documento protegido pela lei de direito autoral

Propaganda
AU
TO
RA
L
TO
DI
R
EI
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
OT
EG
ID
O
PE
LA
LE
I
AVM FACULDADE INTEGRADA
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL
DO
CU
M
EN
TO
PR
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O
DORANICE DINATO
ORIENTADORA
PROF.MARIA ESTER DE ARAÚJO
Brasília
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em psicomotricidade.
Doranice Dinato
3
RESUMO
A presente monografia tem por objetivo investigar a importância da
psicomotricidade para o desenvolvimento cerebral.
A mesma deu ênfase ao estudo do sistema nervoso e da
psicomotricidade, com seus elementos e distúrbios, visando reunir dados, à luz
da neurociência que ressaltam a estreita relação entre estímulos psicomotores
e desenvolvimento humano.
Para tanto, foi realizado estudo sobre algumas funções cerebrais e
analisada a relevância da afetividade na construção das aprendizagens e da
memória. Chegando-se a conclusão de que a psicomotricidade desempenha
um papel fundamental para o desenvolvimento cerebral uma vez que é a partir
de estímulos, transformados em impulsos, que se realiza a atividade neural. A
afetividade é um componente determinante para a construção plena da pessoa.
Além do aspecto cognitivo a psicomotricidade contribui de maneira efetiva para
a formação emocional e social do indivíduo
4
METODOLOGIA
Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica que apresenta o pensamento
de vários autores, expresso em livros, artigos, revistas e sites. Através do
levantamento e organização do referencial teórico, o estudo, numa abordagem
qualitativa, objetiva investigar os efeitos da psicomotricidade sobre o
desenvolvimento cerebral. Entre os diversos autores pesquisados destacamos
Gerard Tortora, Gislene de Campos Oliveira, Roberto Lent, e Francisco Mora.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................06
CAPÍTULO I – O SISTEMA NERVOSO...........................................................09
CAPÍTULO II – A PSICOMOTRICIDADE.........................................................20
2.1. Tônus..............................................................................................17
2.2. Equilíbrio.........................................................................................18
2.3. Coordenação motora global ou ampla............................................18
2.4. Coordenação motora fina, óculo-manual e óculo- pedal.................19
2.5. Esquema corporal............................................................................20
2.6. Lateralidade.....................................................................................21
2.7. Estrutura espacial............................................................................22
2.8. Estrutura temporal............................................................................23
2.9. Ritmo................................................................................................23
2.10.Percepção.......................................................................................24
CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL.................................................................. 25
CONCLUSÃO....................................................................................................30
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................32
WEBGRAFIA.....................................................................................................33
6
INTRODUÇÃO
Com as inúmeras transformações que ocorrem na sociedade, a
realidade das famílias impõe a necessidade de levar os filhos para creches e
escolas cada vez mais cedo. Com o ritmo acelerado da vida não sobra tempo
para cuidar ou brincar com as crianças. Alguns pais chegam a considerar as
brincadeiras uma perda de tempo preenchendo as horas do seu dia com
atividades “importantes” para seu futuro.
Em sua maioria, as creches conseguem oferecer um bom atendimento
nos quesitos alimentação, higiene e segurança. Porém, em visitas realizadas a
algumas dessas instituições ao longo do curso, pôde-se constatar que as
crianças têm pouquíssimas oportunidades para desenvolver atividades
corporais.
Em creches mantidas por doações e instituições religiosas falta pessoal
com o devido conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. Essas pessoas
realizam várias tarefas e acabam deixando os bebês em seus berços, sem
nenhuma ocupação ou vendo TV por horas seguidas.
Nas instituições particulares visitadas, embora haja pessoal qualificado,
as atividades motoras também não são priorizadas. As crianças passam muito
tempo sentadas colorindo letras gigantescas, pois, para elas, quanto mais cedo
se iniciar o letramento maior a possibilidade de agradar aos pais.
No caso das escolas públicas de educação infantil (alunos de quatro e
cinco anos) e do ensino fundamental (alunos de seis a dez anos) os
professores, com formação pedagógica, e em sua maioria, pós- graduados,
compreendem a importância dos estímulos psicomotores, no entanto, afirmam
não haver tempo para sua aplicação, pois, há um extenso currículo a cumprir.
7
Diante desse quadro, pode-se afirmar que a Escola continua
valorizando apenas o aspecto intelectual do aluno, deixando de lado seu corpo
e suas emoções. Essa postura equivocada impede que a criança se
desenvolva
plenamente
por
não
ter
oportunidade
de
construir
sua
aprendizagem a partir de suas vivências corporais.
O presente estudo acredita que essa visão ocorre pela falta de
percepção do papel da psicomotricidade para o desenvolvimento integral da
criança, incluindo a construção das aprendizagens.
. Mesmo nas salas de recursos onde professores especializados
trabalham com os chamados alunos diagnosticados não são oferecidas
atividades motoras.
A pesquisa ora apresentada tem por objetivo investigar os efeitos da
psicomotricidade sobre o desenvolvimento cerebral, estudar a influência dos
estímulos psicomotores sobre algumas possibilidades do cérebro, analisar a
relevância da afetividade e refletir sobre a importância de um cérebro bem
estimulado par lidar com os desafios do cotidiano.
Partindo da questão “Qual a importância da psicomotricidade para o
desenvolvimento
cerebral?” realizou-se
uma
investigação
que
permite
apresentar dados, à luz da neurociência, sobre a relação dos estímulos
psicomotores e o funcionamento do cérebro. Espera-se que tais informações
possam ser úteis a todos os profissionais envolvidos com a educação,
demonstrando a importância de se adotar, definitivamente, a psicomotricidade
como um recurso essencial ao pleno desenvolvimento do indivíduo.
O primeiro capítulo apresenta um estudo do sistema nervoso.
No segundo capítulo aborda-se a psicomotricidade com seus
elementos, distúrbios psicomotores e estratégias de intervenção.
8
No terceiro capítulo o estudo promove a interlocução entre o sistema
nervoso e a psicomotricidade buscando evidenciar a importância desta para o
desenvolvimento cerebral.
Por último são apresentadas as conclusões extraídas da pesquisa
possibilitando que os envolvidos com o desenvolvimento humano, reflitam
sobre a necessidade de se aplicar a psicomotricidade como importante aliada
na formação do indivíduo.
