AU TO RA L TO DI R EI UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” OT EG ID O PE LA LE I AVM FACULDADE INTEGRADA DESENVOLVIMENTO CEREBRAL DO CU M EN TO PR A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DORANICE DINATO ORIENTADORA PROF.MARIA ESTER DE ARAÚJO Brasília 2012 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em psicomotricidade. Doranice Dinato 3 RESUMO A presente monografia tem por objetivo investigar a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento cerebral. A mesma deu ênfase ao estudo do sistema nervoso e da psicomotricidade, com seus elementos e distúrbios, visando reunir dados, à luz da neurociência que ressaltam a estreita relação entre estímulos psicomotores e desenvolvimento humano. Para tanto, foi realizado estudo sobre algumas funções cerebrais e analisada a relevância da afetividade na construção das aprendizagens e da memória. Chegando-se a conclusão de que a psicomotricidade desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento cerebral uma vez que é a partir de estímulos, transformados em impulsos, que se realiza a atividade neural. A afetividade é um componente determinante para a construção plena da pessoa. Além do aspecto cognitivo a psicomotricidade contribui de maneira efetiva para a formação emocional e social do indivíduo 4 METODOLOGIA Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica que apresenta o pensamento de vários autores, expresso em livros, artigos, revistas e sites. Através do levantamento e organização do referencial teórico, o estudo, numa abordagem qualitativa, objetiva investigar os efeitos da psicomotricidade sobre o desenvolvimento cerebral. Entre os diversos autores pesquisados destacamos Gerard Tortora, Gislene de Campos Oliveira, Roberto Lent, e Francisco Mora. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................06 CAPÍTULO I – O SISTEMA NERVOSO...........................................................09 CAPÍTULO II – A PSICOMOTRICIDADE.........................................................20 2.1. Tônus..............................................................................................17 2.2. Equilíbrio.........................................................................................18 2.3. Coordenação motora global ou ampla............................................18 2.4. Coordenação motora fina, óculo-manual e óculo- pedal.................19 2.5. Esquema corporal............................................................................20 2.6. Lateralidade.....................................................................................21 2.7. Estrutura espacial............................................................................22 2.8. Estrutura temporal............................................................................23 2.9. Ritmo................................................................................................23 2.10.Percepção.......................................................................................24 CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL.................................................................. 25 CONCLUSÃO....................................................................................................30 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................32 WEBGRAFIA.....................................................................................................33 6 INTRODUÇÃO Com as inúmeras transformações que ocorrem na sociedade, a realidade das famílias impõe a necessidade de levar os filhos para creches e escolas cada vez mais cedo. Com o ritmo acelerado da vida não sobra tempo para cuidar ou brincar com as crianças. Alguns pais chegam a considerar as brincadeiras uma perda de tempo preenchendo as horas do seu dia com atividades “importantes” para seu futuro. Em sua maioria, as creches conseguem oferecer um bom atendimento nos quesitos alimentação, higiene e segurança. Porém, em visitas realizadas a algumas dessas instituições ao longo do curso, pôde-se constatar que as crianças têm pouquíssimas oportunidades para desenvolver atividades corporais. Em creches mantidas por doações e instituições religiosas falta pessoal com o devido conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. Essas pessoas realizam várias tarefas e acabam deixando os bebês em seus berços, sem nenhuma ocupação ou vendo TV por horas seguidas. Nas instituições particulares visitadas, embora haja pessoal qualificado, as atividades motoras também não são priorizadas. As crianças passam muito tempo sentadas colorindo letras gigantescas, pois, para elas, quanto mais cedo se iniciar o letramento maior a possibilidade de agradar aos pais. No caso das escolas públicas de educação infantil (alunos de quatro e cinco anos) e do ensino fundamental (alunos de seis a dez anos) os professores, com formação pedagógica, e em sua maioria, pós- graduados, compreendem a importância dos estímulos psicomotores, no entanto, afirmam não haver tempo para sua aplicação, pois, há um extenso currículo a cumprir. 7 Diante desse quadro, pode-se afirmar que a Escola continua valorizando apenas o aspecto intelectual do aluno, deixando de lado seu corpo e suas emoções. Essa postura equivocada impede que a criança se desenvolva plenamente por não ter oportunidade de construir sua aprendizagem a partir de suas vivências corporais. O presente estudo acredita que essa visão ocorre pela falta de percepção do papel da psicomotricidade para o desenvolvimento integral da criança, incluindo a construção das aprendizagens. . Mesmo nas salas de recursos onde professores especializados trabalham com os chamados alunos diagnosticados não são oferecidas atividades motoras. A pesquisa ora apresentada tem por objetivo investigar os efeitos da psicomotricidade sobre o desenvolvimento cerebral, estudar a influência dos estímulos psicomotores sobre algumas possibilidades do cérebro, analisar a relevância da afetividade e refletir sobre a importância de um cérebro bem estimulado par lidar com os desafios do cotidiano. Partindo da questão “Qual a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento cerebral?” realizou-se uma investigação que permite apresentar dados, à luz da neurociência, sobre a relação dos estímulos psicomotores e o funcionamento do cérebro. Espera-se que tais informações possam ser úteis a todos os profissionais envolvidos com a educação, demonstrando a importância de se adotar, definitivamente, a psicomotricidade como um recurso essencial ao pleno desenvolvimento do indivíduo. O primeiro capítulo apresenta um estudo do sistema nervoso. No segundo capítulo aborda-se a psicomotricidade com seus elementos, distúrbios psicomotores e estratégias de intervenção. 