RI - Jurandir Macedo

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA
COMO TRANSFORMAR
PLANOS DE
ANO NOVO
EM REALIDADE?
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REVISTA RI
Dezembro 2013 | Janeiro 2014
Você conhece a linguagem de programação do cérebro?
Saber os gatilhos para iniciar novos hábitos (e interromper
comportamentos que não deseja mais para si) pode ajudar
a colocar em prática as resoluções da noite de Reveillon.
Que tal fazer de 2014 o primeiro ano de uma vida nova?
por JURANDIR SELL MACEDO
Mais do que a idade cronológica, o que determina a juventude é a capacidade de fazer planos. Pode ser que você, leitor,
não veja mais um menino refletido no espelho. E você, leitora, observe no reflexo uma garota mais madura e de feições
mais determinadas do que há alguns anos. Mas, certamente,
recuperamos todo nosso entusiasmo de adolescentes ao imaginar as realizações que 2014 nos trará.
O que você pretende fazer? Quer perder alguns quilos? Fazer
exercícios? Diversificar os investimentos ou reforçar um plano de previdência privada? Estudar mais? Deixar de fumar?
Aprender um novo idioma? Iniciar um novo hobby, como
velejar ou ler livros que há tempos vem postergando? Abrir
um negócio? Fazer uma viagem a algum país desconhecido?
Quando colocamos esses objetivos no papel, muitas vezes
em plena noite de Réveillon, parece tudo muito simples. Um
destino, algumas metas para chegar lá... E pronto, não? Bem,
ao menos é assim que fazemos com nossos objetivos profissionais. Planejamos, distribuímos tarefas, acompanhamos a
evolução delas, resolvemos eventuais imprevistos e os projetos, enfim, saem do papel.
A LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO DO CÉREBRO
O cérebro é o responsável por converter ações conscientes
(repetidas com frequência) em hábitos inconscientes. O objetivo é liberar futuros recursos e mais força de vontade para
outras tarefas e ações mais novas ou mais complexas. Os hábitos são, portanto, um curioso mecanismo de produtividade
do cérebro. Tão curioso que é alv o de investigação de cientistas em todo o mundo há muitos anos.
Recentemente, o jornalista do The New York Times Charles
Duhigg compilou uma série desses estudos no livro “O Poder do Hábito”. Depois de ler centenas de artigos acadêmicos
sobre o tema e de entrevistar cientistas e executivos, a conclusão de Duhigg é bastante positiva para todos nós que queremos interromper costumes ruins e ganhar novos hábitos:
todo mundo pode exercitar o músculo da força de vontade.
E como se cria, afinal, um novo hábito? A linguagem de programação do cérebro contempla três palavras iniciadas em R:
1. Recado (o gatilho que inicia o comportamento);
2. Rotina (o comportamento em si, a ação que você toma);
Será que é assim com os nossos projetos de vida também?
Por que, muitas vezes, transformar um sonho pessoal em
realidade parece tão mais distante do que coordenar equipes inteiras na efetivação de um planejamento estratégico?
É que, seja qual for o sonho, invariavelmente a concretização
dele passa pela mudança de algum comportamento ou pela
criação de um novo hábito – e criar hábitos, por sua vez, exige conhecimento de programação. Mas não é programação
de códigos em softwares, não. É programação da máquina
mais complexa de todas: o nosso cérebro.
3. Recompensa (o benefício que você ganha ao completar a ação).
Para criar um hábito, é preciso primeiro se envolver na nova
atividade. O cérebro, por sua vez, trabalha intensamente para
processar todas as novas informações. Ele procura padrões e
tenta entender a nova ação. Assim que entende como funciona a tarefa, o comportamento começa a se tornar automático
e a atividade mental necessária para realizá-lo diminui.
Dezembro 2013 | Janeiro 2014
REVISTA RI
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EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Hábitos diários – pequenas
rotinas que são repetíveis – são
o que fazem grandes sonhos
uma realidade. Sonhe grande
para 2014, mas comece pequeno,
agora mesmo!
