EXPERIÊNCIAS INCLUSIVAS NO INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO O DÉBORA CASSIMIRA [email protected] ISERJ/FAETEC LUCIANA MUNIZ LUCY ALMEIDA muniz.lu@gmail. com ISERJ/FAETEC [email protected] ISERJ/FAETEC RESUMO Em 2009 foi criando no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro o Setor Espaço de Inclusão, SEI, por iniciativa de um grupo de professores que objetivavam a oferta de recursos tecnológicos para alunos com necessidades especiais. Ao longo dos anos a prática do Espaço de Inclusao foi se adaptando às novas demandas e com isso ampliou seus serviços. Constituído por equipe multidisciplinar, os profissionais do Setor Espaço de Inclusão buscam atender à demanda existente na escola, em todos os segmentos da Educação Básica e Ensino Superior executando diferentes ações do atendimento educacional especializado: Estágio de Monitoria em Mediação Escolar para alunos do curso de Pedagogia, curso de capacitação em Educação Inclusiva para Professores, acompanhamento sistemático aos alunos, professores, familiares e equipe técnico-pedagógica dos diferentes segmentos, ambiente virtual de aprendizagem, AVA, para professores e demais funcionários, Sala de Recursos Multifuncionais, adaptações de acesso ao currículo, avaliação diferenciada, participação sistemática e colaborativa nas reuniões pedagógicas e conselhos de classe. Baseados no referencial de Vygotsky e Feuerstein quanto à importância da atividade mediada, consideramos a relevância do trabalho desenvolvido e o relato dessa experiência como enriquecedor aos que trabalham com a Inclusão. PALAVRAS-CHAVE: Inclusao Escolar – Formaçao Inicial e Continuada – Mediação Escolar. 1 Com a implantação da inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas regulares, diferentes demandas surgiram, ao mesmo tempo em que os especialistas em Educação Especial ressignificaram seu espaço de atuação. Tudo isso fez com que novos horizontes se abrissem para que a inclusão de fato se concretizasse, de forma consciente e organizada. No Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, ISERJ, a inclusão já se fazia presente quando, em 2009, um grupo de professores tomou a iniciativa de criar o que denominaram Espaço de Inclusao, um projeto financiado pela FAPERJ que tinha como objetivo implementar práticas inclusivas através de laboratório informatizado adaptado para alunos com deficiências sensoriais. A equipe, que antes contava com pequeno grupo de professores, aos poucos foi crescendo e tornando-se muldisciplinar. A demanda de alunos com necessidades especiais em processo de inclusão exigiu então uma série de ações em prol de seu desenvolvimento e adaptação. Incluindo todos os setores da instituição da creche ao ensino superior, cerca de 180 alunos são atendidos atualmente pelo SEI, atraves de diferentes ações, que envolvem profissionais e familiares. No Ensino Superior, inclusive, promovemos a inclusão de alunos com deficiências sensoriais e uma aluna com deficincia intelectual no curso de Pedagogia. OBJETIVO GERAL Contribuir para o desenvolvimento da política inclusiva institucional do ISERJ, favorecendo a valorização das diferentes formas de existir de todos os seus sujeitos, da Educação Infantil ao Ensino Superior, estimulando a discussão acerca desta diversidade e mobilizando esforços para o desenvolvimento de práticas que levem à efetivação da inclusão escolar. 2 FUNDAMENTAÇÃO O Espaço de Inclusão se propõe a ser um espaço de mediação entre os especialistas da educação especial e o cotidiano escolar inclusivo. Enquanto espaço mediatizado, o SEI inclui diferentes ações que contribuem para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. Com base na abordagem sócio-interacionista de Vygotsky (1993), especificamente nos conceitos de Zona de Desenvolvimento Proximal e de Aprendizagem Mediada, buscamos potencializar, através de nossas ações, as funções intelectuais que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas na estrutura cognitiva do aluno. Concordamos com o autor, quando conclui que o ensino deve se adiantar ao desenvolvimento, ou seja: serve de impulso para que o indivíduo possa alcançar a zona de desenvolvimento real. Em consonância com Feuerstein (BEYER, 2000), a equipe do SEI investe na ideia de que a mediação é uma experiência intrapessoal produzida por situações interpessoais. A teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada pressupõe que o desenvolvimento humano é resultado das interações estabelecidas entre os indivíduos durante sua vida em ambientes sociais especialmente organizados para promover esse desenvolvimento. Com base em tais pressupostos, o autor propõe a compreensão das características necessárias para que o ambiente social seja capaz de promover o desenvolvimento humano. Os pressupostos teóricos de Vygotsky acerca do papel da mediação e do potencial humano de aprendizagem e os conceitos de Feuerstein sobre aprendizagem mediada são exemplos de perspectivas ativas sobre as maneiras de ensinar e aprender dos alunos com necessidades especiais. Neste sentido, acreditamos trazer um enfoque teórico adequado às necessidades dos alunos em processo de inclusão. A mediação é uma estratégia de intervenção que subentende uma interferência humana, uma transformação, uma adaptação, uma filtragem dos estímulos do mundo exterior, para o interior do individuo. (FONSECA, 1995). 