DETERMINAÇÃO EM CFD DOS COEFICIENTES DE PELICULA PARA ESCOAMENTO CONCORRENTE EM CILINDROS 2 ¹ Bruno A. G. Silva, Danylo O. Silva e ² Luiz G. M. Vieira ¹ Aluno do curso de Engenharia Ambiental ² Professores da Faculdade de Engenharia Química da UFU/MG 1,2 Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia. Av João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1K, Campus Santa Mônica, Uberlândia- MG, CEP 38408- 100 e-mail: [email protected] RESUMO- Os coeficientes convectivos de transferência de calor são importantes para processos térmicos que estão relacionados ao mecanismo de convecção. Pelo fato do coeficiente de película ser definido por parâmetros que dependem simultaneamente das propriedades físico-químicas do fluido, das características fluidodinâmicas do escoamento e da geometria do sistema, sabe-se que a sua avaliação experimental não é algo trivial. Desse modo, um método atraente para estimar os coeficientes de película seria utilizar as técnicas de fluidodinâmica computacional (CFD), as quais promovem a solução numérica e simultânea das Equações de Transporte. Assim, o trabalho aqui apresentado teve foco na aplicação das técnicas de CFD para avaliar os coeficientes de película em uma superfície cilíndrica e correlacioná-los em função dos Números de Re e Pr. De acordo com os principais resultados, as técnicas de CFD foram eficazes para previsão dos coeficientes de película. Palavras-Chave: Coeficiente de película, Fluidodinâmica Computacional, Cilindro. INTRODUÇÃO Sabe-se da importância das formas de energia para o profissional de Engenharia. Mas quando se fala em Fenômenos de Transporte é dado um foco especial à transferência de calor. A mesma pode ocorrer de três modos: condução, convecção e radiação. Devido ao fato do processo de convecção estar profundamente acoplado ao transporte de quantidade de movimento, o mesmo requer uma atenção especial. O processo de convecção de calor somente ocorre quando há gradientes térmicos no interior de um fluido ou entre certa interface (sólido/fluido ou fluido/fluido). O escoamento do fluido pode ser natural ou forçado. Teoricamente, por meio da Equação da Energia Térmica, juntamente com a Equação do Movimento e Equação da Continuidade (auxiliadas por uma Equação de Estado e Correlações para estimação de outras propriedades físicas que dependem da temperatura e pressão), todas as taxas de calor em certo fluido poderiam ser calculadas sob o conceito dos Fenômenos de Transporte. Devido à complexidade matemática e computacional necessária para a ocorrência do fenômeno, a solução apresentada anteriormente não é nada trivial. Desta maneira, a Lei de Resfriamento de Newton, representada pela Equação 1, é uma opção bastante utilizada para o entendimento dos efeitos da convecção. A mesma está representada por uma equação algébrica simples que busca correlacionar a taxa do calor transportado com a área disponível à transferência e o gradiente térmico, por meio da compatibilização por uma constante de proporcionalidade. (1) A constante de proporcionalidade (h), pela Lei de Resfriamento de Newton, é denominada de Coeficiente Convectivo de Transferência de Calor (CCTC) ou simplesmente de coeficiente de película (Bird, 2004). É essencial o conhecimento do coeficiente de película para projeto de equipamentos, por exemplo, trocadores de calor, evaporadores, reatores, entre outros. Uma vez que o seu desconhecimento tornaria inviável alguma tomada de decisão, como controle ou projeto. Segundo Burmeister (1983), o CCTC é uma grandeza que depende simultaneamente das características do escoamento e das propriedades da matéria. De acordo com Kaviany (1994), é conditio sine qua non que os coeficientes de película sejam determinados antes dos projetos de equipamentos térmicos propriamente ditos. Segundo Churchill (1973), os coeficientes de película exigem instrumentos e investimentos financeiros moderadamente onerosos para