RELATO REFLEXIVO DO ALUNO DE MEDICINA JEFERSON FERNANDO BARBOSA DOS REIS VERSUS VERÃO 2016 ‘’Cada dia uma descoberta’’ PRIMEIRO DIA (17/01) Hoje teve início o projeto Ver-sus. Inicialmente houve um acolhimento pelos facilitadores e comissão e tivemos que nos acomodar nos dormitórios de acordo com grupos prédeterminados. Inicialmente tentamos conhecer uns aos outros , alguns já se conhecem, eu não conheço ninguém. Depois houve uma reunião de todos os participantes e a comissão organizadora onde foi feita uma apresentação individual e foi comentado o objetivo do projeto. Logo após foi servido o jantar, um sanduíche natural com suco de caju, eu particularmente gostei. Depois nos foi passada a tarefa da escolha do nome do grupo do dormitório e confecção da bandeira por todos do grupo. Depois fomos dormir. SEGUNDO DIA(18/01) Bem hoje acordamos as 6:00, tomamos café e saímos. O dia foi bastante produtivo, primeiro fomos a facime onde participamos de palestras e rodas de conversa. Inicialmente assistimos um vídeo ,proposto pelo professor Leonardo onde havia uma fala do professor Emerson merhy que falava na décima quinta conferência de saúde, tratando da importância de entender a vida do outro e não apenas submetê-lo as normas. Importância de tratar o outro no cotidiano. Ainda pela manha se discutiu a importância de se entender os valores dos pacientes e da diferença entre condicionantes e determinantes da saúde, sendo os determinantes sócioambientais como por exemplo educação, ausência de saneamento básico e os condicionantes são os hábitos de vida. Depois foi apresentado uma visão geral do SUS de teresina formada pela fundação municipal de saúde e fundação hospitalar de teresina. Depois a tarde tiveram palestra de professores da facime e UFPI, Otacílio e Patrícia, onde foi falada da importância do SUS no processo civilizatório Depois voltamos ao alojamento e fomos jantar .Confeccionamos a bandeira coletiva com a ajuda de todos os grupos. No entanto começou uma grande chuva que expos as deficiências do telhado do alojamento(conhecido pelos alunos da Uespi como ‘’carandiru’’), o corredor parecia uma cachoeira, os alunos correram pra guardar suas coisas e tivemos que mudar de sala em razão do risco de alagamento das salas. TERCEIRO DIA (19/01) No terceiro dia , meu grupo foi a uma unidade básica de saúde pela manhã que fica localizada no Portal da alegria, bastante longe do centro de Teresina. Era uma unidade com uma estrutura eficiente e estava com poucos pacientes na sala de espera. Fomos ter uma conversa em uma sala reservada com o coordenador da UBS, Jonas, que explicou como acontecem as atividades. Ele pontuou principalmente a dificuldade de territorialização, por que aquela área sofre uma intensa expansão populacional em razão dos programas habitacionais do governo e da Caixa econômica federal, que apenas constrói casas, sem a preocupação devida com a cobertura de segurança e de saúde, gerando altos índices de violência e sobrecarregando a única UBS da área. Também fomos recepcionados pela enfermeira Célia da equipe da UBS em sua enfermaria, que apesar de pequena para o grupo, foi suficiente para nos acomodar. Muito simpática ela falou sobre seu trabalho atendendo aquela comunidade e das dificuldades. Ela relatou a dificuldade de acompanhamento e territorialização do espaço coberto pela unidade de saúde. Pacientes novos a cada dia vindos de outras áreas e até outros estados.Ela relatou que isso é o principal fator desmotivador dela e que já tinha dado entrada no seu desligamento da UBS. Meu colega de Versus fez um comentário pertinente sobre a situação do atendimento naquela UBS comparando com o atendimento feito numa UPA já que não havia continuidade do tratamento dos pacientes. A tarde, fomos para a Facime (campus de saúde da Uespi) e participamos de uma roda de conversa com os movimentos sociais ,os quais não conhecia. MORHAN(Movimento de reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase)e MOPS(movimento popular de saúde) . Foi muito importante poder entrar em contato com esses movimentos, enxergar a importância da luta dessas pessoas, apesar de notar uma certa perda de força e desgastes dessas lutas, como a do MORHAN em razão da sociedade considerar a Hanseníase uma doença do passado. Depo is voltamos para o alojamento e demos início a sistematização. QUARTO DIA (20/01) Começamos o dia bem com muita música na rádio do alojamento, tomar banho não era dificuldade, sempre tinham banheiros disponíveis. Depois tomamos café e nos colocamos a postos para a chegada das vans. Com a chegada do transporte nos dirigimos novamente para a UBS do portal da alegria onde fomos recepcionados pela enfermeira Célia que nos encaminhou para uma roda de conversa com os agentes de saúde daquela área. São 180 famílias atendidas por eles, sendo que o ideal apontado por eles seriam 100 famílias. Durante a conversa, a fala de uma das agentes chamou atenção pela articulação ao falar sobre o SUS. ‘’As pessoas não sabem a riqueza do SUS’’ foi uma das frases ditas por Fátima agente de saúde do Portal da Alegria mostrando completo entendimento dos mecanismos administrativos do SUS, mesmo ela sendo de um extremo da cadeia produtiva da saúde pública . ’’Um dentista na minha casa!’’ Foi falado também da importância da visita dos profissionais. Ver um médico ou dentista se aproximando do paciente ,além do consultório, é algo que gera um impacto nas pessoas como foi brilhantemente documentado no filme ‘’Caminhos do jardim rosália’’ que foi exibido pelo professor Leonardo. Atos ensinam e educam mais que palavras. Foi relatado também os resultados bastante satisfatórios do grupo de gestantes como um exemplo de promoção em saúde. ‘’O apoio do PSF’’ A tarde fomos visitar o NASF (Núcleo de apoio a saúde da família) da região sul de Teresina que fica sediado na UBS da vila da paz. Foi feita uma tradicional aula com slides explicando o que é o NASF. Composto por assistente social, Educador físico, fisioterapeuta, nutricionista e psicóloga, o NASF tem os profissionais da saúde que não fazem parte da equipe do PSF. ‘’Como eu posso trabalhar numa equipe em que um profissional ganha 10 vezes mais que eu’’ Foi uma afirmação da assistente social do NASF a respeito dos médicos do PSF. QUINTO DIA (21/01) Acordamos mais cedo esse dia pois iríamos pra zona rural de teresina no povoado Chapadinha sul visitar a UBS da área. Chegamos e haviam poucas pessoas na sala de espera, foto esclarecido depois pela enfermeira da equipe que disse que apenas haveria atendimento odontológico, diferentemente dos dias de atendimento médico na unidade. Haveria naquele dia apenas visitas domiciliares com a médica da unidade, visitas que iríamos acompanhar ,porém, a médica passou pelo posto de saúde ignorando-nos. A tarde fomos no CRAS (centro de referência em assistência social).Que é tido como um centro de baixa complexidade no atendimento de vulneráveis sociais, sendo o CREAS de média complexidade e as comunidades terepêuticas de alta complexidade. Foi uma visita mais contemplativa na qual fomos recebidos pela coordenadora e uma psicóloga. Me pareceu ser mais um centro cultural com enfoque para populações de risco. SEXTO DIA (22/01) Neste dia nossa visitas mudaram o enfoque, fomos para a regional de saúde sul que cuida de 29 unidades básicas de saúde totalizando 81 equipes de PSF. Pudemos conhecer o e-SUS ainda em implantação na rede teresinense. Um sistema realmente impressionante, que não parece ‘’coisa do sus’’. NONO DIA (25/01) Nesse dia acordamos, nos aprontamos e nos dirigimos a Facime. Vi na programação que seria uma discussão sobre modelos de saúde, um assunto que me interessa bastante. Inicialmente foi dada uma aula pelo professor Vinícius sobre os diversos modelos de saúde pública pelo mundo. Pudemos entender que teoricamente o modelo de saúde brasileiro busca a igualdade no atendimento de todos, diferentemente de outros modelos como o norte-americano que quase não oferece assistência e depende da iniciativa privada ou na Alemanha onde o tratamento é de acordo com o salário do usuário. Também foi proposto uma atividade para o grupo, que foi dividido em três para que fosse feita uma apresentação sobre o SUS ‘’ontem’’ ‘’hoje’’ e como o queremos no ‘’futuro’’. O primeiro grupo mostrou o modelo assistencialista. O segundo grupo, que era o meu, mostrou as dificuldades de se fazer um SUS com uma gestão irresponsável e corrupta através de uma pequena, improvisada e gratificante peça teatral. E o terceiro grupo mostrou um SUS igualitário e com uma gestão que presta contas sobre a verba da saúde e também dos serviços. DÉCIMO DIA (26/01) ‘MEU PRIMEIRO DIA NO HUT’ A manhã de dia 26 foi bastante especial pra min. Pude conhecer o Hospital de urgência de Teresina(HUT) o qual futuramente farei meu internato e talvez irei trabalhar quando formado. Pudemos notar a grande movimentação de um hospital de urgência de grande porte. Pacientes pelos corredores e muitos estudantes de universidades e faculdades. Em outro momento entramos na UTI, nunca havia entrado em uma e foi um pouco impactante ver a total dependência daqueles pacientes aos apatelhos e a luta deles pela vida. ‘’SEGURANDO O OTOSCÓPIO’’ A tarde fomos pra um hospital de bairro o hospital do Buenos Aires, zona norte de teresina. Fizemos uma caminhada pelos