35 RESPOSTAS PARA ENTENDER O ATUAL CENÁRIO

Propaganda
35 RESPOSTAS PARA ENTENDER O ATUAL CENÁRIO
Considerações acerca do recente movimento de desvalorização dos mercados
Ao longo de 2011, em especial no mês de agosto, observamos um movimento bastante atípico nos
mercados de capitais com intensa desvalorização das principais bolsas de valores.
Como diz o título, o objetivo deste relatório é entender os principais pontos, que acreditamos ser
pertinentes, acerca do atual cenário macroeconômico.
CENÁRIO MACROECONÔMICO: ECONOMIA MUNDIAL
1. O que está acontecendo com o mundo? Estamos passando, possivelmente, por uma revisão das
expectativas de crescimento global por conta da deterioração econômica de uma série de países, em
especial as economias desenvolvidas.
2. Como isso começou? Observamos uma expressiva alavancagem das instituições financeiras até 2008,
tendo seus balanços contaminados por carteiras de crédito consideradas “podres”. Para ajudar, os bancos
centrais ao redor do mundo atuaram, conjuntamente, para recomprar os títulos em questão.
3. Onde isso foi parar? Com a “limpeza” dos balanços corporativos, os países que o fizeram passaram a ter
seu balanço prejudicado. Excessos de gastos na tentativa de incentivar as economias contribuíram para
uma alavancagem dos países, em especial os da Zona do Euro e os Estados Unidos, os mais afetados na
crise de 2008.
4. O que esse movimento vem trazendo? Com seus balanços comprometidos e as economias alavancadas,
países como Irlanda, Grécia, Portugal, e, mais recentemente, Itália e Espanha, vêm enfrentando
dificuldades em realizar novos endividamentos. Esse movimento chamado de “rolagem de dívida” é crucial
para que os governos consigam honrar seus empréstimos de curto prazo adquirindo outros com perfil de
longo prazo.
5. E esta alavancagem? O gráfico ao lado mostra a relação de Dívida Líquida de diferentes países como
proporção de seu Produto Interno Bruto (PIB). Fica claro que, atualmente, os países considerados
desenvolvidos apresentam uma relação de dívida bastante elevada, inclusive bem superior a realidade dos
emergentes como Brasil. Em condições extremas, como é o caso grego, torna-se muito “caro” rolar tal
dívida, visto que o mercado exige taxas maiores para continuar a financiar a economia. Os receios de que
tal evento aconteça com outros países como Itália e Espanha estão no cerne do noticiário macroeconômico
atual.
6. Essa dificuldade pode levar ao fim da Zona do Euro? Difícil afirmar tal alegação, pois existe uma
infinidade de variáveis que influenciam na construção de diversos cenários. Porém uma coisa é certa,
nunca houve uma probabilidade tão elevada do fim da área comum européia como agora. Basicamente, a
região é “sustentada” pelas economias superavitárias como da Alemanha e da França, que possuem uma
situação macroeconômica mais confortável, mas ainda sim têm sua capacidade de atuação limitada.
7. Espanha e Itália são um problema? Sim, porque caso essas economias continuem a enfrentar
dificuldades em “rolar” suas dívidas de curto prazo, os países em melhor situação fiscal podem não ter
robustez para “acolher” esses dois países. É como dizer que Itália e Espanha são grandes demais para
serem “carregados” pela Zona do Euro.
8. Os Estados Unidos também são um problema? Sim, pois os estímulos que o governo implementou
desde a crise de 2008, não surtiram o efeito desejado. Com isso, importantes indicadores econômicos
como atividade industrial, desemprego e confiança do consumidor permanecem em níveis alarmantes.
Além disso, o país enfrenta a grave questão do seu elevado endividamento, que apesar de ter seu teto
aumentado recentemente, ainda está em níveis preocupantes.
CENÁRIO MACROECONÔMICO: FALTA DE REFERÊNCIA
O mundo vive hoje um momento único de sua história. Paradoxalmente, a frase do ex-presidente Lula se
faz apropriada para o atual momento: “nunca antes na história mundial recente vivemos um momento
como o atual.” Estamos passando por uma “crise de referência”.
