Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Bioquímica Médica LUIZE GONÇALVES LIMA MICROVESÍCULAS TUMORAIS: Papel na Biologia do Tumor com Ênfase em Processos Imunossupressivos e Pró-Trombóticos Rio de Janeiro Março de 2008 MICROVESÍCULAS TUMORAIS: Papel na Biologia do Tumor com Ênfase em Processos Imunossupressivos e Pró-Trombóticos Luize Gonçalves Lima Dissertação submetida ao Instituto de Bioquímica Médica - IBqM da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Química Biológica Orientador: Dr. Robson Q. Monteiro Professor Adjunto do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ Co-orientador: Dr. Marcello A. Barcinski Professor Titular do Departamento de Parasitologia/ICB/USP Rio de Janeiro Março de 2008 iii Folha de Aprovação Luize Gonçalves Lima MICROVESÍCULAS TUMORAIS: papel na biologia do tumor com ênfase em processos imunossupressivos e pró-trombóticos Rio de Janeiro, 07 de março de 2008. _______________________________________ (Dr. Robson de Queiroz Monteiro, Prof. Adjunto do IBqM, UFRJ) _______________________________________ (Dr. Marcello Barcinski, Prof. Titular do Instituto de Ciências Biomédicas, USP) _______________________________________ (Dra. Russolina Benedeta Zingali, Profª. Adjunta do IBqM, UFRJ ) _______________________________________ (Dr. Hugo Caire de Castro Faria Neto, Pesquisador Titular da FIOCRUZ, RJ) _______________________________________ (Dr. Roger Chammas, Prof. Associado da Faculdade de Medicina da USP, SP) _______________________________________ (Dra. Vivian Mary B. D. Rumjanek, Profª. Titular do IBqM, UFRJ) _______________________________________ (Dra. Sandra König, Profª. Adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas, UFRJ) iv Ficha Catalográfica Lima, Luize Gonçalves. Microvesículas tumorais: papel na biologia do tumor com ênfase em processos imunossupressivos e pró-trombóticos / Luize Gonçalves Lima. – Rio de Janeiro, 2008. xviii, 120f. Dissertação (Mestrado em Química Biológica) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Bioquímica Médica – CCS, 2008. Orientador: Robson de Queiroz Monteiro Co-orientador: Marcello André Barcinski 1. Palavras chaves: I. Monteiro, Robson de Queiroz (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Bioquímica Médica. III. Título. v A Bete, por me apresentar à carreira científica de maneira tão prazerosa, e por me iniciar no “Fantástico Mundo das Microvesículas”, dois empreendimentos importantes que me trouxeram até esse momento. vi Agradecimentos Gostaria de aproveitar este espaço para agradecer àqueles que foram de fundamental importância para a realização deste trabalho, assim como às pessoas que contribuíram, de alguma forma, para a minha formação profissional, assim como para meu crescimento pessoal. Primeiramente, agradeço a esta força superior cósmica, que me guia e que me abre portas, e a qual já foi citada por Albert Einstein como “a mais forte motivação da pesquisa científica”, por se mostrar sempre presente e por tornar impossível duvidar de sua existência. Aos meus heróis, meus queridos pais, palavras não são suficientes para expressar minha enorme gratidão por todo apoio e por todo suporte físico, emocional e afetivo, acompanhados sempre de seu amor incondicional. Obrigada, mãe e pai, pela amizade, pela confiança em meus passos e pelo orgulho que sentem de minhas conquistas, as quais são sempre comemoradas como se fossem suas próprias. Por toda sua dedicação e carinho, gostaria de agradecer a minha ‘vó Cecília’, que me estimula sempre a correr atrás de meus sonhos. Agradeço ainda aos meus irmãos, especialmente a meu eterno ‘maninho’ Rafael, assim como às minhas queridas cunhadas, pela nossa relação de amizade, por todo amor e apoio. E a vocês, meus outros “irmãos”, amigos especiais que escolhi para fazerem parte de minha vida (e cujos nomes não serão citados porque corro sério risco de esquecer alguém!), obrigada pela amizade e carinho irrestritos. A essa pessoa tão especial em minha vida, meu amado companheiro Osny, agradeço por todos os momentos compartilhados, sejam eles felizes ou tristes, por toda a ansiedade e estresse suportados, pelo sorriso nas horas difíceis, pelo amor e cuidado dedicados. Sua presença é essencial em minha vida, e graças a todo apoio que me destina, continuo construindo meu caminho nessa atividade apaixonante que é a pesquisa. Aproveito para agradecer pela segunda família que colocou em minha vida, meus sogros e meu cunhado queridos, aos quais dedico todo amor e gratidão. vii Agradeço ao caríssimo Dr. Marcello Barcinski – Marcello, sem formalidades – por me acolher na Divisão de Medicina Experimental e especialmente no Grupo Infecção e Câncer. Obrigada pela confiança em meu trabalho e por todo direcionamento. Ao Robson, obrigada por me receber em seu grupo, por toda orientação, pela troca e doação de idéias, pelos desabafos ouvidos pacientemente, por seu infinito entusiasmo e pela compreensão e apoio sempre. Não poderia deixar de agradecer ainda à professora Vivian, pelos valiosíssimos conselhos e dicas, os quais foram de extrema importância para determinar os rumos de meu trabalho. Agradeço também aos “amigos trombóticos” pelo dia-a-dia compartilhado, repleto de deliciosas conversas, nem sempre muito “científicas”, as quais tornam a rotina de trabalho bastante agradável. Especialmente às meninas, Andréa, Andreia, Angélica, Camilla, Dani, Fabiana, Flávia, Luciana, Morgana, Renata e Tati, é um grande prazer conviver e dividir com vocês não só bancadas, materiais, computadores, etc., mas também importantes momentos da minha vida. Aos amigos que fiz na Divisão de Medicina Experimental, e que não necessariamente continuam por lá, especialmente aos Barcinskianos, Bonomianos e Martinianos, “companheiros do mesmo lado”, agradeço pela troca de experiências, pelas pipetas e materiais emprestados, pelas prazerosas (e cada vez mais raras, no meu caso) pausas para o café... Jéssica, João Luiz, Poli, Lúcia, Fernanda, Aline, Sheila, João Paulo, Rafa, Ana Paula, Rômulos, Carol, Chica, Gustavo, enfim, obrigada a todos pela amizade que por vezes extrapolou as paredes do INCa, proporcionando encontros muito felizes. À minha aluna talentosíssima, Juliana, obrigada pela nossa relação de amizade e por me proporcionar desenvolver essa gratificante atividade que é a orientação, a qual me permite aprender muito mais do que ensinar. Agradeço aos professores/colaboradores: Dra. Lina Zingali, Dra. Sandra König, Dr. Roger Chammas, Dr. Ernesto de Meis, Dr. José Morgado, que de alguma forma contribuíram para a realização desse trabalho, seja através da troca de idéias e da disponibilidade constante, dos reagentes e materiais emprestados, ou ainda, dos ensinamentos compartilhados para sempre. Quero agradecer também ao IBqM, por toda oportunidade e conhecimento transmitido, e por me permitir conhecer e conquistar amigos maravilhosos. viii Finalmente, gostaria de agradecer às agências e instituições de fomento (Faperj, CNPq, FUJB, INCa/FAF, Swiss Bridge) pello importante suporte financeiro. Obrigada por todo crédito e investimento no trabalho e, principalmente, por fazer as coisas acontecerem. ix "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original." - Albert Einstein - x Resumo Microvesículas (MVs) são fragmentos de membrana liberados a partir da superfície de diversos tipos celulares, após processos como ativação celular e apoptose, e sua formação está intimamente ligada à perda de assimetria fosfolipídica de membrana, especialmente à exposição de fosfatidilserina (PS). Embora os efeitos biológicos de MVs sejam extremamente variados, acredita-se que a produção de MVs desempenha uma importante função na biologia tumoral, com possível envolvimento na modulação de estados imunossupressivos e prótrombóticos. Nesse contexto, procuramos esclarecer o papel de microvesículas produzidas pelo melanoma no estabelecimento do tumor maligno. Dessa forma, observamos que células B16F10, uma linhagem de melanoma altamente metastática, produz, in vitro, grandes quantidades de MVs expondo PS. Tais MVs foram capazes de estimular, in vitro, a produção de TGF-β1 – um fator imunorregulatório com grande importância no processo de progressão maligna – por macrófagos, assim como aumentar o potencial metastático in vivo de células B16F10. Ambos os efeitos foram dependentes de PS, sendo revertidos por anexina V. Interessantemente, MVs de melanoma induziram ainda metástases pulmonares após inóculo de células B16F10 em camundongos BALB/c, normalmente resistentes a essa linhagem celular. Além disso, buscamos caracterizar as propriedades pró-coagulantes de MVs produzidas pela linhagem de melanoma Tm1, tal como comparada à sua linhagem parental de melanócitos não-tumorigênicos (melan-A). Apesar da taxa de produção de MVs ser consideravelmente maior na linhagem celular tumoral, a exposição de PS foi bastante semelhante em MVs derivadas de ambas as linhagens melan-A e Tm1. Isso se refletiu na capacidade dessas estruturas em promover a formação do complexo pró-coagulante protrombinase, um processo dependente da presença de superfícies aniônicas ricas em PS. Como esperado, ambas as MVs permitiram a ativação de protrombina em níveis similares. Por outro lado, MVs derivadas de melanoma aceleraram o tempo de coagulação plasmático de maneira mais eficiente, sugerindo uma maior exposição da proteína iniciadora da coagulação Fator Tecidual, a qual foi detectada na superfície de células Tm1, mas não de melan-A. Finalmente, MVs obtidas de plasma de camundongos inoculados com células de melanoma apresentaram um padrão pró-coagulante similar ao de MVs produzidas in vitro pela linhagem Tm1. Em conjunto, nossos resultados demonstram que MVs tumorais desempenham importante papel no estabelecimento do melanoma maligno in vivo, e indicam sua participação na modulação de respostas inflamatórias e imunes anti-tumorais, assim como na ativação do processo de coagulação sanguínea. xi Abstract Microvesicles (MVs) are membrane fragments that can be shed from the cell surface of various cell types under conditions such as cell activation and apoptosis, being this phenomenon closely associated with loss of phospholipid asymmetry, especially to phosphatidylserine (PS) exposure. Despite the variety of biological effects related to MVs, it is supposed that MVs production play an important role in tumor biology and might modulate immunosupressive and prothrombotic states. Within this context, we attempted to elucidate the contribution of melanoma-derived MVs to the establishment of malignant tumor. Herein we observed that B16F10 cells, a highly metastatic melanoma cell line, produce large quantities of PS-containing microvesicles in vitro. Tumor MVs increased TGF-β1 production by cultured macrophages and, in vivo, enhanced the metastatic potential of B16F10 cells in C57BL/6 mice, both effects being reversed by annexin V. Most strikingly, MVs induced melanoma metastasis in BALB/c mice, which are normally resistant to this tumor cell line. Furthermore, we characterized the procoagulant properties of MVs produced by the tumorigenic melanoma cell line Tm1, as compared to its counterpart non-tumorigenic melanocyte-derived cell line, melan-A. Although the rate of MVs production was considerably higher in the tumorigenic cell line, PS exposure was nearly identical in MVs from both melan-A and Tm-1. This result is reflected by the ability of these structures to assembly the procoagulant complex prothrombinase, a process that is dependent on the presence of PS-rich anionic membranes. As expected, both MVs supported prothrombin activation at similar rates. On the other hand, melanoma-derived MVs shortened the coagulation time of murine plasma in a lower concentration range than melan-A MVs, suggesting the presence of higher amounts of the clotting initiator, Tissue Factor. In support of this observation, Tissue Factor was detected on the surface of Tm1 but not melan-A cells. Finally, MVs obtained from plasma of melanoma-bearing mice showed a similar procoagulant pattern as compared to Tm1 MVs produced in vitro. Altogether, our results show that tumor-derived MVs play an important role in the in vivo establishment of malignant melanoma and further indicate their involvement in the modulation of host’s inflammatory and/or anti-tumoral immune responses, as well as in blood coagulation activation. xii Lista de Siglas e Abreviaturas ADP adenosina difosfato An V anexina V ATP adenosina trifosfato BSA albumina sérica bovina DME Dulbecco’s Modified Eagle (meio de cultura) EDTA ácido etilenodiaminotetracético FITC isoticianato de fluoresceína FIX fator IX FIXa fator IX ativado FSC espalhamento de luz frontal FVa fator V ativado FVIIa fator VII ativado FVIIIa fator VIII ativado FX fator X FXa fator X ativado FXI fator XI FXIa fator XI ativado IFNγ interferon gama IL-1β interleucina 1 beta IL-10 interleucina 10 IL-12 interleucina 12 LPS lipopolissacarídeo MAA antígeno associado a melanoma MHC complexo maior de histocompatibilidade xiii Mφ macrófagos MVs microvesículas PAR receptor ativado por protease PBS salina tamponada por fosfato PI iodeto de propídeo PMA forbol 12-miristato 13-acetato PS fosfatidilserina PSGL-1 glicoproteína ligante de P-selectina 1 SFB soro fetal bovino SSC espalhamento de luz lateral TEV tromboembolismo venoso TF fator tecidual TGF-β fator de crescimento tumoral beta TNFα fator de necrose tumoral alfa VEGF fator de crescimento do endotélio vascular xiv Lista de Figuras Figura 1 – Exemplos de MVs liberadas por diferentes tipos celulares ativados ............................................................................................................ 3 Figura 2 – Mecanismos associados ao processo de formação de MVs .......... 5 Figura 3 – Presença de microvesículas no microambiente tumoral ................ 8 Figura 4 – Modelo de modulação da resposta imune por microvesículas tumorais ........................................................................................................... 13 Figura 5 – Cascata de coagulação sanguínea ................................................ 15 Figura 6 – Reações da coagulação dependentes de superfícies de membrana ........................................................................................................ 16 Figura 7 – Caracterização de MVs produzidas in vitro por células B16F10 .... 40 Figura 8 – Detecção da exposição do antígeno MAA em MVs de melanoma por citometria de fluxo ...................................................................................... 40 Figura 9 – Análise da exposição PS na superfície de células B16F10 ........... 42 Figura 10 – Análise da exposição de PS em MVs derivadas de células B16F10 ............................................................................................................ 43 Figura 11 – Formação do complexo protrombinase promovida por MVs de melanoma B16F10 ........................................................................................... 44 Figura 12 – Efeito inibitório de anexina V sobre a formação do complexo protrombinase induzida por MVs de melanoma .............................................. 45 Figura 13 – Modulação da produção de TGF-β1 por MVs de melanoma em culturas de macrófagos ativados ..................................................................... 46 Figura 14 – Papel de MVs tumorais no estabelecimento do melanoma B16F10 em camundongos C57BL/6 ................................................................ 47 Figura 15 – Papel de MVs tumorais no estabelecimento do melanoma B16F10 em camundongos BALB/c .................................................................. 49 Figura 16 – Produção de MVs pelas linhagens celulares melan-A e Tm1 51 xv Figura 17 – Análise da exposição de PS em MVs derivadas de células Tm1 e melan-A ......................................................................................................... 53 Figura 18 – Formação do complexo protrombinase promovida por MVs de melanócitos melan-A e de melanoma Tm1 ..................................................... 54 Figure 19 – Atividade pró-coagulante de MVs derivadas das linhagens celulares melan-A e Tm1 ................................................................................. 56 Figura 20 – Análise da exposição de Fator Tecidual em células Tm1 e melan-A ............................................................................................................ 56 Figura 21 – Análise da presença de MVs em plasma de camundongos C57BL/6 inoculados com células de melanoma Tm1 ou melanócitos melan-A ............................................................................................................ 58 Figure 22 – Atividade pró-coagulante de MVs obtidas ex vivo a partir do plasma de camundongos inoculados com a linhagem celular Tm1 ................ 59 xvi Sumário 1. Introdução ................................................................................................. 1 1.1. Microvesículas ....................................................................................... 2 1.1.1. Breve histórico .................................................................................... 2 1.1.2. Processo de formação de microvesículas .......................................... 4 1.2. Características funcionais de microvesículas ........................................ 6 1.3. Microvesículas e câncer ........................................................................ 7 1.3.1. Câncer e imunossupressão ................................................................ 9 1.3.1.1. Papel do TGF-β1 no câncer ............................................................. 10 1.3.1.2. Microvesículas tumorais como partículas imunossupressoras ........ 11 1.3.2. Câncer e coagulação .......................................................................... 13 1.3.2.1. Coagulação sanguínea .................................................................... 13 1.3.2.2. Estados hipercoagulantes no câncer ............................................... 17 1.3.2.3. Câncer e microvesículas pró-coagulantes ....................................... 20 1.4. Papel de microvesículas no estabelecimento do melanoma maligno ... 23 2. Objetivos ................................................................................................... 26 2.1. Objetivo geral ......................................................................................... 27 2.2. Objetivos específicos ............................................................................. 27 3. Materiais e métodos .................................................................................. 28 3.1. Cultura de células .................................................................................. 29 3.2. Purificação de MVs secretadas em sobrenadantes de cultura de células ........................................................................................................... 29 3.3. Análises por citometria de fluxo ............................................................. 30 3.3.1. Avaliação da exposição de fosfatidilserina ......................................... 30 3.3.2. Avaliação da exposição do antígeno associado a melanoma MAA ... 31 xvii 3.3.3. Avaliação da exposição de Fator Tecidual ......................................... 