriscar os créditos dos rentistas. O superávit primário de 4,5% foi calculado para que essa finalidade seja atingida. Se o objetivo fosse usar a política fiscal para combater a inflação, a meta fiscal deveria variar de acordo como ciclo econômico, reduzindo se o superávit quando a economia desaquecesse, e aumentando-o quando a demanda agregada pressionasse os preços, mas esta prática também está fora da agenda. Finalmente, a taxa de câmbio também se subordina à lógica da taxa de juros satisfatória. Como essa taxa é muito alta, atrai capitais do exterior. Os fluxos de capital pressionam a taxa de cambio para baixo, apreciando a até que se chegue ao equilíbrio perverso de alta taxa de juros e baixa taxa de câmbio – equilíbrio que levou o Brasil à crise em 1998, e, em parte, também em 2002. Mas não poderia o governo neutralizar essa pressão sobre o câmbio comprando dólares e aumentando reservas, como fazem com freqüência os países asiáticos? Não pode, porque para isso seria preciso emitir dívida em reais, e a taxa de juros extorsiva levaria o custo para o Tesouro, que já é de 8% do PIB, para um nível ainda mais alto. Nos quadros dessa lógica, o crescimento não é esquecido. A taxa de juros básica que vem prevalecendo nos últimos dez anos inviabiliza os investimentos e levaria a economia à estagnação absoluta. A idéia, porém, não é essa. O objetivo subordinado mas presente é de um crescimento da renda per capita de 2% ao ano (3,5% bruto). Para lográ-lo, e manter os empresários industriais minimamente sob controle, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) garante uma taxa de juros para as grandes empresas inferior à Selic. Além do custo dos juros abusivos, o país deve, portanto, financiar esse outro valor com tributos. O governo, por sua vez, que já levou quase a zero o investimento publico, recusa-se a reduzir despesas correntes. Pelo contrário, as aumenta, pretendendo assim compensar os baixos salários. E novamente, para manter o superávit primário necessário, eleva a carga tributária. A pressão dos juros de um lado, reduzindo o investimento (não obstante a Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP), e, de outro lado, a pressão da carga tributária reduzindo a renda em poder do público, tendem a reduzir a taxa de lucro, a não ser que se continue a comprimir os salários. Isto, entretanto, não é difícil porque a taxa de crescimento muito baixa produz um alto nível de desemprego. O objetivo para essa taxa (aquele que seria correspondente ao Produto Interno Bruto (PIB) potencial em face do atual nível de poupança e de investimentos) seriam os 2% reais per capita. Todavia, essa taxa de crescimento (e mesmo um pouco mais, como aconteceu em 2004) só é viável quando a taxa de câmbio está em um nível adequado (digamos, dada a recente depreciação do dólar nos mercados internacionais, R$ 3,20), estimulando assim um grande aumento das exportações. Essa taxa, entretanto, só foi alcançada no passado recente devido a duas crises (1998 e 2002). Desde meados de 2003, porém, a taxa de câmbio vem baixando devido à manutenção da política de juros elevados. Com a apreciação do real, as exportações caem, as importações aumentam, e, enquanto não se desencadeia nova crise de balanço de pagamentos, os investimentos caem e o crescimento do PIB se desacelera para em torno dos 1% per capita já referidos – ou seja, para a quase-estagnação. CONSIDERANDO: DEMANDA E OFERTA De forma bem simplificada: Demanda: quantidade procurada de um bem ou serviço Oferta: quantidade disponível + capacidade produtiva destes bens e serviços Preço: valor cobrado de um bem ou serviço em função da oferta/demanda Assim Se a Demanda (sobe) o Preço sobe Se a Demanda (cai) o Preço tende a cair Se a Oferta (sobe) o Preço cai Se a Oferta (cai) o preço sobe A empresa não controla a demanda por seus produtos e serviços, mas gerencia sua capacidade produtiva influenciando na oferta dos mesmos Papel do gestor de produção na administração da capacidade produtiva da empresa (Você sabe qual a capacidade de produção da sua empresa?). Dar exemplos: Coca-Cola sabe o quanto ela consegue produzir de seus produtos? Ela otimiza linhas de produção de forma a produzir diversidade de produtos. (Quem pode dar mais exemplos?) Crescimento 1º Baseado em diminuição de ociosidade 2º Baseado em investimentos e ampliação da capacidade produtiva (sustentável) Em grupo de 3 alunos elabore uma pesquisa e busque uma resposta para questão abaixo: Em qual modelo o Brasil esta inserido no primeiro ou segundo?