Trombose – O que é e suas consequências Neste contexto o Prof. Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes, Chefe do Grupo de Quadril da PUCCampinas, Chefe da Residência Médica em Ortopedia do SECROT (Serviço de Cirurgia e Reabilitação Ortopédico -Traumatológica de Batatais/SP) e Diretor Cientifico da Sociedade Brasileira de Quadril, explica o que é, quando acontece e como prevenir a trombose. 1. O que é trombose venosa profunda? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: A Trombose Venosa Profunda (TVP) ocorre quando se forma um coágulo sanguíneo no interior de veias profundas, mais frequentemente na perna ou na coxa do paciente, causando o entupimento desta veia. Na fase inicial ocorre um processo inflamatório nas regiões próximas que causa dor, inchaço, aumento da temperatura e endurecimento dos músculos próximos ao local da trombose. Um dos maiores desafios é o grande numero de TVP silenciosa ou assintomática que pode ocorrer em até 80% dos casos. 2. Quais as causas da trombose venosa? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: Em condições normais a coagulação sanguínea é um processo de defesa do organismo contra um sangramento que pode ocorrer em consequência de doenças ou algum tipo de traumatismo. Além disso, existem algumas características próprias ou hábitos que podem aumentar as chances de desenvolver a trombose venosa, como: • A menor velocidade de circulação pela veia (frequente em pessoas com varizes acentuadas) • Pessoas com lesões nas paredes das veias • Pessoas com tendência a coagulação (estado chamado de hipercoagulabilidade - normalmente ocorre em pessoas com doença genética, usuários de drogas e grávidas) • Outros fatores de risco são: idade, obesidade e excesso de nicotina. Além disso, a imobilidade, principalmente em pacientes idosos é um fator importante que aumenta muita a chance de ocorrência de trombose venosa. Normalmente, isso ocorre em casos de imobilização por internação, cirurgias ou mesmo fraturas que requeiram imobilização prolongada. As cirurgias ortopédicas de grande porte, em idosos, como por fratura de quadril e colocação de prótese de joelho, apresentam risco bastante elevado, entre 40% e 60% dos casos em que não se faz prevenção. 3. Quais as consequências da trombose venosa profunda? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: A veia entupida não exerce mais a sua função de levar o sangue venoso de volta ao coração. Ainda que as veias vizinhas possam fazer este papel, elas ficam sobrecarregadas, se dilatam e podem ficar insuficientes. Esta situação, por si só, tem consequências importantes, pois pode originar a chamada síndrome pós-trombótica na qual acontece a presença inchaço, feridas e infecções crônicas no membro afetado, podem ser extremamente incapacitantes. Isto é muito importante, pois cerca de 30% dos pacientes com TVP desenvolvem síndrome pós-trombótica nos primeiros 2 anos, período em que também quase 20% dos pacientes apresentam novo episodio de TVP. Outra grave consequência da trombose venosa é a embolia pulmonar, que ocorre quando o coágulo (ou trombo) se desprende das paredes das veias e é levado pela corrente sanguínea (fenômeno chamado embolia) até se alojar nos vasos do pulmão. Esta condição é chamada de trombo embolismo venoso (ou TEV). A embolia pulmonar é uma circunstância potencialmente fatal, que leva à morte em até 1/3 dos pacientes quando não tratados adequadamente. Além disso, a TVP também aumenta o risco de eventos cardiovasculares no primeiro ano da doença. Estudos comprovam que em comparação com as pessoas que nunca tiveram um coágulo sanguíneo (TVP), o risco de infarto do miocárdio aumenta em 60% e de derrame cerebral em 119% nos pacientes com trombose venosa profunda. 4. A trombose venosa é uma doença muito frequente? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: A incidência da TVP é de 1 caso para cada 1.000 pessoas e a frequência de Embolia Pulmonar é de 60 a 70 casos para cada 100.000 habitantes. De acordo com estudos científicos, a TVP é responsável pela morte de 1 milhão de pessoas todos os anos, sendo cerca de 300 mil nos Estados Unidos e 544 mil na Europa. Estes dados podem ser ainda maiores nos casos dos pacientes idosos submetidos à cirurgia ortopédica de grande porte como de quadril e joelho, não submetidos à prevenção adequada. Nestes casos a trombose chega a atingir de 40% a 60% dos pacientes, ou seja, metade dos pacientes pode desenvolver TVP e 1% pode ter embolia pulmonar. O impacto é muito alto, pois de acordo com o Centro Nacional de Saúde dos Estados Unidos, as estatísticas de 2006 mostraram que somente naquele país, aproximadamente 700 mil pessoas são submetidas a cirurgias ortopédicas de grande porte todos os anos. 5. Como é feito o diagnóstico? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: Por ser uma doença muitas vezes assintomática, a trombose venosa é considerada de difícil diagnóstico. Além da avaliação clínica e dos fatores de risco do paciente, o médico pode solicitar a realização de exames específicos como o Doppler (que permite visualizar a circulação do sangue nas pernas) ou raramente a flebografia (raio-x das veias após a injeção de contraste). 6. Como prevenir a trombose venosa e a embolia pulmonar? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: Como a TVP é uma doença silenciosa em 80% dos casos e a sua principal consequência, a embolia pulmonar é fatal para grande parte dos pacientes, a prevenção torna-se imprescindível. A prevenção e o tratamento da trombose são amplamente estudados, mas o grande problema é que grande parte dos medicamentos disponíveis no mercado ou são injetáveis ou necessitam de monitoramento e ajuste constantes da dose, o que dificulta a adesão ao tratamento. 7. Existe uma nova opção de tratamento? Quais as principais vantagens em relação aos tratamentos disponíveis? Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes: A rivaroxabana (principio ativo de Xarelto®, anticoagulante oral da Bayer Schering Pharma), substância que age especificamente sobre o fator que atua na formação dos coágulos chamado fator Xa, é a mais recente opção de tratamento. Os estudos com este medicamento envolveram mais de 12.500 pacientes submetidos à cirurgia para a colocação de prótese de joelho e quadril em todo o mundo. Os resultados revelaram que a rivaroxabana demonstrou uma redução bastante significativa do risco de ocorrência de fenômenos tromboembólicos assintomáticos, quando comparados com a terapia padrão (enoxaparina). Além de mais efetiva, a substancia apresentou maior tolerabilidade. A rivaroxabana garante a comodidade para o paciente, pois é administrada via oral em dose única diária, enquanto a maioria dos anticoagulantes é injetável. Em relação aos anticoagulantes orais convencionais, a rivaroxabana não precisa de monitoramento da atividade de coagulação por meio da realização de exames de sangue, nem de ajustes frequentes da dose. Além disso, sua absorção é pouco influenciada pela alimentação e pelo uso de outros medicamentos como os anti-inflamatórios, por exemplo.