O Estresse no Ambiente de Projetos Jeanne Monique do Prado Silva e Mariana Teixeira Lombardi 1. Introdução Nos últimos tempos o estresse tornou-se uma expressão constante em ambientes empresariais, tornando o termo até mesmo banal ou um modismo dependendo da forma como se utiliza. A escolha do tema se deve ao fato de que principalmente em equipes de projeto, o estresse pode causar muitos problemas individuais ou coletivos, comprometendo os resultados do projeto. O objetivo deste artigo é citar os principais sintomas e consequências do estresse no ambiente de projetos e apresentar algumas ações para mitigar e evitar este mal que acomete atualmente grande parte dos profissionais. Para embasar este assunto, buscou-se aprofundar em pesquisas bibliográficas e na rede mundial de computadores. Autores renomados e de grandes referências sobre o assunto como Hans Selye, Célia Regina Carvalhal e Vijay K. Verma fazem parte das principais fontes citadas no artigo que se segue. 2. Revisão da Literatura O site Wikipédia relata que o termo estresse tem sua origem na física, ciência na qual o significado do termo refere-se à tensão e o desgaste a que estão expostos os materiais. O primeiro a empregar tal palavra com a atual definição foi o médico e pesquisador Hans Selye, em 1936, na revista científica Nature. Segundo o site Wikipédia, o “Estresse (português brasileiro) ou stresse (português europeu) pode ser definido como (a) a soma de respostas físicas e mentais causadas por determinados estímulos externos (estressores) e que permitem ao indivíduo (humano ou animal) superar determinadas exigências do meio-ambiente e (b) o desgaste físico e mental causado por esse processo”. Em outro conceito o estresse pode ser definido como “[...] o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase” (FERREIRA, 1986 apud Castro et al, s. d.). Segundo Ito (2012), ele nada mais é do que um conjunto de “adaptações úteis em momentos de perigo ou tensão”. Ainda para este autor, o estresse só se torna nocivo ao indivíduo se tal situação começa a ocorrer de forma recorrente e prolongada. Carvalhal (2008) também afirma que uma dose baixa e esporádica de estresse não é prejudicial e é até mesmo desejável. Ela defende o estresse patológico, recorrente e exagerado pode ter conseqüências danosas, inclusive para a saúde. Em função deste ciclo danoso, o organismo estressado pode desencadear doenças e até mesmo falecer antes do tempo (ITO, 2012). Carvalhal (2008) destaca os sinais de alerta que podem indicar uma crise de estresse, separando em 3 grupos: 1) Sintomas Físicos: taquicardia, dor de cabeça, suor nas palmas das mãos, boca seca, constipação, indigestão, alergias de pele, respiração ofegante, respiração curta, mãos frias, insônia, dormir em demasia, fadiga, diarréia, dor de estômago e dores musculares; 2) Sintomas Emocionais: mudanças de humor, irritabilidade, depressão, ansiedade, falta de motivação, atitude hostil, grosseria, nervosismo, perda de senso de direção e cinismo; 3) Sintomas Racionais: esquecimento, perda de concentração, dificuldade de tomar decisões, perda de criatividade e desorganização. Hoje, quando as competências técnicas exigidas para um bom gerenciamento de projetos são cada vez mais conhecidas e utilizadas, os olhares tem se focado cada vez mais nos elementos humanos e comportamentais envolvidos no gerenciamento de projetos. Para os gerentes de projetos, cada vez mais é importante utilizar suas habilidades comportamentais e estar atento aos sinais dados pela equipe do projeto de possíveis problemas (CARVALHAL, 2008). As cobranças, exigências e pressões sofridas ao longo de um projeto podem tornar as pessoas da equipe do projeto estressadas. Tal estresse pode reduzir e até mesmo comprometer o rendimento da equipe, prejudicando, assim, o resultado do próprio projeto. (CARVALHAL, 2008) Verma apud Salgado (2012), diz que tal preocupação com a gestão do estresse não se deve apenas à necessidade de melhorar a vida profissional dos funcionários da empresa, mas também às conseqüências econômicas de consideráveis proporções desencadeadas pelas doenças advindas do estresse. De acordo com Carvalhal (2008), as reações às situações estressantes e de forte pressão podem variar em uma mesma pessoa, afetando-a negativamente ou não de forma contingencial. Segundo Salgado (s. d.), para uma gestão eficiente do estresse, é preciso que os gerentes entendam do que se trata o estresse, como e porque se dá seu desenvolvimento nos indivíduos, de que maneira afeta cada um e de que forma é possível gerenciá-lo. Em situações