Subsídios Para o Conhecimento da História da Nefrologia no Rio de

Artigo Especial
Subsídios Para o Conhecimento da História da
Nefrologia no Rio de Janeiro
Proto-nefrologistas no Rio foram Oswaldo de Oliveira, Annes Dias,
Miguel Couto e Moreira da Fonseca, divulgando conceitos e promovendo os
primeiro trabalhos clínicos, seguindo-se Waldemar Berardinelli, do Serviço de
Rocha Vaz, que publicou Doenças dos rins, Ed. Guanabara, 1934. René
Laclette (1903-79), já nos anos 40, escreveu teses, memórias e artigos sobre
nefropatias; reconhecido, provavelmente, o primeiro nefrologista carioca. No
início dos 50, José Augusto de Aguiar, no Serviço de Luiz Capriglione, instalou
uma Seção de Patologia Renal, depois fixada no serviço de Magalhães Gomes
na Santa Casa de Misericórdia. Da árvore Rocha Vaz, transferindo-se para a
cadeira de Luis Feijó (H. Moncorvo Filho), também Edison Martins Garcia e
Angelo B. Faillace de Oliveira iniciaram o setor de Nefrologia nos meados dos
anos 50. No Hospital dos Servidores do Estado (HSE), ainda nos 50, organizou-se notável grupo assistencial e de treinamento (Jayme Landman, Yousef
Bedran, depois Francisco Santino Filho, Luiz C. Leal, R. Chabo e associados),
núcleo de produtivo serviço nefrológico (F. Santino Filho, Marcos Hoette, A.
Marcelo Leite), fonte de numerosos trabalhos, teses (v.g. IR aguda, Landman,
1957), que iniciou diálises peritoneais e depois hemodiálises, regularmente.
Provavelmente as primeiras DP (com duplo cateter e solução Abbott-Shea) e
hemodiálises (no paciente C.M.B., de S. Luiz, com o rim artesanal de Tito
Ribeiro de Almeida), em 1955, foram conduzidas por Rômulo Macambira, no
Serviço de Urologia do IAPI, na casa de Portugal. Este, a partir de 1959, iniciaria o ensino das nefropatias na Cadeira de Fioravanti Di Piero, depois na de
Annibal Nogueira Jr., na Escola de Medicina e Cirurgia (UNI-RIO). Também
na segunda parte dos 50, Renato Kovach, no Serviço de Clementino Fraga
Filho, instalou um setor, realizando biópsias renais, DP e conduzindo estudos
sobre a nefropatia kaliopênica; posteriormente associaram-se Mário Luiz
Catão, Maria A.C. Lyra e Rosa Cukier. Até a Fundação da SBN (2 de agosto
de 1960), cuja Ata Inicial assinaram dois cariocas: Edison M. Garcia e Angelo
Faillace de Oliveira, atuavam tais núcleos de forma isolada, dedicando-se à
assistência nas enfermarias, com poucos laboratórios de patologia clínica, realizando raras diálises nos casos de IR aguda, estudando necropsias e poucas
BR. Atividades centradas em observações clínico-patológicas, com pessoal em
número reduzido, apartado da pesquisa sistemática; ensino à graduação dissociado da pesquisa básica (o que veio a se acentuar com a Lei 5540 – Reforma
Universitária); unidades sem autonomia, integrando serviços clínicos ou
urológicos; poucos estudos sistemáticos, versando matérias aplicadas, predominando sobre a investigação nas áreas-base; carências de recursos de todas as
ordens; raros investimentos; acesso limitado às práticas atualizadas. A maioria
dos médicos que haviam realizando estágios no exterior voltavam-se para a
prática clínica. Tal o quadro dominante até o final dos 60 e também nos 70.
O Rio sediou o I Congresso Brasileiro de Nefrologia (12-15 Dez. 1962),
realizado na Academia Nacional de Medicina, presidido por J. Landman, tendo
Edison Garcia por Secretário Geral. Landman presidiria também o segundo
Congresso, em Belo Horizonte (1964), havendo sido segundo Presidente da
SBN. Nos anos 60 organizaram-se diversos Serviços. No HU Pedro Ernesto
(Faculdade de Ciências Médicas, UERJ), com J. Landman, dirigido inicial-
Omar da Rosa Santos
Professor Titular de Clínica Médica
(Escola de Medicina e
Cirurgia, UNI-RIO)
Professor Titular de Nefrologia da
PUC-Rio e do Instituto de
Pós-Graduação Carlos Chagas
Membro Titular da Academia
Nacional de Medicina
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mente por Ângelo Faillace, associando-se Mário Catão,
Aloysio Amâncio, Ivan Moreira (desde 62) e depois J.