corredores. Basicamente é um hospital ambularorial com atendimento de urgência. Foi relatado pela enfermeira que nos recebeu que a maternidade havia sido fechada a mais de dois anos para reforma, mas tem previsão de 4 meses pra que seja aberta. Depois , pude acompanhar o atendimento da Médica Laurimeire na urgência, uma excelente profissional, muito atenciosa com os pacientes e me recebeu muito bem, comentando o atendimento comigo. Em um dos atendimentos pude examinar uma paciente com uma Otite bacteriana, segurei o otoscópio e examinei a orelha da paciente e pude ver o pus na orelha externa e a inflamação, com certeza um dos grandes momentos do Versus. DÉCIMO PRIMEIRO DIA (27/01) Na manhã desse décimo dia, uma quarta-feira, meu grupo se dirigiu ao Hospital Getúlio Vargas (HGV). Um hospital gigantesco que recebe pacientes de vários estados além do Piauí, como Maranhão, Ceará, Pará. Não pudemos ver nenhum atendimento ou procedimento ,o que me frustrou um pouco já que é um hospital muito tradicional e eu esperava poder falar com pacientes e profissionais o que não tive oportunidade de fazer. Já a tarde participamos de uma roda de conversa sobre saúde mental. O palestrante inicial notou que o grupo não estava conseguindo acompanhar a discussão sobre a reforma manicomial e decidiu fazer um comentário sobre. Ele comentou sobre o livro ‘’Holocausto Brasileiro’’ que conta histórias chocantes sobre um sanatório em Minas Gerais. Noto que a questão da saúde mental gira em torno sobre, que destino damos aos doentes mentais. Sendo que após a Reforma Manicomial é inclui-los. DÉCIMO SEGUNDO DIA (28/01) ‘’AQUI NÃO É LUGAR DE NAMORAR’’ Nesse dia fomos para o CAPS (Centro de apoio psicossocial) da leste de Teresina. Não haviam muitos pacientes. A coordenadora nos mostrou o prédio com estrutura adequada e com profissionais qualificados e equipe com psiquiatra, psicólogo. Conversamos com uma das pessoas atendidas um menino muito talentoso que nos encantou com sua música. Outro relato da coordenadora foi sobre o libido dos pacientes que insistem em ter relações sexuais nas instalações do CAPS algo que se tornou um problema em razão dos casos de gravidez. Ela também relatou a dificuldade de integração com a rede pois muitos pacientes com deficiência mental tem atendimento negado em muitas UBS que entendem que eles somente devem ser tratados pelo CAPS. Uma mentalidade errada, já que o paciente é da rede como um todo, pois apresenta várias demandas. A tarde, participamos de uma roda de conversa com o profissionais do Centro POP de Teresina que cuida de pessoas em situação de rua e tentam dar o mínimo de cidadania a essas pessoas. DÉCIMO TERCEIRO DIA (29/01) Fomos para uma comunidade terapêutica a Fazenda da Paz. Um lugar com uma estrutura que encanta os olhos. Eu mesmo fiquei impressionado com os profissionais e com as pessoas que trabalhavam la, uma visão completamente desconstruída com a sistematização a noite. Meus colegas Aristides, Carol e Bruna me fizeram enxergar as reais intenções dos mentores da Fazenda da Paz que vão muito além de ajudar dependentes químicos. Política e poder é o que move a Fazenda da Paz A tarde conhecemos o CREAS. Considerações finais Hoje, escrevendo esse relato, percebo que não poderia ter aproveitado melhor meu tempo de folga fora do Versus. O que o projeto me ofereceu foi acolhimento e direção. Acolhimento com um grupo de pessoas muito especiais que me fizeram dar valor a uma conversa, um abraço matinal, uma foto, uma dança em grupo, uma opinião divergente da nossa. Uma direção a qual devemos caminhar e por quais ideais devemos lutar, mas lutar com informação e resiliência. Depois do Versus, eu olho pra um hospital e penso: ‘’Será se tem leitos de UTI suficiente?’’; passo por uma UBS e quero saber se o armário de remédios tem chave com um responsável farmacêutico. A respeito da minha área, a medicina, aprendi que há muito a se fazer no relacionamento com as outras áreas da saúde que enxergam o médico como uma pessoa arrogante acima de tudo, que ignora os enfermeiros, assistentes sociais, dentistas. Em vários momentos senti a necessidade de me defender dos ataques, que não foram poucos, direcionados a classe médica que é uma grupo operário como todos os outros. Sendo assim, me desejo atual é abraçar o SUS, abraçar a luta por uma gestão responsável, conhecer outras realidades nacionais e internacionais, entender como se dá a tramitação de leis, diretrizes e projetos para o SUS. Sou um afetado pelos versusianos. Sou um afetado pelo VERSUS. Sou um afetado pelo SUS. Sou um afetado pelo BRASIL. ‘’COMPANHEIRO ME AJUDE. EU NÃO POSSO ANDAR SÓ. EU SOZINHO ANDO BEM, MAS COM VOCÊ ANDO MELHOR.’’