Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 EVOLUÇÃO: REFLETINDO CONCEITOS E RECONSTRUINDO IDEIAS Evolution: Reflecting Concepts and Recreating Ideas Erick Douglas Souza ALMEIDA1 Monique Ayala Araújo da SILVA2 Michely Correia DINIZ3 RESUMO A Teoria da Evolução causou uma das maiores transformações científicas e sociais da Era Moderna. Devido a sua natureza polêmica, somada a diversos erros conceituais perpetuados pela cultura popular, a Biologia Evolutiva é um tema de difícil abordagem em sala de aula. Essa pesquisa-ação teve por objetivo investigar as concepções acerca da Teoria da Evolução e do Método Científico de estudantes da 2ª série do Ensino Médio com o auxílio de questionários e dinâmicas de grupo. Este trabalho estabeleceu um panorama de ensino-aprendizagem evidenciando um conflito entre o conhecimento científico e o religioso, erros conceituais, dificuldades dos estudantes em identificar qual o objeto de estudo da Biologia Evolutiva, e confusão entre a Teoria da Evolução e outras teorias científicas. Palavras – chave: Ensino de Evolução; Biologia; Escala Likert; Pesquisa- ação; ABSTRACT Evolution Theory caused one of the greatest scientific and social changes currently. Its controversial nature, in addition to several misconceptions perpetuated by popular culture, evolutionary biology is a subject difficult approach in the classroom. This research aimed to investigate the Evolution Theory conceptions and the scientific method about students of the 2nd high school series with questionnaires and group dynamics. This work established a teaching and learning panorama showing a conflict between scientific knowledge and religious misconceptions, students difficulties to identify what the object of study of evolutionary biology, and confusion between the Evolution Theory and other scientific theories. Keywords: Teaching Evolution; Biology; Likert Scale; Action-Research; _______________________________ 1 Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF Colegiado de Ciências Biológicas- Campus Ciências Agrárias – Petrolina, PE. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF Colegiado de Ciências Biológicas- Campus Ciências Agrárias – Petrolina, PE. E-mail: [email protected] 3 Professora Doutora do Colegiado de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF - Campus Ciências Agrárias – Petrolina, PE. E-mail: [email protected] Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 154 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 INTRODUÇÃO A Evolução Biológica é para diversos autores o eixo organizador das Ciências Biológicas, no qual esta sustentada a Biologia moderna, e sem a qual seria extremamente difícil explicar a origem de tamanha diversidade de vida encontrada no presente e no passado (BIZZO, 1991; MAYR, 1998; MEIS e FONSECA, 1992; REGNER, 2006; MEYR e EL-HANI, 2005). Futuyma (2002) afirmou que em todo o campo das Ciências Biológicas, a Evolução estabelece um horizonte revelador e indispensável para organizar e interpretar observações e realizar previsões, inclusive o uso sustentável da biodiversidade pode e deve ser norteado pelos aspectos evolutivos. Dobzhansky (1973) declarou que “visto sob a luz da evolução, a biologia é, talvez, a mais satisfatória e excitante das ciências”, e ressalta que “isso não implica que saibamos tudo sobre biologia e sobre evolução”. Entretanto, mesmo com a grande utilidade e aplicabilidade dos processos evolutivos, o ensino desse tema, na maioria das escolas, segundo Tidon e Lewontin (2004), costuma ser abordado nas etapas finais do Ensino Médio, o que inviabiliza uma reflexão crítica sobre questões como adaptação, seleção natural e mutação. Esses problemas acabam gerando equívocos comuns tanto para estudantes como para docentes. Segundo Santos e Bizzo (2000), para os estudantes, a Evolução Biológica significa crescer, se desenvolver e melhorar, ou seja, as modificações ocorrem sempre no sentido do aperfeiçoamento. A aceitação da evolução biológica é pequena quando comparada a outros conceitos científicos, mesmo quando há comprovações disponíveis (OLIVEIRA, 2009). Além de fomentar uma posição ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade, como os das crenças confessionais (aquelas ligadas ao cristianismo) (FUTUYMA; 1995), a Evolução é acompanhada, no meio leigo, por diversos erros conceituais que não corroboram com o que diz a