31 3.4. Microscopia de fluorescência ................................................................. 32 3.5. Microscopia eletrônica ........................................................................... 33 3.6. Ensaio de ativação da protrombina ....................................................... 34 3.7. Quantificação de TGF-β1 em co-culturas de macrófagos e MVs de melanoma B16F10 ........................................................................................ 35 3.8. Estabelecimento in vivo do melanoma B16F10: modelo de metástase 35 3.9. Ativação da coagulação sanguínea in vitro ........................................... 36 3.10. Purificação de MVs a partir do plasma de camundongos C57BL/6 inoculados com células de melanoma Tm1 ou melanócitos melan-A .......... 36 3.11. Análises estatísticas ............................................................................ 37 4. Resultados ................................................................................................ 38 4.1. Papel de microvesículas de melanoma B16F10 na metástase tumoral 39 4.1.1. Células de melanoma B16F10 produzem microvesículas in vitro ...... 39 4.1.2. Células B16F10 e microvesículas de melanoma expõem PS em sua superfície externa ......................................................................................... 41 4.1.3. Microvesículas derivadas de células B16F10 modulam a produção de TGF-β1 por macrófagos ........................................................................... 45 4.1.4. Microvesículas tumorais aumentam o potencial metastático de células B16F10 em camundongos C57BL/6 ................................................. 46 4.1.5. Microvesículas tumorais aumentam o potencial metastático de células B16F10 em camundongos BALB/c ................................................... 48 4.2. Caracterização da atividade pró-coagulante de microvesículas derivadas de melanócitos e melanoma ........................................................ 50 4.2.1. Produção de microvesículas por melanócitos murinos melan-A e células de melanoma Tm1 ............................................................................ 50 4.2.2. Exposição de PS e promoção da formação do complexo protrombinase por ambas as MVs produzidas por melanócitos e células de 51 xviii melanoma ..................................................................................................... 4.2.3. MVs de melanoma aceleram o tempo de coagulação de plasma murino de maneira mais eficiente do que MVs produzidas por melanócitos 54 4.2.4. MVs derivadas ex vivo de camundongos C57BL/6 inoculados com células de melanoma Tm1 apresentam potencial pró-coagulante semelhante àquelas obtidas in vitro .............................................................. 57 5. Discussão ................................................................................................. 60 6. Conclusão ................................................................................................. 68 7. Referências ............................................................................................... 70 Anexos .......................................................................................................... 83 Anexo 1 – Tumor-derived microvesicles modulate the establishment of metastatic melanoma in a phosphatidylserine-dependent manner ............... 84 Anexo 2 – Procoagulant properties of human MV3 melanoma cells ……..... 113 1 INTRODUÇÃO 2 1.1 MICROVESÍCULAS Microvesículas (MVs) são fragmentos liberados a partir da membrana plasmática de células viáveis ou danificadas, normais ou malignas, quando estas são submetidas a estados de ativação celular, os quais incluem crescimento e proliferação celulares, ou ainda, ao processo de morte celular por apoptose (FREYSSINET, 2003). Essas estruturas vesiculares intactas são bastante heterogêneas em tamanho (seu diâmetro pode variar de 0,1-1 μm) e composição, sendo constituídas principalmente de diferentes lipídios e proteínas de membrana similares àqueles presentes na célula da qual se originam. Além disso, podem conter proteínas e transcritos de RNA mensageiro derivados do meio intracitoplasmático (RATAJCZAK et al., 2006a) ou, ainda, seqüestrarem organelas inteiras como mitocôndrias (SPEES et al., 2006). 1.1.1 Breve histórico A primeira evidência da existência de MVs surgiu ainda na década de 40, quando Chargaff e West observaram que frações subcelulares de soro e plasma humanos continham um fator precipitável que facilitava a geração de trombina e conseqüente formação de fibrina (CHARGAFF e WEST, 1946). Contudo, apenas em 1967, com o surgimento de técnicas mais eficientes de microscopia eletrônica, Wolf foi capaz de demonstrar que este fator, obtido a partir da ultracentrifugação de plasma livre de plaquetas, consistia, na verdade, em pequenas vesículas derivadas da membrana celular de plaquetas ativadas, as quais apresentavam atividade pró-coagulante comparável à célula de origem (WOLF, 1967). 3 Desde então, a produção de MVs já foi descrita em diversos tipos celulares (Fig. 1), e vários termos já foram utilizados para denominar essas estruturas, originalmente chamadas de “poeira de plaquetas”. Estas mesmas MVs derivadas de plaquetas ativadas, por exemplo, são atualmente mais conhecidas como “micropartículas”, enquanto MVs liberadas por leucócitos polimorfonucleares ativados são freqüentemente chamadas de “ectossomos”. Apesar de produzidas por praticamente todos as células eucarióticas, grande ênfase tem sido dada ao estudo de MVs derivadas de células sanguíneas, provavelmente devido ao fato de estas serem componentes constitutivos do plasma humano normal, sendo secretadas por leucócitos, eritrócitos, células endoteliais e plaquetas. Além disso, MVs têm seu número aumentado no sangue periférico em processos como injúria celular, inflamação, trombose, hipóxia, entre outros, e podem ser produzidas também por células neoplásicas (RATAJCZAK et al., 2006b). Isso explica os maiores níveis de MVs circulantes em pacientes com infecções, doenças cardiovasculares e câncer, além de evidenciar a grande relevância clínica desses fragmentos. Figura 1 – Exemplos de MVs liberadas por diferentes tipos celulares ativados. (A) Microscopia eletrônica de varredura mostrando a liberação de MVs por células endoteliais de veia umbilical humana (HUVEC) após estímulo com interleucina 1. (B) MV (seta branca) liberada por células K562 tratadas com dose sublítica de anticorpo e complemento. Microscopia ótica, tamanho da vesícula: ∼1 μm. (C) Ectossomos liberados por células polimorfonucleares ativadas com fMLP. Microscopia eletrônica de transmissão, marcação negativa. Adaptado de Diamant et al., 2004; e Pilzer et al., 2005. 4 1.1.2 Processo de formação de microvesículas Os mecanismos exatos envolvidos no processo de formação de MVs ainda não são completamente conhecidos. Porém, sabe-se que este fenômeno demanda gastos de energia e é dependente do aumento dos níveis intracelulares de cálcio, assim como da conseqüente ativação de proteases como a calpaína, que desestabilizam a ancoragem da membrana plasmática ao citoesqueleto através da clivagem de filamentos de actina e de outras proteínas a estes associadas (FOX et al., 1990; FOX et al., 1991; PICCIN, MURPHY e SMITH, 2007). Ao mesmo tempo, outras duas enzimas presentes na membrana plasmática, em particular, têm sua atividade modulada pelos níveis aumentados de cálcio no citoplasma: aminofosfolipídio translocase e escramblase. A primeira, também conhecida como flipase dependente de adenosina trifosfato (ATP), e inibida por cálcio, é a principal responsável pela manutenção da assimetria da membrana plasmática, uma vez que transporta os aminofosfolipídios fosfatidilserina (PS) e fosfatidiletanolamina (PE) da camada externa para a camada interna da membrana, de modo específico e contra seu gradiente de concentração. Já a segunda, ativada por cálcio, atua no transporte lipídico bidirecional não-específico. Em conjunto, a inibição da aminofosfolipídio translocase e a ativação da escramblase por altas concentrações de cálcio provocam o colapso da assimetria de membrana, levando a uma distribuição randômica de fosfolipídios entre ambas as faces da membrana plasmática. Tal processo é normalmente acompanhado pelo brotamento de MVs “simétricas” a partir da superfície celular; logo, a microvesiculação parece ser parte integrante do processo de remodelamento de membranas plasmáticas, estando intimamente 5 ligada à externalização de PS (COMFURIUS et al., 1990; ZWAAL e SCHROIT, 1997). De fato, dados na literatura mostram que células provenientes de indivíduos portadores da Síndrome de Scott, uma desordem hemorrágica hereditária caracterizada por uma deficiência na atividade escramblase induzida por cálcio, apresentam uma redução do transporte de PS para a face externa da membrana plasmática, assim como uma incapacidade de liberar MVs a partir de sua superfície celular (TOTI et al., 1996; CASTAMAN et al., 1997), o que corrobora essa forte associação. Portanto, pode-se afirmar que ao menos o colapso da assimetria fosfolipídica de membrana e a degradação do citoesqueleto a ela associado pela protease calpaína, ambos os eventos desencadeados pelo aumento da concentração de cálcio intracelular, são necessários para a formação de MVs (Fig. 2). Figura 2 – Mecanismos associados ao processo de formação de MVs. Na presença de níveis elevados de cálcio, a distribuição aleatória de PS (representada na figura em azul) entre ambas as camadas da membrana plasmática é induzida, através da regulação positiva e negativa das enzimas escramblase e aminofosfolipídio translocase, respectivamente, e a assimetria fosfolipídica é perdida; além disso, observa-se a ativação da enzima calpaína, provocando a degradação do citoesqueleto associado à membrana e permitindo a liberação de MVs expondo PS. Adaptado de Zwaal e Schroit, 1997. 6 1.2 CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DE MICROVESÍCULAS Sendo MVs fragmentos de membrana complexos, com uma rica composição molecular – herdada tanto da superfície quanto do meio intracitoplasmático de sua célula de origem –, é razoável supor que estas possam interagir com outras células e, dessa forma, influenciar a biologia de tais tipos celulares. Realmente, vários autores têm abordado o seu papel em diversos processos biológicos, levando-nos a considerá-las como parte importante e integral do ambiente intercelular. Recentemente, diversos trabalhos têm discutido, de maneira geral, o papel de MVs como importantes mediadores de comunicação intercelular. Diferentes mecanismos, através dos quais MVs poderiam influenciar a biologia de diversos tipos celulares, já foram relatados na literatura, tais como a atuação como “complexos sinalizadores” (apresentam ligantes de superfície capazes de desencadear inúmeras respostas biológicas na célula-alvo), e a transferência de receptores de superfície entre tipos celulares distintos, assim como de conteúdo intracitoplasmático (proteínas, RNAs mensageiros e lipídios bioativos). Tomando o ambiente vascular como modelo, podemos citar várias respostas biológicas desencadeadas por MVs. Micropartículas derivadas de plaquetas ativadas, por exemplo, são capazes de ativar células endoteliais, leucócitos e, inclusive, suas próprias células de origem, desencadeando processos como agregação plaquetária e produção de prostaglandinas pelo endotélio (BARRY et al., 1997), e aumento da aderência entre monócitos e células endoteliais provocado pela regulação positiva de moléculas de adesão em ambos os tipos celulares (BARRY et al., 1998). Tais efeitos parecem ser mediados pela transferência intercelular de ácido aracdônico, um lipídio bioativo 7 presente nestas micropartículas, e envolvem, pelo menos em parte, a ativação de vias de sinalização celular como fosfatidilinositol 3-cinase (PI3-K), proteína cinase C (PKC) e proteínas cinase ativadas por mitógeno (MAPK p42/p44, p38 cinase e JNK1) (BARRY et al., 1999). Já MVs produzidas por leucócitos humanos demonstraram modular o potencial inflamatório e pró-coagulante de células endoteliais de veia umbilical humana (HUVEC), através da indução da liberação de citocinas como a proteína quimiotática de monócitos, MCP-1, e a interleucina 6, além da expressão de Fator Tecidual, com envolvimento de vias de sinalização possivelmente associadas à fosforilação da cinase JNK1 (MESRI e ALTIERI, 1999). Do mesmo modo, MVs derivadas de células endoteliais ativadas podem interagir com células da linhagem monocítica THP-1, estimulando sua atividade pró-coagulante (SABATIER et al., 2002). Outros modelos têm sugerido ainda o envolvimento de MVs em mecanismos de reprogramação epigenética e transferência intercelular de organelas, como mitocôndrias (RATAJCZAK et al., 2006b). Contudo, embora o processo de vesiculação seja observado em diversos tipos celulares e os efeitos das MVs sejam extremamente variados, estudos atuais vêm se acumulando no papel de MVs na biologia tumoral, coagulação sangüínea, e resposta imune (RATAJCZAK et al., 2006b). Sua relação com tais processos será mais bem discutida a seguir. 1.3 MICROVESÍCULAS E CÂNCER O interesse pelo estudo do papel de MVs na progressão tumoral deve-se essencialmente à grande quantidade de vesículas encontradas em fluidos biológicos de pacientes com câncer em estágio avançado, e à sua escassez ou 8 ausência nos fluidos corporais de indivíduos normais (GINESTRA et al., 1999; KIM et al., 2003). Apesar da origem dessas estruturas ainda não estar completamente esclarecida, observa-se que seu acúmulo ocorre freqüentemente em culturas de células neoplásicas, estimuladas ou não, e alguns autores já demonstraram sua capacidade de interagir com células normalmente presentes no microambiente tumoral, como fibroblastos, células endoteliais e diferentes tipos de leucócitos, modulando suas atividades (RATAJCZAK et al., 2006b) (Fig. 3). Além disso, sua abundância e conteúdo proteolítico – sobretudo de metaloproteinases de matriz – parecem se correlacionar com a invasividade de linhagens celulares tumorais in vitro (GINESTRA et al., 1998), que por sua vez se correlaciona com a capacidade metastática de alguns tumores in vivo (GRAVES et al., 2004). Figura 3 – Presença de microvesículas no microambiente tumoral. MVs presentes no sítio de desenvolvimento neoplásico podem interagir com diversos elementos celulares contidos em tal microambiente (como vasos neo-formados, células estromais, leucócitos, e as próprias células do tumor) e, dessa forma, modular as atividades da célula-alvo em questão, influenciando toda a biologia tumoral. Adaptado de Ratajczak et al., 2006b. Além de atividades proteolíticas, funções imunossupressivas e prócoagulantes já descritas para MVs são possivelmente as principais características 9 responsáveis pelo seu envolvimento no estabelecimento de uma grande variedade de tumores, uma vez que estas estão relacionadas a processos centrais no desenvolvimento neoplásico, como aquisição de capacidade invasiva e metastática, indução de angiogênese e escape da vigilância imune. 1.3.1 Câncer e imunossupressão Em 1909, Paul Erlich postulou que, se o sistema imune não fosse capaz de remover “germes aberrantes” de nosso organismo (tumores “recém-natos”), todos nós morreríamos de câncer. Mais tarde, outros pesquisadores reafirmaram a proposta de Erlich como a teoria da vigilância imune contra o câncer, a qual estaria associada a algumas hipóteses: (i) células malignas apresentariam características antigênicas distintas daquelas presentes no tipo celular do qual se originou, tornando possível o seu reconhecimento por células T e a montagem de uma resposta antitumoral eficiente; (ii) a incidência da doença maligna seria maior em períodos de relativa ineficiência imunológica, como na idade avançada; (iii) estados de imunossupressão, genética ou induzida por fatores como drogas, radiação, infecções, etc., aumentariam a incidência de câncer; e (iv) a regressão espontânea de tumores deveria ser observada. De certa forma, essa teoria tem se mostrado de acordo com uma grande variedade de estudos clínicos e experimentais, os quais têm demonstrado por diversos princípios a existência de uma resposta imune específica contra diferentes tipos de tumores. Contudo, o fato de que a grande maioria dos tumores consegue se desenvolver, e eventualmente é fatal ao seu hospedeiro no caso de nenhuma intervenção terapêutica, indica claramente que células neoplásicas podem escapar do controle imune. Mecanismos imunossupressores utilizados por células 10 tumorais para transpor as barreiras imunológicas que restringem a progressão da doença envolvem contatos célula-célula e a liberação de fatores solúveis. A apresentação ineficiente de antígenos tumorais, ou seja, a ativação da resposta de células T na ausência de co-estímulos apropriados, por exemplo, pode levar a um estado de anergia desses linfócitos, normalmente observado no microambiente tumoral (RIVOLTINI et al., 2002). Já no contexto da liberação de fatores solúveis, uma importante citocina capaz de modular a resposta imune é o fator de crescimento tumoral beta (TGF-β). 1.3.1.1 Papel do TGF-β1 no câncer O TGF-β1 atua, normalmente, como um potente inibidor de proliferação, crescimento e diferenciação celulares; porém, no que se refere às células tumorais, sabe-se que, em determinado momento do processo de transformação maligna, a maioria das células transformadas se torna parcial ou totalmente resistente a esses efeitos, devido a mutações ou perda de expressão de diferentes membros da via de sinalização de TGF-β1 (PASCHE, 2001; MOUSTAKAS et al., 2002). Em geral, estas células cancerosas passam, inclusive, a secretar níveis não-fisiológicos dessa citocina que afetam, de maneira autócrina, seu crescimento e diferenciação e, de forma parácrina, todo o ambiente celular adjacente, contribuindo para sua progressão e metástase (MOUSTAKAS et al., 2002). Estudos clínicos mostraram, por exemplo, que pacientes com melanoma, quando comparados a controles sadios, apresentam níveis séricos elevados de TGF-β1 relacionados à disseminação tumoral (KRASAGAKIS et al., 1998). Além disso, a análise de amostras de melanoma primário mostrou altos níveis de mensagem dessa citocina em áreas de lesão progressiva, o que não foi 11 observado nas lesões em processo de regressão (CONRAD et al., 1999). Essa forte associação entre a secreção de TGF-β1 e estágios avançados de progressão tumoral pode ser explicada pelo fato deste fator desempenhar um importante papel na regulação da resposta imunológica, através da supressão do crescimento e diferenciação de células do sistema imune, inclusive das linhagens linfocíticas B e T (MOUSTAKAS et al., 2002). Isso previne respostas auto-imunes inadequadas, porém, no contexto do câncer, essa função imunossupressora pode significar o escape das células tumorais de uma resposta imune protetora. Um estudo com camundongos transgênicos, onde um receptor para TGF-β tipo II dominante negativo foi expresso apenas em células T, mostrou, por exemplo, que o bloqueio da sinalização de TGF-β nestas células leva a um aumento da resistência a tumores (GORELIK e FLAVELL, 2001), o que reforça a idéia de correlação entre a produção de TGF-β e desenvolvimento tumoral. 