MOTIVAÇÃO E EMOÇÃO (1ª Frequência – aulas teóricas) 1) Introdução ao estudo da motivação e emoção Em termos introdutórios podemos abordar o estudo da motivação com a colocação de algumas questões: O que é a motivação? Que autores estão associados ao seu estudo? Que parâmetros podemos utilizar para avaliar a motivação de uma pessoa? Como é que interpretamos a motivação para as tarefas em que nos encontramos envolvidos? Além disso, podemos pensar numa situação problemática do ponto de vista motivacional e numa possível estratégia de resolução. Relativamente a este tópico podemos referir o caso de alguns atletas, como o Fernando Magalhães, que embora apresentem uma boa performance não conseguem vencer as competições por falta de motivação. Mas atenção: não devemos falar apenas em termos de ter ou não motivação, mas também de tipos de motivação! 2) Qual a relevância do estudo da motivação e da emoção? A motivação e a emoção começaram por ser estudadas do ponto de vista teórico-conceptual mas, actualmente, são abordadas essencialmente do ponto de vista prático. Neste sentido, hoje em dia, a compreensão do processo de funcionamento da motivação e da emoção (e.g. porque é que praticamos exercício físico/reciclamos?) não é considerada tão importante como o conhecimento das condições facilitadoras vs inibidoras do alcance dos objectivos desejáveis (e.g. como fomentar a prática do exercício físico? da reciclagem?). 3) O que é a motivação? Do ponto de vista epistemológico, a palavra “motivação” é derivada do latim “movere” que significa fazer andar, mexer, impulsionar. Ela refere-se a forças psicológicas que movem seres psicológicos (animais e humanos) e os trazem para a acção. Sinteticamente, a motivação prende-se com o estudo acerca do que causa o comportamento intencional (i.e. a acção), relacionando-se com as seguintes questões: O que é que inicia o comportamento (i.e. iniciação)? Como é que o comportamento é mantido ao longo do tempo (i.e. persistência)? Porque é que o comportamento é dirigido para determinados objectivos e não para outros? Porque é que o comportamento muda de direcção (i.e. mudança)? Porque é que o comportamento pára (i.e. cessação)? Porque é que o comportamento varia de intensidade, em função do tempo (variação intra-individual) e do sujeito (variação inter-individual)? 1 MOTIVAÇÃO estuda os processos e factores que explicam o ciclo comportamental A questão básica motivacional é explicar o comportamento ou acção nas performances individuais em cada momento no tempo: o início e persistência de uma intencional actividade dirigida a objectivos. Além disto, também explica o grau de esforço que é despendido durante uma actividade e a satisfação que deriva a partir dessa mesma actividade ou dos resultados desta. Para Reeve, a motivação envolve os processos que dão ao comportamento energia (i.e. intensidade/persistência comportamental) e direcção (tem a ver com o facto de o comportamento ser dirigido para determinados objectivos e não para outros). Nota: Apesar de esta definição ser consensual há teorias que se focam mais na energia e outras na direcção do comportamento. As primeiras grelhas davam uma maior importância ao estudo da energia. Foi, posteriormente, a abordagem cognitiva que levou a que fosse estudada a direcção. Por outro lado, do ponto de vista do senso comum, a motivação tende a ser vista como um conceito unidimensional, operacionalizado em termos de quantidade (i.e. quanto?) explicando a intensidade do comportamento. Mas é, na verdade, um conceito multidimensional, operacionalizado em termos de quantidade e qualidade (i.e. porquê?) isto é hoje em dia, nas abordagens contemporâneas. Quais são as fontes motivacionais? (i.e. processos que fornecem ao comportamento a sua energia e direcção; orientam a acção, constituindo-se como um processo antecipatório e preparatório, mas não instrumental) 2 Nota: A abordagem de Ford acaba por ir ao encontro da de Reeve, mas não inclui as necessidades, isto é, Ford não as considera uma fonte de motivação. Delimitação das variáveis motivacionais (segundo Ford): Não são traços estáveis, mas processos pessoais que se organizam na interacção com o contexto; Orientam as respostas comportamentais do indivíduo tendo em vista o futuro, constituindo a motivação um processo antecipatório e preparatório (i.e. antecipação de acontecimentos futuros desejados ou temidos); São avaliativas, não instrumentais (i.e. escolha da direcção/manutenção/cessação da situação actual, mas não dos meios). O carácter mais instrumental não está propriamente na motivação mas nas competências e responsabilidade do meio. Embora tenham um papel crucial na efectivação do comportamento, não são suficientes para a explicar. De facto: Comportamento = Motivação X Competências X Responsividade do Meio (e.g. para aprender a tocar piano é importante estar motivado, possuir conhecimentos nessa área e ter um bom professor). A responsividade do meio diz respeito ao modo como o meio interfere no nosso comportamento. Para ter um “bom” comportamento é importante estarmos inseridos num contexto responsivo, isto é, termos alguém no meio que nos ajude a alcançar o nível que desejamos. Para Ford e Smith… MOTIVAÇÃO = Objectivos x crenças pessoais x emoções Como é que a motivação se expressa? Como é que a podemos avaliar? Pode ser através de: Antecedentes Conhecidos; Comportamento Manifesto (i.e. foco de atenção, esforço, latência, persistência, escolha, probabilidade de resposta, expressões faciais e expressões corporais); Envolvimento – Este indicador é considerado por Reeve como um indicador à parte, mas a prof. não partilha dessa opinião, já que o considera um indicador comportamental enriquecido. Ou, dito por outras palavras, o envolvimento seriam as expressões que um observador infere com base no comportamento observável do sujeito. Existem 4 aspectos que podem ser observados no envolvimento: Comportamentais – Atenção, esforço e persistência; Emocionais – Presença ou ausência de emoções (i.e. interesse ou frustração, respectivamente); Cognitivas – Utilização de estratégias de aprendizagem e de auto-regulação; Expressivas – Sugestões, iniciativas e questões. Indicadores Fisiológicos (i.e. actividade: cerebral, hormonal, cardiovascular, ocular, electrodinâmica da pele e muscúlo-esquelética); Instrumentos de Avaliação Psicológica: Entrevistas - Auto-relato; Questionários - Auto-relato; Métodos de Indução Motivacional - Avalia as motivações implícitas (e.g. Prancha do T.A.T.) 3 Nota: Reeve só considera o comportamento manifesto, o envolvimento, os indicadores fisiológicos e o autorelato. O TAT –Teste de Apercepção Temático – foi utilizado por McClelland como um instrumento de medida das necessidades individuais das diferentes pessoas. O TAT é um teste de imaginação em que se apresenta aos sujeitos uma série de imagens ambíguas, pedindo-se-lhes que construam, de forma espontânea, uma história para cada imagem. A assunção é a de que os sujeitos irão projectar na história as suas próprias necessidades (ex: de realização, afiliação e poder). Quais são os temas unificadores no estudo da motivação? (segundo Reeve) - A motivação: Possibilita a adaptação (nos planos biológico, cognitivo e social) às circunstâncias contextuais; Varia ao longo do tempo e influencia o curso do comportamento (i.e. intensidade e coexistência de diversos motivos); Engloba diferentes tipos de qualidade motivacional: motivação intrínseca/extrínseca; motivação para a aprendizagem/resultado; motivação para o sucesso/evitamento do fracasso; Abarca tendências de aproximação e de evitamento. Nota: Este aspecto é muito importante pois explica a nossa sobrevivência e desenvolvimento; Necessita de apoios contextuais para poder florescer; Constitui um factor importante no desenvolvimento da resiliência comportamental (i.e. no desenvolvimento de diversas competências - tais com as sociais, educacionais e relacionais – e de comportamentos de “coping”). No fundo, a motivação poderá servir como factor de promoção ou como factor de protecção, atenuante dos factores de risco. - As teorias motivacionais estabelecem relações entre determinadas variáveis e geram hipótese testáveis, que funcionam como grelhas conceptuais para a interpretação do comportamento e como guias para a resolução de problemas comportamentais (e.g. a partir do conhecimento sobre motivação e emoção posso tentar compreender o problema do abandono escolar e propor soluções de intervenção). A Motivação numa Perspectiva Histórica: Segundo Reeve - Que aspectos é que uma visão histórica da motivação nos ajuda a compreender? - Como o conceito se tornou proeminente; - Como se foi modificando e desenvolvendo; - Como as ideias foram sendo desafiadas e substituídas; - Como o campo tem vindo a reemergir e a ser trabalhado em vários domínios da psicologia aplicada; - Principais problemas surgidos no estudo da motivação (Ford): - A ênfase colocada em modelos mecanicistas e no estudo dos mecanismos biológicos do comportamento; 4 - A confusão terminológica e conceptual (i.e. conceitos semelhantes podem querer dizer coisas muitos diferentes); - O motivo pelo qual, durante muito tempo, a motivação explicou uma realidade muito vasta, caracterizada pela ausência de delimitação desse campo teórico e depois, após as criticas levantadas a muitos autores, ter passado a explicar as diversas realidades de forma extremamente delimitada (i.e. estreiteza conceptual). Nota: Este é, actualmente, o principal problema do estudo da motivação. Quais os principais marcos na história da psicologia da motivação, desde a sua origem até à actualidade? - Origens filosóficas dos conceitos motivacionais: Começou por haver uma concepção tripartida da alma/psique, seguindo-se depois uma concepção dualista. A concepção tripartida foi desenvolvida por Aristóteles e Platão, segundo os quais a psique era constituída por 3 níveis: - O 1º nível relacionava-se com as estruturas biológica e fisiológica, e funcionava de forma mais automática (nível dos impulsos); - O 2º nível dizia respeito à regulação do prazer e da dor, segundo a tendência de aproximação ou afastamento a algo de acordo com o prazer ou, opostamente, com a dor que isso provoca; – Por último, o 3º nível era o da decisão, sendo este um mecanismo superior que diz respeito a mecanismos volitivos que regulam o funcionamento dos níveis inferiores. Por esta razão, este nível era considerado tipicamente humano. A concepção dualista envolvia a consideração: - Das paixões do corpo (irracional, impulsivo e biológico) vs razão da mente (não material, racional, inteligente e espiritual); - Das dicotomias motivacionais; - Dos aspectos passivos vs activos da motivação (i.e. o corpo como um agente motivacional passivo e mecânico; resposta através dos sentidos, dos reflexos e da fisiologia / a vontade como agente motivacional activo, imaterial e espiritual, que controla e governa os desejos corporais). Esta dicotomia foi proposta por Descartes, tendo acabado por imperar a ideia segundo a qual o corpo e a mente funcionam de formas diferentes e que é a mente que deve ser tomada para explicar o comportamento, já que é ela que controla o que se passa com o corpo. Esta ideia foi a grande responsável pelo facto de o 1º sistema motivacional compreensivo (i.e. que pretende explicar todos os aspectos do comportamento motivado) se basear na VONTADE. Segundo este sistema, a vontade explicava toda a acção humana e a forma como passamos da intenção à acção. Donde, a compreensão da motivação estava associada à compreensão da vontade, que tinha como actos: escolher (entre agir e não agir), esforço voluntário (i.e. criação de impulsos para agir) e resistir (resistir à tentação; ter auto-disciplina). Porém, o conceito de vontade levantava algumas questões a que os investigadores não conseguiam responder, tais como: O que é a vontade? Como é que surge? (será que emerge de capacidades inatas, sensações, associações ou experiências?) Depois de surgir como é que opera? (i.e. de que forma se reveste de intensões/objectivos; como é que se passa da intensão à acção?). A existência destas limitações relativas à 5 caracterização da natureza e das leis através das quais a vontade opera levou a que esse conceito fosse rapidamente abandonado, dando lugar à noção de INSTINTO. Nota: A tradição do dualismo cartesiano influenciou este momento e cientificação da psicologia (fundação do 1º laboratório de psicologia experimental por Wundt em Leipzing), através da sua vertente intelectualista. Numa primeira fase, a psicologia assentava numa vertente mentalista/intelectualista, ou seja, a motivação era explicada pelos processos da mente, como é o caso da associação de ideias. Depois, com o instinto, a psicologia passa a assentar numa vertente fisiológica/biológica. Os autores que defendem a “instinto” falam das diferenças em termos quantitativos. Na “vontade”, as