8 No terceiro capítulo o estudo promove a interlocução entre o sistema nervoso e a psicomotricidade buscando evidenciar a importância desta para o desenvolvimento cerebral. Por último são apresentadas as conclusões extraídas da pesquisa possibilitando que os envolvidos com o desenvolvimento humano, reflitam sobre a necessidade de se aplicar a psicomotricidade como importante aliada na formação do indivíduo. 9 CAPÍTULO I O SISTEMA NERVOSO De acordo com OLIVEIRA (1997) o Sistema Nervoso é o centro de comando do organismo. É ele quem coordena todas as atividades, desde a interpretação de mensagens enviadas pelos órgãos do sentido, às contrações musculares, o funcionamento do diversos sistemas que compõem nosso corpo, seleciona informações e encaminha para as áreas responsáveis pela execução das tarefas. Tendo como o foco a relação entre psicomotricidade e desenvolvimento cerebral a ser utilizada no campo educacional essa pesquisa apresentará, a seguir, uma investigação sobre o funcionamento do sistema nervoso, porém, de maneira bastante simplificada. O Sistema Nervoso é uma rede complexa que contem bilhões de neurônios. É formado pelo encéfalo, os nervos cranianos e seus ramos, a medula espinhal, os nervos espinhais e seus ramos, os gânglios, os plexos entéricos e os receptores sensoriais. Os neurônios e a neuroglia são as principais células do tecido nervoso. A neuroglia dá sustentação ao neurônio e é responsável pela produção da bainha de mielina que envolve os axônios. O neurônio é a célula responsável pela comunicação nervosa. Sua estrutura é semelhante à das demais células, no entanto, em decorrência de sua função sinalizadora, possui características próprias. Sua especialidade é a emissão e recepção de sinais, daí a existência de prolongamentos. O neurônio se divide em três partes: o corpo celular, dendritos e axônios. O corpo celular contém um núcleo onde estão armazenadas todas as informações da célula. Os dendritos recebem e liberam os impulsos para os axônios que funcionam como um fio condutor levando os sinais até os terminais sinápticos, local onde as informações são passadas de um neurônio a outro. Os neurônios atuam em grandes conjuntos formando os circuitos ou redes neurais. 10 O Sistema Nervoso se divide em sistema nervoso central com estruturas localizadas no encéfalo e medula espinhal e sistema nervoso periférico, formado pelos nervos e gânglios distribuídos por todo o corpo. O encéfalo está dividido em quatro partes: cérebro, cerebelo, tronco encefálico e diencéfalo. O tronco encefálico possui condutores nervosos que se comunicam com a medula espinhal. Transportam impulsos do cérebro para a medula e da medula para o cérebro. Nele se localizam centros que regulam a frequência cardíaca, a respiratória, a vasoconstritora, a deglutição e outros. O tronco encefálico também participa da manutenção da consciência, do despertar do sono e ajuda a regular o tônus muscular. Impulsos nervosos advindos de áreas do tronco encefálico se manifestam em alterações provocadas pela emoção como choro, sudorese, salivação e outros. O cerebelo está conectado ao tronco encefálico e atua na coordenação dos músculos esqueléticos, tônus muscular, postura e equilíbrio. Considerado um centro de inteligência superior, o cerebelo está constantemente informado de tudo o que se passa no corpo, pois recebe informações do córtex motor. Essas informações permitem que ele avalie a precisão dos movimentos previstos para executar determinada tarefa e retificálos quando necessário. O diencéfalo é constituído por tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. Cada um realiza funções específicas de fundamental importância, dentre elas: transmissão de impulsos sensoriais ao córtex cerebral, controle e integração do Sistema Nervoso Autônomo, participação nos fenômenos da emoção e do comportamento, regulação do relógio biológico, controle de temperatura, ingestão de água e alimento. É importante destacar que o hipotálamo desempenha importante papel nos fenômenos da emoção e do comportamento coordenando e integrando as manifestações emocionais. “O cérebro é a sede da inteligência; ele nos dá a capacidade de ler, escrever e falar; de fazer cálculos e de compor música e de lembrar-se do passado, planejar para o futuro e imaginar coisas que nunca existiram antes.” (TORTORA, 2008, p.421). 11 O cérebro se apoia no diencéfalo e no tronco encefálico e ocupa a maior parte da caixa craniana. Possui uma camada cinzenta, na parte superficial e mais abaixo, uma substância branca. A parte cinzenta é o córtex cerebral, com bilhões de neurônios, centro de recepção, avaliação e processamento das informações advindas dos receptores externos (órgãos dos sentidos) e internos (vísceras). A parte branca é formada por axônios, responsáveis pela condução dos impulsos de um neurônio ao outro. Possui dois hemisférios, o direito, que controla o lado esquerdo do corpo e o esquerdo, que controla o lado direito. Nos hemisférios cerebrais estão os gânglios de base que participam no controle dos grandes movimentos automáticos dos músculos esqueléticos e da regulação do tônus muscular. De acordo com Mora (2004 p. 17): Nosso cérebro é uma grande massa gelatinosa de quase um quilo e meio de peso, cor cinzenta e talvez a organização mais complexa que conhecemos até agora. No entanto, sua função básica conduz a um objetivo aparentemente simples: manter o indivíduo vivo e em constante contato com o meio que o rodeia. Percebe-se que explicar o cérebro não é tarefa simples, se o fosse, certamente ele não seria um órgão tão extraordinário. Responsável pela manutenção de todas as funções que mantém o ser humano vivo necessita estar em conexão com as diversas partes do corpo, recebendo informações que lhe permitem tomar conhecimento do que acontece no interior do organismo e no mundo exterior. Essas informações são avaliadas, processadas e devolvidas em forma de instruções para o organismo. Esta pesquisa considerou necessário destacar algumas funções cerebrais de grande importância para a compreensão dos processos de desenvolvimento e das aprendizagens: o sistema límbico, a plasticidade cerebral, o aprendizado e a memória. O sistema límbico é apresentado por Tortora (2008) como o encéfalo da emoção, por sua atuação nos aspectos emocionais, incluindo dor, prazer, docilidade, afeição e raiva e na memória. 