3 AÇÕES: ACOMPANHAMENTO SISTEMÁTICO AOS DIFERENTES NÍVEIS DA EDUCAÇÃO As Diretrizes Educacionais respaldam o caráter substitutivo da educação especial, entretanto expressem a necessidade de atendimento às especificidades do aluno na escola comum, conforme Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) quanto a Resolução 02 do Conselho Nacional de Educação (2001) Em consonância com a legislação que assegura o direito da pessoa com necessidades especiais o SEI atua disseminando junto à comunidade escolar os referenciais pedagógicos da educação inclusiva, orientando quanto ao seu impacto na organização e oferta da educação em todos os níveis e etapas. O desempenho acadêmico não é a única variável a ser considerada no processo de inclusão do aluno com necessidades especiais. Entretanto, não pode ser ignorada, pois através dela pode-se redirecionar o processo de aprendizagem. A prática da avaliação da aprendizagem no cotidiano escolar aponta para respostas específicas para cada educando. A avaliação diagnóstica não é voltada para a classificação e seleção, sendo assim a avaliação inclusiva é aquela que serve como um instrumento para o ensino adaptativo. Trata-se de uma avaliação que promova a diversificação e a flexibilização das formas de avaliar. (ARANHA, 2001). Cada profissional do SEI é designado a acompanhar determinado segmento. Desta forma, ele passa a dominar os assuntos relacionados àquele segmento de ensino, embora haja troca nas reuniões periódicas do Sei sobre os problemas enfrentados. Investimos em uma pedagogia centrada no aluno, através de ações que busquem o sucesso de todos, independentemente de sua situação especial. É neste sentido que orientamos aos professores no sentido de que tal mérito se da em relação a todos os aprendizes. De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), embora cada aluno vá requerer diferentes estratégias pedagógicas, tais 4 estratégias não devem ser tomadas como medidas pontuais, mas como parte de um projeto educativo social e de caráter emancipatório geral. Cientes da escassez de recursos (materiais, tecnológicos e humanos), no ambiente escolar, investimos na crença de que com criatividade, disposição e flexibilidade podemos utilizar mais recursos do nosso dia a dia (reportagens e artigos de jornais e revistas, vídeos, documentários, etc.), com o objetivo de desenvolver atividades mais dinâmicas, instigantes e motivadoras para os alunos. Ressaltamos, junto aos docentes, a importância de que haja um olhar diferenciado para todos os alunos, pois mesmo que não se trate de aluno com necessidades educacionais especiais existem necessidades educacionais específicas. Todo aluno tem sua especificidade, seu ritmo de aprendizagem e essas características devem ser levadas em consideração, tanto no processo de planejamento, quanto na construção das avaliações, especialmente quando se trata da avaliação de alunos que apresentem Dislexia, ou outros Transtornos de Aprendizagem que comprometam a leitura, a escrita e a interpretação e compreensão de textos, enunciados e problemas. Nossa proposta exige ações e práticas viáveis, fundamentadas no respeito às diferenças: Avaliação diferenciada- através do oferecimento de material e troca constante de informações e orientações que facilitem a elaboração e a aplicação de avaliações mais adequadas às necessidades educacionais dos alunos. Participação em reuniões pedagógicas, centros de estudo, reunião de pais, centros de estudo e conselhos de classe, com o intuito de participar diretamente das ações pedagógicas desenvolvidas na escola, mantendo com o corpo docente e equipe técnica uma relação de parceria e confiança mútua. Adaptações de acesso ao currículo: a forma como o aluno acessa o currículo é marcada por sua singularidade. Na crença de que a escola deve reconhecer e se adaptar à diversidade existente nas salas de aula, tomamos a iniciativa de que o professor desloque o foco em como ensinar para como o aluno aprende. Trata-se de um grande desafio. 