diferenças eram mais qualitativas. De facto, se havia problemas em explicar o surgimento do conceito de vontade isso já não acontecia com o de instinto, uma vez que remete para aspectos inatos, geneticamente determinados e relacionados com a adaptação do organismo ao meio ambiente. Esta rejeição dos conceitos motivacionais mentalistas, em detrimento dos conceitos genéticos e mecanicistas, teve lugar na altura em que o Darwinismo emergia causando grande impacto na comunidade de psicologia. Com efeito, passou-se a acreditar que os instintos, uma vez resultantes do processo de evolução natural, constituíam um processo biológico inato que predisponha o organismo a responder aos estímulos com respostas de aproximação ou evitamento. Desta forma, segundo W.James e McDougall, os instintos seriam responsáveis pela activação e direcção do comportamento. Além disso, este sistema caracteriza-se pela ausência de distinção entre processos motivacionais animais e humanos, ao defender que diferentes espécies têm diferentes reportórios comportamentais, que fazem parte da sua herança genética e que são desencadeados por condições ambientais que os tornam relevantes em momentos e contextos específicos. A principal razão para a ocorrência destes reportórios comportamentais prender-se-ia com o facto de a sobrevivência do organismo (a sua adaptação às condições do meio) depender da sua realização. Neste sentido, a diferença de complexidade entre o comportamento humano e animal era explicada apenas em termos de número de instintos (i.e. os humanos teriam instintos biológicos e sociais que os animais não têm, tais como a simpatia, a modéstia e o amor) e do facto destes se expressarem em padrões comportamentais mais flexíveis (W. James). No entanto, o conceito de instinto foi rapidamente abandonado, porque a lógica de explicação que lhe está associada é completamente circular: as variáveis causais definidas independentemente do comportamento que pretendem explicar (ex: instinto de agressão) são, na verdade, inseparáveis do comportamento: a causa justificava o efeito e este justificava a causa (e.g. é-se agressivo porque se tem esse tipo de instinto e a sua existência é demostrada pela existência de comportamento agressivo). Donde, o único critério para comprovar a existência de instintos consistia no julgamento dos investigadores acerca da sua existência; situação que conduziu à elaboração de listagens de milhares de instintos. De tal modo que Holt afirmou: “ Se vai com os seus semelhantes é o ‘instinto gregário’ que o activa, se vai sozinho é o ‘instinto anti-social’, se morde a unha é o ‘instinto de morder a unha’. Assim, tudo se explica com uma facilidade mágica, a magia da palavra”. 6 Notas: - Segundo Abreu, os instintos são “sequências de movimentos ou de actos motores inatos executados de forma automática a partir da acção de um estímulo desencadeador”; - W.James e W.McGougall elaboraram listas de instintos que explicavam todos os tipos de comportamento, simples e complexo. O sistema motivacional compreensivo que se seguiu ao do instinto foi o do IMPULSO (“drive”) que influenciou e continua a influenciar consideravelmente o estudo em psicologia. As ideias-chave relativas a este sistema são as seguintes: O comportamento está ao serviço da satisfação das necessidades fisiológicas (e.g. homeostasia, dor/sofrimento, sede/ânsia, fome, sexo); O sistema motivacional baseado no impulso atravessou 3 grandes períodos: o 1º foi com Freud, autor da teoria pulsional *1, o 2º com C. Hull, autor da teoria do impulso *2; e o 3º está associado ao declínio dessas teorias, com o surgimento das concepções mecanicistas e homeostáticas da motivação*3. *1 TEORIA PULSIONAL DE FREUD: O sistema motivacional de Freud organiza-se em torno da noção de redução da tensão, ao defender que o comportamento está ao serviço da satisfação das necessidades fisiológicas (i.e. tudo aquilo que fazemos, por mais complexo que seja está ao serviço da satisfação das necessidades fisiológicas que, consequentemente, reduz a tensão que conduziu à acção). Segundo Freud, ao conduzir à satisfação das necessidades fisiológicas, o impulso explica o êxito da nossa sobrevivência e evolução/adaptação enquanto espécie. Mas, o que seria um sistema bem adaptado? Seria um sistema em repouso absoluto seguindo a tendência do sistema nervoso para manter um nível constante e baixo de energia (i.e. estar em equilíbrio: tranquilidade do sono; “morte como equilíbrio de repouso absoluto”). Porém, este equilíbrio poderia ser, facilmente, comprometido por qualquer estimulação, de origem interna ou externa, ao provocar um aumento da tensão interna no aparelho psíquico (i.e. estrutura mental ou organização da vida psíquica). Esse aumento da tensão interna traduzir-se-ia em afectos de desprazer e ódio em relação à fonte de estimulação. Donde, a atitude originária do organismo perante o mundo externo e os seus objectos de investimento seria a de recusa, evitamento ou ódio – Lei primária do funcionamento psíquico. Nota: foi por isto que Freud afirmou que “o ódio é mais antigo que o amor”. No entanto, Freud reconhecia que embora nos possamos afastar das fontes de estimulação externa, o mesmo não podemos fazer em relação aos estados de aumento da tensão originados pelas forças pulsionais internas, de origem biológica (e.g. fome, sede, sexo, morte e agressão). E, é por isso que o organismo tende a agir no sentido de reduzir a tenção daí resultante e, assim, voltar ao estado de repouso (e.g. se ocorrer um estado de deficiência orgânica, como a queda do nível de açúcar e, consequentemente, emergir a sensação de fome, a intensidade desse estado emerge na consciência como desconforto psicológico - ansiedade; ao 7 procurar reduzir essa ansiedade – tensão – o sujeito procura comida; depois de comer, a tensão é reduzida e há um estado de satisfação orgânica que elimina a ansiedade, pelo menos temporariamente). Neste sentido, as pulsões funcionam como os determinantes da iniciação, direcção e manutenção do comportamento. Além disso, o comportamento de “viragem para o mundo exterior” que desencadeiam pode ser visto como um comportamento secundário, na medida em que decorre da necessidade de descarregar a energia acumulada pelas forças pulsionais, para voltar ao nível anterior de ausência de tenção – Lei secundária de funcionamento do aparelho psíquico. Mas como será possível descarregar a energia acumulada na mesma proporção em que foi armazenada? Segundo este modelo, tem de haver uma resposta motora (e.g. se alguém me insultar tenho de responder com um soco). Porém, nem sempre é possível ou, pelo menos, conveniente agir dessa forma, sendo necessário optar por formas alternativas de descarregar a tensão: Imaginar (i.e. fantasia diurna) ou sonhar que dou um soco à pessoa que me insultou - MODELO PRIMÁRIO DE PENSAMENTO: a satisfação das necessidades básicas (libidinais ou agressivas) é feita por meio de pensamentos e de forma imediata, com ausência de processos intermediários; Assim que chego a casa vou ao facebook escrever coisas más sobre a pessoa que me insultou; ou não faço nada à pessoa que me insultou mas quando chego a casa e o meu irmão faz qualquer coisa que não me agrada descarrego nele a tensão acumulada – MODELO SECUNDÁRIO DE ACÇÃO: já há intermediação do “eu”, porque o ego intervém entre as pulsões e o comportamento, impondo adiamentos e/ou alterando a sua direcção; Planear o adiamento da satisfação das pulsões (e.g. ir à discoteca) – MODELO SECUNDÁRIO DE PENSAMENTO – Os comportamentos que “encaixam” neste modelo são os mais utilizados após a adolescência, sendo os mais sofisticados e correctos, uma vez que satisfazem as necessidades pulsionais de formas socialmente úteis. Esses comportamentos estão associados ao desenvolvimento de funções cognitivas superiores centradas na antecipação de acontecimentos futuros, que permitem o planeamento (o objecto de satisfação está ausente e há adiamentos temporais cada vez mais complexos). Nota: A noção de modelo secundário introduz o conceito de adiamento da gratificação das pulsões, possível através da intervenção do ego. Donde, nestes modelos, o “eu” intervém entre a activação da pulsão e a expressão comportamental. Nos modelos de acção há um enfoque no comportamento “aberto”, enquanto os modelos de pensamento se centram nos processos cognitivos dirigidos para a concretização dos objectivos. Mas atenção: Apesar de nestes casos o “eu” intervir entre a activação da pulsão e a expressão comportamental, a teoria freudiana continua a ser completamente mecanicista, porque o “eu” é visto como desprovido de energia pulsional própria; a única fonte de energia são as pulsões de origem fisiológica. Esta visão é fomentada nas noções de: 8 Conflito – Resulta da oposição entre a tendência à descarga directa de energia e as forças (geridas pelo eu) que se lhe opõem mas que, indirectamente, se encontram ao seu serviço; “Despersonalização” da motivação (Nuttin) – Todas as forças dinâmicas do comportamento são concebidas como “quantidades impessoais de energia”. *2 TEORIA DO IMPULSO DE C.HULL: Ao contrário de Freud que construiu o seu modelo a partir do estudo de casos clínicos, Hull utilizou métodos quantitativos/experimentais – tendo sido, por essa razão, considerado o 1º grande cientista da motivação - mas chegou praticamente às mesmas conclusões de Freud. Hull, tal como Freud defendeu que: - todos nós temos diferentes graus de insatisfação/tensão resultantes da não satisfação das pulsões; -um organismo satisfeito é sempre um organismo em repouso; - tudo o que fazemos tem origem no desconforto causado pela insatisfação das pulsões; - e que a relação que estabelecemos com o mundo é secundária, no sentido em que apenas constitui um meio para atingir o fim de restabelecer o equilíbrio homeostático. Donde, o impacto da motivação no comportamento é explicado através das noções de tissue-need (i.e. necessidade orgânica) e de drive (i.e. impulso), que permitem compreender a razão pela qual um organismo se comporta de maneira diferente em diferentes ocasiões, perante o mesmo estímulo. Sendo assim, quais são as DIFERENÇAS entre os modelos de Freud e Hull? São: 1º Enquanto no modelo de Freud as pulsões fornecem energia e direcção ao comportamento, no de Hull apenas fornecem energia (iniciando ou activando o comportamento), mas não determinam a sua direcção. Para Hull, a direcção do comportamento é encarada como o resultado da aprendizagem, que ocorre em consequência do reforço: as respostas que têm como consequência a redução do impulso são reforçadas (e.g. comer, beber e dormir), dando origem à aprendizagem de novos hábitos e as que, pelo contrário, não contribuem para a redução do impulso não são reforçadas e, consequentemente, não são aprendidas. Assim, para haver comportamento não basta haver impulso; tem de haver uma relação multiplicativa entre o impulso e o hábito (i.e. COMPORTAMENTO = IMPULSO X HÁBITO). Nota: Hull designou as respostas reforçadas de respostas consumatórias. Estas respostas restabelecem o equilíbrio homeostático do organismo, levando-o a cessar o comportamento adoptado no sentido de reduzir a tensão acumulada. O impulso produz-se devido a uma alteração das necessidades orgânicas que são activadas quando o organismo se encontra num estado de privação ou de carência (contracções do estômago, secura da boca,…), produzindo um aumento da tensão o impulso tem uma base puramente fisiológica! Donde, o comportamento pode ser explicado com base no seguinte esquema: 9 2º O modelo de Hull é mais mecanicista que o de Freud, porque o 1º nega a influência da cognição sobre a acção (existe uma total ausência de referência a processos cognitivos para explicar o comportamento), considerando que apenas as reacções orgânicas/biofisiológicas estão na sua origem (com isto, este modelo não consegue explicar os distúrbios alimentares – “se tenho fome, vou comer”), ao passo que o 2º considera o pensamento como gerador da acção – Exemplo: para Freud ir à discoteca envolve processos de planeamento, que de alguma forma têm uma base cognitiva; enquanto para Hull constitui apenas a satisfação de necessidades secundárias (ex: diversão), adquiridas por mecanismos de reforço. Embora não se aplique a este exemplo, para Hull a acção também pode ser explicada, unicamente por mecanismos de reforço associados à satisfação das necessidades primárias. Outro aspecto relevante do modelo de Hull é que apenas as necessidades orgânicas (i.e. fome, sede, sono, sexo e fuga do que é prejudicial ou nocivo) são consideradas inatas (= primárias; não aprendidas). Todos os outros tipos de necessidades (e.g. cognitivas e sociais) são vistas como secundárias (i.e. derivadas), já que seriam adquiridas (i.e. aprendidas) a partir da satisfação das necessidades primárias, através de um processo de socialização ou condicionamento (e.g. existe vinculação