UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO POR ILDAMARA FERREIRA RODRIGUES SARDINHA ORIENTADOR PROF. HENRIQUE PEREIRA Niterói 2004 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “LatoSensu” em Psicomotricidade POR ILDAMARA FERREIRA RODRIGUES SARDINHA Niterói 2004 3 AGRADECIMENTOS A Deus pela força e sabedoria que me dá na caminhada pela busca de uma vida plena de realizações. Ao meu orientador, professor Henrique Pereira, por ter me apoiado e estimulando com atividades reflexivas que fizeram- me enfrentar os desafios surgidos me proporcionando um crescimento profissional e humano. A professora Fátima Alves, que contribuiu com uma vasta fonte de conhecimento, incentivando- me e sempre pronta e ajudar-me. A minha amiga Jeanete Gabriel da Silva que me incentivou para que eu fizesse a Pós Graduação. Aos professores e alunos, pela atenção e carinho com que me receberam na escola municipal, meu espaço de pesquisa. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu marido e minha filha, pelo apoio, carinho, incentivo e amor, sem os quais o desafio de conhecer mais e mais sobre as diferenças humanas e a maravilhosa experiência de aprender seria obstado. 5 EPÍGRAFE (...) Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena Acreditar no sonho que se tem Ou que seus planos nunca vão dar certo Ou que nunca vai ser alguém. Tem gente que machuca os outros Tem gente que não sabe amar. Tem gente enganando a gente, Veja a nossa vida como está Mas eu sei que um dia a gente aprende. Se você quiser alguém em quem confiar, Confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança. Mais uma vez ( Renato Russo- Flávio Venturini) 6 RESUMO Todo cidadão brasileiro tem o direito à educação, isto é, ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, para exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. A Escola precisa apropriar-se de uma concepção inovadora no processo de alfabetização, abandonando a prática tradicional, possibilitando a construção de uma prática libertadora e criativa de alfabetização. Os professores devem utilizar diversos recursos para alfabetizar os alunos como: pincéis, papéis, massas, vídeo, televisão, enfim, utilizar o mundo que os alunos fazem parte. Geralmente, as escolas exigem que esses profissionais terminem os livros didáticos, priorizando a cartilha como o único recurso para alfabetizar deixando de lado o poder de criação do aluno. A partir do conhecimento da necessidade de aprender movimentando-se a Educação Psicomotora tornou-se necessária ao conteúdo curricular para auxiliar a aprendizagem, a fim de proporcionar uma relação entre o processo de maturação, crescimento e desenvolvimento da criança. O esquema corporal desenvolve algumas habilidades transformadoras do indivíduo no que se refere ao processo ensino-aprendizagem, contribuindo diretamente para o aprendizado da leitura e da escrita. Uma criança saudável não é apenas aquela que tem seu corpo nutrido, mas aquela que pode utilizar e desenvolver o seu potencial biológico, emocional e cognitivo, próprio da espécie humana, em um dado momento histórico e em dada cultura. 7 A promoção do crescimento e do desenvolvimento saudável das crianças na escola está baseada nos procedimentos que atendam suas necessidades de afeto, segurança e integridade corporal e psíquica. 8 METODOLOGIA A fim de investigar e analisar a importância da Psicomotricidade no Processo de Alfabetização procurou-se desenvolver uma pesquisa qualitativa. O trabalho foi exploratório e literário, as observações foram focalizadas na prática de algumas professoras que atuam na alfabetização. As análises surgiram a partir da fundamentação teórica realizada através de um levantamento bibliográfico que possibilitou a interpretação das questões implícitas relativas ao tema abordado. Para o trabalho de pesquisa, num primeiro momento, foi realizado um estudo da Educação como um direito de todos os cidadãos brasileiros. Num segundo momento, buscou-se realizar uma reflexão sobre as causas e as conseqüências do analfabetismo no Brasil. No terceiro momento, procurou-se abordar a alfabetização numa visão “libertadora”. No quarto momento, discutiu-se o verdadeiro papel do professor alfabetizador. Finalmente, no quinto e último momento foi possível estabelecer uma relação entre a Psicomotricidade e a aprendizagem. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I- A EDUCAÇÃO COMO UM DIREITO DE TODOS 12 CAPÍTULO II- O ANALFABETISMO NO BRASIL 19 CAPÍTULO III- A ALFABETIZAÇÃO NUMA VISÃO “LIBERTADORA” 24 CAPÍTULO IV- REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO ALFABETIZADOR 32 CAPÍTULO V- A RELAÇÃO ENTRE A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM 38 CONCLUSÃO 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ANEXOS 55 ÍNDICE 60 10 INTRODUÇÃO Alfabetizar é um grande desafio dos professores das quatros primeiras séries do Ensino Fundamental. Constata-se que o índice de repetência e de evasão escolar no Brasil, um dos mais altos do mundo, é resultado, principalmente, da dificuldade que a escola tem em ensinar a ler e a escrever. A sala de aula é um espaço de produção de uma teoria prática, elaborada a partir da investigação pela professora de como as crianças aprendem. Nesta prática é preciso criar com os alunos para tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes. Este estudo propõe ressaltar a necessidade do trabalho da Psicomotricidade no conteúdo curricular como um fator auxiliar na aprendizagem, mantendo uma relação entre o processo de maturação, crescimento e desenvolvimento da criança no processo de alfabetização. Segundo a autora Vera Miranda Gomes, as habilidades psicomotoras são essenciais ao bom desempenho no processo de alfabetização, considerando que a aprendizagem da leitura e da escrita exige habilidades como: dominância manual já estabelecida (área de lateralidade); movimentação dos olhos da esquerda para a direita, domínio de movimentos delicados adequados à escrita, acompanhamento das linhas de uma página com os olhos ou os dedos, preensão adequada para segurar lápis e papel e para folhear (área de coordenação visual e manual), etc. 11 Este trabalho de pesquisa analisa a importância em se verificar quais as atitudes viáveis para a elaboração de atividades, onde sejam coordenadas diferentes possibilidades de ação. Facilitando assim, a prática educacional do educador, enquanto um colaborador para o crescimento intelectual da criança. Esta pesquisa pretende apontar uma relação entre a Psicomotricidade e aprendizagem, contribuindo para que o alfabetizador diversifique seu trabalho dentro da escola. No primeiro capítulo aborda-se a questão da educação como um direito de todos os cidadãos brasileiros, trazendo um breve histórico desta conquista. O segundo capítulo faz uma breve análise sobre a questão do analfabetismo no Brasil e suas conseqüências para o crescimento social e econômico da sociedade. O terceiro capítulo propõe uma alfabetização numa visão libertadora, onde o indivíduo produza um conhecimento com significado, que seja o agente do seu processo de aprendizagem e não um simples depósito de conhecimentos. O quarto capítulo trata do papel do alfabetizador enquanto um ser criativo, transformador, mediador de conhecimentos. No quinto e último capítulo, aborda-se a relação existente entre a Psicomotricidade e aprendizagem, demostrando a importância do movimento no desenvolvimento global e pleno do indivíduo. Alfabetizar significa formar leitores e escritores capazes de expressar seus pensamentos e emoções, não só através das letras mas, também, pela utilização de todas as possibilidades de expressão de corpo. 