12 Vários experimentos realizados com animais demonstraram que suas diferentes áreas ao serem estimuladas provocavam reações diversas como raiva, docilidade ou afeição. Sabe-se que o sistema límbico recebe impulsos com informações dos órgãos dos sentidos, das vísceras e de outros canais. Suas conexões são bastante complexas, no entanto, pelo estudo realizado, percebe-se que as estruturas que compõem o sistema límbico ocupam áreas do encéfalo que regulam a sede, a fome e o sexo bem como atividades viscerais e desempenha papel fundamental na aprendizagem e memória. Relvas (2009 p. 100) deixa claro que: • A emoção exerce influência nos processos de raciocínio; • Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente enredados nos sistemas destinados à “razão”; • A mente não pode ser separada ser separada do corpo. A plasticidade cerebral é a capacidade que sistema nervoso possui de se modificar em resposta a estímulos internos e externos. A partir desses estímulos suas redes neuronais são reorganizadas permitindo variadas possibilidades de respostas ao meio. Relvas (2009) afirma que a plasticidade cerebral possibilita que a pessoa aprenda, reaprenda e dê respostas diferentes de acordo com novas informações recebidas. Ela envolve também o brotamento de novos dendritos. Áreas somatossensorias e motoras também apresentam plasticidade. Percebe-se aqui a importância da estimulação na vida de um indivíduo desde o nascimento e mesmo antes dele, pois, a partir dessa estimulação o cérebro estará em constante atividade, reorganizando-se, ampliando sua capacidade de aprender e responder a esses estímulos. Da mesma forma que no processo de mielinização, a criança bem estimulada terá um desenvolvimento diferenciado. Quanto aos adultos, a estimulação cerebral através de atividades físicas, mentais e sociais, mantem o cérebro ativo, retardando ou, até mesmo restaurando algumas perdas sofridas em decorrência da idade ou de algumas doenças. 13 Se estímulos de boa qualidade são essenciais para o desenvolvimento psicomotor e para a saúde do sistema neural, Soares (1999, vol. 21) afirma que estímulos negativos também podem causar efeitos devastadores. Algumas linhas de investigação sugerem que insultos cerebrais precoces (em período intra-útero ou neonatal), ou cedo na infância, possam resultar em mudanças cerebrais permanentes, que eventualmente causariam ou contribuiriam para uma predisposição ao desenvolvimento de transtornos afetivos futuros. Alguns autores têm sugerido que infecções virais, privações alimentícias, maus tratos e abuso na infância durante o desenvolvimento podem estar entre tais fatores. Adversidades ao longo da vida também são fatores de risco importantes. Estresse sabidamente interage com mecanismos neuro-hormonais, e pode afetar o desenvolvimento cerebral, e também alterar funções de áreas específicas no cérebro já desenvolvido, podendo eventualmente resultar em predisposição aumentada, ou início de um distúrbio afetivo. Esses mecanismos precisam ser investigados, e potencialmente elucidados em estudos futuros, de modo que esta é uma área em que avanços importantes poderão acontecer. A plasticidade do sistema nervoso permite que haja o aprendizado, capacidade de adquirir novo conhecimento, e a memória, processo de retenção desse conhecimento por algum tempo que pode ser curto, médio ou longo. (Tortora, 2008) Segundo o autor, sem a memória o indivíduo estará sempre repetindo erros e não seria capaz de aprender. Da mesma forma, suas realizações que obtiveram sucesso também se perderiam. Apesar de aprendizado e memória já terem sido bastante estudados, ainda não há uma explicação precisa de como o homem é capaz de lembrar-se da informação ou recordar eventos. Sabe-se, porém que para que a experiência seja memorizada ela deve produzir alterações funcionais persistentes e representativas no encéfalo. Se determinada parte do corpo for usada com mais intensidade para realizar novas aprendizagens, as áreas corticais dedicadas a essa parte do corpo gradualmente se expandem. 14 Exames realizados mostram que, quando submetidos a atividades intensas e prolongadas os neurônios revelam aumento do número de terminações pré-sinápticas, bem como aumento de ramificações dos dendritos nos neurónios pós-sinápticos. Também se constatou que há um crescimento dos botões sinápticos com o aumento da idade, provavelmente pelo aumento do uso. Quanto mais sinapses, mais memória. Essa pesquisa encontrou motivos para afirmar que a emoção está intimamente ligada ao aprendizado e à memória. Para que haja a aprendizagem e a fixação da mesma na memória, são necessários estímulos que tenham algum significado, dessa maneira, ao encontrar referências anteriores, o sistema límbico entra em ação comunicando emoções que aceitarão, ou não, essas novas informações. Eventos que acarretam uma grande carga emocional são relembrados com maior facilidade. ,· 15 CAPÍTULO II A PSICOMOTRICIDADE De acordo com a SBP- Associação Brasileira de Psicomotricidade (http://www.psicomotricidade.com.br), “Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.” Segundo essa associação, o termo surgiu no início do século vinte, com o médico Ernest Dupré, significando a inter-relação entre o movimento e o pensamento. Dupré percebeu que o desenvolvimento motor passa por diferentes etapas e apontou os distúrbios que podem ocorrer nesse processo. A partir daí, várias pesquisas foram desenvolvidas, primeiro por médicos, depois por psicólogos, trazendo conceitos que prevalecem até hoje. Dentre esses pesquisadores, estão Piaget, Montessori, Wallon, Ajuriaguerra e mais recentemente, Le Boulch, Costalat, Lapierre, Coste, Vitor da Fonseca e outros que realizaram importantes descobertas, permitindo uma melhor compreensão do desenvolvimento humano, desde sua formação intrauterina até a idade adulta. A psicomotricidade possui diferentes abordagens- estimulação psicomotora, educação psicomotora, reeducação psicomotora e terapia psicomotora- embora, em muitos casos, não seja possível separá-las, podem ser explicadas da seguinte forma: A estimulação psicomotora é toda e qualquer atitude que venha a estimular, motivar e incentivar o processo de desenvolvimento da criança. A relação mãe/bebê é a primeira forma de estimulação, a voz, o olhar, os gestos, as carícias, o toque, são elementos que impulsionarão o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo. .