secretaria de saúde do estado do ceará hospital geral de fortaleza

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SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ
HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM GINECOLOGIA E
OBSTETRÍCIA
OLGA GOIANA MARTINS
COLETÂNEA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
VOLUME XII
FORTALEZA-CE
2016
OLGA GOIANA MARTINS
COLETÂNEA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
Monografia submetida à Coordenação do Programa
de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia,
do Hospital Geral de Fortaleza, como requisito
parcial para obtenção do título de especialista em
Ginecologia e Obstetrícia, sob a orientação do Prof.
Dr. Joaquim Luiz de Castro Moreira
FORTALEZA- CE
2016
1
AGRADECIMENTOS
A Deus, acima de tudo, pelo dom da vida e da minha amada profissão e pela inspiração
na busca de ajudar o próximo, em especial os mais necessitados.
Aos meus pais, irmãos e noivo, pela força, compreensão, paciência e estímulo diários,
sem os quais eu não alcançaria esta conquista.
Aos nossos preceptores, queridos mestres na arte médica, que dedicaram seu tempo e
esforço para que pudéssemos ser cada dia melhores.
Às minhas queridas colegas de residência, com as quais dividi momentos bons e
também difíceis e foram sempre fonte de força e alegria, como verdadeiras irmãs nesta
querida segunda casa que é, para mim, o Hospital Geral de Fortaleza.
2
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................4
2 HIPERPROLACTINEMIA..........................................................................................5
3 PÓLIPOS E ADENOMIOSE......................................................................................12
4 DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO NA GESTAÇÃO..................... 19
5 COLELITÍASE E COLECISTITE..............................................................................23
6 PROLACTINOMAS...................................................................................................28
7 ARTRITE REUMATÓIDE.........................................................................................33
3
1. INTRODUÇÃO
O Hospital Geral de Fortaleza é um dos mais importantes centros de
atendimento terciário da população cearense em diversas áreas, inclusive na área
de Ginecologia e Obstetrícia, prestando cuidados cuja qualidade depende sempre
da boa formação e constante atualização de seus profissionais médicos.
É também um centro formador de médicos generalistas e especialistas de
excelência, desempenhando, assim, papel de importância e destaque
imensuráveis para a saúde pública no nosso Estado.
Essa excelência na formação é resultado da busca diária de novos
conhecimentos, mas também da organização e divulgação dos saberes já
existentes, objetivo maior desta e de outras coletâneas desenvolvidas no Serviço
de Ginecologia e Obstetrícia nos últimos anos, tendo gerado a publicação de
manuais diversos que prestam orientação atualizada e direcionada a médicos,
residentes e estudantes.
Esta coletânea traz importantes revisões e sínteses de temas de extrema
utilidade na prática médica diária, seja para generalistas ou ginecologistas e
obstetras, que fizeram parte deste grande trabalho de organização de manuais do
serviço, com destaque para a participação do grupo de residentes de Ginecologia
e Obstetrícia, que, sob supervisão dos preceptores, selecionou os assuntos de
maior interesse, realizou extensa pesquisa e escreveu de maneira objetiva,
visando sanar a falta de material voltado para as equipes de saúde específico do
Ceará.
Desejamos que esta iniciativa seja reproduzida e multiplicada pelos
próximos residentes de Ginecologia e Obstetrícia cearenses e também de outras
especialidades, para o engrandecimento da medicina local.
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2. HIPERPROLACTINEMIA
2.1 Prolactina
A prolactina (PRL) é um hormônio sintetizado pela adenoipófise, em células
denominadas lactotrofos ou manotrofos, sendo secretada de forma pulsátil.
2.1.1 Funções principais:
- Indução e manutenção da lactação;
- Inibição da função reprodutiva;
- Inibição do impulso sexual.
2.1.2. Níveis séricos:
-Normal: 5-20ng/mL
- Maior que 20ng/mL: Hiperprolactinemia
ATENÇÃO! Como há variação na frequência de pulso, o ideal é fazer a coleta no
meio da manhã e não após o estresse, punção venosa prévia, estimulação mamária ou
exercício físico.
2.1.3. Efeito gancho e Macroprolactinemia:
- Efeito gancho: o excesso de prolactina sérica pode subestimar falsamente os
resultados, especialmente em níveis superiores a 5000ng/mL, o que ocorre
principalmente em macroprolactinomas. O efeito pode ser revertido através de uma
nova dosagem do hormônio após diluição do soro a 1:100.