12 CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO: UM DIREITO DE TODOS A palavra educação que vem do latim “educar”, que significa “tirar de dentro”; está atrelada ao processo produtivo e ao contexto histórico. O que é considerado primordial na educação em determinado período, poderá perder sua importância à medida que as transformações da sociedade aconteçam. A educação é entendida como componente fundamental na constituição da democracia e da equidade, por seu papel na mudança nos padrões culturais vigentes. Hoje, mais do que nunca, discute-se no Brasil e no mundo inteiro, a função que ela desempenha no desenvolvimento das pessoas e da sociedade. A educação sempre esteve presente na sociedade. Os processos educativos possuidores de certo grau de formalização, durante muito tempo, foram exclusivamente das famílias. Desde pequeno o indivíduo é submetido às normas de comportamento do grupo social ao qual pertence. Geralmente, a educação como forma representativa de conduta, é passada de pai para filho, transmitida de geração à geração. Durante o período colonial no Brasil, somente os filhos dos homens pertencentes à classe dominante recebiam educação específica para assumir a direção do clã, da família e dos negócios. Os Jesuítas eram os responsáveis pela educação dessas crianças 13 e eram incumbidos de importar formas de pensamento e idéias dominantes na cultura medieval européia. No período que se seguiu à Independência, a educação deixou de ser um privilégio dos oligárquicos – rurais, sendo também transmitida à uma parte da população que visava alcançar prestígio social e poder político. No período da República, a classe dominante passa a ter acesso às escolas secundárias e superiores, e os filhos dos trabalhadores o direito de freqüentar, apenas, a escola primária e profissional. Com a Revolução Industrial há profundas modificações na estrutura econômica, social e política. A aglomeração humana em cidades e a divisão do trabalho cria a necessidade de fornecer conhecimentos a camadas cada vez mais numerosas para poderem se adaptar ao novo modelo de produção. Surgem novas exigências educacionais, nasce a necessidade da leitura e da escrita, como pré-requisito de uma melhor condição para a concorrência no mercado de trabalho. A educação tem como propósito preparar o educando para o ingresso na divisão social do trabalho. Parte-se do pressuposto que todo o indivíduo possui uma capacidade produtiva que necessita ser desenvolvida e qualificada. Nesse contexto a educação é entendida como o ato de “ instruir e desenvolver, faculdades que habilitem o educando a integrar o mercado de trabalho (...)” (SINGER,1996,p.8). Nesse período, tem-se um modelo de escola fragmentada e excludente, mais centrada na produção do que no saber adquirido. Grandes mudanças ocorreram no mundo econômico, político e social; que vão do aumento do desemprego e do fenômeno da exclusão, inclusive nos países ricos, à manutenção dos níveis de desigualdade de desenvolvimento nos diferentes países, o processo de mundialização e globalização determinam reformas educativas e novas 14 propostas curriculares, que atendam às transformações sócio-econômicas e culturais presentes neste final de século em decorrência dos avanços da ciência e da tecnologia. A educação deixa de ser um direito de uma parte da sociedade brasileira, para constituir-se direito de todos e responsabilidade do Estado. Historicamente o direito à educação para todos os brasileiros foi estabelecido na Constituição de 1824. Na Constituição de 1934 a educação é declarada, pela primeira vez como direito de todos os brasileiros e tarefa dos poderes públicos. Segundo Chauí (1989,p.25) : “A prática de declarar direitos significa, em primeiro lugar, que não é um fato óbvio para todos os homens que eles são portadores de direitos e, por outro lado, significa que não é um fato óbvio que tais direitos devam ser reconhecidos por todos. A declaração de direitos inscreve os direitos no social e no político, afirma a sua origem social e política e se apresenta como objetivo que pede o reconhecimento de todos, exigindo o consentimento social e político.” O reconhecimento da educação como direito de todos, traduz o lado históricocrítico inovador que estendeu-se também à renovação do campo educacional. Documentos de órgãos internacionais apresentam reflexões sobre os grandes esforços realizados por países do mundo inteiro, no sentido de assegurar a todos o direito à educação: “As preocupações com a defesa dos princípios fundamentais extensivos a todos os homens estão expressas na Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada e adotada a 10 de dezembro de 1948, em Assembléia Geral das Nações Unidas, em Paris, França” (MEC, 1999, p.19). 15 A Declaração destaca em um dos seus artigos que toda pessoa deve poder se beneficiar de uma formação concebida para responder às suas necessidades educativas fundamentais e define alguns princípios como: o respeito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à liberdade de pensamento e de escolha de todos os homens. Aprovada em 21 de abril de 1959 na Assembléia Geral das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos da Criança, no seu Princípio 7º, assegura o direito à educação gratuita e obrigatória, ao menos em nível elementar: “Além do desenvolvimento de suas faculdades, de seu juízo pessoal e do sentido da responsabilidade moral e social, um outro objetivo desse princípio da declaração dos direitos da criança a uma participação útil na sociedade” (MEC,1999, p.23). Promulgada em clima de democracia, a Constituição de 1988 trouxe a Nação brasileira, depois de mais de 20 anos de regime autoritário, novo estatuto jurídico para o país e o reconhecimento legal dos direitos coletivos e sociais. “Ela incluiu novos direitos a fim de possibilitar uma situação de maior participação para aqueles que foram historicamente excluídos do acesso aos bens sociais. Prova disso é a introdução de direitos coletivos, a proclamação enfática da igualdade através da dura declaração contra todas as formas de discriminação e o acolhimento dos direitos de minorias” (id;ibid;p.22). A atual Constituição (1988) consagra, no Art.205, a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. E estabelece princípios democráticos tais como: a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar e divulgar o pensamento; o pluralismo de idéias e concepções 16 pedagógicas; a coexistência de instituições públicas e privadas; a existência de ensino público gratuito e a gestão democrática do ensino público. Em 1990, foi realizada a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, , relembrando a educação como direito de todos, homens e mulheres, independe de idade, no mundo inteiro, definiu com as nações as metas para a educação, buscando superar o analfabetismo, a exclusão e a desigualdade social, etc. até o ano de 2000. No entanto, o balanço realizado em abril de 2000 em Dacar, na África, observou que nem os países desenvolvidos conseguiram manter o nível de investimento educacional apresentado em 1990, os investimentos caíram em todos os países, com exceção de Cuba, e as necessidades educacionais se agravaram. Em 1994, o governo da Espanha e a Unesco promoveram a Conferência Mundial sobre Necessidade Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade, tendo como objetivo promover a Educação para Todos, destacando a educação integradora, capacitando as escolas a atenderem a todas as crianças, sobretudo às que têm necessidades educativas especiais. Nesta Conferência foi elaborada a Declaração de Salamanca. A Declaração é inspirada no princípio de integração e no reconhecimento da necessidade de ação para conseguir escola para todos, uma escola democrática que inclua, respeite , promova a aprendizagem e atenda as necessidades de cada um: “Como parte integrante da Declaração de Salamanca, constam as Linhas de Ação sobre Necessidades Educacionais Especiais, cujo objetivo é orientar organizações e governos em suas práticas de maneira que acolham todas as crianças, independentemente das condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou quaisquer outras. Propõe-se, dessa forma, que as escolas acolham tanto as crianças com deficiência como as bem-dotadas, assim como as das mais variadas origens e situações.”(id;ibid,p.9) 17 Sem dúvida os aspectos político- ideológicos presentes nos princípios desta Declaração, propõem uma educação inclusiva, uma sociedade democrática que permita à participação de todos. Dentro de uma concepção de relação universal de trabalho, o Brasil oficializa através da nova LDB n.