à mãe porque no momento em que a criança está a ser amamentada a mãe sorri para ela). Quais as principais limitações das concepções mecanicistas e homeostáticas da motivação? Metáfora do “Homem Máquina” (Weiner): o organismo passivo e reactivo, que se pode “puxar” pelos impulsos e “empurrar” pelos instintos. Actualmente, sabe-se que o sujeito desempenha um papel activo na regulação do seu comportamento; Nem todos os tipos de motivação assentam no modelo de redução da tensão, nem mesmo ao nível das necessidades fisiológicas (e.g. experiência de Harlow sobre o comportamento de manipulação dos macacos; procura de novas sensações que implicam persistência da tensão, como o body-jumping; distúrbios alimentares); Necessidade de contactar com estímulos na ausência de qualquer busca de satisfação de outras necessidades (experiência de Hebb – é uma experiência de privação sensorial: mesmo sendo bem pagos, os sujeitos não conseguiam aguentar “fechados” mais do que algumas horas, logo, ao contrário do que diziam Freud e Hull, o contacto com o mundo exterior é primário e não secundário) e importância das fontes externas de motivação (e.g. publicidade – esta cria novas necessidades); As necessidades psicológicas (e.g. cognitivas, sociais e afectivas), não tem um carácter secundário, mas sim primário (e.g. casos das “crianças selvagens”, observações de Spitz e de Bowlby, experiências de Harlow sobre a “natureza do amor” – as crias preferiam a mãe felpuda mesmo sendo a mãe de arame a fornecer comida, o que mostra que as necessidades afectivas são básicas, inatas). A este respeito podemos referir que, segundo Maslow, se as necessidades psicológicas não forem satisfeitas somos capazes de viver mas não vivemos bem, no sentido de não atingirmos todo o nosso potencial. Não aprendemos apenas quando estamos a realizar comportamentos no sentido de reduzir a tensão acumulada; 10 Quando falamos de necessidades fisiológicas, as investigações têm demonstrado que nunca estão completamente saciadas. Donde, não faz sentido defender que a acção termina a partir do momento que possibilita a satisfação de uma necessidade fisiológica (o modelo de Hull explica essencialmente o funcionamento das necessidades biológicas, assentando na ideia de existirem “ciclos comportamentais”). A este respeito podemos referir que a satisfação das necessidades dos 4 primeiros níveis da pirâmide de Maslow (“deficit needs”) actua de acordo com o mecanismo de redução da tensão, explicando o comportamento apenas na medida em que essas necessidades estão insatisfeitas. Porém, as necessidades do último nível (“growth need”; i.e. as de auto-realização) funcionam de acordo com a saciação (i.e. estão sempre presentes, nunca ficam completamente saciadas), fazendo com que o sujeito procure formas alternativas de se auto-actualizar (e.g. depois de ter um curso, ir a muitos congressos, estar sempre a ler novos livros…). Relativamente às limitações do sistema motivacional de Hull, convém que fique claro que esse sistema constituiu uma abordagem limitada, embora tivessem surgido entretanto alguns princípios motivacionais bem sucedidos, tais como os de incentivo (Hull reformulou a sua teoria considerando a importância do incentivo no início ou activação do comportamento) e activação. As limitações desse sistema juntamente como as dos sistemas anteriores (baseados na vontade e no instinto) conduziram ao declínio dos sistemas motivacionais compreensivos e à, consequente, adopção de MINI-TEORIAS. Sinteticamente, como se passa do geral para as mini-teorias? Em linha com a teoria da evolução biológica, de Darwin, vieram em primeiro lugar as teorias dos instintos e, depois, as teorias dos impulsos. Mas, nos inícios de 1950, os modelos biológicos da motivação estavam cada vez mais substituídos pelos modelos cognitivos, tendo em conta a complexidade e a diversidade do comportamento humano bem como o impacto do funcionamento cognitivo mais elevado. Em consequência disto, foram-se desenvolvendo mais teorias parciais da motivação. Enquanto que as teorias originais gerais tentam explicar toda a variedade/extensão da motivação, as mini-teorias procuram entender ou investigar fenómenos específicos da motivação ou do comportamento, não pretendendo portanto explicar toda a realidade inerte aos processos motivacionais. Que conceitos estão na base das mini-teorias? São, essencialmente 3. Dois deles surgiram logo após as teorias do impulso: incentivo e activação. O conceito de incentivo introduz a ideia de que a principal motivação dos sujeitos consiste em aumentar e manter o contacto com estímulos atractivos e evitar ou afastar-se de estímulos negativos; e não em reduzir a tensão produzida pelas necessidades fisiológicas. Além disso, sugere que através da aprendizagem os sujeitos formam expectativas relativamente aos objectos do meio que são ou não gratificantes (i.e. dinâmicas do comportamento). Por outro lado, o conceito de activação tem a ver com o facto de as características do meio (e.g. novidade) influenciarem o grau de activação cerebral. O outro conceito que desempenhou um papel crucial no desenvolvimento das mini-teorias foi o de necessidade, que diz respeito a uma condição essencial e necessária para a sobrevivência, crescimento, integridade e bem-estar. Elas são inatas e universais, uma vez que têm o mesmo grau e intensidade em todas as 11 pessoas. Quando presente, a necessidade traduz-se num estado interno de insatisfação que impele o organismo a agir no sentido de a satisfazer, antes que haja dano para o bem-estar físico e psicológico do organismo. Neste sentido, a negligência ou frustração das necessidades pode causar danos, ao passo que a sua satisfação (i.e. quando estão nutridas) contribui para a manutenção e aumento do bem-estar. E qual é a estrutura das necessidades? Em termos de origem, as necessidades mais parecidas são as fisiológicas e as psicológicas, já que são consideradas inatas, por existirem e serem sentidas em todos os sujeitos da mesma forma. Porém, em termos de modo de funcionamento a maior semelhança verifica-se ao nível das necessidades psicológicas e sociais, uma vez que ambas estão sempre presentes (i.e. nunca estão completamente saciadas; estão sempre activas), funcionando segundo o mecanismo de persistência da tensão. Por outro lado, as necessidades fisiológicas actuam até serem completamente satisfeitas, de acordo com um padrão cíclico de aumento e diminuição do impulso psicológico, que envolve 7 processos básicos: Nota: Os Inputs (i.e. impulsos) e outputs são regulados por mecanismos intra e extraorganísmicos (e.g. não comemos só porque temos fome). Mas que tipos de necessidades existem? As necessidades fisiológicas, psicológicas e socias podem incluir-se num de dois tipos: - Necessidades primárias (i.e. necessidades de natureza biológica): Sede: é o estado motivacional que prepara a pessoa para realizar um conjunto de comportamentos dirigidos para a remediação do deficit de água; Fome: a fome e a alimentação envolvem um complexo sistema de regulatório, com mecanismos de regulação a curto prazo (i.e. teoria glicoestática – níveis de açúcar no sangue) e a longo prazo (i.e. alterações do tecido adiposo); Sexo: a motivação sexual aumenta e decresce em resposta a um conjunto de factores, incluindo factores hormonais, indicadores externos (e.g. métrica facial), scripts cognitivos e processos evolucionários. - Secundárias (i.e. necessidades que derivam de uma 12 necessidade primária, ou que são inerentes à estrutura psíquica humana). A que é que se pode dever o fracasso na regulação das necessidades fisiológicas? Pode dever-se a 3 razões: As pessoas subestimam a força das necessidades fisiológicas quando não as estão a experienciar; Ausência de critérios ou a utilização de critérios inconsistentes, conflituosos ou inapropriados; Fracasso na monitorização do comportamento por motivos de distracção, preocupação, exaustão emocional ou intoxicação. As abordagens contemporâneas da motivação Segundo estas abordagens: Os sujeitos são considerados organismos activos (i.e. não são mecanismos reactivos às influências e reforços ambientais; possuem uma capacidade para regular a sua interacção com os contextos, de forma a promover o desenvolvimento e funcionamento integrado e organizado, com um nível de complexidade crescente nos planos intra e inter-individual). Esta capacidade seria idealmente regulada pelo “eu” (i.e. self);. Os contextos podem facilitar ou inibir esta dinâmica de desenvolvimento; Cada uma das principais formas de funcionamento da unidade organismo-mundo possui um certo dinamismo intrínseco isto é a base teórica das concepções organísmicas da motivação. Portanto, as abordagens contemporâneas da motivação não esquecem a satisfação das necessidades fisiológicas mas explicam, sobretudo, o desenvolvimento e crescimento pessoal (i.e. a forma como nos relacionamos com o mundo). Segundo estas abordagens, e contrariamente ao defendido por Maslow, a satisfação das necessidades representadas num nível mais elevado da pirâmide não ocorre só após a satisfação das que se encontram num nível mais baixo. Em vez disso, as formas inatas e requeridas de relação com o mundo prendem-se, não apenas com o nível fisiológico, mas também com o psicológico. Neste sentido, as formas de relação com o mundo devem ser satisfeitas por todos os indivíduos, sob pena de comprometerem o crescimento e desenvolvimento pessoal. Nota: O que pode variar é a forma como satisfazemos essas necessidades, consoante a cultura em que estejam inseridos. Assim, a concepção organísmica da motivação identifica uma série de necessidades psicológicas específicas, tais como: Ser a causa dos acontecimentos (i.e. sentimos prazer em sentir que somos a causa dos acontecimentos e não um peão deles, ou seja, gostamos de sentir que somos nós que controlamos aquilo que fazemos e não que são os outros a controlar! – metáfora origem-peão) Produzir efeitos; Se confrontar com desafios; Perceber; Valor pessoal; Curiosidade, etc. NECESSIDADES ORGANÍSMICAS = NECESSIDADES INTRÍNSECAS 13 TEORIA DA AUTO-DETERMINAÇÃO (Deci e Ryan) Esta teoria é provavelmente o único exemplo de uma teoria motivacional mais recente que pretende abranger um conjunto mais vasto – se não a área total – do objectivo do comportamento humano. A SDT é uma meta-teoria organísmica que engloba 5 mini-teorias: 1- Teoria da avaliação cognitiva – Segundo a qual, “juntar” a motivação intrínseca e a extrínseca pode resultar em impactos negativos a nível comportamental. Contudo, o facto de os autores reconhecerem que muitas vezes a nossa relação com o meio não é regulada pela motivação intrínseca mas sim pela extrínseca, levou a que fossem realizadas novas investigações, que conduziram ao surgimento da: 2- Teoria da integração organísmica - Demonstra que a regulação extrínseca do comportamento é heterogénea (i.e. algumas das suas formas produzem efeitos semelhantes aos da motivação intrínseca e outras produzem efeitos negativos). 3- Teoria das orientações da causalidade - Explica as diferenças individuais no comportamento, com base nas diferenças de personalidade e nas diferenças sócio-culturais que poderão conduzir a níveis de necessidades diferentes. 4- Teoria das necessidades psicológicas básicas - Constitui a base de todas as outras, ao explicar o impacto positivo da motivação intrínseca e o impacto (positivo ou negativo) da motivação extrínseca. Além disso, enfatiza as necessidades psicológicas que têm de ser satisfeitas para que não haja um impacto negativo ao nível do desenvolvimento. 