Mas, como fazer para seguir os três Rs de forma sistemática,
sem interromper a programação do cérebro até que o novo
hábito tenha sido adquirido (ou o mau comportamento,
interrompido)? Um gatilho interessante para evitar a auto-sabotagem é adquirir um primeiro hábito, mais simples:
perguntar a todo momento “por quê?”.
A proposta é questionar desde as ações mais simples, como:
“por que estou lendo essa revista?”, “por que estou comendo
esta torta?” até “por que estou acendendo este cigarro?”. E,
em seguida, travar um diálogo consigo mesmo, em busca de
uma resposta honesta. Vamos ver um exemplo?
™EdgfjZZhidjXdbegVcYdZhhVWdahV4 Porque eu quero.
Pense em como foi desgastante para seu cérebro quando
você o usou pela primeira vez na intenção de aprender a
dirigir. Pense em como você dirige agora. Provavelmente,
como a maioria das pessoas: no piloto automático. Portanto,
é preciso criar mecanismos para não esquecer (os recados,
na agenda, no celular, no email), até que o comportamento
entre na rotina. Completou a atividade? Dê a si mesmo um
prêmio, nem que seja um sorriso ou uma palavra de incentivo como recompensa!
UM GATILHO: O HÁBITO DO “POR QUÊ?”
Pela regra geral, o cérebro leva cerca de 30 dias para incorporar um novo hábito. Uma vez que ele se tornar automático,
você passa para o próximo. Pode parecer um longo e penoso
processo, mas ele é recompensado pelos benefícios que você
vai obter a partir de cada novo hábito positivo que criar. Neste ritmo, é possível construir doze novos hábitos por ano!
Considerando que a maioria das pessoas não constrói sequer
um novo hábito positivo ao longo de toda a vida, doze por
ano é mesmo fantástico.
Se a recompensa
for positiva, você
vai querer repetir
a ação quando o
próximo recado
for acionado.
Eventualmente a
repetição formará
o novo hábito.
1
RECADO
™Edgfj„4 Porque preciso aumentar os depósitos no plano
de previdência... Mas sei que se eu comprar essa bolsa o
plano vai ficar para o mês que vem, de novo.
A sequência de perguntas pode revelar que o que você está
fazendo no momento é só uma distração que o afasta daquela resolução colocada no papel na virada de ano. Tornar-se o
tipo de pessoa que você quer ser, afinal, envolve um processo
diário a seguir. Não é apenas um produto final a atingir. Por
que isso é verdade? Porque a sua vida hoje é, essencialmente,
a soma de seus hábitos adquiridos ao longo dos anos.
JURANDIR SELL MACEDO
3
RECOMPENSA
Fontes: “The Power of habit”. Charles Duhigg. “Transform your habits” James Clear
REVISTA RI
™Edgfj„4 Porque faz tempo que não compro nada para mim.
A ação ou
comportamento.
O hábito em si.
2
(Ex.: Você
ROTINA atravessa a rua.)
O benefício que você ganha com o hábito.
(Ex.: Você fica mais próximo do seu destino, com segurança.)
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™Edg fjZ ‚ d fjZ Zj fjZgd cZhhZ bdbZcid4 Porque
quero me dar um presente.
Hábitos diários – pequenas rotinas que são repetíveis – são
o que fazem grandes sonhos uma realidade. Sonhe grande
para 2014, mas comece pequeno, agora mesmo! RI
3 R’s do hábito
O gancho para
iniciar a ação.
(Ex.: A luz do
sinal fica verde)
™FjZgdedgfj„4 Porque vi um modelo parecido em uma
revista e achei bonito.
Dezembro 2013 | Janeiro 2014
é doutor em Finanças Comportamentais, com
pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela
Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor
de Finanças Pessoais da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC).
[email protected]
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