5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Atender à legislação em vigor, oferecendo o aporte necessário à inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais; • Orientar professores e familiares sobre as especificidades do aluno e suas necessidades individuais quanto ao atendimento do aluno em processo de inclusão; • Orientar professores da Educação Básica quanto ao processo de avaliação do aluno com necessidades especiais em processo de inclusão; • Adaptar a avaliação em função das necessidades específicas do aluno com necessidades especiais. MONITORIA PARA ALUNOS DO CURSO DE PEDAGOGIA EM MEDIAÇÃO ESCOLAR O SEI oferece aso discentes do curso de Pedagogia a oportunidade de atuação como mediadores dos alunos em processo de inclusão através do Projeto de Monitoria em Mediação selecionando estagiários a partir do 5º período. Espera-se que a experiência como mediador contribua eficazmente no conhecimento prático e do aluno da Pedagogia. Para além da sala de aula, o aluno participa de encontros mensais com a equipe do SEI, das reuniões de estudos de caso e reuniões de planejamento com o professor regente da turma onde atua. OBJETIVOS ESPECIFICOS • Contribuir com a formação dos alunos da Pedagogia, oferecendo oportunidade de aplicação prática do conhecimento adquirido, através da atuação como professor mediador. • Possibilitar aos discentes de Pedagogia a experiência de mediação em uma classe regular com o acompanhamento aos alunos com necessidades educacionais especiais. 6 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS O atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado na Sala de Recursos Multifuncional é um serviço de caráter, prioritariamente pedagógico, oferecido aos alunos com deficiência, Transtornos Globais do desenvolvimento e Altas Habilidades/ superdotação. É realizado num espaço equipado com recursos tecnológicos e pedagógicos, sob a responsabilidade do professor com formação específica para a educação especial. Atualmente são atendidos 18 alunos, da Educação Básica. Além das ações específicas com os alunos, destacamos a criação de uma Rede de Saberes criada para fomentar a articulação da educação especial com o ensino regular proporcionando a colaboração entre as professoras da SRM e docentes das turmas regulares. OBJETIVOS ESPECIFICOS: • Complementar e/ou suplementar a escolarização dos alunos; • Favorecer a construção do conhecimento e habilidades; • Desenvolver o Plano de Ensino Individualizado em articulação com o professor do ensino regular. FORMAÇÃO CONTINUADA Esta proposta tem por objetivo principal, a construção de uma identidade escolar onde a educação inclusiva, ou melhor, a educação para todos seja o eixo condutor. Tarefa importante porém, não simples, se pensarmos no número de profissionais e alunos envolvidos, além e sobretudo à dinâmica de uma escola em seu funcionamento diário. Diferentes iniciativas foram efetivadas neste sentido: Ambiente Virtual de Aprendizagem: Com o objetivo de aperfeiçoar as ações na direção de uma escola inclusiva, O setor Espaço de inclusão traz a proposta de um Espaço Virtual para aprendizagem e interação/ troca de conhecimentos para os profissionais do ISERJ. Neste ambiente virtual estão disponibilizados materiais para toda a comunidade escolar, artigos, vídeos, legislação e textos oficiais, sobre inclusão. 7 AVA: proporciona ao professor o acesso ao conhecimento especializado, a troca de experiência com colegas professores, e a discussão com profissionais especializados na área. O formato de curso de extensão em módulos, por temas, permite que o professor organize sua formação e possa receber um certificado. O professor pode participar das atividades nos momentos e horários que forem mais adequados dentro da sua rotina. Ambientação para Professores Mediadores: Realização de encontros semanais com professores dos Anos Iniciais responsáveis por mediar alunos em situação de inclusão. Estes encontros tiveram por objetivo introduzir e discutir as ideias principais sobre o trabalho do mediador escolar de acordo com os casos dos alunos atendidos na escola. Seminário Anual de Educação Inclusiva: O setor de Inclusão é também responsável pelo planejamento e organização do Seminário Anual de Educação Inclusiva para toda a comunidade do ISERJ. Para este evento são convidados profissionais ligados à área da inclusão escolar. E ainda apresentação de trabalhos realizados na própria instituição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M. S. F. Inclusão Social e Municipalização, In: Novas Diretrizes da Educação Especial. São Paulo: Secretaria Estadual de Educação, p. 12-17, 2001. BEYER, HO, Sarmento DF. A abordagem de Reuven Feuerstein: aspectos conceituais e empíricos. Anais do Congresso Internacional dos Expoentes na Educação; 2000, p.27988. BRASIL. Lei no 9.394, de 23 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1996. BRASIL. Parecer n.º 17, Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2001. BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. 8 BRASIL. RESOLUÇÃO N. 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009. Institui as Diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília, 2009. FONSECA, Vitor. Educação Especial: Programa de Estimulação Precoce- uma introdução às ideias de Feuerstein. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GOMES, Cristiano. Feuerstein e a construção mediada do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2002. PLETSCH, M.D. , DAMASCENO, A. (ORG.) Educação especial e educação escolar. Seropédica, RJ. : editora da UFRRJ, 2011. VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 9