5- Teoria dos conteúdos objectivos. - De acordo com a SDT, quais são as diferenças entre motivação intrínseca e motivação extrínseca? A MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA corresponde a um estado de funcionamento tipicamente autodeterminado (i.e. tem origem apenas no sujeito; é inato) e constitui a base natural para a aprendizagem e desenvolvimento, uma vez que assenta na tendência inata para ser a causa dos acontecimentos (i.e. explorar), procurar a novidade e o desafio, produzir efeitos e promover as competências pessoais. Uma acção é intrinsecamente motivada quando o objectivo é a acção em si mesma (e.g. curiosidade, necessidade de conhecimento, de competência ou autonomia). As actividades intrinsecamente motivadas não são instrumentais visto que a satisfação está inerentemente associada com a actividade em si. As pessoas envolvem-se nas actividades por interesse, prazer ou satisfação, experienciando graus elevados de vitalidade (possibilidade de experiências de fluxo). Neste sentido, a motivação intrínseca revela-se crucial para o desenvolvimento cognitivo e social. Este tipo motivação tem como principais vantagens a ausência de: “Custos escondidos dos reforços” (i.e. não há desmotivação subsequente ao reforço externo de uma actividade que começou por ser intrinsecamente motivada, nem diminuição da motivação intrínseca futura); Extinção do comportamento quando não estão presentes os reforços externos. No entanto, a maioria das actividades que realizamos depois da infância não são motivadas intrinsecamente. Devem-se a regulações sociais e/ou à adopção de novas responsabilidades, que requerem o 14 envolvimento em actividades que permitam alcançar resultados socialmente valorizados. Nesta situação falamos de MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA, segundo a qual a explicação do envolvimento numa actividade reside num dinamismo externo, que se prende com fazer algo como um meio para atingir um fim, e não como um fim em si mesmo (e.g. vir à aula para não ter falta). Uma actividade é extrinsecamente motivada quando ela é instrumental para alcançar um objectivo que não está inerentemente relacionado com a acção (e.g. jogar ténis para tornar-se um pró ou ganhar imenso dinheiro). Neste sentido, as razões contextuais (e.g. incentivos; consequências) assumem um papel crucial na motivação extrínseca. O uso de recompensas externas para envolver alguém numa actividade pode produzir 2 tipos de efeitos: - Efeito primário desejado - Promove o cumprimento de uma disposição, norma ou regra (i.e. há envolvimento comportamental na actividade); - Efeitos secundários não desejados: Mina/enfraquece a motivação intrínseca, levando à extinção do comportamento quando são retiradas as razões externas para a sua execução Exemplo da fábula judaica – Os rapazes importunavam o alfaiate porque isso lhes proporcionava prazer. Mas, ao dar-lhes dinheiro pelo comportamento manifestado, o alfaiate transformou a sua motivação intrínseca em motivação extrínseca (i.e. os rapazes continuavam a importunar o alfaiate não porque isso lhes desse prazer, mas porque “até lhes dava jeito ganhar uns trocos”). Daí que quando o dinheiro passou a ser pouco, os rapazes tenham achado que já não valia a pena Interfere na qualidade do processo de aprendizagem e com a capacidade de auto-regulação autónoma (e.g. a criança só está a estudar para poder ir brincar a seguir). Ainda a respeito dos efeitos negativos da motivação extrínseca: Uma investigação com crianças levada a cabo por Lepper e colaboradores permitiu constatar que os efeitos negativos da motivação extrínseca na satisfação e interesse por actividades (i.e. diminuição da autonomia e da competência percebidas) são mediados por alguns factores: Tipo de recompensa (verbal vs tangível) – a recompensa verbal é positiva pois não mina a motivação intrínseca; já quando a recompensa tangível tende a haver uma diminuição da motivação intrínseca (e.g. as crianças gostavam de desenhar.. no fim da tarefa foram pagas na sessão seguinte, como não receberam recompensa, desenharam muito menos). Carácter esperado vs inesperado da recompensa (i.e. a recompensa é ou não contingente à tarefa ou aos resultados); Tipo de impacto no locus de causalidade percebido (dimensão informativa vs dimensão de controlo); Tipo de contexto interpessoal no qual as recompensam são administradas (competição – controlo vs apoio à autonomia e à competência). Por o outro lado, os factores que afectam a eficácia das recompensas verbais no aumento da motivação intrínseca são: Contingência à realização das actividades recompensadas; 15 Especificidade: que características das actividades permitiram o alcançe do resultado (competências, esforço, estratégia, ajuda…)? Sinceridade/credibilidade/variedade. Teoria da Avaliação Cognitiva (Reeve) Esta teoria formula um conjunto de previsões relativamente ao modo como as contingências externas afectam a motivação. As contingências externas (e.g. dinheiro, notas, prazos) afectam a motivação intrínseca e extrínseca, através do seu efeito nas necessidades psicológicas de autonomia e competência. Essas contingências podem ter duas funções: Controlar o comportamento (i.e. “se fizeres X alcanças Y”; e.g. do alfaiate); Informar sobre a competência percebida (i.e. dar ao sujeito feedback acerca daquilo que disse ou fez; e.g. “porque foste capaz de fazer X és eficaz e competente”). A maior ou menor preferência por uma destas funções determina o efeito do acontecimento na motivação intrínseca e extrínseca. Quando a dimensão controladora é privilegiada quebra-se o dinamismo intrínseco, ao passo que a preferência pela dimensão informativa não só não abala o dinamismo interno, como pode ser usada pelo próprio sujeito para regular o seu comportamento. Neste sentido, a função controladora mina a motivação intrínseca, interfere na qualidade da aprendizagem, aumenta a regulação externa e mina a auto-regulação; ao passo que a função informativa aumenta a motivação intrínseca, promove a qualidade da aprendizagem e facilita a auto-regulação. É por isto que as recompensas não-verbais, tangíveis (e.g. dinheiro) e esperadas são menos eficazes do que as verbais e não esperadas. Teoria da Integração Organísmica Mas será que a motivação extrínseca não permite o funcionamento auto-determinado, devendo-nos limitar a trabalhar com a motivação intrínseca? Depende, porque se é verdade que a transformação de uma motivação intrínseca em extrínseca diminui a frequência e/ou intensidade de um comportamento, quando a motivação intrínseca não existe podemos, e devemos, começar por fornecer uma motivação extrínseca se quisermos promover um determinado comportamento. A ideia é que na ausência de motivação intrínseca, forneçamos motivação extrínseca para levar o sujeito a executar um determinado comportamento, que depois deverá ser mantido por regulação intrínseca. As actividades desinteressantes, chatas, mas que é preciso levar a cabo, sem prazer intrínseco, requerem então que exista uma motivação extrínseca. Estas actividades vão activar um processo de internalização: grau em que nos identificamos e aceitamos o valor e a regulação de um comportamento extrínseco motivado; os comportamentos inicialmente regulados de forma externa que são depois integrados no sentido de self 16 segundo a SDT, temos uma tendência natural para internalizar valores, normas e regras sociais, com vista a desenvolver um sentido de self mais elaborado e integrado. Para respondermos então à pergunta, teríamos de dizer que depende do tipo de regulação comportamental (razão) que promovermos: 1. Regulação Externa: O envolvimento na actividade obedece a pressões/imposições exteriores ao sujeito, para obter um incentivo ou recompensa ou para evitar a punição (ameaça de castigo, obedecer a uma ordem/regra, supervisão). Existe um controle externo: o valor ou regulação impostos não foram de todo internalizados. As pessoas apenas cumprem as obrigações. O locus de iniciação/causalidade para a acção é externo ao self (controlo interpessoal) . Este tipo de regulação correlaciona-se fortemente com sentimentos depressivos, baixo nível de bem-estar, menor persistência e menor eficácia comportamental. Exemplos: - o aluno que dá o seu melhor na escola porque os pais lhe prometeram um portátil, se passar de ano; - o aluno que está motivado para estudar na quinta à noite porque ele sabe que se o fizer a mãe permite que ele vá à festa; - a anorética que ganha peso para poder ir a casa no FDS; - o alcoólico que aceita o tratamento para evitar ser despedido. 2. Regulação Introjectada: É um pouco melhor que a anterior, constituindo o primeiro passo na direcção da internalização e integração. O indivíduo introjecta (assimila para si mesmo) a razão externa para a actividade sem, contudo, a internalizar ou a aceitar como uma razão pessoal. A regulação foi internalizada mas o comportamento não emana do self, mas sim de um sentimento de pressão interna e obrigação, a que a pessoa se força a obedecer, sentindo não haver alternativa. O comportamento é realizado para evitar a ansiedade ou a culpa, ou manter percepções de valor pessoal; pelo que o locus de iniciação é parcialmente externo ao self (controlo intrapessoal), havendo uma ausência de auto-determinação, parcialmente internalizada. Exemplos: estudar com antecedência para o exame para: - não me sentir tão ansiosa na véspera; - não me sentir culpada; - ou conseguir ter boas notas e, assim, mostrar aos outros que sou capaz; uma mulher que tem problemas conjugais vai à consulta apenas para não se sentir culpada pela situação; - a pessoa desempregada que procura emprego para evitar ser vista como preguiçosa, ou porque se sente culpada por se aproveitar do subsídio de desemprego. 3. Regulação Identificada: Significa que a razão para o sujeito fazer algo é externa mas, em certo grau, também interna, uma vez que este a percepciona como sendo pessoalmente importante. O sujeito identifica-se com o valor subjacente e a relevância pessoal do objectivo ou actividade, e o locus de iniciação é percebido como fundamentalmente interno (regulação interna). No fundo, o comportamento realizado é visto como um meio para atingir os objectivos valorizados pelo sujeito, tornando-o relativamente autónomo. O sujeito vê na tarefa significado e um sentimento de escolha e executa-a com um sentimento de volição. Exemplos: - um estudante pode fazer o seu melhor na escola porque quer ir para a universidade e ser arquitecto. Ele percepciona-se a si próprio como um futuro arquitecto. A sua motivação é instrumental, consequentemente, extrínseca, mas ele identifica-se com a razão pela qual estuda; - convencemos a mulher de que é importante ir à consulta, não só para melhorar a relação com o marido mas também para aprender 17 mais sobre si própria; - o desempregado que procura emprego porque considera o trabalho pessoalmente importante. 4. Regulação Integrada: A par da motivação intrínseca, é considerada a forma de motivação extrínseca mais autónoma ou auto-determinada. Em termos qualitativos, é o melhor tipo de motivação extrínseca. É típica do final da adolescência e da idade adulta. O sujeito não só se identifica com o valor e significado pessoal dos comportamentos, mas alinha-os de forma coerente com os outros valores e objectivos que fazem parte do seu self integrado. Em suma, a acção é motivada por uma razão extrínseca, mas totalmente congruente com os valores e auto-conceito do indivíduo. O locus de iniciação está completamente internalizado; é interno, como o é também com a motivação intrínseca (regulação interna). Exemplos: - o aluno dá o seu melhor na escola, porque estudar está em linha com os seus outros valores, interesses e filosofia de vida; - convencemos a mulher de que é importante ir à consulta para aprender mais sobre si própria, de modo a poder agir de forma mais adaptativa nos diversos contextos. - A motivação é um plano contínuo em função da auto-determinação – este contínuo pode ser atravessado nos dois sentidos: podemos passar da amotivação para a motivação intrínseca, e vice-versa - Apesar de se tratar de motivação autónoma, estes 2 últimos tipos de regulação diferem da motivação intrínseca, uma vez que não se referem ao envolvimento em actividades por prazer, interesse e satisfação. Qualidade da motivação: a) Amotivação - Ausência total de auto-determinação, que se caracteriza pela ausência de: intencionalidade comportamental, valorização das actividades, percepção de competência e de expectativas de resultado; b) Motivação Controlada – Motivação extrínseca com regulação externa e introjectada; c) Motivação Autónoma - Motivação extrínseca com regulação identificada e integrada; regulação intrínseca . É a partir destes 2 tipos de motivação que é possível perceber a intencionalidade comportamental. Mas afinal o que é que as distingue? A motivação autónoma refere-se a processos de auto-regulação com base em interesses e valores pessoais (i.e. regulação integrada no núcleo funcional do eu). É orientada para a prossecução de objectivos importantes ou significativos para o indivíduo, que fazem parte da sua estrutura de objectivos pessoais, ou estão integrados no seu conceito de self. Está ligada à motivação intrínseca e à motivação extrínseca bem internalizada (regulação integrada e identificada). A motivação controlada diz respeito a processos de regulação externa ou parcialmente interna (i.e. não integrada no núcleo funcional do eu). Donde, estes 2 tipos de motivação podem não diferir em quantidade 18 mas diferem em qualidade. A motivação autónoma remete para as … NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS: - representam disposições organísmicas associadas a 3 tipos de experiências distintas: a necessidade de autonomia, de competência e de afiliação. Estas são inatas e universais, e explicam o desenvolvimento saudável dos indivíduos em todas as culturas. Dentro delas ocorre satisfação ou frustração; - vão permitir não só a regulação intrínseca como também a internalização da regulação extrínseca do comportamento enquanto que a competência e a autonomia explicam muito bem a necessidade intrínseca, o relacionamento é sobretudo utilizado para promover a internalização da regulação extrínseca. 