INFORMATIVO n.º 42– NOVEMBRO de 2015 A despeito dos diversos estímulos monetários e fiscais, economia chinesa segue desacelerando Fabiana D’Atri - Economista Coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco e Diretora de Economia do CEBC. Os desafios de estabilizar a economia chinesa, diante de tantos desequilíbrios estruturais, seguem presentes e devem crescer ao longo dos próximos anos. Os diversos indicadores de outubro, conhecidos ao longo desta semana, reforçam que está difícil frear a perda de ritmo em curso da economia. Assim, começa a ser testada a visão majoritária do mercado de que entraríamos em uma fase mais estável, refletindo os estímulos adotados desde o final do ano passado. Mantemos nossa expectativa de que, mesmo com a continuidade dos estímulos, a tendência de desaceleração não será revertida. Porém, ainda existem diversos amortecedores (como os elevados níveis de reserva e o fato de ser uma economia fechada) que devem permitir à China passar por essa fase de ajustes, sem uma freada brusca. Esse cenário, contudo, depende fortemente do avanço das reformas que permitam ao país melhorar a alocação dos recursos e ganhar produtividade. Dentre os diversos indicadores conhecidos nesta semana, destacamos alguns resultados emblemáticos: 1. As exportações acumularam queda de 2,1% neste ano, mesmo com a oferta agressiva de produtos chineses, com redução dos preços; 1 2. As importações já caíram 15,5% em valor neste ano, refletindo a redução dos preços das commodities e, principalmente, a desaceleração da atividade industrial e do segmento de construção; 3. A desaceleração da inflação ao consumidor foi significativa em outubro, com alta bastante moderada de 1,3% em relação ao mesmo mês do ano passado. Para tanto, os preços de alimentos cederam de uma elevação de 2,7% para outra de 1,9%, entre setembro e o mês passado, o que pode ser atribuído à redução da menor demanda, além da melhora da oferta de carne suína; 4. A deflação no atacado tem sido persistente nos últimos quatro anos, com recuo de 5,9% no mês passado, tornando delicada a condição financeira das empresas, em especial das estatais que têm reportado queda dos lucros ao longo dos últimos trimestres; 5. Os investimentos do setor imobiliário cresceram apenas 2,0% até outubro. Analisando o segmento de imóveis urbanos residenciais, que mostra o maior ajuste, temos retração de 14,7% dos lançamentos, recuo de 7,2% dos imóveis finalizados, expansão de 1,3% dos investimentos e crescimento de 7,8% das vendas (que voltaram a piorar no mês passado). Não custa lembrar que esse setor respondia por 15% do PIB; 6. A produção industrial manteve tendência de desaceleração, com expansão de 5,6% em outubro, refletindo a rápida e expressiva desaceleração da “economia antiga”; 7. Parte da saída de capital foi estancada através do aumento do controle do fluxo e da sinalização de que o espaço para depreciação da moeda chinesa é bastante limitado. De fato, as reservas subiram em US$ 11,4 bilhões entre setembro e outubro, chegando a US$ 3,525 trilhões, interrompendo uma sequência de cinco meses, nos quais as reservas estavam caindo; 8. Mesmo com (i) estímulos monetários (corte de juros e do depósito compulsório), (ii) injeção de liquidez (principalmente através dos bancos de desenvolvimento), (iii) aceleração dos gastos públicos (com alta interanual de 36,1% em outubro) e (iv) avanços no programa de reestruturação das dívidas dos governos locais, os investimentos em infraestrutura mostram leve desaceleração; 2 9. A demanda por crédito segue fraca, o que reforça que o alívio monetário tem se voltado especialmente para o refinanciamento de dívidas adquiridas nos últimos anos; 3 Somado a isso, agravando as condições da economia, sabemos que a campanha de controle à corrupção tem avançado, chegando mais recentemente ao setor financeiro. Sem discutir os impactos positivos no longo prazo e o caráter político