Teoria (TIDON e LEWONTIN; 2004). Para Gould (2002), a ciência tenta documentar o caráter factual do mundo natural, e a religião trata dos desígnios, significados e valores humanos, o autor estabelece uma visão onde ambos os conhecimentos humanos, Ciência e Religião, possuem seu lugar e importância na sociedade. Apesar de reconhecida como de suma importância para a ciência moderna, a Biologia Evolutiva embora citada, ainda não representa nos currículos educacionais, a necessária abordagem de como pode contribuir para a compreensão de fenômenos sociais, na agricultura, nos estudos das doenças infecciosas, e de tantos outros fenômenos que a Evolução esclarece (CARNEIRO, 2004). Bizzo (1991) busca compreender as concepções dos estudantes acerca da Evolução com o auxílio de questionários. Adicionalmente, o autor compara essas concepções e o modo como os estudantes constroem suas explicações para a Evolução, com as próprias concepções de Charles Darwin enquanto estabelecia os conceitos de sua Teoria. Ele observa respostas de caráter lamarckista, e evolução ocorrendo de acordo com a necessidade do indivíduo. Além disso, esse estudo evidenciou que os discentes do Ensino Médio possuem concepções alternativas ligadas ao conhecimento popular que mesmo após anos de ensino, permanecem a fazer parte das respostas dadas pelos alunos. Nas concepções de estudantes do Ensino Médio sobre a Teoria, é observada a disparidade entre o conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento científico. O trabalho de Chaves (1993) aborda as concepções dos professores, e suas aulas são analisadas, ficando evidente a falta de domínio do conteúdo, com aulas expositivas que carecem de práticas e discussões sobre o tema. Percebe-se que é preciso atualizar o conhecimento científico dos professores, ampliando também suas práticas pedagógicas para que estas sensibilizem os alunos. Este trabalho buscou entender o processo de ensino e aprendizagem da Teoria Sintética da Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 155 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Evolução a partir da arguição direta do personagem principal dessa pesquisa-ação, o estudante de 2ª série do Ensino Médio público. Ao início da aplicação do método, obteve-se a visão do estudante antes de qualquer prática de ensino, com a aplicação de um questionário diagnóstico, e em seguida foram realizadas as atividades com a finalidadede esclarecer a visão científica da Evolução biológica, assim, ao final, reaplicando o mesmo questionário, pode-se comparar o que mudou no processo. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Os métodos utilizados nessa pesquisa-ação foram submetidos, e aprovados pelo Conselho de Ética e Deontologia em Pesquisa da UNIVASF sob registro nº 0012/140414 CEDEP/UNIVASF. Três (03) instituições públicas de ensino que participaram dessa pesquisa-ação estão localizadas no município de Juazeiro-BA. Os partipantes da pesquisa-ação foram os estudantes que cursavam a 2ª série do Ensino Médio e seus respectivos professores de Biologia que supervisionavam as atividades. A classe era convidada a partipar de forma integral, não existindo critérios de seleção de participantes. As perguntas abordadas nesse trabalho foram selecionadas com a finalidade de verificar a mudança de opinião gerada mediante às dinâmicas ao qual os estudantes tiveram contato. Para acompanhar essa mudança conceitual foram utilizadas assertivas contendo uma afirmação acompanhada de uma escala Likert de 4 pontos sendo “concordo totalmente (CT)”, “concordo em parte (CP)” , “discordo em parte (DP)” e “discordo totalmente (DT) ”; e um espaço para justificar a resposta com o enunciado “do que você discorda ? ”, para evitar que o estudante respondesse aleatoriamente. As perguntas foram: 1ª “Evoluir significa melhora ou avanço”. 2ª “A Teoria da Evolução busca explicar a origem do universo, do sistema solar, do planeta terra, e da vida”. 3ª “Os macacos, como o chipanzé e o gorila, são os ancestrais do homem moderno”. 4ª “Darwin foi um cientista, que além da Teoria da Evolução, propôs a Teoria do Big Bang, e explicou com detalhes como se originou a vida”. 5ª “A Evolução busca a perfeição dos organismos até o ponto que eles não precisem mais evoluir”. 6ª “A Evolução ocorre de modo que um ser vivo mude de forma para se adaptar ao ambiente”. 7ª “O processo evolutivo está presente nas situações naturais do cotidiano”. 