1. AUTONOMIA: Esta necessidade é a mais valorizada pelas abordagens organísmicas. A autonomia refere-se ao organismo pessoal de acções por oposição a ser controlado por forças externas. Ela está relacionada com a vontade de experienciar a possibilidade de auto-aprovação, volição e escolha nas transacções ambientais, de acordo com a definição de objectivos. É contestada nas sociedades orientais uma vez que nestas esta necessidade não é tão valorizada; não é determinante na construção da identidade. Assim, alguns autores consideram que a autonomia não pode ser encarada como uma necessidade universal, na medida em que há contextos que não estão orientados para a sua satisfação. Para a SDT, o contrário de autonomia não é dependência (Deci e Ryan diziam que uma coisa era autonomia e outra era independência), isto é, depender dos outros para suporte ou orientação, mas sim a “heteronomia”, ou seja, a experiência de nos sentirmos controlados ou manipulados. Consequentemente, os constructos de autonomia e independência são muito diferentes, visto que investigadores de várias culturas conceptualizam a independência como sendo o problema interpessoal de não confiar/depender dos outros. Por outras palavras: autonomia não implica necessariamente a negação da dependência de outros e não requer a separação de relações, tal como é sugerido (implicitamente) por algumas perspectivas culturais. A autonomia é a regulação autónoma do comportamento e, por isso, é sempre mais importante que a independência. Em suma, a autonomia refere-se ao exercício da livre vontade, da agência, da escolha, sem muita regulação ou controlo externo. Assim, para podermos falar em autonomia tem de haver uma verdadeira escolha (i.e. que reflita valores e interesses pessoais). Neste sentido, a autonomia percebida envolve: Locus de causalidade interna Eu…..Outros – A minha escolha não pode ser influenciada pelos outros. Não somos peões! Volição (i.e. ausência de constrangimentos, livre vontade) Quero…..Tenho que – Diz respeito à realização de comportamentos para alcançar um fim de relevância pessoal (e.g. estudar porque quero ter boas notas); Percepção de escolha nas acções pessoais Opções……Ausência de opções. 19 - Que estratégias apoiam o desenvolvimento da autonomia? Nutrição dos recursos internos (i.e. identificação e promoção da expressão de interesses, preferências e competências) – E.g. quando se pede orientação profissional; Utilização de linguagem informativa (i.e. “Já reparei que tem tido mais dificuldade em…porquê?” vs “Tem que se esforçar mais!”) – E.g. na escola primária os profs diziam que eu tinha dificuldade ao nível dos erros ortográficos, pelo que deveria ler e escrever mais; Comunicação do valor, sentido, utilidade, importância do envolvimento em determinadas acções, sobretudo na realização de tarefas desinteressantes, embora relevantes – “É importante…porque vs “Faça porque é mesmo assim” (e.g. os pais motivam as crianças a estudar dizendo-lhes que, apesar de às vezes poder ser chato, isso é importante para o seu futuro); Reconhecimento e aceitação do afecto negativo (i.e. reacções válidas que podem ser utilizadas para resolver o problema vs negação da reacção para obtenção de obediência) (ver no powerpoint o esquema com outras estratégias motivacionais propostas por Reeve, distinguindo aquelas que podem ser utilizadas para apoiar e para controlar a autonomia) - Quais são os principais benefícios do apoio à autonomia? Motivação (motivação intrínseca, percepção de controlo, curiosidade, etc.); Envolvimento (comportamental, emoções positivas, decréscimo das emoções negativas, persistência...); Desenvolvimento (percepção do valor pessoal, criatividade, preferência por tarefas desafiantes…); Aprendizagem (utilização de estratégias profundas vs superfície, processamento activo da informação, utilização de estratégias de auto-regulação, etc.); Realização (notas, nível de desempenho nas tarefas, etc.); Bem-estar psicológico (vitalidade, satisfação, etc.). 2. COMPETÊNCIA: A percepção de competência é muito valorizada pela abordagem cognitiva da motivação. A competência é a experiência de percepções de eficácia pessoal e de mestria na realização de actividades e no estabelecimento de objectivos com grau óptimo de desafio. É a necessidade de ser eficaz no alcance dos nossos objectivos e nas interacções com o ambiente; reflecte o desejo de exercitarmos as nossas capacidades e desenvolvermos competências e, ao fazê-lo, procurarmos e enfrentarmos desafios. Há quem diga que esta necessidade é a grande responsável pela forma como interagimos com os contextos, sendo encarada, na actualidade, como a mais transversal na psicologia. Esta necessidade psicológica é influênciada por: Grau óptimo de desafio (experiência de “flow”) – Corresponde a um equilibrio entre competências e dificuldade da tarefa; 20 Grau óptimo de estrutura – Comunicação não ambígua acerca das expectativas do meio e dos resultados desejados; Feedback positivo – que confirme que o nível de competência é superior ao desafio da tarefa é uma forma do sujeito regular o seu comportamento de forma mais autónoma, permitindo também a internalização da regulação extrínseca do comportamento. O Grau óptimo de desafio – experiência de “flow” (fluxo) - foi definido como o estado psicológico de grande prazer que se refere à “sensação holística que as pessoas sentem quando agem com total envolvimento na actividade”. Esta experiência não está associada ao alcance de um objectivo final, mas ao prazer que a sua execução possibilita. Neste sentido, há uma fusão entre o “eu” e a actividade que nos faz estar a executá-la durante horas e horas, sem nos darmos conta disso! Pelo que o processo global de realização da tarefa tem propriedades aditivas (i.e. queremos sempre mais; procura constante de fluxo). Este processo nem sempre está associado a actividades positivas mas está sempre associada a comportamentos “activos” que requerem muita “energia de activação”. O grau óptimo de desafio define-se ainda pelas seguintes características: Existência de objectivos claros e desafiadores (i.e. comportamento activo); Existência de feedback imediato; Percepção de auto-controlo e de controlo do meio; Sentimento de transcendência; Transformação do tempo (i.e. viver no imediato, no momento). - Que sentimentos decorrem das diferentes conjugações entre grau de competência percebido e de dificuldade da tarefa? São os seguintes: Nota: A apatia é o estado motivacional mais preocupante porque a pessoa não consegue encontrar razões, internas ou externas, para a realização do seu comportamento. - O que é que podemos fazer quando a tarefa não possui um nível óptimo de desafio? Manipular a dificuldade da tarefa: Se houver preocupação/ansiedade devemos diminuir a dificuldade da tarefa (e.g. níveis inferiores nos jogos, solicitar ajuda, alterar prazos e as regras do jogo). Mas se, pelo contrário, houver aborrecimento/apatia devemos aumentar a dificuldade da tarefa (e.g. níveis superiores nos jogos, realizar a tarefa sem ajuda, impor prazos mais curtos, utilizar a fantasia); 21 Manipular as competências necessárias para a realização da tarefa: No caso de haver preocupação/ansiedade devemos treinar para adquirir as competências necessárias. Mas se o problema for o aborrecimento ou a apatia devemos impor restrições objectivas à utilização das capacidades pessoais (e.g. jogar com a mão esquerda, fazer de olhos fechados; não estudar) – Exemplo mais concreto: Se os trabalhadores de uma linha de montagem estão sempre a distrair-se porque a tarefa é demasiado simples, tornando-se aborrecida, a melhor estratégia motivacional passaria por impor restrições ao seu comportamento, tais como realizar a mesma tarefa mas de costas ou de olhos fechados. Na realidade, as pessoas tendem a usar, espontaneamente, este tipo de estratégias, sendo a mais comum a de deixar as tarefas mais aborrecidas para o fim. 3. RELACIONAMENTO: Consiste na necessidade de: - estabelecer relações interpessoais significativas, em contextos específicos; ter um sentimento de pertença e de apoio na realização de actividades e no estabelecimento de objectivos. Neste sentido, está relacionada com o estabelecimento de: - ligações e vínculos afectivos; - relações sociais; e de interacções emocionalmente positivas. Que estratégias satisfazem a necessidade de relacionamento? Estabelecimento de relações sociais – Que implica cuidar, gostar, aceitar e valorizar para que a intimidade se “instale”. Nestas situações, o que está em causa é a qualidade das relações e não a quantidade; Estabelecimento de relações de comunidade vs de troca – Diz respeito há existência de diferentes regras implícitas relacionadas com “dar e receber” valores sociais ou tangíveis (e.g. “amor com amor se paga”; ser monetariamente recompensado pelo seu trabalho). Internalização – Tem a ver com a transformação de uma regulação, ou valor externo, numa regulação ou valor interno. Deste modo, a internalização relaciona-se com a interacção entre o contexto social imediato e o contexto de desenvolvimento. Ver: Modelo motivacional do envolvimento baseado na satisfação das necessidades psicológicas (Reeve) e esquema de Markland et al. NECESSIDADES SOCIAIS: O que é que diferencia as necessidades sociais das psicológicas? As necessidades psicológicas (i.e. competência, autonomia e realização) são consideradas inatas e universais, ao passo que as sociais dizem respeito a processos psicológicos adquiridos que são, progressivamente, resultantes da história pessoal e de socialização (i.e. experiências precoces, influências cognitivas e desenvolvimentais). Neste sentido, todos temos as mesmas necessidades psicológicas e a sua satisfação ou insatisfação origina sempre as mesmas consequências, independentemente da cultura em que estamos inseridos. Ao invés, as necessidades sociais, ao estarem dependentes de processos de aprendizagem, originam diferenças de 22 personalidade, que nos levam a reagir de formas diferentes para os mesmos estímulos. Ou dito por outras palavras, elas activam respostas comportamentais e emocionais a incentivos que são particularmente relevantes para esse tipo de necessidade (e.g. do rapaz que escolheu um grupo desadequado). Enquanto que a nutrição das necessidades psicológicas activa sempre tendências de aproximação, a das necessidades sociais, especialmente as de realização e afiliação, pode activar tendências de aproximação ou evitamento. Que necessidades sociais existem? Existe uma lista de 27 necessidades socias identificadas por Murray, mas só vamos abordar as necessidades de realização*1, afiliação/intimidade*2 e poder*3, porque são as que existem num maior número de culturas e que permitem explicar uma maior diversidade de comportamentos. *1 NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO (“Need for achievement”) Nesta necessidade, o que está em causa é a possibilidade de ter sucesso ou fracasso. Esta necessidade está presente em todos nós (i.e. todos temos a necessidade de mostrar aos outros que somos competentes, que “somos bons”). Neste sentido, a necessidade de realização tem como estímulo/incentivo de activação “fazer uma coisa bem para demonstrar competência” (e.g. ter boa nota na frequência). Este desejo de “fazer bem” tem sempre em conta uma norma de excelência, ou seja qualquer mudança na percepção pessoal de competência, em função de um resultado objectivo de sucesso ou fracasso (i.e. resultado obtido numa competição com a tarefa, ou numa competição intra ou interpessoal anterior). É neste contexto que se insere a teoria cognitiva da motivação de realização de Atkinson, segundo a qual temos 2 objectivos a nível da realização para actividades específicas o objectivo de: Ser bem sucedido/ ter sucesso – Está associado à necessidade de realização e à tendência de acção associada que considera igualmente a probabilidade de sucesso e o valor de incentivo do sucesso; Evitar o fracasso – Está associado à necessidade de evitar o fracasso (“need to avoid failure”) e à tendência de acção associada que considera igualmente a probabilidade de fracasso e o valor de incentivo negativo do fracasso). A activação de uma das tendências depende da norma de excelência que, por sua vez, é influenciada pela história de desenvolvimento do sujeito. Donde, embora Atkinson se tenha servido da necessidade de evitamento para explicar a realização, como sendo uma escolha pessoal de aproximação ou evitamento, esse comportamento não constitui propriamente uma escolha, já que resulta de uma predisposição adquirida que activa uma das tendências. Esta teoria expressa-se na seguinte formula matemática: 23 Que implica que a motivação de realização seja tanto mais elevada quanto maior for a tendência para o sucesso (i.e. quanto maior for o valor da relação entre motivo para o sucesso, probabilidade de