1.3.1.2 Microvesículas tumorais como partículas imunossupressoras Efeitos inibitórios de MVs tumorais sobre diferentes células do sistema imune, tais como bloqueio de proliferação e atividade citotóxica e indução de apoptose em linfócitos (TAYLOR et al., 2000; ANDREOLA et al., 2002; KIM et al., 2004), e supressão da expressão de moléculas de MHC classe II por monócitos/macrófagos (POUTSIAKA et al., 1985), têm sido descritos na literatura, o que sugere uma importante associação entre a produção de MVs e estados de imunossupressão. No contexto da morte celular por apoptose, o fosfolipídio PS, presente na superfície de MVs e células apoptóticas, é capaz de estimular respostas antiinflamatórias e imunossupressivas, permitindo a remoção “imunologicamente 12 silenciosa” de células apoptóticas por fagócitos (SAVILL et al., 2002). Fadok e colaboradores observaram, por exemplo, que macrófagos humanos, quando estimulados na presença de neutrófilos apoptóticos, produzem grandes quantidades de fatores imunorregulatórios como TGF-β1 (FADOK et al., 1998). Mais tarde, estudos in vivo demonstraram que a secreção de TGF-β1 por macrófagos, dependente de PS, acelera a resolução da inflamação aguda em modelos inflamatórios peritoneal (injeção de tioglicolato) e pulmonar (instilação de lipopolissacarídeo, LPS) (HUYNH, FADOK e HENSON, 2002), além de inibir outros fenótipos inflamatórios tais como a indução da apoptose em células tumorais por macrófagos estimulados com interferon-γ (IFN-γ) e LPS (REITER, KRAMMER e SCHWAMBERGER, 1999). Por isso, uma vez que análises semi-quantitativas de PS na face externa da membrana plasmática de linhagens celulares humanas mostraram que células tumorais expõem altos níveis de PS em relação a células normais (CONNOR et al., 1989; UTSUGI et al., 1991), e considerando que a formação de MVs e a exposição de PS são fenômenos estritamente relacionados, podemos supor o seu envolvimento no estabelecimento tumoral, possivelmente através da regulação da produção de TGF-β1 e conseqüente modulação da ativação de células do sistema imune como macrófagos (Fig. 4). Assim sendo, MVs poderiam inibir respostas inflamatórias antitumorais, propiciando o escape do tumor de uma resposta imune efetiva. 13 Figura 4 – Modelo de modulação da resposta imune por microvesículas tumorais. MVs funcionariam como estruturas amplificadoras dos sinais tumorais, através da manutenção da PS externalizada e de sua interação com diversos tipos celulares do sistema imune presentes no microambiente do tumor, como macrófagos (MO), células dendríticas (DC) e linfócitos (LO). Como possível conseqüência dessa interação, observa-se exemplos de supressão da resposta imune, como a inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias (TNFα, IL-1β e IL12) e a indução da liberação de fatores antiinflamatórios (TGF-β1 e IL-10) por fagócitos profissionais (MO e DC); e, ainda, a regulação negativa do crescimento e da diferenciação linfocitários 1.3.2 Câncer e coagulação 1.3.2.1 Coagulação sanguínea O processo de coagulação sanguínea é parte integrante de um complexo mecanismo denominado sistema hemostático, cuja função primordial consiste em reconhecer danos vasculares e recrutar uma apropriada combinação de células e enzimas, que levam à produção de um "tampão" insolúvel, constituído de plaquetas e fibrina, interrompendo assim a perda de sangue. A cascata de coagulação pode ser explicada de maneira simplificada como uma série de reações proteolíticas de ativação de zimogênios, que culmina na geração de 14 trombina e conseqüente formação de fibrina a partir de uma proteína solúvel do plasma denominada fibrinogênio (Fig. 5). Esse evento envolve, de forma geral, três importantes pilares: fatores de coagulação plasmáticos; íons cálcio; e superfícies membranares pró-coagulantes. Quando devidamente combinados, esses três grupos formam os efetores centrais do processo de coagulação: os complexos tenase extrínseco e intrínseco, e o complexo protrombinase. Em cada caso, uma enzima serino-protease ativa se liga ao seu co-fator protéico, na presença de íons Ca2+, de maneira a formar um complexo enzimático em uma superfície de membrana. Em situações onde há injúria vascular, o complexo iniciador, tenase extrínseco, é formado quando a enzima fator VIIa, presente no plasma, entra em contato com o Fator Tecidual (TF), uma proteína transmembranar de 47 kD constitutivamente expressa na superfície de células sub-endoteliais e em alguns tecidos extravasculares (BROZE, 1995), mas que também pode estar presente na membrana de células vasculares ativadas como monócitos e células endoteliais. Esse complexo (TF/fator VIIa) converte o zimogênio fator X em uma serino-protease ativa, o fator Xa. Este se dissocia do complexo tenase e se associa ao co-fator protéico fator Va, íons Ca2+ e superfícies celulares ricas em fosfolipídios aniônicos, especialmente PS, para formar o complexo protrombinase, que ativa o zimogênio protrombina na serinoprotease trombina. Finalmente, a trombina promove a clivagem de fibrinogênio, permitindo a formação de polímeros de fibrina, que por sua vez darão origem ao coágulo de fibrina. O complexo tenase extrínseco converte ainda o zimogênio fator IX na sua forma ativa, fator IXa, que associado ao co-fator protéico fator VIIIa, íons Ca2+ e fosfolipídios forma o complexo tenase intrínseco e também catalisa a ativação do fator X. 15 Figura 5 – Cascata de coagulação sanguínea. Esquema simplificado do processo de coagulação in vivo. Cores indicam: zimogênios, verde; enzimas ativas, laranja; co-fatores, azul. FVIIa, FIX, FIXa, FX, FXa, FVIIIa, FVa, FPA e FPB representam, respectivamente, os fatores VIIa, IX, IXa, X, Xa, VIIIa e Va, e os fibrinopeptídeos A e B. Como pode ser observado, membranas celulares são elementos essenciais para a ativação da coagulação sanguínea, tanto no início, durante a exposição de Fator Tecidual ao plasma, permitindo a montagem do complexo tenase extrínseco, quanto na fase de propagação da cascata, onde a presença de fosfolipídios aniônicos, em especial PS, é crítica para a formação dos complexos tenase intrínseco e protrombinase (KALAFATIS et al., 1994) (Fig. 6). 16 Figura 6 – Reações da coagulação dependentes de superfícies de membrana. Representação esquemática dos principais complexos enzimáticos da coagulação, onde cada serino-protease está associada ao seu co-fator protéico e substrato apropriados, em uma superfície de membrana expondo Fator Tecidual (no caso do complexo tenase extrínseco) ou fosfatidilserina, representada em azul (no caso dos complexos tenase intrínseco e protrombinase). Adaptado de Kalafatis et al., 1994. A conservação da integridade do sistema vascular – e conseqüentemente o bom funcionamento do sistema hemostático – é essencial para a manutenção da vida humana, uma vez que este é responsável por funções vitais que incluem o transporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos e restos metabólicos para vias de excreção adequadas. Contudo, apesar da existência de mecanismos complexos de regulação, o processo de hemostasia pode acontecer também na ausência de dano vascular, levando à formação de trombos capazes de ocluir os vasos sanguíneos. Essa ativação não específica do sistema hemostático está relacionada ao desenvolvimento de diversas doenças tromboembólicas, tais como a trombose venosa profunda e o embolismo pulmonar, e ocorre em maior freqüência em diferentes estados patológicos como diabetes, aterosclerose, sepse e câncer (RICKLES e LEVINE, 2001; HIRSH, O'DONNELL e WEITZ, 2005). 17 1.3.2.2 Estados hipercoagulantes no câncer Uma importante correlação entre câncer e estados de hipercoagulação foi descrita há mais de um século pelo clínico francês Armand Trousseau (18011867), e desde então é amplamente discutida na literatura. A ocorrência de trombose é comumente observada em indivíduos com neoplasias malignas, sendo esta incidência variável de acordo com o tipo de câncer, e particularmente alta em tumores de pâncreas, pulmão e do trato gastrointestinal, além de gliomas e algumas leucemias (HOFFMAN, HAIM e BRENNER, 2001; RICKLES e LEVINE, 2001). Em muitos casos, a doença tromboembólica é diagnosticada como a primeira manifestação clínica de um tumor, sendo freqüentemente a principal complicação nos pacientes oncológicos e a segunda causa de óbito na maioria dos tipos de neoplasia (DONATI, 1995; MANDALA et al., 2003). Além disso, estudos epidemiológicos têm demonstrado uma significativa correlação entre a ocorrência de trombose e um pior prognóstico da doença (SORENSEN et al., 2000). Corroborando os diversos dados clínicos que evidenciam uma íntima associação entre a progressão tumoral e o desenvolvimento de um estado de hipercoagulabilidade no paciente em questão, análises histopatológicas demonstram a presença de depósitos de fibrina e de agregados de plaquetas dentro e em volta de diferentes tumores, indicando uma ativação local da coagulação. Além disso, mesmo pacientes com câncer sem manifestações clínicas de trombose apresentam anormalidades em testes laboratoriais de coagulação (alterações hemostáticas levando à hipercoagulabilidade ocorrem em 60% a 100% destes indivíduos), caracterizadas por diferentes níveis de ativação da coagulação sanguínea, e que incluem: redução do tempo de tromboplastina 18 parcial ativada; níveis elevados de proteínas da coagulação (fibrinogênio, fatores V, VIII, IX e X); trombocitose; aumento dos produtos de degradação de fibrina e fibrinogênio, entre outros (ZWICKER, FURIE e FURIE, 2007). Essa condição hipercoagulável dos pacientes com câncer pode ser parcialmente explicada por mecanismos gerais de resposta do hospedeiro à doença maligna, como por exemplo, respostas inflamatórias, mudanças no metabolismo protéico e estase venosa. Contudo, a ativação do sistema hemostático desses indivíduos deve-se, sobretudo, a propriedades prócoagulantes específicas das células tumorais, as quais incluem: (i) a síntese de moléculas pró-coagulantes, particularmente Fator Tecidual e o pró-coagulante neoplásico CP, um ativador direto do fator X; (ii) a síntese de citocinas próinflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNFα), interleucina 1 beta (IL1β) e interferon gama (IFNγ), as quais podem ativar células endoteliais e monócitos a expressarem o Fator Tecidual em sua membrana externa, por exemplo; (iii) a interação direta com células vasculares, resultando na ativação destas últimas e na conseqüente modulação do sistema hemostático; e (iv) a exposição do fosfolipídio fosfatidilserina (PS) na membrana externa das células tumorais, permitindo a geração de superfícies lipídicas que suportam os complexos da coagulação sanguínea. É importante ressaltar que as evidências que suportam a relação entre trombose e neoplasia não se restringem apenas à maior incidência de eventos trombóticos em pacientes com câncer, e vice-versa, mas também ao fato de que pacientes com trombose e câncer têm uma neoplasia de comportamento mais agressivo do que aqueles que não apresentaram fenômenos de trombose. 19 Em um importante estudo nessa área, Sorensen e colaboradores observaram, por exemplo, que em pacientes diagnosticados concomitantemente com câncer e tromboembolismo venoso (TEV), a taxa de sobrevida após um ano foi de 12%, contra 36% em pacientes com câncer sem diagnóstico de eventos tromboembólicos (diferença essa que se mostrou bastante importante particularmente nos dez primeiros anos após o diagnóstico da neoplasia), o que os levou à conclusão de que episódios de TEV estão frequentemente associados a um estágio avançado do câncer, assim como a um pior prognóstico (SORENSEN et al., 2000). Neste contexto, vários autores têm enfatizado cada vez mais a importância do sistema de coagulação sanguínea em diferentes processos do desenvolvimento neoplásico, principalmente no que diz respeito a angiogênese e metástase tumorais. Através do estudo de culturas de células, assim como de amostras de pacientes, diferentes trabalhos têm demonstrado, por exemplo, uma forte associação entre a expressão de Fator Tecidual e o padrão agressivo de células neoplásicas (GUAN et al., 2002; ISHIMARU et al., 2003). A presença de Fator Tecidual tem se correlacionado ainda com a produção do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), um dos principais fatores próangiogênicos já descritos, assim como a uma maior densidade microvascular (GUAN et al., 2002; NAKASAKI et al., 2002). Além disso, a superexpressão de receptores sensíveis às enzimas da coagulação, denominados PAR (do inglês Protease Activated Receptor), em células tumorais, e sua conseqüente ativação por essas proteínas também têm sido associadas a vários aspectos da biologia do câncer, incluindo migração, invasão, sobrevivência, e a produção de fatores angiogênicos, metaloproteinases e citocinas pró-tumorais (EVEN-RAM et al., 20 1998; BELTING, AHAMED e RUF, 2005; RAO e PENDURTHI, 2005). Portanto, o estudo dos mecanismos pró-coagulantes associados ao desenvolvimento neoplásico, responsáveis pelos estados pró-trombóticos observados, poderia revelar não apenas possíveis alvos terapêuticos contra tal efeito colateral (os eventos tromboembólicos), mas também contra a doença primária, o câncer. 1.3.2.3 Câncer e microvesículas pró-coagulantes Microvesículas, de uma forma geral, transportam antígenos de membrana de seu tecido de origem. Logo, MVs produzidas por células neoplásicas poderiam mimetizar e amplificar suas propriedades pró-coagulantes específicas já mencionadas acima. De fato, em 1981, Dvorak e colaboradores demonstraram pela primeira vez que fragmentos de membrana liberados por linhagens celulares tumorais em cultura apresentavam comportamento pró-coagulante consistente com a atividade de Fator Tecidual (DVORAK et al., 1981). Desde então, a presença de Fator Tecidual em MVs tumorais tem sido apontada como responsável, pelo menos em parte, pela atividade pró-coagulante/estado prótrombótico observado em linhagens tumorais e pacientes com câncer, respectivamente, de diversas origens, como glioma, certos tipos de leucemia (incluindo as leucemias promielocítica e monocítica agudas, e a leucemia mielóide crônica), carcinoma de pulmão, e adenocarcinomas de pâncreas e mama (BASTIDA et al., 1984; CARR, DVORAK e DVORAK, 1985; DEL CONDE et al., 2007; TESSELAAR et al., 2007). Além disso, a exposição de PS em MVs tumorais possibilita a montagem do complexo pró-coagulante protrombinase (DVORAK et al., 1983; VANDEWATER et al., 1985), dependente de membranas carregadas negativamente, as quais, em condições de dano vascular, são 21 constituídas pela superfície de plaquetas ativadas no sítio de lesão em questão (MONROE, HOFFMAN e ROBERTS, 2002). Em paralelo, a grande maioria das células do compartimento vascular, quando submetidas a um estímulo pró-coagulante, pró-inflamatório ou apoptótico, também apresenta o fenômeno de perda da assimetria da membrana plasmática, tendo como conseqüência a exposição de PS na sua face extracelular e concomitante liberação de MVs, que podem conter, além de PS, outras proteínas que sejam expressas por estas células de origem. Por serem ricas em PS, MVs originadas de plaquetas ativadas, por exemplo, podem funcionar como superfícies para a ligação de proteínas da cascata de coagulação – como os fatores VIIIa, IXa, Va e Xa – e conseqüente montagem dos complexos dependentes de membranas carregadas negativamente, contribuindo assim para a geração de trombina (DIAMANT et al., 2004; FURIE et al., 2005; ZWICKER, FURIE e FURIE, 2007). Além disso, MVs derivadas de células endoteliais e monócitos ativados, que carregam Fator Tecidual a partir de sua célula de origem (SATTA et al., 1994; COMBES et al., 1999), podem ser superfícies adequadas à interação com o fator VIIa. Estas últimas são capazes, ainda, de se ligar às plaquetas nos locais de injúria vascular através da interação entre a glicoproteína ligante de P-selectina (PSGL-1), presente nas MVs, e a Pselectina, presente nas plaquetas ativadas (MCGREGOR, MARTIN e MCGREGOR, 2006). Subseqüentemente, estas podem fundir-se às plaquetas, em um processo dependente de PSGL-1 e Fator Tecidual. Ao se fundirem, ocorre a transferência de Fator Tecidual e de outras proteínas à membrana plaquetária, o que a torna uma superfície com maior potencial pró-coagulante, aumentando a 22 atividade Fator Tecidual-fator VIIa e a geração de local de trombina (RAUCH et al., 2000; EILERTSEN e ØSTERUD, 2004). O papel pró-coagulante in vivo de MVs tem sido ainda reforçado por diferentes evidências na literatura. Como exemplos principais, podemos citar a importante relação entre números elevados de MVs circulantes no plasma humano e o risco aumentado de complicações tromboembólicas, a qual tem sido demonstrada em diversos estudos (KAHN, ZUCKER-FRANKLIN e KARPATKIN, 1975; MALLAT et al., 2000; ANDO et al., 2002). Por outro lado, uma maior tendência a eventos hemorrágicos e níveis reduzidos de MVs circulantes também têm sido associados em síndromes severas raras (GEMMELL, SEFTON e YEO, 1993; CASTAMAN et al., 1997). Finalmente, MVs obtidas a partir de indivíduos normais, assim como de diferentes populações de pacientes, são capazes de promover a coagulação in vitro, e, ao mesmo tempo, sabe-se que a administração sistêmica de MVs, em modelo de trombose venosa em ratos, leva a uma formação significativa de trombos (BIRÓ et al., 2003). Em conjunto, esses dados sugerem fortemente a grande relevância clínica e fisiológica dessas estruturas no processo de coagulação in vivo. MVs produzidas por células tumorais e células vasculares ativadas poderiam exercer, portanto, um papel importante na biologia tumoral, através da manutenção de PS externalizada e da presença de outras moléculas, como o Fator Tecidual, contribuindo para a ativação do processo de coagulação. Contudo, apesar de diversos trabalhos indicarem a presença de MVs prócoagulantes em uma grande variedade de pacientes com câncer que apresentam conhecidamente uma alta incidência de eventos tromboembólicos, maiores esforços devem ser direcionados a fim de se confirmar se altas concentrações de 23 MVs pró-coagulantes seriam clinicamente importantes marcadores de complicações tromboembólicas, além de se determinar se tais estruturas desempenham realmente um papel central (‘causal’) na patogênese da trombose associada ao câncer e vice-versa. 