(Granados, 2006) A Educação psicomotora é aquela que deve ser desenvolvida ao longo da infância e de toda a vida escolar. Ela instrumentaliza a criança para a 16 aquisição de todas as aprendizagens através do desenvolvimento de suas potencialidades motoras, emocionais, intelectuais, afetivas e de percepção de si e do mundo. (Rocha, 2011). A terapia psicomotora é uma abordagem da psicomotricidade voltada para as patologias causadas pelas disfunções psicomotoras, bem como, as consequências dessas patologias na interação do indivíduo com o meio. A psicomotricidade atua tanto no aspecto relacional quanto funcional do indivíduo. Segundo Lapierre (www.educacional.com.br/entrevista) a psicomotricidade relacional tem como base a expressão de sentimentos e conflitos vivenciados pelo indivíduo. Seu objetivo é possibilitar o estabelecimento de uma comunicação mais humana e verdadeira entre as pessoas prevenindo distúrbios emocionais, motores e de comunicação. Os elementos que fazem parte da psicomotricidade relacional são aqueles que dão ao indivíduo a condição de ser social: comunicação, expressão, afetividade, agressividade, limite e corporeidade. Através de seu corpo o ser humano expressa ideias, sentimentos e desejos comunicando-os aos de sua espécie. Essa interação é permeada de emoções que revelam a forma como esse indivíduo percebe a si e ao meio. A agressividade é um dos elementos que pode estar presente demonstrando recalques não superados. A afetividade a capacidade do indivíduo de ser afetado ou influenciado de maneira positiva ou negativa por sentimentos internos ou externos. A afetividade é uma espécie de seiva da vida, uma pulsão que estimula o homem influenciando o comportamento, o aprendizado e o desenvolvimento da cognição. Para viver em sociedade o indivíduo necessita conhecer e respeitar as regras do seu meio daí, a importância do limite, que vai se construindo desde os primeiros momentos de vida. Estimular o desenvolvimento da criança através de sua experimentação é tão necessário e importante quanto ajuda-la a entender as regras necessárias para relacionar-se, de forma saudável, consigo mesma, com o outro e com o meio. 17 E por fim, a corporeidade, que reúne todos os elementos da psicomotricidade relacional. É a maneira como o indivíduo se percebe e se relaciona com o mundo através do corpo. São as experiências realizadas desde o nascimento que vão moldando a pessoa, isso será demonstrado pela sua postura, sua expressão corporal e sua gestualidade. O corpo vai registrando as emoções vividas ao longo de sua existência, cada indivíduo possui vivências diferentes que formam sua corporeidade. Quanto mais a criança puder vivenciar o mundo através de seu corpo maiores serão suas possibilidades de desenvolvimento. A psicomotricidade funcional diz respeito à funcionalidade do indivíduo, à capacidade de utilizar o corpo com eficiência e harmonia gastando o mínimo de energia para realizar as atividades necessárias à vida. O estudo trata, a seguir, de cada um de seus elementos. 2.1 - Tônus O tônus é uma ligeira e constante contração dos músculos que não produz movimento, mas dá sustentação às partes do corpo. Expressa a emoção existente por trás do movimento realizado. (TORTORA, 2008). Constata-se que o tônus demonstra um estado interior do indivíduo na comunicação não verbal. Segundo Oliveira (1977), o termo diálogo tônico, criado por Wallon, demonstra a relação entre o tono postural e o tono emocional onde a emoção é o elo entre o orgânico e o social. Há uma relação entre motricidade e caráter onde o movimento está relacionado ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança. Crianças com perturbações no tônus podem apresentar hipertonia ou hipotonia. No primeiro caso, o tônus é rígido, tenso demonstrando grande gasto de energia. Ao utilizar um lápis a criança fura o papel com a força que utiliza no braço e na mão. Crianças hipotônicas apresentam “afrouxamento” no tônus, realizam suas atividades sem firmeza, como se não pudesses sustentar-se. Tarefas como escrever ou pintar são executadas sem nenhuma força, o traçado é quase transparente. 18 Em ambos os casos, a psicomotricidade deve oferecer exercícios que estimulem a percepção corporal e afetiva, pois, o tônus é uma forma de expressão das emoções. Rolar o corpo pelo chão, fazer bolinhas com massa de modelar é tão importante e necessário quanto realizar brincadeiras onde haja interação com os colegas, de forma que a criança possa puxar empurrar, tocar, abraçar comunicando suas dificuldades para, aos poucos, relaxar a tensão ou adquiri-la de modo adequado, assumindo o controle de seu corpo e seu eu. 2.2- Equilíbrio Há dois tipos de equilíbrio: o estático que é a capacidade de manter o corpo em relação à força gravitacional e o dinâmico, relacionado à manutenção da posição do corpo em movimento. Ambos dão ao indivíduo, a capacidade de manter o corpo numa postura desejada. A criança com distúrbios no equilíbrio apresenta dificuldades no dia a dia, cai com frequência, não consegue correr sem esbarrar em objetos ou pessoas, seu corpo está sempre pendendo para um lado ou outro. Brincadeiras como amarelinha, pular como “saci”, canguru e outras atividades que estimulem a criança a impulsionar o corpo a fim de encontrar seu eixo são de grande eficiência no trabalho de reeducação. A afetividade deve estar presente em todas as atividades para que a criança adquira confiança em si mesma já que, suas dificuldades causam sofrimentos, críticas e até punições de adultos pela incapacidade de perceber o problema. 2.3- Coordenação motora global ou ampla Segundo OLIVEIRA (1997), a coordenação motora global ou ampla está relacionada à atividade dos grandes músculos para realizar movimentos sequenciais com eficiência, harmonia e economia. 