Saímos da Guerra Fria com uma potência e um modelo vencedor, o capitalismo americano. Até então, este
tem sido totalmente hegemônico e influente para diversos ambientes da economia. Seus dois atores
principais: (i) o dólar como referência de moeda e exercendo todas suas funções – uma moeda fiduciária
que funciona como reserva de valor, como meio de troca para transações e unidade de medida referencial
e; (ii) os títulos de dívida dos EUA servindo como parâmetro de títulos sem risco.
Isso tudo se traduz no seguinte: em momentos de instabilidade econômica, no passado, a forma clássica
de se precaver era através da compra de dólar ou dos títulos de dívidas americano (Treasury bonds ou
títulos do tesouro).
9. Será que o dólar e os Treasuries representam uma opção segura? O estopim da discórdia foram as
recentes discussões em torno da necessidade da elevação do teto da dívida norte-americana nas últimas
semanas, culminando com o rebaixamento dos títulos de sua dívida. Para a agência de classificação de
risco Standard & Poor´s (S&P), os EUA já não representam um porto tão seguro assim. Por isso, a agência
rebaixou os títulos de dívida americanos, levantando dúvidas quanto a sua capacidade de pagamento. Para
a S&P, os EUA deixaram de ser AAA = risco zero (triple A= conceitos como agilidade, adaptabilidade e
alinhamento) e passaram a ser AA+.
10. Qual o efeito para economia americana? A medida pode elevar os custo de captação para o governo
norte-americano e, conseqüentemente, para as empresas e os consumidores, gerando efeitos nocivos à
economia. Por outro lado, tal medida tende a refletir no enfraquecimento do dólar como referência de
valor, o que ajudaria nas exportações do país e equilibraria sua balança comercial.
11. Existe substituto para o Dólar e os Treasuries? Respondendo de forma objetiva, não. O substituto
natural mais provável seria o Euro, mas dado a delicada situação econômica da Europa, que suscita dúvidas
inclusive quanto a sustentabilidade do Euro, faz com que este também não funcione. De forma prática, os
mercados vêm buscando outros ativos que funcionem especialmente como reserva de valor. Isso justifica a
alta de 23% do Ouro em 2011 e 25% do franco suíço. Outro ponto que corrobora tal visão é o fato de que
os treasurys bonds, assim como dólar, apresentaram forte demanda nos últimos dias, mostrando que na
falta de referência, tais ativos ainda são demandados como uma resposta a busca pela liquidez e em
momentos de aversão a risco.
12. Poderia surgir uma Nova Ordem capitaneada pelos países emergentes? Parece-nos um tanto quanto
prematuro afirmar isso. O quadro ao lado mostra algo que já vem ocorrendo nos últimos anos. Os países
em azul são aqueles que deverão apresentar maior crescimento de PIB em 2011 e são, justamente, aqueles
considerados emergen-tes. Ou seja, tais países vêm sustentando o crescimento mundial. No entanto, dado
o nível de abertura das economias e a dependência externa que algumas delas apresentam, não sabemos
se estes países têm força para sustentar o crescimento em escala global.
13. Qual o papel assumido pela China? O gigante asiático vem se movendo de forma cautelosa. O país
teme pelos Estados Unidos, pois além deste ser seu principal par-ceiro comercial, também detém a maior
parte das suas reservas cambias em dólares. Além disso, o país possui uma economia ainda muito
primitiva, voltada ao mercado externo e sem um mercado interno suficientemente desenvolvido para
sustentar seu pujante crescimento. Apesar de crescer a passos largos, o gigante asiático possui uma cultura
ainda muito diferente do mundo ocidental, um regime político não democrático e uma moeda
artificialmente desvalorizada para sustentar suas exportações.
14. Será que o mundo está preparado para essa mudança de referência? Difícil resposta. Grande parte
dos contratos e negociações do mercado financeiro ainda têm como parâmetro o dólar. Além disso, os
padrões de cálculo de juros cobrados por emissões de dívidas de empresas e países utilizam-se dos títulos
de dívida americano como referência de ativos livres de risco. Tudo isso dificulta uma simples substituição
do dólar e dos treasuries por outras referências. Seria necessário uma coalizão internacional capaz de
desenvolver novos parâmetros confiáveis e aceitos pelo mercado. Na dúvida, a reação normal do mercado
é a fuga do risco reduzindo exposição à ativos de renda variável. Esses recentes movimentos dos mercados
corroboram a ideia de “manada”, atualmente.
