UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA NATÁLIA ALBERTO ALVES BRANDÃO Prevalência e fatores associados às infecções pelos vírus das hepatites B e C em pacientes HIV positivos, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás. Goiânia 2013 TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico: 2. Identificação da Tese ou Dissertação Autor (a): Natália Alberto Alves Brandão E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X] Dissertação [X]Sim [ ] Tese [ ] Não Vínculo empregatício do autor Agência de fomento: Sigla: País: Brasil UF: GO CNPJ: Título: Prevalência e fatores associados às infecções pelos vírus das Hepatites B e C em pacientes HIV positivos, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás Palavras-chave: HIV, Hepatite B, Hepatite C, Coinfecção Título em outra língua: Prevalence of hepatitis B virus and hepatitis C virus infection and associated factors among HIV positive patients assisted by public health system in GoiâniaGoiás Palavras-chave em outra língua: HIV, Hepatitis B, Hepatitis C, coinfection Área de concentração: Epidemiologia Data defesa: (06/05/2013) Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical e Saúde Pública Orientador (a): Profa. Dra. Marília Dalva Turchi E-mail: [email protected] Co-orientador (a):* Profa. Dra. Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer (CPF: 067.454.581-87) E-mail: [email protected] *Necessita do CPF quando não constar no SisPG 3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [X] SIM [ ] NÃO1 Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação. O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. ___________________________ Assinatura do (a) autor (a) Data: ____ / ____ / _____ 1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo. ii NATÁLIA ALBERTO ALVES BRANDÃO Prevalência e fatores associados às infecções pelos vírus das hepatites B e C em pacientes HIV positivos, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública. Orientadora: Marília Dalva Turchi Co-orientadora: Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer Goiânia 2013 iii Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP) GPT/BC/UFG B817p Brandão, Natália Alberto Alves. Prevalência e fatores associados às infecções pelos vírus das Hepatites B e C em pacientes HIV positivos, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás [manuscrito] / Natália Alberto Alves Brandão. - 2013. xvii, 81 f. : figs, tabs. Orientadora: Profª. Drª. Marília Dalva Turchi; Coorientadora: Profª. Drª. Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, 2013. Bibliografia. Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas. Anexos. 1. HIV/AIDS – Hepatites – Goiânia (GO) 2. Pacientes aidéticos – Hepatites – Rede pública – Goiânia I. Título. CDU:616.98:578.828HIV:616.36-002(817.3) iv I Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Aluno (a): Natália Alberto Alves Brandão Orientador (a): Profa. Dra. Marília Dalva Turchi Co-orientador (a): Profa. Dra. Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer Membros: 1. Profa. Dra. Adriana Oliveira Guilarde 2. Profa. Dra. Marília Dalva Turchi 3. Prof. Dr. Rodrigo Sebba Aires Data:06/05/2013 v “Nunca tenha certeza de nada, porque a sabedoria começa com a dúvida.” (Sigmund Freud) vi AGRADECIMENTOS À Deus, por me dar forças para enfrentar as dificuldades e coragem para seguir em frente. Por me mostrar que somos pequenos demais para compreender a imensidão de seus planos em nossas vidas. Por me ajudar a compreender, finalmente, que tudo acontece em seu tempo e que, esse tempo, nem sempre é o nosso. Aos meus pais, Divina Tereza Brandão e Júlio Alberto das Dores, pela dedicação de suas vidas. Pelo estímulo aos meus estudos em todas as etapas percorridas. Por me mostrarem a importância de buscar o meu melhor. Por acreditarem que eu poderia alcançar meus objetivos. Por me apoiarem e aceitarem minhas escolhas. Obrigada pelo carinho, cuidado e amor incondicional. Tudo o que busco é para vocês, tudo o que alcanço é por vocês. Aos meus irmãos, Júlio Alberto Filho e Alexandre Alberto das Dores, pela admiração que tantas vezes demonstraram por mim, fazendo com que eu acreditasse que sou capaz mesmo quando a dúvida pairava em meus pensamentos. Ao meu marido, Eduardo Barros Marques, por aceitar que eu me ausentasse física e emocionalmente em diversos momentos em que precisei me dedicar ao mestrado. À todos os meus amigos e familiares pelo reconhecimento dos meus esforços e pelas palavras de estímulo e motivação. Pela compreensão da minha ausência em diversos momentos. Aos colegas de trabalho do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, por compreenderem os momentos em que precisei me ausentar. Pelo estímulo e apoio para que eu concluísse da melhor forma mais uma etapa. À professora Dra. Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer, por me guiar em meus primeiros passos na vida científica. Pelos três anos de aprendizado na iniciação científica, que se estenderam até os dias atuais. Por me apoiar em minhas escolhas e pela amizade de sempre. vii À Profa. Dra. Marília Dalva Turchi, minha orientadora, que aceitou a indicação para minha orientação e me recebeu de braços abertos. Pelos ensinamentos transmitidos e pela paciência. Por compreender e aceitar a importância do equilíbrio entre trabalho, mestrado e vida pessoal para mim. Pela amizade e dedicação de em todos os momentos. Aos bolsistas de iniciação científica e aos estagiários que contribuíram na fase inicial do trabalho. Aos pacientes que aceitaram participar do estudo com presteza e dividiram um pouco de suas histórias comigo. Este foi meu maior aprendizado pessoal. Aos funcionários do Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica de Goiânia que me auxiliaram no recrutamento de pacientes e acolheram a mim e a meu projeto com boa vontade. À todos que contribuíram de alguma forma, como agentes facilitadores para a execução deste projeto e concretização de um sonho. viii SUMÁRIO TABELAS, FIGURAS E ANEXOS ................................................................................. xi SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................................xiv RESUMO .......................................................................................................................xvi ABSTRACT ................................................................................................................. xvii 1. INTRODUÇÃO .........................................................................................................1 1.1. Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana .................................................1 1.1.1. Aspectos virológicos e imunológicos ............................................................1 1.1.2. Aspectos epidemiológicos .............................................................................2 1.2. Infecção pelo vírus da hepatite B ............................................................................4 1.2.1. Aspectos virológicos e imunológicos ................................................................4 1.2.2. Aspectos epidemiológicos.................................................................................6 1.3. Infecção pelo vírus da hepatite C ........................................................................... 10 1.3.1. Aspectos virológicos e imunológicos .............................................................. 10 1.3.2. Aspectos epidemiológicos............................................................................... 12 1.4. Coinfecção pelo HIV, HBV e HCV: aspectos imunopatológicos e epidemiológicos 15 2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................22 3. OBJETIVOS ................................................................................................................ 23 4. MÉTODOS .................................................................................................................. 24 4.1. Delineamento: Estudo transversal ..........................................................................24 4.2. População e local de recrutamento .........................................................................24 4.2.1. Parâmetros para o calculo amostral ................................................................ 24 4.3. Investigação de fatores de risco ............................................................................. 25 4.4. Coleta de material biológico e testes laboratoriais .................................................. 25 4.4.1. Testes sorológicos .......................................................................................... 26 4.4.1.1. ELISA HBsAg ......................................................................................... 28 4.4.1.2. ELISA anti-HBc ...................................................................................... 28 4.4.1.3. ELISA anti-HBs....................................................................................... 29 4.4.1.4. ELISA anti-HCV ..................................................................................... 29 4.4.2. Testes moleculares .......................................................................................... 30 4.4.2.1. PCR qualitativo do HBV (PCR Real-Time) ............................................. 30 ix 4.4.2.2. Carga viral do HCV (PCR Real-Time) ..................................................... 30 4.4.2.3. Genotipagem e subtipagem do HCV ........................................................ 31 4.4.3. Dosagem de aminotransferases .......................................................................31 4.4.3.1. Dosagem de ALT ..................................................................................... 32 4.4.3.2. Dosagem de AST ..................................................................................... 32 4.5. Processamento e análise de dados ..........................................................................33 4.6. Considerações éticas .............................................................................................. 34 4.7. Apoio financeiro....................................................................................................34 5. RESULTADOS ........................................................................................................... 35 6. DISCUSSÃO ............................................................................................................... 50 7. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 59 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 60 ANEXOS x TABELAS, FIGURAS E ANEXOS LISTA DE TABELAS Tabela 1. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) em estudos conduzidos na região Centro-Oeste......................................................................................08 Tabela 2. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) em estudos conduzidos na região Centro-Oeste......................................................................................13 Tabela 3. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) em indivíduos vivendo com HIV/AIDS em estudos conduzidos no Brasil.................................................18 Tabela 4. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) em indivíduos vivendo com HIV/AIDS em estudos conduzidos no Brasil.................................................19 Tabela 5. Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por sexo, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás.....................................37 Tabela 6. Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por instituição de origem, atendidos na rede pública de Goiânia Goiás..........................................................................................................................................39 Tabela 7. Prevalência de marcadores sorológicos para exposição à hepatite B e C em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia Goiás.....................................................................................................................................41 Tabela 8. Frequência de genótipos e subtipos do HCV entre 22 indivíduos vivendo com HIV/AIDS atendidos na rede pública de saúde de Goiânia, Goiás.....................................................................................................................................42 xi Tabela 9. Análise univariada dos fatores associados à exposição ao vírus da hepatite B (HBV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia Goiás.....................................................................................................................................44 Tabela 10. Fatores associados à exposição ao vírus da hepatite B (HBV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em GoiâniaGoiás.....................................................................................................................................45 Tabela 11. Análise univariada dos fatores associados à exposição ao vírus da hepatite C (HCV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia Goiás.....................................................................................................................................46 Tabela 12. Fatores associados à exposição ao vírus da hepatite C (HCV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em GoiâniaGoiás.....................................................................................................................................47 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fluxograma de exames laboratoriais previstos na metodologia do estudo..........27 Figura 2. Fluxograma de recrutamento de indivíduos HIV soropositivos para o estudo....35 Figura 3. Comparação entre as densidades ópticas (DOs) obtidas na leitura do ELISA para detecção do anti-HCV e a carga viral do HCV nas 48 amostras positivas para anti-HCV pela sorologia.......................................................................................................................43 Figura 4. Comparação dos níveis séricos da enzima alanina aminotransferase (ALT) em pacientes HIV positivos, de acordo com a presença ou ausência dos marcadores sorológicos HBsAg e anti-HCV..........................................................................................48 xii Figura 5. Comparação dos níveis séricos da enzima alanina aminotransferase (ALT) em pacientes HIV positivos, de acordo com a positividade para o HBV DNA e HCV RNA detectável..............................................................................................................................49 LISTA DE ANEXOS Anexo 1. Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (CEP-SGC/UCG) Anexo 2. Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad (CEP HDT/HAA) Anexo 3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Anexo 4. Questionário padronizado xiii SIGLAS E ABREVIATURAS AIDS - do inglês: Acquired Immunodeficiency Syndrome ALT: Alanina Aminotransferase AM: Amazonas Anti – HBe – do inglês: Hepatitis B Envelope Antibody Anti- HBs – do inglês: Hepatitis B Surface Antibody Anti-HBc – do inglês: Hepatitis B Core Antibody Anti-HCV – do inglês: Hepatitis C Virus Antibody AST: Aspartato Aminotransferase AZT: Zidovudina BA: Bahia CCR5 – do ingles: C-C chemokine receptor Type 5 CD – do inglês: Cluster of Differentiation CRDT: Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento DO – Densidade óptica ELISA- do inglês: Enzyme-Linked Immunosorbent Assay CXCR4 – do inglês : C-X-C chemokine receptor Type 4 DNA – do inglês : Deoxyribonucleic acid DST: Doenças Sexualmente Transmissíveis ES: Espírito Santo GO: Goiás GP – do inglês: Glycoprotein HBcAg – do inglês: Hepatitis B Core Antigen HBeAg – do inglês: Hepatitis B Envelope Antigen HBsAg - inglês: Hepatitis B Surface Antigen HBV - do inglês: Hepatitis B Virus HC-UFG: Hospital das Clínicas-Universidade Federal de Goiás HCV - do inglês: Hepatitis C Virus HDT/HAA: Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad HIV- do inglês: Human Immunodeficiency Virus HR – do inglês: Heptad Repeat xiv IC95%: Intervalo de 95% de Confiança IgG: imunoglobulina G IQ: Intervalo interquartílico LACEN/GO: Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros MG: Minas Gerais MS: Mato Grosso do Sul MT: Mato Grosso N: número de casos NS – do inglês: Nonstructural OR – do inglês: Odds Ratio P: Significância estatística PA: Pará PCR – do inglês: Polymerase Chain Reaction PE: Pernambuco PI: Piauí PR: Paraná RNA – do inglês: Ribonuclei Acid RS: Rio Grande do Sul SP: São Paulo TA: temperatura Ambiente TARV: Terapia antirretroviral TMB: Tetrametilbenzidina UDI: Usuários de Drogas Injetáveis xv RESUMO Os vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são responsáveis pelas infecções crônicas virais mais comuns em todo o mundo. A prevalência dessas infecções é maior entre indivíduos infectados pelo HIV, devido às vias comuns de transmissão desses vírus. As coinfecções HBV/HIV e HCV/HIV parecem estar associadas a um pior prognóstico da doença hepática. Estudos avaliando essas coinfecções, na região centro-oeste do Brasil, são escassos. Objetivos: Estimar a prevalência e analisar fatores sócio-demográficos e comportamentais associados às infecções pelo HBV e HCV em pacientes HIV positivos. Métodos: Estudo transversal, com inclusão de 495 pacientes adultos, recrutados no Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica de Goiânia, em 2011. Após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, os participantes foram entrevistados e coletouse material para pesquisa de marcadores para o HBV (anti-HBc, HBsAg, anti-HBs e HBV DNA) e HCV (anti-HCV e HCV RNA). Estimou-se a prevalência das infecções pelo HBV e HCV. Foi realizada análise uni e multivariada para avaliar fatores associados com a positividade para os dois vírus. Foram calculados os Odds Ratios brutos e ajustados com respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%) e nível de significância de p<0,05. Resultados: A média de idade dos participantes foi de 40,2 anos (desvio padrão=10,4), com predomínio de homens (73,9%). O relato de uso de drogas injetáveis foi feito por 3,6% dos participantes. A prevalência de exposição ao vírus da hepatite B foi de 33,5% (IC95% 29,4-37,9). Dezenove pacientes (3,8%, IC95% 2,4-6,0) foram diagnosticados como portadores do vírus da hepatite B. A prevalência de anti-HCV foi 9,7% (IC95% 7,312,7). A distribuição dos genótipos do HCV nessa população foi: 1a (72,7%), 3 (13,6%) e 1b (9,1%). A coinfecção pelos três vírus foi de 4,4% (IC95% 2,9-6,8). Sexo masculino, idade ≥ 40 anos, relato de doença sexualmente transmissível (DST) e homo ou bissexualismo mostraram-se associados à presença de marcadores de exposição ao HBV. Antecedentes de drogas injetáveis e DST mostraram associação com soropositividade para HCV. Cerca da metade dos pacientes coinfectados não sabia ser HBV ou HCV positivos. Conclusões: Marcadores de exposição prévia ao HBV e ao HCV são frequentes entre os pacientes HIV positivos, em Goiânia. Uma parcela significativa dessa população desconhece seu status sorológico, sugerindo a necessidade de medidas de triagem e de orientação mais efetivas. xvi ABSTRACT Hepatitis B and C viruses are responsible for the most common chronic viral infections worldwide. The prevalence of these viruses is higher among HIV-infected individuals, due to common route of transmission. Coinfections HBV / HIV and HCV / HIV seems to be associated with a worst liver disease prognosis. Studies evaluating these coinfections in the mid-western Brazil are scarce. Objectives: To estimate the prevalence and the risk factors associated with HBV and HCV coinfections in HIV-positive patients in Goiânia – Goiás. Methods: A cross-sectional study was conducted including 495 adults, recruited from the Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica de Goiânia in 2011. After signing the informed consent, participants were interviewed and material was collected for research markers for HBV (anti-HBc, HBsAg, anti-HBs and HBV DNA) and HCV (anti-HCV and HCV RNA). Prevalence of HBV and HCV infection was estimated. Univariate and multivariate analysis to evaluate factors associated with positivity for both viruses were performed. Odds and adjusted odds ratios were calculated with 95% confidence intervals (CI95%) and a significance level of p<0.05. Results: Participants mean age was 40.2 years (standard deviation =10. 