19 Uma perturbação na coordenação ampla faz com que a criança realize os movimentos sem harmonia, demora-se abotoando uma roupa ou calçando um tênis, constantemente se atrapalha ao segurar um objeto deixando-o cair. Para coordenar seus movimentos a criança precisa ter consciência de seu corpo como um todo, membros inferiores e superiores, tronco e cabeça. O trabalho com a coordenação ampla está relacionado ao trabalho com o equilíbrio. Através da experimentação a criança encontra seu eixo e a melhor forma de utilizar seu corpo. Exercícios de andar, correr, pular, saltitar, movimentar os braços e pernas explorando o espaço, são formas de auxiliar a criança a construir sua coordenação motora. Desde os primeiros momentos de vida, a criança começa a desenvolver esses elementos, assim sendo, faz-se necessário oportunizar e estimular o movimento para que ela se desenvolva plenamente suas possibilidades motoras, sociais e afetivas. 2.4- Coordenação motora fina, óculo-manual e óculo-pedal. A coordenação motora fina é a capacidade de realizar atividades utilizando os músculos das extremidades do corpo. Quanto mais a criança executa tarefas envolvendo movimentos finos e delicados, maior será seu controle na realização dos movimentos, pois essas atividades fortalecem os pequenos músculos. Óculo-manual e óculo-pedal são a capacidade de coordenar olhos e mãos e olhos e pés. O movimento olhos dos olhos deve atuar de forma coordenada com as mãos e os pés. Esses elementos fazem parte da coordenação global. A educação e reeducação devem oferecer à criança a possibilidade de utilizar os dedos para rasgar, picar e colar papéis, enfiar miçangas em um barbante, trabalhar com massa de modelar, separar grãos e outros, construindo assim a coordenação fina e óculo-manual. Quanto à coordenação óculo-pedal, devem ser oportunizadas atividades como chutar bola e outros objetos, pegar coisas usando os dedos, 20 tentar segurar um lápis e riscar um papel para estimular a coordenação do olhar com as extremidades e fortalecer esses músculos. 2.5- Esquema Corporal O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto significa que, conhecendo-o terá maior habilidade para se diferenciar, para sentir as diferenças. (OLIVEIRA, 1997, p. 47). Segundo a autora, a criança estabelece seu contato com o mundo através do corpo, nessa interação, estabelece vínculos afetivos com as pessoas, interfere e recebe interferências do meio e vai desenvolvendo sua consciência corporal. Essa é uma construção de cada indivíduo, portanto, não é possível ensinar, pois, apenas com a experiência haverá a interiorização de sua imagem, de seu corpo e suas possibilidades. Muitas crianças apresentam dificuldades para representar e nomear as partes do corpo, elas tem um conhecimento pobre de seu corpo e essa falta de consciência corporal acarreta problemas no controle respiratório, no equilíbrio, na coordenação e na capacidade de deslocar-se em um determinado espaço, além de dificuldades em situar-se no tempo. Pode-se inferir das colocações da autora que as perturbações do esquema corporal geram dificuldades na execução de tarefas simples como vestir a própria roupa, pular corda, usar talheres e outras atividades pela falta de harmonia em seus movimentos. Na criança comum, sem grandes déficits motores ou intelectuais, esses distúrbios, na maioria das vezes, são de origem afetiva e causam profundo sofrimento à criança. Ela se sente diminuída por não alcançar seus objetivos, desestimulada por tentar e não conseguir sendo prejudicada na construção de sua autoestima. A psicomotricidade deve propiciar a exploração de seu corpo possibilitando o reconhecimento de suas partes e de suas capacidades. Olhar-se no espelho e apontar as partes do corpo, aponta-las também no colega, imitar animais, executar movimentos com comandos do tipo, correr com as mãos na cabeça, andar nas pontas dos pés com as mãos estendidas, 21 colocar as mãos nos joelhos com olhos fechados, etc., são atividades importantes para a apropriação do esquema corporal. É importante frisar que perturbações do esquema corporal geram defasagens em todos os demais elementos. 2.6- Lateralidade Segundo Oliveira (1997), lateralidade é a propensão do indivíduo para utilizar mais um lado do corpo do que o outro. Isto se dá em três níveis: mão, olho e pé. Ao assimilar seu esquema corporal, a criança percebe que possui membros que se repetem em ambos os lados do corpo, daí, vai realizando experiências para encontrar o lado mais confortável e eficiente. A lateralidade é importante porque permite à criança fazer uma relação entre as coisas existentes em seu meio. Dizemos que uma criança que já tenha lateralidade definida e que esteja consciente dos lados direito e esquerdo de seu corpo está apta para identificar esses conceitos no outro e no espaço que a cerca. Obedece, portanto, a algumas etapas: primeiro assimila os conceitos em si mesma, depois, os objetos em relação a si mesma. Em seguida, descobre-os no outro que está à sua frente e finalmente, nos objetos entre si. (Oliveira, 1997, p.72). Crianças com perturbações da lateralidade não conseguem escolher a mão para apanhar coisas, para escrever ou segurar o garfo. Às vezes arremessa uma bola com a mão direita, mas chuta com o pé esquerdo. Essa indefinição dificulta a discriminação visual já que ela não entende onde é o começo e o fim de cada coisa, da mesma forma, na leitura e escrita, não tem noção do lado em que se inicia a frase ou a direção da letra confundindo b e d, p e q e outros. Deverão ser desenvolvidas atividades de exploração dos lados do corpo para que a criança experimente suas possibilidades. Ex.: jogar a bola e apanhá-la com uma mesma mão, em seguida, repetir com a outra. Usar o mesmo pé para chutar e pular repetindo o exercício com o outro. Com uma fita amarrada em um dos braços, fazer todas as atividades somente com a mão desse lado (segurar um copo e tomar água, desenhar com um giz, fazer uma cobrinha com massa de modelar), repetir com o outro lado. 22 2.7 - Estrutura espacial De Meur e Staes (1984, p.13) definem a estrutura espacial como: A tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e coisas. A tomada de consciência da situação das coisas entre si. A possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las. A estruturação espacial depende da assimilação do esquema corporal e da lateralidade, esses dois elementos permitem que o indivíduo tenha condições para distinguir a posição ocupada pelos objetos