Os mercados vêm buscando outros ativos que funcionem como reserva de valor. Isso justifica a alta de
23% do ouro e 25% do franco suíço, em 2011
CENÁRIO MACROECONÔMICO: BRASIL
O Brasil com certeza não é uma ilha e, por mais que fosse, certamente sentiria os reflexos dos fatores
condicionantes da economia mundial internamente. Os principais fatores observados recentemente são:
(i) pressões inflacionárias, em parte decorrente de preços elevados das commodities; (ii) Real
sobrevalorizado ante o Dólar afetando nossas exportações e elevando a competição com produtos
externos, dado o aquecimento de nossa economia.
A economia brasileira está sólida para enfrentar mais uma “crise” internacional. O País vem fazendo o
dever de casa, ajustando as contas públicas, mantendo saldos positivos na balança comercial e
acumulando reservas cambiais. Em síntese, o Brasil tem gordura para queimar e por isso apresentou uma
rápida recuperação após a última crise mundial.
15. Então a crise externa seria mais uma “marolinha” por aqui? Difícil responder tal questão, pois não
temos como precisar o tamanho (magnitude e durabilidade) da crise atual. O ponto principal de “contágio”
de tal crise externa no Brasil se daria, em nosso entendimento, através de uma queda acentuada da
demanda e dos preços de commodities, dado que ainda somos uma economia exportadora de produtos
básicos.
16. Brasil é uma economia dependente do mercado externo? Apesar de não ser uma ilha, vale a ressalva
que o setor exportador hoje representa fatia inferior a 15% do PIB brasileiro, enquanto em economias
emergentes comparáveis ao Brasil, tal número chega a 30%. Sendo assim, mesmo em um cenário de crise
externa seríamos menos afetados que outros países.
17. Que condição diferenciada é essa? A figura ao lado dá o tom da diferença que existe entre o Brasil e as
economias desenvolvidas como EUA, França e Reino Unido. Lá, o desemprego aumentou após a crise
financeira de 2008 e manteve-se elevado. Já no Brasil a situação é diferente. O desemprego está próximo
aos níveis mínimos da história (em 6%) e a renda do brasileiro nunca foi tão alta. Por isso vemos em
diversos meios de comunicação artigos a respeito da emergência de uma nova classe média no Brasil.
18. Nova classe média? Segundo pesquisa realizada pelo instituto Data Popular, chegou-se a conclusão
que existe no Brasil uma nova classe média. Tal classe que engloba 104 milhões de brasileiros, apresenta
potencial de consumo de R$ 1 trilhão por ano, o que equivale ao PIB da Argentina, Portugal, Uruguai e
Paraguai somados.
19. E qual é o perfil dessa nova classe? Dentre as constatações do estudo, verificou-se que 59% dessas
pessoas possuem cartão de crédito e 53% têm conta em banco. Essa novo perfil de consumidores faz com
que tenhamos uma grande vantagem em relação aos outros países: um mercado interno forte que
sustenta uma demanda local relativamente aquecida mesmo com turbulências externas.
20. Mas só emprego e renda sustentam nossa economia? Não. A vantagem é que possuímos outras
alternativas e mecanismos que atuam de forma anticíclica minimizando os efeitos de uma crise. Vejamos
os principais: (i) Instrumentos de política monetária, tais como redução das taxas de juros, recompra de
títulos, redução das taxas de redesconto e de compulsório. Todos fatores que elevam a oferta de moeda
no âmbito interno e contribuem para expansão da economia; (ii) Medidas de Política Fiscal, como
programas de incentivo a economia (PAC, MCMV,...), possibilidade de desoneração fiscal e estímulos
setoriais; (iii) Parque fabril diversificado e menos dependente de um único tipo de produto ou mercado;
(iv) Mecanismos estabilizadores da demanda, tais como benefícios sociais, seguro desemprego, FGTS,
entre outros que ajudam a sustentar a demanda interna; (v) Elevado níveis de reservas que funcionam
como um confortável colchão de liquidez.