9
CAPÍTULO I
O SISTEMA NERVOSO
De acordo com OLIVEIRA (1997) o Sistema Nervoso é o centro de
comando do organismo. É ele quem coordena todas as atividades, desde a
interpretação de mensagens enviadas pelos órgãos do sentido, às contrações
musculares, o funcionamento do diversos sistemas que compõem nosso corpo,
seleciona informações e encaminha para as áreas responsáveis pela execução
das tarefas.
Tendo
como
o
foco
a
relação
entre
psicomotricidade
e
desenvolvimento cerebral a ser utilizada no campo educacional essa pesquisa
apresentará, a seguir, uma investigação sobre o funcionamento do sistema
nervoso, porém, de maneira bastante simplificada.
O Sistema Nervoso é uma rede complexa que contem bilhões de
neurônios. É formado pelo encéfalo, os nervos cranianos e seus ramos, a
medula espinhal, os nervos espinhais e seus ramos, os gânglios, os plexos
entéricos e os receptores sensoriais. Os neurônios e a neuroglia são as
principais células do tecido nervoso.
A neuroglia dá sustentação ao neurônio e é responsável pela produção
da bainha de mielina que envolve os axônios.
O neurônio é a célula responsável pela comunicação nervosa. Sua
estrutura é semelhante à das demais células, no entanto, em decorrência de
sua função sinalizadora, possui características próprias. Sua especialidade é a
emissão e recepção de sinais, daí a existência de prolongamentos. O neurônio
se divide em três partes: o corpo celular, dendritos e axônios. O corpo celular
contém um núcleo onde estão armazenadas todas as informações da célula.
Os dendritos recebem e liberam os impulsos para os axônios que funcionam
como um fio condutor levando os sinais até os terminais sinápticos, local onde
as informações são passadas de um neurônio a outro. Os neurônios atuam em
grandes conjuntos formando os circuitos ou redes neurais.
10
O Sistema Nervoso se divide em sistema nervoso central com
estruturas localizadas no encéfalo e medula espinhal e sistema nervoso
periférico, formado pelos nervos e gânglios distribuídos por todo o corpo.
O encéfalo está dividido em quatro partes: cérebro, cerebelo, tronco
encefálico e diencéfalo.
O tronco encefálico possui condutores nervosos que se comunicam
com a medula espinhal. Transportam impulsos do cérebro para a medula e da
medula para o cérebro. Nele se localizam centros que regulam a frequência
cardíaca, a respiratória, a vasoconstritora, a deglutição e outros. O tronco
encefálico também participa da manutenção da consciência, do despertar do
sono e ajuda a regular o tônus muscular. Impulsos nervosos advindos de áreas
do tronco encefálico se manifestam em alterações provocadas pela emoção
como choro, sudorese, salivação e outros.
O cerebelo está conectado ao tronco encefálico e atua na
coordenação dos músculos esqueléticos, tônus muscular, postura e equilíbrio.
Considerado um centro de inteligência superior, o cerebelo está
constantemente informado de tudo o que se passa no corpo, pois recebe
informações do córtex motor. Essas informações permitem que ele avalie a
precisão dos movimentos previstos para executar determinada tarefa e retificálos quando necessário.
O diencéfalo é constituído por tálamo, hipotálamo, epitálamo e
subtálamo. Cada um realiza funções específicas de fundamental importância,
dentre elas: transmissão de impulsos sensoriais ao córtex cerebral, controle e
integração do Sistema Nervoso Autônomo, participação nos fenômenos da
emoção e do comportamento, regulação do relógio biológico, controle de
temperatura, ingestão de água e alimento.
É importante destacar que o hipotálamo desempenha importante papel
nos fenômenos da emoção e do comportamento coordenando e integrando as
manifestações emocionais.
“O cérebro é a sede da inteligência; ele nos dá a capacidade de ler,
escrever e falar; de fazer cálculos e de compor música e de lembrar-se do
passado, planejar para o futuro e imaginar coisas que nunca existiram antes.”
(TORTORA, 2008, p.421).
11
O cérebro se apoia no diencéfalo e no tronco encefálico e ocupa a
maior parte da caixa craniana. Possui uma camada cinzenta, na parte
superficial e mais abaixo, uma substância branca.
A parte cinzenta é o córtex cerebral, com bilhões de neurônios, centro
de recepção, avaliação e processamento das informações advindas dos
receptores externos (órgãos dos sentidos) e internos (vísceras).
A parte branca é formada por axônios, responsáveis pela condução
dos impulsos de um neurônio ao outro.
Possui dois hemisférios, o direito, que controla o lado esquerdo do
corpo e o esquerdo, que controla o lado direito. Nos hemisférios cerebrais
estão os gânglios de base que participam no controle dos grandes movimentos
automáticos dos músculos esqueléticos e da regulação do tônus muscular.
De acordo com Mora (2004 p. 17):
Nosso cérebro é uma grande massa gelatinosa de quase um quilo e meio de
peso, cor cinzenta e talvez a organização mais complexa que conhecemos
até agora. No entanto, sua função básica conduz a um objetivo
aparentemente simples: manter o indivíduo vivo e em constante contato com
o meio que o rodeia.
Percebe-se que explicar o cérebro não é tarefa simples, se o fosse,
certamente ele não seria um órgão tão extraordinário. Responsável pela
manutenção de todas as funções que mantém o ser humano vivo necessita
estar em conexão com as diversas partes do corpo, recebendo informações
que lhe permitem tomar conhecimento do que acontece no interior do
organismo
e
no
mundo
exterior.
Essas
informações
são
avaliadas,
processadas e devolvidas em forma de instruções para o organismo. Esta
pesquisa considerou necessário destacar algumas funções cerebrais de grande
importância para a compreensão dos processos de desenvolvimento e das
aprendizagens: o sistema límbico, a plasticidade cerebral, o aprendizado e a
memória.
O sistema límbico é apresentado por Tortora (2008) como o encéfalo
da emoção, por sua atuação nos aspectos emocionais, incluindo dor, prazer,
docilidade, afeição e raiva e na memória.
12
Vários experimentos realizados com animais demonstraram que suas
diferentes áreas ao serem estimuladas provocavam reações diversas como
raiva, docilidade ou afeição.
Sabe-se que o sistema límbico recebe impulsos com informações dos
órgãos dos sentidos, das vísceras e de outros canais. Suas conexões são
bastante complexas, no entanto, pelo estudo realizado, percebe-se que as
estruturas que compõem o sistema límbico ocupam áreas do encéfalo que
regulam a sede, a fome e o sexo bem como atividades viscerais e desempenha
papel fundamental na aprendizagem e memória.