4) with a male predominance (73.9%). Injecting drugs usage was reported by 3.6% of participants. The prevalence of markers for hepatitis B exposure was 33.5% (CI95% 29.4-37.9). Nineteen patients (3.8%, CI95% 2.4-6.0) were diagnosed as hepatitis B carriers. Prevalence of anti-HCV was 9.7% (CI95% 7.3-12.7). The distribution of HCV genotypes was: 1a (72.7%), 3 (13.6%) and 1b (9.1%). Coinfection by the three viruses was 4.4% (CI95% 2.9-6.8). Male, age ≥ 40 years, previous history of sexually transmitted disease (STD) and homo or bisexuality were associated with exposure to HBV. History of injecting drugs and STD were associated with HCV seropositivity. Over half of the coinfected patients were not aware of being HBV or HCV positive. Conclusion: Seromarkers for previous HBV and/or HCV infections are common among individual HIV positives in Goiânia. A significant proportion of them are unaware of their serological status. These findings suggest the need for better screening and guidance improvements for this population. xvii 1. INTRODUÇÃO 1.1. Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana 1.1.1. Aspectos virológicos e imunológicos O vírus da imunodeficiência humana (HIV), isolado pela primeira vez em 1983, pertence à família Retroviridae e ao gênero Lentivirus. Tem forma esférica, com diâmetro de aproximadamente 100 nm, e está envolvido por uma bicamada lipídica originária da célula em que se deu a replicação viral. Associadas à membrana viral encontram-se duas glicoproteínas, a gp41 (transmembranar) e a gp120 (superfície). No centro do vírus, inserido num nucleocapsídeo, encontra-se o código genético do vírus, que é constituído por duas fitas idênticas de RNA, que são transcritas em DNA pela ação da enzima viral transcriptase reversa, para poder se integrar ao genoma da célula do hospedeiro (Levy et al. 1993, Subbramanian & Cohen 1994). O genoma viral é formado pelas regiões denominadas gag, pol e env, que são genes responsáveis pela codificação das proteínas que constituem a estrutura viral e repertório enzimático (Seelamgari et al. 2004). As proteínas de superfície gp120 e gp 41 do HIV-1, originadas da clivagem de um precursor de 160 Kd, são responsáveis pelo processo de entrada do vírus na célula hospedeira. Esse processo envolve a interação da gp120 com o receptor CD4 presente na superfície dos linfócitos e macrófagos. Na sequência, ocorre a interação da gp120 com os co-receptores CCR5 (para cepas com tropismo para linfócitos) ou CXCR4 (para cepas com tropismo para macrófagos), resultando em uma interação das sub-regiões HR1 e HR2 da gp41, seguida pela fusão do vírus com a membrana celular (Chan & Kim 1998). Existem dois tipos de vírus, o HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é classificado em três grupos principais: grupo M (Main), grupo O (Outlier) e grupo N (New). O grupo M, principal responsável pela pandemia de AIDS, possui nove subtipos descritos (A, B, C, D, F, G, H, J e K), 3 subsubtipos e pelo menos 29 formas recombinantes circulantes (CRFs) (McCutchan et al. 1996, Robertson et al. 2000, Kandathil et al. 2005, De Sá Filho et al. 2006, Sá-Ferreira et al. 2007). Foram descritos 8 subtipos do HIV-2 (A-H), sendo que A e B são os mais frequentes (Kandathil et al. 2005). A distribuição das variantes do HIV-1 na população humana é extremamente heterogênea. No Brasil, o subtipo B e a variante 1 brasileira B’ são os mais frequentemente identificados (Sá-Ferreira et al. 2007). Em Goiás, estudo realizado por Cardoso et al. (2009) com 103 pacientes HIV soropositivos sem uso de TARV encontrou a seguinte distribuição para os subtipos do HIV-1: subtipo B representou 82,5%, subtipo F1 6,2%, subtipo C 3,1%, B/F1 7,2% e uma amostra foi um mosaico F1/C/B. Outros estudos na região também encontraram maior frequencia do subtipo B, seguido pelo subtipo F1 ou C, e alguns subtipos recombinantes: B/F1, B/C, F1/C e F1/C/B (Cardoso et al. 2010, Cardoso et al. 2011, Ferreira et al. 2011, Silveira et al. 2012). As partículas virais estão presentes no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno, acarretando diferentes formas de transmissão do vírus: via parenteral, sexual e materno-fetal. O principal impacto do vírus sobre o sistema imunitário é a destruição dos linfócitos T CD4+ (Ho et al. 1995). O HIV afeta, indiretamente, outras células do sistema imunitário que são ativadas pelas células CD4, como os linfócitos B, os macrófagos e os linfócitos T citolíticos, tornando o indivíduo progressivamente mais sujeito às outras infecções (Paranjape 2005). De acordo com as normas do Ministério da Saúde para o diagnóstico do vírus HIV, inicialmente deve ser realizada uma triagem sorológica para detectar anticorpos contra o HIV, onde o método mais amplamente utilizado é o ensaio imunoenzimático (ELISA). Para confirmação do diagnóstico, as amostras reagentes ao teste de ELISA devem ser submetidas ao teste sorológico western blot (Weber et al. 1992). Os resultados indeterminados podem ser confirmados através de imunofluorescência e reação em cadeia da polimerase (PCR) (Gastaldello et al. 2001, Lipniacki et al. 2003). 1.1.2. Aspectos epidemiológicos Atualmente cerca de 34,2 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelo HIV. Em 2011, foi estimado que ocorreram 83.000 novas infecções pelo HIV na América Latina, elevando o número de pessoas vivendo com HIV na região para aproximadamente 1,4 milhões de pessoas, comparado a 1,2 milhões em 2001 (UNAIDS 2012). O Brasil é o país com maior número de casos de AIDS na América Latina, com 608.230 casos notificados até 2011. A taxa de incidência nacional mantém-se ainda em patamares elevados: 17,9 casos por 100 mil habitantes em 2010. Já em Goiás, a taxa de 14,0 casos por 2 100 mil habitantes é menor que a média nacional, mas nem por isso menos preocupante (MS 2011b). A epidemia de AIDS no Brasil evolui, nas últimas duas décadas, com alterações no perfil epidemiológico. Observa-se que a razão de sexo (Masculino: Feminino) diminuiu consideravelmente do início da epidemia para os dias atuais. Em 1986, a razão era de 15,1: 1, a partir de 2002, estabilizou-se em 1,5:1 e em 2010 foi de 1,7 novos casos em homens para cada caso em mulheres. Com relação às taxas de incidência, em ambos os sexos, as maiores taxas estão, atualmente, na faixa etária de 30 a 49 anos, com um incremento na faixa etária de maiores de 50 anos, ao longo da série histórica. Ao longo do período de 1980 a junho de 2009, observa-se tendência ao crescimento da subcategoria de exposição heterossexual. No que se refere à escolaridade, entre a população com 8 a 11 anos de estudo observa-se, um aumento proporcional de casos, passando de 16%, em 1999, para 29% em 2007 (MS 2009a, MS 2011b). Em 2010 foram notificados 482 novos casos de AIDS em menores de cinco anos, com taxa de incidência de 3,5/100.000 habitantes. No Brasil, a taxa de incidência em menores de cinco anos é utilizada como indicador de monitoramento da transmissão vertical, e ao longo dos últimos 12 anos observa-se uma redução de 40,7%, diretamente relacionada ao aumento da cobertura de assistência pré-natal e à adoção da profilaxia de transmissão vertical com antirretrovirais. Quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance de transmissão vertical cai para menos de 1%. Às gestantes, o Ministério da Saúde recomenda o uso de medicamentos antirretrovirais durante o período de gravidez e no trabalho de parto, além de realização de cesárea para as mulheres que têm carga viral elevada ou desconhecida. Para o recém-nascido, a determinação é de substituição do aleitamento materno por fórmula infantil (leite em pó) e uso de antirretrovirais. O AZT solução oral deve ser tomado das primeiras duas horas de vida às seis semanas seguintes ao nascimento e a criança continua sendo acompanhada em serviço de referência para crianças expostas ao HIV (MS 2010a). Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a sexual. Nas mulheres, 83,1% dos casos registrados em 2010 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,4% dos casos se deram por relações heterossexuais, 22% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical (MS 2011b). 3 No Centro-oeste, na faixa etária de 13 anos de idade ou mais, do total de 1.062 casos de AIDS notificados no SINAN no ano de 2010, no sexo masculino, 19,7% são homossexuais, 6,1% bissexuais, 44,4% heterossexuais, 3,2% UDI, 0,1% hemofílicos, 0,8% transmissão vertical e 25,7% ignorados. Com relação ao sexo feminino, quanto à categoria de exposição, do total de 557 casos notificados, 85,8% são heterossexuais, 1,6% UDI, 0,2% transfusão, 0,7% transmissão vertical e 11,7% ignorados (MS 2011b). O tratamento disponível para a infecção por HIV é constituído pela terapia antirretroviral (TARV), constituída da associação de pelo menos três drogas antirretrovirais, que tem como objetivos a redução da carga viral a valores indetectáveis, restauração do sistema imunitário através do aumento dos níveis de células CD4, diminuição da morbidade e mortalidade associada com a infecção por HIV, e melhora na qualidade de vida dos pacientes (Dourado et al. 2006). No Brasil, desde 1996, com a criação da lei de acesso universal e gratuito de antirretrovirais aos indivíduos vivendo com HIV/AIDS, a TARV passou a ser o padrão para o tratamento dos pacientes infectados pelo HIV no país (Marins et al. 2003, Grangeiro et al. 2006). De 1980 a 2010, ocorreram 241.469 óbitos no Brasil tendo como causa básica a AIDS. Em 2010 ocorreram 11.965 óbitos, com coeficiente bruto de mortalidade de 6,3/100.000 habitantes. Considerando o coeficiente de mortalidade padronizado (População brasileira de 2000, IBGE), nos últimos 10 anos observa-se redução de 11,1% na mortalidade por AIDS no Brasil, resultante do aumento da sobrevida dos pacientes infectados pelo HIV e da redução das doenças infecciosas associadas à AIDS. No CentroOeste, o coeficiente de mortalidade padronizado para o ano de 2010 foi 4,8/100.000 habitantes, indicando uma taxa de mortalidade estabilizada nos últimos 10 anos (MS 2011b). 1.2. Infecção pelo vírus da hepatite B 1.2.1. Aspectos virológicos e imunológicos O vírus da hepatite B (HBV) é membro da família Hepadnaviridae, composta por vírus hepatotrópicos que compartilham algumas características estruturais e funcionais e que infectam aves e mamíferos (Büchen-Osmond 2003). 4 Estruturalmente, as partículas virais infecciosas são esféricas, com diâmetro aproximado de 42 nm. O genoma viral é constituído de uma molécula de DNA de fita dupla parcial. Envolvendo o DNA, enzimas como a transcriptase reversa e o antígeno “e” do vírus (HBeAg), que pode ser detectado no sangue por ser secretado e representa infectividade e replicação viral, existe um capsídeo icosaédrico composto por proteína, incluindo a proteína HBcAg. O HBcAg não é secretado pelo vírus, logo não pode ser detectado no sangue circulante, mas leva à formação de anticorpo específico anti-HBc, marcador de contato para o vírus. Externamente o vírus apresenta um envelope de constituição lipoglicoprotéica, que contém o antígeno de superfície HBsAg, o qual pode ser detectado no sangue circulante sendo um sinal de infecção. Além das partículas inteiras, que são patogênicas e infecciosas, existem as partículas pequenas, circulares (22 nm) e partículas alongadas de comprimento variado e mesmo diâmetro, que consistem apenas do antígeno HBsAg e não são infecciosas ou patogênicas. (Mahoney 1999, Ferreira & Silveira 2004, Liang 2009). O genoma do HBV possui aproximadamente 3.200 pares de bases e é um dos menores entre os genomas dos vírus que infectam o homem e o menor vírus de DNA conhecido (Liang 2009). Por apresentar uma grande diversidade viral o HBV apresenta subtipos e genótipos. O vírus é classificado em quatro sorotipos (adw, ayw, adr, ayr) com nove subtipos (ayw 1, ayw 2, ayw 3, ayw 4, ayr, adw 2, adw 4, adr q- e adr q+), de acordo com a resposta antigênica heterogênea do HBsAg (Couroucé-Pauty et al. 1978). Baseado na diversidade de nucleotídeos, o HBV pode ser classificado em 8 principais genótipos (AH), com possibilidade de inclusão de novos genótipos e subgenótipos (Campos et al. 2005). No Brasil, em inquérito de base populacional realizado entre as capitais, foi observada a seguinte distribuição dos genótipos: genótipos A e F foram identificados no Nordeste; genótipos A e D no Distrito Federal; genótipos A, D e F co-circulando na região Centro-Oeste. Logo, o genótipo A foi predominante (aproximadamente 50%), seguido pelos genótipos D e F (Pereira et al. 2009). Embora seja um vírus DNA ele codifica uma transcriptase reversa e replica-se através de um RNA intermediário. O HBV inicia sua replicação dentro do hepatócito três dias após sua introdução no organismo (Seeger & Mason 2000). O HBV não é um vírus diretamente citopático, assim a evolução da patogenia depende da interação do HBV com o hospedeiro, da virulência do vírus, da imunidade do hospedeiro, dos fatores genéticos e das condições individuais (Hoofnagle & Alter 1984). Durante a infecção aguda pelo HBV, há 5 necessidade de uma resposta imune eficiente e coordenada, tanto humoral quanto celular, para que ocorra a resolução da infecção e da doença hepática associada. Na hepatite B aguda autolimitada as células T CD4+ exercem um papel central na resposta imune adaptativa, promovendo a reatividade dos linfócitos T citotóxicos e auxiliando os linfócitos B vírus específicos a produzirem anticorpos neutralizantes contra a proteína do envelope. Já na infecção crônica, a resposta imune celular é fraca, sendo incapaz de controlar a replicação viral nos hepatócitos infectados (Liang 2009). O período de incubação do vírus varia de 30 a 180 dias, com média de 60 a 90 dias, seguida por uma doença aguda que permanece por um período que varia de algumas semanas a seis meses. As manifestações clínicas do HBV são diversas e vão desde uma hepatite subclínica, anictérica, ictérica ou fulminante, na fase aguda, até um quadro de cirrose e carcinoma hepatocelular, na fase crônica (Blumberg 2006). Considerando que os sintomas clínicos da infecção pelo HBV são indistinguíveis de outras formas de hepatite viral, o diagnóstico definitivo depende de testes sorológicos que identificam, no soro, os antígenos (HBsAg e HBeAg) e anticorpos (Anti-HBc, Anti-HBe e Anti-HBs) presentes nessa infecção. Existem ainda os testes moleculares (pesquisa qualitativa e quantitativa do DNA do HBV), importantes no acompanhamento da resposta ao tratamento na infecção crônica. Além disso, o sequenciamento do vírus tem sido usado na identificação de variantes genéticas (Liang 2009). 