1.4 PAPEL DE MICROVESÍCULAS NO ESTABELECIMENTO DO MELANOMA MALIGNO Nesse estudo, buscamos entender o papel de MVs em modelos de melanoma maligno, um tipo de câncer que se origina dos melanócitos, os quais são as células da pele produtoras de melanina. Embora apresente a menor incidência entre todos os tipos de câncer de pele, sua letalidade é bastante elevada, sendo considerado o mais grave, principalmente devido à sua grande capacidade metastática. Como vimos, MVs, de uma forma geral, transportam moléculas de superfície de suas células de origem, o que inclui o fosfolipídio PS. A exposição de PS em membranas celulares está envolvida em processos biológicos como a apoptose – onde é responsável pelo reconhecimento e remoção antiinflamatória de células apoptóticas por fagócitos – e a ativação da cascata de coagulação sanguínea, onde participa da montagem de diferentes complexos enzimáticos pró-coagulantes. Análises semiquantitativas de PS na face externa da membrana plasmática de linhagens celulares humanas mostraram que células tumorais expõem altos níveis de PS em relação às células normais (CONNOR et al., 1989; UTSUGI et al., 1991), sugerindo o envolvimento desse fosfolipídio na biologia tumoral. Por isso, considerando o papel modulador de PS na atividade antiinflamatória 24 macrofágica, é possível que seu reconhecimento em membranas de MVs seja capaz de inibir o desenvolvimento de uma resposta inflamatória anti-tumoral, regulando positivamente a liberação de fatores imunorregulatórios como o TGFβ1, um importante mediador do processo de progressão maligna. Assim sendo, propiciaria, de forma semelhante ao que é visto em células apoptóticas, uma resposta imune menos efetiva e um processo inflamatório pouco desenvolvido. De fato, estudos clínicos mostraram que pacientes com melanoma, quando comparados a controles sadios, apresentam níveis séricos elevados de TGF-β1, sendo estes relacionados à disseminação tumoral. Além disso, a análise de amostras de melanoma primário mostrou altos níveis de mensagem dessa citocina em áreas de lesão progressiva, o que não foi observado nas lesões em processo de regressão. Ainda no contexto do câncer, sabe-se que a exposição de PS em MVs tumorais possibilita a montagem de complexos pró-coagulantes dependentes de membranas carregadas negativamente, algo que possivelmente contribui para a seu papel pró-trombótico, e sugere sua participação nos mecanismos patogênicos implicados na associação bidirecional entre câncer e estados hipercoagulantes. Além disso, a presença do fator pró-coagulante Fator Tecidual nessas partículas derivadas de células neoplásicas tem sido também apontada como responsável, pelo menos em parte, pela atividade pró-coagulante/estado pró-trombótico observado em linhagens tumorais e pacientes com câncer, respectivamente. Como já citado, o melanoma é um tipo de câncer altamente metastático, e há fortes evidências sugerindo que suas propriedades pró-coagulantes contribuam para o seu comportamento agressivo (MUELLER et al., 1992; BROMBERG et al., 1995). Tal padrão é refletido ainda em um perfil 25 hipercoagulante de pacientes com melanoma, quando estes são analisados através de testes laboratoriais de ativação da coagulação sanguínea (BOTTASSO et al., 1996). Portanto, MVs produzidas por células tumorais poderiam exercer um papel importante no estabelecimento do tumor, através da manutenção da PS externalizada e da amplificação dos sinais tumorais, interagindo com diversos tipos celulares presentes no microambiente do tumor. Dentre estes fenômenos, a modulação das respostas imune e inflamatória, assim com a ativação do processo de coagulação, seria de grande importância. É importante ressaltar que a identificação das MVs em pacientes com câncer e o seu papel na progressão tumoral ainda são pouco compreendidos e, por isso, esperamos contribuir para a elucidação dos mecanismos responsáveis pela importante ação pró-tumoral desempenhada por estas estruturas. . 26 2 OBJETIVOS 27 2.1 OBJETIVO GERAL Esclarecer o papel de microvesículas produzidas pelo melanoma maligno no reconhecimento, estabelecimento e metástase do tumor. Para esse fim, utilizamos a linhagem celular de melanoma B16F10, a qual é amplamente utilizada na literatura, devido a sua alta capacidade metastática. Além disso, trabalhamos com um modelo comparativo entre a linhagem celular de melanoma Tm1 e sua linhagem celular parental de melanócitos, melan-A (CORREA et al., 2005). 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Identificar a produção de MVs in vitro pelo melanoma B16F10, assim como a exposição funcional de PS em ambas as estruturas; • Investigar a modulação da resposta inflamatória de macrófagos por MVs derivadas de células B16F10, principalmente no que diz respeito à produção de TGF-β1; • Investigar o papel de MVs e da exposição de PS no modelo de metástase in vivo do melanoma B16F10; • Observar e comparar a produção de MVs in vitro pelas linhagens celulares de melanoma Tm1, e de melanócitos, melan-A; • Caracterizar in vitro a atividade pró-coagulante de MVs liberadas na cultura de células de Tm1 e melan-A; • Avaliar a presença de MVs tumorais no plasma de camundongos pré- inoculados com células de melanoma, além de caracterizar suas propriedades pró-coagulantes ex vivo. 28 3 MATERIAIS E MÉTODOS 29 3.1 CULTURA DE CÉLULAS As linhagens celulares murinas B16F10 e Tm1 (melanomas), e melan-A (melanócitos) (estas últimas gentilmente doadas pelo Dr. Roger Chammas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo) foram mantidas à 37ºC, em estufa com 5% de CO2, através de duas passagens semanais em garrafas de cultura contendo meio DME (Dulbecco´s Modified Eagle Medium, GibcoBRL), acrescido de 10% (v/v) de soro fetal bovino (SFB), e suplementado com 2,4 g/L de HEPES, 3,7 g/L de bicarbonato de sódio, 125 mg/L de fosfato de sódio dihidrogenado, 110 mg/L de piruvato de sódio, 100.000 U/L de penicillina, 100 mg/L de estreptomicina, 2 mM de L-glutamina e 55 μM de βmercaptoetanol, além de 200 nM do éster de forbol PMA (forbol 12-miristato 13acetato), no caso da linhagem melan-A. Após separação do sobrenadante de cultura para posterior purificação de microvesículas, as células eram soltas com tampão Hank’s contendo 10 mM de HEPES e 0,2 mM de EDTA, centrifugadas a 350 x g por 7 min, ressuspendidas em meio DME contendo 10% (v/v) de SFB (suplementado como descrito acima) e transferidas para outra garrafa de cultura – ou ainda, mantidas a 4oC até sua utilização. 3.2 PURIFICAÇÃO DE MVS SECRETADAS EM SOBRENADANTES DE CULTURA DE CÉLULAS Sobrenadantes de cultura de células eram centrifugados primeiramente a 800 x g por 10 min (para eliminação de possíveis células mortas) e, em seguida, a 16.000 x g por 15 min, sempre a 4°C. O precipitado obtido era então lavado uma vez e ressuspendido em salina tamponada por fosfato (PBS, do inglês phosphate 30 buffer saline), quantificado por contagem em um citômetro de fluxo BD FACScalibur™ (Becton, Dickinson and Company), e conservado a –80°C até sua utilização. A quantificação de microvesículas por análise citofluorimétrica foi ainda validada por quantificação protéica, através do ensaio de Bradford. Cabe ressaltar que vesículas menores (os chamados exossomos) não foram incluídas neste estudo, uma vez que ultracentrifugações mais vigorosas (100.000 x g por 60 min, por exemplo) dos sobrenadantes de cultura não foram realizadas. 3.3 ANÁLISES POR CITOMETRIA DE FLUXO 3.3.1 Avaliação da exposição de fosfatidilserina Para detecção da exposição de PS, células e MVs B16F10 foram ressuspendidas em 150 mM de NaCl, 5 mM de KCl, 2,5 mM de CaCl2, 1 mM de MgCl2 e 10 mM de HEPES, pH 7,3 (tampão de ligação de anexina) e incubadas com 25 μg/mL de anexina V conjugada a fluoresceína (FITC) (Molecular Probes) por 15 min à temperatura ambiente. Células B16F10 foram ainda marcadas com 10 μg/mL de iodeto de propídeo (PI) para exclusão daquelas que tivessem perdido a integridade de sua membrana plasmática, tornando-se for permeáveis a PI. Já MVs derivadas de células melan-A e Tm1 foram ressuspendidas em PBS contendo 10% (v/v) de soro bovino adulto (necessário para ligação do anticorpo a PS), e incubadas por 15 min à temperatura ambiente com anticorpo monoclonal murino anti-PS 3G4 (previamente descrito por RAN et al., 2005 e gentilmente doado pelo Dr. Philip E. Thorpe, Department of Pharmacology and 31 Simmons and Hamon Cancer Centers, University of Texas Southwestern Medical Center at Dallas, Texas) conjugado a Alexa 488 e diluído 1:200. As amostras foram então lavadas extensivamente com PBS e, assim como células e MVs de melanoma B1F10, adquiridas em um citômetro de fluxo BD FACScaliburTM (Becton, Dickinson and Company) (total de 10.000 eventos por amostra), e os dados coletados analisados pelo programa BD CellQuest ProTM (Becton, Dickinson and Company). 3.3.2 Avaliação da exposição do antígeno associado a melanoma MAA MVs derivadas de células B16F10 foram ressuspendidas em PBS contendo 1% (m/v) de albumina bovina sérica (BSA) e incubadas por 1 h a 4ºC com anticorpo monoclonal murino anti-MAA (MM29B6, sobrenadante de hibridoma gentilmente doado pelo Dr. Roger Chammas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo), diluído 1:1. As amostras foram então lavadas com PBS, e incubadas com anticorpo secundário anti-IgG murino conjugado a FITC (Sigma), diluído 1:800, por 1 h a 4ºC. Um controle para marcação secundária não-específica foi feito incubando-se uma alíquota somente com o anticorpo anti-IgG murino. Após extensivas lavagens com PBS, amostras foram adquiridas em um citômetro de fluxo BD FACScaliburTM (Becton, Dickinson and Company) (total de 10.000 eventos por amostra), e os dados coletados analisados pelo programa BD CellQuest ProTM (Becton, Dickinson and Company). 3.3.3 Avaliação da exposição de Fator Tecidual 32 Células foram lavadas com PBS contendo 2% de soro normal de camundongo (bloqueio para ligações inespecíficas utilizado durante as incubações), e incubadas por 30 min a 4ºC com 200 μg/mL de anticorpo policlonal anti-TF murino (American Diagnostica) ou controle isotipo IgG de coelho (Santa Cruz Biotechnology Inc.). As amostras foram então fixadas com paraformaldeído 1%, incubadas com 15 μg/mL de anticorpo secundário anti-IgG de coelho conjugado a biotina (Invitrogen) por 30 min a 4ºC, e finalmente incubadas com 2.5 μg/mL de estreptavidina conjugada a ficoeritrina (BD Pharmingen), também por 30 min a 4ºC. Após serem lavadas duas vezes com PBS (o que foi realizado também entre as incubações), as amostras foram adquiridas em um citômetro de fluxo BD FACScaliburTM (Becton, Dickinson and Company) (total de 10.000 eventos por amostra), e os dados coletados analisados pelo programa BD CellQuest ProTM (Becton, Dickinson and Company). 3.4 MICROSCOPIA DE FLUORESCÊNCIA Células B16F10 foram crescidas em lamínulas depositadas em placa de 24 poços (TPP) (105 células/mL de meio DME suplementado contendo 10% (v/v) de SFB), mantidas a 37°C, em estufa com 5% de CO2, por 24h. As células foram então lavadas três vezes com tampão Hank’s, incubadas com anexina V conjugada a biotina (PharMingen), diluída 1:10, em tampão de ligação de anexina por 15 min à temperatura ambiente, e incubadas em seguida com 2,5 µg/mL de estreptavidina-FITC (PharMingen), novamente em tampão de ligação de anexina por 15 min à temperatura ambiente. Após cada incubação, as lamínulas foram lavadas três vezes, sempre em tampão de anexina. Estas foram então dispostas sobre lâminas, montadas com n-propilgalato e seladas com esmalte incolor, e 33 observadas em um microscópio Axiovert S 100 equipado com um analisador de imagens KS300 (Zeiss). Um controle de marcação secundária não-específica foi feito incubando-se MVs diretamente com estreptavidina-FITC. Além disso, uma amostra permeabilizada foi preparada após fixação com 2% de paraformaldeído em PBS por 30 min e posterior tratamento com 40 µM de digitonina por 10 min antes das incubações com anexina V e estreptavidina. 3.5 MICROSCOPIA ELETRÔNICA Para localização de resíduos de fosfatidilserina por microscopia eletrônica de transmissão, MVs derivadas de células B16F10 foram pré-fixadas por 10 min a 4oC, em uma solução contendo 0,1% de glutaraldeído e 4% de paraformaldeído em 0,1 M de tampão cacodilato, pH 7,2. Após pré-fixação, as amostras foram lavadas três vezes em tampão de anexina contendo 3% de BSA, incubadas por 30 min a 4oC com anexina V biotinilada (Pharmingen) – diluída 1:10 –, e pósincubadas com 0,5 U/mL de estreptavidina conjugada a partículas de ouro coloidal de 10 nm (Sigma), também por 30 min a 4oC. Um controle da marcação secundária não-específica foi feito a partir da incubação direta das MVs com a estreptavidina. Após a última incubação, MVs foram lavadas três vezes em tampão de anexina contendo 3% de BSA, fixadas por 1 h a 37o C em uma solução contendo 2,5% de glutaraldeído, 1% de paraformaldeído, 8% de sacarose e 2,5 mM de CaCl2 em 0,1 M de tampão cacodilato, pH 7,2, e lavadas três vezes mais em 0,1 M de tampão cacodilato contendo 2,5 mM de CaCl2. Estas foram ainda pósfixadas em incubação com tetróxido de ósmio e ferrocianeto de potássio (1:1) por 34 30 min a 4°C, no escuro, e lavadas quatro vezes novamente em 0,1 M de tampão cacodilato contendo 2,5 mM de CaCl2. As amostras foram então desidratadas com acetona (30%, 50%, 70%, 90%, 100% e super seca, seqüencialmente, a cada 10 min) e incluídas em resina epon por 48 h a 60°C. Cortes ultrafinos foram marcados com acetato de uranila e citrato de chumbo, lavados com água destilada, e examinados em um microscópio eletrônico de transmissão Zeiss CEM 900 (Zeiss). Para a simples visualização das MVs, um protocolo similar foi seguido, porém sem os passos de marcação com anexina V e estreptavidina. 3.6 ENSAIO DE ATIVAÇÃO DA PROTROMBINA A ativação da protrombina pelo complexo protrombinase (fator Xa/fator Va) foi realizada em 50 mM de HEPES, 100 mM de NaCl, 5 mM de CaCl2, 1 mg/mL de BSA, pH 7,5 (tampão HEPES-BSA). Fator Xa (10 pM, concentração final) foi incubado com Fator Va (1 nM, concentração final), na presença de MVs, por 2 min a 37°C. A reação foi então iniciada pela adição de protrombina (500 nM, concentração final), e alíquotas de 10 µL foram removidas a cada 1 min e adicionadas a poços de microplaca contendo 40 µL de tampão Tris-EDTA. Após a adição de 50 µL do peptídeo sintético S-2238 200 µM (substrato cromogênico para trombina preparado em tampão Tris-EDTA – Chromogenix), a absorbância a 405 nm foi lida a 37°C, por 20 min, a intervalos de 6 s, através de um leitor de microplacas Thermomax Microplate Reader (Molecular Devices). Velocidades (mOD/min) obtidas nos primeiros minutos de reação foram utilizadas para o cálculo da concentração de trombina formada. 35 O efeito da anexina V sobre a formação de trombina foi ainda analisado através da incubação de MVs (3,6 x 104/mL) com concentrações variáveis de anexina V (0-100 nM) por 5 min a 37°C em tampão HEPES-BSA. MVs foram então incubadas com fator Xa (10 pM) e fator Va (1 nM) por 2 min a 37°C, e, em seguida, com protrombina (500 nM). Alíquotas de 10 µL foram removidas após 5 min, e adicionadas a poços de microplaca contendo 40 µL de tampão Tris-EDTA. A concentração de trombina formada foi avaliada como descrito anteriormente, utilizando-se o substrato cromogênico S-2238. 3.7 QUANTIFICAÇÃO DE TGF-Β1 EM CO-CULTURAS DE MACRÓFAGOS E MVS DE MELANOMA B16F10 Macrófagos peritoneais de camundongos BALB/c, ativados com tioglicolato (Sigma-Aldrich), foram recolhidos e lavados em meio DME contendo 10% (v/v) de SFB (suplementado como descrito anteriormente). Após contagem de células, 5 x 105 macrófagos foram crescidos em placa de 24 poços (TPP), mantidos a 37°C, em estufa com 5% de CO2. Após 2 h de incubação para aderência, células foram lavadas e cultivadas na presença de MVs de melanoma B16F10 (pré-incubadas ou não com anexina V Pharmingen diluída 1:250 por 15 min) por 12-18 h a 37°C, em meio DME livre de soro. A liberação de TGF-β1 nos sobrenadantes das coculturas foi então analisada por ELISA (DuoSet kit; R&D Systems). 3.8 ESTABELECIMENTO IN VIVO DO MELANOMA B16F10: MODELO DE METÁSTASE 36 Camundongos isogênicos C57BL/6 ou BALB/c, de 6-8 semanas, foram inoculados por via intravenosa (veia lateral da cauda) com 104 células B16F10 ressuspendidas em 100 μL de meio DME. Após duas a quatro semanas, os animais foram mortos por inalação de CO2, os pulmões foram removidos, e o número de nódulos tumorais pulmonares foi contado apenas na face convexa desse órgão (o que foi realizado com o auxílio de uma lupa). Para investigar o efeito de MVs de melanoma B16F10 nesse modelo, camundongos foram inoculados por via intravenosa com 5 x 104 MVs ressuspendidas em 100 μL de meio DME (pré-incubadas ou não com anexina V Pharmingen diluída 1:250 por 15 min), 2h antes ou ao mesmo tempo do inóculo de células B16F10. 3.9 ATIVAÇÃO DA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA IN VITRO A habilidade de MVs estudadas em potencializar a coagulação sanguínea in vitro foi avaliada através de ensaio de recalcificação do plasma, de acordo com o seguinte protocolo: 50 μL de plasma murino pobre em plaquetas contendo citrato de sódio (citrato de sódio 3,8%, 1:9, v/v) foi incubado com 50 μL de microvesículas ressuspendidas em PBS, em diferentes concentrações – ou ainda, com 50 μL apenas de PBS –, por 1 min a 37 oC. Adicionou-se então 100 μL de CaCl2 6,25 mM, e o tempo necessário para ocorrência de coagulação foi monitorado em um Coagulômetro KC-4 micro Amelung (Amelung Ltd, Diagnostic Grifols). 37 3.10 PURIFICAÇÃO DE MVS A PARTIR DO PLASMA DE CAMUNDONGOS C57BL/6 INOCULADOS COM CÉLULAS DE MELANOMA TM1 OU MELANÓCITOS MELAN-A Camundongos isogênicos C57BL/6, de 6-8 semanas, foram inoculados por via subcutânea com 5 x 105 células Tm1 ou melan-A ressuspendidas em 100 μL de meio DME, ou apenas com o veículo de inoculação. Após 17 dias, animais foram anestesiados e amostras de sangue foram recolhidas por punção cardíaca na presença de citrato de sódio (citrato de sódio 3,8%, 1:9, v/v). O plasma foi separado por centrifugação do sangue total, e purificado de acordo com o mesmo protocolo de purificação de MVs produzidas in vitro. A presença de MVs foi então analisada e quantificada por contagem em um citômetro de fluxo BD FACScalibur™ (Becton, Dickinson and Company). 3.11 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Teste t não pareado com correção de Welch foi realizado através do programa InStat (GraphPad). 