dessa frente, os impactos no curto prazo são baixistas para a economia, especialmente sobre os investimentos em infraestrutura, conduzidos pelos governos locais. Por outro lado, após forte correção, o mercado acionário tem se acomodado e o mercado cambial também tem trazido incertezas menores. Algumas medidas direcionadas ao consumo – como os incentivos para a compra de veículos, com redução dos impostos – favoreceram o desempenho do varejo, que cresceu 11% em outubro. Em suma, esses resultados ainda são compatíveis com um crescimento mais moderado no último trimestre do ano, para o qual esperamos alta de 6,7%, abaixo da expansão de 6,9% registrada no trimestre anterior. Mesmo excluindo as surpresas negativas e as paralisações dos meses passados (como correção da bolsa, intervenção no câmbio, explosão em indústrias em Tianjin e fechamento de fábricas na região de Pequim por ocasião da parada militar no começo de setembro, e no início de outubro, por conta do feriado), a reação da economia tem sido baixa. Torna-se relevante compartilhar as últimas sinalizações do governo. Além do 13º Plano Quinquenal – com diretrizes de longo prazo bastante claras – tivemos nesta semana a 11ª reunião do Grupo de Assuntos Econômicos do Partido Comunista Chinês, liderado pelo presidente Xi Jinping. Algumas mensagens importantes devem ser extraídas desse encontro: (1) há um esforço simultâneo de 4 incentivar o consumo e implementar reformas estruturais do lado da oferta1; (2) novos cortes da taxa de juros e do compulsório são necessários, o que dependerá da evolução da inflação e da taxa de câmbio, e o déficit fiscal deverá se acentuar, uma vez que há o entendimento que novas emissões de títulos e cortes de impostos serão adotados; (3) medidas deverão se voltar à redução dos estoques de imóveis para que o setor imobiliário volte a se desenvolver, o que deve direcionar as medidas para acelerar as vendas; (4) a necessidade de um mercado acionário mais saudável e regulado. Dessa forma, acreditamos que o objetivo central do governo segue focado na estabilização da economia. Para tanto, medidas serão direcionadas para retomar o crescimento, ao mesmo tempo em que o alívio das condições monetárias e das finanças dos governos locais será fundamental para se postergar os problemas de endividamento. A despeito disso, as pressões baixistas sobre a economia – vindas do ajuste do setor imobiliário, de possíveis defaults das empresas do segmento industrial e de mineração, da menor contribuição do setor financeiro, entre outros – não deverão desaparecer tão cedo. Nossa visão é de que as medidas de suporte irão compensar parcialmente os vetores de desaceleração e o desempenho favorável do setor de serviços não é suficiente para manter o crescimento da economia ao redor de 6,5% ‒ taxa necessária para o atingimento da meta de dobrar a renda per capita dos chineses até 2020. Com isso, de forma simplificada, enquanto tivermos estoques de imóveis para serem liquidados e capacidade da indústria para ser fechada ou ocupada, a economia seguirá bastante frágil e sujeita a volatilidades de curto prazo – cujos ciclos de melhora serão cada vez menores – e a alavancagem continuará subindo. O risco, portanto, de uma desaceleração mais forte não deve ser descartado e só poderá ser minimizado ou eliminado com uma agenda de reformas, que avance rapidamente nos próximos dois a três anos. Diante disso, mantemos nossa leitura mais cautelosa para 2016, com crescimento do PIB abaixo de 6,0%. 1 Diferentemente de ciclos anteriores. O destaque de 2012 a meados de 2013 era encorajar o consumo através da urbanização. Entre meados de 2013 e o começo de 2014, houve esforço para desacelerar o consumo, com intensificação da campanha de controle à corrupção e aperto das condições monetárias. Desde então, o governo cortou juros e compulsório e os bancos de desenvolvimento têm exercido papel relevante no suporte à economia. 5