ao seu redor. Pode-se afirmar que uma criança com distúrbio na estrutura espacial apresenta dificuldades em situar-se com relação às coisas e às pessoas. Ainda que conheça os termos espaciais como em cima/embaixo, à frente/atrás, longe/perto e outros, não se coloca num lugar indicado, tem dificuldades para encontrar suas coisas, não consegue se orientar. Outra consequência é a dificuldade em perceber a ordem da composição numérica confundindo dezenas com unidades, também confunde b e d, p e q, u e n, 6 e 9. Uma criança com perturbações na estruturação espacial enfrentará uma série de dificuldades em sua vida escolar, bem como no seu cotidiano, podendo ter seu desenvolvimento comprometido caso não receba a ajuda necessária para superá-las. A psicomotricidade deve dar ao aluno as condições para explorar o espaço, reconhecendo nele os pontos de referência necessários à sua orientação. Dessa forma, jogos e brincadeiras que utilizam termos como longe/perto, dentro/fora, em pé/ abaixado, grosso/fino e outros possibilitam que a criança vá construindo uma noção do espaço que a rodeia e se inserindo nele. É importante ressaltar que essas atividades devem ser desenvolvidas de maneira lúdica onde o aluno possa utilizar o corpo para vivenciar as aprendizagens e não apenas através de imitações repetidas numa folha de papel. 23 2.8- Estrutura temporal De acordo com Oliveira (1997) não é possível entender o movimento humano sem que associemos as noções de corpo, tempo e espaço. Todas as atividades do corpo são executadas num espaço determinado e em função do tempo. Espaço e tempo são indissociáveis. Da mesma forma que a estruturação espacial, a organização temporal é uma construção do indivíduo. Esse processo exige esforço mental e só é possível a partir de certo grau do desenvolvimento cognitivo da criança. Primeiro a criança tenta realizar movimentos com alguma harmonia. Porém, esses movimentos se realizam em função de um tempo e um espaço. A criança vai, aos poucos, percebendo essa realidade e ajustando seus gestos de acordo com ela. Após essa conquista, começa a entender os conceitos relacionados ao tempo-espaço e assimilar noções de velocidade e duração das ocorrências diárias. Posteriormente compreenderá a simultaneidade, a sequência dos acontecimentos, os intervalos entre eles, a renovação cíclica e o caráter irreversível do tempo passando a situar-se em função dessa compreensão. No trabalho com a psicomotricidade devem ser oferecidas atividades em que a criança perceba o antes e o depois, as partes do dia (manhã, tarde e noite), as estações do ano e outros, tendo a si e seu ambiente como referência. Por exemplo, colocar crianças em uma fileira para verificar quem vem antes e quem vem depois, em que parte do dia a criança estuda, o que faz ao chegar em casa se está quase na hora do jantar ou do almoço etc. É importante também, logo no início da aula, traçar o roteiro das atividades do dia como, hora da rodinha, tarefas no caderno, hora do lanche, recreio e assim por diante. 2.9- Ritmo Para Pallarés (1981, in Borges et al, www.efedesportes.com.br, acesso em 15/08/2012), o ritmo é um princípio de vida, que se faz representado no 24 homem como função física, mental e espiritual, além de agir como força integradora. Assim, o ritmo é uma característica essencial ao ser humano, constituindo-se em um fenômeno orgânico-biológico, pois em toda a atividade corporal visualiza-se um trabalho rítmico, que não pode ser dissociado das atividades motoras e até mesmo da própria vida. O movimento se dá em um espaço e em função de um tempo, por isso não é possível conceber ritmo fora desses dois aspectos. Segundo De Meur & Staes (1984), as noções de ordem, sucessão, duração e alternância estão contidas no ritmo. Ao trabalhar ritmo, deve-se partir do ritmo natural característico do indivíduo, a partir daí, vai-se direcionando a criança no sentido de acompanhar um ritmo estabelecido como, reproduzir palmas o som de um tambor com palmas, bater o pé na marcação de uma música como “Escravos de jó”, reproduzir um som de acordo com a sequência de figuras geométricas etc. 2.10- Percepção Os órgãos dos sentidos, visão, audição, tato, gustação e olfato permitem que o indivíduo perceba, reconheça e compreenda os estímulos recebidos. A percepção é trabalhada em todas as áreas da psicomotricidade, pois é através dela que a criança descobre a si mesma, o outro e o mundo com todas as suas cores, formas, posições, aromas e sabores. Caso a debilidade não seja de ordem neurológica o trabalho poderá ajuda-la a perceber e atentar para as sensações, no entanto, se a origem da perturbação for de ordem motora e neurológica a psicomotricidade poderá apenas “treinar”, através da visão, para sentir aquilo que se considera comum em tal situação. 25 CAPÍTULO III A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL Por acaso meu cérebro interage com o mundo de maneira direta e incorporal? Meu cérebro mede cada dimensão minha em meu corpo, em minhas mãos, com as quais toco, e em minhas pernas, com as quais corro, e assim me transporta para o mundo e no mundo. De modo similar, ocorre com a audição, a gustação, o olfato ou com minhas vísceras que não vejo. Digamos já que o meu cérebro interage com o mundo por intermédio de meu corpo (representado em meu cérebro e atualizado nele constantemente). MORA: (2004, p.29) Com base nos capítulos anteriores, o estudo promove agora a interlocução entre o sistema nervoso e a psicomotricidade buscando identificar a importância desta para o desenvolvimento cerebral. Ao realizar esse estudo, mesmo considerando suas limitações, constatou-se que o funcionamento do sistema nervoso possui uma organização onde cada uma de suas partes desempenha papel fundamental para o todo. Tortora (2008) o define como uma complexa malha formada por ramificações que alcançam cada milímetro do organismo. O estudo entende que, para que esse funcionamento seja eficiente, suas partes devem atuar com a harmonia de uma orquestra onde, do mais simples ao mais sofisticado dos instrumentos, todos contribuem para a realização majestosa de uma sinfonia. A psicomotricidade considera o homem como um todo integradocorpo, pensamento e emoção- em movimento e interação com o seu mundo. O desenvolvimento de seus elementos possibilita ao homem realizar suas atividades e relacionar-se de maneira saudável