Cavaliere Sampaio, Osmar F. Ferreira, Virgílio P. da Cruz
e outros (1965), havendo progredido sempre. No Hospital
da Lagoa, R. Kovach e logo após Nélio Amorim, Armido
Mastrogiovanni, Roberto Luiz Magalhães, Rogério de
Castro, Jayme Vignolli iniciaram o setor nefrológico, bastante ativo. No Hospital de Bonsucesso, no Serviço de
Clínica Médica (Chefe, F. Alvariz), Sérgio Monteiro de
Carvalho, Roberto Machado Silva e Newton Ximenes,
desde meados dos 60, depois enriquecidos com Deise M.
de Carvalho (1969), haviam iniciado o setor, dedicado
Centro que iniciou as HD regulares por volta de 1970. Em
1965, no Hospital São Francisco de Assis, na Cadeira de
Lopes Pontes, José Francisco R. de Ornellas instalou a
unidade nefrológica, voltada para o atendimento clínico e
os estudos clínico-patológicos. Em meados dos 60 reuniram-se os serviços na Santa Casa (da Faculdade de Medicina da UFRJ), passando a ser dirigidos por José
Augusto de Aguiar, com a colaboração de Maria A.C.
Lyra, David Balassiano, Rosa Cukier, Isaac Waibrot, concentrando-se na nefrologia clínica. Posteriormente, com o
Hospital Universitário do Fundão (1978), associaram-se
os professores vindos do H. Moncorvo Filho (Edison Garcia, Antônio Dias, Luciano V. Pinto, Lauro de Magalhães
Filho, J. Manoel Santos, E. Garcia Filho, Gerson Rocha)
e do H. São Francisco (J.F.R. Ornellas e Lúcio Ronaldo
Costa), com a participação temporária de Santino Filho,
Frederico Ruzany, José Roberto C. da Rocha e Horácio
Falcão, para a organização da Disciplina de Nefrologia,
cujo primeiro Titular foi José Augusto Aguiar (1984),
depois José Francisco R. Ornellas (1992).
Na Escola de Medicina e Cirurgia, com a incorporação do H. U. Gaffrée & Guinle (1966), passamos a
colaborar, inicialmente na Cadeira de Jacques Houli e
posteriormente sucedendo ao Prof. Annibal Nogueira Jr
(1981), só dispondo de unidade de diálise a contar de
1976. Entre 1977 e 1992 instalamos e dirigimos o
serviço (O.R. Santos, Francisco J. Magalhães Filho,
Marco Antônio Andrade e Max M. Serpa), ligado à
Clínica de Urologia, no Hospital do Andaraí (INAMPS),
reunindo um total de 1800 IR agudas, motivo de diversos estudos e textos (v.g. Insuficiência renal aguda, Ed.
Revinter, 1992).
Em 1975 foi instalado o Serviço no Hospital de
Jacarepaguá, dirigido por J. Cavaliere Sampaio. O
IASERJ já dispunha de bom serviço (A. Marcelo Leite e
M. Hoette, depois Silvia Q. Pereira) desde 1971. No Hospital Souza Aguiar o serviço foi instalado em 1975 (Maria
A.C. Lyra), dedicando-se predominantemente ao cuidado
das doenças agudas. Nas Forças Armadas foram iniciadas
as atividades assistenciais na F. B. A. (com Emanoel Cas-
Subsídios Para o Conhecimento da História
tanha e depois Ricardo Germano), na Marinha (com Adir
M. Cunha) e no Exército (com médicos civis, A.M. Leite,
R.A. Faria e depois Sérgio Azevedo) entre o final dos 60
e o início dos 70.