38 4 RESULTADOS 39 4.1 PAPEL DE MICROVESÍCULAS DE MELANOMA B16F10 NA METÁSTASE TUMORAL 4.1.1 Células de melanoma B16F10 produzem microvesículas in vitro Células de melanoma murino B16F10, uma linhagem tumoral altamente metastática, foram selecionadas in vivo por sua alta capacidade de formar nódulos tumorais pulmonares em seu hospedeiro singeneico – a linhagem de camundongos isogênicos C57BL/6 – quando inoculadas por via intravenosa (FIDLER, 1973). A fim de investigar o papel da formação de MVs no estabelecimento do melanoma maligno, examinamos a produção in vitro destas estruturas pela linhagem celular B16F10, amplamente utilizada na literatura. Através de sucessivas centrifugações diferenciais de sobrenadantes de cultura dessas células, conseguimos isolar um precipitado de MVs, as quais foram caracterizadas por microscopia eletrônica de transmissão e citometria de fluxo. Com a primeira técnica, pudemos observar fragmentos de membrana circulares, com uma morfologia relativamente homogênea, apresentando um diâmetro estimado de 200 nm – o qual se encaixa no padrão de tamanhos já descritos na literatura para essas estruturas (0,1-1 μm) – e carregando um material eletrondenso em sua porção interna, interpretado como melanina (Fig. 7A). Cabe ressaltar que a presença de DNA foi descartada pela marcação negativa com iodeto de propídeo e por análise em gel de agarose, o que as diferencia de corpos apoptóticos. Já a citometria de fluxo nos permitiu determinar um perfil de espalhamento de luz frontal/lateral dessas MVs (forward vs. side light scattering – FSC vs. SSC) (Fig. 7B), o qual se tornou o principal parâmetro utilizado para monitorar a purificação freqüente de MVs. 40 Figura 7 – Caracterização de MVs produzidas in vitro por células B16F10. (A) Morfologia de MVs: fotomicrografia obtida por microscopia eletrônica de transmissão. (B) População de MVs analisada por citometria de fluxo. Perfil de espalhamento de luz frontal (FSC – eixo x) vs. espalhamento de luz lateral (SSC – eixo y). Uma vez que MVs expressam marcadores moleculares característicos da célula a partir da qual se originam, MVs produzidas in vitro por células B16F10 foram analisadas para a presença de moléculas de superfície tumorais. De fato, verificamos que tais MVs carregam o antígeno associado a melanoma MAA, específico de melanomas originados em camundongos C57BL/6 e codificado por um retrovírus ecotrópico (MelARV) (LI et al., 1998). Análises citofluorimétricas mostraram que toda a população de MVs apresenta uma alta intensidade de fluorescência quando marcada com anticorpo específico para o antígeno MAA (Fig. 8). Figura 8 – Detecção da exposição do antígeno MAA em MVs de melanoma por citometria de fluxo. Linha aberta representa a marcação com anticorpo monoclonal anti-MAA (hibridoma MM29B6) seguida por marcação com anticorpo secundário conjugado à fluoresceína (FITC); curva cinza representa marcação com anticorpo secundário na ausência de anticorpo anti-MAA. 41 4.1.2 Células B16F10 e microvesículas de melanoma expõem PS em sua superfície externa Considerando que a formação de MVs e a exposição de fosfatidilserina (PS) são fenômenos estritamente relacionados, examinamos então a exposição de PS por células B16F10, assim como em MVs por estas produzidas. Utilizando anexina V como um marcador para PS, foi possível detectar, por citometria de fluxo, uma marcação positiva para PS na superfície de células B16F10 (Fig. 9A), confirmando evidências anteriores da literatura (KIRSZBERG, RUMJANEK e MONTEIRO, 2005). A ligação de anexina V foi confirmada e melhor caracterizada através da técnica de microscopia de fluorescência, a qual evidenciou que o fosfolipídeo PS está exposto na porção externa da membrana plasmática de células B16F10 íntegras sob a forma de agregados moleculares (Fig. 9B, painel central). Essa exposição se diferencia claramente da distribuição mais homogênea observada em células previamente permeablizadas com o detergente digitonina (Fig. 9B, painel direito), onde tantos os sítios externos como os sítios internos de ligação a PS estão disponíveis para a anexina V. Já o controle com o marcador secundário (estreptavidina conjugada à fluoresceína) mostrou a não ocorrência de ligações inespecíficas entre este e as células (Fig. 9B, painel esquerdo). Assim como suas células de origem, MVs de melanoma apresentaram uma marcação positiva para PS quando analisadas por citometria de fluxo, embora com níveis mais variados de intensidade de fluorescência (Fig. 10A). Essa distribuição heterogênea não foi observada quando MVs foram previamente permeabilizadas com digitonina, o que sugere que essas estruturas carregam quantidades similares de PS em suas membranas, mas o expõem de maneira 42 mais variável. A exposição de PS por MVs de B16F10 foi confirmada ainda através da análise da marcação de anexina V por microscopia eletrônica de transmissão (Fig. 10B); contudo, esse resultado pode estar sendo subestimado, uma vez que procedimentos clássicos envolvidos nessa técnica, tais como fixação com glutaraldeído e inclusão da amostra em resina epon, podem levar a uma perda significativa (70-90%) do conteúdo lipídico do material a ser analisado (MANETA-PEYRET et al., 1999). Figura 9 – Análise da exposição PS na superfície de células B16F10. (A) Análise da exposição de PS por citometria de fluxo. Curva em preto representa células não marcadas; linha aberta representa marcação com anexina V-FITC. Histograma mostrado se refere apenas às células B16F10 marcadas negativamente para iodeto de propídeo. (B) Localização de PS na superfície das células por microscopia de fluorescência. Painel esquerdo (CONTROLE NEGATIVO), marcação com estreptavidina-FITC na ausência de anexina V biotininilada; painel central (CÉLS MARCADAS), marcação com anexina V-biotinilada seguida por estreptavidina-FITC; painel direito [CÉLS MARCADAS (+DIGITONINA)], marcação com anexina V-biotinilada seguida por estreptavidina-FITC após pré-tratamento com digitonina 40 μM por 10 min. 43 Figura 10 – Análise da exposição de PS em MVs derivadas de células B16F10. (A) Análise da exposição de PS por citometria de fluxo. Curva em cinza representa MVs não marcadas; linha mais clara representa marcação com anexina V-FITC; e linha mais escura representa marcação com anexina V-FITC após tratamento com digitonina 40 μM por 10 min. (B) Análise da exposição de PS por microscopia eletrônica de transmissão. Figura representa marcação com anexina V-biotinilada seguida por estreptavidina conjugada a partículas de ouro coloidal. O fenômeno de translocação de PS da porção interna para a porção externa da membrana plasmática pode acontecer mais extensivamente sob certas condições tais como a ativação de plaquetas, onde é essencial para a montagem de diferentes complexos da cascata de coagulação (MONROE, HOFFMAN e ROBERTS, 2002). A fim de determinar se os resíduos de PS expostos pelas MVs de melanoma são funcionalmente ativos, investigamos sua capacidade de promover a formação do complexo protrombinase (fator Xa/fator Va/Ca2+/PS), a qual já foi relacionada à geração de trombina por células e MVs tumorais (DVORAK et al., 1983; VANDEWATER et al., 1985). Como pode ser observado na figura 11, MVs derivadas de células B16F10 são capazes de eficientemente promover a ativação de protrombina pelo complexo em questão (Fig. 11A), o que se correlaciona diretamente com a concentração de MVs utilizada na reação (Fig. 11B). A formação de trombina não foi detectada quando a protrombina foi 44 incubada na presença dos fatores Xa e Va e ausência de MVs, ou apenas na presença dessas últimas (Fig. 11A). 50 A FXa / FVa MVs B16F10 [α-Trombina] nM 40 FXa / FVa + MVs B16F10 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 tempo (min) B [α-Trombina] nM 12 10 8 6 4 2 0 36.0 18.0 9.0 4.5 2.25 1.3 - número de MVs x 103/mL Figura 11 – Formação do complexo protrombinase promovida por MVs de melanoma B16F10. (A) Cinética de ativação de protrombina (500 nM) por FXa (10 pM) e FVa (1 nM), na ausência (•) ou na presença () de MVs tumorais (3,6 x 104/mL). Um controle negativo foi incluído pela incubação de protrombina (500 nM) com MVs (3,6 x 104/mL) na ausência de FXa e FVa (c). (B) Influência da concentração de MVs para a ativação de protrombina (500 nM) na presença de FXa (10 pM) e FVa (1 nM). Resultados estão expressos como a concentração absoluta de trombina formada. A determinação da formação de trombina está descrita na seção de Materiais e Métodos. Cada ponto representa a media ± SD de três determinações. 45 A formação eficiente do complexo protrombinase promovida pelas MVs foi ainda progressivamente inibida por concentrações crescentes de anexina V (Figs. 12A e B). Esses dados confirmam a exposição de PS funcional por essas partículas. 25 [α-Trombina] nM A 20 15 10 5 0 0 3 6 12 25 50 100 B % Ativação de protrombina [Anexina V] nM 100 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 [Anexina V] nM Figura 12 – Efeito inibitório de anexina V sobre a formação do complexo protrombinase induzida por MVs de melanoma. MVs derivadas de células B16F10 (3,6 x 104 /mL) foram pré-incubadas com diferentes concentrações de anexina V por 5 min, e então incubadas com FXa (10 pM), FVa (1 nM) e protrombina (500 nM). Resultados estão expressos como a concentração absoluta de trombina formada (A) ou como porcentagem de ativação de protrombina relativa à amostra controle que não foi incubada com anexina V (0 nM) (B). A determinação da formação de trombina está descrita na seção de Materiais e Métodos. Cada ponto representa a media ± SD de três determinações. 46 4.1.3 Microvesículas derivadas de células B16F10 modulam a produção de TGF-β1 por macrófagos A exposição de PS é um dos mais importantes sinais para o reconhecimento de células apoptóticas por fagócitos e conseqüente modulação de respostas antiinflamatórias (SAVILL et al., 2002), levando à produção de fatores imunorregulatórios como TGF-β1 (FADOK et al., 1998). Para investigar a integridade funcional e atividade sinalizadora dos resíduos de PS apresentados por MVs produzidas pelo melanoma B16F10, quantificamos a produção de TGFβ1 por macrófagos peritoneais murinos ativados com tioglicolato, cultivados na presença ou ausência de MVs expondo PS (pré-tratadas ou não com anexina V, que bloqueia os sítios de ligação a PS). Os fagócitos co-cultivados com MVs de melanoma secretaram significativamente maiores concentrações de TGF-β1 quando comparados àqueles cultivados sozinhos, efeito esse que foi bloqueado pela pré-incubação de MVs com anexina V (Fig. 13). Esses resultados mostram que MVs derivadas de células B16F10 são capazes de modular a ativação de 0.20 * 0.15 0.10 0.05 (A n M + M φ+ M M Vs φ V) Vs φ M Vs 0.00 M níveis de TGF-β 1 (D.O. 450 nm) fagócitos profissionais, de maneira dependente de PS. Figura 13 – Modulação da produção de TGF-β1 por MVs de melanoma em culturas de macrófagos ativados. nos Concentrações de TGF-β1 sobrenadantes de macrófagos peritoneais ativados por tioglicolato cultivados na ausência (Mφ) ou na presença de MVs – pré-tratadas [Mφ + MVs (An V)] ou não (Mφ + MVs) com anexina V – foram determinadas por ELISA. Um controle da presença de TGF-β1 nas culturas de MVs sozinhas está representado em MVs. Asterisco indica p < 0,05 relativo à cultura de macrófagos controle (Teste t). 47 4.1.4 Microvesículas tumorais aumentam o potencial metastático de células B16F10 em camundongos C57BL/6 A produção de MVs por células tumorais tem sido relacionada à aquisição de capacidade metastática e escape da vigilância imune por tais tumores (CASSARA et al., 1998; GINESTRA et al., 1998). Por isso, investigamos um possível papel para MVs expondo PS no estabelecimento do melanoma in vivo. Comparando dois diferentes modelos de adição de MVs ao inóculo de células B16F10, observamos que apenas a sensibilização com MVs 2 h antes da inoculação intravenosa de células de melanoma aumentou significativamente o número de nódulos tumorais pulmonares em camundongos C57BL/6 (hospedeiros singeneicos) quando estes foram comparados ao grupo controle (p < 0,001), em contraste com os resultados obtidos pela co-inoculação de MVs e células de melanoma (p > 0,05) (Fig. 14A). Em outro experimento, dessa vez utilizando apenas o modelo de pré-sensibilização, esse aumento do número de nódulos tumorais pulmonares pôde ser bloqueado através da pré-incubação de MVs com anexina V (Fig. 14B), o que sugere o envolvimento deste fosfolipídeo na modulação de respostas singeneicas por estas MVs. A número de nódulos pulmonares 48 60 40 30 20 10 0 número de nódulos pulmonares B *** 50 ctrl + MVs (co) + MVs (pre) 100 ** *** 80 60 40 20 0 ctrl + MVs + MVs (AX) Figura 14 – Papel de MVs tumorais no estabelecimento do melanoma B16F10 em camundongos C57BL/6. (A) Comparação de dois diferentes modelos de adição de MVs ao inoculo de células B16F10. Animais foram inoculados i.v. com 104 células B16F10 sozinhas (ctrl), co-inoculados com células e MVs (5 x 104) [+ MVs (co)] ou inoculados com células 2 h após o pré-inóculo de MVs [+ MVs (pre)]. (B) Efeito negativo da inibição de PS na exacerbação do tumor induzida por MVs de melanoma. No mesmo modelo de présensibilização dos animais com MVs, um grupo de animais foi adicionado: camundongos présensibilizados com MVs tumorais pré-tratadas com anexina V [+ MV (AX)]. Resultados estão expressos como a mediana do número de nódulos tumorais observados na face convexa dos pulmões dos animais de cada grupo, 14 dias após o inóculo das células de melanoma. Asteriscos indicam p < 0,01 (**) e p < 0,001 (***) (Teste t). 49 4.1.5 Microvesículas tumorais aumentam o potencial metastático de células B16F10 em camundongos BALB/c Após analisar o papel das microvesículas produzidas in vitro pela linhagem celular B16F10 no estabelecimento do melanoma em seu hospedeiro singeneico, passamos a investigar um possível efeito supressor dessas partículas sobre a eficiente resposta anti-tumoral que é induzida após a inoculação de células da linhagem B16 em camundongos BALB/c, nos quais o tumor é normalmente rejeitado. Para isso, utilizamos o modelo de co-inóculo intravenoso de células e MVs e acompanhamos o surgimento de nódulos tumorais pulmonares. A adição de MVs ao inóculo de células B16F10 permitiu o desenvolvimento do tumor em camundongos BALB/c, aumentando não apenas o número de nódulos tumorais pulmonares (Fig. 15A), mas também suas dimensões (Fig. 15B), sugerindo que MVs derivadas de células de melanoma são capazes de suprimir respostas imunes anti-tumorais. É importante notar que a inoculação de MVs por si só, em ambas as linhagens de camundongos BALB/c e C57BL/6, não levou ao aparecimento de nódulos pulmonares de melanoma (dados não mostrados). 50 Figura 15 – Papel de MVs tumorais no estabelecimento do melanoma B16F10 em camundongos BALB/c. Animais foram inoculados i.v. com 104 células B16F10, adicionadas (+ MV) ou não (ctrl) de MVs (5 x 104). (A) Resultados estão expressos como a média ± SD do número de nódulos tumorais observados na face convexa dos pulmões dos animais de cada grupo (n=5), 28 dias após o inóculo das células de melanoma. Asteriscos indicam p < 0,01 (**) (Teste t). (B) Fotos representativas dos pulmões (face convexa) relacionados aos grupos em A. 51 4.2 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE PRÓ-COAGULANTE DE MICROVESÍCULAS DERIVADAS DE MELANÓCITOS E MELANOMA 4.2.1 Produção de microvesículas por melanócitos murinos melan-A e células de melanoma Tm1 Como discutido anteriormente, uma importante correlação entre estados hipercoagulantes e câncer foi descrita há mais de um século pelo clínico francês Armand Trousseau, e desde então várias evidências sugerem um papel crítico para proteínas da coagulação sanguínea na biologia tumoral. Portanto, uma vez que MVs liberadas pelo melanoma murino B16F10 desempenharam uma importante função pró-tumoral in vivo, assim como foram capazes de promover a geração de trombina pelo complexo pró-coagulante protrombinase in vitro, ambos os efeitos dependentes da exposição de PS, passamos a investigar as propriedades pró-coagulantes de MVs produzidas pela linhagem celular de melanoma murino Tm1, tal como comparada à sua linhagem parental não-tumorigênica de melanócitos murinos, melan-A (CORREA et al., 2005). A medida da liberação de MVs nos sobrenadantes de cultura de ambas as linhagens de melanoma e melanócitos mostrou que a taxa de produção de MVs é consideravelmente maior na linhagem tumorigênica Tm1. Através da contagem do número de partículas por citometria de fluxo (Figs. 16A e B) e da quantificação de seu conteúdo protéico pelo método de Bradford (Fig. 16C), observamos que a linhagem de melanoma Tm1 produz em média duas vezes mais MVs do que a linhagem de melanócitos melan-A, como evidenciado pela razão entre os dados 52 obtidos para Tm1 e aqueles obtidos para melan-A em ambas as técnicas utilizadas (Fig. 16D). A B C D Figura 16 – Produção de MVs pelas linhagens celulares melan-A e Tm1. (A) Quantificação da produção de MVs por citometria de fluxo. Precipitados de MVs foram obtidos a partir de sobrenadantes de cultura de 24 h de células melan-A e Tm1 (cultivadas sob as mesmas condições), ressuspendidos em volumes iguais de PBS e quantificados em um citômetro de fluxo (contagem do número de partículas presentes em determinado volume da amostra). (B) Perfil de espalhamento de luz frontal (FSC – eixo x) vs. espalhamento de luz lateral (SSC – eixo y) de MVs derivadas de culturas de células melan-A e Tm1, as quais estão quantificadas em A. (C) Dosagem de proteínas pelo método de Bradford nos extratos totais das amostras de MVs relacionadas em A e B. (D) Razão entre os dados obtidos para amostras de MVs derivadas de células Tm1 e aqueles obtidos para MVs derivadas de células melan-A em ambas as técnicas utilizadas (contagem do número de partículas em citômetro de fluxo e dosagem protéica pelo método de Bradford). Média ± SD de quantificações de três diferentes amostras de MVs de melan-A e Tm1. 4.2.2 Exposição de PS e promoção da formação do complexo protrombinase por ambas as MVs produzidas por melanócitos e células de melanoma 53 Após identificar a produção de MVs pelas linhagens celulares Tm1 e melan-A, analisamos a exposição de PS por estas estruturas através da citometria de fluxo. MVs produzidas tanto por melanócitos como por células de melanoma apresentaram marcação positiva com anticorpo monoclonal que reconhece o fosfolipídeo PS (3G4, RAN et al., 2005) (Fig. 17A), evidenciada pelo aumento da intensidade de fluorescência das amostras marcadas quando comparadas aos controles não marcados, demonstrando que ambas as MVs expõem PS em sua superfície externa. Além disso, através do cálculo de intensidade de fluorescência específica para marcação com anticorpo anti-PS (média geométrica de intensidade de fluorescência das amostras marcadas média geométrica de intensidade de fluorescência das amostras não-marcadas), verificamos que não há diferença significativa de marcação entre MVs derivadas de células Tm1 e MVs derivadas de células melan-A (Fig. 17B). Utilizando ensaios enzimáticos com proteínas purificadas, investigamos então a participação de ambas as MVs na formação do complexo multimolecular protrombinase, cuja montagem, como mencionado anteriormente, é dependente da presença de superfícies aniônicas tais como membranas ricas em PS. Como esperado, MVs derivadas de ambas as células melan-A e Tm1 foram capazes de promover a ativação de protrombina pelo complexo pró-coagulante em questão (Fig. 18A), em contraste com o controle realizado na ausência de MVs. Não foi observada a formação de trombina quando a protrombina foi incubada na presença das MVs e na ausência dos fatores Xa e Va. Além disso, a produção de trombina dependente da presença de MVs tanto de melan-A como de Tm1 pode ser inibida, em ambos os casos, pelo bloqueio dos sítios de ligação de PS por concentrações crescentes de anexina V (Fig. 18B). Esses dados definitivamente 54 implicam essas MVs como membranas ricas em PS, e sugerem que ambas as MVs analisadas expõem níveis semelhante de PS em sua superfície externa – corroborando os resultados prévios obtidos por citometria de fluxo –, além de demonstrar a habilidade de tais estruturas em aumentar a ativação de protrombina pelo complexo protrombinase de forma dependente de PS. . B marcação específica com anti-PS (dMIF) A 210 180 150 120 90 60 30 0 Tm1 melan-A Figura 17 – Análise da exposição de PS em MVs derivadas de células Tm1 e melan-A por citometria de fluxo. (A) Histogramas de intensidade de fluorescência para ambas as MVs. Curva em cinza representa MVs não marcadas; linha preta representa marcação com anticorpo monoclonal anti-PS conjugado a Alexa 488. (B) Intensidade de fluorescência específica para marcação com anticorpo anti-PS (dMIF representa a diferença entre a média geométrica de intensidade de fluorescência das amostras marcadas e a média geométrica de intensidade de fluorescência das amostras não-marcadas) observada para MVs derivadas de células Tm1 e MVs derivadas de células melan-A. Barras representam média ± SD de três diferentes determinações. 