com o meio e consigo mesmo. Ao nascer, o sistema nervoso ainda não está “pronto” necessitando de condições favoráveis para se desenvolver plenamente. No centro do sistema nervoso, o cérebro, com bilhões de neurônios, analisa as informações recebidas e processa as instruções para o organismo. Essas informações chegam através de impulsos vindos dos órgãos dos sentidos, dos músculos e das vísceras. Os axônios responsáveis pela condução desses impulsos são 26 envolvidos pela bainha de mielina que possibilita maior velocidade nesse transporte. O processo de mielinização se dá a partir do sexto mês de gestação, se completa por volta de seis anos e depende de boas condições nutricionais e de estímulos do meio. Quanto mais estímulos mais mielina, quanto mais mielina maior coordenação e controle muscular nas aprendizagens, graças à maior velocidade na condução dos impulsos. A estimulação psicomotora desempenha importante papel no processo de mielinização. Desde os primeiros momentos de vida os cuidados com a criança são formas essenciais de estímulo. A afetividade presente nesses contatos será um diferencial, tanto para o fortalecimento emocional da criança quanto para o desenvolvimento motor e intelectual. A qualidade da emoção vivenciada nesses momentos terá grande influência na sua disposição em construir suas aprendizagens. LENT (2001) afirma que não se pode determinar exatamente quando o sistema nervoso se torna maduro mesmo porque ele continua a se transformar durante a vida adulta, de modo menos acelerado. No entanto, é comum considerar que ao completar o processo de mielinização o indivíduo alcance a maturação nervosa. O estudo entende que os estímulos motores, afetivos e intelectuais são elementos fundamentais para a conquista da maturidade nervosa. As crianças negligenciadas afetivamente ou que não podem realizar suas experiências motoras frequentemente apresentam atrasos em seu desenvolvimento global. Segundo Oliveira (1997, p22) apesar da importância dos estímulos, deve-se estar alerta para que o excesso deles não apresse o processo de maturação já que o desenvolvimento do sistema nervoso não ocorre de uma só vez, mas obedece a uma sequência e cita Bee e Mitchell (1984, p.129): O desenvolvimento motor é afetado pela oportunidade de praticar e pelas variações ambientais mais importantes. O processo de maturação, sem dúvida estabelece alguns limites sobre o ritmo de crescimento físico e desenvolvimento, mas o ritmo pode ser retardado pela ausência de prática ou experiências adequadas. A psicomotricidade leva a criança a se conscientizar do seu corpo, percebendo suas partes, tomando consciência de suas possibilidades, 27 adquirindo a coordenação de seus movimentos e compreendendo o espaço no qual está inserido. A pesquisa entende que a educação psicomotora instrumentaliza a criança para a aquisição de suas aprendizagens, a construção de sua autoestima e a percepção de ser social que interage com o meio. Em casos onde o atraso na maturação nervosa não seja causado por lesões cerebrais, a psicomotricidade poderá restabelecer o ritmo normal do desenvolvimento desde que aplicada sistematicamente. Dessa forma, é inadmissível que a grande maioria das escolas ainda não perceba a necessidade da psicomotricidade como importante aliado na solução das dificuldades de aprendizagem, na construção das inteligências e fortalecimento emocional. A aprendizagem e a memória são possíveis graças à plasticidade cerebral. Através de sua percepção o indivíduo envia, constantemente, novas informações para o córtex cerebral onde há sinapses ainda não utilizadas. Essa atividade estimula a reconstrução de conjuntos neurais que processam as informações transformando-as em estímulos elétricos enviados ao neurônio. Informações recentes vão se juntando a outras já arquivadas na memória, permitindo novas respostas, modificando e reconstruindo o aprendido num movimento constante de troca de informações e utilização de novas sinapses. Mora (2004, p.24) afirma: A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos conhecimentos. Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimentam. Ao nascer, a criança apresenta movimentos automáticos e reações reflexas que vão sendo substituídos à medida que se desenvolve e já no primeiro mês ela começa a utilizar os olhos para estabelecer contato com o ambiente. Com o passar do tempo vai aprendendo a coordenar os movimentos e ampliando sua exploração. Quanto mais estímulos motores, intelectuais e emocionais a criança receber maiores serão suas chances de alcançar um desenvolvimento integral. 28 À medida que evolui cronologicamente aumenta sua percepção e experimentação, toma consciência de sua existência, de seu corpo e do mundo. Esse Conhecendo processo seu corpo de e aprendizagem suas ocorre de forma conjunta. possibilidades, vai construindo seu conhecimento de mundo. Compreende que existe um espaço no qual atua em função de um tempo. Percebe símbolos, formas, cores, temperatura, sons e tudo que possa lhe servir de informação para ampliar sua condição de ser orgânico e social. Oliveira (1997, p34) cita Ajuriaguerra (1980, p.210): É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simples atividade corporal indiferenciada. O movimento e a experimentação devem vir acompanhados da reflexão numa ação integrada corpo/mente. A emoção existente nessa vivência será determinante para fixação da aprendizagem na memória. Mora (2004, p.75) afirma: A emoção é o ingrediente que permite o ardor da conduta. Nada se aprende, a menos que o que há para ser aprendido nos emocione e nos motive, isto é, algo que tenha um significado importante para nós, inclusive no plano mais sublime. Entretanto, a partir da neurobiologia e da neuropsicologia, sabemos hoje em dia que não existem planos que se estruturem no abstrato e na frieza do córtex cerebral, sem o filtro emocional. A psicomotricidade oferece estímulos que ativam novas sinapses favorecendo o desenvolvimento intelectual. A afetividade deve ser a base da atuação do psicomotricista. Sua relação com o aluno/paciente é um componente fundamental para o sucesso do trabalho. A criança precisa se sentir segura para expor suas habilidades e dificuldades através dos movimentos. Cabe ao psicomotricista conquistar sua simpatia e confiança, agindo de maneira afetuosa para obter resultados positivos. De acordo