8ª “A Evolução não passa de uma teoria, portanto é apenas uma especulação”. 9ª “É possível ciência e religião coexistirem sem conflitos ideológicos”. Além disso, o estudante respondia o seu sexo, e sua crença (ou não-crença) que pratica ou se identifica.O questionário foi utilizado em dois momentos, antes da aplicação das dinâmicas com os estudantes, e depois da aplicação. Desse modo foi possível tentar compreender o processo de Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 156 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 ensino-aprendizagem dos temas abordados nas dinâmicas. Na primeira etapa, Apresentação, o pesquisador e a turma participante leram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em que os futuros participantes da pesquisa tomavam conhecimento do processo de pesquisa, e do uso de suas respostas nessa coleta de dados, bem como o sigilo mantido sobre os participantes e seus dados pessoais. Os estudantes que concordaram em participar da pesquisa, e assinaram o TCLE, foram conduzidos para a segunda etapa, o Questionário-Diagnóstico. De acordo com Cervo et al. (2007), questionário refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche, e teve por objetivo coletar as respostas dos participantes em relação às suas opiniões sobre a Evolução Biológica antes e depois da aplicação das dinâmicas. Os estudantes ao responder o questionário tinham o tempo ad libitum para isso. Essa etapa ocorreu logo após a etapa de Apresentação, ou seja, no mesmo encontro com a turma. Os estudantes que responderam ao questionário inicialmente seguiam para a próxima etapa, Dinâmicas, em que realizou-se uma série de atividades teórico-práticas com os discentes participantes, com a finalidade de fornecer suporte e conteúdo necessário para compreender o processo da Evolução Biológica. Essa etapa consistiu de três dinâmicas, cada uma ocorria em um encontro diferente. 1. Palestra: Vida e evolução: o maior espetáculo da Terra. Esclarecendo o tema de forma teórica, e os principais pontos requeridos no questionário. 2. Uso de antibióticos: Preparada a partir de um antibiograma (BAUER et al, 1966) antes de ser levada aos alunos. Em laboratório da UNIVASF, placas de Petri foram preparadas com meio seletivo para bactérias, a fim de se obter placas com colônias satélite obtidas com o uso de antibióticos em laboratório, essas placas foram guardadas em refrigeração a 10ºC. Outras placas com meio seletivo foram preparadas, essas foram levadas para sala de aula, onde com o uso de cotonetes foi coletado bactérias de um aluno voluntário, e expostas ao antibiótico. Em sala, o pesquisador explicou como as mutações aleatórias junto a uma pressão seletiva não aleatória podiam gerar cepas resistentes aos antibióticos, logo após era mostrada a placa com as colônias satélite, demostrando o crescimento de cepas resistentes. 3. Gincana: a guerra dos bicos: Reuniu os participantes em uma dinâmica de grupo, onde todos os estudantes participavam ativamente, representando animais hipotéticos. A atividade baseada nos tentilhões de Darwin foi preparada com o uso de seis mesas, que simbolizavam as ilhas, em que cada mesa continha uma bandeja com sementes de um único tipo, duas ilhas com grão-de-bico (semente grande), duas ilhas com feijão (semente média), e duas ilhas com arroz (semente pequena). Um grupo de quatro participantes, dois casais, eram postos em uma mesma ilha com feijão, e recebiam um bico grande (pegador de roupas largo), um estômago (copo plástico 100 ml) com quatro marcas mostrando o quão cheio ele estava. Os participantes tinham então um minuto para encher o estômago o máximo que pudessem, em que cada marca representava um ponto de energia. Essa energia era trocada por ações, um ponto era sempre gasto ao final de cada rodada, com a ação obrigatória denominada manutenção. Um ponto podia ser utilizado ao final da rodada para executar a ação de migração, onde o participante podia trocar de ilha. Se um casal desejasse ter um filho, cada um gastava um ponto, e o docente (facilitador) jogava dois dados de quatro faces secretamente, onde era sorteado o sexo e o bico do novo participante, que era posto na ilha junto com os pais. Os bicos eram determinados pelos genes hipotéticos, onde o gene para bico grande era dominante, e o bico pequeno (pegador de roupas fino) era recessivo. Os animais hipotéticos