sucesso percebida e valor de incentivo do sucesso) e menor for a tendência para o fracasso (i.e. quanto menor for a relação entre motivo para evitar o fracasso, probabilidade percebida de fracasso e valor do incentivo do fracasso). Por outro lado, quando a Ps é elevada (i.e. as tarefas são percepcionadas como fáceis), o Is diminui; quando a Ps é reduzida (i.e. as tarefas são percepcionadas como difíceis), o Is é elevado. Assim, a motivação de realização é sempre mais elevada quando a probabilidade subjectiva de sucesso está mais próxima (“fifty-fifty”) da probabilidade percebida de fracasso. Neste sentido, há 3 condições que activam e satisfazem a necessidade de realização: tarefas moderadamente difíceis, competição e empreendorismo. A necessidade de realização também é abordada por Dweck, segundo o qual todos temos teorias implícitas que orientam o nosso comportamento, e que são particularmente relevantes na inteligência relativa às nossas expectativas. Essas teorias podem ser de 2 tipos: Fixista e incontrolável - Percebo os obstáculos como falta de capacidade para exprimir a minha competência (i.e. acho que não sou capaz de ultrapassar os obstáculos, porque é impossível aumentar as minhas capacidades; sinto que posso fracassar). Então, como reajo perante a norma de excelência? Através do comportamento de evitamento. Esta interpretação está associada a objectivos com orientação para o “eu” (“performance goals”), que podem activar tendências de aproximação (quando acho que sou capaz de demonstrar competência) ou evitamento (quando procuro não demonstrar fracasso). A avaliação da possibilidade de obter sucesso ou fracasso é mediada pela comparação com os outros. Há preferência por tarefas fáceis ou rotineiras. Incremental: A inteligência é vista como maleável (i.e. “ainda não sei mas posso aprender”). Neste sentido, os objectivos não são encarados como negativos, mas desafiadores; e os erros não são vistos como fracasso pessoal mas como auxiliares da aprendizagem (“é preciso errar para aprender”). Aquilo que o sujeito pretende não é mostrar competência, mas adquirir mestria. Neste sentido, a teoria incremental está associada a objectivos de orientação para a tarefa (= objectivos de mestria “mastery goals”). Quando este tipo de objectivos está activado, a pessoa sente-se atraída por tarefas desafiadoras, desenvolvendo tendências de aproximação. O sucesso é avaliado através de comparações com o próprio (“estou a fazer melhor do que fazia?”). Nota: A orientação para a mestria leva a que haja elevadas expectativas de competência na realização de tarefas moderadamente difíceis e desafiantes. Vantagem da activação de objectivos de Mestria: As pessoas tendem a sentir-se melhor quando têm objectivos de mestria activados, do que quando essa ativação ocorre para os objectivos de orientação para o “eu”; Preferência por tarefas desafiantes, com potencial de aprendizagem; Utilização de estratégias profundas de aprendizagem (i.e. utilizam-se estratégias cognitivas mais elaboradas e estratégias meta-cognitivas que visam a apreensão do sentido do material da aprendizagem); 24 A regulação do comportamento é feita por meio da motivação intrínseca e não da extrínseca; Há uma maior probabilidade de pedir ajuda e informações. Tudo isto conduz a maior esforço, persistência e desempenho! Objectivos de Realização (integração das 2 abordagens): - Orientação para o “eu”: Tendências de aproximação – Obtenção de apreciações de competência pessoal (que está a favor da necessidade de realização); Tendências de evitamento – Evitamento de apreciações negativas no âmbito da competência pessoal (que está a favor da necessidade de evitar o fracasso, baixa-autoestima e da manutenção da vitalidade e bemestar psicológico). E quais são as desvantagens da predominância da orientação para o “eu” quando as tendências são de evitamento? Segundo Covington, essas desvantagens assentam na utilização de estratégias que dificultam o alcance de níveis de excelência e sabotam a vontade de aprender. Estas estratégias podem ser: Auto-destrutivas (i.e. impedem que as pessoas adquiram as competências necessárias), quando levam à procrastinação (i.e. adiamento), a estabelecer objectivos inatingíveis, a persistir em não tentar, a fazer falsos esforços, a dar respostas vagas, etc.; Estar associadas à garantia de sucesso, levando-nos a trabalhar compulsivamente, estabelecer objectivos excessivamente baixos, fazer batota, etc. Nota: As tendências de evitamento dos objectivos de orientação para o “eu” podem ter consequências negativas, quando o evitamento é muito grande. Por outro lado, os objectivos de orientação para a mestria não têm consequências negativas. *2 NECESSIDADE DE AFILIAÇÃO/INTIMIDADE (“Deficit need”/ “Growth need”) Na necessidade de afiliação/intimidade o que está em causa é a possibilidade de ser aceite ou rejeitado. Neste sentido o estímulo/incentivo de activação consiste na “oportunidade para agradar aos outros e obter a sua aprovação; estabelecer relações interpessoais de intimidade”. O que diferencia a necessidade de afiliação da de intimidade é que enquanto a 1ª é activada pela privação da interacção social (i.e. isolamento social e medo de rejeição) e satisfeita pela aceitação e aprovação social; a 2ª é activada pelo estabelecimento e manutenção de redes interpessoais, nomeadamente ao nível das díades, e satisfeita pela proximidade e “calor” nas relações interpessoais. As necessidades de realização e de afiliação podem activar tendências de aproximação ou de evitamento. *3 NECESSIDADE DE PODER A necessidade de poder tem como estímulo/incentivo de activação a oportunidade de “ter impacto, controlo e influência nos outros”, resumindo-se ao desejo de tornar o mundo físico e social consonante com a 25 imagem pessoal ou plano que o sujeito definiu. Este desejo pode incidir sob 3 aspectos: impacto, controlo e influência que vão permitir, respectivamente, firmar, manter e expandir ou restaurar o poder. Neste sentido, as pessoas com elevada necessidade de poder tendem a satisfazê-la em situações de: Liderança - O sujeito procura reconhecimento no interior do grupo, esforçando-se para se tornar visível aos outros. Os sujeitos que ambicionam liderança são os que mais discutem, mostram mais pontos de vista, correm mais riscos com a visibilidade pública e tentam que os outros sigam a sua agenda pessoal, mesmo que isso possa ser prejudicial para o funcionamento do grupo. Relacionamentos - Os homens com elevada necessidade de poder tendem a ter mais relacionamentos, mas mais curtos, e são percepcionados pelas mulheres como maus namorados e maridos. Numa relação com um homem destes a mulher tende a sentir-se inferiorizada, mas o pior é quando a necessidade de exercer poder é tao elevada que, na tentativa de assegurar a sua satisfação, o homem utiliza linguagem ofensiva e agride a mulher. Nestes casos é típico a mulher manifestar uma enorme dificuldade em sair da relação, devido às crenças de que não vale nada e é incapaz de sobreviver sozinha (é o marido que “põe o comer na mesa” ou trabalha no negócio dele, a casa é dos 2, há filhos em comum, etc.). De acordo com a investigação apresentada na aula prática os homens tendem a sentir-se mais atraídos pelas mulheres complacentes do que pelas feministas, sendo essa preferência mais acentuada nos “hight power-man” comparativamente com os “lower power-man”. No entanto, ficou por explicar até que ponto é que a atracção pode ser influenciada por outros factores susceptíveis de levar os “hight power-man” a sentirem-se mais atraídos pelas mulheres feministas (e.g. estatuto soció-económico, no sentido de os ajudar a concretizar os seus próprios objectivos). Além disso, a experiência deveria ter sido realizada com homens numa faixa etária mais abrangente, e replicada com mulheres. Profissões em que a pessoa possa, de alguma forma, controlar o comportamento dos outros – Exemplo: profissões ligadas à gestão, política, docência e jornalismo. Estas pessoas conseguem influenciar uma plateia através do discurso, e regular o comportamento dos outros através da administração de recompensas à obediência e de sanções à desobediência. Outros tópicos importantes relativos à necessidade de poder: A necessidade de poder activa sempre tendências de aproximação. As pessoas com elevado grau de necessidade de poder tendem a exercer o abuso físico ou psicológico perante situações de stress ou contrariedades. Além disso, tornam-se mais susceptíveis a correr riscos, utilizar linguagem ofensiva, conduzir a velocidades elevadas e abusar de drogas ou do álcool, na tentativa de aumentar a sua percepção do poder. De todas as necessidades sociais, a de poder é a que regista maiores diferenças de género, no sentido em que existe em níveis mais elevados nos homens do que nas mulheres. Além disso, os homens tendem a satisfazê-la em qualquer contexto, incluindo o das relações íntimas, ao passo que as mulheres apenas a costumam satisfazer em contextos de realização. 26 Mas será mau sentir necessidade de exercer poder? Até certo ponto não; até é normal e saudável, porque: Se fossemos demasiado vulneráveis os outros podiam abusar de nós; Está associada a uma maior facilidade no alcance de objectivos. Nota: - Pessoas com necessidade de afiliação mais elevada tendem a gostar de grupos mais pequenos, onde é possível estabelecer intimidade. Já as que têm elevada necessidade de poder preferem estar em grupos grandes, onde possam exercer influência (e.g. políticos). FACTORES COGNITIVOS QUE PROMOVEM A REGULAÇÃO AUTÓNOMA DO COMPORTAMENTO (crenças de controlo pessoal) Estabelecimento, implementação e avaliação de objectivos pessoais (“goal setting”, “implementation intentions” e “goal striving”) Crenças de controlo pessoal: os sujeitos tentam exercer controlo sobre os aspectos previsíveis do seu meio (i.e., existe motivação para exercer controlo pessoal). Assim, tornam mais prováveis os acontecimentos positivos e menos prováveis os acontecimentos negativos. Em que consistem os objectivos? Segundo Elliot, os objectivos constituem os maiores preditores do comportamento. Para a abordagem organísmica, eles são elaborações/representações cognitivas de necessidades / elaborações para necessidades activas. Para a abordagem cognitiva, os objectivos têm 2 propriedades básicas: - Representam as consequências (desejadas ou indesejadas) do comportamento (conteúdo dos objectivos) - Dirigem as outras componentes motivacionais (e instrumentais) na produção (ou evitamento dessas consequências). - Quais são as linhas de estudo/intervenção ao nível dos objectivos? O impacto motivacional dos objectivos pode ser abordado, essencialmente, a 3 níveis: Processo de estabelecimento de objectivos (“goal setting”)*1; Conteúdo dos objectivos*2; Processos volitivos*3 (i.e. estabelecimento de intenções; processos cognitivos pelos quais o indivíduo decide praticar uma acção em particular). *1 PROCESSO DE ESTABELECIMENTO DE OBJECTIVOS Relaciona-se com o desempenho, isto é, explica mais o facto dos sujeitos terem ou não sucesso. De acordo com as modalidades preferenciais de codificação dos objectivos (kuhl), o sistema motivacional opera através da estruturação de acções/objectivos, sendo que estes podem ser codificados em diferentes 27 graus de intensidade, sob a forma de: desejos (representam um objectivo codificado de forma imprecisa – e.g. “quero deixar de fumar”), preocupações ou intenções (fazem parte do desenvolvimento cognitivo equilibrado – e.g. “quero deixar de fumar e, para tal, vou a uma consulta para que possa ser ajudada por um terapeuta). A probabilidade de passar da intensão à acção é tanto maior quanto maior for o número de componentes em que o objectivo está codificado. Neste sentido, em motivação não se aplica a expressão “de intenções está o inferno cheio” mas sim de “desejos está o inferno cheio”. Porém, convém salientar que, embora em termos motivacionais a representação de objectivos sob a forma de intenções seja benéfica, codificar tudo sob a forma de intenções não é positivo: se o fizermos, vamos encontrar muitos objectivos que conflituam entre eles – e.g. “quero isto mas também quero aquilo”. Assim, o mais vantajoso é mesmo utilizarmos os 3 tipos de codificação. Para além da representação dos objectivos em diferentes níveis de intensidade comportamental, que outras componentes da codificação facilitam a passagem da representação à acção? São: Componente Subjectiva (i.e. agente da acção) Componente Contextual (i.e. dimensões temporais e espaciais associadas ao objectivo; e.g. para ter boa nota na frequência vou estudar na 6ª, sábado e domingo); Componente Objectiva (i.e. plano de acção para realizar o objectivo); Componente Relacional (i.e. integração no self) A. ESTRUTURA Segundo a Perspectiva Temporal de Futuro (PTF), os objectivos distais (ou a longo prazo) promovem a motivação intrínseca quando estão