Relvas (2009 p. 100) deixa claro que:
•
A emoção exerce influência nos processos de raciocínio;
•
Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente
enredados nos sistemas destinados à “razão”;
•
A mente não pode ser separada ser separada do corpo.
A plasticidade cerebral é a capacidade que sistema nervoso possui
de se modificar em resposta a estímulos internos e externos. A partir desses
estímulos suas redes neuronais são reorganizadas permitindo variadas
possibilidades de respostas ao meio.
Relvas (2009) afirma que a plasticidade cerebral possibilita que a
pessoa aprenda, reaprenda e dê respostas diferentes de acordo com novas
informações recebidas. Ela envolve também o brotamento de novos dendritos.
Áreas somatossensorias e motoras também apresentam plasticidade.
Percebe-se aqui a importância da estimulação na vida de um indivíduo
desde o nascimento e mesmo antes dele, pois, a partir dessa estimulação o
cérebro estará em constante atividade, reorganizando-se, ampliando sua
capacidade de aprender e responder a esses estímulos.
Da mesma forma que no processo de mielinização, a criança bem
estimulada terá um desenvolvimento diferenciado.
Quanto aos adultos, a estimulação cerebral através de atividades
físicas, mentais e sociais, mantem o cérebro ativo, retardando ou, até mesmo
restaurando algumas perdas sofridas em decorrência da idade ou de algumas
doenças.
13
Se estímulos de boa qualidade são essenciais para o desenvolvimento
psicomotor e para a saúde do sistema neural, Soares (1999, vol. 21) afirma que
estímulos negativos também podem causar efeitos devastadores.
Algumas linhas de investigação sugerem que insultos cerebrais
precoces (em período intra-útero ou neonatal), ou cedo na infância, possam
resultar em mudanças cerebrais permanentes, que eventualmente causariam
ou contribuiriam para uma predisposição ao desenvolvimento de transtornos
afetivos futuros. Alguns autores têm sugerido que infecções virais, privações
alimentícias, maus tratos e abuso na infância durante o desenvolvimento
podem estar entre tais fatores. Adversidades ao longo da vida também são
fatores de risco importantes. Estresse sabidamente interage com mecanismos
neuro-hormonais, e pode afetar o desenvolvimento cerebral, e também alterar
funções
de
áreas
específicas
no
cérebro
já
desenvolvido,
podendo
eventualmente resultar em predisposição aumentada, ou início de um distúrbio
afetivo. Esses mecanismos precisam ser investigados, e potencialmente
elucidados em estudos futuros, de modo que esta é uma área em que avanços
importantes poderão acontecer.
A plasticidade do sistema nervoso permite que haja o aprendizado,
capacidade de adquirir novo conhecimento, e a memória, processo de retenção
desse conhecimento por algum tempo que pode ser curto, médio ou longo.
(Tortora, 2008)
Segundo o autor, sem a memória o indivíduo estará sempre repetindo
erros e não seria capaz de aprender. Da mesma forma, suas realizações que
obtiveram sucesso também se perderiam.
Apesar de aprendizado e memória já terem sido bastante estudados,
ainda não há uma explicação precisa de como o homem é capaz de lembrar-se
da informação ou recordar eventos. Sabe-se, porém que para que a
experiência seja memorizada ela deve produzir alterações funcionais
persistentes e representativas no encéfalo.
Se determinada parte do corpo for usada com mais intensidade para
realizar novas aprendizagens, as áreas corticais dedicadas a essa parte do
corpo gradualmente se expandem.
14
Exames realizados mostram que, quando submetidos a atividades
intensas e prolongadas os neurônios revelam aumento do número de
terminações pré-sinápticas, bem como aumento de ramificações dos dendritos
nos neurónios pós-sinápticos. Também se constatou que há um crescimento
dos botões sinápticos com o aumento da idade, provavelmente pelo aumento
do uso. Quanto mais sinapses, mais memória.
Essa pesquisa encontrou motivos para afirmar que a emoção está
intimamente ligada ao aprendizado e à memória. Para que haja a
aprendizagem e a fixação da mesma na memória, são necessários estímulos
que tenham algum significado, dessa maneira, ao encontrar referências
anteriores, o sistema límbico entra em ação comunicando emoções que
aceitarão, ou não, essas novas informações. Eventos que acarretam uma
grande carga emocional são relembrados com maior facilidade.
,·
15
CAPÍTULO II
A PSICOMOTRICIDADE
De acordo com a SBP- Associação Brasileira de Psicomotricidade
(http://www.psicomotricidade.com.br), “Psicomotricidade é a ciência que tem
como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em
relação ao seu mundo interno e externo.”
Segundo essa associação, o termo surgiu no início do século vinte,
com o médico Ernest Dupré, significando a inter-relação entre o movimento e o
pensamento.
Dupré percebeu que o desenvolvimento motor passa por diferentes
etapas e apontou os distúrbios que podem ocorrer nesse processo.
A partir daí, várias pesquisas foram desenvolvidas, primeiro por
médicos, depois por psicólogos, trazendo conceitos que prevalecem até hoje.
Dentre esses pesquisadores, estão Piaget, Montessori, Wallon,
Ajuriaguerra e mais recentemente, Le Boulch, Costalat, Lapierre, Coste, Vitor
da Fonseca e outros que realizaram importantes descobertas, permitindo uma
melhor compreensão do desenvolvimento humano, desde sua formação
intrauterina até a idade adulta.
A
psicomotricidade
possui
diferentes
abordagens-
estimulação
psicomotora, educação psicomotora, reeducação psicomotora e terapia
psicomotora- embora, em muitos casos, não seja possível separá-las, podem
ser explicadas da seguinte forma:
A estimulação psicomotora é toda e qualquer atitude que venha a
estimular, motivar e incentivar o processo de desenvolvimento da criança. A
relação mãe/bebê é a primeira forma de estimulação, a voz, o olhar, os gestos,
as carícias, o toque, são elementos que impulsionarão o desenvolvimento
cognitivo, motor e afetivo. .(Granados, 2006)
A Educação psicomotora é aquela que deve ser desenvolvida ao longo
da infância e de toda a vida escolar. Ela instrumentaliza a criança para a
16
aquisição de todas as aprendizagens através do desenvolvimento de suas
potencialidades motoras, emocionais, intelectuais, afetivas e de percepção de
si e do mundo. (Rocha, 2011).