eram diploides, e possuíam reprodução sexuada e dióica. Após algumas gerações era introduzido no meio da reprodução um gene mutante, a colher, que era Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 157 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 dominante sobre os outros dois, e muito melhor para coletar sementes. Os nomes dos participantes estavam no quadro, e toda vez que se reproduziam marcavam um ponto, e sempre que um descendente se reproduzia, os ancestrais também pontuavam. A Tabela 1 apresenta os objetivos que foram buscados com cada dinâmica aplicada. Tabela 1: Objetivos das Dinâmicas Aplicadas. Ação Objetivos Palestra: Vida e Evolução o maior espetáculo da Terra. Ensinar os objetivos da Ciência, como o Método Científico funciona e os aspectos históricos da Teoria da Evolução. Utilizar o modelo “A mensagem“ para desconstruir os conceitos errôneos acerca da Evolução. Esclarecer as implicações do conhecimento dessa Teoria na história da vida na terra, inclusive acerca da evolução humana. Esclarecer o impacto da Teoria em ciências como a Paleontologia, Geologia e Biologia, apontando a Evolução como um importante alicerce das ciências. Esclarecer sobre a importância de um cidadão distinguir os conhecimentos científico e religioso. Uso de Antibióticos Apresentar o conceito de mutação e variabilidade genética. Contextualizar o uso do conceito de Seleção Natural em fenômenos cotidianos, como o porquê de se restringir o uso de antibióticos. Apresentar a Evolução na prática, tornandoa um processo que de fato acontece, e não uma especulação. Desfazer o conceito de que a Evolução Biológica é um processo de milhões de anos, uma vez que ela é dependente da reprodução, e cada ser vivo tem seu ciclo biológico. Gincana: Guerra dos Bicos Demostrar o conceito de Seleção Natural Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 158 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 mais uma vez, em que a reprodução e a variabilidade genética possuem um importante papel. Expor a população de uma espécie como unidade em que ocorre a mudança ocasionada pela evolução, e não indivíduos, bem como os genes como unidades que proporcionam essa mudança. Abordar conceitos de Genética como pontos importantes na Teoria Sintética da Evolução, e como a Evolução e os genes ajudam a explicar vários fenômenos biológicos. Finalizadas as dinâmicas, os participantes realizaram a quarta e última etapa, o Questionário-final, em que responderam às mesmas perguntas do primeiro, dessa vez com o conteúdo exposto durante as dinâmicas. Assim, os questionários dos participantes que estavam em todas as etapas puderam ser comparados, com o propósito de verificar como as respostas mudaram após as dinâmicas. Utilizou-se o Excell 2010 para tabulação e confecção dos gráficos da amostragem. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao término das atividades, o total de estudantes que permaneceu em todas as etapas do trabalho demonstrou uma boa receptividade mediante a uma atividade extracurricular. No Colégio A dos 150 estudantes que iniciaram a atividade, 77 participaram de todas as etapas, perfazendo um total de 51,3%. Já o Colégio B teve inicio com 37 estudantes, e finalizou com 22 estudantes, perfazendo um total de 59,4%. No Colégio C, o trabalho iniciou com 17 estudantes, e finalizou com 12, perfazendo um total de 70,5%. No total participaram de todas as etapas 111 estudantes, a média das idades dos participantes foi 16,5855, e a moda foi 16 anos. Desses 64, 86% eram do sexo feminino e 35,14% do sexo masculino. Os dados referentes ao sexo e religião dos estudantes foram requisitados no final do questionário, para que o discente se sentisse a vontade ao responder as assertivas. Segundo o último mapa religioso disponibilizado pelo IBGE (2010), os católicos somam 64,6%, evangélicos 22,2%, e os que não possuem religião somam 8%. A Tabela 2 amostra um cenário onde o catolicismo tende a perder fieis para os protestantes, e para aqueles que não se identificam com nenhum credo. O censo ainda atenta que a maioria dos católicos se concentra na faixa etária acima dos 40 anos, e os protestantes se concentram em jovens e adolescentes. Tabela 2: Apresenta em número absoluto e percentagem as crenças dos estudantes participantes dos três Colégios. Religião N % Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 159 