associados à realização de tarefas interessantes, relevantes e significativas. Por outro lado, fornecem dinamismo aos objectivos proximais e instrumentais necessários para o seu alcance. Neste sentido, os objectivos comportam 2 dimensões temporais: Longo prazo – Caracterizada pela extensão (i.e. profundidade do espectro temporal projectivo); densidade (i.e. quantidade de objectivos e a sua distribuição relativa no tempo – quanto maior for a densidade de uma estrutura de objectivos, mais eu consigo alinhar os objectivos proximais com os distais); e, coerência (i.e. probabilidade de alcançar o objectivo final, que aumenta com a realização bem sucedida dos objectivos instrumentais). Ter uma estrutura temporal de objectivos extensa, densa e coerente tem impactos comportamentais muito positivos. Permite-nos antecipar as consequências dos nossos comportamentos actuais, não só as imediatas como também as diferidas. Curto Prazo – Estabelecimento de objectivos específicos, proximais e moderadamente difíceis. Qual o impacto comportamental de ter uma P.T.F extensa? É extremamente positivo ter uma organização temporal de objectivos a longo prazo, já que isso permite: Perceber as distâncias temporais objectivas como mais curtas (e.g. daqui ate ao final do curso faltam, objectivamente 3 anos, mas se tivermos uma extensão motivacional alargada isso parece pouco tempo); Antecipar melhor as consequências das acções actuais a longo prazo, atribuir maior valor aos objectivos distantes e ser mais persistente no seu alcance; 28 Aumentar o grau de satisfação sentida e esforço empregue na realização de uma tarefa instrumental; “Ser mais capaz” de transformar os desejos vagos em intensões comportamentais; Uma maior regulação interna do comportamento e satisfação das necessidades psicológicas básicas. Notas: - A organização temporal dos objectivos dos delinquentes é muito curta, impossibilitando-os de perceber o impacto dos seus comportamentos a médio e longo prazo; - As pessoas que passaram por uma situação de frustração tendem a centrar-se preferencialmente no presente, desenvolvendo mais comportamentos de risco e comportamentos anti-sociais. - Qual dos objectivos tem um impacto mais positivo no comportamento? Os proximais ou os distais? Na verdade, são os dois. A concentração em objectivos só a curto prazo é nefasta. Mas também não convém centrarmo-nos apenas nos objectivos a longo prazo porque se não deixamos de ter “reforços”. Assim, apesar de ser muitíssimo saudável ter objectivos a longo prazo, isso tem um custo: existência de longos períodos caracterizados pela falta de reforço imediato que pode, eventualmente, conduzir à diminuição do compromisso para com os objectivos. Por esse motivo, é útil traduzir os objectivos a longo prazo numa série de objectivos a curto prazo, sobretudo se o objectivo a longo prazo consistir numa tarefa ambígua/complexa (e.g. para ter boa nota na frequência devo estudar desta e daquela maneira, nos dias ….). Qual o seu impacto comportamental? Fornecem feedback imediato, permitindo a consolidação de percepções de competência e a criação de emoções positivas ou redução da discrepância de emoções negativas; Promovem a mobilização e direcção do comportamento, especialmente se forem moderadamente difíceis e específicos (e.g. para conseguir deixar de fumar “hoje só vou fumar de tarde, amanha só vou fumar 4 cigarros e depois só 2”). Isto porque, estabelecer objectivos proximais moderadamente difíceis e específicos aumenta o grau de esforço dispendido e a persistência, dirige a atenção, reduz a ambiguidade no pensamento e a variabilidade nos níveis de realização e promove o planeamento estratégico. Isto é particularmente importante nos contextos académico, laboral e desportivo. O impacto de objectivos específicos e moderadamente difíceis no comportamento depende da sua interacção com factores não motivacionais. Os objectivos proximais podem ser específicos (diminuem a variabilidade do comportamento e.g. leiam o texto do Reeve da pág. x até à y) ou não específicos (“estudem muito para a próxima frequência”). Nota: Estes objectivos estão relacionados com a motivação extrínseca (e.g. começar a deixar de fumar x cigarros por dia não é intrinsecamente interessante, é custoso; donde, o que está por detrás desse comportamento não é a motivação intrínseca mas a motivação extrínseca conciliada com objectivos a longo prazo). Sempre que externamente propostos precisam de ser aceites. E isso é tanto mais provável quanto menor for o nível de dificuldade da tarefa e quanto maior o nível de credibilidade de quem a propõe. Nota: A realização de objectivos proximais externamente propostos está associada à motivação extrínseca. 29 Quais as limitações do estudo do processo de estabelecimento de objectivos proximais? Está mais relacionado com a tentativa de aumentar os níveis de realização do que com a promoção do comportamento motivado; Funciona melhor quando as tarefas a realizar são desinteressantes, e não excessivamente complexas (na ausência de motivação intrínseca); Não deve gerar um controlo excessivo, nem facilitar as condições para o surgimento de emoções negativas (i.e. stress e ansiedade associada ao medo de fracasso). De acordo com Zimbardo o estabelecimento de objectivos também depende da tendência das pessoas para se orientarem, preferencialmente, em alguma(s) da(s) seguinte(s) perspectiva(s) temporal(ais): Passado – Positivo ou negativo; Presente – Hedonista (a pessoa quer aproveitar o momento presente, procurando prazer e evitando a dor) ou Fatalista (a pessoa acredita que não vale a pena esforçar-se porque tudo está traçado/determinado). Futuro – futuro, transcendental (i.e. acredita na vida depois da morte) ou negativo (i.e. visão ansiosa/preocupada com o futuro). *2 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE OBJECTIVOS PESSOAIS B. CONTEÚDO DOS OBJECTIVOS Relaciona-se com o crescimento pessoal e com o bem-estar subjectivo. Modo de estudo e avaliação - é influenciado pelo carácter monetético ou ideográfico dos objectivos (i.e. mais geral ou particular) e pela sua organização hierárquica (i.e. do nível mais inferior para o mais superior; e.g. preocupações e projectos pessoais). O estudo dos conteúdos dos objectivos pode ainda estar relacionado com a integração vs conflito dos vários objectivos (intrínsecos vs extrínsecos). A este respeito é de referir que as pessoas mais saudáveis tendem a ter objectivos para muitos conteúdos (i.e. muitos aspectos da sua vida). Contudo, também não é bom ter demasiados objectivos de conteúdos distintos, devido à impossibilidade de os conseguir realizar a todos. Por outro lado, não é saudável ter apenas objectivos de natureza interpessoal, já que isso está relacionado com depressão. Taxonomia de Deci e Ryan Explicar “o quê” do comportamento (qualidade ou conteúdo dos objectivos): Se os objectivos forem intrínsecos são sentidos como auto-gratificantes, tranduzindo-se numa inclinação natural para satisfazer as 3 necessidades psicológicas básicas e o desenvolvimento do potencial individual (e.g. afiliação, auto-aceitação, bem-estar físico, saúde e contribuição para a comunidade). Mas se, pelo contrário, os objectivos forem extrínsecos verifica-se uma orientação para o exterior (e.g. procura da popularidade, fama, riqueza, aparência física), que pode inibir o desenvolvimento do potencial individual. Os sujeitos experienciam a prossecução deste tipo de objectivos como stressante e “castradora” da autonomia. Além disso, há uma menor probabilidade de se sentirem felizes e competentes, porque raramente conseguem alcançar as suas ambições materialistas. 30 *3 PROCESSOS VOLITIVOS Será que o estabelecimento dos objectivos (estrutura) não está relacionado com a implementação/estabelecimento das intenções? Tem, porque o nível de intensidade motivacional associado à representação dos objectivos (sob a forma de desejos, preocupações e/ou intensões) tem impacto no grau em que: Iniciamos a acção apesar dos distractores; Reeve Persistimos, apesar das dificuldades e obstáculos; Kuhl Promoção da iniciativa comportamental* (Kuhl) Facilitação do planeamento* (i.e. ligar o objectivo a componentes situacionais); Manutenção das intenções activadas* (Kuhl) Retomamos a acção depois de interrompida; Desactivação de intenções irrealistas ou inadequadas* (e.g. decidi que ia estudar no sábado à tarde, se o meu teio me convidar para almoçar eu, automaticamente, digo que não). Então, para Kuhl, os processos volitivos cumprem 4 funções básicas (referidas acima com um *). Quais os critérios para a activação de objectivos situacionalmente apropriados e socialmente relevantes? Segundo Ford são: O.T.I.U.M. – Oportunidade, tempo, importância, urgência e meios disponíveis. 31 AULAS PRÁTICAS Análise do artigo sobre o modelo hierárquico da motivação de aproximação e evitamento, de Elliot: Contextualização Em termos epistemológicos, a palavra motivação vem do latim “mover”, que significa mover, fazer andar, mexer, impulsionar. Neste sentido, o conceito de motivação diz respeito às forças psicológicas que impelem o sujeito para a acção e que se caracterizam por uma certa energia e direcção. A direcção pode assumir 2 formas: direcção de aproximação a situações ou objectivos positivamente valorizados (i.e. “approanch tendencies”) ou de afastamento em relação a situações ou objectivos negativamente valorizados (i.e. “avoidance tendencies”). A avaliação das situações ou objectivos, e os comportamentos de aproximação ou evitamento que desencadeia são constantes na acção humana. Mas para que é que isto nos serve enquanto futuros psicólogos? Serve para compreender, explicar e prever o comportamento. Contexto histórico: O contexto histórico relativo ao estudo da motivação pode ser “dividido”, basicamente, em 3 tópicos principais: 1º- A distinção entre motivação de aproximação e de evitamento não é nova no estudo do comportamento motivado. Pelo contrário, pode ser considerada uma das ideias mais antigas na história do pensamento psicológico sobre os organismos, remetendo para as concepções ético-filosóficas. Segundo estas concepções o hedonismo (i.e. a procura do prazer e o evitamento da dor) funcionava como guia do comportamento – função prescritiva do comportamento. Mais tarde, aquando do início da afirmação da psicologia como ciência, o hedonismo passou a ser encarado como forma de explicar e descrever o comportamento – função descritiva do comportamento. 2º- Mais tarde, na década de 1970 a 1980 a abordagem cognitiva da motivação introduziu uma distinção radical entre processos cognitivos (intencionais, conscientes e volitivos) e motivacionais (inconscientes e mecânicos), privilegiando o estudo de processos cognitivos na explicação do comportamento (i.e. das crenças, objectivos, atribuições, esquemas, etc.). 3º- No estudo contemporâneo da motivação (i.e. a partir de 1990) a distinção entre motivação de aproximação e de evitamento começou por ser amplamente utilizada para definir e articular os conceitos de aproximação e evitamento. Inicialmente esses conceitos apenas eram aplicados a situações e constructos isolados, sendo construídos sem qualquer consideração do modo como podem ser aplicados enquanto organizadores gerais da motivação e da acção. Mas depois passaram a ser aplicados como organizadores gerais da motivação e da acção. Aspectos Conceptuais: - Motivação de aproximação ≠ Motivação de evitamento - A motivação de aproximação pode ser definida como a energia do comportamento, ou a sua direcção em relação a estímulos positivos (i.e. objectos, eventos ou possibilidades, reais ou internamente representados), enquanto a motivação de evitamento pode ser definida como a energia do comportamento, ou sua a direcção de afastamento em relação a estímulos negativos (i.e. objectos, eventos ou possibilidades, reais ou internamente representados). Esta distinção: 32 Integra os conceitos de energia (i.e. iniciação) e direcção (i.e. orientação) do comportamento. Nota: O termo energia não pressupõe que o organismo seja passivo; pelo contrário, ele é visto como activo, no sentido em que pode mudar de uma orientação para outra (i.e. de orientação de aproximação para a de evitamento, e viceversa). Tem inerte o conceito de movimento físico (i.e. comportamento aberto) ou psicológico (i.e. evitar pensar e/ou sentir). A aproximação implica um movimento em direcção a (…), ou a tentativa de manutenção de (...); enquanto o evitamento implica um movimento para longe de (…) ou para continuar longe de (…). Neste sentido, a motivação de aproximação refere-se não só à promoção de novas situações positivas, mas também à manutenção de situações positivas existentes; e a motivação de evitamento refere-se não só ao afastamento de um objecto negativo já presente no campo psicológico, mas também ao afastamento de novas situações negativas. Notas: - Embora a avaliação, positiva ou