*MECANISMOS DE AÇÃO DAS DROGAS RECEPTORES: Um conceito fundamental da farmacologia é o de que, para iniciar um efeito em determinada célula, a maioria das drogas combina-se com alguma estrutura molecular na superfície ou no interior da célula. molecular é denominada receptor. Esta estrutura A combinação da droga com receptor resulta em uma modificação molecular no receptor, tal como uma alteração na configuração ou na distribuição de cargas, e dste modo, dispara uma cadeia de eventos que conduz a uma resposta. Tal conceito aplica-se não só à ação das drogas como também à ação de substâncias de ocorrência normal, como homônios e neurotransmissores. De fato, muitas drogas sumulam os efeitos de hormônios ou transmissores em virtude de se combinarem com os mesmos receptores que tais substâncias endógenas. De modo geral, presume-se que todos os receptores com os quais as drogas se combinam existam para atuar como receptores para neurotransmissores, hormônios ou outras substâncias fisiológicas. Desta forma, a descoberta de um receptor específico para um grupo de drogas pode motivar uma busca por substâncias endógenas previamente desconhecidas que se combinem com esses mesmos receptores. Um DOS eventos clássicos envolve os receptores opióides. RECEPTORES DE DROGAS E RESPOSTAS BIOLÓGICAS Os efeitos de uma droga sobre um sistema biológico devem, em última instância reduzir-se a uma interação físico-química entre a droga e o receptor. Muito embora o termo receptor seja conveniente, não se deve perder de vista o fato de que os receptores são, na verdade, substâncias moleculares ou macromoléculas persentes no tecido que se combinam quimicamente com a droga. Como a maioria das drogas apresenta um grau considerável de seletividade em suas ações, deduz-se que os receptores com as quais elas interagem devem ser igualmente específicos. Deste modo, os receptores interagem com apenas com un número limitado de compostos estruturalmente relacionados ou complementares. Um exemplo específico possibilita melhor compreenção da interação droga-receptor. A região da placa terminal de uma fibra muscular esquelética contém grande quantidade de receptores com elevada afinidade pelo transmissor acetilcolina (Ach). Cada um desses receptores, conhecidos como receptores nicotínicos, é parte integral de um canal na membrana pós-sináptica que controla o movimento DOS íons sódio para o interior celular. Em repouso, a membrana pós-sinaptica é relativamente impermeável ao sódio. estimulação do nervo que se dirige ao músculo A resulta na liberação de acetilcolina da fibra nervosa na região da placa terminal. A acetilcolina combina-se com receptores e os modifica de tal forma que os canais se abrem e o sódio flui para dentro da célula. Auanto mis acetilcolina existir na região da placa terminal, mais serão ocupados os receptores e mais canais se abrirão. Quando o número de canis abertos atinge um valor crítico, o sódio entra com rapidez suficiente para perturbar o equilíbrio iônico da membrana e gerar uma despolarização localizada. A despolarização localizada despara a ativa;ção de grande número de canis de sódio dependentes de voltagem e gera a despolarização conduzida, conhecida como potencial de ação. O potencial de ação provoca a liberação de cálcio a partir de seus locais de ligação intracelular. Em seguida, o cálcio interage com protínas contráteis , gerando um encurtamento da célula muscular. A seqüência de eventos pode ser demonstrada esquematicamente da seguinte forma: Ach + receptor= ingresso da Na = potencial de ação = aumento da Ca livre =contrção. A cadeia exata de acontecimentos que acompanha uma interação droga-receptor depende do receptor específico e do tipo específico de célula. O conceito importante neste estágio de discussão é o de que substâncias receptivas específicas atuam como gatilhos de reações celulares. Quando consideramos a seqüência de eventos através da qual a aceitilcolina desencadeia a contração muscular via receptores podemos facilmente perceber a possibilidfade de projetar produtos químicos exógenos que interajam com o mesmo processo. Uma substância química de estrutrua molecular muito semelhante à da acetilcolina pode ser atraída para o receptor da mesma forma que o faz a acetilcolina. Deste modo, é desencadeada a cadeia de eventos que culmina na contração muscular e a droga imita as ações da acetilcolina na placa terminal motora; a nicotina ea carbamilcolina são duas drogas que apresentam receptor e deste modo desencadeiam uma reação celular são denominados agonistas. Por outro lado, quando um produto químico apresenta grau menor