- Macroprolactinemia: A prolactina apresenta-se normalmente na circulação sob a
forma monomérica, mais ativa; porém também pode se apresentar sob a forma dimérica
ou polimérica, sendo denominada macroprolactina ou “big prolactin”. A presença desta
forma pode elevar falsamente os níveis laboratoriais, mas geralmente não produzirá
manifestações clínicas, não sendo necessário tratamento.
2.1.4. Fatores inibidores da prolactina:
- Dopamina (principal fator)
- Somatostatina
- Ácido gama-aminobutírico
- Ácido piroglutâmico
2.1.5. Fatores liberadores de prolactina:
- TRH
- GnRH
-Outros: serotonina, histamina, opióides,17 b-estradiol.
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2.2 Causas de hiperprolactinemia
2.2.1. Condições fisiológicas
2.2.2. Distúrbios hipotalâmicos
2.2.3. Distúrbios hipofisários
2.2.4. Drogas
2.2.5. Condições sistêmicas e outros
2.2.6. Idiopática
2.2.1.Condições fisiológicas: Gestação, lactação, estímulo mamilar diverso, coito,
estresse, sono, anestesia, etc.
-Gestação: Neste período, o aumento dos níveis de estrogênio é o responsável
pela hiperprolactinemia. Os níveis de prolactina aumentam gradativamente, até atingir
um pico próximo ao parto, quando alcança um valor médio de 200ng/mL, podendo
variar entre 35 a 600ng/dL. Após cerca de seis semanas, há um queda nos valores de
estrogênio circulantes, o que ocasiona a normalização da prolactina sérica, mesmo se a
amamentação prosseguir.
-Manipulação mamilar: O estímulo à produção de prolactina se dá por via
neural, mas é tanto maior quanto mais importante for o estímulo estrogênico prévio nas
células lactotróficas. Quando a manipulação mamilar se dá fora do contexto da
amamentação, raramente há aumento considerável dos níveis de prolactina.
-Estresse: Seja físico ou psicológico, o estresse é capaz de elevar os níveis de
prolactina, mas raramente acima de 40ng/mL.
2.2.2 Distúrbios hipotalâmicos: A dopamina produzida no hipotálamo inibe a liberação
da prolactina na hipófise anterior. Qualquer fator que bloqueie a liberação da dopamina
no eixo hipotálamo-hipofisário pode resultar em hiperprolactinemia, como:
- Tumores hipotalâmicos (ex.: craniofaringioma, hamartomas, gliomas,
metástases) ou pseudotumor cerebral;
- Doenças granulomatosas (ex.: sarcoidose, meningite tuberculosa, histiocitose
X);
- Secção do pedículo hipofisário (ex.: trauma ou cirurgia prévia), impedindo a
dopamina de atingir a hipófise anterior;
- Tratamento radioterápico prévio.
2.2.3 Distúrbios hipofisários:
6
2.2.3.1.Tumores hipofisários funcionantes: os mais comuns são os
prolactinomas, correspondendo a 30-40% dos clinicamente detectáveis. Geralmente,
ocorrem de forma isolada, mas podem surgir como parte da Síndrome da Neoplasia
Endócrina Múltipla tipo 1, em conjunto com tumores de pâncreas e paratireóides. São
benignos, embora existam casos raros de malignização com metastatização. Em
homens, costumam se apresentar com maiores volumes, tanto pelo maior crescimento
inerente nestes casos, como pelo diagnóstico tardio, devido à sintomatologia menos
específica e mais tardia. Classificam-se em:
- Microadenomas: Tumores < 10mm; os níveis séricos de PRL situam-se entre 100
e 200ng/mL, mas, não raramente, podem ser <100ng/mL; acometem principalmente o
sexo feminino; é necessário o tratamento clínico com agonistas dopaminérgicos se
sinais/sintomas de hipogonadismo.
- Macroadenoma: Tumores >10mm; os níveis séricos de PRL usualmente são
>200ng/ml; 2/3 regridem com o tratamento clínico; Se falha, indicada cirurgia
transesfenoidal.
2.2.3.2.Outras causas: Doença de Cushing, acromegalia, síndrome da sela vazia,
hipofisite linfocítica, etc.