A SBN, Regional do Rio de Janeiro, desde 1960 foi
dirigida por Secretários Regionais, aproveitando os citados pioneiros; pelo final dos 60 teve suas atividades
diminuídas até a definitiva reativação em 1970, sob a
direção sucessiva dos Secretários: Mário Luiz Catão (7172), Nélio Amorim (73-74), José Francisco R. Ornellas
(75-76), e depois dos Presidentes: Francisco Santino Filho
(77-78), José Cavaliere Sampaio (79-80), Omar da Rosa
Santos (81-82), Luciano Vasquez Pinto (83-84), Frederico
Ruzany (85-86), Maria Lucilia de Souza (87-88), José
Roberto Coelho da Rocha (89-90), Ricardo Augusto Faria
(91-92), Jocemir Ronaldo Lugon (93-94), Sérgio Fernando Santos (95-96), Elias Assad Warrak (97-00), Mauro
Barros André (00-02), Maurício Younes-Ibrahim desde
fins de 2002 e, agora, Walter Luiz Gouvêa Filho
A SBN-RJ, agora SONERJ, tem realizado suas
sessões mensais, desde então sem falhas, cerca de 10 por
ano (nos Hospitais da Santa Casa, da Lagoa, da
Beneficência Portuguesa – por longo tempo, no HU
Pedro Ernesto e, agora, no H. Copa D’Or), a cargo dos
diversos serviços, por rodízio; várias sessões solenes
aproveitaram convidados nacionais e estrangeiros,
havendo o primeiro Encontro Regional RJ sido feito em
1995. Com freqüência a Sociedade ou seus membros, a
convite, participaram de, ou promovem, numerosos cursos, encontros e congressos. A SONERJ acaba de instalar sua sede própria em 2003. Desde a fusão dos Estados
da Guanabara com o RJ, em 1975, aumentou o congraçamento com os serviços de Niterói e de outras
cidades, que desde 1981 participam ativamente das
sessões e, ultimamente (Jocemir Lugon, Mauro André,
Elias Warrak, como L.C. Osti Magalhães e Valdebrando
Lemos de Campos), da Diretoria. Efetivamente, desde os
70, numerosas cidades: Volta Redonda (esta antes, com
Pedro C. Teixeira na CSN), Petrópolis, Teresópolis,
Barra Mansa, Caxias, Nova Iguaçu, S. J. de Meriti,
Belford Roxo, N. Friburgo, Valença, Vassouras, S.
Gonçalo, Barra do Piraí, Cabo Frio, Bom Jesus, Itaperuna, Macaé, Santo Antônio de Pádua, Angra dos Reis,
Rio Bonito, Três Rios, Paraíba do Sul, Paracambi,
Nilópolis, Magé, Itaboraí e mais, dispõem de nefrologistas consagrados, bons serviços clínicos, ativas unidades
de diálise e alguns programas iniciais de transplante
renal. O grupo de Campos vem, desde 1980, promovendo vários eventos setoriais, com Osti Magalhães, Valdebrando Lemos, Percy Bordini, L. Eduardo Campos e
associados. O ensino, em Vassouras, vem sendo dirigido
por Walter Gouvêa, cuidadosamente.
J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 2 - Junho de 2005
A Nefrologia Infantil, no Rio, teve Ruy Rocha
(UERJ) e Maurício Gonzaga como primeiros estimuladores, mantendo-se hoje ativo serviço (Alberto Zagury
e colegas) no H. de Bonsucesso.
Em agosto de 2003 o SUS amparava a 3.354
pacientes em tratamento substitutivo da falência renal no
município do Rio de Janeiro, além de cerca de 200 mais
noutros hospitais; nos demais municípios o Estado do Rio
de Janeiro mantinha mais cerca de 4.200 pacientes, totalizando um contingente da ordem dos 8.000 enfermos, 93%
sob hemodiálise regular, considerando os doentes cobertos por seguros privados.
Tudo decorreu da expansão dos Serviços e do
treinamento oferecido no Rio de Janeiro, que começou a
se acentuar na metade dos 70 com a disponibilidade das
técnicas de HD, e depois CAPD, e o crescimento do
treinamento dos nefrologistas. Criaram-se programas de
Residência Médica, estendendo o do HSE aos Hospitais
de Bonsucesso, Lagoa, Jacarepaguá e Andaraí
(INAMPS), além de nos Universitários (R. Pedro Ernesto,
Fundão, Antonio Pedro), em vários serviços estaduais e
municipais e alguns privados, como o H. Silvestre.