º 9394/96, a importância de saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos. Os princípios e fins da Educação é estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº9394/96 como : “(...) dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (id,ibid,p.19) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº9394/96, regulamenta os princípios estabelecidos pela Constituição (1988). Uma ação educativa comprometida com a cidadania e com a formação de uma sociedade democrática não excludente deve promover o convívio com a diversidade, não só cultural, mas também as competências e as particularidades de cada um. Aprender a conviver com as diferenças, é a condição necessária para o desenvolvimento de valores éticos, como a dignidade do ser humano, a igualdade e a solidariedade. Sabe-se que os direitos humanos são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem: “A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma grande função prática, que é emprestar uma força particular às reivindicações dos movimentos que demandam para si e para os outros a satisfação de novos carecimentos materiais ou morais; 18 mas ela se torna enganadora se obscurecer ou ocultar a diferença entre o direito reivindicado e o direito reconhecido e protegido”. (id;ibid;p.10) Cabe ressaltar que democratizar a educação é garantir a todos acesso e a permanência na escola, adaptando o sistema educacional às desigualdades sociais e as diferenças. A sociedade brasileira precisa continuar lutando pela garantia do direito adquirido na Constituição de 1988 e transcrito na LDB n.º 9.394; uma educação democrática, gratuita e de qualidade para todos, sem exceção. Na sociedade democrática a educação torna-se o principal meio de instrumentalização do indivíduo para o exercício de sua cidadania. Portanto, cabe ao Estado democrático facilitar o acesso à educação, investir na escola, para que esta instrumentalize e prepare crianças e jovens para as possibilidades de participação política e social. Há na sociedade brasileira a expectativa de uma educação democrática, que promova a inclusão e a integração de todos os brasileiros, não como uma simples proposta a ser analisada, mas como prática efetiva. 19 CAPÍTULO II - O ANALFABETISMO NO BRASIL Nos dias atuais, as sociedades do mundo inteiro, estão cada vez mais preocupadas em promover debates, projetos e estudos para erradicar o analfabetismo. Acreditando que através da educação irão promover o crescimento individual e social. Mas o que é analfabetismo? Segundo Gadotti e Romão (2000), o analfabetismo é a expressão da pobreza, conseqüência inevitável de uma estrutura social injusta. Esse conceito de analfabetismo, deixa claro que não se trata de uma questão pedagógica, mas sim política, econômica e social. Por isso se faz necessário combater as causas do analfabetismo, dando a todos os indivíduos não só o direito a educação, mas as condições necessárias, moradia, emprego, um salário, justiça social, para que estes tenham acesso a escola e aos conhecimentos nela produzidos. 20 No Brasil, o analfabetismo atinge, segundo uma Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 22,8 milhões de brasileiros. A maior parte desses analfabetos concentra-se na Região Nordeste, a mais pobre do país. E sua maior incidência é na população idosa e no sexo feminino. Além do analfabeto que não sabe ler nem escrever, existem os que conseguem de forma rudimentar realizar uma leitura decodificada e escrever algumas palavras, sendo incapazes de interpretar e produzir um texto. Esses são conhecidos como analfabetos funcionais. A fim de combater o analfabetismo o governo aumenta o quantitativo de vagas nas escolas para se fazer cumprir a obrigatoriedade e a universalização do ensino fundamental, face às crianças em idade escolar. Entretanto, observa-se que muitos alunos não concluem o ensino fundamental no período de oito anos, de acordo com a média nacional, mas permanecem na escola mais três anos, isto é, ele precisa de onze anos para terminar a etapa obrigatória; quando já deveria estar cursando o ensino médio. Essa realidade é o reflexo da repetência e da evasão existente tanto no ensino fundamental, como no ensino médio. Um meio didático-pedagógico de sincronizar o ingresso de estudantes com a distorção idade/ano escolar, encontrado pelos sistemas de ensino, foi a criação de classes de aceleração, que permitem que o aluno avance no seu processo de aprendizagem. Outra iniciativa foi a E J A, Educação de Jovens e Adultos, com objetivos e funções específicas. Como atender aos jovens e adultos que por algum motivo não tiveram acesso a leitura e a escrita. 21 “ (...) a Educação de Jovens e Adultos representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela (...)” ( Cury, 2000, p.12). A Educação de Jovens e Adultos tem como proposta realizar uma reparação social. Isto é, restaurar um direito negado; que é o acesso a leitura e a escrita. Em 1997 o governo federal para diminuir o analfabetismo, criou, em parceria com empresas privadas e universidades, o Programa Alfabetização Solidária, vinculado ao programa assistencial Comunidade Solidária. Reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como uma iniciativa de sucesso, o programa até o primeiro semestre de 2001 atendeu cerca de 1,5 milhão de pessoas em 1.005 municípios do Norte e Nordeste e nas áreas metropolitanas de São Paulo, Rio de janeiro e Distrito Federal. O analfabetismo caracteriza a exclusão social, uma vez que o analfabeto vive uma vida restrita e cheia de limitações, eles vivem em condições miseráveis de existência. Isso afeta a auto-estima da pessoa, seus desejos embora simples e ao mesmo tempo inatingíveis trazem sentimentos que o separam das demais pessoas e a tornam apáticas diante dos intelectuais. O índice de analfabetismo no Brasil é maior do que calcula o IBGE e está em torno de 60 milhões, considerando os analfabetos funcionais. O desenvolvimento econômico da sociedade exige dos trabalhadores uma educação que os preparem para maior autonomia e versatilidade ao assumir novos papéis na sociedade. O índice de repetência e de abandono no Brasil, um dos mais altos do mundo, é resultado, principalmente, da dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. 22 Quando se fala em alfabetização, alguns educadores referem-se a capacidade do indivíduo ler e escrever. Entretanto, a alfabetização deve ser transformada num momento de construção de leitores e escritores capazes de expressar e registrar suas idéias, pensamentos e emoções, não só através das letras, mas também pela utilização de todas as possibilidades de expressão do corpo. A escola necessita apropriar-se de uma concepção inovadora no processo de alfabetização, vivenciando práticas criativas. È preciso que a escola alfabetize seus alunos com cores, pincéis, tesouras, muitos papéis, corpo, sons, argila, massinhas, televisão, cinemas, enfim, utilizando todos os recursos que fazem parte do cotidiano dos alunos. Muitos alfabetizadores consideram o lúdico apenas uma forma de prazer, como atividade realizada para “passar o tempo”, desenvolvida de forma mecânica e fragmentada. No entanto, o lúdico permite que o aluno experimente, conheça e crie. É preciso ter claro que o aluno não se expressa em partes; mas que utiliza todo o seu corpo, os sentidos, a emoção, a razão, a percepção mobiliza-se por inteiro. É preciso propor, na alfabetização, um trabalho de construção, priorizando a funcionalidade da escrita, valorizando as experiências da criança; ampliando este universo através do acesso aos conhecimentos culturais acumulados. Na leitura de textos, na vivência com a língua escrita, com a literatura os alunos encontrarão modelos com que dialogar. Afinal, o conceito de criatividade pressupõe, conhecimento, leitura, informação, ampla visão de mundo. Por isso é importante que o professor alfabetizador realize reflexões sobre a importância do uso das diferentes linguagens para ler a realidade: “Quando a escola não alfabetiza seus alunos nas linguagens musical, cênica e tantas outras, impede que a criança conheça 23 aspectos importantes do real através dessas linguagens. A imposição de leituras estereotipadas aprisiona, quase sempre, o imaginário infantil, podendo preparar uma futura derrota no processo de alfabetização” (GARCIA, 1998, p. 18). Para que a criança se expresse por meio de várias linguagens é preciso que o alfabetizador trabalhe com o maior número possível de materiais. É preciso que a escola se aproprie de uma concepção que encaminhe o processo de alfabetização e nesse processo incorpore as linguagens não- verbais. É preciso desconstruir a prática tradicional, possibilitando a construção de outra inovadora, fazendo sentido e propiciando prazer tanto ao educando quanto ao educador. 