A terapia psicomotora é uma abordagem da psicomotricidade voltada
para as patologias causadas pelas disfunções psicomotoras, bem como, as
consequências dessas patologias na interação do indivíduo com o meio.
A psicomotricidade atua tanto no aspecto relacional quanto funcional
do indivíduo.
Segundo
Lapierre
(www.educacional.com.br/entrevista)
a
psicomotricidade relacional tem como base a expressão de sentimentos e
conflitos
vivenciados
pelo
indivíduo.
Seu
objetivo
é
possibilitar
o
estabelecimento de uma comunicação mais humana e verdadeira entre as
pessoas prevenindo distúrbios emocionais, motores e de comunicação.
Os elementos que fazem parte da psicomotricidade relacional são
aqueles que dão ao indivíduo a condição de ser social: comunicação,
expressão, afetividade, agressividade, limite e corporeidade.
Através de seu corpo o ser humano expressa ideias, sentimentos e
desejos comunicando-os aos de sua espécie. Essa interação é permeada de
emoções que revelam a forma como esse indivíduo percebe a si e ao meio. A
agressividade é um dos elementos que pode estar presente demonstrando
recalques não superados.
A afetividade a capacidade do indivíduo de ser afetado ou influenciado
de maneira positiva ou negativa por sentimentos internos ou externos. A
afetividade é uma espécie de seiva da vida, uma pulsão que estimula o homem
influenciando o comportamento, o aprendizado e o desenvolvimento da
cognição.
Para viver em sociedade o indivíduo necessita conhecer e respeitar as
regras do seu meio daí, a importância do limite, que vai se construindo desde
os primeiros momentos de vida. Estimular o desenvolvimento da criança
através de sua experimentação é tão necessário e importante quanto ajuda-la a
entender as regras necessárias para relacionar-se, de forma saudável, consigo
mesma, com o outro e com o meio.
17
E por fim, a corporeidade, que reúne todos os elementos da
psicomotricidade relacional. É a maneira como o indivíduo se percebe e se
relaciona com o mundo através do corpo. São as experiências realizadas
desde o nascimento que vão moldando a pessoa, isso será demonstrado pela
sua postura, sua expressão corporal e sua gestualidade. O corpo vai
registrando as emoções vividas ao longo de sua existência, cada indivíduo
possui vivências diferentes que formam sua corporeidade.
Quanto mais a criança puder vivenciar o mundo através de seu corpo
maiores serão suas possibilidades de desenvolvimento.
A psicomotricidade funcional diz respeito à funcionalidade do indivíduo,
à capacidade de utilizar o corpo com eficiência e harmonia gastando o mínimo
de energia para realizar as atividades necessárias à vida. O estudo trata, a
seguir, de cada um de seus elementos.
2.1 - Tônus
O tônus é uma ligeira e constante contração dos músculos que não
produz movimento, mas dá sustentação às partes do corpo. Expressa a
emoção existente por trás do movimento realizado. (TORTORA, 2008).
Constata-se que o tônus demonstra um estado interior do indivíduo na
comunicação não verbal. Segundo Oliveira (1977), o termo diálogo tônico,
criado por Wallon, demonstra a relação entre o tono postural e o tono
emocional onde a emoção é o elo entre o orgânico e o social. Há uma relação
entre motricidade e caráter onde o movimento está relacionado ao afeto, à
emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança. Crianças com
perturbações no tônus podem apresentar hipertonia ou hipotonia.
No primeiro caso, o tônus é rígido, tenso demonstrando grande gasto
de energia. Ao utilizar um lápis a criança fura o papel com a força que utiliza no
braço e na mão.
Crianças hipotônicas apresentam “afrouxamento” no tônus, realizam
suas atividades sem firmeza, como se não pudesses sustentar-se. Tarefas
como escrever ou pintar são executadas sem nenhuma força, o traçado é
quase transparente.
18
Em ambos os casos, a psicomotricidade deve oferecer exercícios que
estimulem a percepção corporal e afetiva, pois, o tônus é uma forma de
expressão das emoções.
Rolar o corpo pelo chão, fazer bolinhas com massa de modelar é tão
importante e necessário quanto realizar brincadeiras onde haja interação com
os colegas, de forma que a criança possa puxar empurrar, tocar, abraçar
comunicando suas dificuldades para, aos poucos, relaxar a tensão ou adquiri-la
de modo adequado, assumindo o controle de seu corpo e seu eu.
2.2- Equilíbrio
Há dois tipos de equilíbrio: o estático que é a capacidade de manter o
corpo em relação à força gravitacional e o dinâmico, relacionado à manutenção
da posição do corpo em movimento. Ambos dão ao indivíduo, a capacidade de
manter o corpo numa postura desejada.
A criança com distúrbios no equilíbrio apresenta dificuldades no dia a
dia, cai com frequência, não consegue correr sem esbarrar em objetos ou
pessoas, seu corpo está sempre pendendo para um lado ou outro.
Brincadeiras como amarelinha, pular como “saci”, canguru e outras
atividades que estimulem a criança a impulsionar o corpo a fim de encontrar
seu eixo são de grande eficiência no trabalho de reeducação.
A afetividade deve estar presente em todas as atividades para que a
criança adquira confiança em si mesma já que, suas dificuldades causam
sofrimentos, críticas e até punições de adultos pela incapacidade de perceber o
problema.
2.3- Coordenação motora global ou ampla
Segundo OLIVEIRA (1997), a coordenação motora global ou ampla
está relacionada à atividade dos grandes músculos para realizar movimentos
sequenciais com eficiência, harmonia e economia.
19
Uma perturbação na coordenação ampla faz com que a criança realize
os movimentos sem harmonia, demora-se abotoando uma roupa ou calçando
um tênis, constantemente se atrapalha ao segurar um objeto deixando-o cair.
Para coordenar seus movimentos a criança precisa ter consciência de
seu corpo como um todo, membros inferiores e superiores, tronco e cabeça. O
trabalho com a coordenação ampla está relacionado ao trabalho com o
equilíbrio. Através da experimentação a criança encontra seu eixo e a melhor
forma de utilizar seu corpo.
Exercícios de andar, correr, pular, saltitar, movimentar os braços e
pernas explorando o espaço, são formas de auxiliar a criança a construir sua
coordenação motora.