a sua determinação de maneira experimental. Atualmente, em razão do desenvolvimento da fluidodinâmica computacional (Patankar, 1980), as propriedades de escoamentos permitem ser estimadas com base nas Equações de Transporte (Maliska, 1995) em softwares que utilizam técnicas numéricas específicas, ordinariamente englobadas sob a denominação de CFD (Computational Fluid Dynamics). Assim sendo, este trabalho utilizou-se das técnicas de CFD para examinar a possibilidade de estimativa numérica dos coeficientes convectivos médios de transferências de calor em superfícies cilíndricas, cujo escoamento é coaxial, para que futuramente, tal metodologia possa ser difundida e também aplicada a outras geometrias, inclusive as complexas. METODOLOGIA Para cobrir uma faixa operacional significativa, o presente trabalho definiu um planejamento de “experimentos numéricos”, no qual foram combinados três diferentes Números de Reynolds (Re) com três Números de Prandtl (Pr), com objetivo de que as técnicas de Fluidodinâmica Computacional (CFD) pudessem ser apropriadamente utilizadas na determinação numérica dos Coeficientes Convectivos de Transferência de Calor (CCTC). Através da temperatura de aproximação do fluido (T ∞), foram estimadas as propriedades físicas do fluido indispensáveis aos adimensionais (viscosidade, calor específico, densidade e condutividade térmica) e através do diâmetro do cilindro, calculou o Número de Reynolds. A variação do Número de Prandtl apenas foi possível por meio da utilização de fluidos diferentes. Além disso, pelo fato deste adimensional depender particularmente da natureza físico-química do fluido, a variação do mesmo não foi igualmente manipulada. Assim sendo, são apresentados na Tabela 1 as nove simulações realizadas neste trabalho. Tabela 1- Combinações entre Re e Pr utilizadas para levantamento dos CCTC em CFD N Fluido (Pr) Re 01 ar (0,74) 100 02 ar (0,74) 5050 03 ar (0,74) 10000 04 querosene (28) 100 05 querosene (28) 5050 06 querosene (28) 10000 07 Etileno Glicol (150) 100 08 Etileno Glicol (150) 5050 09 Etileno Glicol (150) 10000 Os fatores Pr e Re foram codificados, representados pelas Equações 2 e 3, respectivamente, com o propósito de avaliar por regressão múltipla possíveis efeitos (lineares, quadrático e de interação). Diante disso, -1,000; 0,6347 e +1,000 foram as codificações do ar, querosene e etileno glicol, respectivamente. Para os regimes de escoamento de 100, 5050 e 10000 foram codificados em -1, 0 e +1, respectivamente. As Equações 4 e 5 representam as equações para cálculo dos adimensionais. (2) (3) (4) (5) ® Foi gerado pelo software GAMBIT 2.3.16 uma malha computacional para um “túnel de vento” cilíndrico de diâmetro D (0,20 m) e comprimento L (0,20 m), no qual foi inserido na metade do eixo do mesmo um cilindro maciço cujo diâmetro d (0,02 m), onde o escoamento foi concorrente (coaxial). Neste trabalho foi utilizada uma malha computacional tridimensional, refinada próxima à superfície do pequeno cilindro maciço e 5 constituída por aproximadamente 2.10 células tetraédricas. Petri Jr et al. (2012), depois de realizar um teste de independência de malha verificaram que este número de células não proporcionava mais qualquer variação nas propriedades do escoamento. Assim sendo, ® através do software comercial FLUENT realizou as simulações em CFD, cujas condições numérico-operacionais utilizadas estão mencionadas na Tabela 2. Tabela 2- Condições numérico-operacionais empregadas para as simulações do escoamento do fluido ao longo do “túnel de vento” Fluido Ar Temperatura de Aproximação do Fluido 298 K (T∞) Temperatura do Sólido 398 K (Ts) LES (Large Edge Modelo de Turbulência Simulation) Passo de Integração 0,1 s Temporal Critério de -4 1x10 Convergência Algoritmo de Acoplamento PressãoSIMPLE Velocidade Esquema de QUICK Interpolação Método de Surface Integrals Determinação de h 95245 Pa (UberlândiaPressão de Descarga MG) do Túnel de