de semelhnaças com a acetilcolina, ele é capaz de interagir com receptor, porém incapaz de induzir a alteração a alteeração molecular exata necessária para permitir o movimento de sódio para o interior celular. Neste caso, o produto químico não provoca contração, mas em virtude de ocupar a região receptora, inibe a interação da acetilcolina com seu receptor. Este tipo de droga é denominado antagonista. Mediante a aplicações de princípios matemáticos às relações doseresposta, tornou-se possível estimar as constantes de dissociação para a interação entre receptores específicos e agonistas e antagonistas individuais. Subseqüentemente, foram desenvolvidos métodos para dosar a ligação específica de drogas marcadas pela radioatividade a regiões receptoras nos tecidos e, por conseguinte, determinar não só a afinidade de uma droga pelo seu receptor como também a densidade de receptores por célula. A ligação de uma agonista a tais regiões induz uma alteração de conformação na glicoproteína, mediante a qual a s cadeias laterais se deslocam do centro do canal e premeitem que os íons sódio penetrem na célula através do canal. A glicoproteínas que constituem o receptor nicotínico para a acetilcolina atuam tanto como paredes quanto como “comportas” do canal iônico. Tal disposição representa um dos mecanismos mais simples através dos quais um receptor pode “acoplar-se”, a uma resposta biológica. Um outro receptor incorporado a um canal iônico é o receptor GABA para aminoácidos. Muitos receptores são capazes de desencadear uma cadeia de eventos que envolve “segundos mensageiros”. Os fatores-chave em muitos desses sistemas de segundos mensageiros são proteínas especiais, denominadas “proteína G”. As proteínas G têm a capacidade de ligar trifosfato de guanosina (GDP). Atualmente, já foram identificadas deversas proteínas G diferentes. As proteínas G acoplam a ativação de diversos receptores diferentes à etapa seguinte envolve a enzima adenilato-ciclase. Vários neurotransmissores, hormônios e drogas são capazes de sua interação com receptores diferentes; esses receptores acoplam-se à adenilato- ciclase através de uma proteína G estimulatória ou inibitória. As regiões de ligação específicas para agonistas ocorrem na superfície extracelular enquanto a enteração com as proteínas G ocorre nas porções intracelulares do receptor. QUÍMICA DA LIGAÇÃO DROGA RECEPTOR Os receptores biológicos são capazes de combinar-se com as drogas de várias formas, e as forças que atraem as drogas para o seu receptor devem ser suficientemente intensas e permanentes para permitir o desencadeamento da seqüência de eventos que culmina com a resposta biológica . Essas forças correspondem a ligaçoes químicas e diversos tipos diferentes de ligação participam na formação do complexo drogareceptor inicial. LIGAÇÃO COVALENTE A ligação formada quando dois átomos compartilham de um par de elétrons é denominada ligação covalente. As ligaçoes covalentes são responsáveis pela estagbilidade da maioria das moléculas orgânicas e só podem ser desfeitas quando se acresce energia suficiente ou caso esteja presente um agente catalítico capaz de facilitar a destruição da ligação. Tendo em vista que as ligações de uma droga a um receptor através da formação de ligação covalente resultaria na formação de um complexo de longa duração. A formação de ligações covalentes é uma característica desejável em um droga antineoplástica ou antibiótica, uma vez que é necessária uma inibição a longo prazo da multiplicação celular. LIGAÇÃO IÔNICA A formação de uma ligação iônica resulta da atração estrostática que ocorre entre ions de cargas opostas. macromuleculares apresenta diversos A maioria dos receptores grupamentos ionizáveis em pH fisiológico. PONTE DE HIDROGÊNIO A ponte de hidrogênio é em certo sentido uma subespécie de ligação iônica. O átomo de hidrogênio, com seu núcleo fortemente eletropositivo e elétron único, é capaz de ligar-se a um átomo fortemente eletronegativo, como o nitrogênio ou o ocigênio, e assim formar uma ponte entre esses dois átmos doadores. Essas pontes servem para manter a estrutura terciária de proteínas e de ácidos nucleicos e se acredita que desempenhem um papel significativo na definição da seletividade e da especificidade das interações droga-receptor. LIGAÇÕES DE VAN DER WAAL As ligações de Van der Waal são bastante fracas e só adquirem imporância biológica quando ocorre uma aproximação suficiente entre dois átomos. Apesar da relativa fraqueza da ligação, as forças de van der Waal desempenham papel significativo na determinação da especificidade drogareceptor. Quanto mais