Desde os primeiros momentos de vida, a criança começa a
desenvolver esses elementos, assim sendo, faz-se necessário oportunizar e
estimular o movimento para que ela se desenvolva plenamente suas
possibilidades motoras, sociais e afetivas.
2.4- Coordenação motora fina, óculo-manual e óculo-pedal.
A coordenação motora fina é a capacidade de realizar atividades
utilizando os músculos das extremidades do corpo. Quanto mais a criança
executa tarefas envolvendo movimentos finos e delicados, maior será seu
controle na realização dos movimentos, pois essas atividades fortalecem os
pequenos músculos.
Óculo-manual e óculo-pedal são a capacidade de coordenar olhos e
mãos e olhos e pés. O movimento olhos dos olhos deve atuar de forma
coordenada com as mãos e os pés.
Esses elementos fazem parte da coordenação global.
A educação e reeducação devem oferecer à criança a possibilidade de
utilizar os dedos para rasgar, picar e colar papéis, enfiar miçangas em um
barbante, trabalhar com massa de modelar, separar grãos e outros,
construindo assim a coordenação fina e óculo-manual.
Quanto
à
coordenação
óculo-pedal,
devem
ser
oportunizadas
atividades como chutar bola e outros objetos, pegar coisas usando os dedos,
20
tentar segurar um lápis e riscar um papel para estimular a coordenação do
olhar com as extremidades e fortalecer esses músculos.
2.5- Esquema Corporal
O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se
e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto
significa que, conhecendo-o terá maior habilidade para se diferenciar, para
sentir as diferenças. (OLIVEIRA, 1997, p. 47).
Segundo a autora, a criança estabelece seu contato com o mundo
através do corpo, nessa interação, estabelece vínculos afetivos com as
pessoas, interfere e recebe interferências do meio e vai desenvolvendo sua
consciência corporal. Essa é uma construção de cada indivíduo, portanto, não
é possível ensinar, pois, apenas com a experiência haverá a interiorização de
sua imagem, de seu corpo e suas possibilidades.
Muitas crianças apresentam dificuldades para representar e nomear as
partes do corpo, elas tem um conhecimento pobre de seu corpo e essa falta de
consciência corporal acarreta problemas no controle respiratório, no equilíbrio,
na coordenação e na capacidade de deslocar-se em um determinado espaço,
além de dificuldades em situar-se no tempo.
Pode-se inferir das colocações da autora que as perturbações do
esquema corporal geram dificuldades na execução de tarefas simples como
vestir a própria roupa, pular corda, usar talheres e outras atividades pela falta
de harmonia em seus movimentos. Na criança comum, sem grandes déficits
motores ou intelectuais, esses distúrbios, na maioria das vezes, são de origem
afetiva e causam profundo sofrimento à criança. Ela se sente diminuída por não
alcançar seus objetivos, desestimulada por tentar e não conseguir sendo
prejudicada na construção de sua autoestima.
A psicomotricidade deve propiciar a exploração de seu corpo
possibilitando o reconhecimento de suas partes e de suas capacidades.
Olhar-se no espelho e apontar as partes do corpo, aponta-las também
no colega, imitar animais, executar movimentos com comandos do tipo, correr
com as mãos na cabeça, andar nas pontas dos pés com as mãos estendidas,
21
colocar as mãos nos joelhos com olhos fechados, etc., são atividades
importantes para a apropriação do esquema corporal.
É importante frisar que perturbações do esquema corporal geram
defasagens em todos os demais elementos.
2.6- Lateralidade
Segundo Oliveira (1997), lateralidade é a propensão do indivíduo para
utilizar mais um lado do corpo do que o outro. Isto se dá em três níveis: mão,
olho e pé.
Ao assimilar seu esquema corporal, a criança percebe que possui
membros que se repetem em ambos os lados do corpo, daí, vai realizando
experiências para encontrar o lado mais confortável e eficiente.
A lateralidade é importante porque permite à criança fazer uma relação entre
as coisas existentes em seu meio. Dizemos que uma criança que já tenha
lateralidade definida e que esteja consciente dos lados direito e esquerdo de
seu corpo está apta para identificar esses conceitos no outro e no espaço que
a cerca. Obedece, portanto, a algumas etapas: primeiro assimila os conceitos
em si mesma, depois, os objetos em relação a si mesma. Em seguida,
descobre-os no outro que está à sua frente e finalmente, nos objetos entre si.
(Oliveira, 1997, p.72).
Crianças com perturbações da lateralidade não conseguem escolher a
mão para apanhar coisas, para escrever ou segurar o garfo. Às vezes
arremessa uma bola com a mão direita, mas chuta com o pé esquerdo. Essa
indefinição dificulta a discriminação visual já que ela não entende onde é o
começo e o fim de cada coisa, da mesma forma, na leitura e escrita, não tem
noção do lado em que se inicia a frase ou a direção da letra confundindo b e d,
p e q e outros.
Deverão ser desenvolvidas atividades de exploração dos lados do
corpo para que a criança experimente suas possibilidades. Ex.: jogar a bola e
apanhá-la com uma mesma mão, em seguida, repetir com a outra. Usar o
mesmo pé para chutar e pular repetindo o exercício com o outro. Com uma fita
amarrada em um dos braços, fazer todas as atividades somente com a mão
desse lado (segurar um copo e tomar água, desenhar com um giz, fazer uma
cobrinha com massa de modelar), repetir com o outro lado.
22
2.7 - Estrutura espacial
De Meur e Staes (1984, p.13) definem a estrutura espacial como:
A tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio
ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às
pessoas e coisas. A tomada de consciência da situação das coisas entre si. A
possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca,
de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las.
A estruturação espacial depende da assimilação do esquema corporal
e da lateralidade, esses dois elementos permitem que o indivíduo tenha
condições para distinguir a posição ocupada pelos objetos ao seu redor.
Pode-se afirmar que uma criança com distúrbio na estrutura espacial
apresenta dificuldades em situar-se com relação às coisas e às pessoas. Ainda
que conheça os termos espaciais como em cima/embaixo, à frente/atrás,
longe/perto e outros, não se coloca num lugar indicado, tem dificuldades para
encontrar suas coisas, não consegue se orientar.
Outra consequência é a dificuldade em perceber a ordem da
composição numérica confundindo dezenas com unidades, também confunde b
e d, p e q, u e n, 6 e 9.