21. O que esperar para o cenário interno? Caso ocorra um recrudescimento de um cenário externo,
acreditamos que o governo interrompa o ciclo de elevação de juros, apostando numa acomodação dos
preços em função de um cenário externo mais adverso. Outro efeito possível seria uma valorização (ainda
que tímida) do Dólar frente ao Real, o que surtiria efeito positivo para alguns setores, principalmente, no
que tange a concorrência com o produto externo. Mesmo com um cenário mais fraco existe motivo para
acreditar que o crescimento do PIB brasileiro, apesar de pouco expressivo, será o 6º maior do mundo em
2011, perdendo apenas para: 1º China; 2º Índia; 3º Argentina; 4º Arábia Saudita e 5º Turquia.
22. Então o país está mais preparado do que em 2008? Sim. É diante da lição da última crise que o
investidor precisa ter calma e buscar entender os fundamentos da economia nacional, pois com certeza
refletirá e concordará que o País está mais forte do que na última crise. Assim, na medida em que a
economia está aquecida e o mercado de trabalho pulsante, uma desaceleração mundial abriria espaço
para a queda nas taxas de juros, tornando o mercado de renda fixa menos atraente.
23. Como vem performando os principais mercados acionários? A situação é bem ruim. As bolsas
européias oscilam com desvalorização entre 14% e 22% em 2011, enquanto que as americanas entre 6% e
11% de queda no ano.
24. E o Ibovespa? O índice que melhor representa a bolsa brasileira acumula desvalorização de 30% em
2011, a maior entre os principais índices das maiores bolsas de valores do mundo. Entendemos que a forte
queda recai principalmente sobre: (i) cenário inflacionário no país tornando renda fixa atraente; (ii)
medidas macroprudencias fragilizando a confiança do investidor; (iii) liquidez do mercado brasileiro entre
as maiores do mundo; (iv) queda do Dólar frente o Real proporcionan-do ganho cambial ao investidor
estrangeiro;
25. Seus múltiplos começam a chamar atenção? Sem dúvida. A recente queda do Ibovespa (17,3% nas
primeiras 6 sessões de agosto) passa a chamar atenção dos investidores, principalmente por conta de
distorções de preços, quedas acentuadas e até mesmo excesso de resiliência de alguns papéis.
26. Pelo indicador de Preço/ Valor Patrimonial (P/ VPA) é possível identificá-las? É uma das forma mais
comuns e simplistas. Os múltiplos avaliam o valor de mercado da empresa sobre seu patrimônio líquido.
Caso o valor de mercado seja maior que o patri-mônio líquido, significa dizer que a empresa é negociada
com prêmio sobre seu patrimônio. Ao contrário, indica desconto frente ao valor contábil.
27. E como esta sendo negociado esse indicador? Após a forte queda dessa última segunda-feira,
passamos a identificar 24 papéis que compõem o Ibovespa sendo negociados abaixo do valor patrimonial.
Como o índice atual-mente é composto por 66 empresas, significa dizer que 36% dos papéis do Ibovespa
estão descontados frente seu valor patrimonial. Vemos ativos de grandes empresas como Petrobras,
Gerdau , Fibria, entre outras negociando a uma relação P/VPA de 0,8x, 0,7x e 0,4x respectivamente.
28. Como ficaria caso o Ibovespa rompesse a barreira dos 40 mil pontos? Estimamos que 50% dos papéis
do Ibovespa estarão sendo negociados abaixo de seu valor patrimonial.
29. Qual seria a consequência? Difícil calcular com exatidão os movimentos do mercado, que acima de
tudo são pautados pelo sentimento dos investidores, que oscilam de forma e em períodos não
padronizados. Acreditamos que caso o cenário de contínua desvalorização perdure, teremos em
contrapartida uma enxurrada de programas de recompra de ações e até mesmo fechamentos de capital.
Na última semana inclusive, começaram especulações em relação à possibilidade da Gafisa ter seu capital
fechado por um de seus ex-controladores;
30. Teria outra métrica para avaliar o Ibovespa? Outra usual medida para avaliar o valor das empresas
brasileiras e principalmente a bolsa brasileira é o P/L. Tal indicador é composto do valor de mercado das
empresas que compõem o Ibovespa, dividido pelo lucro que estas nos últimos 12 meses.