1.2.2. Aspectos epidemiológicos As principais formas de contágio do HBV são por via sexual, transfusão de sangue ou derivados, compartilhamento de agulhas no uso de drogas intravenosas, transplantes de órgãos ou tecidos, lesões de pele ou acidentes com agulhas (principalmente entre profissionais da área de saúde) e a transmissão perinatal (Alter 2003). O meio mais eficiente de prevenir a infecção pelo HBV, além de evitar os comportamentos considerados de alto risco, é a imunização com vacina para hepatite B (Kao & Chen 2002). A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 240 milhões de pessoas estejam cronicamente infectadas pelo HBV (WHO 2012). A frequência e os padrões de infecção pelo HBV variam marcadamente em diferentes países. Aproximadamente 45% da população do mundo mora em áreas onde a prevalência da infecção crônica pelo HBV é alta (≥8% da população é HBsAg positiva), 43% vivem em áreas onde a prevalência é 6 moderada (2 a 7% da população é HBsAg positiva) e 12% vivem em áreas de baixa endemicidade (<2% da população é HBsAg positiva). A divisão do mundo em áreas de baixa, intermediária e alta endemicidade para o VHB baseia-se na prevalência de marcadores da infecção e nas vias de transmissão primárias encontradas nas mais diversas regiões (Alter 2003). No Brasil, inquérito de base populacional sobre as hepatites virais, referente ao conjunto das capitais, com inclusão de 19.634 indivíduos, estimou uma prevalência de exposição ao HBV (anti-HBc) de 6,8 a 8,0% e de 0,2 a 0,5% para o antígeno de superfície do HBV (HBsAg). O percentual de expostos ao HBV teve variação entre as faixas etárias de 10 a 19 e 20 a 69 anos, com valores de 1,1%, e 11,6%, respectivamente. Na região Centro-Oeste, o inquérito encontrou entre 3.152 indivíduos, uma prevalência de 5,3% para o anti-HBc e 0,47% para o HBsAg, sendo considerada uma região de baixa endemicidade para o HBV (Pereira et al. 2009). Para todas as regiões, observou-se um aumento da positividade do anti-HBc total com a idade. Em relação ao sexo, à exceção do Norte, os homens apresentaram maior probabilidade de exposição ao HBV nas demais regiões. Em todas as regiões, exceto no sudeste, observou-se um maior risco de exposição ao HBV para indivíduos com piores condições socioeconômicas. A transmissão sexual foi relevante nas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, sendo que, nesta última, a transmissão sanguínea também se destacou (MS 2010b). Com a finalidade de descrever a prevalência do HBV em diferentes populações na região centro-oeste, entre os anos de 1990 e 2013, foi conduzida busca eletrônica de artigos publicados no portal BIREME (BVS) e na base de dados MEDLINE (PubMed). No processo de busca utilizou-se os seguintes descritores: "HBV" OR "VHB" OR "hepatitis B" OR "hepatite B" AND "Central-West" OR “Western” OR “Centro-Oeste” OR “Goiás” OR “Mato Grosso” AND “Brazil” OR “Brasil”. Inicialmente, para verificar se os artigos atendiam ao interesse da busca, os títulos de todos os estudos identificados foram avaliados. Em um segundo momento, os resumos foram analisados. Os artigos que não apresentaram resultados de soroprevalência do HBV na região de interesse foram excluídos. Na busca de referências adicionais, foram checadas também as referências dos artigos obtidos. Os artigos selecionados foram organizados na tabela 1, de acordo com a referência bibliográfica (autor e ano), ano de recrutamento, local de condução do estudo, população, número de participantes e soroprevalência do HBsAg e da exposição ao HBV. 7 Tabela 1. Soroprevalência da infecção e/ou exposição pelo vírus da hepatite B (HBV) em estudos conduzidos na região Centro-Oeste. Recrutamento Referência (Ano) Local Martelli et al. 1990 População N HBsAg Anti-HBc Primodoadores 1.033 1,9% 12,8% 1988-1989 Goiânia (GO) Homens encarcerados 201 2,1% 26,4% 1992-1993 Goiânia (GO) Doadores de sangue 2.350 0,8% 14,7% Furnas dos Dionísios Comunidade 1999-2000 (MS) afrodescendente 260 9,2% 42,7% 1997-1998 GO Hemofílicos 102 1,1% 43,7% Martins et al. 1994 Motta-Castro et al. 2003 Tavares et al. 2004 Silva et al. 2005 Profissionais de 2000-2001 Goiânia (GO) laboratório 648 0,7% 24,1% 2003-2004 Campo Grande (MS) Dentistas 474 0,6% 10,8% Batista et al. 2006 Ferreira et al. 2006 Pacientes em 2002 Goiânia (GO) hemodiálise 1.095 2,4% 29,8% 2003-2004 Goiânia (GO) Adolescentes 664 0,5% 5,9% 2005 Goiânia (GO) Dentistas 680 0 6,0% 852 1,0% 14,0% Oliveira et al. 2006 Paiva et al. 2008 Ferreira et al. 2009 Usuários de drogas não 2005-2006 Centro-Oeste Pereira et al. 2009 injetáveis Inquérito de base 2004-2005 Centro-Oeste populacional 3.152 0,47% 5,3% - Campo Grande (MS) Indivíduos encarcerados 408 0,5% 17,9% 2008-2009 Sudoeste de Goiás Primodoadores 984 0,3% 6,9% Adolescentes 576 0,7% 5,0% 191 1,0% 27,7% Stief et al. 2010 Anjos et al. 2011 Melo et al. 2011 Barra do Garças 2009 (MT) Ramos et al. 2011 Pacientes com 2007-2009 Várzea Grande (MT) Aires et al. 2012 hanseníase Pacientes com 2008-2010 Goiânia (GO) tuberculose 402 - 25,6% 2010 Campo Grande (MS) Bombeiros 308 1,0% 6,5% 2007-2008 GO Mulheres encarceradas 148 0,7% 18,9% ContreraMoreno et al. 2012 Barros et al. 2013 N: nº de casos; HBsAg: antígeno de superfície do vírus da hepatite B; anti-HBc: anticorpo contra o antígeno do core do vírus da hepatite B 8 No Mato Grosso do Sul, os estudos com menores prevalências para o HBV foram realizados entre bombeiros (6,5%) e dentistas (10,8%) (Batista et al. 2006, ContreraMoreno et al. 2012). Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, estudo conduzido entre 408 indivíduos encarcerados encontrou uma prevalência de 17,9% para o HBV, com 0,5% para o HBsAg, demonstrando baixa prevalência de portadores crônicos do vírus. Em 24% dos indivíduos, verificou-se positividade isolada ao marcador anti-HBs, sugerindo baixa cobertura vacinal ao HBV. Os fatores de risco associados à infecção pelo HBV foram aumento da idade (superior a 35 anos), baixo nível de escolaridade e uso de drogas ilícitas (Stief et al. 2010). A maior prevalência para o HBV nesse estado foi observada em uma comunidade afrodescendente, com prevalência de 42,7% para a exposição ao HBV e 9,2% para o HBsAg (Motta-Castro et al. 2003). No estado de Mato Grosso, a maior prevalência observada foi entre 191 pacientes com hanseníase. Ramos et al. (2011) encontraram uma prevalência de 27,7% para o HBV, com 1% de positividade para o HBsAg. A positividade de marcadores para o HBV esteve associada a um maior número de parceiros sexuais e compartilhamento de seringas. Em Goiás, estudos demonstraram variação da prevalência de infecção prévia pelo HBV de 5,9% a 43,7%, com HBsAg de 0 a 9,2%, na dependência da população estudada (Tavares et al. 2004, Oliveira et al. 2006, Paiva et al. 2008). Na região sudoeste de Goiás, estudo realizado em 984 primodoadores encontrou uma prevalência de 6,9% (IC 95%: 5,4-8,7) para o HBV por testes sorológicos, variando de 3,6% a 11,6%, quando considerado os indivíduos classificados como aptos ou inaptos à doação de acordo com a triagem epidemiológica, respectivamente. Variáveis como antecedente de transfusão de sangue, presença de tatuagem ou piercing, uso de drogas ilícitas, sexo com parceiro com hepatite e histórico de doenças sexualmente transmissíveis (DST) foram independentemente associados com a positividade para o HBV (Anjos et al. 2011). Em doadores de sangue de Goiânia (GO), Martins et al. (1994) estimaram prevalência para o anti-HBc de 14,7%, com 0,8% para o HBsAg (Martins et al. 1994). Em 1990, estudo realizado por Martelli et al. encontrou uma prevalência de exposição ao HBV de 12,8% em primodoadores e de 26,4% entre prisioneiros de Goiânia, observando-se tendência crescente da soropositividade com a idade e maiores percentuais de exposição a todos os fatores de risco na população carcerária comparada aos primodoadores, a exceção do número de parceiros sexuais. 9 Entre profissionais de laboratório de Goiânia, foi observado um percentual de soropositividade para expoisção ao HBV de 24,1% sendo que 0,7% destes foram positivos para o HBsAg. Entre os fatores de risco analisados, trabalho direto com fluidos biológicos e trabalho em serviços gerais representaram risco significativo para aquisição da infecção pelo HBV (Silva et al. 2005). Entre 402 pacientes com tuberculose em Goiânia (GO), estudo transversal realizado entre abril de 2008 e março de 2010, encontrou uma prevalência de 25,6% para o HBV (HBsAg e/ou anti-HBc positivo). Análise multivariada dos fatores de risco demonstrou que idade igual ou superior a 50 anos e uso de drogas injetáveis ou não injetáveis estavam associados à infecção pelo HBV (Aires et al. 2012). Estudo realizado por Ferreira et al. (2006) com pacientes em hemodiálise, em Goiânia (GO), demonstrou prevalência de 29,8% para o anti-HBc e 2,4% para o HBsAg, que apesar de baixa comparada com outros estudos em pacientes em hemodiálise em outras regiões brasileiras, é alta comparada a países desenvolvidos . No mesmo estudo, análise de fatores de risco relacionados à infecção pelo HBV demonstrou que sexo masculino, tempo prolongado de hemodiálise e transfusão de sangue anterior a 1993 estiveram associados à infecção. A maior prevalência de exposição ao HBV em Goiás, nos estudos avaliados, foi observada em hemofílicos (43,7%), sendo que os fatores de risco que se mostraram associados à infecção foram: o número de episódios transfusionais e sorologia positiva para o vírus da hepatite C (Tavares et al. 2004). 1.3. Infecção pelo vírus da hepatite C 1.3.1. Aspectos virológicos e imunológicos Em 1989, Choo et al. detectaram e caracterizaram o genoma viral do vírus da hepatite C (HCV). Pertencente à família Flaviviridae e ao gênero Hepacivirus (Simmonds et al. 1993; Simmonds et al. 1994), o HCV possui um diâmetro de aproximadamente 50nm (Shimizu et al. 1996), é envelopado com um capsídeo icosaédrico e possui uma hélice simples de RNA genômico com polaridade positiva contendo cerca de 9.600 nucleotídeos (Tsukiyama-Kohara et al. 1992, Wang et al. 1993). 10 O genoma do HCV codifica uma poliproteína de cerca de 3000 aminoácidos (Zein 2000), que dá origem a proteínas estruturais (core, E1 e E2) e não-estruturais (NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B), essenciais para o ciclo de vida do vírus. A proteína E2 contém um sítio de ligação para CD-81, um receptor expresso em hepatócitos e linfócitos B, que age como receptor ou co-receptor para HCV (Boulant 2005). Após a interação do envelope do vírus com a membrana da célula do hospedeiro, o HCV entra na célula por endocitose e no citoplasma sofre tradução do RNA mensageiro e processamento das poliproteínas; depois disto, seu RNA se replica, os novos “RNA”s virais são empacotados e transportados até a superfície da célula hospedeira para saírem e completar novo ciclo (Lindenbach & Rice 2005). Estima-se que aproximadamente 15% dos indivíduos infectados pelo HCV o eliminam espontaneamente, 25% têm doença leve, enquanto 60% evoluem para doença crônica progressiva. A fibrose é a principal complicação da hepatite C crônica e estima-se que 20% dos pacientes evoluem para cirrose, podendo evoluir para óbito em decorrência das complicações da cirrose ou hepatocarcinoma (EASL 1999). As amostras do HCV isoladas em todo mundo foram agrupadas em 6 genótipos, classificados numericamente de 1 a 6 e nos seus subtipos (Simmonds et al. 1993; Simmonds et al. 1994). A literatura indica que a distribuição dos genótipos se apresenta de forma diferencial dependendo da região geográfica. No Brasil, os genótipos 1, 2 e 3 são os mais frequentemente encontrados, com predominância do genótipo 1 na maioria dos estados (Krug et al. 1996, De-Paris et al. 2000, Silva & Rossetti 2001). De 2007 a 2012, na avaliação de 49.873 casos confirmados de hepatite C no Brasil, 66,7% eram do genótipo 1, 27,1% do genótipo 3 e 5,8% do genótipo 2 (MS 2012). A identificação dos genótipos é clinicamente importante e os protocolos de tratamento preconizam a necessidade da informação do genótipo para delinear a duração e o tipo de medicação a ser utilizada (Simmonds et al. 2005). O diagnóstico da HCV baseia-se em testes sorológicos (pesquisa de anticorpos antiHCV) e/ou moleculares (detectam, quantificam ou caracterizam componentes da partícula viral), sendo os ensaios sorológicos imunoenzimáticos (ELISA) os mais utilizados (Brandão et al. 2001). Atualmente, o diagnóstico molecular do HCV é bastante difundido e inclui sua análise qualitativa, alcançada principalmente através da técnica de RT-PCR (Transcrição Reversa - Reação em Cadeia de Polimerase) (Brandão et al. 2001, Lauer & 11 Walker 2001); e quantitativa, através da técnica de PCR “em tempo real” (real time PCR) e DNA ramificado (branched DNA, b-DNA) (Gretch et al. 1995, Pawlotsky 2002). 1.3.2. Aspectos epidemiológicos A Organização Mundial de Saúde estima que há aproximadamente 150 milhões de pessoas com hepatite C em todo o mundo (WHO 2012). A transmissão do HCV ocorre principalmente por via parenteral, sendo consideradas populações de risco aumentado para a infecção pelo HCV: indivíduos que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993, usuários de drogas que compartilham os equipamentos de uso, pessoas com tatuagem, piercings ou que apresentem outras formas de exposição percutânea. A transmissão sexual é pouco frequente ocorrendo principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com pratica sexual de risco (sem uso de preservativo), sendo que a coexistência de alguma DST (incluindo o HIV) pode facilitar a transmissão. A transmissão vertical é rara, mas sabe-se que gestantes com carga viral do HCV elevada ou gestantes coinfectadas pelo HIV apresentam maior risco de transmissão da doença para os recém-nascidos (MS 2008). Inquérito de base populacional, referente ao conjunto das capitais brasileiras (2005 e 2006), estimou que 1,3% a 1,9% dos adultos foram infectados pelo HCV. Outras informações relevantes apontadas pelo inquérito dizem respeito à maior positividade para o anti-HCV associada a situações de extrema pobreza e ao aumento da idade. Demonstrouse, ainda, que o uso de drogas injetáveis e inaladas e o uso de seringa de vidro em algum momento da vida foram associados à infecção pelo HCV. Na região Centro-Oeste, o inquérito encontrou uma prevalência de 1,3% para o anti-HCV, variando de 1,0 a 1,6 na faixa etária de 10 a 19 e 20 a 69 anos, respectivamente (Pereira et al. 2013). A fim de descrever a prevalência do HCV em populações distintas na região centrooeste, entre os anos de 1990 e 2013, foi conduzida busca eletrônica de artigos publicados no portal BIREME (BVS) e na base de dados MEDLINE (PubMed). Na busca utilizou-se os seguintes descritores: "HCV" OR "VHC" OR "hepatitis C" OR "hepatite C" AND "Central-West" OR “Western” OR “Centro-Oeste” OR “Goiás” OR “Mato Grosso” AND “Brazil” OR “Brasil”. Inicialmente, para verificar se os artigos atendiam ao interesse da busca, os títulos de todos os estudos identificados foram avaliados. Em um segundo 12 momento, os resumos foram analisados. Os artigos que não apresentaram resultados de soroprevalência do HCV na região de interesse foram excluídos. Na busca de referências adicionais, foram checadas também as referências dos artigos obtidos. Os artigos selecionados foram organizados na tabela 2, de acordo com referência bibliográfica, ano de recrutamento dos indivíduos incluídos no estudo, local de condução do estudo, população, número de participantes e soroprevalência do anti-HCV. Tabela 2. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) em estudos conduzidos na região Centro-Oeste. Recrutamento Referência (Ano) Local População N anti-HCV Martins et al. 1994 1992-1993 Goiânia (GO) Doadores de sangue 2.350 2,2% Naghettini et al. 1997 1992-1993 Goiânia (GO) Pacientes em hemodiálise 173 35,3% Barbosa et al. 2005 2000 Goiânia (GO) Pacientes com LES 175 2,3% Orione et al. 2006 2001-2002 Cuiabá (MT) Gestantes 1.607 0,4% Pereira et al. 2006a 1999 Goiânia (GO) Centro de Testagem Anônima 592 2,5% Carneiro et al. 2007 - GO Pacientes em hemodiálise 1.095 15,4% Botelho et al. 2008 2004 Goiânia (GO) Transplantados renais 255 16,9% Freitas et al., 2008 2003 Campo Grande (MS) Pacientes em hemodiálise 163 11,0% Reis et al., 2008 2002-2003 MS Remanescentes de quilombos 1.007 0,2% Costa et al. 2009 2004-2005 Goiânia (GO) Gestantes 28.561 0,15% Lopes et al. 2009 2005-2006 GO e MS Usuários de drogas 691 6,9% Novais et al. 2009 2007 Cuiabá (MT) Usuários de drogas 314 6,4% 2005-2007 MS Gestantes 115.386 0,11% 2009 MS Indivíduos encarcerados 686 4,8% Ramos et al. 2011 2007-2009 MT Pacientes com hanseníase 191 2,6% Reis et al. 2011 2008-2010 Goiânia (GO) Pacientes com tuberculose 402 7,5% Barros et al. 2013 2007-2008 GO Mulheres encarceradas 148 6,1% Pereira et al. 2013 2005-2006 Centro-Oeste Inquérito de base populacional 3.702 1,3% Pinto et al. 2011 Pompilio et al. 2011 N: nº de casos; anti-HCV: anticorpos contra o vírus da hepatite C; LES: Lupus Eritematoso Sistêmico. 13 Entre indivíduos encarcerados, Pompilio et al. (2011) e Barros et al. (2013) observaram prevalências de 4,8% (Mato Grosso do Sul) e 6,1% (Goiás) para o anticorpo anti-HCV. No estudo conduzido no Mato Grosso do Sul, os fatores associados à infecção foram sexo masculino, usuários de drogas injetáveis, pessoas com tatuagem, indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos, indivíduos encarcerados múltiplas vezes, indivíduos com histórico de DST, pessoas que receberam transfusão de sangue e pessoas com HIV/AIDS. Em Goiás, entre as mulheres encarceradas, idade superior a 40 anos, uso de drogas injetáveis e duração do encarceramento se mostraram associados à infecção pelo HCV. Dois estudos realizados com usuários de drogas ilícitas, um conduzido em Goiânia (GO) e Campo Grande (MS) e outro conduzido em Cuiabá (MT), demonstraram prevalências para o HCV de 6,9% e 6,4%, respectivamente. Ambos os estudos encontraram associação da infecção pelo HCV com uso injetável de drogas. Outros fatores como idade e encarceramento também foram associados à infecção (Lopes et al. 2009, Novais et al. 2009). Em Goiás, estudos demonstraram que a prevalência de infecção pelo HCV varia de 0,15% a 35,3%, de acordo com as características da população estudada (Naghettini et al. 1997, Costa et al. 2009). A menor prevalência observada em Goiás ocorreu em estudo conduzido por Costa et al. (2009) entre 28.561 gestantes, onde se evidenciou uma prevalência de infecção pelo HCV de 0,15%, semelhante aos resultados encontrado por Orione et al (2006) e Pinto et al. (2011) entre gestantes no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com prevalência de 0,4% e 0,11%, respectivamente. Os três estudos encontraram associação entre aumento da idade e hepatite C. Estimativas de prevalência para o HCV entre 2.350 doadores de sangue, em Goiás, foram de 2,2%, com exposição parenteral prévia associada à infecção (Martins et al. 1994). Entre 592 indivíduos que buscaram o centro de testagem e aconselhamento (CTA) de Goiânia para testagem anônima para o HIV, a prevalência de anticorpos anti-HCV foi de 2,5%. O uso de drogas injetáveis e o encarceramento prévio se mostraram associados à infecção pelo HCV. Estudo transversal, com inclusão de 402 pacientes em tratamento para tuberculose no hospital de referência para doenças infecciosas de Goiânia, encontrou uma prevalência de 7,5% para o HCV, superior à encontrada no Mato Grosso, em estudo realizado com 14 inclusão de pacientes com hanseníase (2,6%) (Ramos et al. 2011, Reis et al. 2011). As variáveis independentes associadas ao HCV foram idade, uso de drogas injetáveis e situação frente ao HIV (Reis et al. 2011) Botelho et al. (2008) demonstraram alta prevalência da infecção pelo HCV (16,9%) entre transplantados renais de Goiânia (GO). Houve associação da positividade para HCV com fatores de risco como história de transfusão de sangue sem rastreamento anti-HCV, tempo de hemodiálise e transplante renal antes de 1994, enfatizando a importância de estratégias de saúde pública como o rastreamento de anti-HCV entre candidatos à doação de órgãos e sangue. Entre pacientes em hemodiálise em Goiás, Naghettini et al. (1997) e Carneiro et al. (2007) observaram altas prevalências para o HCV: 26,0% e 15,4%, respectivamente. Nessa população, o tempo de hemodiálise e o histórico de transfusões de sangue sem triagem para o anti-HCV apresentaram correlação positiva com a infecção pelo HCV. 1.4. Coinfecção pelo HIV, HBV e HCV: aspectos imunopatológicos e epidemiológicos O HBV, o HCV e o HIV, compartilham as mesmas vias de transmissão, assim, infecções concomitantes por esses vírus são frequentes, sobretudo entre os indivíduos com antecedentes de exposição parenteral a material biológico. A coinfecção pelo HIV e HCV e/ou HBV é comum em certas populações, como usuários de drogas injetáveis, que usualmente compartilham agulhas e seringas ao injetar a droga. Segundo alguns estudos, a prevalência da coinfecção HIV/HCV entre usuários de drogas injetáveis pode superar 90% (Maier & Wu 2002, Aceijas & Rhodes 2007). Além disso, são descritas taxas de coinfecção HIV/HBV de 10 a 20% em países com endemicidade intermediária e alta para o HBV (Thio 2009). Já em países desenvolvidos, a prevalência de hepatite viral múltipla nos pacientes HIV positivos é menor que 3%, porém maior quando comparados com a população geral (Rockstroh 2006). Essas coinfecções têm interações uni ou bidirecionais que podem alterar a clínica resultante de cada infecção. Pacientes portadores da infecção HBV/HCV parecem ter uma inibição recíproca da replicação viral, com um dos vírus se sobrepondo sobre o outro. Porém, este predomínio pode mudar, intercalando o domínio de um vírus sobre o outro. Entretanto, nos pacientes com imunossupressão severa, a replicação de todos os vírus pode 15 ocorrer simultaneamente. Mas nos pacientes HIV soropositivos com bom status imune, a interferência parece favorecer o HCV em detrimento do HBV (Sulkowski & Thomas 2003, Rockstroh 2006). A progressão da doença hepática parece ser mais acelerada nos pacientes HIV soropositivos duplamente infectados com HBV e HCV. Além disso, estes indivíduos são mais propensos a desenvolver hepatocarcinoma (Cooper et al. 2006). Em relação ao HBV, a infecção crônica ocorre em 5 a 10% dos indivíduos infectados pelo HIV, ou seja, uma proporção dez vezes superior à observada na população geral (Alter 2006). Tem sido observado aumento da incidência de complicações crônicas decorrentes das hepatites virais na população HIV soropositiva, o que difere do observado com doenças oportunistas, o que se explica pelo aumento da sobrevida dos infectados pelo HIV a partir da utilização dos antirretrovirais. A utilização da TARV propiciou tempo para que o HBV e o HCV demonstrassem sua morbidade e letalidade entre os coinfectados. Nos pacientes coinfectados ocorre aceleração do acometimento hepático, observam-se piores taxas de resposta ao tratamento das hepatites e interações entre os medicamentos para o HIV e o HCV potencialmente graves, além de índices maiores de recidiva. Além disso, a recuperação imunológica, após o início TARV, parece ser reduzida nos pacientes coinfectados. Outro fato de preocupação é o risco de toxicidade hepática dos antirretrovirais nos coinfectados (Cooper et al. 2006, MS 2008). Logo, a infecção pelo HIV parece estar associada a um maior risco de cronificação da hepatite B e C, menores taxas de eliminação viral, maior risco de cirrose, incidência mais elevada de carcinoma hepatocelular e progressão mais precoce para a falência hepática e, como consequência, essas infecções têm emergido como causa de morbimortalidade na população infectada pelo HIV (Soriano et al. 2011). Apesar das evidências apresentadas, trata-se de um assunto controverso, uma vez que outros estudos, como o conduzido por Carmo et al. (2008), revelaram que o HCV estava associado com uma menor recuperação na contagem de linfócitos T CD4+, mas não com novas doenças oportunistas ou morte relacionadas à AIDS, ou com a supressão da carga viral do HIV após o início da TARV. Estes resultados indicam que apesar da associação com a menor recuperação das células CD4+ no organismo, o HCV não afeta a morbidade e mortalidade relacionadas à AIDS ou a resposta viral ao início da TARV. No Brasil, com base em dados de notificação do Ministério da Saúde (2011a), a proporção de casos nos quais foi referida a presença da infecção pelo HBV em indivíduos 16 infectados pelo HIV foi de 5,4%. Em relação ao HCV, a coinfecção com o HIV foi referida em 11,4% do total de casos confirmados entre os anos de 2007 e 2010, proporção quase duas vezes maior que a da coinfecção do HIV com o vírus da hepatite B. A prevalência das coinfecções varia conforme distribuição geográfica e fatores de risco para aquisição das infecções. Com o objetivo de obter estimativas de prevalências do HBV e do HCV em diferentes populações de indivíduos HIV soropositivos no Brasil, entre os anos de 2000 e 2012, foi conduzida busca eletrônica de artigos publicados no portal BIREME (BVS) e na base de dados MEDLINE (PubMed) para identificar estudos relevantes. O processo de busca utilizou os seguintes descritores: "HBV" OR "VHB" OR "hepatitis B" OR "hepatite B" OR "HCV" OR "VHC" OR "hepatitis C" OR "hepatite C" AND “HIV” AND “Brazil” OR “Brasil”. Para verificar se os artigos atendiam ao interesse da busca, os títulos de todos os estudos identificados foram avaliados. Em um segundo momento, os resumos foram analisados. Os artigos que não apresentaram resultados de soroprevalência da coinfecção HBV/HIV ou HCV/HIV no Brasil foram excluídos. Na busca de referências adicionais, foram checadas também as referências dos artigos obtidos. Os artigos selecionados foram organizados na tabela 3 e 4, de acordo com autores, ano de publicação, local de condução do estudo, população, número de participantes e soroprevalência HBsAg/HIV e HBV/HIV ou anti-HCV/HIV. A prevalência de coinfecção HBV/HCV/HIV varia amplamente, predominantemente na dependência da categoria de exposição dos indivíduos HIV soropositivos. No Brasil, diversos estudos conduzidos em populações de indivíduos HIV soropositivos estimaram a prevalência da coinfecção pelo HBV (tabela 3) ou pelo HCV (tabela 4), mas poucos estudos determinaram a coinfecção HBV/HCV nessas populações. De acordo com os estudos analisados, a soroprevalência das hepatites B e C em indivíduos soropositivos para o HIV varia de 37,2% (Morimoto et al. 2004) a 55,1% (Marchesini et al. 2007) para a exposição ao HBV, de 2,3% (Tornatore et al. 2012) a 27,3% (Marchesini et al. 2007) para o HBsAg e de 3,3% (Santos et al. 2008) a 82,4% (Marchesini et al. 2007) para o HCV. Entre estes, as maiores prevalências encontradas são de um estudo conduzido por Marchesini et al. (2007) entre 205 indivíduos HIV positivos usuários de drogas injetáveis no estado de São Paulo. 17 Tabela 3. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) em indivíduos vivendo com HIV/AIDS em estudos conduzidos no Brasil. Recrutamento Referência (Ano) Local N HBsAg/HIV HBV/HIV Mendes-Corrêa et al., 2000 1996 São Paulo (SP) 1.693 5,7% 38,6% 1992-1995 Campinas (SP) 232 5,3% 44,0% - Belém (PA) 406 7,9% 51,0% 2002 Ribeirão Preto (SP) 401 8,5% 40,9% Morimoto et al., 2005 2001-2002 Londrina (PR) 758 - 37,2% Braga et al., 2006 1998-2003 Amazônia 704 6,4% 40,2% 2004 Cuiabá (MT) 1.000 3,7% 40,0% - Porto Alegre (RS) 306 4,6% 38,5% 2003 São Paulo (SP) 205a 27,3% 55,1% Zago et al., 2007 1993-2004 Vitória (ES) 851 3,8% - Silva et al., 2010 2006-2007 São Paulo (SP) 2.412 4.9% - Mendes-Corrêa et al., 2011 1994-2007 São Paulo (SP) 3.259 4,7% - Tornatore et al., 2012 2006-2008 RS 130b 2,3% - Travassos et al., 2012 2010-2011 Salvador (BA) 63b 3,2% - Pavan et al., 2003 Monteiro et al., 2004 Souza et al., 2004 Pereira et al., 2006b Tovo et al., 2006 Marchesini et al., 2007 N: nº de casos; HBsAg: antígeno de superfície do vírus da hepatite B; a: Usuários de drogas injetáveis; b :Gestantes. Estudos realizados na região sudeste, demonstraram variação de 38,6% (MendesCorrêa et al. 2000) a 44,0% (Pavan et al. 2003) para o HBV, sendo que a prevalência do HBsAg variou de 3,8% (Zago et al. 2007) a 8,5% (Souza et al. 2004). Em Ribeirão Preto (SP), Souza et al. (2004) relataram idade, nível superior de escolaridade, antecedente de icterícia, tempo superior a 6 meses em presídios, relação sexual com homossexuais e positividade para a hepatite C como sendo associados à infecção pelo HBV. Já em Vitória (ES), Zago et al. (2007) demonstraram associação com uso de drogas injetáveis e sexo masculino. Já para o anti-HCV, as prevalências variaram de 9,2% (Carmo et al. 2008) a 53,8% (Pavan et al. 2003). Segurado et al. (2004) encontrou associação entre uso de drogas injetáveis e exposição ao HCV em estudo realizado em Santos (SP). 18 Tabela 4. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) em indivíduos vivendo com HIV/AIDS em estudos conduzidos no Brasil. Recrutamento Referência (Ano) Local N HCV/HIV Mendes-Corrêa et al., 2000 1996 São Paulo (SP) 1.457 17,7% 1992-1995 Campinas (SP) 232 53,8% Monteiro et al., 2004 - Belém (PA) 406 16,0% Segurado et al., 2004 1997-1998 Santos (SP) 495 36,2% Morimoto et al., 2005 2001-2002 Londrina (PR) 758 21,0% Braga et al., 2006 1998-2003 Amazônia 704 5,0% Tovo et al., 2006 - Porto Alegre (RS) 330 38,2% Marchesini et al., 2007 2003 São Paulo (SP) 205a 82,4% Mussi et al., 2007 2004 Mato Grosso (MT) 1.008 10,9% Carmo et al., 2008 1996-2001 Belo Horizonte (MG) 824 9,2% Santos et al., 2008 2005 Maceió (AL) 299 3,3% Carvalho et al., 2009 2003 Recife (PE) 343 4,1% Mendes-Corrêa et al., 2010 2005-2007 SP 2.024 16,7% Victoria et al., 2010 2000-2007 Manaus (AM) 1.582 4,4% Wolff et al., 2010 1996-2006 Porto Alegre (RS) 1.143 31,2% Oliveira-Filho et al., 2012 2006-2008 PI 768 6,8% Tornatore et al., 2012 2006-2008 RS 130b 10,8% Travassos et al., 2012 2010-2011 Salvador (BA) 63b 8,1% Pavan et al., 2003 N: nº de casos; a: Usuários de drogas injetáveis; b: Gestantes. Na região sul, os estudos demonstraram prevalências de 37,2% (Morimoto et al. 2005) e 38,5% (Tovo et al. 2006) para o HBV, de 2,3% (Tornatore et al. 2012) e 4,6% (Tovo et al. 2006) para o HBsAg e variação de 10,8% (Tornatore et al. 2012) a 38,2% (Tovo et al. 2006) para o HCV. As menores prevalências apresentadas são relativas ao estudo de Tornatore et al. (2012), realizado entre gestantes HIV positivas do Rio Grande do Sul. Na avaliação de fatores associados às infecções, Tovo et al. (2006) encontrou 19 associação entre relacionamento homossexual masculino e HBV e uso de drogas injetáveis e HCV. Na região Norte, dois estudos relacionados ao HIV observaram prevalência de 40,2% (Braga et al. 2006) e 51,0% (Monteiro et al. 2004) para o HBV e 6,4% (Braga et al. 2006) e 7,9% (Monteiro et al. 2004) para o HBsAg. Idade, estado civil (solteiro), opção sexual (homo/bissexualismo), local de nascimento em áreas hiperendêmicas da Amazônia, sexo masculino e uso de drogas ilícitas mostraram-se associados à exposição ao HBV (Braga et al. 2006, Monteiro et al. 2004). Para o HCV, três estudos demonstraram prevalência de 4,4%, 5,0% e 16,0%, com associação da infecção à idade (> 50 anos), transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis (Victória et al. 2010, Braga et al. 2006, Monteiro et al. 2004). No Nordeste, estudo realizado em Salvador (BA) por Travassos et al. (2012) com inclusão de gestantes HIV positivas encontrou 3,2% de indivíduos com positividade para o HBsAg e 8,1% para o anti-HCV. Em Maceió (AL), 3,3% dos indivíduos estavam infectados pelo HCV, com associação de antecedentes de hepatite/icterícia e uso de tatuagem/piercing à infecção (Santos et al. 2008). Em Recife (PE), a prevalência de 4,1% para hepatite C se mostrou associada à transfusão de sangue (Carvalho et al. 2009). No Piauí, o uso de drogas ilícitas e transfusão de sangue anterior a 1994 revelaram-se associados à infecção pelo HCV em 6,8% de indivíduos infectados (Oliveira-Filho et al. 2012). A frequência de coinfectados pelo HBV e/ou HCV entre indivíduos HIV positivos ainda é pouco estudada na região Centro-Oeste do Brasil. Apenas dois estudos com exclusiva inclusão de indivíduos HIV positivos, foram realizados na região Centro-Oeste. Pereira et al. (2006) avaliaram 1.000 indivíduos HIV positivos em Cuiabá (MT) em relação à infecção pelo HBV, observando prevalência de 40,0% para exposição ao HBV e 3,7% para o HBsAg, com associação da infecção ao sexo masculino, idade mais elevada, tatuagem e mais de 10 parceiros sexuais. Em relação à hepatite C, no mesmo estado (MT), Mussi et al. (2007) encontraram 10,9% de soroprevalência para o anti-HCV em 1.008 indivíduos avaliados, com associação ao uso de drogas injetáveis, presença de tatuagens e transfusão de sangue anterior a 1994. Em Goiás, alguns estudos, realizados em populações com outras características, estimaram entre a população envolvida no estudo, uma subpopulação de indivíduos HIV soropositivos e, a partir dessa subpopulação, estimou-se a prevalência da coinfecção 20 HBV/HIV ou HCV/HIV. Em estudo com pacientes com tuberculose em Goiânia, 27,6% (111) dos indivíduos estavam infectados pelo HIV e destes, 36,9% estavam coinfectados pelo HBV (Aires et al. 2012) e 18,0% pelo HCV (Reis et al. 2011). Estudo conduzido em gestantes evidenciou uma prevalência de infecção pelo HCV de 0,15%, e de HIV de 0,09%. Entre as gestantes HIV positivas, a prevalência de coinfectadas pelo HCV foi de 7,4% (Costa et al. 2009). Já entre indivíduos atendidos no centro de testagem e aconselhamento (CTA) de Goiânia, 3,2% (19) estavam infectados pelo HIV e destes, 42,0% estavam coinfectados pelo HCV. Em relação à coinfecção pelos vírus da hepatite B e C, simultaneamente, em indivíduos infectados pelo HIV, estudo conduzido em Presidente Prudente (SP) entre 1.228 indivíduos, que passaram por uma clínica de infectologia, estimou que 16,1% dos indivíduos HIV positivos (303) estavam coinfectados pelo HCV, 1,6% pelo HBV e 0,3% por ambos os vírus (Portelinha-Filho et al. 2009). Estudos prévios conduzidos entre pacientes vivendo com HIV em São Paulo, mostraram prevalências de coinfectados variando de 1,8% (Mendes-Corrêa et al. 2000) a 20,4% (Souza et al. 2004). Essa ampla variação deve-se, provavelmente às diferentes proporções de usuários de drogas injetáveis nas populações estudadas. Até o momento não foram publicados estudos em Goiás com dados da coinfecção HBV/HCV entre indivíduos HIV positivos. 21 2. JUSTIFICATIVA Os vírus das hepatites B e C são responsáveis pelas infecções crônicas virais mais comuns em todo o mundo. Esses vírus são os principais responsáveis por insuficiência hepática crônica e pelo desenvolvimento de hepatocarcinoma, na população geral (Cooper et al. 2006). Sabe-se que a prevalência do HBV e do HCV é maior entre indivíduos infectados pelo HIV do que em doadores de sangue ou na população geral, devido às vias comuns de transmissão desses vírus. Estudos indicam que as coinfecções HBV/HIV e HCV/HIV parecem estar associadas a um pior prognóstico do paciente em relação à doença hepática (Sulkowski & Thomas 2003, Alter et al. 2006, Cooper et al. 2006, Carmo et al. 2008). Considerando a importância clínico-epidemiológica, desses vírus, no cenário mundial e brasileiro, e que são ainda escassos os estudos conduzidos na região centro-oeste avaliando a presença da infecção pelos vírus HBV e HCV, entre indivíduos HIV soropositivos (Pereira et al. 2006, Mussi et al. 2007), é de fundamental importância investigar a prevalência da coinfecção HIV e HCV e/ou HBV em Goiás. O presente estudo justifica-se pela necessidade de delinear o perfil clínico-epidemiológico e imunológico dos pacientes infectados pelo HIV, HBV e HCV, contribuindo para o conhecimento sobre a distribuição e os fatores associados à coinfecção por esses vírus, com vistas à subsidiar estratégias de prevenção em Goiás. 22 3. OBJETIVOS O objetivo geral deste projeto é estimar a magnitude da coinfecção pelo HBV e HCV entre os indivíduos vivendo com HIV/AIDS e investigar os fatores associados à coinfecção. Assim, os objetivos específicos são: 1. Estimar a prevalência de marcadores sorológicos e moleculares para HBV entre pacientes HIV-1 soropositivos; 2. Estimar a prevalência de marcadores sorológicos e moleculares para HCV entre pacientes HIV-1 soropositivos; 3. Determinar os genótipos do HCV na população estudada; 4. Investigar fatores associados à infecção pelo HBV ou HCV em pacientes HIV-1 soropositivos, atendidos na rede pública em GoiâniaGoiás. 23 4. MÉTODOS 4.1. Delineamento: Estudo transversal 4.2. População e local de recrutamento Foram recrutados pacientes com idade entre 18 anos e 70 anos, HIV soropositivos, sequencialmente atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás e que realizaram pelo menos um exame laboratorial no Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica (CRDT) Cândido José Santiago de Moura, em Goiânia, de 14 de março a 27 de maio de 2011 (12 semanas). Foram excluídos pacientes analfabetos ou incapazes de assinar termo de consentimento. O CRDT é a unidade de referência, vinculada à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS), para a coleta de exames de acompanhamento para pacientes HIV soropositivos que residem em Goiânia. Pacientes portadores do HIV/AIDS em Goiás são acompanhados nos ambulatórios de infectologia do Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad (HDT/HAA) da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás e no serviço de assistência especializada do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), e são encaminhados ao CRDT (indivíduos que residem em Goiânia) e ao Laboratório Central de Goiás (LACEN-GO) (indivíduos que residem em cidades do interior do Estado) com pedido de exame para realizar coleta de material biológico para exames de acompanhamento (a cada quatro meses). Alguns exames são realizados no próprio laboratório do CRDT, outros, como carga viral do HIV e contagem de linfócitos T CD4 e CD8, além de exames de biologia molecular para hepatites virais, têm amostras colhidas no CRDT e são encaminhados ao LACEN-GO, unidade de referência laboratorial em saúde pública da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, para que as técnicas laboratoriais sejam executadas. 