Instalou-se o treinamento em Cursos de Especialização de
2-3 anos, nos Serviços dos Hospitais da Beneficência Portuguesa (J.R. Coelho da Rocha, desde 1972), Santa Casa
(com J.A. de Aguiar, nos 70), Andaraí, Lagoa e Bonsucesso (conjugados) e HU Gaffrée & Guinle, patrocinados pelo Instituto de PG Carlos Chagas (J.R. Coelho da
Rocha, O.R. Santos, R.L. Magalhães e S. Monteiro de
Carvalho), Pontifícia Universidade Católica (J.A. Aguiar
e depois O.R. Santos), e UNI-RIO, além de estágios em
serviços Universitários, Públicos e Privados, consagrando
a pós-graduação lato sensu, que, no Rio, já preparou mais
de 280 nefrologistas.
O tratamento da I.R. crônica expandiu-se no Rio
após 1975, depois dos programas pioneiros no HSE, e nos
Hospital Pedro Ernesto, Bonsucesso, Lagoa e Antônio
Pedro. Neste centro, depois do núcleo nefrológico inicial
com Y. Bedran, Tito Ruch, E. Imbassahy, e depois
Manoel de Almeida, Edelvan Rosa e José Antônio L.
Arruda, este hoje full-professor na Universidade Illinois,
para onde fora em 1972, residiu o núcleo maior da Nefrologia de Niterói, hoje dirigido por Jocemir Lugon (titular
desde 1994), realizando estudos na área da HD diária, do
KTV controlado e das complicações da insuficiência
renal.
O segundo Presidente carioca da SBN foi José
Augusto de Aguiar (1978-80), que lutou arduamente na
elaboração das normas por que o Governo assumiu a
responsabilidade pelo tratamento da IRC no Brasil; presidiu ao IX Congresso Brasileiro (Rio de Janeiro, 1978) e
criou o Jornal Brasileiro de Nefrologia (1979). A loca-
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lização da Direção Geral do INAMPS no Rio tornou a
SBN-regional RJ, por sucessivas gestões, órgão de
choque e palco de históricas discussões com o Governo
Federal. Nefrologistas cariocas agiram (1980/89) como
agentes moderadores nos dissensos integrando a Comissão regional-RJ do INAMPS (J.C. Sampaio, A.C. Mastrogiovanni, O.R. Santos, S.M. de Carvalho, A.M. Leite,
E.P.Q. Madeira).
Os quadros da SBN contavam, em 2000, 283
nefrologistas do Rio de Janeiro entre 2.218 sócios (13%),
a segunda bancada. Igualmente, nas listas da Internation al Society of Nephrology, entre 1987 e 1995, a porcentagem de sócios brasileiros do Rio de Janeiro tem variado
em 17 e 23%; o contingente brasileiro, em 1997, era de
485 membros na ISN, dos quais 11% com domicílio no
Rio de Janeiro.
René Laclette (1945-79), José Augusto Aguiar
(1976-88), Omar da Rosa Santos (1989) e Anibal Gil
Lopes (2002) têm pertencido como Membros Titulares à
Academia Nacional de Medicina, por suas atuações no
Rio de Janeiro. José Antônio Arruda foi eleito Membro
Honorário Estrangeiro (1995). Diversos nefrologistas cariocas seguiram a carreira docente completa alcançando a
posição de Professores Titulares por concursos: Jayme
Landman (Clínica Médica, UERJ), Angelo B. Faillace
Oliveira (Clínica Médica, UERJ), Ruy de Souza Rocha
(Pediatria, UERJ), Omar da Rosa Santos (Clínica Médica,
UNI-RIO), José Augusto Aguiar (Nefrologia, UFRJ),
Anibal Gil Lopes (Biofísica/Fisiologia, UFRJ), José F.
Ribeiro de Ornellas (Nefrologia, UFRJ) e Jocemir Ronaldo Lugon (Nefrologia, UFF); vários outros (Cavaliere
Sampaio, Frederico Ruzany etc.), têm respondido por
serviços nefrológicos universitários.