31. Como vem sendo negociado tal múltiplo? Atualmente, o P/L do Ibovespa está em 7,51x. Isso quer
dizer que caso as empresas mantenham seus lucros inalterados, em 7,5 anos 100% do investimento
retornaria exclusivamente via seus lucros.
32. E no mercado externo? Conforme a tabela, o múltiplo da bolsa brasileira figura entre os menores do
mundo, perdendo apenas para a bolsa espanhola (IBEX 35). Ou seja, significa que a bolsa brasileira é uma
das mais baratas em termos de P/L no mundo. Importante também destacar que mercados emergentes
como o chinês apresentam múltiplos cerca de 2x superiores ao da bolsa brasileira.
33. E como está sendo negociado o P/L em relação a 2008? Em outubro de 2008, no auge da crise, o
Ibovespa havia alcançado a mínima de 29.435 pontos, sendo negociado a um P/L de 6,71x. Como o P/L
atual é de 7,51x significa dizer que para voltarmos à mínima desde a crise, o Ibovespa ainda poderia
desvalorizar-se 10,7%, o que representaria 43.461 mil pontos.
34. Ou seja, os 29 mil pontos de 2008 agora são 43 mil pontos? Exato. Essa mudança deve-se ao fato que,
desde 2008 até hoje, as empresas brasileiras reportam maiores Lucros Líquidos e, com isso, a pontuação
do Ibovespa ajusta-se a esse novo cenário, sendo necessariamente elevada.
35. É correto afirmar que atingindo 43 mil pontos a queda cessa? Devido ao cenário ser diferente de 2008
e não ser possível medir a reação dos agentes de mercado, entendemos que os 43 mil pontos representam
uma barreira psicológica importante, mas não há como afirmar que seria exatamente esse o momento da
inflexão do Ibovespa.
CONCLUSÃO:
Por meio deste relatório, tentamos discutir as principais questões dos investidores. Chegamos a uma
clara constatação que os recentes movimentos envolvendo a economia dos Estados Unidos, Espanha e
Itália, serviram de estopim para uma expressiva aversão ao risco nos mercados globais de renda
variável.
A solução não é simples pois deverá envolver uma ação coordenada de diversos bancos centrais
provavelmente recomprando títulos de economias fragilizadas e conseqüentemente aliviando seus
balanços. Por outro lado, os países ajudados seriam obrigados a promover cortes em seus orçamentos,
bem como reduzir seus elevados benefícios sociais, o que por sua vez, refletiria negativamente na
atividade econômica global.
Dada a complexidade do cenário, especialmente o europeu, põe-se em cheque a continuidade dos países
fragilizados na Zona do Europa, que poderia futuramente representar uma cisão, ou até mesmo o fim da
área comum européia.
Já no Brasil, fica evidente que o cenário é diferente. Nossa economia está superaquecida, sofrendo
inclusive de inflação acima da sua meta. O país pode ser atingido por uma piora do cenário global,
principalmente por conta de uma abrupta queda nas cotações das commodities, que são a base das
exportações brasileiras. Ainda assim, com um “colchão de liquidez” bastante superior ao da crise de
2008 e com os fundamentos solidificados, acreditamos que, por mais que exista uma deterioração do
cenário externo, o país encontra-se bem preparado.
Além disso, é importante lembrar que como uma economia emergente, o país goza de um crescimento
acima da média mundial, conforme a tabela na pág. 2, e ainda sim é negociado com desconto sobre seus
pares emergentes que já não crescem tão vigorosamente.
Por fim, tentamos esclarecer, da forma mais sucinta possível, o atual cenário da economia global e como
a economia brasileira está inserida.
O SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Conjuntura Econômica, 59
Um sistema é sempre um conjunto de elementos articulados entre si de forma a
constituir um todo. Essa articulação ou coordenação dos elementos obedece a uma lógica,
que é a da sobrevivência, quando se trata de sistema vivo. Quando se trata de um sistema
social, o objetivo mínimo é igualmente a sobrevivência, ou a segurança, mas como e
formado de agentes racionais dotados de vontade, há um objetivo econômico adicional: o
bem-estar. Esta afirmação não e arbitraria: com o trabalho, que é o elemento básico de
qualquer sistema econômico, o homem visa melhorar seu padrão de vida. Quando,
finalmente, se trata de um sistema social dotado de um Estado moderno e democrático, ou
seja, dotado de um instrumento de ação coletiva, o bem-estar deixa de ser um objetivo
implícito e passa a ser explicito. Os governos dos Estados-nação, apoiados e legitimados
por seu povo ou nação, passam a desenvolver estratégias buscando o desenvolvimento
econômico. A lógica do sistema passa a ser o desenvolvimento.