Uma criança com perturbações na estruturação espacial enfrentará
uma série de dificuldades em sua vida escolar, bem como no seu cotidiano,
podendo ter seu desenvolvimento comprometido caso não receba a ajuda
necessária para superá-las.
A psicomotricidade deve dar ao aluno as condições para explorar o
espaço, reconhecendo nele os pontos de referência necessários à sua
orientação. Dessa forma, jogos e brincadeiras que utilizam termos como
longe/perto, dentro/fora, em pé/ abaixado, grosso/fino e outros possibilitam que
a criança vá construindo uma noção do espaço que a rodeia e se inserindo
nele. É importante ressaltar que essas atividades devem ser desenvolvidas de
maneira lúdica onde o aluno possa utilizar o corpo para vivenciar as
aprendizagens e não apenas através de imitações repetidas numa folha de
papel.
23
2.8- Estrutura temporal
De acordo com Oliveira (1997) não é possível entender o movimento
humano sem que associemos as noções de corpo, tempo e espaço. Todas as
atividades do corpo são executadas num espaço determinado e em função do
tempo. Espaço e tempo são indissociáveis.
Da mesma forma que a estruturação espacial, a organização temporal
é uma construção do indivíduo. Esse processo exige esforço mental e só é
possível a partir de certo grau do desenvolvimento cognitivo da criança.
Primeiro a criança tenta realizar movimentos com alguma harmonia.
Porém, esses movimentos se realizam em função de um tempo e um espaço.
A criança vai, aos poucos, percebendo essa realidade e ajustando seus gestos
de acordo com ela. Após essa conquista, começa a entender os conceitos
relacionados ao tempo-espaço e assimilar noções de velocidade e duração das
ocorrências diárias. Posteriormente compreenderá a simultaneidade, a
sequência dos acontecimentos, os intervalos entre eles, a renovação cíclica e o
caráter irreversível do tempo passando a situar-se em função dessa
compreensão.
No trabalho com a psicomotricidade devem ser oferecidas atividades
em que a criança perceba o antes e o depois, as partes do dia (manhã, tarde e
noite), as estações do ano e outros, tendo a si e seu ambiente como referência.
Por exemplo, colocar crianças em uma fileira para verificar quem vem antes e
quem vem depois, em que parte do dia a criança estuda, o que faz ao chegar
em casa se está quase na hora do jantar ou do almoço etc. É importante
também, logo no início da aula, traçar o roteiro das atividades do dia como,
hora da rodinha, tarefas no caderno, hora do lanche, recreio e assim por diante.
2.9- Ritmo
Para Pallarés (1981, in Borges et al, www.efedesportes.com.br, acesso
em 15/08/2012), o ritmo é um princípio de vida, que se faz representado no
24
homem como função física, mental e espiritual, além de agir como força
integradora. Assim, o ritmo é uma característica essencial ao ser humano,
constituindo-se em um fenômeno orgânico-biológico, pois em toda a atividade
corporal visualiza-se um trabalho rítmico, que não pode ser dissociado das
atividades motoras e até mesmo da própria vida.
O movimento se dá em um espaço e em função de um tempo, por isso
não é possível conceber ritmo fora desses dois aspectos.
Segundo De Meur & Staes (1984), as noções de ordem, sucessão,
duração e alternância estão contidas no ritmo.
Ao trabalhar ritmo, deve-se partir do ritmo natural característico do
indivíduo, a partir daí, vai-se direcionando a criança no sentido de acompanhar
um ritmo estabelecido como, reproduzir palmas o som de um tambor com
palmas, bater o pé na marcação de uma música como “Escravos de jó”,
reproduzir um som de acordo com a sequência de figuras geométricas etc.
2.10- Percepção
Os órgãos dos sentidos, visão, audição, tato, gustação e olfato
permitem que o indivíduo perceba, reconheça e compreenda os estímulos
recebidos.
A percepção é trabalhada em todas as áreas da psicomotricidade, pois
é através dela que a criança descobre a si mesma, o outro e o mundo com
todas as suas cores, formas, posições, aromas e sabores. Caso a debilidade
não seja de ordem neurológica o trabalho poderá ajuda-la a perceber e atentar
para as sensações, no entanto, se a origem da perturbação for de ordem
motora e neurológica a psicomotricidade poderá apenas “treinar”, através da
visão, para sentir aquilo que se considera comum em tal situação.
25
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL
Por acaso meu cérebro interage com o mundo de maneira direta e
incorporal? Meu cérebro mede cada dimensão minha em meu corpo, em
minhas mãos, com as quais toco, e em minhas pernas, com as quais corro, e
assim me transporta para o mundo e no mundo. De modo similar, ocorre com
a audição, a gustação, o olfato ou com minhas vísceras que não vejo.
Digamos já que o meu cérebro interage com o mundo por intermédio de meu
corpo (representado em meu cérebro e atualizado nele constantemente).
MORA: (2004, p.29)
Com base nos capítulos anteriores, o estudo promove agora a
interlocução entre o sistema nervoso e a psicomotricidade buscando identificar
a importância desta para o desenvolvimento cerebral.
Ao realizar esse estudo, mesmo considerando suas limitações,
constatou-se que o funcionamento do sistema nervoso possui uma organização
onde cada uma de suas partes desempenha papel fundamental para o todo.
Tortora (2008) o define como uma complexa malha formada por ramificações
que alcançam cada milímetro do organismo.
O estudo entende que, para que esse funcionamento seja eficiente,
suas partes devem atuar com a harmonia de uma orquestra onde, do mais
simples ao mais sofisticado dos instrumentos, todos contribuem para a
realização majestosa de uma sinfonia.
A psicomotricidade considera o homem como um todo integradocorpo, pensamento e emoção- em movimento e interação com o seu mundo. O
desenvolvimento de seus elementos possibilita ao homem realizar suas
atividades e relacionar-se de maneira saudável com o meio e consigo mesmo.
Ao nascer, o sistema nervoso ainda não está “pronto” necessitando de
condições favoráveis para se desenvolver plenamente. No centro do sistema
nervoso, o cérebro, com bilhões de neurônios, analisa as informações
recebidas e processa as instruções para o organismo. Essas informações
chegam através de impulsos vindos dos órgãos dos sentidos, dos músculos e
das vísceras. Os axônios responsáveis pela condução desses impulsos são
26
envolvidos pela bainha de mielina que possibilita maior velocidade nesse
transporte. O processo de mielinização se dá a partir do sexto mês de
gestação, se completa por volta de seis anos e depende de boas condições
nutricionais e de estímulos do meio. Quanto mais estímulos mais mielina,
quanto
mais
mielina
maior
coordenação
e
controle
muscular
nas
aprendizagens, graças à maior velocidade na condução dos impulsos.