Vento Direção do escoamento Vertical e contrário à gravidade ® Para os valores gerados pelo FLUENT 14.0 (função Surface Integrals), foi possível, de acordo com Box et al. (1978), aplicar sobre eles as técnicas de Superfície de Resposta, na intenção de se obter os parâmetros de uma função matemática (correlação) que descrevesse o comportamento do CCTC médio (h) para quaisquer valores de Re (X1) e Pr (X2) que estivessem dentro do domínio inicialmente proposto (Myers, 1976), cuja forma genérica pode ser representada pela Equação 6. Os parâmetros a serem estimados pela Equação 6 são: um coeficiente independente ou médio (β), coeficientes de interação linear (b1 e b2), coeficientes de interação quadrática (B11, B22) e um coeficiente de interação (B12=B21). função Integrals Surface do FLUENT, onde foi aplicada a metodologia descrita no presente trabalho para a Matriz de Planejamento da Tabela 1, após as simulações em CFD. Encontram-se dispostos na Figura 1, Figura 2 e Figura 3 os valores obtidos pela simulação, onde se analisou que tanto o regime de escoamento quanto o tipo de fluido de resfriamento influenciaram diretamente no Coeficiente Convectivo de Transferência de Calor. No entanto, foi necessário o levantamento da Superfície de Resposta para quantificar os efeitos de cada fator sobre o CCTC. Figura 1- Coeficientes Convectivos de Transferência de Calor médios (h) obtidos via CFD a partir da combinação de Pr e Re da Matriz de Planejamento (Tabela 1) para ar. (6) RESULTADOS Foi possível estimar para cada um dos experimentos numéricos, o Coeficiente Convectivo Médio de Transferência de Calor (h) por meio da Figura 2- Coeficientes Convectivos de Transferência de Calor médios (h) obtidos via CFD a partir da combinação de Pr e Re da Matriz de Planejamento (Tabela 1) para querosene. Figura 3- Coeficientes Convectivos de Transferência de Calor médios (h) obtidos via CFD a partir da combinação de Pr e Re da Matriz de Planejamento (Tabela 1) para etileno glicol. A partir dos valores de CCTC estimados pelas técnicas de CFD e contidos nas Figuras 1, 2 e 3, foram aplicadas Técnicas de Regressão Múltipla (Box et al., 1978) para o ajuste dos parâmetros da Superfície de Resposta. Esta técnica relaciona o Coeficiente Convectivo Médio de Transferência de Calor (h) com o Número de Reynolds e o Número de Prandtl, cujos valores podem ser vistos na Equação 7. É importante mencionar que foram considerados apenas os parâmetros com nível de significância igual ou menor que 5% e que a Equação 7 teve uma confiabilidade ou variância de 99,27% mesmo após a exclusão de parâmetros não significativos. (7) e Ao analisar a Superfície de Resposta, foi possível verificar que o valores de CCTC foram afetados diretamente pelo Número de Prandtl (Pr) e pelo Número de Reynolds (Re). Apesar da importância de ambos, pode-se observar que o tipo de fluido utilizado para o escoamento teve efeito preponderante na transferência de calor, onde fica evidente na comparação da ordem de grandeza entre os efeitos lineares de Pr e Re (457 e 305, respectivamente). Deste modo, fica claro o motivo pelo qual os CCTC do etileno glicol (maiores Prandtl) foram, em média, 47 vezes maior quando comparado ao resfriamento com o ar. Para o mesmo raciocínio, verificou que os CCTC do querosene foram 17 vezes maior que aqueles verificados para o ar. O Número de Prandtl foi considerável para o CCTC no que corresponde aos efeitos quadráticos. Além do mais, o que foi representado pela diagonal secundária da matriz quadrada contida na Equação 7 mostra que houve um efeito de interação entre os fatores estudados. Diante disso, através das discussões apresentadas anteriormente, observa-se que as Técnicas de Fluidodinâmica Computacional (CFD) mostraram confiabilidade para a previsão satisfatória dos valores dos Coeficientes Convectivos Médios de Transferência de Calor. Além do mais, outro resultado interessante neste trabalho foi a