O ensino e a pesquisa incorporaram 12 livredocentes em Nefrologia no Rio de Janeiro. Na UFRJ: José
Augusto de Aguiar, Edison M. Garcia e Mário Luiz
Catão, em 1971 e José Francisco R. de Ornellas e Maria
Auxiliadora C. Lyra, em 1975; na UNI-RIO: Omar da
Rosa Santos em 1971, Rômulo Macambira em 1975 e
Guilherme Santoro Lopes, Valdebrando M. Lemos e
Alberto Marcelo Leite em 1991 e Mauricio Ibrahim, em
2004; na Universidade Gama Filho: Francisco Werneck,
em 1994, havendo outros nefrólogos livre-docentes em
Clínica Médica. Vinte nefrólogos alcançaram o doutorado: 9 na UERJ: Frederico Ruzany, M. Alice Rebello, Edison Régio M. de Souza, Rachel Bregman, Sérgio Fernando Santos, José Hermógenes Suassuna, Maurício Y.
Ibrahim, J.A. Quadra e P.R. Franco; 6 na UFF: Jocemir R.
Lugon, Miguel L. Graciano, Eduardo Rocha, R. Bregman,
José Mário Oliveira e Elisa Albuquerque S. da Cruz; 5 na
UFRJ: Rosa Cukier, Lúcio R. Cardoso, Gerson Rocha,
Lene Revoredo, Murilo de Nazaré Lima Leite Jr., e agora,
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Eduardo Rocha, que obtiveram seus graus principalmente
em São Paulo e no Exterior, diversos havendo prosseguido em estágios de pós-doutoramento. Alguns nefrologistas realizaram doutorados em áreas clínicas correlatas,
como G. Lopez y Lopez, Guilherme Santoro Lopes, Luiz
Paulo J. Marques e Wagner M. Figueiredo. Os cursos de
pós-graduação strictu sensu (mestrado) tiveram início em
1973 na UERJ (graduando 95 mestres) e depois na UFRJ
(1979, graduando 27 mestres). A UFF recentemente
implantou um curso geral de pós-graduação que inclui a
Nefrologia, ainda sem graduados. Na UFRJ, o Laboratório de Fisiologia Renal do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, mantém um ativo programa de pósgraduação que já formou 5 mestres e 7 doutores, dirigido
pelo Prof. Anibal G. Lopes desde 1993, vindo de São
Paulo.
Este último laboratório mantém uma boa média
anual de publicações em revistas internacionais. Em termos gerais, contudo, a Nefrologia no Rio de Janeiro ainda
se ressente do foco na pesquisa básica, no rastro da herança de haver crescido numa malha de muitos hospitais
universitários (3 universidades federais, 1 estadual e diversas faculdades privadas), públicos de diversas
naturezas, beneficentes, privados e de centros de diálise,
numa sociedade onde o sistema de produção está pouco
integrado com os serviços públicos, universitários e outros; com a maioria dos médicos detendo formação clínica, sem a tradição arraigada na pesquisa, trabalhando em
duas ou mais funções, com salários aviltados; sem o apoio
efetivo das agências financiadoras. Nos últimos anos a
UFRJ e temporariamente a UFF instalaram alguns laboratórios de micropuntura, hemodinâmica renal, de fisiopatologia renal, produzindo alguns trabalhos nas áreas de
cultura celular, obstrução urinária, hipertensão arterial,
litíase urinária, insuficiência renal aguda experimental,
em cooperação com algumas disciplinas dos ciclos básicos, que ainda não alcançaram a massa crítica desejável,
embora constituam inegável alento. Prosseguem os trabalhos, a maior parte versando os estudos clínicopatológicos, meios de diagnóstico e aplicações. Com freqüência a oportunidade de uma pesquisa tem prevalecido
sobre as linhas de pesquisa. Nos últimos anos o Laboratório da UERJ (M. Younes-Ibrahim e cols.) tem produzido bons trabalhos na área da investigação das ATPases, em especial da IRA da Leptospirose. O laboratório de
Fisiologia Renal da UFRJ lidera as pesquisas sobre a Na +
ATPase.