2.2.4. Drogas: Podem atuar através de diversos mecanismos, tais como:
- Aumento da transcrição do gene da dopamina (estrogênios);
- Antagonismo ao receptor da dopamina (neurolépticos, metoclopramida,
sulpirida, etc);
- Depleção de dopamina (reserpina, metildopa);
- Inibição da produção central de dopamina (verapamil, heroína, morfina, análogos
da encefalina);
- Inibição da recaptação de dopamina (antidepressivos tricíclicos, cocaína,
anfetamina, inibidores da monoamino oxidase);
- Inibição da recaptação de serotonina (opiáceos, fenfluramina, fluoxetina) etc.
Observação! A resolução é imediata, se interrupção da medicação.
2.2.5. Condições sistêmicas e outros:
- Insuficiência renal crônica (além do aumento da produção hormonal, há a
diminuição do clearance da PRL em cerca de 30%), sendo revertida após o transplante;
- Cirrose hepática;
- Síndrome dos ovários policísticos;
- Injúria de parede torácica (ex.: trauma, herpes-zoster), pela mesma via neural
que o estímulo mamilar provoca;
- Produção ectópica de PRL (ex.: hipernefroma, carcinoma broncogênico);
- Epilepsia (do tipo grande mal);
7
- Hipotireoidismo (Sempre lembrar como importante causa de
hiperprolactinemia e aumento do volume pituitário, devido aos níveis aumentados de
TRH, comprovado fator estimulador da produção e do crescimento dos lactotrofos,
revertidos com o controle da doença).
2.2.6. Idiopática:
Em parte dos pacientes, especialmente aqueles que possuem níveis de PRL entre
20-100ng/dL, a causa não pode ser identificada. Acredita-se que um percentual
importante destes casos seja devido a microprolactinomas bastante iniciais, de modo a
não serem detectados à ressonância nuclear magnética.
2.3. Manifestações clínicas
Além da galactorréia, a hiperprolactinemia, devido à inibição da secreção pulsátil do
GnRH, promove distúrbios menstruais e outras alterações gerais compatíveis com
hipogonadismo, que variam de forma proporcional aos níveis de PRL:
- 20-50ng/mL: Prejuízo à produção de progesterona, podendo levar a distúrbios
menstruais e à infertilidade, que pode estar presente inclusive em mulheres com ciclos
regulares. A hiperprolactinemia corresponde a cerca de 20% dos casos de infertilidade,
tendo importância um pouco menor na fertilidade masculina. Nos homens, pode se
apresentar de forma inespecífica como perda de libido ou disfunção erétil.
- 50-100ng/mL: Distúrbios menstruais mais evidentes, principalmente oligo ou
amenorréia.
- >100ng/mL: Hipogonadismo mais exuberante, podendo se apresentar com
amenorréia, fogachos e secura vaginal.
No caso de hiperprolactinemia consequente a tumores (prolactinomas), poderão
haver ainda sintomas relativos à compressão tumoral, tais como defeitos no campo
visual (hemianopsia bilateral), cefaléia, atrofia no nervo óptico e paralisia de nervos
cranianos (III, IV e VI).
2.4. Galactorréia sem hiperprolactinemia
Em aproximadamente 46% dos pacientes com galactorréia, os níveis de
prolactina encontram-se normais, o que se torna ainda mais provável caso os ciclos
menstruais sejam regulares. Pode ocorrer logo após o tratamento ou resolução de fator
que previamente causava hiperprolactinemia, como a amamentação ou suspensão de uso
de drogas. Na ausência de altos níveis de PRL, a galactorréia dificilmente estará
relacionada a doença ou deverá suscitar preocupação, merecendo tratamento com
agonistas dopaminérgicos apenas se causar incômodo à paciente.
2.5. Hiperprolactinemia e infertilidade
Em estudo organizado pela OMS com 8500 casais inférteis, a hiperprolactinemia
apareceu isoladamente como causa de infertilidade feminina em cerca de 7% dos casos.
Ao inibir a liberação do GnRH, as altas taxas de prolactina suprimem a produção do
hormônio luteinizante, principalmente, mas também do hormônio folículo-estimulante,
prejudicando a ovulação. Nos homens, o bloqueio do eixo leva à redução da síntese de
testosterona e di-hidrotestosterona, levando a diminuição da libido e alterações na
espermatogênese. A hiperprolactinemia também exerce efeito sob a manutenção do
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corpo lúteo e o endométrio, o que prejudicaria a implantação do embrião e a
manutenção da gestação.
2.6. Diagnóstico
2.6.1. Clínico: Investigar padrão menstrual, libido, infertilidade, galactorréia, distúrbios
visuais, etc.