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Católico 50 45,045 Protestante 39 35,135 Não possui 15 13,513 Cristão 3 2,702 Candomblé 3 2,702 Ateu 1 0,900 Total 111 100 A seguir serão apresentadas, na Tabela 3, as afirmativas acompanhadas da escala Likert (1932), que segue o grau de aceitação a uma afirmação, considerando a aplicação dos questionários Antes e Depois das Dinâmicas. Tabela 3. Percentual de respostas, em escala Likert, Antes e Depois das Dinâmicas aplicadas. Assertivas 1. Evoluir significa melhora ou avanço 2. A Teoria da Evolução busca explicar a origem do universo, do sistema solar, do planeta terra, e da vida 3. Os macacos, como o chipanzé e o gorila, são os ancestrais do homem moderno. 4. Darwin foi um cientista, que além da Teoria da Evolução, propôs a Teoria do Big Bang, e explicou com detalhes como se originou a vida Dinâmica Discordo Totalment e - DT Discord o em ParteDP Concord o em Parte-CP Concordo Totalment e-CT Antes 2,7% 1,8% 23,4% 72% Depois 50,4% 10,8% 18% 20,7% Antes 9,9% 9% 18,9% 62,1% Depois 65,7% 4,5% 9% 20,7% Antes 51,3% 7,2% 13,5% 27,9% Depois 74,7% 5,4% 4,5% 15,3% Antes 25,2% 8% 18,9% 47,7% Depois 68,4% 10,8% 9% 11,7% Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 160 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 5. A Evolução busca a perfeição dos organismos até o ponto que eles não precisem mais evoluir 6. A Evolução ocorre de modo que um ser vivo mude de forma para se adaptar ao ambiente 7. O processo evolutivo está presente nas situações naturais do cotidiano 8. A Evolução não passa de uma teoria, portanto é apenas uma especulação 9. É possível ciência e religião coexistirem sem conflitos ideológicos Antes 33,3% 14,4% 18% 34,2% Depois 71,1% 7,2% 8,1% 13,5% Antes 9,9% 4,5% 13,5% 72% Depois 69,3% 0,9% 5,4% 24,3% Antes 9% 3,6% 14,4% 72,9% Depois 0,9% 3,6% 7,2% 88,2% Antes 34,2% 13,5% 19,8% 32,4% Depois 65,7% 7,2% 9,9% 17,1% Antes 48,6% 10,8% 16,2% 24,3% Depois 36,9% 5,4% 11,7% 45,9% A 1ª questão, “Evoluir significa melhora ou avanço”, trata da visão errônea do processo evolutivo como aperfeiçoamento. Evoluir, biologicamente, significa mudar, logo a resposta com uma visão científica está mais voltada para discordar da afirmativa. Gould (1987) diz que a semântica da palavra evolução, assim como outras colocações científicas, gera confusão no meio popular. Pode-se observar como a mudança de opinião, CT antes (72%) e DT depois (50,4%), ocorreu entre os participantes, uma vez que na palestra o tema foi abordado de modo a esclarecer esse conceito. Para a 2ª afirmativa “A teoria da evolução busca explicar a origem do universo, do planeta Terra, e da vida”. Demonstrando o desconhecimento dos estudantes quanto ao real enunciado da Teoria da Evolução, antes da Dinâmica por CT (62,1%). Ayala (1979) atenta para a única proposta de Darwin, explicar a ancestralidade em comum entre as espécies, e não a origem dos fenômenos. O desconhecimento do processo evolutivo, misturado a ideias errôneas sobre a evolução humana induzem ao erro conceitual de que espécies atuais originam espécies contemporâneas a ela. Na 3ª afirmativa “Os macacos como o gorila e o chimpanzé, são ancestrais do homem moderno”, as respostas de maior ocorrência eram escolhidas por motivos diferentes. Essa ideia corrobora a de que existem organismos mais e menos evoluídos, em que o homem é visto como o ápice do processo, sendo aceita até por pessoas simpatizantes às teorias científicas. No entanto, é fácil notar que a princípio os participantes discordaram (51,3%) da ideia por motivos de não apreciar a ideia do enunciado. Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 161 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Explicações religiosas, e a ideia de que o enunciado se tratava de algo científico, dominam as justificativas para as respostas, como em: “Acredito que quem nos criou foi Deus, e não um macaco” (Estudantes nº2, DT, mulher, protestante). E em: “A figura do homem é imagem e semelhança de Deus, e Deus não era um macaco” (nº24, DT, homem, protestante). A palavra “Deus” não aparece na afirmativa, mas ocorre bastante, demonstrando um choque entre conhecimento científico e religioso. As respostas, depois de aplicada as dinâmicas, permanecem com grande discordância, entretanto os participantes agora discordam com base na não veracidade científica do enunciado, apontando o erro da mesma, como em: “Compartilhamos um