superfície de resposta obtida, onde a mesma, contempla em uma mesma estrutura uma ampla faixa de operações para Re e Pr, o que pode ser aplicável tanto para gases como líquidos. CONCLUSÕES Ao analisar os principais resultados numéricos obtidos no presente trabalho, observase que o uso das Técnicas de Fluidodinâmica Computacional (CFD) para estimar os coeficientes convectivos de transferência de calor para geometrias cilíndricas com escoamento coaxial, foram uma interessante alternativa técnica. A transferência de calor foi afetada simultaneamente pelo Número de Reynolds e pelo Número de Prandtl. No entanto, o efeito do tipo de fluido (intrinsecamente relacionado ao Número de Prandtl) teve maior impacto comparado ao próprio regime de escoamento da fase fluida sobre a superfície sólida (Reynolds). Assim sendo, o resfriamento com etileno glicol (líquido) proporcionou um Coeficiente Convectivo de Transferência de Calor aproximadamente 47 vezes maior comparado quando se utilizava um gás (ar) para um mesmo regime de escoamento. A metodologia numérica utilizada no presente trabalho obteve uma correlação generalizada (aplicável para gases e líquidos) e com confiabilidade de 99,27% para a previsão dos coeficientes de película a partir do conhecimento do Número de Reynolds e do Número de Prandtl. Portanto, conclui-se que as técnicas de CFD foram satisfatórias para as estimativas de coeficientes de películas para outras geometrias, inclusive as complexas, o que permite o levantamento de correlações “numéricas” de acordo com a geometria e fluidos de interesse. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIRD, R. B.; STEWART, W. E.; LIGHTFOOT, E. N. Fenômenos de Transporte, 2ª ED. 838p. Wiley, New York, 2004. NOMENCLATURA A - área disponível à troca térmica na convecção 2 (m ) D - diâmetro do "túnel de vento" (m) BOX, M. J.; HUNTER, W. G.; HUNTER, J. S. (1978), Statistics for Experiments: An Introdution to Design, Data Analysis and st Model Building, 1 Ed. 735p. John Wiley and Sons, New York, 1978. st BURMEISTER, L. C. Convective Heat Transfer, 1 Ed. 650p. Wiley-Interscience, New York, 1983. h - coeficiente convectivo de transferência de calor 2 (W/m ºC) CHURCHILL, S. W.; OZOE, H. J. Heat Transfer. 95-78, 1973. k∞- condutividade térmica do fluido estimada em T∞ (W/m.K) KAVIANY, M. Principles of Convective Heat Transfer, 1ª Ed. New York: Springer- Verlag, 1994, 743p. Cp∞ - calor específico do fluido estimado em T ∞ (J/kg.K) d - diâmetro do cilindro maciço (m) L - comprimento do túnel de vento (m) N - sequência das simulações numéricas em CFD Pr - número de Prandtl MALISKA, C. R. Transferência de Calor e Mecânica dos Fluidos Computacional: Fundamentos e Coordenadas Generalizadas, st 1 Ed. 250p. LTC, Rio de Janeiro, 1995. - taxa de calor transportada na convecção (W) st MYERS, R. H. Response Surface Methodology, 1 Ed. 512p. Edwards Brother (Distributors). Virginia, 1976. Re - número de Reynolds v - velocidade média de aproximação do fluido (m/s) Tf - temperatura do fluido (K) Ts- temperatura do corpo sólido (K) T∞ - temperatura de aproximação do fluido (K) X1 - codificação do Número de Prandtl X2 - codificação do Número de Reynolds β - termo independente da Superfície de Resposta 2 (W/m K) μ∞ - viscosidade dinâmica do fluido estimada em T∞ (kg/m.s) 3 ρ∞ - densidade do fluido estimada em T ∞ (kg/m ) AGRADECIMENTOS Os autores deste trabalho agradecem ao Laboratório de Separação e Energias Renováveis (LASER) da FEQUI/UFU. PATANKAR, S. V. Numerical Heat Transfer and st Fluid Flow, 1 Ed. 248p. Hemisphere Publishing, New York, 1980. PETRI-JR. I.; COSTA, L. M. A.; VIEIRA, L. G. M. Aplicação das Técnicas de Fluidodinâmica Computacional para Determinação de Coeficientes Convectivos de Transferência de Calor em Geometrias Esféricas. In: Anais do XV Encontro de Modelagem Computacional & III Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais (EMC & ECTM), Uberlândia-MG, 2012.