4.2.1. Parâmetros para o calculo amostral O tamanho da amostra foi estabelecido levando-se em conta as estimativas de prevalência de coinfecção pelos vírus HIV, HBV e HCV, no Brasil. Estudos conduzidos entre pacientes HIV soropositivos, em diferentes regiões brasileiras, mostraram 24 prevalências de coinfecção pelos três vírus variando de 1,8% (Mendes-Corrêa et al. 2000) a 20,4% (Souza et al. 2004). O cálculo do tamanho da amostra foi realizado para detectar prevalências iguais ou superiores a 2,0% de exposição para o HBV (anti-HBc) e HCV (anti-HCV) entre pacientes HIV positivos, com precisão de 1,0% e nível de confiabilidade de 95%. Desta forma, estimou-se que seria necessário recrutar 450 indivíduos. 4.3. Investigação de fatores de risco Após a obtenção do consentimento livre e esclarecido (Anexo 3), uma entrevista padronizada, foi aplicada a todos os participantes do estudo, pela equipe de trabalho do projeto, previamente treinada. As entrevistas foram feitas em local reservado e de forma individual. Foram investigadas algumas características sócio-demográficas (sexo, idade, procedência e tempo de moradia em Goiânia, estado civil e escolaridade), antecedentes de exposição parenteral a material biológico (transfusão de sangue, tatuagem, uso de drogas injetáveis, relação sexual com UDI, opção sexual, histórico de DST), provável via de exposição ao HIV, tempo de diagnóstico do HIV, uso e tempo de tratamento com TARV. O questionário utilizado encontra-se no anexo 4. Foi realizada revisão de prontuários de todos os indivíduos no HDT/HAA e HCUFG para investigação da data de diagnóstico da infecção pelo HIV, data de início da terapia antirretroviral, valores da contagem de células T CD4 e da quantificação da carga viral do HIV-1 do dia da coleta das amostras para a pesquisa. A quantificação da carga viral do HIV e a contagem de linfócitos T CD4+ foram realizadas nas amostras de todos os indivíduos pela técnica de amplificação de ácidos nucleicos (b-DNA) e citometria de fluxo, respectivamente, no LACEN-GO. Valores de carga viral inferiores a 50 cópias/ mL foram considerados como indetectáveis por esse método. 4.4. Coleta de material biológico e testes laboratoriais Foi realizada coleta de sangue venoso, em tubos sem anticoagulante para obtenção de soro e com anticoagulante EDTA para obtenção de plasma e buffy coat, de todos os 25 indivíduos incluídos no estudo. As amostras coletadas e devidamente separadas foram armazenadas em freezer com temperatura de -20ºC durante o projeto e foram testadas para: a) determinações sorológicas por ensaios imunoenzimáticos (com kits comerciais) de marcadores para a infecção pelo vírus da hepatite B (HBsAg/ Anti-HBc ELISA) de todos os indivíduos incluídos no estudo; b) pesquisa do anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (anti-HBs) por método imunoenzimático (ELISA – kit comercial), em todas as amostras positivas para o anti-HBc. c) detecção do HBV DNA (PCR – Real Time) de todas as amostras de indivíduos HBsAg positivos; d) determinações sorológicas por ensaios imunoenzimáticos do anticorpo antiHCV (ELISA – kit comercial) de todos os indivíduos incluídos no estudo; e) quantificação da carga viral do HCV (PCR - Real Time) de todas as amostras de indivíduos anti-HCV positivos; f) genotipagem e subtipagem do HCV (PCR – Real Time) das amostras de indivíduos que apresentaram HCV RNA detectável; g) dosagem sérica das aminotransferases ALT (alanina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase) para avaliação da função hepática de todos os indivíduos. O fluxograma representativo dos exames laboratoriais realizados no estudo está representado na Figura 1. 4.4.1. Testes sorológicos Os testes sorológicos foram realizados no Laboratório de Imunologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). As amostras HIV positivas, incluídas no grupo de estudo, foram testadas sorológicamente com kits comerciais para as seguintes patologias: hepatite B (HBsAg/ Anti-HBc – ELISA de 3ª geração) e hepatite C (anti-HCV ELISA de 3ª geração). As amostras positivas para o anti-HBc foram testadas sorológicamente com kit comercial para Anti-HBs (ELISA de 3ª geração). Todos os testes propostos para sorologia foram executados conforme instruções do fabricante. Amostras com valores em torno de 10% do 26 valor do cut-off foram repetidas em duplicata e deixando de ter valor duvidoso (indeterminado), foram consideradas positivas. Figura 1. Fluxograma de exames laboratoriais previstos na metodologia do estudo. Indivíduos vivendo com HIV/AIDS CRDT (495 indivíduos adultos) Carga viral HIV (b-DNA) Exames laboratoriais Revisão de prontuários Contagem de linfócitos T CD4+ (Citometria de Fluxo) HBV Reagente HBV DNA (PCR Real - Time) ELISA HBsAg Reagente ELISA Anti-HBs ELISA Anti-HBc HCV Outros ELISA anti-HCV Reagente HCV RNA (PCR Real-Time) Genotipagem/ subtipagem do HCV (PCR Real - Time) Dosagem de aminotransferases (AST e ALT) Legenda: CRDT: Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica de Goiânia (GO); HBV: Vírus da Hepatite B; HBsAg: Antígeno de superfície do vírus da hepatite B; Anti-HBc total: anticorpo contra o antígeno do core do vírus da hepatite B; Anti-HBs: anticorpo contra antígeno de superfície do vírus da hepatite B; ELISA: Ensaio imunoenzimático; HCV: Vírus da Hepatite C; anti-HCV: anticorpo contra o vírus da hepatite C; PCR: Reação em cadeia da polimerase; AST: aspartato aminotransferase; ALT: alanina aminotransferase. 27 Estes ensaios foram realizados com os kits dos seguintes fabricantes: HBsAg (Wiener lab. e Interkit); anti-HBc (Interkit); anti-HCV (Wiener lab. e Bioeasy) e anti-HBs (Symbiosys). Para leitura dos resultados utilizou-se a leitora de ELISA da Organom Teknika (Microwell System Reader 230). 4.4.1.1. ELISA HBsAg O ELISA de terceira geração para determinação do HBsAg (Wiener lab. e Interkit) é um teste qualitativo de fase sólida, pelo método de sanduíche, para detecção do antígeno de superfície do vírus da hepatite B. A microplaca está impregnada com anticorpo monoclonal específico aos vários sub-tipos do HBsAg. Durante o teste, as amostras de soro dos pacientes e o conjugado enzimático (contendo anticorpos anti-HBs marcados com peroxidase) são adicionados às cavidades da placa sensibilizada com anticorpos. No kit da Wiener lab. esse procedimento ocorre em duas etapas, já no kit da Interkit ocorre em etapa única (coloca-se amostra e conjugado ao mesmo tempo). Após incubação, se a amostra contiver HBsAg, estes se ligarão aos anticorpos fixados na placa. Após a incubação inicial a microplaca é lavada para remoção de todo material não ligado. Os substratos peróxido de hidrogênio e tetrametilbenzidina (TMB) são adicionados e a placa é novamente incubada, produzindo uma cor azul indicando a presença de HBsAg na amostra. A adição de uma solução de ácido sulfúrico paralisa a reação e produz uma cor amarela. A intensidade de cor formada é proporcional à concentração de HBsAg presente na amostra. Os resultados são lidos em leitoras de microplacas em 450/620-650 nm (Wiener Lab.) e 450/630-700 nm (Interkit) ou 450 nm. 4.4.1.2. ELISA anti-HBc O kit anti-HBc ELISA (Interkit) é um teste qualitativo de fase sólida, pelo método indireto, para detecção de anticorpos anti-HBc IgG em soro ou plasma humano. A microplaca está impregnada com antígeno recombinante do core do HBV. No início do teste, o diluente de amostras e as amostras são adicionados às cavidades e é feita a incubação. Se a amostra contiver anti-HBc, estes irão se ligar ao antígeno da microplaca e formar o complexo imobilizado Antígeno/Anticorpo anti-HBc. Caso a amostra não contenha anti-HBc o complexo não será formado. Após a incubação inicial, a microplaca é 28 lavada para a remoção de todo o material não ligado. A enzima-conjugado anti-anticorpo IgG humano é adicionada na microplaca e então incubada. Esta irá então se ligar ao complexo antígeno/anticorpo anti-HBc presente. Após a segunda incubação, a microplaca é lavada para a remoção de todo o material não ligado. Adiciona-se o peróxido de hidrogênio e o TMB e é feita uma nova incubação, produzindo uma cor azul, que indica a quantidade de anti-HBc na placa. A adição de uma solução de ácido sulfúrico paralisa a reação e produz uma cor amarela. A intensidade de cor formada é proporcional à concentração de anti-HBc IgG na amostra. Os resultados são lidos em leitoras de microplacas em 450/630-700nm ou 450nm. 4.4.1.3. ELISA anti-HBs O ensaio para detecção do anti-HBs (Symbiosys) é baseado na técnica de ELISA para a determinação quantitativa do anti-HBs em soro ou plasma humano. Nas cavidades das microplacas sensibilizadas com antígeno HBsAg recombinante, adicionam-se as amostras juntamente com um segundo antígeno HBsAg conjugado com peroxidase. Durante a incubação, o anti-HBs eventualmente presente na amostra liga-se aos antígenos conjugados com a enzima formando um imunocomplexo específico, o qual é capturado pelos antígenos de fase sólida. Após aspiração e lavagem, outros compostos não ligados são removidos. A atividade enzimática fixada na fase sólida, agindo com a solução cromógeno-substrato, gera um sinal óptico que é proporcional à quantidade de anti-HBs presente na amostra. A intensidade de cor desenvolvida é medida por meio de leitura espectrofotométrica a 450 e 405 nm com referência em 620/630 nm. Amostras com concentrações de anti-HBs menores que 10 mUI/mL são consideradas negativas para antiHBs. 4.4.1.4. ELISA anti-HCV O HCV ELISA (Wiener Lab. e Bioeasy) é um ensaio imunoenzimático qualitativo indireto em fase sólida para a detecção do anticorpo IgG do HCV em soro ou plasma. A microplaca é revestida com antígenos recombinantes de HCV. Durante o teste as amostras diluídas são adicionadas à placa revestida com antígeno e incubados. A amostra contendo anticorpos do HCV se ligará aos antígenos que estão revestidos na placa imobilizando o 29 complexo antígeno/ anti-HCV. Se a amostra não contém anticorpos do HCV, não formará os complexos. Após a incubação a microplaca será lavada para retirar o excesso de material que não se ligou. O conjugado enzimático do anticorpo IgG anti-humano se ligará aos antígenos revestidos na microplaca. Após a segunda incubação a microplaca será lavada para retirar o excesso de material que não se ligou. O substrato A e substrato B são adicionados para produzir uma cor azul indicando a quantidade de anticorpos do HCV presentes na amostra. A solução de ácido sulfúrico é adicionada á placa para parar a reação produzindo uma mudança de cor na reação de azul para amarelo. A intensidade da cor será proporcional á quantidade de anticorpos do HCV presentes na amostra, a leitura é feita em leitoras de microplaca em filtro de 450/630-700 nm ou 450 nm. 4.4.2. Testes moleculares Os testes moleculares previstos no projeto foram terceirizados e executados pelo Centro de Genomas, laboratório de referência em medicina molecular e genética avançada para o diagnóstico e monitoramento de doenças infecciosas, localizado na cidade de São Paulo. 4.4.2.1. PCR qualitativo do HBV (PCR Real-Time) O PCR qualitativo para o DNA do HBV foi realizado nas amostras de plasma (EDTA) dos indivíduos que apresentaram sorologia positiva pelo ELISA HBsAg, pela metodologia de PCR em tempo real (PCR Real-Time), desenvolvido pelo departamento PDI do Centro de Genomas com o sistema de reagentes TaqMan. Este é o teste utilizado para o monitoramento do tratamento da hepatite B e diagnóstico de replicação viral em pessoas cronicamente infectadas (MS 2008). A sensibilidade do kit varia em torno de 50 UI/mL. 4.4.2.2. Carga viral do HCV (PCR Real-Time) 30 A carga viral para o RNA do HCV ou PCR quantitativo para o HCV foi realizada nas amostras de plasma (EDTA) dos indivíduos com anti-HCV positivo pelo ELISA. A metodologia empregada foi o RT-PCR quantitativo em tempo real (PCR Real-Time), método desenvolvido pelo departamento de PDI do Centro de Genomas com o sistema de reagentes TaqMan. Este é o teste utilizado para o monitoramento do tratamento da hepatite C e recomendado para confirmação da infecção pela hepatite C em pessoas com sorologia positiva para o HCV (MS 2008). A sensibilidade do teste varia em torno de 25 UI/mL. 4.4.2.3. Genotipagem e subtipagem do HCV A genotipagem e a subtipagem do HCV foram executadas nas amostras de plasma (EDTA) com HCV RNA detectável, pela metodologia de PCR em tempo real (PCR RealTime). A genotipagem do vírus da hepatite C é utilizada como parâmetro auxiliar no prognóstico e indicação do tratamento (Chevaliez & Pawlotsky 2007). No Centro de genomas, em agosto de 2012, a metodologia passou de sequenciamento para PCR em tempo real e a subtipagem passou a ser realizada apenas para o genótipo 1 (subtipos 1a e 1b). No genótipo 1, a confiança da subtipagem 1a ou 1b só é alcançada se a análise for realizada na região NS5b, como ocorre nesse procedimento. Esta técnica é limitada pelo fato de que cargas virais muito baixas podem não ser amplificadas pela RT-PCR e, desta forma, não podem ser genotipadas. 4.4.3. Dosagem de aminotransferases Os testes bioquímicos foram realizados no Laboratório da Área de Saúde (LAS) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). As amostras HIV positivas, incluídas no grupo de estudo, foram testadas com kits comerciais para as aminotransferases: ALT/TGP (Liquiform Labtest) e AST/TGO (Liquiform Labtest). Os testes bioquímicos propostos (kits comerciais) foram executados conforme instruções do fabricante. Para leitura dos resultados utilizou-se os equipamentos BTS 310 e Bioplus 2000. 31 4.4.3.1. Dosagem de ALT A ALT catalisa especificamente a transferência do grupo amina da alanina para o cetoglutarato, com formação de glutamato e piruvato. O piruvato é reduzido à lactato por ação da lactato desidrogenase (LDH) enquanto que a coenzima NADH é oxidada a NAD. A redução da absorvância em 340 ou 365 nm, consequente à oxidação na NADH, é monitorada fotometricamente sendo diretamente proporcional à atividade da ALT na amostra. Logo, trata-se de uma reação cinética contínua decrescente. Em um tubo rotulado “teste” ou “calibrador”, foi pipetado 800µL da mistura (Reagente 1 + Reagente 3). Adicionou-se 100 µL de amostra de soro do paciente ou do calibrador de enzimas. Realizou-se ajuste do zero do fotômetro em 340 nm com água deionizada e em seguida. Foi feita adição de 200 µL do Reagente 2 seguida de homogeneização do tubo com transferência imediata para a cubeta termostatizada a 37ºC. Esperou-se 1 minuto. Registrou-se a absorvância inicial (A1) e, após 2 minutos, a absorvância (A2). O cálculo da ALT (U/L) foi feito pela diferença de A1-A2 dividido por 2, multiplicado pelo fator de calibração. De acordo com os valores de referência do kit, considerou-se como normais valores até 45 UI/L. 4.4.3.2. Dosagem de AST A AST catalisa especificamente a transferência do grupo amina do ácido aspártico para o cetoglutarato, com formação de glutamato e oxalacetato. O oxalacetato é reduzido à malato por ação da malato desidrogenase (MDH) enquanto que a coenzima NADH é oxidada a NAD. A redução da absorvância em 340 ou 365 nm, consequente à oxidação na NADH, é monitorada fotometricamente sendo diretamente proporcional à atividade da ALT na amostra. Logo, trata-se de uma reação cinética contínua decrescente. Em um tubo rotulado “teste” ou “calibrador”, foi pipetado 800µL da mistura (Reagente 1 + Reagente 3). Adicionou-se 100 µL de amostra de soro do paciente ou do calibrador de enzimas, realizou-se homogeneização e incubou-se em banho-maria a 37ºC por cinco minutos. Realizou-se ajuste do zero do fotômetro em 340 nm com água deionizada e em seguida. Foi feita adição de 200 µL do Reagente 2 seguida de homogeneização do tubo com transferência imediata para a cubeta termostatizada a 37ºC. Esperou-se 1 minuto. Registrou-se a absorvância inicial (A1) e, após 2 minutos, a 32 absorvância (A2). O cálculo da AST (U/L) foi feito pela diferença de A1-A2 dividido por 2, multiplicado pelo fator de calibração. De acordo com os valores de referência do kit, considerou-se como normais valores até 39 UI/L. 4.5. Processamento e análise de dados Foram construídos arquivos eletrônicos para armazenamento e posterior análise de dados. Foi realizada dupla entrada de dados. Após avaliação de consistência, os dados foram analisados utilizando-se programas os estatísticos Epi Info 3.5.3 e SPSS 15.0. Inicialmente foi realizada análise descritiva e exploratória das principais variáveis sócio-demográficas dos participantes e de fatores de risco para as infecções em investigação. Os testes do qui-quadrado e exato de Fisher foram empregados quando apropriados. Foram construídos gráficos de caixas para explorar a distribuição dos valores de densidade óptica (DO) obtidos com a leitura do ELISA anti-HCV e para a distribuição dos valores das aminotransferases nos pacientes HBV e/ou HCV infectados. O box plot é formado pelo primeiro e terceiro quartil e pela mediana. Foram calculadas as prevalências, com respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%), de infecção pelo HBV e/ou HCV, entre os soropositivos para HIV. Foi realizada análise univariada para avaliar a relação entre variáveis de desfecho (positividade para HBV e/ou HCV) e diferentes variáveis de exposição (variáveis sóciodemográficas, marcadores imunológicos e moleculares). Para variáveis contínuas, o ponto de corte para atribuição das categorias de exposição foi a média (idade e tempo de infecção pelo HIV) e, para contagem de linfócitos T CD4+ considerou-se menos de 350 cel/mm3 a categoria de maior risco para outras infecções. Foram calculados os Odds Ratios (ORs) com respectivos IC95%. As variáveis que alcançaram um nível de significância inferior a 0,10 para a associação com o HBV ou com o HCV na análise univariada foram incluídas no modelo de regressão logística, com cálculo do OR ajustado. Na análise multivariada foi estabelecido um nível de significância estatística <0,05. O processamento e análise de dados foram realizados no Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG. 33 4.6. Considerações éticas O estudo, parte de um projeto maior intitulado “Impacto da infecção pelo vírus da hepatite G em pacientes infectados pelo HIV e coinfectados pelo HIV e pelo HCV”, está cadastrado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Goiás (CEP-SGC/UCG) sob o CAAE 0117.1.168.000-09 (Anexo 1) e pelo Comitê de ética em Pesquisa do Hospital de Doenças Tropicais de Goiás (Anexo 2). Após os devidos esclarecimentos sobre o projeto, todos os participantes assinaram o TCLE (Anexo 3), após aceite individual. Todos os cuidados necessários foram tomados para prover a segurança dos indivíduos e proteção à confidencialidade. O material obtido na pesquisa foi utilizado especificamente para os propósitos da pesquisa e não será utilizado para outros fins. 4.7. Apoio financeiro: Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD/ 2008) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás/ Programa de Pesquisa para o SUS (FAPEG/ PPSUS 008/2009). 