24 CAPÍTULO III- A ALFABETIZAÇÃO NUMA VISÃO “LIBERTADORA” Encontra-se em Paulo Freire uma perspectiva de alfabetizar de forma revolucionária, que tem como objetivo educar para liberdade. Ele promove uma reflexão sobre a prática pedagógica enquanto formadora dos filhos da classe operária em uma sociedade desigual, mostrando a necessidade de repensar o homem, a sua história, o trabalho, a cultura e a educação. Educação para Paulo Freire é conscientização, práxis social, isto é, momento de reflexão sobre a realidade em que se vive, de onde surgirá um processo permanente a ser trabalhado. Permanente porque será continuamente repensado, transformado, adaptado. A formação de leitores e escritores de histórias, sejam elas individuais ou da própria sociedade, não é uma tarefa fácil, requer do educador desejo de re-alfabetizarse, isto é, reaprender a olhar, buscando uma interpretação crítica do real. 25 Paulo Freire é o teórico latino-americano mais cultuado hoje em universidades dos continentes americanos e europeus, por sua ênfase a libertação, onde a liberdade, vocação natural do ser humano deve ser desenvolvida, pois lhe é negada pelas diferentes formas de opressão. Segundo o autor só é possível vencer essa opressão através do diálogo, caminho para alcançar um conhecimento autêntico e libertador. Suas obras foram traduzidas em mais de dezessete idiomas, foi professor em várias universidades, coordenou seminários e conferências em dezenas de instituições do mundo. O reconhecimento de Freire no exterior é infinitamente superior ao que lhe é destinado no Brasil. Conferências, simpósios e seminários sobre ele vêm acontecendo em diversos países sendo sempre homenageado e idolatrado. Sua filosofia é baseada numa perspectiva “humanista” e contínua sendo capaz de conquistar muita gente por suprir a falta do que é realmente fundamental para o ser humano – o amor. Observa-se que os educadores que ainda sonham tem uma consciência política e são comprometidos com a educação, principalmente dos filhos da classe trabalhadora, encontram em Paulo Freire alternativas de mudança. Muitos educadores ainda trabalham com métodos de alfabetização que já possuem um material didático pronto: cartazes, cartilhas, etc. Sua prática concebe a educação como “bancária”, na qual o professor “quem sabe”, transmite para os alunos todo o conhecimento que já vem pronto e acabado. Nessa perspectiva, a educação construída é de cima para baixo. O educador, de maneira mecânica, preenche o vazio que o aluno, em seu entendimento, possui. A concepção educacional de Paulo Freire é construída a partir da idéia do diálogo entre o educador e o educando, onde há uma troca constante de experiências. 26 Um dos pressupostos desse pensamento é de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho, pois a educação não pode ser uma tarefa isolada. “Assim, como não há homem sem mundo, nem mundo sem homem, não pode haver reflexão e ação fora da relação homem _ realidade. Esta relação homem _ realidade, homem mundo,(...) implica a transformação do mundo, cujo produto, por sua vez, condiciona ambas, ação e reflexão.” (FREIRE, 1979, p.17) A filosofia adotada na maioria das escolas, na alfabetização, é adotar a cartilha. Isso representa a valorização de um saber abstrato que serve apenas para instruir o estudante a decorar associações de consoantes e vogais para depois reconhecer palavras, ler, memorizar e escrever. Paulo Freire pensava numa educação não excludente, na qual as necessidades pessoais dos alunos sejam valorizadas. Não desconsiderando seus hábitos culturais e a sua vida cotidiana. Encontram-se, nas cartilhas e livros de leitura para adultos, os textos que induzem os alunos a pensarem uma realidade social que não é a sua, propondo assim uma leitura irreal desvinculada de sua vida prática, uma verdadeira decodificação, tanto da leitura, como da vida. Como, por exemplo, observa-se no texto abaixo: “A ave voa.” “O bule é da vovó.” Segundo Paulo Freire, ao conhecer o universo do aluno, o professor detém informações que os levarão às palavras geradoras. Essas palavras são carregadas de significados por que trazem intrinsecamente o trabalho criativo de aprender a ler, servindo tanto para a leitura da palavra, como para a leitura da realidade social, bem diferente das palavras que se apresentam nas cartilhas sem significado algum, não proporcionando leituras diversificadas que permitam ao aluno a compreender a “língua” e seu mundo real. 27 No método Paulo Freire a turma de alunos, antes seriada, é substituída pelos “ciclos de cultura,” onde todos ensinam e aprendem, cujas palavras revelam o modo de vida das pessoas, dos lugares onde a alfabetização se realizará. O método de Paulo Freire não representa mais uma ideologia ou uma lei imutável, mas um começo, uma alternativa para um longo processo dentro do sistema de educação em que os trabalhadores sejam libertos da opressão pela classe dominante. Paulo Freire mostra o caminho para superar a visão estática e autoritária que encontra-se no sistema de educação. Paulo Freire (1979, p.35) afirma que: “A sociedade alienada não tem consciência de seu próprio existir. Um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com olhos alheios. Por isso vive uma realidade imaginária e não a sua própria realidade objetiva.” Entretanto, vive-se numa sociedade capitalista, onde as relações de trabalho sociais são basicamente de dominação e onde a alienação está presente em maior ou menor escala. Com isso, segundo Marx (1984, p.156): “O trabalho sob relações de dominação impõe-se ao homem como simples meio de existência, isto é, como uma atividade que tem como único sentido , garantir sua sobrevivência física.” Infelizmente, encontra-se em alguns profissionais a falta de comprometimento com a Educação, o desânimo e a frustração, por terem a consciência de que o seu trabalho não lhes garante meios necessários para investir em seus estudos, na sua profissão, o que consequentemente faz com que o profissional busque outros meios de suprir suas necessidades, não tendo tempo para dedicar-se aos seus alunos. 28 Quando as condições objetivas de trabalho não permitem que o professor se realize como ser humano, aprimorando-se e desenvolvendo novas capacidades, ele-ela acaba não encontrando prazer em seu trabalho. Ganhando mal, com uma jornada de trabalho extensa que não deixa tempo disponível para a preparação de aulas, a correção de trabalhos e atualização, o professor vai se sentindo na maioria das vezes frustrado e desanimado. O trabalho do professor, ou seja, o próprio magistério vai se identificando com uma imagem em declínio, forçado pelos baixos salários e pela deterioração dos equipamentos, dos edifícios e da própria relação entre instituição e governo. É possível perceber, o quanto a profissão do magistério está sendo desvalorizada, desgastada e criticada pela sociedade, pelos governantes, pela escola, pelos pais, alunos e até pelos próprios professores. Com a desvalorização da carreira do magistério, houve um aumento do abandono da profissão, atingindo e influenciando os candidatos ao Curso de Formação de Professores, e fazendo com que em alguns colégios este curso se extinguisse. Olhando para a sociedade brasileira de hoje, constata-se que o professor tem, diante de si, muitas promessas que na maioria das vezes não são cumpridas pelo governo. Este esquece que a relação remuneração-desempenho profissional é questão que merece atenção, uma vez que esta relação se associa a aspectos de auto-estima, ao perfil do profissional e às condições básicas para atuar eficazmente. Questões como baixos salários e direitos, como também vocação e amor à profissão vem sendo discutidas e reavaliadas ao longo dos anos pelos pesquisadores em educação. 29 É necessário que o professor comece a se colocar como trabalhador e profissional que luta por uma política que dignifique o magistério, que ofereça formação e aperfeiçoamento, que resgate sua valorização e reconhecimento; que possibilite a ele uma remuneração digna. É importante que o professor construa uma nova visão onde se veja como profissional, pessoa, educador e cidadão politicamente comprometido com a educação. Como diz Paulo Freire: “É preciso partir de nossas possibilidades para sermos nós mesmos” (1986, p.34). A maioria dos professores tiveram uma formação tradicional e carregam essas características em sua prática pedagógica. Assumir uma postura libertária torna-se um verdadeiro desafio. Para Paulo Freire: “nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas condições culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e não há homens isolados. O homem é um ser de raízes espaço-temporais” (FREIRE & SCHOR,1986,p.16). Portanto, o primeiro passo que um educador precisa dar para assumir uma prática libertadora é conhecer o seu aluno. Descobrir o que motiva esse aluno a conhecer, só se torna possível, segundo Paulo Freire, promovendo atividades como leituras breves, reflexões, debates, experiências, exercícios que não só eduquem ao aluno mas o próprio educador e observando o que o aluno produz no dia-dia. É importante conhecer os níveis cognitivos e afetivos e a linguagem autêntica da sua turma. Para realizar essas atividades é importante que o professor estabeleça um espaço para que o aluno sinta-se encorajado e seguro pra expressar-se de forma autêntica. 