próxima uma droga fica de um receptor, mais forte as possíveis forças de ligação que se estabelecem, pequenas diferenças no formato tridimensional entre um grupo de agonistas e, portanto pequenas diferenças no ajuste ou na intensidade das forças de ligação que possam ser estabelecidas entre agonistas e o receptor constituem as bases para a relação estrutura-atividade observada entre agonistas relacionados. DINÂMICA DA LIGAÇÃO DROGA-RECEPTOR A molécula da droga, logo após sua administração e penetração na região imediatamente adjacente à superfície do receptor, tem que formar ligações com o receptor antes de ser capaz de desencadear uma resposta. Em circunstâncias normais, a atração eletroestática da ligação iônica, que pode ser exercida por distâncias maiores do que a atração das pontes de hidrogênio ou das ligações de van der Waal, é a primeira força a atrair a molécula ionizada para a superfície do receptor com carga oposta. Essa ligação é razoavelmente forte e certa estabilidade ao complexo droga-receptor. Em geral, a ligação iônica tem que ser reforçada pela formação de pontes de hidrogênio e/ou ligações de van der Waal antes da ocorrência de uma ativação significativa do receptor. Sabe-se que isto é verdadeiro porque as ligações sem reforço são fácil e rapidamente rompidas pela energia da agitação térmica, não permitindo tempo suficiente para a ocorrência de uma interação adequada entre a droga e o receptor. Quanto melhor a congruência estrutural entre a droga e seu receptor, mais fácil fica a formação de ligações secundárias. As freqüências de associação e de dissociação são função da afinidade entre a droga eo receptor, da densidade dos receptores da concentração dos complexos droga-receptor formados em qualquer período de tempo. RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA Como o grau do efeito produzido por uma droga em geral corresponde a uma função da quantidade de droga administrada, podemos expressar essa relação em termos de uma curva dose-resposta. Em geral, as respostas biológicas às drogas são graduais, isto é a resposta aumenta continuamente `a medida que a dose administrada é continuamente aumentada. Expresso na terminologia da teoria dos receptores, isto significa que, quando existe uma relação dose-resposta gradual, a resposta a determinada droga stá diretamtamente relacionada com o número de receptores com os quais a droga efetivamente interage. Este é um dos preceitos básicos da farmacologia. Os principios derivados das curvas dose-resposta são os mesmos nos animais e seres humanos. Contudo, a obtenção de dadops para curvas doseresposta completas em seres humanos costuma ser muito difícil ou perigosas. RELAÇÕES QUANTAIS Além da responsividade de determinado paciente, pode-se estar interissado na relação existente entre a dose e algum quantum especificado de resposta entre todos os inidivíduos que fazem uso daquela droga. Este tipo de informação é obtido a partir da análise dos dados obtidos de uma curva doseresposta quantal. Este tipo de resposta, ao contrário de uma resposta gradual, deve ser descrito de uma maneira descontínua. A construção de uma curva obtidos dados de muitos indivíduos. dose-resposta quantal exige que sejam A curva dose-resposta quantal é, na verdade, um gráfico cumulativo da curva de distribuição de freqüência normal. ÍNDICE TERAPÊUTICO Dose Eficaz: A curva dose eficaz quantal representa estimativas da freqüência com a qual cada dose desencadeia a resposta desejada na população. Além desta informação, também teria utilidade possuir alguma forma de expressar a sensibilidade média da totalidade da população ao fenobarbital. Isto é realizado através do cálculo de uma DE (dose eficaz) . Dose letal: Uma outra característica importante da atividade de uma droga é seu efeito tóxico. Obviamente, o efeito tóxico máximo é o óbito. Como regra geral, uma droga deve apresentar um índice terapêutico elevado, contudo, alguns importantes agentes terapêuticos apresentam índices baixos. Entretanto, a identificação de baixa margem de segurança torna obrigatória cautela especial em seu emprego; a dose adequada para cada indivíduo deve ser determinada separadamente. Foi sugerido que uma estimativa mais realista da segurança de3 uma droga envolveria uma comparação entre a menor dose que produzisse toxicidade (DL por exemplo) e a maior dose que produzisse uma resposta terapêutica máxima(DE por exemplo). Uma proporção menor que a unidade indicaria que uma dose eficaz em proporção menor que unidade indicaria que uma dose eficaz em 99% da população seria letal em mais de 1% dos indivíduos que