34 5. RESULTADOS Entre os dias 14 de março e 27 de maio de 2011, 546 indivíduos HIV soropositivos, atendidos no CRDT, foram convidados pela equipe de pesquisa a participar do estudo. Destes, 23 (4,2%) recursaram o convite e 17 (3,1%) não preenchiam os critérios de elegibilidade. Assim, 506 indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e foram entrevistados. Destes, 11 indivíduos não tiveram amostras de sangue colhidas, devido a dificuldades no momento da coleta. Logo, foram incluídos no estudo 495 indivíduos, com assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, respostas aos questionários e coleta de amostras de sangue (Figura 2). Figura 2. Fluxograma de recrutamento de indivíduos HIV soropositivos para o estudo. Indivíduos vivendo com HIV/AIDS atendidos no CRDT 23 (4,2%) 546 Indivíduos convidados a participar da pesquisa (14/03 a 27/05/2011) 506 Assinaram o TCLE / Foram entrevistados Recusas 17 (3,1%) Não preencheram critérios de elegibilidade Idade < 18 anos (7) Idade > 70 anos (7) Problemas mentais (1) Analfabeto (1) Deficiente auditivo (1) 11 (2,2%) Coleta de amostra de sangue não realizada 495 Coleta de amostra de sangue / Incluídos no estudo Legenda: CRDT: Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica de Goiânia (GO); TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 35 As características epidemiológicas e demográficas dos participantes do estudo estão descritas nas tabelas 5 e 6, estratificadas por sexo e instituição de origem, respectivamente. A população estudada foi composta por 495 pacientes adultos, advindos do HDT/HAA (68,5%) e do HC-UFG (31,5%). A quase totalidade (96,8%) dos indivíduos incluídos no estudo residia em Goiânia. A média de idade dos pacientes foi de 40,2 anos (desvio padrão=10,4), com predomínio de homens (73,9%), solteiros (50,1%), com escolaridade superior a nove anos (63,0%). Na análise estratificada por sexo, em relação aos parâmetros sócio-demográficos, homens e mulheres se mostraram diferentes em relação à instituição de origem (65,0% dos homens e 78,3% das mulheres foram encaminhados do HDT/HAA), ao estado civil (57,4% dos homens e 29,5% das mulheres se declararam solteiros) e à escolaridade (33,4% dos homens e 47,2% das mulheres tinham escolaridade inferior a nove anos). Em relação aos antecedentes de exposição parenteral a material biológico, 13,9% alegaram ter recebido transfusão de sangue em algum momento da vida, sendo que entre as mulheres essa proporção foi de 19,4%. (comparadas a 12,0% dos homens). Dezoito vírgula oito por cento dos indivíduos relataram pelo menos uma tatuagem. O uso de drogas injetáveis foi relatado por 3,6% dos participantes, com diferença significativa entre os sexos (4,6% dos homens e 0,8% das mulheres) e 7,5% dos indivíduos alegaram ter tido relação sexual com usuários de drogas, com proporção maior entre as mulheres (14,0%). Em relação à opção sexual, 50,5% dos homens eram homo ou bissexuais. Duzentos e vinte e um indivíduos (44,6%) relataram ter um histórico de DST, com proporção significativamente maior entre os homens (52,7%, comparado a 21,7% das mulheres). Dos indivíduos que relataram histórico de alguma DST, 43,0 % (95) disseram ter tido gonorreia, 37,6% (83) sífilis, 16,7% (37) hepatite B, 11,8% (26) hepatite C, 6,8% (15) herpes e 6,3% (14) HPV. Quando questionados sobre a suposta via de infecção pelo HIV, 77,0% disseram ter se infectado por via sexual, 1,4% por transfusão de sangue, 1,2% pelo uso de drogas injetáveis e 1,0% por acidente com material biológico. É importante ressaltar que 19,4% da população estudada (96 indivíduos), disseram não saber qual a provável via de infecção pelo HIV. Sobre o histórico da infecção pelo HIV, a média do tempo de diagnóstico do HIV foi de 6,7 anos (desvio padrão=5,5), sendo que 6,3% dos indivíduos tinham tido o diagnóstico há menos de um ano e 24,0% há mais de 10 anos. Em relação ao tratamento, 74,9% dos participantes estavam em uso de TARV à época da coleta de dados. 36 Tabela 5. Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por sexo, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás. Característica Masculino - N (%) Feminino - N (%) Total: 495 366 (73,9) 129 (26,1) Instituição de origem Hospital de Doenças Tropicais Hospital das Clínicas 238 (65,0) 128 (35,0) 101 (78,3) 28 (21,7) <0,01* Município de residência Goiânia Outros 353 (96,4) 13 (3,6) 126 (97,7) 3 (2,3) 0,77 Faixa etária (em anos) 18–30 31–40 41–50 51–67 76 (20,8) 112 (30,6) 119 (32,5) 59 (16,1) 17 (13,2) 45 (36,4) 42 (31,0) 25 (19,4) 0,20 Estado civil Solteiro (a) Casado (a) Divorciado (a) Viúvo (a) 210 (57,4) 108 (29,5) 43 (11,7) 5 (1,4) 38 (29,5) 54 (41,8) 21 (16,3) 16 (12,4) <0,01* Escolaridade < 9 anos (Ensino Fundamental) 9 - 11 anos (Ensino Médio) > 11 anos (Ensino Superior) 122 (33,4) 128 (34,9) 116 (31,7) 61 (47,2) 52 (40,4) 16 (12,4) <0,01* 44 (12,1) 320 (87,9) 25 (19,5) 103 (80,5) 0,04* Presença de tatuagem Sim Não 70 (19,1) 296 (80,9) 23 (17,8) 106 (82,2) 0,75 Usuários de drogas injetáveis Sim Não 17 (4,6) 349 (95,4) 1 (0,8) 128 (99,2) 0,03* 19 (5,2) 343 (94,8) 18 (14,5) 106 (85,5) <0,01* 181 (49,5) 133 (36,3) 52 (14,2) 128 (99,2) 0 (0,0) 1 (0,8) <0,01* Histórico de transfusão de sangue Sim Não Sexo com usuários de drogas injetáveis Sim Não Opção sexual Heterossexual Homossexual Bissexual P a b N: nº de casos; P: significância estatística (<0,05); * estatisticamente significante; a 3 indivíduos relataram não saber o histórico de transfusão de sangue; b 9 indivíduos relataram não saber se tiveram relação sexual com usuários de drogas injetáveis. 37 Tabela 5 (continuação). Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por sexo, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás. Característica Masculino - N (%) Feminino - N (%) P Relato de histórico de doenças sexualmente transmissíveis c Sim Não 193 (52,7) 173 (47,3) 28 (21,9) 100 (78,1) <0,01* Relato de exame prévio positivo para HCV Sim Não 22 (6,0) 344 (94,0) 4 (3,1) 125 (96,9) 0,21 Suposta via de infecção pelo HIV Sexual Parenteral Uso de drogas injetáveis Acidente com material biológico Hemotransfusão 276 (95,2) 14 (4,8) 6 (2,1) 3 (1,0) 5 (1,7) Tempo de diagnóstico do HIV (em anos) <1 1-5 6 - 10 > 10 Uso de terapia antirretroviral potente Sim Não d 105 (96,4) 4 (3,6) 0 (0,0) 2 (1,8) 2 (1,8) 0,43 e 29 (7,9) 166 (45,5) 90 (24,7) 80 (21,9) 2 (1,6) 48 (37,2) 40 (31,0) 39 (30,2) <0,01* 262 (71,6) 104 (28,4) 109 (84,5) 20 (15,5) <0,01* N: nº de casos; P: significância estatística (<0,05); * estatisticamente significante; c 1 indivíduo relatou não saber se apresentava histórico de doenças sexualmente transmissíveis; d 96 indivíduos relataram não saber a suposta via de infecção pelo HIV; e 1 indivíduo relatou não saber o tempo de diagnóstico do HIV. A proporção de mulheres com mais de 6 anos de diagnóstico da infecção pelo HIV e em uso de TARV foi maior em comparação aos homens. Na análise estratificada por instituição de origem (tabela 6), os indivíduos acompanhados no HDT/HAA e no HC-UFG se mostraram diferentes em relação à maioria dos parâmetros: faixa etária (com maior proporção de indivíduos com mais de 40 anos no HDT/HAA); estado civil (maior proporção de solteiros no HC-UFG); escolaridade (proporção de indivíduos com maior escolaridade no HC-UFG); histórico de transfusão de sangue (16,6% dos indivíduos do HDT/HAA relataram transfusão anterior, em comparação a 8,4% do HC-UFG); sexo com usuários de drogas injetáveis (relato maior entre os indivíduos do HDT/HAA); opção sexual (maior proporção de homo e bissexuais atendidos no HC-UFG); suposta via de infecção pelo HIV (5,8% dos indivíduos acompanhados no HDT/HAA e 1,6% dos acompanhados no HC-UFG, relataram exposição parenteral); 38 tempo de diagnóstico do HIV (maior porcentagem de indivíduos infectados há menos de 6 anos no HC-UFG); e uso de TARV (81,7% dos indivíduos do HDT/HAA faziam uso de TARV, comparados a 60,3% dos indivíduos acompanhados pelo HC-UFG). Tabela 6. Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por instituição de origem, atendidos na rede pública de Goiânia - Goiás. Característica Total: 495 HDT/HAA - N (%) 339 (68,5) HC-UFG - N (%) 156 (31,5) P 238 (70,2) 101 (29,8) 128 (82,1) 28 (17,9) <0,01* Município de residência Goiânia Outros 328 (96,8) 11 (3,2) 151 (96,8) 5 (3,2) 0,98 Faixa etária (em anos) 18–30 31–40 41–50 51–67 51 (15,0) 97 (28,6) 125 (36,9) 66 (19,5) 42 (26,9) 62 (39,8) 34 (21,8) 18 (11,5) <0,01* Estado civil Solteiro (a) Casado (a) Divorciado (a) Viúvo (a) 148 (43,7) 126 (37,2) 44 (13,0) 21 (6,1) 100 (64,1) 36 (23,1) 20 (12,8) 0 (0,0) <0,01* Escolaridade < 9 anos (Ensino Fundamental) 9 - 11 anos (Ensino Médio) > 11 anos (Ensino Superior) 135 (39,8) 129 (38,1) 75 (22,1) 48 (30,8) 51 (32,7) 57 (36,5) <0,01* 56 (16,6) 282 (83,4) 13 (8,4) 141 (91,6) 0,02* Presença de tatuagem Sim Não 61 (18,0) 278 (82,0) 32 (20,5) 124 (79,5) 0,51 Usuários de drogas injetáveis Sim Não 13 (3,8) 326 (96,2) 5 (3,2) 151 (96,8) 0,73 Sexo Masculino Feminino Histórico de transfusão de sangue Sim Não a N: nº de casos; P: significância estatística (<0,05); * estatisticamente significante; a 3 indivíduos relataram não saber o histórico de transfusão de sangue 39 Tabela 6 (continuação). Perfil clínico-epidemiológico de 495 pacientes vivendo com HIV/AIDS, estratificados por instituição de origem, atendidos na rede pública de Goiânia-Goiás. Característica HDT/HAA - N (%) HC-UFG - N (%) P 32 (9,6) 301 (90,4) 5 (3,3) 148 (96,7) 0,01* Opção sexual Heterossexual Homossexual Bissexual 231 (68,2) 75 (22,1) 33 (9,7) 78 (50,0) 58 (37,2) 20 (12,8) <0,01* Relato de histórico de doenças sexualmente transmissíveis c Sim Não 151 (44,5) 188 (55,5) 70 (45,2) 85 (54,8) 0,9 Relato de exame prévio positivo para HCV Sim Não 20 (5,9) 319 (94,1) 6 (3,8) 150 (96,2) 0,34 Suposta via de infecção pelo HIV Sexual Parenteral Uso de drogas injetáveis Acidente com material biológico Hemotransfusão 260 (94,2) 16 (5,8) 4 (1,4) 5 (1,8) 7 (2,6) 121 (98,4) 2 (1,6) 2 (1,6) 0 (0,0) 0 (0,0) 0,06 17 (5,0) 106 (31,4) 102 (30,2) 113 (33,4) 14 (9,0) 108 (69,3) 28 (17,9) 6 (3,8) <0,01* 277 (81,7) 62 (18,3) 94 (60,3) 62 (39,7) <0,01* Sexo com usuários de drogas injetáveis Sim Não Tempo de diagnóstico do HIV (em anos) <1 1-5 6 - 10 > 10 Uso de terapia antirretroviral potente Sim Não b d e N: nº de casos; P: significância estatística (<0,05); * estatisticamente significante; não saber se tiveram relação sexual com usuários de drogas injetáveis; apresentava histórico de doenças sexualmente transmissíveis; d c b 9 indivíduos relataram 1 indivíduo relatou não saber se 96 indivíduos relataram não saber a suposta via de infecção pelo HIV; e 1 indivíduo relatou não saber o tempo de diagnóstico do HIV Na avaliação das aminotransferases, a mediana dos resultados obtidos foi de 15 UI/L para ALT (IQ = 11 - 23) e 27 UI/L para AST (IQ= 22 - 34). Considerando-se como valores referenciais de normalidade os valores descritos pelo fabricante (kit da Labtest), 4,7% dos indivíduos estavam com ALT e 18,7% estavam com AST superior ao limite considerado de normalidade. Se considerados, os valores duas vezes acima do limite 40 superior de normalidade, 0,6% (3) e 2,8% (14) das amostras apresentaram, respectivamente, ALT e AST elevadas. Em relação à contagem de linfócitos T CD4+, para os 449 indivíduos com resultados, a mediana foi de 495 cél./mm3 (IQ= 340 - 693). Na avaliação da carga viral do HIV, 447 resultados foram recuperados dos prontuários e 67,6% dos indivíduos tiveram carga viral indetectável. Entre os participantes com carga viral detectável (145), a mediana da carga viral foi de 14.332 cópias/mL (IQ= 3.203 cópias/mL - 40.954 cópias/mL). A prevalência de pelo menos um marcador de exposição ao vírus da hepatite B foi de 33,5% (IC95% 29,4-37,9). Dezenove pacientes (3,8%, IC95% 2,4-6,0) foram diagnosticados como sendo portadores do vírus da hepatite B (HBsAg soropositivos). Em relação ao anti-HBc, 40 indivíduos (8,1%) apresentaram este marcador isolado e 107 apresentaram anti-HBc e anti-HBs. Dos 166 indivíduos expostos ao HBV, 78,3% não sabiam da exposição e, em relação ao HBsAg, dos 19 soropositivos, apenas 9 (47,4%) relataram ter hepatite B. A soroprevalência de infecção pelo HCV foi 9,7% (IC95% 7,3-12,7), sendo que 54,2% dos indivíduos HCV positivos pelo ELISA desconheciam seu status sorológico. Dos 22 indivíduos que conheciam seu status sorológico, 13 receberam tratamento para o HCV. Pelos marcadores sorológicos, a coinfecção pelos três vírus (considerando-se a positividade para qualquer marcador do HBV) foi de 4,4% (IC95% 2,9-6,8). Os dados de soroprevalência estão representados na tabela 7. Tabela 7. Prevalência de marcadores sorológicos para exposição à hepatite B e C em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia - Goiás. Marcadores de exposição Hepatite B Anti-HBc+ e/ou HBsAg + HBsAg + Anti-HBc + (isolado) Anti-HBc + e anti-HBs + N (%) (IC 95%) 166 (33,5) 19 (3,8) 40 (8,1) 107 (21,6) (29,4 - 37,9) (2,4 - 6,0) (5,9 - 10,9) (18,1 - 25,6) Hepatite C Anti-HCV 48 (9,7) (7,3 - 12,7) Hepatite B e C 22 (4,4) (2,9 - 6,8) N: nº de casos; IC 95%: intervalo de 95% de confiança. 41 Em relação aos marcadores moleculares, dos 19 pacientes avaliados para presença do HBV DNA qualitativo, 13 (68,4%, IC95% 43,4-87,4) apresentaram resultado positivo, sendo que seis deles não sabiam estar infectados pelo HBV. Para o HCV RNA quantitativo, dos 48 indivíduos analisados, 22 tiveram carga viral detectável, sendo que nestes a mediana da carga viral do HCV foi de 853.349 cópias/mL (IQ= 151.721 cópias/mL – 1.949.271 cópias/mL). A frequência dos genótipos do HCV foi de 86,4% para o genótipo 1 (72,7% do subtipo 1a e 9,1% do subtipo 1b) e 13,6% para o genótipo 3 (tabela 8). Dos indivíduos com carga viral detectável para o HCV, quatro não sabiam da infecção e, dos dezoito que sabiam, onze relataram tratamento para hepatite C. Tabela 8. Frequência de genótipos e subtipos do HCV entre 22 indivíduos vivendo com HIV/AIDS atendidos na rede pública de saúde de Goiânia, Goiás. Genótipos HCV 1 3 N (%) (IC 95%) a 19 (86,4) (65,1 - 97,1) Subtipo 1a 16 (72,7) (49,8 - 89,3) Subtipo 1b 2 (9,1) (1,1 - 29,2) 3 (13,6) (2,9 - 34,9) N: nº de casos; IC 95%: intervalo de 95% de confiança; a uma amostra não teve subtipo determinado. A figura 3 mostra a distribuição dos valores da densidade óptica do anti-HCV (ELISA) em relação à detecção da viremia pelo HCV (indetectável e detectável). Observase que amostras com HCV RNA indetectável apresentam mediana da DO de 0,318 (IQ: 0,185-0,510), inferior à mediana da DO nas amostras com HCV RNA detectável (1,522, IQ: 1,438-2,452). Das 22 amostras com carga viral detectável, 21 apresentaram DO superior a 1,000. Em contrapartida, entre as 26 amostras com carga viral indetectável, a maioria (21/26) apresentou DO abaixo de 1.000. Dos cinco casos com DO acima de 1,000 e carga viral indetectável, três sabiam ser HCV positivos, sendo que um era tratado para HCV e dois não tratados, e os outros dois desconheciam estar infectados pelo HCV. 42 3,000 DO ELISA ANTI-HCV 2,500 2,000 1,500 1,000 0,500 0,000 Indetectável Detectável CARGA VIRAL HCV * - valores discrepantes ou outliers Figura 3. Comparação entre as densidades ópticas (DOs) obtidas na leitura do ELISA para detecção do anti-HCV e a carga viral do HCV nas 48 amostras positivas para anti-HCV pela sorologia. Na análise univariada, os seguintes fatores de risco mostraram associação com a presença de marcadores de exposição ao HBV: sexo, idade, escolaridade, relato de histórico de DST (incluindo hepatites virais), relato de sexo com UDI, opção sexual e exposição ao vírus da hepatite C (positividade ao anti-HCV) (tabela 9). Essas variáveis foram incluídas no modelo de regressão logística para avaliação dos fatores associados à exposição ao HBV. Não foi evidenciada associação entre infecção pelo HBV e instituição de origem, presença de tatuagens ou antecedentes de transfusão de sangue. Também não foi evidenciada associação entre antecedentes de uso de drogas injetáveis, tempo de diagnóstico do HIV, uso de TARV, contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral do HIV. 43 Tabela 9. Análise univariada dos fatores associados à exposição ao vírus da hepatite B (HBV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia - Goiás. Exposição ao HBV Fatores de Risco Sim Não OR (IC 95%) P Sexo (495) Masculino Feminino 149 17 217 112 4,5 (2,6 - 7,8) <0,01* Instituição de origem HDT/HAA HC-UFG 112 54 227 102 0,9 (0,6 - 1,4) 0,73 ≥ 40 anos < 40 anos 102 64 157 172 1,7 (1,2 - 2,6) <0,01* < 9 anos ≥ 9 anos 53 113 130 199 0,7 (0,5 - 1,1) 0,10* Sim Não 28 138 65 264 0,8 (0,5 - 1,3) 0,44 Sim Não 24 142 45 281 1,1 (0,6 - 1,8) 0,84 Relato de histórico de DST (incluindo hepatites virais) (494) Sim Não 100 66 121 207 2,6 (1,8 - 3,8) <0,01* UDI (495) Sim Não 6 160 12 317 1,0 (0,4 - 2,7) 0,99 Sexo com UDI (486) Sim Não 8 158 29 291 0,5 (0,2 - 1,1) 0,09* Homo/ bissexual Heterossexual 95 71 91 238 3,5 (2,4 - 5,2) <0,01* ≥ 6 anos < 6 anos 86 80 163 165 1,1 (0,7 - 1,6) 0,66 Sim Não 126 40 245 84 1,1 (0,7 - 1,7) 0,73 < 350 cél/mm3 ≥ 350 cél/mm3 45 106 77 221 1,2 (0,8 - 1,9) 0,37 Detectável Indetectável 41 108 104 194 0,7 (0,5 - 1,1) 0,12 Sim Não 22 144 26 303 1,8 (1,0 - 3,2) 0,06* Idade (495) Escolaridade (495) Presença de tatuagem (495) Histórico de transfusão de sangue (492) Opção sexual (495) Tempo de diagnóstico do HIV (494) Uso de TARV (495) Contagem de linfócitos T CD4+ (449) Carga viral HIV (447) Exposição ao vírus da hepatite C (anti-HCV +) (495) OR: odds ratio; IC 95%: intervalo de 95% de confiança; P: significância estatística (<0,10); *estatisticamente significante; HDT/HAA: Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad; HC-UFG: Hospital das ClínicasUniversidade Federal de Goiás; DST: doenças sexualmente transmissíveis; UDI: usuários de drogas injetáveis; TARV: terapia antirretroviral potente. 