Por outro lado, todo sistema econômico tem como principio de coordenação o mercado.
Através do mercado e com o uso do dinheiro, os produtores competem entre si, e dessa
forma o mercado aloca recursos e determina a distribuição da renda. No papel de alocador
de recursos, o mercado é um mecanismo maravilho só embora cheio de falhas, e depende
da ação regulatória do Estado para poder ser efetivo. Como instrumento distribuidor de
renda, e cego e injusto. Por isso, a ação deliberada da sociedade através do Estado está
sempre presente na regulamentação do mercado, e na tentativa de correção das suas falhas.
No Brasil, porém, o sistema econômico vigente não obedece à lógica do bem estar ou
do desenvolvimento. Sua lógica é a dos juros. Usando uma linguagem que os economistas
entendem bem, sua função-objetivo é a obtenção de rendimentos ‘satisfatórios’ para os
rentistas e seus comissiona dos na área financeira, entendendo-se por rendimento
satisfatório uma taxa de juros básica Selic em torno de 10% ao ano em termos reais, ou
cerca de 7% anuais após o Imposto de Renda. Enquanto nos países desenvolvidos a taxa
de juros real para aplicações seguras em títulos de renda fixa está em torno de 2%, e em
outros países em desenvolvimento é um pouco maior do que isto, aqui é cinco vezes
maior. Por que tanto? Foram provavelmente as altas taxas de crescimento durante os anos
70 e a alta inflação durante os anos 80 até 1994 que levaram os rentistas, especificamente
os credores internos e externos do Estado, a entender consensualmente que essa taxa lhes é
devida. E foi certamente a política frouxa, submissa, dos diversos governos, que legitimou
essa pretensão.
Afirmo que a função-objetivo do sistema econômico brasileiro é um rendimento
financeiro de cerca de 10% reais porque toda a lógica da política econômica aponta nessa
direção. Evidentemente, não é esse o entendimento dos interessados e das autoridades
monetárias. Para eles, o objetivo está claro: e a meta de inflação, que seria condição para o
desenvolvimento. Não há dúvida que manter o controle da inflação é fundamental, mas
para isso não é necessário manter a taxa de juros básica em um nível sem qualquer relação
com a classificação de risco do país.
Se fosse verdade que o controle da inflação é o objetivo principal da política
econômica, nos momentos em que a demanda agregada caísse e a inflação entrasse
correspondentemente em declínio, o Banco Central aproveitaria a oportunidade para
baixar a taxa de juros básica para os níveis internacionais compatíveis com a classificação
de risco do Brasil. Ora, isso é impensável para seus diretores, que adotam um modelo onde
a taxa de juros de equilíbrio estaria em torno de 9% reais. Além disso, se o objetivo
principal fosse combater a inflação, o governo já teria acabado definitivamente com toda
indexação na economia brasileira. Mas também essa medida está fora da agenda do
Ministério da Fazenda e do Banco Central.
A política fiscal encontra-se também subordinada a taxa de juros satisfatória. Uma vez
definida essa taxa, é preciso evitar que o endividamento público cresça em relação ao PIB.
Em outras palavras, é preciso que o devedor não fique endividado a ponto de tender a se
tornar insolvente, e assim arriscar os créditos dos rentistas. O superávit primário de 4,5%
foi calculado para que essa finalidade seja atingida. Se o objetivo fosse usar a política
fiscal para combater a inflação, a meta fiscal deveria variar de acordo como ciclo
econômico, reduzindo se o superávit quando a economia desaquecesse, e aumentando-o
quando a demanda agregada pressionasse os preços, mas esta prática também está fora da
agenda.