55 A [α-Trombina] nM 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 tempo (min) FXa + FVa MVs Tm1 FXa + FVa + MVs Tm1 MVs melan-A FXa + FVa + MVs melan-A % Ativação de protrombina B 100 MVs melan-A MVs Tm1 80 60 40 20 0 0.00 3.00 6.00 12.50 [Anexina V] nM Figura 18 – Formação do complexo protrombinase promovida por MVs de melanócitos melan-A e de melanoma Tm1. (A) Cinética de ativação de protrombina (500 nM) por FXa (10 pM) e FVa (1 nM), na ausência (♦) ou na presença (/•) de MVs (3,6 x 104/mL). Um controle negativo foi incluído pela incubação de protrombina (500 nM) com MVs (3,6 x 104/mL) na ausência de FXa e FVa (c/d). (B) Efeito inibitório da anexina V na ativação de protrombina por MVs. MVs derivadas de tanto de células melan-A como de células Tm1 (3,6 x 104 /mL) foram pré-incubadas com diferentes concentrações de anexina V por 5 min, e então incubadas com FXa (10 pM), FVa (1 nM) e protrombina (500 nM). Resultados estão expressos como a concentração absoluta de trombina formada (A) ou como porcentagem de ativação de protrombina relativa à amostra controle que não foi incubada com anexina V (0 nM) (B). A determinação da formação de trombina está descrita na seção de Materiais e Métodos. Cada ponto representa a media ± SD de três determinações. 56 4.2.3 MVs de melanoma aceleram o tempo de coagulação de plasma murino de maneira mais eficiente do que MVs produzidas por melanócitos A fim de determinar o efeito de MVs produzidas tanto pela linhagem celular melan-A como pela linhagem Tm1 sobre a ativação geral da cascata de coagulação, avaliada através da formação do coágulo de fibrina, utilizamos o ensaio de recalcificação de plasma. Plasma murino com o anti-coagulante citrato de sódio foi incubado na presença de concentrações crescentes de MVs, e o processo de coagulação disparado pela adição de cálcio à cubeta de reação. Dessa forma, verificamos que MVs derivadas tanto de melan-A como de Tm1 diminuíram significativamente o tempo de coagulação quando comparado ao plasma controle, de maneira dependente de sua concentração (Fig. 19). Contudo, observamos claramente que o efeito acelerador de MVs de melanoma sobre o processo de coagulação foi mais pronunciado do que o de MVs de melanócitos, uma vez que, nas concentrações de 2 x 103 e 2 x 104/mL, as primeiras reduziram em 30% e 64% o tempo de recalcificação do plasma murino, respectivamente (Fig. 19, linha vermelha), enquanto as últimas provocaram uma redução significativa (24%) apenas quando utilizadas na maior concentração (Fig. 19, linha azul). Embora a presença de PS em ambas as MVs já pudesse por si só ser responsável pela aceleração do tempo de coagulação, a atividade pró-coagulante mais potente observada em MVs derivadas de células de melanoma sugere a exposição diferencial de outro fator por estas partículas. Um forte candidato é a proteína iniciadora da cascata de coagulação Fator Tecidual, uma vez que, através de marcação com anticorpo específico e posterior análise por citometria 57 de fluxo, sua presença só pôde ser detectada em células de melanoma Tm1, em contraste com melanócitos melan-A (Fig. 20). tempo de recalcificação (s) 200 175 150 *** 125 *** 100 75 plasma ctl 50 + MVs melan-A 25 + MVs Tm1 0 10 2 10 3 *** 10 4 10 5 número de MVs/mL Figure 19 – Atividade pró-coagulante de MVs derivadas das linhagens celulares melan-A e Tm1. MVs (ressuspendidas em PBS) produzidas por melanócitos melan-A (linha azul) ou células de melanoma Tm1 (linha vermelha) foram incubadas, nas concentrações indicadas, com plasma murino, seguido da recalcificação com 6,25 mM de CaCl2. O controle do tempo de recalcificação do plasma murino na ausência de MVs está indicado pelo círculo preto. Cada ponto representa média ± SD de três diferentes experimentos. Asteriscos indicam p < 0,001 (***) relativo ao controle (Teste t). Figura 20 – Análise da exposição de Fator Tecidual em células Tm1 e melan-A. Análise da exposição de Fator Tecidual por citometria de fluxo. Curva em cinza representa células incubadas com anticorpo isotipo controle; linha preta representa células marcadas com anticorpo monoclonal anti-Fator Tecidual murino. 58 4.2.4 MVs derivadas ex vivo de camundongos C57BL/6 inoculados com células de melanoma Tm1 apresentam potencial pró-coagulante semelhante àquelas obtidas in vitro Para investigarmos a relevância da produção in vivo de MVs para o estabelecimento de um estado pró-trombótico, inoculamos células da linhagem tumorigênica Tm1, por via subcutânea, em camundongos C57BL/6 e, após 17 dias, verificamos a presença de MVs no plasma desses animais, a partir do mesmo protocolo de centrifugações utilizado para purificação de MVs in vitro. Dessa forma, pudemos obter uma população de partículas com perfil de espalhamentos de luz frontal e lateral (FSC vs. SSC), analisado por citometria de fluxo, bastante similar ao já determinado para MVs produzidas in vitro (Fig. 21A). Do contrário, tal população não pode ser observada no plasma de animais inoculados apenas com veículo de inoculação (meio DME), ou ainda, com células da linhagem não-tumorigênica de melanócitos, melan-A, como demonstrado pelas contagens de partículas apresentadas na figura 21, painel B. 59 A B número de partículas (x 104/mL plasma) 300 250 200 150 100 50 0 ctl melan-A Tm1 Figura 21 – Análise da presença de MVs em plasma de camundongos C57BL/6 inoculados com células de melanoma Tm1 ou melanócitos melan-A. Animais foram inoculados por via subcutânea com 5 x 105 células, Tm1 ou melan-A, ou apenas com veículo de inoculação (meio DME). Após 17 dias, plasmas foram purificados e a presença de MVs foi analisada por citometria de fluxo. (A) Perfil de espalhamento de luz frontal (Foward Scatter – eixo x) vs. espalhamento de luz lateral (Side Scatter – eixo y) de partículas purificadas a partir do plasma de animais inoculados com células Tm1. (B) Quantificação do número de partículas purificadas corrigido por volume (mL) de plasma obtido de cada camundongo. A partir daí, analisamos o potencial pró-coagulante de tais partículas obtidas ex vivo a partir do plasma de camundongos inoculados com células Tm1, comparando-as a MVs purificadas in vitro a partir do sobrenadante de cultura da mesma linhagem celular. Através do ensaio de recalcificação de plasma murino, observamos que as amostras analisadas reduziram significativamente o tempo de coagulação (Fig. 22), a níveis comparáveis ao resultado obtido com MVs produzidas in vitro por células de melanoma Tm1, principalmente em menores concentrações (10% vs. 15% e 30% vs. 42%, nas concentrações de 2 x 103 e 2 x 104/mL, respectivamente). 60 tempo de recalcificação (s) 180 150 ** ** 120 ** ** 90 60 30 plasma ctl MVs in vitro MVs ex vivo 0 10 3 10 4 10 5 número de MVs/mL Figure 22 – Atividade pró-coagulante de MVs obtidas ex vivo a partir do plasma de camundongos inoculados com a linhagem celular Tm1. Partículas (ressuspendidas em PBS) obtidas ex vivo a partir do plasma de camundongos inoculados por via subcutânea com células de melanoma Tm1 () ou purificadas in vitro do sobenadante de cultura das mesmas células (▲) foram 3 4 incubadas, na concentração de 2 x 10 ou 2 x 10 MVs/mL, com plasma murino, seguido da recalcificação com 6,25 mM de CaCl2. O controle do tempo de recalcificação do plasma murino na ausência de MVs está indicado pelo círculo preto (plasma ctl). Cada barra representa média ± SD de três diferentes determinações. Asteriscos indicam p < 0,01 (**) relativo ao controle (Teste t). A utilização de marcadores específicos faz-se ainda necessária a fim de se confirmar a origem dessas estruturas. Contudo, em conjunto, esses dados sugerem uma relevância fisiológica para a produção de MVs no estabelecimento do melanoma e indicam a capacidade dessas partículas de modularem o processo de coagulação in vivo. 61 5 DISCUSSÃO 62 A liberação de microvesículas (MVs) a partir de membranas plasmáticas é um fenômeno fisiológico, observado em diversos tipos celulares, que ocorre após certos estímulos de ativação celular e durante a morte por apoptose. Tal processo tem sido cada vez mais associado ao desenvolvimento e progressão de uma grande variedade de tumores, p.ex. carcinoma de ovário e câncer gástrico (GINESTRA et al., 1999; KIM et al., 2003; GRAVES et al., 2004), embora os mecanismos exatos responsáveis por essa importante correlação ainda não sejam bem conhecidos. Sabe-se que o processo de formação de MVs está intimamente ligado à perda de assimetria lipídica de membrana e conseqüente exposição de fosfatidilserina (PS). Quando exposto em superfícies celulares, PS é capaz de estimular respostas antiinflamatórias e imunossupressivas e, ainda, participar diretamente da ativação da coagulação sanguínea. Por isso, nesse trabalho, investigamos a participação de MVs expondo PS no estabelecimento do melanoma maligno, com ênfase em um possível papel imunomodulatório e prótrombótico. Primeiramente, observamos que MVs produzidas por células B16F10, uma linhagem de melanoma murino altamente metastática, carregam moléculas de membrana tais como o antígeno associado a melanomas MAA (LI et al., 1998), confirmando sua habilidade em transportar antígenos de suas células de origem. Além disso, expõem em sua superfície resíduos funcionais de PS, o que foi observado por citometria de fluxo e posteriormente confirmado através de sua capacidade de promover a formação do complexo pró-coagulante protrombinase, um processo que depende da presença de membranas negativas ricas em fosfolipídios aniônicos (MONROE, HOFFMAN e ROBERTS, 2002). 63 Como a exposição de PS é normalmente associada ao processo apoptótico, é importante notar que células B16F10 utilizadas nesse estudo mantiveram-se saudáveis e viáveis em cultura (como monitorado por microscopia ótica e eletrônica) e não apresentaram fragmentação de DNA ou outros fenótipos apoptóticos (dados não mostrados). De modo interessante, a presença de PS na membrana de células B16F10 na forma de agregados evidencia ainda uma importante atividade funcional para esse ligante de superfície, já que tal distribuição foi associada a um aumento da afinidade de PS por seu(s) receptor(es) (HENSON, BRATTON e FADOK, 2001). Como mencionado anteriormente, o reconhecimento de PS é capaz de modular respostas inflamatórias através da indução da liberação de fatores imunorregulatórios como TGF-β1, um importante mediador do processo de progressão maligna. De fato, MVs de melanoma B16F10 estimularam a produção dessa citocina por macrófagos murinos de maneira dependente de PS, o que indica sua atuação como elementos sinalizadores complexos, os quais poderiam afetar o microambiente tumoral, incluindo uma possível modulação do sistema imune. Tal sugestão é apoiada por dados anteriores da literatura que demonstraram um contato direto entre MVs tumorais e monócitos capaz de alterar características imunofenotípicas e a atividade biológica desses últimos (BAJKRZYWORZEKA et al., 2006). Além disso, Valenti e colaboradores identificaram recentemente um novo mecanismo imunossupressivo, mediado por MVs tumorais, associado à diferenciação de macrófagos em células supressoras mielóides produtoras de TGF-β (VALENTI et al., 2006; VALENTI et al., 2007). A partir daí, analisamos o papel de MVs no estabelecimento do melanoma maligno in vivo, e observamos que estas aumentam o potencial metastático de 64 células B16F10 em camundongos C57BL/6 (hospedeiro singeneico), efeito esse também dependente de PS. Isso indica o envolvimento de tal fosfolipídio, exposto por estas partículas, no processo de metástase do melanoma maligno, e está de acordo com outros resultados prévios, os quais demonstraram que o bloqueio de PS por anexina V em células de linfoma RMA reduz significativamente sua habilidade de formar tumores em camundongos (BONDANZA et al., 2004). Em outro modelo in vivo, verificamos ainda que co-inóculo de MVs e células de melanoma permitiu o desenvolvimento do tumor em camundongos BALB/c, hospedeiros alogeneicos normalmente resistentes à linhagem celular B16F10. Nesse ensaio, observamos um aumento não apenas do número, mas também do tamanho dos nódulos tumorais pulmonares, o que sugere que MVs derivadas de células de melanoma são capazes de suprimir respostas imunes antitumorais. Um mecanismo alternativo para explicar o efeito pró-tumoral in vivo observado para MVs de melanoma seria uma possível definição de “nichos metastáticos” por essas estruturas, papel já descrito por outros autores para sobrenadantes de células tumorais (KAPLAN et al., 2005). Tal função estaria associada à migração de MVs tumorais para certos sítios preferenciais e a uma subseqüente mudança das condições locais, facilitando a localização e o crescimento celular metastáticos. Finalmente, considerando que MVs derivadas de melanoma carregam moléculas de superfície tais como PS, envolvido na regulação positiva de fatores imunorregulatórios como TGF-β1, postulamos que estas poderiam prevenir respostas inflamatórias e conseqüentemente modular negativamente respostas imunes inatas e adaptativas. Contudo, sabe-se que a molécula de PS também está envolvida em outros fenômenos fisiológicos, como o processo de coagulação 65 sanguínea, que envolve uma série de reações de ativação de zimogênios, catalisadas por complexos enzimáticos constituídos de uma serino-protease, um co-fator protéico e membranas ricas em fosfolipídios aniônicos. Além disso, uma correlação entre câncer e estados pró-coagulantes tem sido descrita há mais de um século, e várias evidências sugerem um papel significativo de proteínas da coagulação na biologia tumoral. Por isso, uma vez que MVs liberadas por células de melanoma B16F10 demonstraram ser capazes de promover a formação do complexo enzimático protrombinase in vitro, convertendo eficientemente protrombina em trombina, acreditamos que sua capacidade de facilitar o estabelecimento do tumor in vivo poderia estar relacionada não somente a uma possível função antiinflamatória, mas também a uma provável atividade prócoagulante dessas estruturas. Investigamos então essa segunda atividade em um modelo comparativo entre a linhagem celular de melanoma Tm1 e sua linhagem parental de melanócitos não-tumorigênicos, melan-A, onde procuramos caracterizar o perfil pró-coagulante de MVs produzidas por ambos os tipos celulares. Dessa forma, observamos primeiramente que a taxa de produção de MVs pela linhagem de melanoma Tm1, em um período de 24 h, foi consideravelmente maior (aproximadamente o dobro). De fato, sabe-se que linhagens celulares com alta taxa proliferativa produzem maiores quantidades de MVs quando comparadas a linhagens de proliferação mais lenta (RATAJCZAK et al., 2006b), o que se encaixa nos perfis das linhagens Tm1 e melan-A, respectivamente (CORREA et al., 2005). Além disso, essa marcante diferença quantitativa na produção de MVs é reforçada por trabalhos onde uma importante associação entre o processo de microvesiculação e a aquisição de fenótipos malignos agressivos foi previamente 66 discutida, tanto em modelos de melanoma quanto em outras linhagens celulares (TAYLOR et al., 1988; CASSARA et al., 1998; GINESTRA et al., 1998). Cabe ainda ressaltar que melanócitos da linhagem melan-A são dependentes de éster de forbol (PMA) como um fator de crescimento, o qual, sendo um importante agente de ativação celular, poderia estar induzindo uma liberação “não-fisiológica” de MVs nos sobrenadantes de cultura dessas células. Em contraste, a linhagem de melanoma Tm1, assim como outras células tumorais (TAYLOR e BLACK, 1986), são capazes de produzir MVs mesmo na ausência de estímulos de ativação, o que sugere um fenômeno espontâneo de microvesiculação in vivo. De acordo com essas observações, verificamos a presença de MVs apenas no plasma de camundongos inoculados por via subcutânea com células de melanoma Tm1, o que não foi observado no plasma de animais inoculados com células da linhagem não-tumorigênica melan-A, ou ainda, somente com o veículo de inoculação (meio DME). A possível origem dessas estruturas será mais bem discutida ao final dessa seção. O passo seguinte foi investigar possíveis diferenças qualitativas entre MVs produzidas por ambas as linhagens celulares melan-A e Tm1. A análise da presença de PS na superfície de MVs derivadas de células Tm1 e melan-A, através da citometria de fluxo, mostrou perfis de exposição de tal fosfolipídio bastante similares. Isso se refletiu na capacidade de ambas as MVs de promover a formação do complexo protrombinase (fator Xa/fator Va/protrombina), levando à formação de níveis semelhantes de trombina, de maneira dependente de PS. Realmente, praticamente todos os tipos de MVs já descritos – isto é, MVs de diversas origens celulares – expõem PS em sua membrana externa, inclusive aquelas obtidas de pacientes com diferentes patologias. Não por acaso, a 67 proteína anexina V, capaz de se ligar a PS com grande afinidade, é utilizada freqüentemente como marcador de MVs em métodos de quantificação dessas partículas (DIAMANT et al., 2004). Logo, a exposição de PS parece ser, de fato, inerente ao processo de microvesiculação (ou vice-versa), corroborando sugestões prévias de outros autores (COMFURIUS et al., 1990; TOTI et al., 1996; CASTAMAN et al., 1997; ZWAAL e SCHROIT, 1997). Por outro lado, no caso da produção in vivo de MVs expondo PS ser exclusiva de células de melanoma transformadas, em contraste com melanócitos normais não-ativados, podemos supor que a capacidade dessas estruturas de promover a geração de trombina no microambiente neoplásico seria de grande importância para a biologia tumoral. Tal enzima aumenta o potencial metastático de células de melanoma murino (WOJTUKIEWICZ et al., 1993), assim como sua inibição diminui a implantação, crescimento, migração e metástase tumorais (ESUMI, FAN e FIDLER, 1991; ASANUMA et al., 2004). Por fim, diferentes trabalhos já demonstraram diversas ações de trombina sobre células de melanoma mediadas pela ativação de receptores ativados por proteases (NIERODZIK et al., 1998; TELLEZ e BAR-ELI, 2003; SHI et al., 2004), os quais requerem a presença da enzima cataliticamente ativa. Posteriormente, avaliamos o efeito de MVs sobre a ativação geral da cascata de coagulação, determinada através da formação do coágulo de fibrina, e verificamos que, apesar de apresentarem níveis semelhantes de PS exposto, MVs derivadas de células de melanoma aceleram o tempo de coagulação de plasma murino de modo mais eficiente do que MVs produzidas pela linhagem de melanócitos não-tumorigênicos. Isso sugere, portanto, a exposição diferencial de outro fator pró-coagulante, possivelmente a proteína iniciadora do processo de 68 coagulação, Fator Tecidual, a qual foi detectada na superfície de células Tm1, mas não de melan-A. De fato, níveis de expressão dessa proteína parecem se correlacionar com o perfil maligno/agressivo de diferentes linhagens (AMIRKHOSRAVI et al., 1996). A expressão de Fator Tecidual tem sido relacionada ainda ao potencial metastático de células de melanoma, por mecanismos dependentes ou não de sua atividade pró-coagulante (BROMBERG et al., 1999), e sua inibição reduz significativamente a implantação e metástase pulmonares desse tumor (AMIRKHOSRAVI et al., 2002; WANG et al., 2004). Logo, MVs liberadas por células Tm1 poderiam constituir uma importante fonte de Fator Tecidual tumoral, o que já foi observado em diferentes linhagens malignas, como de carcinoma colo-retal, carcinoma de células escamosas e glioblastoma, (BASTIDA et al., 1984; YU e RAK, 2004). Isso amplificaria seu potencial prócoagulante, levando a uma maior geração de enzimas ativas da coagulação durante o desenvolvimento neoplásico, além de contribuir para um maior depósito de fibrina no estroma tumoral, fenômeno bem estabelecido que pode facilitar processos pró-tumorais como a angiogênese (NAGY et al., 1989; FERNANDEZ, PATIERNO e RICKLES, 2004). Finalmente, MVs obtidas a partir do plasma de camundongos préinoculados com células de melanoma apresentaram um padrão pró-coagulante similar ao de MVs purificadas in vitro de células Tm1, observado através de sua capacidade de acelerar o tempo de coagulação de plasma murino in vitro. Do mesmo modo, a presença de MVs pró-coagulantes nos produtos do sangue (plasma e/ou soro) de pacientes com diferentes neoplasias (p.ex., carcinomas de pulmão, pâncreas, mama e colo-retal) foi recentemente verificada (DEL CONDE et al., 2007; HRON et al., 2007; TESSELAAR e tal., 2007). Nesses estudos, uma 69 importante correlação entre a atividade de Fator Tecidual associada a MVs e a ocorrência de eventos pró-trombóticos/estados de hipercoagulabilidade nos pacientes em questão é relatada, assim como uma menor sobrevida destes indivíduos (TESSELAAR et al., 2007). Além disso, a origem dessas estruturas é discutida, e a procura por marcadores tanto de células tumorais quanto de células sanguíneas tais como monócitos e, principalmente, plaquetas neste complexo grupo de MVs demonstrou, de maneira geral, que estas poderiam ser produzidas por diferentes tipos celulares, incluindo o próprio tumor e células vasculares ativadas. Contudo, a principal diferença observada em pacientes com câncer, quando comparados aos grupos controle, seria justamente o conteúdo de MVs expondo Fator Tecidual de origem tumoral, as quais são citadas como a provável fonte primária de tal proteína no plasma desses indivíduos. Estas poderiam ser ainda responsáveis pela presença de Fator Tecidual detectada em MVs derivadas de plaquetas, através de mecanismos de fusão e/ou transferência de moléculas de superfície entre ambas as MVs, hipótese levantada por estes autores. Em conjunto, esses dados sugerem que a aquisição do fenótipo maligno por melanócitos aumenta a produção de microvesículas pró-coagulantes e indicam sua participação na ativação do processo de coagulação sanguínea in vivo, com provável envolvimento na patogênese de eventos pró-trombóticos associados ao câncer. . 