ancestral em comum” (Estudante nº17, DT, homem, protestante). Em um trabalho semelhante a este, realizado por Costa et al (2000) com uso de questionários, foi revelado que alunos do ensino público tiveram maior aceitação de ideias do Desenho Inteligente (Intelligent Design) em contrapartida ao Criacionismo Clássico baseado no Fixismo, os estudantes em geral concordam mais facilmente com afirmativas que apresentavam uma visão evolutiva quando o ser humano não esta envolvido na sentença. A 4ª questão afirma “Darwin foi um cientista que além da Teoria da Evolução, propôs a Teoria do Big Bang, e explicou com detalhes como se originou a vida”. Charles Darwin apenas propôs a Teoria da Evolução por meio da Seleção Natural. Martínez (1998) mostra como o uso da história da ciência pode ser útil na construção do conceito de uma Teoria, expondo como a humanidade, aos poucos, construiu aquela ideia, e a tornou uma Teoria. Como se pode ver na Tabela 4, nessa afirmativa uma boa parte dos participantes concordou com o enunciado, e os que discordaram, muitas vezes, o fizeram por motivos emotivos, como em: “Por eu crer na Bíblia, e Darwin tentar mostrar que Deus não existe” (Estudante nº66, DT, homem, não possui). Após a aplicação das dinâmicas, a maioria das justificativas apontou o erro histórico cometido na afirmativa, como em: “Darwin só propôs a Teoria da Evolução” (Estudante nº99, DT, mulher, protestante,). Carneiro (2004) atenta ao fato de que durante produções de texto sobre Evolução, alunos e professores citaram muito pouco o nome de Darwin, ou até mesmo de Lamarck, além de não abordarem a Teoria Sintética. Na 5ª questão “A Evolução busca a perfeição dos organismos até o ponto em que eles não precisem evoluir”, a opinião dos estudantes a princípio estava dividida, conforme a Tabela 4, DT (33,3%) e CT (34,2%) com aqueles que aceitavam a ideia da busca da perfeição: Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 162 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 “A evolução é a busca da perfeição” (Estudante nº34, CT, homem, protestante). E os que viam a ideia como errada: “A evolução não busca a perfeição, mas sim a sua mudança” (Estudante nº62, DT, mulher, protestante). A mudança de opinião foi bastante clara, após a dinâmica, com o aumento significativo dos que discordavam da afirmativa, em que as justificativas para a discordância como: “A evolução não busca a perfeição, e sim a modificação, ela nunca para” (Estudante nº72, homem, católico). Os alunos, após a Dinâmica, com seu olhar crítico, perceberam que a afirmativa da questão falha em dois pontos, o primeiro é tentar mostrar o processo evolutivo como avanço, e o segundo está na palavra “busca“, uma vez que a Evolução como um processo natural, não busca coisa alguma, como em: “A evolução não busca nada, é um fenômeno natural, a vida não procura perfeição” (Estudante nº88, DT, homem, candomblé). O erro conceitual que ficou evidente na 6ª afirmativa “A Evolução ocorre de modo que um ser vivo mude de forma para se adaptar ao ambiente”, com 72% dos estudantes concordando totalmente, conforme a Tabela 4, que a evolução ocorre dessa forma. Nem mesmo o Lamarckismo corrobora com a afirmativa, uma vez que não é mencionado reprodução em nenhum momento. Em: “Conforme o ambiente vai mudando, o ser vivo vai tentando se adaptar com o ambiente” (Estudante nº36, CT, mulher, católica) O erro na tentativa de justificar a resposta, indicando que o processo evolutivo ocorre em um indivíduo, e em: “As pessoas tem que buscar melhorias para o meio ambiente, que traz oxigênio para as pessoas, e isso ajuda muito” (Estudante nº 5, homem, católico). Observam-se três erros conceituais: o objeto de estudo da Evolução, confundir evolução com melhoria, não compreender como a Evolução ocorre. A visão “genocêntrica” de Mayr (1998) diz que as mudanças que ocorrem nos seres vivos provem da natureza física dos genes, que podem sofrer mutação e recombinação. Por outro lado, alguns autores evidenciam que o ambiente pode produzir variação fenotípica herdável sobre a qual a seleção natural age (Müller, 2007; Pigliucci, 2010; Wund, 2012). Nas respostas seguintes a exposição dos alunos às dinâmicas, ocorreu o esclarecimento do objetivo da palestra, em que os indivíduos são identificados como unidades de ação do processo Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 163 