30 Sem motivação o aluno simplesmente recusa-se a participar do processo de aprendizagem, torna-se um mero ouvinte ou um depósito de informações sem sentido e utilidade para o seu cotidiano. Cabe ao professor assumir uma postura de aprendiz na sala de aula, despertando nos alunos a curiosidade, a crítica e a capacidade de criar conhecimentos, sua história, meios para solucionar diferentes situações de sua realidade, mediar a produção de conhecimentos e não a reprodução de conteúdos já estabelecidos. A função do educador é interagir com seus educandos para coordenar a troca na busca do conhecimento. Entretanto, para tornar-se mediador de novos conhecimentos o educador necessita de uma formação continuada, isto é, participar de cursos de especialização e extensão oferecidos pelas instituições de ensino superior e todas as atividades de formação propostas pelos diferentes sistemas de ensino. A formação continuada tem por objetivo o desenvolvimento intelectual do professor. O professor deve ser capaz de comunicar-se, criar um espaço pedagógico de prazer, descoberta e transformação. Segundo Freire (1991,p.103), uma qualidade indispensável a um bom professor é ter a capacidade de começar sempre, “de fazer, de reconstruir, de não se entregar, de recusar burocratizar-se mentalmente, de entender e de viver a vida como processo.” É de grande importância que os professores estejam conscientes do seu fazer pedagógico, do seu poder de transformação. Enfim, precisam estar comprometidos com a sua prática, qualificando-se e aprimorando os seus conhecimentos de forma que venham a estar sempre prontos a recomeçar sua busca. “A educação deve ser integradora _ integrando os estudantes e os professores numa criação e recriação do conhecimento comumente partilhados. O conhecimento, atualmente, é produzido longe das salas de aula, por pesquisadores, acadêmicos, escritores de livros didáticos e comissões oficiais 31 de currículo, mas não é criado e recriado pelos estudantes e pelos professores nas salas de aula” (FREIRE e SCHOR,1986,p.19). Não existe desespero maior do que trabalhar um texto em sala de aula e perceber que os alunos não participam, ter que conviver com o silêncio do educando. Esse silêncio, segundo FREIRE e SCHOR, é produzido pelas relações sociais estabelecidas em sala de aula. O professor precisa promover atividades que desenvolva o diálogo, a reflexão, o ato de pensar, criar novos horizontes, mudar a praxis. É essa educação que liberta o homem e o torna um agente da história e não um resultado dela. “Através da educação libertadora, não propomos meras técnica, para se chegar à alfabetização, a especialização, para se conseguir qualificação profissional, ou pensamento crítico. Os métodos da educação dialógica nos trazem a intimidade da sociedade, à razão de ser de cada objeto de estudo. Através do diálogo crítico sobre um texto ou momento da sociedade, tentamos penetrá- lo, desvendá- lo, ver as razões pelas quais ele é como é o contexto política e histórico em que se insere (...) O curso libertador “ilumina” a realidade no contexto do desenvolvimento do trabalho intelectual sério.” (id;ibid;p.20) A educação libertadora é aquela que permite pensar criticamente, refletir sobre a realidade e transformar a sociedade. Os educadores precisam utilizar o espaço da sala de aula para produzir uma cultura crítica, evitando que sua formação tradicional impeça que a prática educativa assuma uma prática libertadora, pois: “os professores tradicionais tornarão a realidade obscura, quer dando aulas expositivas, quer coordenando discussões. O educador libertador iluminará a realidade mesmo com aulas expositivas. A questão é o conteúdo e o dinamismo da aula, a abordagem do objetivo a ser conhecido." (id;ibid,p.21) Os professores devem considerar os aspectos econômicos e sociais da realidade em que estão inseridos, ter consciência de que sua prática é uma ação social. É necessário esse profissionais engajar-se na luta pela consciência social e libertação dos 32 nosso alunos, nos renovando para iluminar uma sociedade onde falta nitidez e oculta-se com freqüência a realidade. “O professor, portanto, não é o ponto final do desenvolvimento que os estudantes devem alcançar. Os estudantes não são uma frota de barcos tentando alcançar o professor que já terminou e os espera na praia. O professor também é um dos barcos da frota.” (id;ibid,p.66) É hora de assumir as responsabilidades que se tem nesses barcos, pois embora não sejamos donos deles, contribuímos para que essa frota siga rumo à libertação e transformação. CAPÍTULO IV- REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO ALFABETIZADOR A Escola convive no dia-à-dia, com crianças carentes, tanto de assistência social quanto de família. Presencia-se a injustiça social e a reprodução das desigualdades produzidas no sistema capitalista. A Escola, instituição cuja tarefa é fornecer o capital cultural a todos os indivíduos, é vista pelo capitalista como mais um instrumento para garantir a continuidade da ideologia burguesa na sociedade e vista por alguns trabalhadores como meio de ascensão social, de apropriação de bens e conforto. Não são poucas vezes que os pais orientam seus de filhos dizendo: “Estude, para amanhã você ser alguém na vida” ou ainda “Eu não dei valor aos estudos por isso não consegui uma vida melhor”. E concluem: “O que eu não tive eu quero dar o meu filho a oportunidade de estudar e ser alguém na vida.” Entretanto, sabe-se que o fato do aluno estar na Escola não garante a ele os meios necessários para apropriar-se de bens materiais, pois vivemos numa 33 sociedade dividida em classes, cujos bens materiais e culturais não são distribuídos de igualitária. A Escola não existe independente do sistema, pelo contrário, está inserida nessa realidade e faz parte dela. Marx defendia uma Escola em que o filho do operário pudesse adquirir o capital cultural e através desse mesmo capital, as mesmas oportunidades dos filhos dos burgueses. Uma Escola única! “Bourdieu afirma que o poder exercido no sistema é o poder simbólico que supõe a cumplicidade ativa dos que a ele se submetem” (CASTRO, 1995, p.106). Por essa lógica, entende-se que dentro da escola há um poder vertical, onde todos que dela participam professores, alunos, funcionários, têm papel pré-determinado. Apoiada no desenvolvimento da ação pedagógica, a Escola atua na aquisição de conteúdos na formação de valores e na formação da personalidade dos indivíduos. Isto se dá através da doutrinação educacional, assim como através de uma série de informações adequadas ao modelo capitalista. Efetiva-se um processo claro de reprodução, através do qual a classe dominante impõe conceitos e comportamentos aos quais os indivíduos devem se ajustar. O poder pedagógico, similarmente ao que ocorre na sociedade, efetiva-se a favor do bom funcionamento do sistema social. Há portanto, uma lógica e um poder nas instituições recompõe o social. Inseridos em tal lógica e submetidos a essa doutrinação, os usuários da escola são levados a seguir o estabelecido, ou seja, são ajustados as rígidas normas de controle. É fácil perceber que alguns profissionais não se comprometem e não se responsabilizam pelo aluno que está ajudando a formar; apenas seguem o processo. 