Nossa participação, limitada, pode ser resumida na
condução de serviços no HU Gaffrée & Guinle (UNIRIO), desde 1967, com a colaboração de A.M. Leite, Nilton A. da Silva, Valdebrando Lemos, Pedro Patrício
Filho, Mário Meyer Fernandes, Lygia M.F. Vieira, Luiz
Subsídios Para o Conhecimento da História
Paulo J. Marques, Eugênio Pacelle Madeira, G. Santoro
Lopes, Rosa M.P. Moreira, e no H. do Andaraí (1977-92),
produzindo trabalhos a partir da série de IR Aguda; de
outra, com 136 casos de nefrite lúpica (tese, 1983; V
Conf. Internac. LES, 1995), contribuindo com a recomendação de separar a variedade “crescêntica” do grupo IV
da OMS; descrevendo e estudando (Am J Nephrol
1992;12:281, Kidney 1994;3:63, Geniturin Med 1994;
70:30, J Bras Nefrol 1995;17:142, Arq Med (Porto)
1996;10:290, Nephron 1996;74:201, 1998;79:232, 2000;
85:178 e Atualidades em Nefrologia, vols 6 (2000) e 7
(2002), a nefropatia vinculada ao HIV. Também oferecendo treinamento (residência, especialização e estágios)
a mais de 100 colegas, atuando no ensino, publicando
dois livros-texto. Ultimamente vimos examinando o estado neuropsicológico na insuficiência renal.
O Rio de Janeiro sediou o VI Congresso LatinoAmericano de Nefrologia (1985) presidido por José A. de
Aguiar, que foi depois o Presidente da Sociedade LatinoAmericana de Nefrologia. Sediou também o II Congresso
Latino-Americano de Insuficiência Renal Aguda (2000),
presidido por M. Younes-Ibrahim.
O terceiro Presidente da SBN carioca foi José
Roberto Coelho Rocha (1990-92), que também presidiu ao
XVI Congresso Brasileiro, no Rio de Janeiro, 1992.
Procurou estreitar os laços do Brasil com a América Latina, Espanha e Portugal (Congresso Hispano-Latino-Americano, 1992, Barcelona) e com a Comunidade Lusófona
(Encontros de Nefrologia de língua portuguesa, no Rio de
Janeiro (1992), em Espinho (1993) e em Fortaleza (1994))
e pleiteou para o Brasil (Rio de Janeiro) o Congresso Internacional de 1999, havendo impulsionado a Nefrologia
Brasileira para as relações internacionais. A recente escolha do Brasil para sediar o Congresso da International
Society of Nephrology, sob a Presidência do Prof. Dr.
Nestor Schor (2007), oferecerá ao Rio de Janeiro a oportunidade invulgar de hospedar alguns Simpósios-Satélite.
O Transplante Renal, após uma tentativa heróica
no HSE (1964) e alguns procedimentos nos Hospitais do
Silvestre e HCEx (Edison Teixeira, 1960/70), teve início
regular, sucessivamente, nos serviços do HSE (1973), HU
Pedro Ernesto (1975) e H. Bonsucesso (1981), centros
que já realizaram, aproximada e respectivamente, 350,
960 e 1000 TR, havendo outras unidades no início dos
seus programas, como o HU Antônio Pedro (50TR). No
HU Clementino Fraga Filho o programa de transplantes
(Renato Gonçalves) já alcança os 500 procedimentos. No
H. de Bonsucesso (Deise e Sérgio Monteiro de Carvalho
e colaboradores) realizou-se, há pouco, notável sessão
vintenária dos TR.
Em 1987 o P.I.T.O. (programa dos Ministérios da
Previdência Social e da Saúde, realizado no INAMPS
J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 2 - Junho de 2005
com a colaboração da Campanha de Combate ao Câncer),
elevou o número de TX renais até cerca de 180/ano
(1988/89) com notório aumento na captação de rins de
cadáver. No Rio, associava-se o programa Rio-Transplante. Do Rio, de J.R. Feresin de Moraes, veio notável
contribuição para a imunogenética dos TX, com a identificação dos anticorpos anti-endotélio/monócito. Infelizmente, medidas açodadas do Governo (1990) desarticularam o programa. Merecem registro as resistências positivas oferecidas no HU Pedro Ernesto e no H. de Bonsucesso, nos quais os respectivos encarregados J. Cavaliere Sampaio, F. Ruzany e Edson Régio de Souza, e
Deise e Sérgio Monteiro de Carvalho, nunca deixaram os
TX-Renais baixarem a menos de 50/ano. Em 1991 o programa passou à Secretaria de Estado da Saúde, havendo
sido confiado a José Arnaldo Menezes por alguns anos.