2.6.2. Bioquímico: Dosagem da prolactina sérica após repouso (evita a superestimação
dos valores), que geralmente está relacionada ao tamanho do tumor. A coleta de 3
amostras espaçadas em 30 minutos torna o exame mais confiável, uma vez que a
prolactina é liberada de forma pulsátil. A dosagem do TSH no primeiro momento, para
descartar hipotireoidismo, é de fundamental importância.
2.6.3. Radiológica: Os exames de imagem devem ser realizados somente após a
exclusão de hiperprolactinemia de causa fisiológica, farmacológica ou decorrente de
doenças sistêmicas como hipotireoidismo, SOP, cirrose e insuficiência renal.
Uma exceção para esta recomendação se aplica aos pacientes com óbvias
manifestações neuro-oftalmológicas indicativas da presença de um tumor na região
selar, tais como cefaléia, hemianopsia bitemporal, comprometimento de nervos
cranianos.
A tomografia computadorizada (TC) e, principalmente, a ressonância magnética
(RNM), permitem a visualização de praticamente todos os macroprolactinomas e
pseudoprolactinomas, bem como da maioria dos microprolactinomas. Contudo, é
preciso atentar à possibilidade da lesão evidenciada se tratar de um incidentaloma
hipofisário. À RNM, os microadenomas apresentam-se como lesões hipodensas em T1,
com maior sinal em T2. Macroadenomas assemelham-se à glândula normal, podendo
conter áreas de hemorragia ou císticas.
2.7. Tratamento
2.7.1. Tratamento farmacológico
2.7.1.1. Agonistas dopaminérgicos: primeira escolha em pacientes com
microprolactinomas e na hiperprolactinemia idiopática ou não relacionada a tumor. São
também aceitos como tratamento primário nos grandes tumores causadores de
compressão periférica, com melhora significativa apresentada por pacientes com
sintomas visuais. Têm ação pela desregulação da transcrição do gene formador da
prolactina.
2.7.1.1.1. Cabergolina (comprimidos de 0,5 mg)::
- Droga mais utilizada;
- Dose inicial de 0,25 a 0,5 mg 1 vez por semana, até dose média de 0,5 mg 2
a 3 vezes por semana. Este aumento deve ser paulatino, devendo-se aguardar no mínimo
quatro semanas para reajuste da dose. Não parece haver benefícios com doses acima de
3 mg/semana, entretanto, doses de até 7 mg/semana podem ser toleradas.
-Em geral, doses de 0,5 mg 2 vezes/semana de cabergolina equivalem a 5
mg/dia de bromocriptina
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- Efeitos colaterais: cefaléia, tontura, hipotensão postural, náuseas e vômitos.
2.7.1.1.2. Bromocriptina (comprimidos de 2,5 mg):
- Iniciar com dose de 1,25 mg/dia, à noite, junto com algum alimento. A
velocidade de aumento da dose dependerá da urgência neurológica. Se esta não existir,
pode-se aumentar a dose progressivamente (1,25 mg/dia) a cada 2-3 dias, divida em 2 -3
tomadas diárias, até dose de 2,5 a 7,5 mg/dia. Doses maiores que 7,5 mg/dia
normalmente não são necessárias, exceto em alguns casos de macroadenomas com
comprometimento neuro-oftalmológico.
- Efeitos colaterais semelhantes à cabergolina, porém com maior intensidade e
frequência.
Atenção! Classificação na gravidez: Classe B. Prefere-se o uso da
bromocriptina, cujo uso durante a gravidez não tem mostrado efeitos teratogênicos.
Apresentaram maiores taxas de remissão: (1) os pacientes tratados com
cabergolina em relação aos que usaram bromocriptina; (2) aqueles cujo tratamento teve
duração maior que 24 meses e (3) aqueles em que pelo menos 50% de redução tumoral
foi conseguida antes da parada da terapia.
2.7.1.2. Análogos da somatostatina: opção para os resistentes aos agonistas
dopaminérgicos.
2.7.1.3. Drogas antagonistas dos receptores de prolactina: em fase de estudos.
2.7.1.4. Estrogênio (associado a progestágenos): Boa opção no tratamento de quadros de
hipogonadismo em mulheres com microprolactinomas que não desejam gestar ou com
distúrbios menstruais relacionados a agentes antipsicóticos.