34 O aparelho escolar contribui para a reprodução das relações sociais quando divide os indivíduos em duas massas desiguais. Esse fato advém da divisão ocorrida no trabalho, fruto da revolução industrial, que divide o homem e funções de forma hierárquica, garantindo a alienação do trabalhador em dois patamares distintos, pensar e executar são tarefas diferenciadas. O trabalhador espera que a Escola forneça a seus filhos condições iguais de competição no mercado de trabalho ou formação intelectual que lhes proporcionem melhores campos de trabalho. Diante dessa realidade, a ação do professor definirá se sua prática pedagógica contribuirá para a formação crítica do aluno, ou simplesmente reproduzirá as forças hegemônicas do capital. Para trabalhar na área da Educação é necessário muita dedicação, eficiência, senso crítico, auto-avaliação continua e espírito de mudança do profissional. Para alfabetizar é preciso acompanhar no dia-a-dia o desenvolvimento das crianças, propiciando- lhe atividades criativas de acordo com o seu nível mental. Devese trabalhar com atividades que atendam o todo da criança, isto é, o psicomotor, o afetivo, o cognitivo, o social, o econômico, o político e o cultural, analisando o ,meio ambiente e preenchendo o seu vazio. “É inerente à condição humana o agir com base na reflexão. Se as nossas ações são conscientes, então agimos com intenções definidas. Permanentemente, ponderamos sobre a razões e as conseqüências de nossos atos” (HOFFMANN, 1993, p.33). O professor não pode se distanciar das características principais dos seus alunos. Há uma importância de identificação entre professor e aluno. A criança de alfabetização reflete a imagem da professora com uma afeição materna. Então a professora deve dar 35 às crianças uma espécie de voto de confiança, oferecendo- lhes espaço para contribuir, inventar e colocar seus problemas. “Se aceitamos que o educando é um sujeito que se alfabetiza ao interagir com seu próprio processo de alfabetização, o professor deve ser aquele a quem devem ser oferecidos instrumentos que resgatem sua reflexão teórica sobre sua prática, para que ele possa construir sua trajetória juntamente com a de seus educandos” (FREIRE, 1992, p.24). O professor e o aluno devem construir juntos o mesmo saber, para que haja o prazer de aprender tanto da parte do professor, quanto do aluno. Nesse caminhar juntos se constitui a verdadeira base da democracia. A ineficiência da escola em alfabetizar, a inadequação da proposta pedagógica e didática para atender, principalmente, as classes populares são alguns fatores responsáveis pela produção do fracasso na alfabetização. Para erradicar o analfabetismo buscou-se realizar um projeto que não recaísse nas contradições e ineficiência dos projetos anteriores desenvolvidos no país. A proposta construtivista direciona o ensino da leitura e da escrita de uma forma completamente diferente da que vigorou por muito tempo; consiste num posicionamento pessoal, aberto e progressista, numa perspectiva comprometida com a transformação social com liberdade e solidariedade porque estas conquistas se concretizam numa nova visão do aprendiz, porque ele constrói a sua versão de realidade que é considerada a partir da sua relação com o outro. Na proposta da alfabetização construtivista a avaliação que caminha na construção da leitura e da escrita deve ser acompanhada pelo professor ao longo de todo o ano. A postura investigatória do professor que alfabetiza numa proposta construtivista, é constante em sala de aula. Cada pessoa envolvida nesta aprendizagem tem um processo singular. Mesmo quando o professor propõe uma atividade, que sirva 36 para todos os níveis de entendimento de escrita e leitura, terá presente que a representação e forma de encaminhar a atividade também será singular e diferenciada. O projeto de alfabetização construtivista estabelece que o professor alfabetizador tenha formação específica sobre as teorias constituintes pós-piagetianas e assuma uma postura ideológica, social e política progressista. As funções deste profissional vêm passando por reformulações profundas; o que se esperava dele há algumas décadas não corresponde mais ao que se espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têm indicado a necessidade de uma formação mais abrangente e unificadora para profissionais de educação e de uma restruturação dos quadros de carreira que leve em consideração os conhecimentos já acumulados no exercício profissional, como possibilite a atualização profissional. A LDB 9.394/96 determina que, num prazo de dez anos, todos os professores de educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental tenham formação em nível superior. De acordo com o Censo Escolar realizado em 1996 o número de professores que possuem escolaridade inferior ao ensino fundamental sofreu uma redução de 11,8% de 1991 a 1996. No mesmo período verificou-se que o número de professores com ensino superior aumentou em 14,4%. Esse levantamento demonstrou que 91% dos professores do ensino fundamental possuem formação secundária completa ou ensino superior. O trabalho direto com crianças exige que o professor tenha uma competência polivalente, isto é, uma formação bastante ampla devendo trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. O professor deve tornarse um aprendiz, capaz de refletir constantemente sobre sua prática buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. 37 A implementação de uma proposta curricular de qualidade depende, principalmente dos professores que trabalham nas instituições. É necessário que o professor alfabetizador promova um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita nas quais as crianças tenham oportunidade de participar. Isso é importante principalmente quando a criança provêm de comunidades pouco letradas, em que têm pouca oportunidade de presenciar atividades de leitura e escrita. Nesse caso o professor torna-se uma referência tendo o compromisso de trabalhar os diversos textos utilizados nas práticas sociais dentro da instituição, a fim de ampliar o acesso ao mundo letrado, buscando a igualdade de oportunidades. É necessário compreender que expor as crianças às práticas de leitura e escrita está relacionado com a oferta de oportunidades de participação em situações nas quais a escrita e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais tenham uma função real de expressão e comunicação. A experiência com textos diversificados é fundamental para a construção de um ambiente alfabetizador. A seleção do material deve ser feita pela necessidade de iniciar as crianças no contato com os diferentes texto se de facilitar a observação de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas diferentes funções e características sejam consideradas. O professor, de acordo com seus projetos e objetivos, deve escolher com que gêneros vai trabalhar de forma mais contínua e sistemática, para que as crianças os conheçam bem. Alguns textos são adequados para o trabalho com a linguagem escrita nessa faixa etária, como, por exemplo, receitas culinárias; regras de jogos; textos impressos em embalagens, cartas, revistas, textos de enciclopédia etc. 38 O trabalho do professor alfabetizador deve ser organizado sob a forma de desenvolvimento de projetos. Mais que direcionar as atividades do grupo, o professor deve escutar, acolher, interpretar, propor, organizar, orientar e compartilhar decisões com os alunos. Precisa ajudá- los a encontrar caminhos próprios para desvendar a realidade que s cerca e socializar sua descobertas. CAPÍTULO V- A RELAÇÃO ENTRE A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM A Psicomotricidade é considerada uma nova ciência que vem cuidando do indivíduo a partir de seu corpo e de seus movimentos. Trata-se do estudo da integração das funções motrizes e mentais sob o efeito da educação e do desenvolvimento do sistema nervoso. As atividades psicomotoras têm como objetivos principais permitir o indivíduo vivenciar os estilos sensoriais para distinguir as partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas, assim como desenvolver a organização espacial e temporal adquirindo os pré-requisitos necessários à aprendizagem da leitura e da escrita. 39 Percebe-se que a relação entre Psicomotricidade e aprendizagem é muito estreita, já que dentro do processo do aprender está a leitura e escrita que são indispensáveis para o desenvolvimento intelectual do aluno e que requerem funções psicomotoras para desempenhar boas funções. Os aspectos psicológicos e motores correspondem a um ação de combinar diversos grupos musculares, através do sistema nervoso central, para a execução de uma série de movimentos ou ações com o máximo de eficiência e economia de energia. A deficiência de movimentos, na primeira infância, podem causar falhas na coordenação motora, por isso deve-se oferecer o máximo de experiências de movimentos coordenados à criança. “A educação psicomotora é a educação da criança através de seu próprio corpo e de seu movimento, proporcionando gradativamente o controle até o domínio de movimentos mais complexos” (COSTE,1981,p.85). É importante esclarecer que a aplicação dos conteúdos trabalhados deverá respeitar a individualidade e o desenvolvimento psicológico de cada criança. A educação psicomotora significa uma ação pedagógica e psicológica que utiliza os meios da Educação Física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança. Objetiva-se fazer a aproximação entre estas duas concepções, porque estes termos juntos não são domínios justapostos, mas sim de unidade funcional, tradução da unidade psicossomática do ser humano. A criança ao iniciar sua vida depende muito da mãe, pois o contato com a mãe é a primeira forma de conhecimento que ela estabelece com outro ser além dela e uma de suas primeiras experiências afetivas, também ao sugar o seio ela exercita a habilidade motora. 