Finalmente, a taxa de câmbio também se subordina à lógica da taxa de juros
satisfatória. Como essa taxa é muito alta, atrai capitais do exterior. Os fluxos de capital
pressionam a taxa de cambio para baixo, apreciando a até que se chegue ao equilíbrio
perverso de alta taxa de juros e baixa taxa de câmbio – equilíbrio que levou o Brasil à crise
em 1998, e, em parte, também em 2002. Mas não poderia o governo neutralizar essa
pressão sobre o câmbio comprando dólares e aumentando reservas, como fazem com
freqüência os países asiáticos? Não pode, porque para isso seria preciso emitir dívida em
reais, e a taxa de juros extorsiva levaria o custo para o Tesouro, que já é de 8% do PIB,
para um nível ainda mais alto.
Nos quadros dessa lógica, o crescimento não é esquecido. A taxa de juros básica que
vem prevalecendo nos últimos dez anos inviabiliza os investimentos e levaria a economia
à estagnação absoluta. A idéia, porém, não é essa. O objetivo subordinado mas presente é
de um crescimento da renda per capita de 2% ao ano (3,5% bruto). Para lográ-lo, e manter
os empresários industriais minimamente sob controle, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) garante uma taxa de juros para as
grandes empresas inferior à Selic. Além do custo dos juros abusivos, o país deve, portanto,
financiar esse outro valor com tributos.
O governo, por sua vez, que já levou quase a zero o investimento publico, recusa-se a
reduzir despesas correntes. Pelo contrário, as aumenta, pretendendo assim compensar os
baixos salários. E novamente, para manter o superávit primário necessário, eleva a carga
tributária.
A pressão dos juros de um lado, reduzindo o investimento (não obstante a Taxa de
Juros de Longo Prazo, a TJLP), e, de outro lado, a pressão da carga tributária reduzindo a
renda em poder do público, tendem a reduzir a taxa de lucro, a não ser que se continue a
comprimir os salários. Isto, entretanto, não é difícil porque a taxa de crescimento muito
baixa produz um alto nível de desemprego. O objetivo para essa taxa (aquele que seria
correspondente ao Produto Interno Bruto (PIB) potencial em face do atual nível de
poupança e de investimentos) seriam os 2% reais per capita. Todavia, essa taxa de
crescimento (e mesmo um pouco mais, como aconteceu em 2004) só é viável quando a
taxa de câmbio está em um nível adequado (digamos, dada a recente depreciação do dólar
nos mercados internacionais, R$ 3,20), estimulando assim um grande aumento das
exportações. Essa taxa, entretanto, só foi alcançada no passado recente devido a duas
crises (1998 e 2002). Desde meados de 2003, porém, a taxa de câmbio vem baixando
devido à manutenção da política de juros elevados. Com a apreciação do real, as
exportações caem, as importações aumentam, e, enquanto não se desencadeia nova crise
de balanço de pagamentos, os investimentos caem e o crescimento do PIB se desacelera
para em torno dos 1% per capita já referidos – ou seja, para a quase-estagnação.
CONSIDERANDO:
DEMANDA E OFERTA
De forma bem simplificada:
Demanda: quantidade procurada de um bem ou serviço
Oferta: quantidade disponível + capacidade produtiva destes bens e serviços
Preço: valor cobrado de um bem ou serviço em função da oferta/demanda
Assim
Se a Demanda (sobe) o Preço sobe
Se a Demanda (cai) o Preço tende a cair
Se a Oferta (sobe) o Preço cai
Se a Oferta (cai) o preço sobe
A empresa não controla a demanda por seus produtos e serviços, mas gerencia sua capacidade produtiva
influenciando na oferta dos mesmos
Papel do gestor de produção na administração da capacidade produtiva da empresa (Você sabe qual a
capacidade de produção da sua empresa?). Dar exemplos: Coca-Cola sabe o quanto ela consegue produzir
de seus produtos? Ela otimiza linhas de produção de forma a produzir diversidade de produtos. (Quem
pode dar mais exemplos?)
Crescimento
1º Baseado em diminuição de ociosidade
2º Baseado em investimentos e ampliação da capacidade produtiva (sustentável)
Em grupo de 3 alunos elabore uma pesquisa e busque uma resposta para questão abaixo:
Em qual modelo o Brasil esta inserido no primeiro ou segundo?
Download