estivessem fazendo uso daquela dose. ÍNDICE DE PROTEÇÃO A margem de segurança corresponde apenas a uma dentre diversos critérios a serem empregados na determinação dos méritos clínicos de uma droga. Obviamente, o índice terapêutico é uma medida muito grosseira da segurança e em geral representa apenas o ponto de partida para se determinar se uma droga é suficientemente segura para emprego em seres humanos. Geralmente, ocorrem efeitos colaterais indesejáveis em doses inferiores às doses letais. O fenobarbital, por exemplo, induz sonolência a uma disfunção neurológica temporária associada. Como anticonvulsivantes t^m como objetivo permitir que pessoas que sofrem de epilipsia tenham vidas normais sem convulções, a sedação é inceitável. O índice de proteção para o fenobarbital é de aproximadamente RESPOSTAS GRADUAIS Uma situação mais comum do que a relação dose-resposta quantal é aquela em que o animal isolado fornece respostas graduais a posologias graduais; ou seja, à medida que a dose é aumentada, a resposta aumenta. No caso das respostas graduais, é possível obter uma curva dose-resposta completa em um único animal. Um bom exemplo é o efeito da droga levarterenol ( l-noradrenalina) sobre a freqüência cardíaca com uma dose de 0,001 mg/Kg de peso corporal. Ã medida que a dose é aumentada, a resposta aumenta na freqüência cardíaca com uma dose é aumentada, a resposta aumenta até que, em 1,0 mg/Kg, ocorre o aumento máximo de 80 batimentos por minuto. Novos aumentos da posologia não produzem respostas muito maiores. No outro extremo no cobaio e, doses inferiores a 0.3 mg/Kg não têm nenhum efeito e a resposta máxima só ocorre com cerca de 100 mg/Kg. A sensibilidade média de todos os animais as levarterenol pode ser estimada através da combinação de dose-resposta separadas em dose-resposta médiae, em seguida, do cálculo da DE média. Uma estimativa da variação dentro da população pode ser indicada mediante o cálculo de um parâmetro estatístico como o intervalo de confiança. Também é possível construir doses-respostas para drogas que produzam respostas graduais. POTENCIA E ATIVIDADE INTRÍNSECA Uma outra característica da droga que pode ser comparada pelo uso de valores de DE é a potência. máxima. As drogas a e b produzem a mesma resposta Entretanto, o fato de a curva dose-resposta para a droga a situar à esquerda da curva para a droga d indica que a droga a é mais potente, ou seja, que uma quantidade menor da droga é necessária para produzir uma dada resposta. É importante não achar que a maior potência de uma droga equivale a superioridade terapêutica, uma vez que poder-se-ia simplesmente aumentar a dose de uma droga menso potente e obter, desta forma, terapêutica idêntica. uma resposta Fatores como a gravidade e a freqüência dos efeitos indesejáveis associados a cada droga e seu custo para o paciente são mais relevantes na escolha entre duas drogas semelhantes. ANTAGONISMO ENTRE DROGAS Existem diversos tipos de antagonismo que podem ser classificados da seguinte maneira: 1. Antagonismo químico 2. Antagonismo funcional 3. Antagonismo competitivo a) competitivo de equilíbrio b) competitivo de não-equilíbrio 4. Antagonismo não-competitivo Antagonismo químico: envolve uma interação química direta entre o antagonista e o agonista de forma a tornar o agonista farmacologicamente inativo. Antagonismo funcional: é um termo usado para representar a interação de dois agonistas que atuam de modo independente um em relação ao outro mas que geram efeitos opostos. Antagonismo competitivo: é o tipo de antagonismo entre drogas mais freqüêntemante encontrado na prática clínica. O antagonista combina-se no mesmo local no receptor que o agonista, mas, ao contrário do agonista, não induz nenhuma resposta; ou seja, o antagonista apresenta uma eficácia pequena ou nula. Caso a ligação seja frouxa, o antagonismo é denominado competitivo de equilíbrio ou competitivo reversível. Entretanto, quando a ligação é covalente, a combinação do antagonista com o receptor não é revertida com facilidade e o antagonista é denominado competitivo de não equilíbrio ou competitivo irreversível. Antagonista não competitivo: o antagonista atua num local além do receptor para o agonista. A diferença prática entre um antagonista não competitivo e um agonista competitivo de não-equilíbrio é uma diferença de especificidade. O primeiro antagoniza agonistas que atuam através de mais de um sistema receptor; o último só antagoniza agonistas que atuam através de um sistema receptor. A droga anti-hipertensiva diazóxido é um exemplo de antagonistas não competitivos de utilidade terapêutica.