40 Antes do surgimento de uma linguagem verbal, todos os esquemas motores básicos estão formados, porque ela já pode ver, ouvir, cheirar, andar, correr, etc. A educação promovida pelo movimento, para desenvolver , facilitar e reforçar a aprendizagem escolar, é um princípio universal reconhecido por médicos, psicólogos, educadores e especialistas. A importância do movimento como elemento de construção da personalidade e do desenvolvimento motor da criança, resultado, de um lado, pelas experiências vividas e por outro lado, da maturação fisiológica é reconhecida por alguns estudiosos, como Skinner (1991,p.21) que diz: “O comportamento é uma característica primordial dos seres vivos. Quase o identificamos com a vida propriamente dita. Qualquer coisa se mova é tida como viva, especialmente quando o movimento tem direção ou age para alterar o ambiente. O movimento acrescenta verossimilhança a qualquer modelo de organismo.” A implicação e aceitação das idéias de Skinner(1991) para a formulação de uma tecnologia de instrução no domínio psicomotor, visando à criança pré-escolar e escolar através de um programa educativo- físico, tornam-se adequadas às características do ensino da Educação Física, principalmente no que se refere ao princípio da progressão pedagógica, pois a aprendizagem de habilidades motoras físicas é efetivada por meio de objetivos específicos, que aproximam o aluno, gradativamente, do comportamento desejado. “...a concepção de aprendizagem de Skinner permite estabelecer comportamentos finais, procedimentos de modelagem por aproximações sucessivas, dos mais simples para os mais complexos, condições ambientais(estímulos) de comportamento, integrando o organismo ao meio, bem como programas e controlar os reforçadores que ajudam o processo ensinoaprendizagem” (HURTADO, 1985, p.21). 41 O desenvolvimento da coordenação motora é de grande importância para a atividade escolar. Pode-se considerar quatro tipos de aspectos motores: Fino - É uma coordenação segmentar, normalmente com a utilização das mãos, exigindo precisão nos movimentos para a realização de tarefas complexas como: v recortar, colar; v pintar com os dedos, v encaixar peças; v manipular pequenos objetos; etc. Viso-motor - É a habilidade de coordenar a visão com movimentos do corpo. Na ausência de uma adequada coordenação viso-motora, a criança se mostra desajeitada em todas as suas ações apresentando dificuldades na escola. O desenvolvimento de uma boa coordenação motora geral é indispensável como pré-requisito. Algumas atividades contribuem para o desenvolvimento desta habilidade: v rolar a bola sobre uma linha no solo; v driblar uma bola sobre a linha no solo; v arremessar uma bola para cima e em seguida segurá- la antes que toque o chão; v tentar acertar em alvos fixos e posteriormente móveis, utilizando bolas; 42 v correr, lançar a bola para o colega e recebê- la novamente durante a corrida; v cabecear uma bola; v conduzir uma bola com os pés em corrida por entre obstáculos. Grosseiro – É existente entre as grandes massas musculares. Para a criança é mais fácil fazer movimentos simétricos e simultâneos, pois só numa segunda etapa é que ela movimentará os membros separadamente. como: v saltar ou saltitar sobre objetos; v corrida lateral; v rolar para frente e para traz v executar seqüências de movimentos com braços e pernas simultâneos ou não, simétricos ou assimétricos, numa segunda fase, de forma lenta até realizá- los em velocidade. Ao realizar o aspecto grosseiro deve-se observar que para a criança é mais fácil fazer movimentos simétricos e simultâneos, pois só numa segunda parte é que ela movimentará os membros de forma separada um dos outros. E, ainda, interromper subitamente um movimento, é difícil, ma esse controle muscular é indispensável para, futuramente, facilitar a sua caligrafia e a concentração necessária à aprendizagem escolar. Áudio-motor – É elaborado através de atividades rítmicas, em geral, sendo a capacidade de transformar em movimentos um comando sensibilizando pelo aparelho auditivo. Atividades como: 43 v driblar uma bola de acordo com o ritmo da música; v brinquedos cantados; v macroginástica; v deslocar-se pelo espaço de acordo com determinado ritmo; v saltar, saltitar de acordo com as batidas do tambor; v executar diversas posições e mudá- las à medida que o ritmo variar, etc. Percebe-se que a lateralização processa-se na criança ao mesmo tempo que a localização de seu próprio corpo, organização no espaço. E, que só a partir do momento em que seus movimentos é que há a combinação e organização numa intenção motora justificando a presença de um lado predominante que irá se ajustar á motricidade. Lateralidade é a capacidade de integrar a relação sensório- motora com o ambiente através da dominância dos pés, das mãos e dos olhos. Somente em conseqüência da combinação e organização dos movimentos numa intenção motora é que se impõe e justifica-se a presença de um lado predominante, que ajustará a motricidade. A lateralidade está presente em todos os níveis de desenvolvimento da criança, mas somente será definida, à medida em que esta criança atravessar todas as fases de seu desenvolvimento. A coordenação viso-motora, a organização das percepções táteis e visuais, é de grande importância para o desenvolvimento infantil. 44 É importante que as crianças realizem atividades que utilizem ambos os lados do corpo para favorecer o desenvolvimento máximo na eficiência dos movimentos. Lembrando que não se deve impor à criança a escolha de uma das mãos, e sim favorecer a escolha feita pela criança, já que uma lateralidade contrariada contribuirá para o surgimento de problema na aprendizagem. Uma das condições indispensáveis para o aprendizado da leitura é o desenvolvimento da capacidade simbólica e analítica, uma linguagem e desenvolvida e o desejo de ler. As capacidades de seriar, ler e transcrever da esquerda para a direita e de se concentrar depende em parte do equilíbrio afetivo e em parte do esquema corporal na medida em que este traduz equilíbrio e controle do corpo e da respiração. Entende-se como esquema corporal, a imagem, o uso e o conhecimento que se desenvolve do corpo em movimento ou em posição estática, em relação aos objetos e espaço ao seu redor. É a consciência que o indivíduo tem do próprio corpo, suas partes , seus movimentos, posturas e atitudes. Quanto à escrita, pode-se considerar o grafismo como uma coordenação de movimentos finos que vão sendo treinados desde o início do pré-escolar, através de atividades que desenvolvam a coordenação motora fina( coordenação dos dedos e das mãos). As condições gerais para se chegar à escrita incluem um bom controle muscular, independência segmentária, coordenação visual motora e organização espaço-temporal. O controle muscular começa com a inibição dos movimentos globais até atingir a coordenação dos movimentos finos, através do manuseio de objetos cada vez menores. A independência dos braços em relação ao tronco e sobretudo da mão em relação ao antebraço é uma independência fundamental no início da vida da criança. Após ter adquirido esta capacidade, a criança poderá exercitar uma coordenação funcional da mão através também de movimentos de preensão e na pressão exercida 45 sobre o instrumento dependerá do relaxamento e este é trabalhado através da vivência de atividades adequadas. O melhor meio de ajudar a criança é fazer com que ele se sinta, ou melhor, perceba o seu corpo estático ou em movimento. A teoria construtivista de Emília Ferreiro visa transformar o processo de alfabetização; além de contribuir para o desenvolvimento psicomotor da criança em todos os níveis. Essa teoria surgiu trazendo idéias modernas apoiadas a nível pedagógico, o que realmente facilita a aplicação do novo estilo na alfabetização. “Nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objetivo dessa aprendizagem. São provavelmente essas práticas (mais do que métodos em si) que têm efeitos mais duráveis a longo prazo, no domínio da língua escrita como em todos os outros. Conforme se coloque a relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e conforme se caracterize a ambos, certas práticas aparecerão como “normas” ou como “aberrantes”. É aqui que a reflexão psicopedagógica necessita se apoiar em uma reflexão epistemológica.” (FERREIRO, 1992, p.12) Um outro fator fundamental é a valorização do conteúdo que a criança traz para a escola, adquirindo no meio ambiente em que vive. No construtivismo, há uma integração entre os conhecimentos anteriores e novos, inserindo-a em contexto mais amplos e socialmente determinantes, o que certamente contribui para uma transformação na escola. Outro projeto que vem beneficiando a prática pedagógica é o Bloco Único, uma nova proposta de trabalho em que mostra a alfabetização devendo iniciar antes da matrícula da criança na escola, ou melhor, ela começa a interagir com a escrita que existe no mundo fora da escola. 