com Alves (2011, p.182): 29 A psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de estudo voltadas para a organização afetiva, motora, social e intelectual do indivíduo. Ela acredita que o homem é um ser ativo capaz de se conhecer cada vez mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes. Pode-se afirmar que a psicomotricidade exerce um papel fundamental para o desenvolvimento cerebral, para o bom desempenho das habilidades motoras e para a afirmação do indivíduo como um ser social, com capacidade de viver em plenitude e ser feliz. Para finalizar, a pesquisa cita Mora (2004, p.18) com a afirmação de que o processo de evolução do cérebro humano se deu a partir de estímulos gerados pelas variações ambientais: O cérebro humano, nosso cérebro, construiu-se ao longo do processo evolutivo como resultado de constantes provas aleatórias e reajustes. Portanto, o tempo, esse operário paciente e capaz, veio urdindo um tecido feito de células tão entrelaçado, extraordinário e complexo, que demorou mais de 500 milhões de anos fazendo-o. Esse tecido foi construído não como um processo sem retificações, mas, ao contrário, tecendo-se e destecendose ao mesmo tempo, de acordo com os acertos e erros que as variações do meio ambiente impuseram a esse cérebro. Sem dúvida, tal processo de mudanças continua, tanto ao longo das gerações dos seres humanos atuais como na própria intimidade do cérebro de cada homem em particular, com a modificação e o remodelamento dos contatos das células cerebrais, as sinapses, durante toda a vida. O modo como se chegou ao cérebro humano, a esse invento quase inimaginável e diabólico para nós, em suma, é o mais profundo dos desconhecimentos que temos. 30 CONCLUSÃO A psicomotricidade é de fundamental importância para o desenvolvimento cerebral. Os estímulos psicomotores são fundamentais no processo de mielinização do indivíduo, desde o nascimento até o momento de sua maturação nervosa, que ocorre por volta dos cinco ou seis anos. Esses estímulos, geradores de impulsos nervosos, não são apenas as possibilidades motoras proporcionadas à criança, mas, também a afetividade presente no seu meio. Quanto mais estímulos uma criança recebe, maior será a velocidade de comunicação entre os centros de comando e os de execução tornando-se fator determinante para o desenvolvimento, consequentemente, para a aquisição de suas aprendizagens. O indivíduo constrói sua identidade a partir de suas vivências corporais e afetivas. Crianças negligenciadas em sua afetividade ao longo de sua infância encontram dificuldades na construção de seu “eu”, em suas relações sociais e na aprendizagem. A psicomotricidade leva em conta todos os elementos que compõem o ser humano, oportunizando estímulos para o desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade: corpo, razão e emoção. Um cérebro bem estimulado terá maiores possibilidades de lidar com os desafios do cotidiano. Desafios esses que se apresentam no paradoxo ser e ter. Na busca de melhores condições de vida o homem se deixa escravizar pelo consumo desenfreado provocando um colapso no planeta e afasta-se dos valores essenciais para a preservação da espécie. Se há 500 milhões de anos o homem começou a estabelecer relações e criar vínculos com os de sua espécie para garantir sua existência, hoje realiza um caminho inverso, acumula riquezas e se isola com sua parafernália tecnológica, cria desigualdades e mantem amizades virtuais. 31 Como resultado da longa jornada evolutiva somos capazes de realizar desde a mais simples tarefa à mais extraordinária delas, podemos salvar vidas ou causar destruição em massa. Esse mesmo cérebro que um dia se desenvolveu para salvar o homem das intempéries terá que utilizar todas as suas possibilidades para encontrar novos caminhos para a humanidade. Caminhos que nos levem a uma vida de justiça, paz e inclusão de todos os seres. 32 BIBLIOGRAFIA ALVES, Fátima M. Oliveira, módulo VII- Educação Psicomotora. Disciplina: A Importância da Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem. Curso de Psicomotricidade à Distância- Rio de Janeiro- UCAM/AVM, 2011, p. 182. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023. Informação e documentação: referências - elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2002. DE MEUR, A. e STAES. L. Psicomotricidade- Educação e Reeducação. Trad. Ana Maria Galuban e Setsuko Ono. São Paulo, Manole, 1984. LENT, Roberto. Cem milhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Editora Atheneu, 2001. MORA, Francisco. Continuum: como funciona o cérebro? Porto Alegre: Artmed, 2004. OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis- RJ: Vozes, 1997. RELVAS, M. módulo II- Neurociência do Conhecimento. Disciplina: Plasticidade Cerebral e Memória. Curso de Psicomotricidade à Distância. Rio de Janeiro, UCAM/AVM, 2009, p.38 a 43. ___________Módulo II- Neurociência do Conhecimento. Disciplina: Neurobiologia na Construção da Inteligência e da Afetividade. Curso de Psicomotricidade à Distância. Rio de Janeiro, UCAM/AVM, 2009, p.100. ROCHA, D. L. módulo VI– Psicomotricidade. Disciplina: Áreas de Atuação da Psicomotricidade. Curso de Psicomotricidade à Distância. Rio de Janeiro, UCAM/AVM, 2011, p.25 e 26. TORTORA, Gerard J. Princípios de anatomia e fisiologia. 9ª ed.. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 33 WEBGRAFIA BORGES, T. S., SOUZA, V. F. M., PEREIRA, V. R. - EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO DO RITMO MOTOR NA INFÂNCIA. Revista DigitalBuenos Aires- Argentina. Disponível web em http://efdesportes.com.br acesso em 07/06/2012. GRANADOS, Maria del Carmen Ordóñes. Atencion Temprana. Revista Digital Investigacion y Educacion, n° 23, julho 2006. Disponível web em http://slideshare.net Acesso em 22/09/2011. LAPIERRE, A. AUCOUTURIER, B. Disponível web http://www.educacional.com.br/entrevista acesso em 20/08/2012 MENDONÇA, Danielle. CIEPRE- Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Psicomotricidade Relacional. Disponível web em http://www.ciepre.puppin.net acesso em 28/09/2011. SBP- Associação Brasileira de Psicomotricidade. http://www.psicomotricidade.com.br, acesso em 04/06/2012. SOARES, Jair C. Transtornos afetivos: pesquisa e perspectivas para o futuro. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol. 21, 1999. Disponível web http://www.scielo.br acesso em 02/07/2012. 1