A estimulação psicomotora desempenha importante papel no processo
de mielinização. Desde os primeiros momentos de vida os cuidados com a
criança são formas essenciais de estímulo. A afetividade presente nesses
contatos será um diferencial, tanto para o fortalecimento emocional da criança
quanto para o desenvolvimento motor e intelectual. A qualidade da emoção
vivenciada nesses momentos terá grande influência na sua disposição em
construir suas aprendizagens.
LENT (2001) afirma que não se pode determinar exatamente quando o
sistema nervoso se torna maduro mesmo porque ele continua a se transformar
durante a vida adulta, de modo menos acelerado. No entanto, é comum
considerar que ao completar o processo de mielinização o indivíduo alcance a
maturação nervosa.
O estudo entende que os estímulos motores, afetivos e intelectuais são
elementos fundamentais para a conquista da maturidade nervosa. As crianças
negligenciadas afetivamente ou que não podem realizar suas experiências
motoras frequentemente apresentam atrasos em seu desenvolvimento global.
Segundo Oliveira (1997, p22) apesar da importância dos estímulos,
deve-se estar alerta para que o excesso deles não apresse o processo de
maturação já que o desenvolvimento do sistema nervoso não ocorre de uma só
vez, mas obedece a uma sequência e cita Bee e Mitchell (1984, p.129):
O desenvolvimento motor é afetado pela oportunidade de praticar e
pelas variações ambientais mais importantes. O processo de
maturação, sem dúvida estabelece alguns limites sobre o ritmo de
crescimento físico e desenvolvimento, mas o ritmo pode ser retardado
pela ausência de prática ou experiências adequadas.
A psicomotricidade leva a criança a se conscientizar do seu corpo,
percebendo suas partes, tomando consciência de suas possibilidades,
27
adquirindo a coordenação de seus movimentos e compreendendo o espaço no
qual está inserido.
A pesquisa entende que a educação psicomotora instrumentaliza a
criança para a aquisição de suas aprendizagens, a construção de sua
autoestima e a percepção de ser social que interage com o meio.
Em casos onde o atraso na maturação nervosa não seja causado por
lesões cerebrais, a psicomotricidade poderá restabelecer o ritmo normal do
desenvolvimento desde que aplicada sistematicamente. Dessa forma, é
inadmissível que a grande maioria das escolas ainda não perceba a
necessidade da psicomotricidade como importante aliado na solução das
dificuldades de aprendizagem, na construção das inteligências e fortalecimento
emocional.
A aprendizagem e a memória são possíveis graças à plasticidade
cerebral. Através de sua percepção o indivíduo envia, constantemente, novas
informações para o córtex cerebral onde há sinapses ainda não utilizadas.
Essa atividade estimula a reconstrução de conjuntos neurais que processam as
informações transformando-as em estímulos elétricos enviados ao neurônio.
Informações recentes vão se juntando a outras já arquivadas na memória,
permitindo novas respostas, modificando e reconstruindo o aprendido num
movimento constante de troca de informações e utilização de novas sinapses.
Mora (2004, p.24) afirma:
A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam
coisas ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos
conhecimentos. Denominamos memória o processo pelo qual conservamos
esses conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e
memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimentam.
Ao nascer, a criança apresenta movimentos automáticos e reações
reflexas que vão sendo substituídos à medida que se desenvolve e já no
primeiro mês ela começa a utilizar os olhos para estabelecer contato com o
ambiente. Com o passar do tempo vai aprendendo a coordenar os movimentos
e ampliando sua exploração. Quanto mais estímulos motores, intelectuais e
emocionais a criança receber maiores serão suas chances de alcançar um
desenvolvimento integral.
28
À medida que evolui cronologicamente aumenta sua percepção e
experimentação, toma consciência de sua existência, de seu corpo e do
mundo.
Esse
Conhecendo
processo
seu
corpo
de
e
aprendizagem
suas
ocorre
de
forma
conjunta.
possibilidades,
vai
construindo
seu
conhecimento de mundo. Compreende que existe um espaço no qual atua em
função de um tempo. Percebe símbolos, formas, cores, temperatura, sons e
tudo que possa lhe servir de informação para ampliar sua condição de ser
orgânico e social.
Oliveira (1997, p34) cita Ajuriaguerra (1980, p.210):
É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos,
e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta descoberta a
partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for
capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distância
entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de
sua simples atividade corporal indiferenciada.
O movimento e a experimentação devem vir acompanhados da
reflexão numa ação integrada corpo/mente. A emoção existente nessa vivência
será determinante para fixação da aprendizagem na memória.
Mora (2004, p.75) afirma:
A emoção é o ingrediente que permite o ardor da conduta. Nada se aprende,
a menos que o que há para ser aprendido nos emocione e nos motive, isto é,
algo que tenha um significado importante para nós, inclusive no plano mais
sublime. Entretanto, a partir da neurobiologia e da neuropsicologia, sabemos
hoje em dia que não existem planos que se estruturem no abstrato e na frieza
do córtex cerebral, sem o filtro emocional.
A psicomotricidade oferece estímulos que ativam novas sinapses
favorecendo o desenvolvimento intelectual. A afetividade deve ser a base da
atuação do psicomotricista. Sua relação com o aluno/paciente é um
componente fundamental para o sucesso do trabalho. A criança precisa se
sentir segura para expor suas habilidades e dificuldades através dos
movimentos. Cabe ao psicomotricista conquistar sua simpatia e confiança,
agindo de maneira afetuosa para obter resultados positivos.
De acordo com Alves (2011, p.182):
29
A psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de estudo
voltadas para a organização afetiva, motora, social e intelectual do indivíduo.
Ela acredita que o homem é um ser ativo capaz de se conhecer cada vez
mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes.
Pode-se afirmar que a psicomotricidade exerce um papel fundamental
para o desenvolvimento cerebral, para o bom desempenho das habilidades
motoras e para a afirmação do indivíduo como um ser social, com capacidade
de viver em plenitude e ser feliz.