46 Dentro desse processo o professor deverá compreender os modos singulares de cada criança avançar-recuar-avançar na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento, de modo específico e geral. Só a partir dessa compreensão o professor poderá propor reflexões, trabalhos, estudos e atividades que estejam adequados à realidade e às necessidades da criança e da turma como um todo. O professor precisa aprender a propor um trabalho diversificado para que proponha novos desafios e suas crianças em condições diferentes de aprendizagem e de desenvolvimento. CONCLUSÃO É necessário que o processo educativo dê atenção especial aos domínios afetivo e motor, não só como meio de facilitação de aprendizagens cognitivas, como também com o objetivo de promover no aluno de alfabetização o desenvolvimento de aspectos fundamentais para sua participação social. Observa-se que quando se encaminha os conceitos significativos com relação do domínio afetivo verifica-se a inter-relação e interdependência dos comportamentos ao domínio afetivo, cognitivo e psicomotor, de modo a ficar evidente que me cada 47 momento do processo educativo deve-se dar atenção a todos eles, com o simples propósito de se promover o desenvolvimento integral e harmonioso do educando. Cabe ao educador dar mais atenção ao aluno enquanto pessoa e ao processo de sua aprendizagem, do que aos conteúdos a serem transmitidos em período de tempo determinado e para regulamentos a serem cumpridos, bem como, levá-los a analisar as atitudes pessoais em relação aos efeitos que exercem sobre a formação do educando, para, controlando-os empregá-los corretamente. Torna-se necessário também compreender as influencias que o relacionamento com os pais e as pessoas do meio em que vivem são marcantes no desenvolvimento da aprendizagem, principalmente devido ao fato de absorverem e refletirem as diferenças de cultura e classe social. O educador precisa refletir sobre a relação contraditória existente entre a liberdade de ação e escolha que vivem os educadores ao brincar e a intervenção do adulto. Esta reflexão poderá auxiliar o educador a inserir o jogo ou a brincadeira infantil no dia-a-dia de construção do conhecimento. Entretanto é necessário que o educador valorize a brincadeira das crianças, saiba utilizar os espaços da escola, reconheça os objetivos dos brinquedos, dos livros, dos materiais de sucata e oferecer às crianças condições para que explorem e utilizem os mesmos. A Escola deve tornar-se um espaço onde a criança invente, imagine e vivencie situações lúdicas. Pois é brincando que a criança conhece a si e ao mundo e vai descobrindo suas próprias possibilidades e conhecendo os elementos do mundo exterior através da comparação de suas características, tais como, macio, duro, leve, pesado, grande, pequeno, etc.. 48 Uma vez percebendo que a Educação Psicomotora exerce papel determinante no desenvolvimento infantil a escola não pode ignorar tão valioso recurso em seu planejamento curricular. Concluímos que o movimento o movimento impulsiona o indivíduo em direção ao seu desenvolvimento, portanto, propiciar o jogo, a brincadeira, significa oferecer situações que desafiam o raciocínio, desequilibrando esquemas de ação já estabilizados e gerando outros cada vez mais diferenciados. Sabe-se que a construção de uma escola democrática não depende apenas da aplicação de políticas de financiamento, mas também passa pela adoção de uma proposta curricular que garanta um trabalho pedagógico de qualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica. Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1994. ALVES,Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. RJ:Wak, 2003. ALVES, Gilberto Luiz. Quatro teses sobre a Produção da Escola Pública Contemporânea. Revista do Mestrado em Educação - UFMS. 49 ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez,1984. ANDRADE, M.L.A. Distúrbios Psicomotores: Uma visão crítica. Coordenadora: C.R. 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ANEXOS 56 PRIMEIRA ATIVIDADE CULTURAL: ORQUESTRA SINFÔNICA NACIONAL – TEATRO DA UFF 57 SEGUNDA ATIVIDADE CULTURAL: SUCESSOS DA BROADWAY TEATRO DA UFF TERCEIRA ATIVIDADE CULTURAL: CELEBRARE –PRAIA CLUBE SÃO FRANCISCO 58 QUARTA ATIVIDADE CULTURAL: ESPETÁCULO “NÃO FUI EU” TEATRO ABEL QUINTA ATIVIDADE CULTURAL: INTIMIDADE INDECENTE TEATRO DA MAISON DE FRANCE 59 SEXTA ATIVIDADE CULTURAL: JERRY ADRIANI- TEATRO UFF SÉTIMA ATIVIDADE CULTURAL: O LAGO DOS CISNES BALLET E ORQUESTRA DO THEATRO MUNICIPAL DO RJ 60 OITAVA ATIVIDADE CULTURAL: A ÓPERA DO MALANDRO TEATRO CARLOS GOMES ÍNDICE INTRODUÇÃO............................................................................................................10 CAPÍTULO I- A EDUCAÇÃO COMO UM DIREITO DE TODOS.........................12 CAPÍTULO II- O ANALFABETISMO NO BRASIL...............................................19 CAPÍTULO III- A ALFABETIZAÇÃO NUMA VISÃO “LIBERTADORA”..........24 61 CAPÍTULO IV- REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO ALFABETIZADOR............33 CAPÍTULO V- A RELAÇÃO ENTRE A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM.......................................................................................................38 ASPECTOS MOTORES..............................................................................................40 FINO.............................................................................................................................40 VISO-MOTOR..............................................................................................................41 GROSSEIRO.................................................................................................................41 ÁUDIO-MOTOR...........................................................................................................42 CONCLUSÃO...............................................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................48 ANEXOS........................................................................................................................55 Primeira Atividade Cultural............................................................................................56 Segunda Atividade Cultural............................................................................................56 Terceira Atividade Cultural.............................................................................................57 Quarta Atividade Cultural...............................................................................................57 Quinta Atividade Cultural...............................................................................................58 Sexta Atividade Cultural.................................................................................................58 Sétima Atividade Cultural...............................................................................................59 Oitava Atividade Cultural................................................................................................59 ÍNDICE............................................................................................................................60