70 6 CONCLUSÃO 71 Nesse estudo, mostramos que microvesículas produzidas pelo melanoma maligno desempenham importante papel pró-tumoral in vivo, possivelmente associado à modulação de respostas imunes e inflamatórias, assim como à ativação do processo de coagulação, ambos os processos dependentes da exposição do fosfolipídio fosfatidilserina. Em conclusão, a demonstração de que microvesículas de melanoma podem carregar diferentes moléculas de superfície a partir de suas células de origem e, conseqüentemente, modular diferentes respostas biológicas no organismo hospedeiro em questão, indica que esses complexos fragmentos de membrana poderiam mimetizar e amplificar sinais tumorais, interagindo com diversos tipos celulares presentes em ou distantes do microambiente neoplásico, e, dessa forma, influenciar positivamente o estabelecimento do melanoma maligno. 72 7 REFERÊNCIAS 73 AMIRKHOSRAVI A, BIGGERSTAFF JP, WARNES G, FRANCIS DA, FRANCIS JL. Determination of tumor cell procoagulant activity by Sonoclot analysis in whole blood. Thromb Res 1996; 84:323-332. AMIRKHOSRAVI A, MEYER T, CHANG JY, AMAYA M, SIDDIQUI F, DESAI H, FRANCIS JL. Tissue factor pathway inhibitor reduces experimental lung metastasis of B16 melanoma. Thromb Haemost 2002; 87:930-936. ANDO M, IWATA A, OZEKI Y, TSUCHIYA K, AKIBA T, NIHEI H. 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Barcinski. 85 Tumor-derived microvesicles modulate the establishment of metastatic melanoma in a phosphatidylserine-dependent manner Luize G. Limaa,b*, Roger Chammasc, Robson Q. Monteirob, Maria Elisabete C. Moreiraa and Marcello A. Barcinskia,d a Division of Experimental Medicine, National Cancer Institute, RJ, Brazil; bInstitute of Medical Biochemistry, Federal University of Rio de Janeiro, RJ, Brazil; cLaboratory of Experimental Oncology, School of Medicine, University of São Paulo, SP, Brazil; d Department of Parasitology, Institute of Biomedical Sciences, University of São Paulo, São Paulo, Brazil. Short Title: Role of tumor microvesicles in metastasis *Correspondence to: Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ, Avenida Bauhínia 400 (Bloco H, segundo andar, sala 08), Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, 21941-590, Brazil. E-mail: [email protected]. Phone number: +55-21-2562-6782. Fax: +55-21-22708647 (alternate number: +55-21-3233-1493). 86 Abstract Exposure of phosphatidylserine (PS) on cellular membranes and membrane-derived microvesicles stimulates a number of anti-inflammatory responses involved in malignant processes. Herein we show that B16F10 cells, a highly metastatic melanoma cell line, produce large quantities of PS-containing microvesicles in vitro. Tumor microvesicles increased TGF-β1 production by cultured macrophages and, in vivo, enhanced the metastatic potential of B16F10 cells in C57BL/6 mice, both effects being reversed by annexin V. Most strikingly, microvesicles induced melanoma metastasis in BALB/c mice, which are normally resistant to this tumor cell line. Altogether, this is the first demonstration that tumor-derived microvesicles favor the establishment of melanoma metastasis in a PS-dependent manner, possibly by down-regulating the host’s inflammatory and/or anti-tumoral immune responses. Key words: microvesicles; melanoma; metastasis; phosphatidylserine; TGF-β1. 1. Introduction Microvesicles (MV), also known as microparticles, are membrane fragments that can be shed from the cell surface of normal healthy or damaged cells under conditions such as cell activation and growth and apoptosis [1, 2]. MV release from surface membranes depends on an increase in cytosolic calcium and disruption of the cytoskeleton by calpain [3, 4], which allows membrane budding and generates circular structures that are heterogeneous (i) in size (0.1-1 μm) and (ii) in composition, which reflects their cellular origin. They are rather different from exosomes, generally smaller vesicles (30-100 nm) that are originated from endosomal compartments after exocytosis of secretory granules [2]. 87 Although observed in various cell types, microvesicles formation has been particularly associated with tumor progression, due to the higher MV levels found in the fluids of cancer patients when compared with healthy individuals [5, 6]. Indeed, data from the literature show that the amount and proteolytic activities of MV correlate with the invasiveness of human cancer cell lines in vitro [7], which can be related to the acquisition of metastatic capability by these tumors [8]. Furthermore, MV carry numerous membrane proteins and lipids similar to those present in the cell from which they originate (e.g., tissue factor-bearing MV derived from monocytes) [9] and, in the context of neoplastic cells, the transport of immunoregulatory molecules such as Fas ligand has already been demonstrated [10, 11], which suggests an important association between MV production and immunosuppression. The exact mechanisms involved in MV formation are not fully understood but it is known that this phenomenon is energy-dependent and results from cell membrane remodeling and loss of lipid asymmetry, leading to phosphatidylserine (PS) exposure [12]. PS is an anionic phospholipid normally found in the inner leaflet of the cell membrane bilayer. It is translocated to the outer leaflet by special aminophospholipid translocase and scramblase activities [13], which can occur more extensively under certain conditions such as platelet activation and apoptosis. The identification and clearance of apoptotic cells by phagocytes such as macrophages, prior to membrane rupture, not only prevents the release of potentially injurious intracellular contents into the surrounding tissue, but also actively stimulates anti-inflammatory and immunosuppressive responses [14]. Fadok et al. have shown that human macrophages, when stimulated in the presence of apoptotic neutrophils, produce high levels of immunoregulatory factors such as transforming growth factor (TGF)-β1 and interleukin (IL)-10 [15]. Later in vivo studies demonstrated that PSdependent TGF-β1 secretion by macrophages accelerates the resolution of acute 88 inflammation [16], and likewise inhibits extremely inflammatory phenotypes such as the induction of tumor cell apoptosis by interferon (IFN)-γ/lipopolysaccharide (LPS)stimulated macrophages [17]. Non-physiological levels of TGF-β1 can also be produced by cancer cells themselves. In an autocrine manner, this affects their growth and differentiation and, in a paracrine manner, it affects the entire tumor microenvironment, contributing to tumor progression and metastasis [18]. Clinical studies have shown, for example, that melanoma patients present elevated levels of TGF-β1 associated with tumor growth and dissemination [19, 20], which can be partly explained by the fact that this cytokine plays an important role in the immune response regulation through the suppression of both proliferation and differentiation of immune cells such as B and T lymphocytes [18]. Indeed, Gorelik and Flavell demonstrated that the blockade of TGF-β signaling in T cells leads to tumor eradication [21], which suggests a critical role for this molecule in the evasion of cancer cells from immune surveillance and corroborates its association with tumor development. Since semi-quantitative analyses of PS on the membrane outer surface of human cell lines have shown that tumor cells expose higher PS levels when compared with normal healthy ones [22], and considering that MV formation and PS exposure in cell membranes are closely related phenomena, we postulate their involvement in the establishment of B16F10 murine malignant melanoma, possibly through the up-regulation of TGF-β1 production and consequent downmodulation of macrophage activation. Here we demonstrate that cells from the highly metastatic malignant melanoma cell line B16F10 produce large quantities of MV in vitro, which can up-regulate TGF-β1 production by professional phagocytes. Furthermore, we have observed that MV injection prior to or together with an intravenous inoculum of the B16F10 cell line increases the number of pulmonary tumor nodules in vivo, in a PS- dependent fashion. Altogether, our data suggest 89 a potential role for PS-bearing melanoma microvesicles in tumor establishment, possibly by down-regulating anti-tumoral immune responses. 2. Materials and Methods 2.1. Cell culture The murine B16F10 melanoma cell line was grown at 37ºC in a humidified, 5% CO2 atmosphere in culture flasks in Dulbecco´s Modified Eagle Medium (DMEM, GibcoBRL) containing foetal bovine serum (FBS) 10% (v/v) and supplemented with 2.4 g/L HEPES, 3.7 g/L sodium bicarbonate, 125 mg/L sodium dihydrogen phosphate, 110 mg/L sodium pyruvate, 100.000 U/L penicillin, 100 mg/L streptomycin, 2 mM Lglutamine and 55 μM β-mercaptoethanol. After separation of cell culture supernatant for posterior MV purification, tumor cells were detached with Hank’s solution containing 10 mM HEPES and 0.2 mM EDTA, spun at 350 x g for 7 min, resuspended in DMEM containing 10% FBS (supplemented as previously described) and transferred to another culture flask (or maintained at 4oC until utilization). 2.2. MV purification B16F10 cell culture supernatants were consecutively centrifuged at 800 x g for 10 min and at 14,000 x g for 15 min, always at 4ºC. The final pellet was then washed once and resuspended in phosphate-buffered saline (PBS), quantified by counting in a BD FACScalibur™ Flow Cytometer (Becton, Dickinson and Company) and stored at - 80ºC until utilization. Quantification of MV by FACS analysis was further validated by protein quantification with the Bradford assay. 90 Also, it is noteworthy that smaller vesicles (as the so called exosomes) were not included in the present study since more vigorous ultracentrifugation (100,000 x g for 60 min, for example) of cells supernatants was not performed. 2.3. Flow cytometric analyses For surface phosphatidylserine detection, B16F10 cells and MV were resuspended in 150 mM NaCl, 5 mM KCl, 2.5 mM CaCl2, 1 mM MgCl2 and 10 mM HEPES, pH 7.3 (annexin binding buffer) and incubated with 25 μg/mL annexin V-FITC (Molecular Probes) for 15 min at room temperature. B16F10 cells were also labeled with 10 μg/mL propidium iodide (PI) for exclusion of those that had lost plasma membrane integrity becoming PI permeable. MV were also resuspended in PBS containing 1% bovine serum albumin (BSA) and incubated for 1 h at 4ºC with a murine monoclonal antibody against melanoma associated antigen MAA (MM29B6), hybridoma supernatant diluted 1:1. After washing to remove unbound antibody, MV were incubated with anti-mouse IgG-FITC (Sigma), diluted 1:800, for 1 h at 4ºC. MV were washed again and analyzed using a BD FACScaliburTM Flow Cytometer (Becton, Dickinson and Company). Data were analyzed by the BD CellQuest ProTM software (Becton, Dickinson and Company). 2.4. Electron microscopy For localization of phosphatidylserine residues by transmission electron microscopy, B16F10 MV were pre-fixed for 10 min at 4oC in a solution containing 0.1% glutaraldehyde and 4% paraformaldehyde in 0.1 M cacodylate buffer, pH 7.2. After prefixation, samples were washed three times, incubated for 30 min at 4oC with biotinylated annexin V (Pharmingen) – diluted 1:10 – and then post-incubated with streptavidin labeled 91 with 10 nm colloidal gold particles (Sigma), 0.25 U/mL, also for 30 min at 4oC. A control for non-specific secondary labeling was done by directly incubating MV with streptavidin. After the last incubation, MV were washed three times in annexin buffer containing 3% BSA, fixed for 1 hr in a solution containing 2.5% glutaraldehyde, 1% paraformaldehyde, 8% sucrose and 2.5 mM CaCl2 in 0.1 M cacodylate buffer, pH 7.2, at 37oC, and washed three more times in 0.1 M cacodylate buffer containing 2.5 mM CaCl2. Postfixation was carried out in osmium tetroxide and potassium ferricyanide (1:1) for 30 min at 4oC and followed by four washes in 0.1 M cacodylate buffer containing 2.5 mM CaCl2. MV were then dehydrated with acetone and embedded in epon resin. Ultrathin sections were stained with uranyl acetate and lead citrate and examined in a Zeiss CEM 900 transmission electron microscope (Zeiss; Oberkochen, Germany). For simple visualization of MV, a similar protocol was followed, but without the steps of annexin V and streptavidin labeling. 2.5. Fluorescence microscopy B16F10 cells were grown on glass coverslips. After achieving confluence, cells were washed three times with PBS and incubated with biotinylated annexin V (Pharmingen), diluted 1:10, in annexin binding buffer for 15 min. This was followed by sequential incubation with 2.5 μg/mL streptavidin-FITC (Pharmingen), also for 15 min in annexin binding buffer. The coverslips were washed in annexin binding buffer, mounted with n-propylgallate, and observed in an Axiovert S 100 microscope equipped with a KS300 image analyzer (Zeiss; Oberkochen, Germany). A control for non-specific secondary labeling was done by directly incubating B16F10 cells with streptavidin. In addition, a permeabilized sample was prepared by 92 fixation with freshly prepared 2% paraformaldehyde in PBS (pH 7.2) for 30 min and by sequential treatment with 40 μM digitonin for 10 min before annexin V and streptavidin incubations. 2.6. Prothrombin activation by MV Activation of prothrombin by the prothrombinase complex (factor Xa/factor Va) was performed in 50 mM HEPES, 100 mM NaCl, 5 mM CaCl2, 1 mg/mL BSA, pH 7.5 (HEPES-BSA buffer), using a discontinuous assay. Factor Xa (10 pM, final concentration) was incubated with factor Va (1 nM, final concentration) in the presence of B16F10 MV (0-3.6 x 104/mL) for 2 min at 37ºC. Reaction was initiated by addition of prothrombin (500 nM, final concentration) and aliquots of 10 µL were removed every 1 min into microplate wells containing 40 µL of Tris-EDTA buffer. After addition of 50 µL of 200 µM S-2238 prepared in Tris-EDTA buffer, absorbance at 405 nm was recorded, at 37ºC, for 20 min at 6-s intervals using a Thermomax Microplate Reader (Molecular Devices). Velocities (mOD/min) obtained in the first minutes of reaction were used to calculate the amount of thrombin formed. The effect of annexin V on thrombin formation was also tested as follows: B16F10 MV (3.6 x 104/mL) were incubated with varying amounts of annexin V (0-100 nM) for 5 min at 37oC in HEPES-BSA buffer. Then, MV were incubated with factor Xa (10 pM)/factor Va (1 nM) for 2 min, at 37oC, followed by addition of prothrombin (500 nM). Aliquots of 10 µL were removed after 5 min, and delivered to microplate wells containing 40 µL of Tris-EDTA buffer. The amount of thrombin formed was evaluated as described above using its chromogenic substrate S-2238. 2.7. Quantification of TGF-β1 in co-cultures of macrophages and B16F10 MV 93 Thioglycollate (Sigma-Aldrich)-induced macrophages from BALB/c mice were pooled and washed in DMEM containing 10% FBS (supplemented as previously described). After differential cell count, 5 x 105 macrophages were plated in 24-well chambers (TPP) at 37°C. After 2 h of incubation for adherence, cells were washed and cultured with B16F10 MV (pre-incubated or not for 15 min with annexin V Pharmingen diluted 1:250) overnight at 37°C in serum-free medium. After co-culture, active TGF-β1 production was assayed by ELISA (DuoSet kit; R&D Systems). 2.8. Quantification of B16F10 melanoma metastasis Six- to 8-wk-old BALB/c and C57BL/6 mice maintained at our own facilities were injected via the lateral tail vein with a 100 μL-bolus of 104 B16F10 cells (ressuspended in DMEM). After 2-4 wks, animals were killed by carbon dioxide inhalation, lungs were removed and the number of pulmonary tumor nodules was counted only on the convex face of the organ. To assess the effect of B16F10 MV in this model, mice were injected intravenously with a 100 μL-bolus of 5 x 104 B16F10 MV (purified from normal cell cultures and preincubated or not for 15 min with annexin V Pharmingen diluted 1:250) 2 h prior to or at the same time as the injection of tumor cells. 2.9. Statistical analysis One-way ANOVA or unpaired t test with Welch correction were performed using the InStat software (GraphPad). 3. Results 3.1. B16F10 cells produce microvesicles in vitro 94 In order to investigate the role of MV formation and PS exposure in the establishment of malignant melanoma, we decided to work with the B16F10 malignant melanoma cell line, which was selected for its high capacity to form pulmonary tumor nodules in its syngeneic host, C57Bl/6 mice, when inoculated intravenously [23]. Moreover, this highly metastatic cell line was shown to produce TGF-β1 both in vitro and in vivo [21], representing a good model to study the role of this cytokine in melanoma establishment in vivo. First, we examined the shedding of MV by B16F10 cells in vitro. By setting up a protocol of successive differential centrifugations of culture-derived supernatant, we were able to isolate microvesicles that were characterized both by transmission electron microscopy and flow cytometry. With the former we could observe circular membrane structures rather homogeneous in morphology presenting an estimated diameter of 200 nm (Fig. 1A), and carrying an internal electrondense material interpreted as melanin. The presence of DNA was discarded by negative propidium iodide staining and agarose gel analysis (data not shown). By flow cytometry we were able to detect and determine a forward vs. side light scattering profile for MV (Fig. 1B). This flow cytometric analysis became the major parameter used throughout the study to routinely monitor isolated MV. Since MV expresses molecular markers that are characteristic of the cell from which they originate [9, 11, 24], we then analyzed B16F10 cell-derived MV for the presence of different tumor surface molecules. Indeed, B16F10 microvesicles carry the melanoma-associated antigen MAA (Fig. 1C), specific for melanomas originating in C57BL/6 mice [25], encoded by an ecotropic retrovirus (MelARV). Flow cytometric analysis shows that the entire population of MV stains with a high fluorescence intensity for the MAA antigen. 