negativa, dos estímulos produza (no mínimo) uma preparação fisiológica e somática para o movimento físico em direcção a eles ou no sentido do seu afastamento, esta preparação pode ou não ser traduzida em comportamento explícito (e.g. filhos mal tratados pelos pais ou as pessoas de um casal podem não se separar fisicamente, mas afectivamente já se separaram, porque a partir do momento em que há uma tendência de evitamento para com uma pessoa que gerou dificuldades sistemáticas, a relação afectiva com ela jamais será a mesma!) - Às vezes as tendências de aproximação e evitamento cruzam-se (e.g. a mulher que já não gosta do marido não se afasta dele fisicamente para poder estar mais próxima dos filhos). O carácter positivo ou negativo (percebido) dos estímulos constitui a dimensão nuclear da motivação de aproximação/evitamento e pode assumir diferentes significados consoante os contextos ou níveis de análise do comportamento motivado (i.e. a avaliação que o sujeito faz de um dado estímulo pode ser considerada benéfica/prejudicial, desejável/indesejável, conforme o contexto e o nível de análise do comportamento). Postulados Teóricos: - A distinção entre aproximação e evitamento é fundamental e básica para compreender o comportamento motivado; - Os processos de aproximação e evitamento estão presentes em diferentes espécies (desde os organismos unicelulares aos seres humanos) e são essenciais para a adaptação bem sucedida ao meio. Esse papel adaptativo está de tal forma enraizado, que os seres humanos avaliam automaticamente a maioria, se não todos, os estímulos encontrados numa dimensão positiva/negativa e essas avaliações evocam instantaneamente predisposições comportamentais de aproximação ou evitamento. Constructos: Tal como já foi referido, a aproximação ou evitamento das situações depende do tipo de avaliação que fazemos (positiva ou negativa). Mas, com é que avaliamos as situações como sendo boas ou más? (i.e. o que é que está na base do processo avaliativo?) A avaliação das situações como sendo boas ou más é feita com base nos: Objectivos – Representações cognitivas de resultados futuros, que assumem um nível central no modelo hierárquico, dada a assunção da intencionalidade do comportamento humano. De acordo com o modelo, os objectivos assumem funções directivas no comportamento humano (i.e. uma vez definidos guiam e direcionam o 33 comportamento para a concretização das tendências de aproximação/evitamento dos estímulos: “Se quero ir p´ra ali como é que vou fazer para o conseguir?”, ou “Se não é isso que quero como é que vou fazer para o evitar?”). Motivos ou necessidades – Têm a ver com a tendência afectiva que orienta o sujeito para o contacto com estímulos positivos ou negativos em contextos específicos. Esta tendência também é desempenhada por outros processos cognitivo-motivacionais, tais como as teorias implícitas, os esquemas pessoais, os valores, as normas culturais, etc. Temperamentos - Sensibilidade neurobiológica geral e inata aos estímulos positivos e negativos, que produz inclinações afectivas, cognitivas e comportamentais imediatas em resposta aos estímulos. Essas inclinações forma-se de modo bastante rígido e reactivo, em vários domínios e situações. Como é estas 3 dimensões de inter-relacionam? Apesar de constituírem constructos diferentes, motivações e temperamentos são funcionalmente semelhantes, uma vez que ambos produzem grandes tendências motivacionais que funcionam como energizadoras dos comportamentos de aproximação e evitamento (i.e. orientam o sujeito, no sentido de se aproximar ou afastar de determinados estímulos). A subtil diferença entre esses dois conceitos reside no facto de a função energizadora se aplicar: A contextos mais específicos, no caso motivos -E.g. evitar estudar porque isso não me interessa ou por medo de falhar; Ou, de uma forma mais geral nos temperamentos - E.g. a forma como reagimos à humilhação de um colega é idêntica à que teríamos se nos aparecesse-se um leão à frente. Em ambos os casos desenvolveríamos uma resposta de ansiedade (i.e. suávamos, sentíamos “borboletas no estômago”, o coração disparava, etc.), porque o nosso cérebro não evoluiu muito neste aspecto (i.e. apesar de as ameaças actuais não serem sobretudo físicas, mas sim psicológicas, continuamos a reagir da mesma maneira). Por outro lado, a diferença entre motivos e temperamentos/objectivos reside no facto de os primeiros, não nos darem orientações precisas sobre o modo como os desejos ou preocupações podem ser abordados ou evitados. Apenas os objectivos cumprem essa função. Donde, os objectivos assumem uma função “directiva” no comportamento, regulando e guiando a concretização das tendências motivacionais desbloqueadas pelos motivos ou temperamentos. Níveis de Análise: Flexibilidade da Auto-regulação Comportamental - O mesmo objectivo pode estar ao serviço de diferentes motivações (e.g. querer ter boas notas para me sentir realizada ou para mostrar aos outros que sou capaz). E a mesma motivação pode ser canalizada através de muitos tipos diferentes de objectivos – I.e. os objectivos de aproximação podem ser adoptados ao serviço da motivação de aproximação – e.g. estudar porque quero aprenderou evitamento, como quando a execução dos objectivos de aproximação é adoptada ao serviço do medo de fracasso – e.g. estudar só para não “fracassar” no exame. Outro exemplo é que os objectivos num domínio podem surgir a partir de desejos motivacionais ou preocupações noutro domínio, como quando os indivíduos que estão preocupados com a rejeição por parte de outras pessoas próximas para a evitar adoptam objectivos de evitamento desses contextos de realização. Conceito de “goal complex” – Na regulação comportamental, os objectivos e as tendências motivacionais subjacentes estão hierárquica e intimamente interligados. Os objectivos têm efeitos comportamentais diversos, em 34 termos de processos e resultados, quando são prosseguidos em virtude de tendências motivacionais diferentes (e.g. se eu vou para um exame a acreditar que sou capaz consigo concentrar-me na tarefa e à partida ter um melhor resultado, do que se acreditar no contrário e for super ansiosa, com medo de falhar e não poder mostrar aos outros que sou capaz/competente). Foco do estudo motivacional - O estudo da motivação implica identificar e especificar os antecedentes mais importantes da adopção de objectivos e das associações entre as fontes motivacionais associadas às necessidades e aos temperamentos e os objectivos que as servem. Finalidade: Motivação aproximação-evitamento - A motivação para a aproximação e para o evitamento constituem (ambas) tendências adaptativas. Têm uma natureza filogenética, ou seja uma vez inscritas na herança genética da espécie foram-se desenvolvendo, ao longo do processo evolutivo, com vista a assegurar a sua sobrevivência. Este desenvolvimento significa que, por exemplo, a motivação de evitamento não assegura apenas a protecção contra as ameaças de outros animais, mas é também requerida no acto de deixar de fumar. Motivação de aproximação – É incremental, no sentido em o comportamento é regulado por um objecto positivo. Daí que, quando é eficaz conduza a um resultado positivo e quando não é apenas não produz esse resultado. Motivação de evitamento – É aversiva, no sentido em que ao ser regulada por um objecto negativo é experienciada como stressante (i.e. causa ansiedade). Quando eficaz evita um objecto negativo, relacionamdo-se como o prazer e bem-estar (e.g. ao evitar eficazmente o leão sobrevivo).No entanto, é limitada num sentido estrutural: só pode levar à ausência de um resultado negativo (quando eficaz) ou à presença de um resultado negativo (quando ineficaz). Assim, enquanto a motivação de evitamento visa facilitar a sobrevivência, a de aproximação promove a prosperidade. No entanto, convém ressaltar que a motivação de evitamento tende a ser demasiado usada em casos onde não é necessária e só atrapalha, levando as pessoas a perder oportunidades positivas para o seu desenvolvimento e crescimento (e.g. da mulher que queria ter relações com o namorado às escuras, porque uma vez ao perguntar ao seu ex-namorado o motivo pelo qual faziam sempre isso ele respondeu “porque o teu corpo assim é mais suportável”). Além disso, pode conduzir aos resultados negativos que supostamente deveria evitar (e.g. a rapariga que para evitar cair andava em bicos de pés). Investigação Correlatos neurais e neuro-anatómicos dos sistemas motivacionais de aproximação-evitamento demonstraram que esses sistemas apresentam uma lateralização cortical bem definida: os comportamentos de aproximação são processados na região frontal do hemisfério esquerdo e os de evitamento na região frontal do hemisfério direito. Esta situação traduz-se numa vantagem adaptativa: minimiza a competição entre 2 tendências comportamentais distintas, aumentado a eficácia do processamento (i.e. o facto de as tendências de aproximação e evitamento se processarem em sítios diferentes faz como que a reacção seja automática, em vez de a pessoa ficar na dúvida entre aproximar-se e afastar-se). Nota: A raiva aproxima as pessoas, no sentido de as conduzir a um consenso (e.g. quando um casal discute); só há afastamento quando se chega à indiferença. 35 Trabalhos de Grupo: - Balanço através dos Contextos - Investigações empíricas mostraram que: Os adolescentes que experienciam um equilíbrio na satisfação de necessidades básicas em diferentes contextos de vida importantes (incluindo escola, casa, amigos e trabalhos de part-time) referem maiores índices de bem-estar e ajustamento escolar. Os estudantes do ensino secundário que experienciam um equilíbrio na satisfação das necessidades psicológicas básicas (i.e. autonomia, competência e afiliação) revelam, em geral, maior bem-estar e ajustamento nos processos de tomada de decisão vocacional. - Quando uma mãe defende os comportamentos desajustados do seu filho no contexto escolar dizendo que a culpa é das “más companhias”, porque “ele em casa é um amor” como é que a desarmamos? Podemos dizer: 1º- O problema não é dos outros, mas sim seu e do seu filho, porque se a senhora está aqui é porque isso os faz sofrer; 2º- Supondo que a culpa é dos amigos porque é que o seu filho escolheu esses amigos e não outros? Resposta: quando há falta de carinho, autonomia e valorização pessoal a pessoa tende a ingressar em grupos onde as pessoas também tenham sido rejeitadas, e não em grupos susceptíveis de nutrir essas necessidades. E porque é que isto acontece? Porque, quando essas necessidades não são satisfeitas, as pessoas estão “armadas” (no sentido de desenvolverem comportamentos defensivos) e na amizade é necessário que estejamos “desarmados”. No fundo, é tudo uma questão de aprendizagem. - E quando o jovem gosta tanto do grupo de pares, que anda sempre com ele e se “esquece” de estudar; o que é que pode estar por trás disso? Nestas situações o grupo pode estar ao serviço do evitamento da escola, porque se tem medo de fracassar, devido há percepção de falta de competência. - Enquanto futuros psicólogos nunca nos devemos esquecer de que: As pessoas têm sempre a capacidade de optar; Ninguém faz opções por acaso; O comportamento é função da personalidade e dos contextos, sendo a personalidade influenciada pelos contextos. Assim, quando os contextos falham o bem-estar, funcionamento óptimo e desenvolvimento pessoal ficam comprometidos. Então, é necessário intervir não apenas no indivíduo, mas também nos contextos (para que ajudem o indivíduo a desenvolver-se positivamente). Neste sentido, a grande questão que temos de resolver quando formos psicólogos é “como transportar a pessoa para o seu crescimento pessoal?” - Na nossa vida futura vamos, certamente, confrontar-nos com a dificuldade em conciliar os contextos profissional e familiar. Então, em qual dos contextos nos devemos empenhar mais (uma vez que o tempo é finito)? De acordo com a investigação, devemos empenhar-nos nos 2 de forma equilibrada, já que essa é a única forma de nos sentirmos verdadeiramente preenchidos e felizes. É claro que ao investirmos na família ficamos com menos tempo p’ro trabalho, mas como a satisfação pessoal aumenta acabamos por trabalhar menos mas melhor! 36 - Prática do exercício físico e técnica da imagem mental Uma investigação empírica (2012) mostrou que a técnica de imagery constitui uma estratégia de intervenção eficaz para na promoção da regulação integrada nos indivíduos que estão a iniciar programas de exercício físico. NOTA FINAL: A iniciação de uma acção e a sua duração não depende apenas da força motivacional que lhe está subjacente, mas também do número e força de acções “concorrentes” (e.g. quando o tempo passado a estudar aumenta, isso pode aumentar a motivação para o estudo e fazer diminuir o número e a força de acções alternativas, tais como ver televisão e jogar computador). 37