44 Após análise multivariada, indivíduos do sexo masculino (OR ajustado=2,0; IC95% 1,1-3,8), idade igual ou superior a 40 anos (OR ajustado=2,4; IC95% 1,5-3,8), relato de histórico de DST (OR ajustado=1,9; IC95% 1,2-2,9) e homo ou bissexualismo (OR ajustado=3,7; IC95% 2,2-6,3) apresentaram um risco significativamente maior de apresentarem marcadores de infecção para o HBV (tabela 10). Tabela 10. Fatores associados à exposição ao vírus da hepatite B (HBV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia-Goiás. Fatores de Risco OR bruto (IC 95%) P OR ajustado (IC 95%) P Sexo masculino 4,5 (2,6 – 7,8) <0,01 2,0 (1,1 – 3,8) 0,03* Idade ≥ 40 anos 1,7 (1,2 - 2,6) <0,01 2,4 (1,5 - 3,8) <0,01* Escolaridade < 9 anos 0,7 (0,5 - 1,1) 0,10 0,8 (0,5 - 1,4) 0,85 Relato de histórico de DST 2,6 (1,8 - 3,8) <0,01 1,9 (1,2 - 2,9) <0,01* Sexo com UDI 0,5 (0,2 - 1,1) 0,09 0,6 (0,2 - 1,4) 0,21 Homo / Bissexualismo 3,5 (2,4 - 5,2) <0,01 3,7 (2,2 - 6,3) <0,01* Exposição ao vírus da hepatite C (anti-HCV +) 1,8 (1,0 - 3,2) 0,06 1,9 (1,0 - 3,8) 0,07 (incluindo hepatites virais) OR: odds ratio; IC 95%: intervalo de 95% de confiança; P: significância estatística (<0,05); *estatisticamente significante; DST: doenças sexualmente transmissíveis; UDI: usuários de drogas injetáveis. Em análise univariada, as seguintes variáveis mostraram associação com a soropositividade para HCV (anti-HCV positivos): relato de histórico de DST, uso de drogas injetáveis, sexo com usuários de drogas injetáveis e exposição ao vírus da hepatite B (tabela 11). Essas variáveis foram incluídas no modelo de regressão logística para avaliação dos fatores associados à exposição ao HCV. Não foi evidência associação entre sexo, instituição de origem, idade, escolaridade, presença de tatuagens, antecedentes de transfusão de sangue, opção sexual, tempo de diagnóstico do HIV, uso de TARV, contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral do HIV. 45 Tabela 11. Análise univariada dos fatores associados à exposição ao vírus da hepatite C (HCV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia - Goiás. Exposição ao HCV Fatores de Risco Sim Não OR (IC 95%) P Sexo (495) Masculino Feminino 35 13 331 116 0,9 (0,5 - 1,8) 0,87 Instituição de origem HDT/HAA HC-UFG 37 11 302 145 1,6 (0,8 - 3,3) 0,18 ≥ 40 anos < 40 anos 26 22 233 214 1,1 (0,6 - 2,0) 0,79 < 9 anos ≥ 9 anos 22 26 161 286 1,5 (0,8 - 2,7) 0,18 Sim Não 12 36 81 366 1,5 (0,8 - 3,0) 0,25 Sim Não 9 39 60 384 1,5 (0,7 - 3,2) 0,32 Sim Não 34 14 187 259 3,4 (1,8 - 6,4) <0,01* UDI (495) Sim Não 10 38 8 439 14,4 (5,4 - 38,7) <0,01* Sexo com UDI (486) Sim Não 7 41 30 408 2,3 (1,0 - 5,6) 0,06* Homo/bissexual Heterossexual 14 34 172 275 0,7 (0,3 - 1,3) 0,21 ≥ 6 anos < 6 anos 29 19 220 226 1,6 (0,9 - 2,9) 0,14 Sim Não 37 111 334 113 1,1 (0,6 - 2,3) 0,72 < 350 cél/mm3 ≥ 350 cél/mm3 14 31 108 296 1,2 (0,6 - 2,4) 0,53 Detectável Indetectável 16 30 129 272 1,1 (0,6 - 2,1) 0,72 Sim Não 22 26 144 303 1,8 (1,0 - 3,2) 0,06* Idade (495) Escolaridade (495) Presença de tatuagem (495) Histórico de transfusão de sangue (492) Relato de histórico de DST (incluindo hepatites virais) (494) Opção sexual (495) Tempo de diagnóstico do HIV (494) Uso de TARV (495) Contagem de linfócitos T CD4+ (449) Carga viral HIV (447) Exposição ao vírus da hepatite B (anti-HBc total + e/ou HBsAg +) (495) OR: odds ratio; IC 95%: intervalo de 95% de confiança; P: significância estatística (<0,10); *estatisticamente significante; HDT/HAA: Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad; HC-UFG: Hospital das ClínicasUniversidade Federal de Goiás; DST: doenças sexualmente transmissíveis; UDI: usuários de drogas injetáveis; TARV: terapia antirretroviral potente. 46 Após análise multivariada, pacientes com histórico de DST tiveram um risco quase três vezes maior de serem anti HCV positivos (OR=2,7; IC95% 1,4-5,4) quando comparados aos pacientes que negaram DST. Antecedentes de uso de drogas injetáveis apresentaram um risco quase doze vezes maior de infecção pelo HCV (anti-HCV positivos) em relação aos indivíduos não usuários (OR=11,8; IC 95% 3,9-35,8) (tabela 12). Tabela 12. Fatores associados à exposição ao vírus da hepatite C (HCV) em 495 indivíduos HIV positivos atendidos na rede pública de saúde em Goiânia-Goiás. OR bruto IC 95% P OR ajustado IC 95% P Relato de histórico de DST (incluindo hepatites virais) 3,4 1,8 - 6,4 <0,01 2,7 1,4 - 5,4 <0,01* UDI 14,4 5,4 - 38,7 <0,01 11,8 3,9 - 35,8 <0,01* Sexo com UDI 2,3 1,0 - 5,6 0,06 1,1 0,4 - 3,5 0,85 Exposição ao vírus da hepatite B (anti-HBc total + e/ou HBsAg +) 1,8 1,0 - 3,2 0,06 1,5 0,8 - 2,9 0,23 Fatores de Risco OR: odds ratio; IC 95%: intervalo de 95% de confiança; P: significância estatística (<0,05); *estatisticamente significante; DST: doenças sexualmente transmissíveis; UDI: usuários de drogas injetáveis. Na comparação da dosagem dos níveis séricos de aminotransferases, 73,7% dos infectados pelo HBV e 87,5% dos infectados pelo HCV, por testes sorológicos, estavam com valores de ALT normais. Nenhum indivíduo infectado pelo HBV e 6 indivíduos infectados pelo HCV apresentaram valores de ALT duas vezes acima do limite superior de normalidade (figura 4). Em relação à AST, 57,9% das amostras infectadas pelo HBV tinham valores normais e uma ultrapassou em mais de duas vezes o limite superior de normalidade. Para a infecção pelo HCV, 68,7% das amostras tinham níveis normais de AST e seis amostras tinham níveis acima de duas vezes o limite superior de normalidade. 47 * - valores discrepantes ou outliers Figura 4. Comparação dos níveis séricos da enzima alanina aminotransferase (ALT) em pacientes HIV positivos, de acordo com a presença ou ausência dos marcadores sorológicos HBsAg e anti-HCV. Quando considerados os resultados dos testes moleculares, destaca-se que 100% e 90,9% dos pacientes com HBV DNA e HCV RNA detectáveis, respectivamente, estavam com valores de ALT duas vezes abaixo do limite superior de normalidade (figura 5). Para AST, as proporções de normalidade foram de 92,3% e 96,4%, respectivamente. 48 * - valores discrepantes ou outliers Figura 5. Comparação dos níveis séricos da enzima alanina aminotransferase (ALT) em pacientes HIV positivos, de acordo com a positividade para o HBV DNA e HCV RNA detectável. 49 6. DISCUSSÃO O presente estudo possibilitou identificar as principais características clínicas e epidemiológicas dos pacientes HIV positivos com antecedentes de exposição aos vírus das hepatites B e C, em Goiânia. Foram recrutados pacientes dos dois principais serviços públicos de saúde, especializados no atendimento de pacientes portadores de HIV/AIDS em Goiás. A população estudada foi composta, predominantemente, por homens que referiram exposição ao HIV por via sexual e com baixo relato de exposição a drogas injetáveis. Cerca da metade dos pacientes estavam em acompanhamento pelo HIV há mais de seis anos e aproximadamente dois terços dos participantes estavam em uso de TARV. Em relação às instituições de origem, foram encontradas diferenças no perfil sóciodemográfico e clínico dos pacientes. Assim, observaram-se no HDT/HAA, indivíduos com maior faixa etária, menor escolaridade, maior proporção de indivíduos com histórico de transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis, bem como indivíduos com maior tempo de diagnóstico para o HIV, fato diretamente associado à maior proporção de indivíduos em uso de TARV. Em relação à presença dos marcadores de exposição ao HBV, o resultado obtido no presente estudo (33,5%, IC95% 29,4 - 37,9) foi seis vezes superior à prevalência encontrada, em estudo de base populacional, na região centro-oeste do Brasil (Pereira et al. 2009). Entretanto, o resultado é similar a outros descritos em populações de indivíduos HIV positivos no Mato Grosso (40,0%, IC95% 37,0-43,1) (Pereira et al. 2006) e na região sul (Morimoto et al. 2005, Tovo et al. 2006) e sudeste do Brasil (Mendes-Corrêa et al. 2000, Souza et al. 2004). Na região norte, um estudo apresentou prevalência semelhante (Braga et al. 2006) e outro apresentou mais indivíduos expostos ao HBV (51,0%, IC 95% 46,1-55,8) (Monteiro et al. 2004). Essa diferença pode ser explicada pela prevalência do HBV na população geral, que é maior do que nas outras regiões do Brasil (Pereira et al. 2013). A associação da positividade para o anti-HBc e o anti-HBs, ocorreu em 21,6% dos indivíduos do estudo. Anticorpos contra o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (anti-HBs) aparecem no soro após o desaparecimento do antígeno de superfície (HBsAg), sendo indicativo de cura ou imunidade. A presença associada desses dois anticorpos, no presente estudo, foi semelhante à encontrada em pesquisas realizadas na região centrooeste do Brasil, em diferentes grupos populacionais, tais como: comunidades de 50 quilombolas (Motta-Castro et al. 2003), usuários de drogas não injetáveis (Ferreira et al. 2006) e pacientes em hemodiálise (Tavares et al. 2004). Esses dados podem ser indicativos de que os pacientes HIV positivos conseguiram clarear o vírus em proporção similar às pessoas não infectadas ou, ainda, que a infecção pelo HBV ocorreu antes da infecção pelo HIV. Quarenta indivíduos, entre os 495 pacientes estudados, apresentaram o anti-HBc isolado, semelhante aos estudos de Motta Castro et al. (2003) com 6,2% e de Tavares et al. (2004) com 8,0%. Este perfil sorológico pode refletir uma infecção passada, com níveis de anti-HBs indetectáveis, na qual a recuperação foi completa (Diogo et al. 2012). Pode ainda ser observado no período conhecido como "janela imunológica", no qual há o desaparecimento do HBsAg e a não detecção do marcador anti-HBs, em função da baixa concentração desse anticorpo, pela formação de imunocomplexos, ou mesmo porque o mesmo não foi sintetizado (Gonçales & Cavalheiro 2006). A presença do marcador antiHBc isoladamente pode também ocorrer por mutações na região S do genoma viral, particularmente na que codifica o determinante "a", podendo diminuir ou até impedir a expressão do HBsAg (Weber et al. 2001). Outra possibilidade seria a ocorrência de resultados falso-positivos para o anti-HBc. Por outro lado, em grupos populacionais com prevalência elevada, como o do presente estudo, a proporção de resultados falso-positivos é baixa (Grob et al. 2005). Pondé et al. (2010) encontraram taxas variáveis de detecção do anti-HBc isoladamente, dependendo da prevalência da infecção pelo HBV na região e população avaliada. Em indivíduos infectados pelo HCV e HIV, vários estudos têm mostrado que a positividade isolada ao anti-HBc é frequentemente observada (Weber et al. 2001, Gandhi et al. 2003, Torbenson et al. 2004). Na avaliação do marcador de infecção ativa (aguda ou crônica) pelo HBV (HBsAg), a prevalência de 3,8% (IC95% 2,4-6,0) foi semelhante às prevalências encontradas em vários estudos conduzidos no Brasil entre indivíduos HIV soropositivos, onde a soroprevalência variou de 3,7% a 8,5% (Mendes-Corrêa et al. 2000, Pavan et al., 2003, Monteiro et al. 2004, Souza et al. 2004, Braga et al. 2006, Pereira et al. 2006, Tovo et al. 2006, Zago et al. 2007, Silva et al. 2010, Mendes-Corrêa et al. 2011). A prevalência encontrada para o HBsAg, nos permite considerar essa população como sendo de endemicidade intermediária para o HBV (prevalência entre 2 e 7% para o HBsAg), considerando a classificação do perfil de endemicidade para hepatite B do Ministério da Saúde (MS 2009b). Já na população geral do centro-oeste, o HBV é considerado de baixa 51 endemicidade, com prevalência 8 vezes menor de HBsAg em relação à encontrada na população de HIV positivos (Pereira et al. 2009). É importante ressaltar que dos 19 indivíduos positivos para o HBsAg, um foi positivo apenas para esse marcador, não sendo detectada a presença do marcador anti-HBc, da classe IgG. Esse perfil laboratorial poderia indicar infecção recente pelo HBV ou poderia ser devido à depressão do sistema imune, com baixa produção de anticorpos (antiHBc). Outra possível explicação seria a detecção do HBsAg pela presença de antigenemia vacinal (Martín-Ancel et al. 2004). Entretanto, em muitos casos nos quais se observa este perfil sorológico, não se consegue ainda estabelecer seu significado e interpretá-lo de forma definitiva (Pondé 2011). Para prosseguir essa avaliação foi realizada pesquisa de anticorpos anti-HBc da classe IgM (ELISA), que nos permitiria diferenciar a infecção aguda da infecção crônica pelo HBV. O resultado do ELISA anti-HBc IgM foi negativo, bem como o resultado do HBV DNA, o que indica que, pode-se tratar de um resultado falso-positivo. Outra possibilidade é que o indivíduo estivesse numa fase inicial da infecção, com HBV DNA inferior ao limite de detecção da técnica empregada (50 UI/mL). Nesse caso, seria necessário repetir o exame após algumas semanas, para observar a evolução dos marcadores, o que não foi possível por se tratar de um estudo transversal. O HBV DNA foi testado em todos os indivíduos HBsAg positivos e observou-se que 68,4% (IC95% 43,4-87,4) das amostras testadas foram confirmadas por PCR RealTime qualitativo. Valores próximos foram encontrados em outros estudos de prevalência do HBV em Goiás com confirmatório por PCR: 65,4% (Ferreira et al. 2006), 77,8% (Ferreira et al. 2009) e 76,9% (Aires et al. 2012). É importante ressaltar que o resultado negativo no teste molecular qualitativo, não descarta a presença do vírus, uma vez que a viremia pode estar indetectável tanto por fatores inerentes ao vírus, bem como o organismo do paciente e até mesmo a utilização de medicamentos. Apenas amostras HBsAg positivas foram testadas para HBV DNA, ou seja, a pesquisa de infecção oculta pelo HBV não fez parte do escopo deste estudo, o que pode ter subestimado a prevalência de infectados pelo HBV, nessa população (Araujo et al. 2008). Em relação aos fatores associados à exposição ao HBV, os fatores de risco encontrados (sexo masculino, idade mais elevada e homo/bissexualismo) foram descritos em outros estudos brasileiros conduzidos em indivíduos HIV soropositivos (Monteiro et al. 2004, Souza et al. 2004, Braga et al. 2006, Pereira et al. 2006, Tovo et al. 2006, Zago et al.2007). 52 A associação entre grupos etários de idade mais elevada e HBV é um fato bem conhecido e amplamente observado, decorrente do aumento do risco de exposição com o tempo. A maior prevalência de hepatite B entre os homens, como descrito em outros estudos, possivelmente seja devido à exposição mais frequente aos fatores de risco envolvidos na transmissão, particularmente de contato sexual com um maior número de parceiros. A associação com homo/bissexualismo relaciona-se tanto à presença do vírus no sêmen e às características que envolvem uma relação sexual anal, com microtraumatismos da mucosa peniana e retal que favorecem a transmissão do agente através do contato com sangue, o que eleva o risco de contato com o vírus (Alter 2006). A via de exposição sexual é conhecidamente importante na transmissão do HBV na população geral (Alter 2006). Dos indivíduos estudados, 77% relataram que a suposta via de infecção para o HIV foi a via sexual, logo, a possibilidade de exposição a diversas outras DST, incluindo o HBV, está diretamente associada a esse fato. Entretanto, como no questionamento do estudo atual o relato de histórico de DST foi feito para qualquer doença, incluindo as hepatites virais estudadas, a interpretação sobre sua associação à hepatite B é limitada, considerando-se que é possível que o risco esteja sendo superestimado. A vacinação contra o vírus da Hepatite B é a principal medida para reduzir a incidência dessa infecção na população geral. No Brasil, o Programa Nacional de Imunização, preconiza a vacinação universal até os 25 anos de idade e também para os grupos de maior risco de exposição tais como profissionais de saúde e pessoas com múltiplos parceiros, independentemente da idade (MS 2006). O Ministério da Saúde preconiza, também, que os pacientes HIV positivos sejam investigados para a presença de infecção pelo HBV. Pacientes HIV positivos não expostos ao HBV, devem ser vacinados (MS 2013). O presente estudo não foi desenhado para avaliar cobertura vacinal ou perdas de oportunidade para imunização contra o HBV, desta forma, o anti-HBs foi pesquisado apenas nos soro dos pacientes anti-HBc positivos. Em relação ao HCV, a prevalência de infectados (9,7%, IC 95%: 7,3 - 12,7) foi similar às prevalências estimadas para pacientes HIV positivos no Mato Grosso (10,9%), Minas Gerais (9,2%) e Piauí (6,8%, IC 95%: 2,3 - 12,1) (Mussi et al 2007, Carmo et al. 2008, Oliveira-Filho et al. 2012). Comparado à prevalência observada na população geral da região centro-oeste, a exposição ao HCV foi sete vezes maior entre indivíduos 53 infectados pelo HIV, provavelmente devido às vias comuns de transmissão dos dois vírus (Pereira et al. 2013). Estudos conduzidos nas regiões sul (Tovo et al. 2006) e sudeste do Brasil (Segurado et al. 2004), descreveram prevalências do HCV em torno de 40%, entre os pacientes HIV. Cabe ressaltar, entretanto que existe uma diferença marcante entre a taxa de uso de drogas por via intravenosa relatado no presente estudo (3,6%) e de outros estudos realizados nas regiões Sudeste e Sul do Brasil (29,0%, 23,8%, 22,2%, 11,9%) (Pavan et al. 2003, Segurado et al. 2004, Souza et al. 2004, Morimoto et al. 2005). Nesse contexto, o uso de drogas injetáveis foi associado ao HCV, nesse estudo, assim como em diversos estudos em todas as regiões do Brasil, demonstrando a importância da via parenteral na transmissão desse vírus (Monteiro et al. 2004, Segurado et al. 2004, Tovo et al. 2006, Mussi et al. 2007, Oliveira-Filho et al. 2012). É importante ressaltar que para determinar a prevalência do HCV, neste estudo, foi realizado apenas um teste