Depois de 1994, José Cavaliere Sampaio assumiu a
Direção, situando-se a estrutura no HU Pedro Ernesto,
que recebeu alguns recursos, seguindo-se a reativação das
atividades, redundando em clara revitalização dos
números e dos percentuais de TX-cadavéricos. Em 1997
foi extinta a Coordenadoria do Programa, que foi
entregue a alguns médicos administradores por algum
tempo e depois ao Dr. Roberto Chabo, que o conduziu
com a devida moderação, alcançando-se agora mais de
250 procedimentos anuais.
As incertezas nas políticas de Saúde e de Educação
vêm, cada vez mais, abalando os pilares dos Serviços no
Rio de Janeiro, erguidos, na maioria, nos Serviços Públicos, sobre o mourejar dos pioneiros, com as aposentadorias e exonerações nas Universidades e nos Serviços
Públicos, nem sempre com a melhor substituição dos
quadros e lideranças pelo sistema do mérito; faltando
sempre mais os investimentos e o custeio; deixando cantar agora a sereia implacável com os capitais externos,
musa ligeira e efêmera; fazendo bruxulear a chama da
esperança, que já brilhou um dia no Rio de Janeiro no
Castelo de Manguinhos, então prestes a lançar a ponte
permanente da investigação. Com indizível pesar, assistimos à cena de ver um serviço que pudemos instalar
(1977) e que reuniu rica série de I.R.A., em que a diálise
foi aplicada em menos de 50%, ser perversamente extinto e substituído por um contrato de prestação de serviços
(pasmem)... de diálise. Isto sob as mais desbotadas alegações do mais insano racionalismo administrativo.
Creiam, não foi este o único caso.
Acredito que a união das competências e (boas)
vontades dos Centros Nefrológicos do Rio de Janeiro possam ensejar frutos maduros (v.g. com a instalação de um
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doutorado conjunto), pois não há quem possa viver tão
retirado que não se torne, quando menos o pense, devedor
ou credor... Com efeito, o apelo à posteridade brota do
sentimento de que há algo que não passa e que, mesmo
que não possa ser apreciado de imediato, a partir de
alguns, um dia poderá ser aproveitado pela maioria
(Goethe). O destino insensível, quando atinge as ricas
gavelas, machuca apenas a palha... Os grãos, estes nem
suspeitam da malhadeira, e saltam alegres por sobre a
eira, despreocupados sobre se irão para o moinho ou para
os campos, para servirem de sementes... Quanto ao Rio de
Janeiro, continua lindo...
Nota: Diversos colegas auxiliaram na construção
deste conspecto com suas lembranças; especialmente Edison M. Garcia, Mário L. Catão, José Francisco Ornellas,
Jocemir Ronaldo Lugon, Cavaliere Sampaio, Sérgio M.
de Carvalho, Rômulo Macambira, Roberto L. de Magalhães e A. Marcelo Leite. O texto tangencia apenas as
principais ocorrências históricas envolvendo nefrologistas cariocas.
Abreviaturas empregadas
DP –
BR –
IRA –
HD –
CAPD –
TR –
PITO –
UFRJ –
UNI-RIO –
UERJ –
UFF –
INAMPS –
CSN –
SBN –
SBN-RJ –
HCEx –
IASERJ –
HU –
PG –
SUS –
Diálise Peritoneal
Biópsia Renal
Insuficiência Renal Aguda
Hemodiálise
Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua
Transplante Renal
Programa de Imunogenética e Transplante de
Órgãos
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade do Rio de Janeiro
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
Companhia Siderúrgica Nacional
Sociedade Brasileira de Nefrologia
Sociedade Brasileira de Nefrologia; Regional do
Estado do Rio de Janeiro
Hospital Central do Exército
Instituto de Aposentadoria dos Servidores do
Estado do Rio de Janeiro
Hospital Universitário
Pós-Graduação Médica
Serviço Único de Saúde
Endereço para correspondência:
Prof. Dr. Omar da Rosa Santos
E-mail: [email protected]