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 evolutivo em maior escala, como em: “A evolução não ocorre em indivíduos, ela ocorre em um conjunto, em uma população” (Estudante nº89, DT, homem, cristão). A 7ª questão “O processo evolutivo está presente nas situações naturais do cotidiano”, foi utilizada para testar os conceitos de Teoria, e da própria Evolução, e quão os estudantes a julgavam útil. Como os mesmos não entendiam o próprio objeto de estudo da evolução, e como ela ocorria, a concordância total (72,9%) deu-se pelo fato de julgarem os conceitos errados de evolução, como melhora e avanço, e necessidade de adaptação. Vejamos algumas respostas: “Sempre queremos evoluir mais, em tudo em nossas vidas” (Estudantes nº41, CT, mulher, protestante). “Tipo, você nasce, isso não quer dizer que você vai permanecer do mesmo jeito que nasceu” (Estudantes nº21, CP, mulher, católica). Identifica-se o uso de exemplos apresentados na Dinâmica em: “Os antibióticos estão presentes no nosso dia-a-dia” (Estudante nº11, mulher, católica). O que demonstra que o objetivo da dinâmica foi utilizado para justificar a resposta: “Ela está presente em vários ramos da biologia” (Estudante nº2, CT, mulher, protestante). As opiniões foram divididas, CT (32,4%) e DT (34,2%) na afirmativa da 8ª questão “A Evolução não passa de uma teoria, portanto é apenas especulação”, no qual demonstram a falta de domínio do método da ciência, e do significado de uma Teoria. Na Tabela 4, encontra-se a concordância com a afirmativa. Essa confusão de o que significa de fato uma Teoria esta presente em: “A coisa mais linda hoje foi isso, a teoria evolução é apenas uma teoria, e se contradiz em partes” (Estudantes nº26, CT, mulher, protestante). E acerca do objeto de estudo da Biologia Evolutiva observa-se: “A evolução tenta explicar que Deus não criou tudo, e ele criou, portanto para mim é um especulação” (Estudante nº25, CT, mulher, protestante). A mudança conceitual observada traduz o impacto da Palestra, uma vez que as palavras utilizadas foram tomadas como opinião, como em: “Teorias são enunciados científicos que explicam os fatos” (Estudante nº95, DT, mulher, católica). Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 164 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 “Explica o fato de que a vida, com o passar do tempo, se modifica” (Estudante nº38, DT, homem, cristão). As opiniões se mostram bastante divididas em ambos os momentos, antes e depois, conforme a Tabela 4, para a 9ª questão “É possível ciência e religião coexistirem sem conflitos ideológicos”. As palavras “opinião/ideia” associada com a palavra “diferente”, e “sempre” mais “conflito” caracterizam as opiniões dos estudantes acerca da possibilidade exposta pela afirmativa. Em: “A religião e a ciência tem opiniões contrárias” (Estudante nº15, DT, mulher, católica). As palavras “totalmente” e “diferente” estão associadas, assim como “acordo”, “regulamentação” e “lei”, demonstram uma sugestão de diálogo entre ambos, como em: “Tem que haver acordos e leis para regulamentação desse acontecimento” (Estudante nº4, CP, homem, católico). Outros remetem a questões anteriores, da não mistura entre os conhecimentos, como em: “Ciência e religião não se misturam” (Estudante nº19, CP, homem, protestante). Gould (1987) tenta estabelecer uma visão onde o criacionismo não entra em contradição com as explicações científicas. Em seu ponto de vista, uma vez que a Evolução não explica a origem da vida, não há conflito entre os conhecimentos. Entretanto, uma vez que uma Teoria para a Origem da Vida seja concebida, percebe-se que o conflito existirá, o que limita a ciência a sua condição atual para que não ocorram conflitos ideológicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo pode demonstrar que mesmo muito próximo da conclusão do Ensino Médio, os estudantes apresentaram dificuldades, que sob á ótica dos Planos Nacionais Curriculares não deviam ocorrer em número tão significativo. O uso da justificativa junto à escala Likert permitiu uma melhor segurança em termos do uso dos dados das respostas, uma vez que a chance de responder aleatoriamente é descartada mediante a justificativa. Os dados abrangeram as concepções de estudantes com religião, ou aqueles que ao menos não se identificaram com ateus, uma vez que apenas um estudante se identificou com a ausência de credo. Para uma visão de estudantes sem credo