Para finalizar, a pesquisa cita Mora (2004, p.18) com a afirmação de
que o processo de evolução do cérebro humano se deu a partir de estímulos
gerados pelas variações ambientais:
O cérebro humano, nosso cérebro, construiu-se ao longo do processo
evolutivo como resultado de constantes provas aleatórias e reajustes.
Portanto, o tempo, esse operário paciente e capaz, veio urdindo um tecido
feito de células tão entrelaçado, extraordinário e complexo, que demorou
mais de 500 milhões de anos fazendo-o. Esse tecido foi construído não como
um processo sem retificações, mas, ao contrário, tecendo-se e destecendose ao mesmo tempo, de acordo com os acertos e erros que as variações do
meio ambiente impuseram a esse cérebro. Sem dúvida, tal processo de
mudanças continua, tanto ao longo das gerações dos seres humanos atuais
como na própria intimidade do cérebro de cada homem em particular, com a
modificação e o remodelamento dos contatos das células cerebrais, as
sinapses, durante toda a vida. O modo como se chegou ao cérebro humano,
a esse invento quase inimaginável e diabólico para nós, em suma, é o mais
profundo dos desconhecimentos que temos.
30
CONCLUSÃO
A
psicomotricidade
é
de
fundamental
importância
para
o
desenvolvimento cerebral.
Os estímulos psicomotores são fundamentais no processo de
mielinização do indivíduo, desde o nascimento até o momento de sua
maturação nervosa, que ocorre por volta dos cinco ou seis anos. Esses
estímulos, geradores de impulsos nervosos, não são apenas as possibilidades
motoras proporcionadas à criança, mas, também a afetividade presente no seu
meio.
Quanto mais estímulos uma criança recebe, maior será a velocidade de
comunicação entre os centros de comando e os de execução tornando-se fator
determinante para o desenvolvimento, consequentemente, para a aquisição de
suas aprendizagens.
O indivíduo constrói sua identidade a partir de suas vivências corporais
e afetivas. Crianças negligenciadas em sua afetividade ao longo de sua
infância encontram dificuldades na construção de seu “eu”, em suas relações
sociais e na aprendizagem.
A psicomotricidade leva em conta todos os elementos que compõem o
ser humano, oportunizando estímulos para o desenvolvimento do indivíduo em
sua totalidade: corpo, razão e emoção.
Um cérebro bem estimulado terá maiores possibilidades de lidar com
os desafios do cotidiano. Desafios esses que se apresentam no paradoxo ser e
ter.
Na busca de melhores condições de vida o homem se deixa escravizar
pelo consumo desenfreado provocando um colapso no planeta e afasta-se dos
valores essenciais para a preservação da espécie.
Se há 500 milhões de anos o homem começou a estabelecer relações
e criar vínculos com os de sua espécie para garantir sua existência, hoje
realiza um caminho inverso, acumula riquezas e se isola com sua parafernália
tecnológica, cria desigualdades e mantem amizades virtuais.
31
Como resultado da longa jornada evolutiva somos capazes de realizar
desde a mais simples tarefa à mais extraordinária delas, podemos salvar vidas
ou causar destruição em massa.
Esse mesmo cérebro que um dia se desenvolveu para salvar o homem
das intempéries terá que utilizar todas as suas possibilidades para encontrar
novos caminhos para a humanidade. Caminhos que nos levem a uma vida de
justiça, paz e inclusão de todos os seres.
32
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Fátima M. Oliveira, módulo VII- Educação Psicomotora. Disciplina: A
Importância da Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem. Curso de
Psicomotricidade à Distância- Rio de Janeiro- UCAM/AVM, 2011, p. 182.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023.
Informação e documentação: referências - elaboração. Rio de Janeiro: ABNT,
ago. 2002.
DE MEUR, A. e STAES. L. Psicomotricidade- Educação e Reeducação. Trad.
Ana Maria Galuban e Setsuko Ono. São Paulo, Manole, 1984.
LENT, Roberto. Cem milhões de neurônios: conceitos fundamentais de
neurociência. São Paulo: Editora Atheneu, 2001.
MORA, Francisco. Continuum: como funciona o cérebro? Porto Alegre: Artmed,
2004.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação
num enfoque psicopedagógico. Petrópolis- RJ: Vozes, 1997.
RELVAS, M. módulo II- Neurociência do Conhecimento. Disciplina:
Plasticidade Cerebral e Memória. Curso de Psicomotricidade à Distância. Rio
de Janeiro, UCAM/AVM, 2009, p.38 a 43.
___________Módulo II- Neurociência do Conhecimento. Disciplina:
Neurobiologia na Construção da Inteligência e da Afetividade. Curso de
Psicomotricidade à Distância. Rio de Janeiro, UCAM/AVM, 2009, p.100.
ROCHA, D. L. módulo VI– Psicomotricidade. Disciplina: Áreas de Atuação da
Psicomotricidade. Curso de Psicomotricidade à Distância. Rio de Janeiro,
UCAM/AVM, 2011, p.25 e 26.
TORTORA, Gerard J. Princípios de anatomia e fisiologia. 9ª ed.. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
33
WEBGRAFIA
BORGES, T. S., SOUZA, V. F. M., PEREIRA, V. R. - EDUCAÇÃO INFANTIL E
DESENVOLVIMENTO DO RITMO MOTOR NA INFÂNCIA. Revista DigitalBuenos Aires- Argentina. Disponível web em http://efdesportes.com.br acesso
em 07/06/2012.
GRANADOS, Maria del Carmen Ordóñes. Atencion Temprana. Revista Digital
Investigacion y Educacion, n° 23, julho 2006. Disponível web em
http://slideshare.net Acesso em 22/09/2011.
LAPIERRE, A. AUCOUTURIER, B. Disponível web
http://www.educacional.com.br/entrevista acesso em 20/08/2012
MENDONÇA, Danielle. CIEPRE- Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa
em Psicomotricidade Relacional. Disponível web em
http://www.ciepre.puppin.net acesso em 28/09/2011.
SBP- Associação Brasileira de Psicomotricidade.
http://www.psicomotricidade.com.br, acesso em 04/06/2012.
SOARES, Jair C. Transtornos afetivos: pesquisa e perspectivas para o futuro.
Revista Brasileira de Psiquiatria, vol. 21, 1999. Disponível web
http://www.scielo.br acesso em 02/07/2012.
1
Download