95 3.2. B16F10 cells and microvesicles expose PS in their external surface Considering that MV formation and phospholipid phosphatidylserine (PS) exposure are closely related phenomena, we next examined PS exposure by the B16F10 cells (Fig. 2A and B) as well as in B16F10-derived MV (Figs. 2C and D). Using annexin V as a PS label we detected by flow cytometry a positive staining for PS on the surface of B16F10 cells (Fig. 2B), confirming data from the literature [26]. Annexin V binding was confirmed and extended by fluorescence microscopy, showing that PS is exposed in the outer leaflet of the plasma membrane of non-permeabilized cells in the form of molecular aggregates (Fig. 2A, middle panels), which clearly differs from a more homogeneous distribution detected on cells previously permeabilized with digitonin (Fig. 2A, right panels) and consequently with internal and external PS binding sites available for annexin V. Like the original cells, B16F10 MV stained positively for PS when analyzed by flow cytometry, although with a more heterogeneous distribution of fluorescence intensity (Fig. 2C). This heterogeneous distribution was not observed when MV were previously permeabilized with digitonin, which suggests that these structures carry similar amounts of PS in their membranes, but expose it in a variable manner. PS exposure by MV was also confirmed by transmission electron microscopy (Fig. 2D); however, this result can be an underestimate, since the classical procedures for this technique, such as glutaraldehyde treatment and epon resin inclusion, can lead to a very significant loss (70-90%) of lipid content from the sample [27]. The phenomenon of PS translocation from the inner to the outer leaflet of the cell membrane can occur more extensively under certain conditions such as platelet activation, where it is essential for the assembly of different complexes of the coagulation cascade [28]. To determine whether the PS exposed by MV is functionally active we looked for its capacity to assemble the procoagulant prothrombinase complex (factor Xa/factor Va), 96 which has already been implicated in thrombin generation by tumor cells [29]. As can be seen in figure 3A, B16F10 MV are able to efficiently promote activation of prothrombin into thrombin, which directly correlates with the concentration of MV in the reaction sample (Fig. 3B). Furthermore, this activity is inhibited in a dose-dependent way by annexin V (Figs. 3C and D), which blocks PS binding sites. 3.3. B16F10 -derived microvesicles modulate TGF-β1 production by macrophages PS exposure is one of the most important signals for the recognition of apoptotic cells by phagocytes and the consequent modulation of anti-inflammatory responses [14], leading to the production of immunoregulatory factors such as TGF-β1 [15]. To investigate the functional integrity and signaling activity of PS moieties displayed by MV we quantified TGF-β1 production by thioglycolate-elicited murine peritoneal macrophages cultured in the presence or in the absence of PS-bearing melanoma MV, pre-treated or not with annexin V. The co-cultured phagocytes produced significantly more TGF-β1 than the ones cultivated alone, being this effect blocked by pre-treating melanoma MV with annexin V (Fig. 4). This result confirms the ability of B16F10 MV to modulate phagocyte activation in a PS-dependent manner. 3.4. Tumor-derived microvesicles increase the metastatic potential of B16F10 cells Tumor cells vesiculation has been related to acquisition of metastatic capability and to evasion from immune surveillance [8]. Therefore, we further examined a possible role of PS-exposing MV in the establishment of malignant melanoma in vivo. First, we observed that sensitization with MV 2 h prior to intravenous inoculation with cells significantly increased the number of pulmonary tumor nodules in C57BL/6 mice (syngeneic hosts) (p < 0.01) (Fig. 5A). This increase was abrogated by pre-treating MV 97 with annexin V, which suggests the involvement of PS molecule in the modulation of syngeneic responses by these MV. Furthermore, MV addition to B16F10 cells inoculum allowed tumor development in BALB/c mice, a strain that would normally mount an efficient anti-tumoral response, not only increasing the number of pulmonary melanoma nodules (Fig. 5B), but also significantly increasing their sizes (Fig. 5C). It is important to note that inoculation of B16F10 MV itself into both C57BL/6 and BALB/c mice did not lead to the appearance of pulmonary melanoma nodules (data not shown). 4. Discussion The shedding of microvesicles from cell-surface membranes is a physiological phenomenon observed in both normal and damaged cells upon certain activation stimuli [1, 2]. Important correlations between the process of MV formation and the establishment of a variety of tumor types, e.g. ovarian carcinoma [5, 30], have been reported, although the exact mechanisms responsible for this correlation are still unknown. This fact led us to investigate the role of PS, present in a functionally active form on the surface of MV derived from the B16F10 malignant melanoma, in the establishment of the tumor. When exposed on the surface of apoptotic cells, PS is able to drive the course of tumor progression by stimulating anti-inflammatory responses [17], inducing a state of immunosuppression and the release of TGF-β1, an important mediator of the process of malignant progression [31]. First we show that the B16F10 cells produce a large quantity of MV in vitro, which is in accordance with earlier observations of Taylor and collaborators [32, 33]. These membranous structures had an estimated diameter of 200 nm as observed by transmission electron microscopy (Fig. 1A), which fits in the range of relative large vesicles sizes already established in the literature (0.1-1 μm) [2, 4]. Furthermore, they do not contain 98 fragmented DNA (data not shown), differentiating them from apoptotic bodies. Finally, confirming the ability of MV to bear antigens derived from the original tumor [24] we observed that MV produced by the B16F10 cell line indeed carry the melanoma-associated antigen MAA, which also corroborates, in this specific case, its origin in C57BL/6 mice [25]. Since formation of MV results from cell membrane remodeling and loss of phospholipid asymmetry [12], we next looked for the presence of PS moieties on the surface of B16F10 MV, as well as on the melanoma cells themselves. Both structures, even with their membrane integrity preserved, i.e. not permeabilized with digitonin, stained positively with annexin V, a universally accepted PS label. As PS exposure is usually associated with apoptotic process, it is important to note that the cells used in this study were healthy and viable in culture (as monitored by optical and transmission electron microscopy) and did not present other morphological features of apoptosis or DNA fragmentation (data not shown). Interestingly, when analyzed by fluorescence microscopy, PS moieties can be observed forming patches on the cell surface. This membrane distribution has been described as important for the functional activity of PS as a cellsurface ligand, due to its ability to increase PS avidity for its cell-surface receptor [34]. PS distribution on the surface of MV as observed by flow cytometry reveals a very heterogeneous distribution. However, when permeabilized, thus allowing internalization of the annexin V label, MV generates a sharp peak, indicating that the total amount of PS moieties in the different vesicles is very similar. One possible interpretation for these results is that since MV are unable to actively expose PS, the amount of externalized PS observed may be a consequence of the cell surface density of moieties in the site from which the MV originates. 99 Furthermore, B16F10 MV were able to increase, in a dose-dependent manner, the formation of the procoagulant prothrombinase complex (factor Xa/factor Va), which efficiently converts prothrombin into thrombin, and this enhancement was inhibited by preincubating MV with annexin V (Fig. 3). It is known that the optimized assembly of such enzymatic complex depends on the presence of PS-rich membranes [28], which definitely corroborates PS exposure by melanoma microparticles, as well as demonstrates its functionality. Thus, given that PS recognition stimulates anti-inflammatory responses and induces the release of immunoregulatory factors such as TGF-β1 [14-17], an important mediator of the process of malignant progression, we examined a possible role of PS-bearing MV in the modulation of macrophage activation. Indeed, B16F10 MV up-regulated TGF-β1 production by professional phagocytes in a PS-dependent manner (Fig. 4), which corroborates the idea that melanoma microparticles would be able to act as complex signaling structures and consequently affect the tumor microenvironment, which includes a possible modulation of the immune system by MV molecules such as PS, known to exert anti-inflammatory and immunosuppressive activities. This is supported by recent findings of Baj-Krzyworzeka et al. who described a direct tumor MV-monocyte contact able to alter the immunophenotypic characteristics and the biological activity of the monocytes [35]. Indeed, inhibitory effects of these membrane fragments on different cells from the immune system such as the blockade of proliferation and cytotoxic ability and induction of apoptosis in lymphocytes [10, 11, 36], as well as the downregulation of class II MHC expression by monocytes/macrophages [37] have been described. Furthermore, Valenti et al. have recently identified a novel immunosuppressive pathway mediated by tumorderived MV that is associated with turning monocytes into TGF-β-producing myeloid suppressive cells [38, 39]. One alternative mechanism for the effect of MV on tumor 100 establishment and metastasis formation is the possibility that they define metastatic niches as described elsewhere for tumor supernatants [40]. By migrating to certain preferential sites and changing the “in loco” conditions they might facilitate metastatic cell localization and growth. We are at the moment defining the preferential localization of B16F10-derived MV. Within this context, we analyzed the in vivo role of MV in the establishment of malignant melanoma. In C57BL/6 mice, the syngeneic host of B16F10 melanoma, sensitization with MV prior to intravenous inoculation with B16F10 cells increased the number of pulmonary tumor nodules, which was abrogated by pre-treating MV with annexin V (Fig. 5A). In fact, previous data from the literature have shown that preincubation of RMA lymphoma with annexin V markedly reduced their ability to form tumors in mice [41]. These results are in accordance with our results that suggest the involvement of PS molecule in the modulation of syngeneic response by B16F10 melanoma MV. On the other hand, in in vivo assays with BALB/c mice, a strain that would normally produce an efficient anti-tumoral response, we observed that MV addition to melanoma cells inoculum allowed tumor development, increasing not only the number but also the size of pulmonary tumor nodules (Figs. 5B and C), which indicates that MVs derived from melanoma cells display the capacity to suppress anti-tumoral immune responses. Considering that B16F10 MV carry surface molecules such as PS, implicated in the up-regulation of immunoregulatory factors such as TGF-β1, we postulate that they might prevent inflammatory responses, and consequently downregulate innate and adaptive immune responses. In conclusion, the demonstration that B16F10 MV carry different surface molecules from their original cells suggests that these complex circular membrane fragments could amplify tumor signals, interacting with diverse cell types present in or far 101 from melanoma microenvironment, and, in this way, influence the biology of the target cells. Acknowledgments We thank Drs. Peter Henson, Jon Geske and Valerie Fadok for a very productive scientific interaction; Martha Sorenson for careful revision of the manuscript; José Morgado (Instituto Nacional do Câncer, RJ, Brazil) for help with the EM analysis; and Elieser Gorelik (University of Pittsburgh Cancer Institute, Hillman Cancer Center) for providing the MM29B6 hybridoma. This research was supported by Instituto Nacional do Câncer (INCa)/Fundação Ary Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer (FAF), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), and Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Carlos Chagas Filho (FAPERJ). References [1] J.M. Freyssinet, Cellular microparticles: what are they bad or good for? , J. Thromb. Haemost. 1 (2003) 1655-1662. [2] J. Ratajczak, M. Wysoczynski, F. Hayek, A. Janowska-Wieczorek, M.Z. Ratajczak, Membrane-derived microvesicles: important and underappreciated mediators of cellto-cell communication, Leukemia 20 (2006) 1487-1495. [3] T. Wiedmer, S.J. Shattil, M. Cunningham, P.J. Sims, Role of calcium and calpain in complement-induced vesiculation of the platelet plasma membrane and in the exposure of the platelet factor Va receptor, Biochemistry 29 (1990) 623-632. [4] A. Piccin, W.G. Murphy, O.P. 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Open histogram represents staining with monoclonal anti-MAA antibody (MM29B6) followed by FITC-labeled secondary antibody; shaded histogram represents staining with secondary antibody in the absence of anti-MAA. Figure 2 – Detection of PS exposure on B16F10 cells and MV. (A) PS localization on B16F10 cells surface by fluorescence microscopy. Left panel (NEGATIVE CTL), staining with FITC-labeled streptavidin in the absence of biotin-conjugated annexin V; middle panel (LABELED CELLS), staining with biotin-conjugated annexin V followed by FITClabeled streptavidin; right panel [LABELED CELLS (+Digitonin)], staining with biotinconjugated annexin V followed by FITC-labeled streptavidin after pre-treatment with 40 μM digitonin for 10 min. (B) Flow cytometric analysis of PS in B16F10 cells. Black fill represents unstained cells; thin line represents staining with FITC-labeled annexin V. Histogram shown refers only to B16F10 cells negatively stained for propidium iodide. (C) Flow cytometric analysis of PS in B16F10 MV. Shaded curve represents unstained MV; light gray line represents staining with FITC-labeled annexin V; and dark gray line represents staining with FITC-labeled annexin V after pre-treatment with 40 μM digitonin for 10 min. (D) Analysis of PS in B16F10 MV by transmission electron microscopy. Picture represents staining with biotin-conjugated annexin V followed by gold particlesconjugated streptavidin. 108 Figure 3 – Assembly of prothrombinase complex on B16F10 MV is dependent on PS. (A) Kinetics for the activation of prothrombin (500 nM) by FXa (10 pM) and FVa (1 nM), in the absence (•) or in the presence () of B16F10 melanoma MV (3.6 x 104/mL). A negative control was included by incubating prothrombin (500 nM) with MV (3.6 x 104/mL) in the absence of FXa and FVa (c). (B) Concentration dependence of B16F10 MV for the activation of prothrombin (500 nM) in the presence of FXa (10 pM) and FVa (1 nM). (CD) Inhibitory effect of annexin V on prothrombin activation by B16F10 melanoma MV. B16F10 MV (3.6 x 104/mL) were incubated with different concentrations of annexin V for 5 min prior to incubation with FXa (10 pM), FVa (1 nM) and prothrombin (500 nM). Results are expressed as the absolute concentration of thrombin formed (A-C) or as the percentage of prothrombin activation relative to the control sample not incubated with annexin V (0 nM) (D). Assay conditions and determination of thrombin formation are described in the Materials and Methods section. Each point represents mean ± SD of three determinations. Figure 4 – Modulation of TGF-β1 production in macrophages cultures by B16F10 melanoma MV. Concentrations of TGF-β1 in supernatants of thioglycolate-elicited peritoneal macrophages cultured in the absence (TG-EPM) or in the presence of B16F10 MV – pre-treated [TG-EPM + MV (AX)] or not with annexin V (TG-EPM + MV) – were assessed by ELISA. A control for TGF-β1 production by B16F10 MV alone is represented as MV. Figure 5 – Role of B16F10 MV in the establishment of malignant melanoma in vivo. (A) Negative effect of PS inhibition on tumor exacerbation induced by B16F10 melanoma MV 109 in C57BL/6 mice. Animals were inoculated intravenously with 104 B16F10 cells alone (ctrl) or B16F10 cells 2 h after a pre-inoculum of MV (5 x 104) pre-treated [+ MV (AX)] or not [+ MV] with annexin V. Results are expressed as the median of the number of pulmonary tumor nodules observed in the animals from each group on day 14 post-tumoral inoculum. Asterisks indicate p < 0.01 (**) and p < 0.001 (***) (Student’s t-test). (B) Role of B16F10 MV in the establishment of malignant melanoma in BALB/c mice. Animals were inoculated intravenously with 104 B16F10 cells, with (+ MV) or without (ctrl) an addition of B16F10 MV (5 x 104). Results are expressed as the mean of the number of pulmonary nodules observed in the animals from each group (n = 5) on day 28 posttumoral inoculum. Asterisks indicate p < 0.01 (**) (Student’s t-test). (C) Representative photographs of the lungs (convex face) related to groups in B. 110 Figure 1 Figure 2 111 Figure 3 Figure 4 * 112 Figure 5 113 Anexo 2 – Procoagulant properties of human MV3 melanoma cells. Artigo publicado no periódico Brazilian Journal of Medical and Biological Research, 2008, volume 41, páginas 99-105. Autores: Diego L. A. Geaquinto, Renato S. Fernandes, Luize G. Lima, Cristina Barja-Fidalgo e Robson Q. Monteiro. 114 115 116 117 118 119 120 CURRICULUM VITAE Nome: Luize Gonçalves Lima Nascimento: 20/12/1983 Naturalidade: Rio de Janeiro Formação Acadêmica • • Graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – 2001 a 2005 Mestrado em Química Biológica pelo Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro – 2006 a 2008 Orientação de Estudante • Juliana Marques Reis – Programa Jovens Talentosos do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde fevereiro de 2007 Comunicações em Congresso • • 6 comunicações em congressos nacionais 3 comunicações em congressos internacionais Artigos Publicados • Geaquinto, D.L.; Fernandes, R.S.; Lima, L.G.; Barja-Fidalgo, C.; Monteiro, R.Q. (2008). Procoagulant properties of human MV3 melanoma cells. Braz J Med Biol Res. 41:99-105.