Discurso da senadora Marta Suplicy (derrubada do veto 38) A Presidente Dilma, no veto 38, excluiu o setor têxtil do grupo de segmentos da economia que terá aumento menor de impostos no processo de reoneração da folha de pagamento. Considero erro crasso para a nossa indústria. A nossa indústria têxtil vem sendo penalizada há muito tempo! O setor têxtil se destaca como o segundo maior empregador do país (75% são mulheres), e, no entanto, se vê em momento de grave e aguda crise econômica com a alíquota que incidirá sobre as empresas do segmento passando de 1,0% para 2,5% no recolhimento de impostos sobre a folha de pagamento do setor. Já não temos planejamento adequado ao crescimento da indústria têxtil e de confecção há bastante tempo – conjuntura negativa de anos, desindustrialização em larga escala e dificuldade para competir com os produtos chineses e outros importados. Infelizmente, muitas famílias brasileiras estão pagando o preço dos desacertos com o desemprego maciço. A ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), estima que se mantivermos o veto, 28 mil confecções no país serão afetadas. E as demissões, que eram previstas em 100 mil, vão ser muito mais graves e mais avassaladoras. Já estão na rua 24 mil trabalhadores, fruto da crise que vivemos. Não é hora de penalizar a indústria têxtil e milhares de trabalhadores pelos desarranjos do governo, a equivocada condução da economia e tudo o que sabemos e vem sendo noticiado. Ainda mais agora que vemos outros países, como o Paraguai, promovendo formalização da sua economia: o regime de “Maquila”, que visa a um ambiente ideal de negócios, possui lei de adequação fiscal e incentivos para o investimento privado (simplificação e barateamento de trâmites). Tudo o que aqui a gente não consegue fazer. Por meio desse regime, nosso vizinho está atraindo investidores estrangeiros, brasileiros inclusive, para produção de bens e de serviços de exportação. Dados do Banco Mundial apontam que o Paraguai recolhe uma das menores taxas de impostos da região, 10%: o Brasil, 27%; a Argentina, 35%; a Venezuela, 34% e o Chile, 40%. O maior incentivo fiscal do regime de “Maquila” é o tributo único de 1% sobre o que foi agregado em território paraguaio, sobre matéria prima e insumos nacionais, sobre serviços como eletricidade, água e telefone e custo de mão de obra. Além disso, pode-se importar matéria prima com isenção de impostos de qualquer lugar do mundo e, eventualmente, reexportar o produto e pagar somente 1% de imposto total sobre o que foi agregado no Paraguai. Outro ponto relevante é a presença de uma legislação migratória flexível a qual permite a permanência dos trabalhadores estrangeiros sob a categoria de residentes permanentes ou temporários. Apesar de esse sistema já estar em funcionamento desde o fim da década de 1990, o interesse em cruzar a fronteira com o objetivo claro de crescer fora do Brasil ganhou força no ano passado. O fato é: não podemos considerar que esse fluxo seja algo natural e que nossas indústrias estejam fadadas a produzirem produtos “made in Paraguay”. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), na atual conjuntura de alerta para pelo menos 42 empresas cruzando a fronteira e montando operações no Paraguai. A ABIT informa que algumas empresas já estão tocando projetos para produzir fiação e tecido no país vizinho. Tenho conversado com empresários desse setor, e de outros, que estão indo se instalar no Paraguai. O estado de São Paulo será seriamente afetado e, mais ainda a indústria nacional, que se verá obrigada, para sobreviver, a sair de seu próprio país. À vista de tudo isso, não é nada compreensível o entendimento expresso nas razões de veto. São citados “prejuízos sociais”; que prejuízos sociais são maiores que a perda do emprego? O que ocorre é uma série de custos que a indústria tem de suportar para fabricar seus produtos dentro do Brasil. Esse setor, hoje, beneficia-se com a desoneração. E está empenhado em continuar lutando em uma situação adversa, sendo que, com a possibilidade da manutenção do veto, não acredita na sua sobrevivência. O custo Brasil só corrobora que essa situação é lesiva a nosso país. No vulnerável cenário econômico em que o país se encontra, não podemos permitir que esse setor pague o pato e, consequentemente, tenha uma diminuição ainda maior na sua produção e no seu nível de emprego e se veja escorraçado.