seria necessário avaliar as respostas desse grupo de indivíduos, uma vez que naturalmente sua amostragem será menor. Ensinar Evolução de fato passa por uma série de obstáculos, desde a não compreensão de como a ciência funciona, mesmo após anos com disciplinas de ciências, aos equívocos conceituais. Erros conceituais acerca de qual seu objeto de estudo, e quais são suas verdadeiras implicações para nosso cotidiano, para a história da vida, e para o lugar da espécie humana nessa história, ainda são assuntos que levam polêmica às salas de aula. A interpretação da palavra “Evoluir” permite que a Evolução biológica seja confundida Vivências. Vol. 12, N.22: p. 154-167, Maio/2016 165 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 com os avanços das civilizações, da própria ciência, e do intelecto humano. E esse mal entendido do real significado da palavra Evoluir se propaga em todas as demais questões. A confusão feita da Teoria Evolutiva com outras Teorias científicas, como o Big Bang, e as hipóteses acerca da origem da vida no planeta, impede que os conceitos evolutivos se estabeleçam da maneira correta. É interessante notar como os estudantes parecem expressar a visão geral da população ao tema da Evolução. Onde e como ocorre a Evolução dos seres vivos ainda é difícil de explicar para os estudantes em tempo de conclusão do Ensino Médio, o que os priva de estabelecer a evolução como a base de toda a Biologia moderna, e assim, compromete a compreensão dos fenômenos biológicos. Sem esse conceito bem estabelecido um estudante que não se envolver com as Ciências Biológicas após seus estudos no Ensino Médio, não terá, provavelmente, outra oportunidade de fazê-lo. Durante todo o processo, o trabalho buscou não permitir, em momento algum, quer seja na escrita desse trabalho, ou nas Dinâmicas, que o conhecimento religioso fosse visto como inferior ou menos importante. Apenas foi enfatizada a diferença desse conhecimento da Ciência. O conflito com o conhecimento religioso é bastante visível, entretanto, deve-se levar em consideração a importância de ensinar como o processo da Evolução ocorre da maneira correta, e depois permitir que os estudantes tirem suas próprias conclusões. A Evolução é uma Teoria muito bem fundamentada, ao ponto que só discorda dela quem não a conhece direito, ou possui convicções religiosas muito fortes e inexoráveis, diante do que a Evolução explica em comparação com o que a religião explica. Por fim, lecionar Evolução, não causa o abandono de crenças religiosas, ou de conceitos filosóficos por essas crenças estabelecidas. Assim sendo, o ensino de Evolução não é responsável por secularização como alguns grupos políticos defendem. Em geral, a visão da religião como único norteador moral acaba causando aversão às teorias cientificas por essas mostrarem a possibilidade de certos tabus serem relativizados. É possível apontar com base tanto na bibliografia consultada, e na experiência vivenciada, a necessidade de abordar Biologia Evolutiva cada vez mais cedo durante o Currículo escolar. Está se formando cidadãos leigos acerca do processo evolutivo, com um conhecimento muito aquém dos saberes acadêmicos, e da realidade científica e tecnológica que é vivenciado nesse século. O que se observa a partir dos questionários avaliados, é o que Carl Sagan chamou de Analfabetos Científicos (SAGAN, 1996). Nesse ponto a escola tem uma participação que não pode ser negligenciada pelo Estado, Educadores e Acadêmicos; como instituição que tem o papel de instruir e atualizar os estudantes à realidade do nosso tempo, deixa-los a par das descobertas científicas que levaram pensadores a exaustiva experimentação de ideias, em busca do principal objetivo da ciência: a melhora da qualidade de vida e experiência humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYALA, F.J.; VALENTINE, J.W. Evolving. The theory and processes of organic evolution. California: The Benjamin/Cummings Publ. Comp,1979. BAUER, A.W. et al. Antibiotic susceptibility testing by a standardized single disk method. American Journal of Clinical Pathology, v. 45, n. 4,1966, p. 493-496. BIZZO, N.M.V. Ensino de evolução e história do darwinismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1991. CARNEIRO, A.P.N. A Evolução Biológica aos olhos de professores não-licenciados. Dissertação (Mestrado). 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