estressantes vivenciadas nos projetos cabe ao gerente do projeto monitorar de perto como está a equipe do projeto e controlar possíveis conflitos que possam surgir. Carvalhal (2008) ressalta que algumas categorias de conflito podem ser destacadas em situações estressantes: papéis e responsabilidades, recursos humanos, cronogramas e custos, questões técnicas, prioridades, desacordos e incompatibilidades (de personalidade e objetivos). Nestes casos, muitas vezes é necessário que o gerente do projeto utilize outras de suas competências não técnicas, como a negociação. Carvalhal (2008) defende que uma pequena dose de estresse não é apenas benéfica, mas também necessária, “pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo e dificuldade”. Nesse sentido, o que é necessário é encontrar uma dosagem certa de estresse ou tentar se aproximar deste nível. Carvalhal (2008) ensina que algumas ações simples colocadas em prática de forma consciente e contínua, podem transformar o fator numa força positiva, principalmente em situações de estresse vividas durante o projeto. A seguir são descritas tais ações: 1) Aprenda a dizer “não”: entre as diversas solicitações recebidas diariamente de muitas fontes, algumas vezes é preciso não aceitá-las ou fazê-las apenas parcialmente. Aceitar todas as solicitações sem levar em consideração a disponibilidade de tempo ou esforço, pode acarretar em sobrecarga, superalocação, estresse e ansiedade; 2) Tenha metas realísticas: definir, junto com o restante da equipe as metas a serem alcançadas é importante para estimular um bom desempenho durante o projeto. Contudo, é necessário haver cautela ao se definir metas audaciosas para que estas não se tornem armadilhas. Para se alcançar metas realísticas devem-se avaliar as possibilidades e os recursos disponíveis para se mensurar até onde se pode chegar; 3) Aprenda a delegar: hoje não é mais possível pensar que ninguém é insubstituível e uma falha dos gerentes é não delegar funções e tarefas quando possível. Com isso, esses se tornam sobrecarregados e sem tempo para pensar e planejar. Saber ouvir a equipe, receber bem as sugestões e criar um time motivado, coeso e cooperativo permitem um ambiente com menos estresse e mais produtivo; 4) Seja organizado e priorize: é importante que se tenha a capacidade de “distinguir entre o que é urgente e o que é importante”, não devendo haver a preocupação apenas com o primeiro grupo de atividades em detrimento do segundo grupo. A maioria das pessoas no mundo empresarial, inclusive nos projetos, foca tanto sua atenção no urgente que deixa de lado o que é importante; 5) Procure ajuda quando necessário: numa equipe, a existência dos membros por si só não é garantia de um bom resultado no projeto, a menos que estes estejam em sintonia e num ambiente cooperativo. Desse modo, um membro não é auto-suficiente para executar sozinho um projeto de sucesso. Para que seja possível um ambiente mais harmonioso é preciso atentar-se também aos possíveis fatores comportamentais impeditivos de um bom desempenho do projeto, tais como a arrogância e o individualismo. Em contraponto, quando o profissional se coloca numa postura receptiva às sugestões e a troca de idéias e conhecimentos, pode-se criar um ambiente facilitador para bons resultados. Dividir as dúvidas, incertezas e medos na tomada de decisões não quer dizer demonstração de fraqueza ou falta de conhecimento. Na verdade, esta postura mostra crescimento e amadurecimento profissional e pessoal; 6) Seja sincero: uma pessoa sincera nas suas ações e objetivos pode apresentar maior desprendimento em relação aos seus receios e medos. Esta sinceridade pode ser uma forma de se obter equilíbrio interno, tornando o profissional menos suscetível ao estresse. Tal comportamento não precisa ser informado aos demais membros da equipe do projeto, ele é demonstrado aos demais através do comportamento e até das expressões faciais do indivíduo; 7) Procure um trabalho que goste: como poucos profissionais são plenamente realizados e felizes com o trabalho atualmente, talvez esta seja a sugestão mais difícil de se alcançar. Muitas vezes, os indivíduos são compelidos a permanecer em seus atuais empregos para manter um determinado padrão de vida, estando satisfeitos com ele ou não. Desta forma, paga-se um alto preço por esta permanência. Uma possível forma de conciliar esta incompatibilidade é procurar manter a satisfação pessoal. Para tanto, deve-se ver o lado positivo desse trabalho, pensando diariamente que este trabalho é “que lhe dá condições para saldar seus compromissos