sorológico (ELISA de 3ª geração), que apesar da alta especificidade oferecida, pode gerar resultados falso-positivos. Nenhum teste sorológico confirmatório, como Immunoblotting, foi executado. Como consequência, algumas das 48 amostras anti-HCV positivas poderiam ser falso-positivas, o que resultaria em redução da prevalência. Entretanto, foi realizado teste molecular para confirmação da presença do HCV RNA. O HCV RNA foi testado em todos os indivíduos anti-HCV positivos e observou-se que 45,8% (IC95% 31,4-60,8) das amostras testadas foram confirmadas por PCR RealTime quantitativo. Um resultado indetectável para HCV RNA não descartar a presença do vírus, que pode estar indetectável por diversos motivos inerentes ao vírus e ao seu hospedeiro. Dessa forma, valores próximos foram encontrados em outros estudos de prevalência do HCV na região centro-oeste com confirmatório por PCR: 55,6% (Barros et al. 2013), 67% (Freitas et al. 2008) e 65,3% (Pinto et al. 2011). Em outros estados brasileiros, em populações de HIV positivos, também se observou resultados semelhantes: 54,5% (Mussi et al. 2007), 61,5% (Oliveira Filho et al. 2012). Detecção inferior (36,7%) foi observada em estudo realizado nas capitais brasileiras (Pereira et al. 2013). Estudos com detecção do HCV RNA superior foram conduzidos entre indivíduos HIV positivos que não receberam tratamento para HCV (Wolff et al. 2010) e entre indivíduos encarcerados (Pompilio et al. 2011) e usuários de drogas (Lopes et al. 2009). É importante ressaltar que 5% das pessoas portadoras do HCV podem apresentar sorologia negativa e 54 positividade para um teste em que se utilize a detecção de ácidos nucleicos (Young et al. 1995), assim, observa-se a possibilidade de que algumas amostras não tenham tido o diagnóstico para o HCV, por terem sido testadas apenas por teste sorológico. O perfil de genótipos identificados no presente estudo está de acordo com o observado em pacientes HCV positivos da população geral no Brasil, com os genótipos 1, 2 e 3 sendo mais frequentemente encontrados, sendo que o genótipo 1 é predominante na maioria dos estados (Krug et al. 1996, De-Paris et al. 2000, Silva & Rossetti 2001). Na região centro-oeste, assim como neste estudo, observou-se predominância dos genótipos 1 (subtipos 1a e 1b) e 3 (Botelho et al. 2008, Freitas et al. 2008, Lopes et al. 2009, Pinto et al. 2011, Pompilio et al. 2011). Em estudos realizados entre indivíduos HIV positivos no Brasil, observou-se a mesma identificação dos genótipos que a encontrada na população geral (Mussi et al. 2007, Mendes-Correa et al. 2010, Wolff et al. 2010). A identificação dos genótipos é clinicamente importante e os protocolos de tratamento preconizam a necessidade da informação do genótipo para delinear a duração e o tipo de medicação a ser utilizada. A literatura menciona que os genótipos 1 e 4 são considerados mais resistentes do que os genótipos 2 e 3 à terapia para o HCV com Interferon e Ribavirina (Soriano et al. 2011). Na presença do HIV, a resposta à terapia antiviral contra o HCV não é favorável, ficando entre 14 e 38% para o genótipo 1 e entre 43% e 73% para os genótipos 2 e 3 (Simmonds et al. 2005, Wong & Lee 2006, Chevaliez & Pawlotsky 2007). Além disso, em geral, o genótipo 3 tem sido associado com a transmissão em usuários de drogas, assim como o subtipo 1a (Oliveira Filho 2012). É provável que o uso de drogas injetáveis em Goiás esteja contribuindo para a transmissão do HCV (subtipo 1a e genótipo 3) em pacientes infectados pelo HIV, apesar de que o estudo não foi desenhado para analisar a associação de genótipos e a via de transmissão do HCV. Para avaliar essa hipótese, seriam necessários outros estudos futuros. Ao realizar a comparação entre as densidades ópticas (DOs) obtidas na leitura do ELISA para anti-HCV e a carga viral do HCV, observa-se que as DOs das amostras com HCV RNA indetectável foram significativamente inferiores às amostras com HCV RNA detectável, sugerindo que as DOs superiores a 1,000 apresentam maior probabilidade de ser verdadeiramente positivas. Martins et al. (1994) apresentaram uma correlação semelhante, com DOs do ELISA anti-HCV e um outro imunoensaio (Inno-LIA), onde observaram que todas as amostras com DO maior ou igual a 1.000 reagiram ao Inno-LIA, mas apenas 23% foram confirmadamente positivas entre as amostras com DO inferior a 55 1.000. Mussi et al. (2007) observaram que das 110 amostras positivas para ELISA antiHCV, apenas 61 eram fortemente positivas e o HCV RNA foi detectado em 86,8% destas, comparado a apenas 14,3% nas amostras fracamente positivas. Assim, apesar de os resultados falso-positivos por sorologia serem mais frequentes em populações de baixo risco, estudos em populações de maior risco, como este, sugerem que pode haver um número significativo de amostras falso-positivas, principalmente quando baixas DOs são obtidas. Já com relação às cinco amostras com DOs elevadas e carga viral para HCV indetectável, pode-se tratar de indivíduos que tiveram contato com o vírus mas tiveram cura espontânea, ou que apresentam flutuação da carga viral, ou ainda podem estar em uso de medicação antiviral ou imunomoduladores, reduzindo a carga viral a níveis indetectáveis. Cabe enfatizar que, na atual casuística, mais da metade dos pacientes coinfectados não sabia ser HBV ou HCV positivos. Ainda que se considere a possibilidade de que os testes sorológicos possam ter apresentado alguns resultados falso-positivos, ao analisar os testes moleculares, observa-se que entre os indivíduos com material genético detectado para HBV ou HCV, 46,2% não sabiam ser HBV positivos e 18,2% não sabiam ser HCV positivos. É possível que em relação ao HBV exista uma superestimação em relação ao desconhecimento da infecção, uma vez que o desenho inicial do estudo não previa o questionamento em relação ao diagnóstico prévio da hepatite B, especificamente. Outra limitação é o relato do paciente, que está sujeito à sua memória, bem como sua interpretação e intenção de resposta. Apesar disso, as altas porcentagens apresentadas de pacientes que desconheciam estarem infectados pelo HBV ou pelo HCV, sugerem a necessidade de medidas de triagem e de orientação mais efetivas para essa população. Observa-se a necessidade de acompanhamento adequado destes indivíduos, na tentativa de garantir adesão ao tratamento e cuidados para redução da transmissão do vírus. A prevalência de coinfecção pelos três vírus, no presente estudo, foi 4,4%. No Brasil, estudos prévios conduzidos entre pacientes vivendo com HIV em São Paulo, mostraram prevalências de coinfectados variando de 1,8% (Mendes-Corrêa et al. 2000) a 20,4% (Souza et al. 2004). Essa ampla variação deve-se, provavelmente à proporção de usuários de drogas injetáveis nas populações estudadas, que no presente estudo foi de 3,6%, mas chegou a 22,2% no estudo de Souza et al. 2004 . A prevalência elevada de coinfecção pelo HBV e/ou HCV entre pacientes infectados pelo HIV em comparação à população geral, reflete a semelhança dos fatores envolvidos na transmissão destes vírus. 56 Em relação à análise de parâmetros laboratoriais, não foi observado diferença na contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral do HIV em relação aos indivíduos expostos ou não ao HBV ou ao HCV. Apesar das evidências e das controvérsias, de que as coinfecções pelo HBV ou HCV estariam associadas com uma recuperação imunológica reduzida nos indivíduos infectados pelo HIV, após o início da TARV (Cooper et al. 2006, Carmo et al. 2008), neste estudo não foi possível comprovar tais hipóteses, uma vez que por se tratar de um estudo transversal, trabalhou-se com parâmetros isolados e, a evolução laboratorial, bem como morbidade e mortalidade relacionadas à coinfecção, não foram acompanhadas, o que sugere a necessidade de estudos futuros. Outra hipótese levantada em estudos da área é a de que a progressão da doença hepática seria mais acelerada nos pacientes HIV soropositivos infectados com HBV ou HCV (Cooper et al. 2006, MS 2008). As aminotransferases (ALT e AST) são marcadores sensíveis de lesão do parênquima hepático, apesar de não serem específicas para nenhum tipo de hepatite. No presente estudo, independente da coinfecção, os valores de AST e ALT encontrados não representam uma diferença significativa para o paciente ou para o clínico na avaliação do paciente, uma vez que a grande maioria dos indivíduos em ambos os status sorológicos apresentaram valores de transaminases dentro dos valores considerados de referência para normalidade. Este achado está em conformidade com outros estudos realizados por Martins et al. (1994) e Botelho et al. (2008) em Goiás, entre doadores de sangue e transplantados renais, respectivamente. Entretanto, outros estudos, como o de Pavan et al. (2003), realizado entre indivíduos infectados pelo HIV, a positividade ao anti-HCV mostrou uma associação significativa com um quociente de ALT (obtido pela divisão do nível de ALT na amostra pelo maior valor normal para o método) superior a 1 (resultante de ALT elevada). Algumas limitações, inerentes aos estudos transversais, devem ser ressaltadas: o viés de prevalência e a causalidade reversa. No primeiro caso, o fato de trabalhar com casos prevalentes do desfecho, faz com que os indivíduos que possuem o desfecho, por um maior período de tempo, tenham maior chance de serem incluídos na pesquisa. Assim, torna-se difícil diferenciar se as exposições estudadas estão associadas ao surgimento de novos casos ou à duração dos mesmos. No segundo caso, discute-se a questão da temporalidade, uma vez que os dados de exposição e desfecho são coletados em um único momento. Logo, existe uma maior dificuldade em estabelecer uma relação temporal entre 57 os eventos e considerar com maior grau de certeza se a relação entre eles é causal ou não, fator importante na investigação de coinfecções. Outras questões importantes no estudo foram: a amostragem de conveniência e o autorrelato. Neste último, os próprios pacientes relataram diversos parâmetros analisados no estudo, o que pode fazer com que algumas informações percam sua precisão. Sobre o recrutamento de indivíduos para o estudo, aproveitou-se a política oficial do governo brasileiro em relação aos cuidados de saúde para com indivíduos HIV positivos, que proporciona além de fornecimento da TARV, a medição do HIV-RNA e contagem de CD4 a cada quatro meses. A duração da pesquisa foi de aproximadamente três meses, possibilitando a inclusão de grande número de indivíduos no seu retorno ao CRDT para a sua próxima avaliação viral e imunológica. Entretanto, a estratégia para seleção pode ter facilitado um viés de seleção, já que não houve randomização de participantes (amostragem de conveniência). No entanto, apesar das limitações metodológicas acima mencionadas, o estudo possibilitou estimar as prevalências e delinear o perfil dos pacientes HIV positivos, coinfectados pelos vírus das hepatites B e C, atendidos na rede pública de Goiás. Os resultados obtidos sinalizam para a necessidade de estudos futuros que permitam avaliar cobertura vacinal para hepatite B e o impacto clínico e laboratorial das coinfecções em longo prazo, nessa população. 58 7. CONCLUSÕES Entre os indivíduos infectados pelo HIV, atendidos na rede pública, em Goiânia - Goiás, a prevalência de portadores do vírus da Hepatite B (HBsAg) foi 3,8% (IC95% 2,4-6,0). Essa prevalência é compatível com o perfil de endemicidade intermediária para ao HBV. Aproximadamente um terço da população estudada apresentava marcadores de exposição prévia (anti HBc e/ou HBsAg positivos) para o vírus da Hepatite B. A prevalência de anticorpos contra o vírus da hepatite C foi de 9,7% (IC95% 7,3-12,7). A coinfecção pelos três vírus (HBV/HCV/HIV) foi detectada em 4,4% (IC95% 2,9-6,8) dos indivíduos avaliados. Metade dos indivíduos anti-HCV ou HBsAg positivos desconheciam seu status sorológico. A exposição ao HBV esteve associada ao sexo masculino, idade superior a 40 anos, relato de DST e homo/bissexualismo. A exposição ao HCV mostrou associação com relato de DST e uso de drogas injetáveis. A frequência dos genótipos 1 (subtipos 1a e 1b) e 3 para o HCV foi semelhante a encontrada em outros estudos no Brasil, na população geral e entre HIV soropositivos. O HBV DNA foi detectado em 68,4% (IC95% 43,4-87,4) das amostras HBsAg positivas. O HCV RNA foi detectado em 45,8% (IC95% 31,4-60,8) das amostras positivas para o anti-HCV. 59 REFERÊNCIAS 1. 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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), da pesquisa “Impacto da infecção pelo vírus da hepatite G em pacientes infectados pelo HIV e coinfectados pelo HIV e pelo HCV”. Os vírus da hepatite G, da hepatite C e o HIV são transmitidos da mesma forma (pelo sangue, via sexual e da mãe para o feto). Assim, mais de uma infecção por esses vírus pode ocorrer. Quando isso ocorre, os sintomas de cada infecção podem ser diferentes. Vários estudos recentes têm mostrado que os pacientes infectados pelo HIV demoraram mais a desenvolver a AIDS e tiveram um tempo de sobrevivência maior quando infectados também pelo vírus da hepatite G. Embora existam algumas hipóteses, não se sabe ao certo como esse vírus modifica a infecção pelo HIV. Diversos fatores interferem na resposta do organismo do indivíduo a um agente infeccioso, protegendo, aumentando a chance de o indivíduo ter determinadas doenças ou desenvolvendo formas mais graves da doença. Logo, os objetivos desta pesquisa são: 1. saber quantos pacientes tem hepatite C e hepatite G entre os pacientes com infecção pelo HIV atendidos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Goiânia, no Hospital de Doenças Tropicais/ Dr. Anuar Auad (HDT/HAA), na Grupo Pela Vidda (GO) e na Agência Goiana do Sistema Prisional; 2. estudar os diferentes tipos do vírus que causa a hepatite G e observar o que a hepatite G causa nos pacientes infectados pelo HIV e infectados aos mesmo tempo pelo HIV e pelo vírus da hepatite C; 3. observar a relação de fatores do indivíduo com proteção, chance de ter a infecção e o caminho que a doença segue na infecção pelos vírus da hepatite C e hepatite G em indivíduos infectados pelo HIV. Caso você participe, será entrevistado (a) para conhecermos seus hábitos de vida e seu histórico médico. A entrevista é individual, com privacidade e sigilo das informações. O único desconforto será uma colheita de sangue para pesquisarmos o vírus da hepatite G, o vírus da hepatite B e C, doença de Chagas, HTLV I e II, sífilis, a genotipagem e a carga viral do HIV e condições da imunidade do organismo (contagem de células CD4/CD8+, receptor celular e subclasses de anticorpos IgG). A coleta de sangue será feita por punção de veia do antebraço, o que pode causar um pouco de dor, ficar roxo (hematoma) no local ou causar tontura passageira. No total será preciso 20 ml de sangue. Caso você venha a participar desse estudo será beneficiado (a) à medida que os resultados estatísticos desse estudo auxiliarem na descoberta de interações do HIV com outros vírus e com o organismo humano, aumentando o conhecimento sobre a infecção pelo HIV e a evolução da patologia em cada indivíduo. Além disso, terá direito aos resultados dos exames realizados, incluindo a genotipagem do HIV, que pode ser utilizado como informação complementar pelo seu médico assistente para seguimento terapêutico. Os resultados serão entregues a você no local de realização da coleta. Caso seja necessário, terá acesso a aconselhamento, acompanhamento psicológico e tratamento no HDT/HAA. Não haverá nenhum gasto e você também não receberá nenhum pagamento com a sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa. Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos procedimentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), você terá direito a tratamento médico no HDT/HAA após encaminhamento realizado pela Profa. Dra. Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer, bem como às indenizações legalmente estabelecidas. Em caso de dúvida você pode contatar a pesquisadora responsável, Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer, pelo tel. (62) 3946-1346. Você também pode se informar no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Goiás pelo telefone (62) 3946-1071. Sua participação não é obrigatória e se você não quiser participar não haverá nenhum prejuízo no seu acompanhamento e na sua relação com a pesquisadora ou com a instituição. Caso decida participar, está garantido que o (a) Sr.(a) poderá desistir a qualquer momento, sem motivo ou aviso prévio, também sem prejuízo no seu acompanhamento. Os dados referentes ao (à) Sr.(a) serão sigilosos e privados. Somente as proponentes dessa pesquisa terão acesso às informações obtidas. O (a) Sr.(a) poderá solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a publicação da mesma, pelo tel. (62) 3946-1346 com a pesquisadora responsável Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer. Os dados e o material coletado serão utilizados somente para esta pesquisa. Após ter sido esclarecido (a) sobre a pesquisa, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. _______________________________ Pesquisador (a) que obteve o TCLE Goiânia, __ de _______ de 200__ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu, _____________________________________________________________________________, RG nº ______________, CPF nº ________________, nº de prontuário _____________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo “Impacto da infecção pelo vírus da hepatite G em pacientes infectados pelo HIV e coinfectados pelo HIV e pelo HCV” como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Goiânia, __ de _______ de 20___ Nome do sujeito:_____________________________________________________________ Assinatura do sujeito:_________________________________________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar Testemunhas (não ligada à equipe de pesquisadores): Nome:______________________________________ Assinatura:__________________________________ Nome:______________________________________ Assinatura:__________________________________ Observações complementares: ________________________________ Assinatura do Voluntário Goiânia, __ de _______ de 200__ Anexo 4. Questionário padronizado.