e também lhe proporcionar mais tranqüilidade e uma certa estabilidade”. A dica é não se acomodar e procurar fazer com que seu atual trabalho seja o melhor dentro do possível, ainda que ele não o agrade totalmente. A rede social Artia ressalta que é possível aumentar a produtividade e diminuir o estresse com dois processos chaves: a organização e o planejamento. Para tanto, tal rede social apresenta um modelo intitulado GTD - Getting Things Done, desenvolvido pelo consultor David Allen e que pode ser utilizado em projetos. Esta metodologia, também analisada por Barbosa (2012), pode ser dividida em cinco passos que priorizam a simplicidade, flexibilidade e rapidez. São eles: 1) Coleta: sempre anote seus compromissos, tarefas e reuniões em vez de mantê-los apenas na memória. Deixá-los apenas na mente pode levar ao esquecimento de alguns ou que os mesmos sejam lembrados em momentos inoportunos, aumentando os níveis de ansiedade e estresse. 2) Processar: fazer uma atualização dos seus compromissos diários utilizando as anotações feitas anteriormente. Este é o momento de determinar se o item tem ou não uma ação associada e definir a próxima ação a ser feita para cada atividade. 3) Organizar: separa-se cada atividade processada em categorias mencionadas pelo método: Lista de projetos; Material de suporte a projetos; Ações e informações na agenda; uma lista Em Espera; Material de referência e uma lista Algum dia/talvez. 4) Revisar: a partir da categorização feita faz-se uma revisão semanal, utilizando as listas de atividades e determina o que deverá ser feito. 5) Fazer: é o momento de decidir o que deve ser feito diariamente para que as atividades sejam concluídas. Sugerem-se quatro variáveis para decidir o que deve ser feito: Contexto, Tempo Disponível, Energia Disponível e Prioridade. A rede social Artia ainda ressalta que no início não é fácil utilizar o método GTD, mas se for feito com persistência, o mesmo torna-se um hábito com o tempo. Permite-se assim que todos os compromissos fiquem anotados e organizados. Tal arranjo, segundo esta metodologia, permitirá um aumento da produtividade e a diminuição do estresse. 3. Considerações Finais Em ambientes onde se trabalha diretamente com projetos, o estresse faz parte da rotina da equipe do projeto. Segundo diversos autores citados anteriormente, o estresse é uma perturbação do equilíbrio natural do organismo e por si só não deve ser visto como algo prejudicial ao ser humano. Em muitos casos, o estresse pode chegar a um limite, tornando-se nocivo à pessoa. Na medida em que este estresse compromete a realização das atividades e começa a afetar a saúde mental e física das pessoas, torna-se necessário uma análise das causas e consequências desta reação. Visando reduzir e amenizar o estresse no ambiente de projetos, Carvalhal (2008) propõe algumas ações como: aprender a delegar e a dizer não, propor metas realísticas, ser organizado, procurar ajuda quando necessário, ser sincero e buscar um trabalho que goste. Já a metodologia GTD defende que é possível aumentar a produtividade e diminuir o estresse através da organização e do planejamento. Desta forma, o profissional poderá superar suas dificuldades sem comprometer seu rendimento e o resultado do trabalho. É importante ressaltar que além do esforço individual, parte deste empenho para amenização do estresse advém do gerente do projeto, que deve utilizar suas habilidades pessoais e de negociação diariamente junto equipe. 4. Referências ARTIA. Mais produtividade e menos estresse. Disponível em: . Acesso em: 11/01/2012. BARBOSA, Christian. Comparando o método Tríade e o GTD do David Allen. Disponível em: . Acesso em: 15/01/2012. CARVALHAL, Célia Regina. Como lidar com o estresse em gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2008. CASTRO, Aline Garcia de et al. Estresse no trabalho. Secretariado em Revista, Ponte Grossa, p. 12-20, 2009. Disponível em: . Acessado em: 12/01/2012. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário de Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fronteira, 1986. ITO, Fausto. Estresse e Distúrbios do Sono. Disponível em: . Acessado em 11/01/2012. SALGADO, Carolina Kellen Drummond. Gestão de Pessoas: O Novo Desafio do Gerente de Projetos. Techoje: Uma revista de opinião, Belo Horizonte, s. d. Disponível em: . Acessado em: 12/01/2012. VERMA, Vijay K.. Human Resource Skills for the Project Manager. 1996, vol. 2. Project Management Institute USA. WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Estresse. Disponível em: . Acessado em: 12/01/2012.