2.7.2. Tratamento Cirúrgico
A cirurgia transesfenoidal é segura quando praticada por cirurgião experiente e
pode reduzir a hiperprolactinemia sérica consideravelmente através da ressecção
tumoral. Deve ser considerado nos casos de mulher com prolactinomas gigantes (>3cm)
que desejam gestar (por não poderem utilizar os agonistas dopaminérgicos durante a
gestação) e na falha do tratamento clínico. Apresenta como limitação principal o fato de
que nem sempre todo o tumor é ressecado, podendo recorrer após alguns anos.
2.7.3.Tratamento radioterápico
A radiação determina a diminuição no volume tumoral e a queda dos níveis
séricos de prolactina, mas esta se dá de maneira muito lenta, podendo permanecer
elevada por vários anos. Não costuma ser usada como tratamento primário, mas como
tratamento preventivo de recidiva tumoral após a ressecção transesfenoidal. Os efeitos
adversos associados são náusea, distúrbios de paladar e olfato, queda capilar e danos
neurológicos em estruturas próximas à área irradiada.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS
10
CUNNINGHAM, F. Gary et al. Williams GYNECOLOGY. 2. ed. New York: The
Mcgraw-hill, 2012.
BEREK, Jonathan S. et al. Berek & Novak’s Gynecology. 14. ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins, 2007.
CAMARGOS, Aroldo Fernando et al. Anticoncepção, Endocrinologia e
Infertilidade: Soluções para as questões da ciclicidade feminina. Belo Horizonte:
Coopmed, 2011.
MACHADO, Lucas Vianna. Endocrinologia Ginecológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Medbook, 2006.
KUOHUNG, Wendy; HORNSTEIN, Mark D. Causes of female infertility.
Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/causes-of-femaleinfertility?source=search_result&search=infertilidade+feminina&selectedTitle=3~1
06>. Acesso em: 14 nov. 2013.
SNYDER, Peter J.; COOPER, David S.; MARTIN, Kathryn A.. Causes of
hyperprolactinemia. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/causesofhyperprolactinemia?source=search_result&search=hiperprolactinemia&selectedTitl
e=1~146>. Acesso em: 25 jul. 2013.
SNYDER, Peter J.; COOPER, David S.; MARTIN, Kathryn A.. Clinical
manifestations and diagnosis of hyperprolactinemia. Disponível em:
<http://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-ofhyperprolactinemia?source=search_result&search=hiperprolactinemia&selectedTitl
e=2~146>. Acesso em: 25 jul. 2013.
SNYDER, Peter J.; COOPER, David S.; MARTIN, Kathryn A.. Treatment of
hyperprolactinemia due to lactotroph adenoma and other causes. Disponível
em: <http://www.uptodate.com/contents/treatment-of-hyperprolactinemia-due-tolactotroph-adenoma-and-othercauses?source=search_result&search=hiperprolactinemia&selectedTitle=3~146>.
Acesso em: 25 jul. 2013.
GOLSHAN, Mehra; IGLEHART, Dirk. Nipple discharge. Disponível em:
<http://www.uptodate.com/contents/nippledischarge?source=search_result&search=galactorrhea&selectedTitle=1~128>.
Acesso em: 28 jul. 2013.
11
3. PÓLIPOS E ADENOMIOSE
3.1. Pólipos endometriais
3.1.1 Definição
Pólipos endometriais consistem em um crescimento localizado das glândulas e
estroma endometrial, projetando-se a partir do endométrio para a cavidade uterina, onde
podem surgir em qualquer posição. À histologia, são reconhecidos pelo estroma fibroso
e vasos sanguíneos com paredes espessas, que geralmente acompanham seu maior eixo,
podendo apresentar revestimento de epitélio glandular normal, atrófico, ou com outras
alterações, como hiperplasias simples ou complexas. Possuem geralmente uma única
artéria para suprimento, o que os diferencia dos leiomiomas, irrigados por vários vasos.
São tumores comuns e, em sua grande maioria, benignos, podendo raramente
apresentar-se malignos.
3.1.2. Epidemiologia
A frequência destes tumores é de difícil precisão, uma vez que há poucos dados
disponíveis em nosso meio e que, em grande parte, não causam sintomatologia. A
prevalência parece aumentar com a idade, sendo raro em adolescentes e surgindo
principalmente na pré-menopausa e pós-menopausa (6-12%). Nas mulheres submetidas
à biópsia histeroscópica, a prevalência chega a 20%.
3.1.3. Fisiopatologia
Acredita-se que vários fatores estão relacionados ao surgimento de pólipos
endometriais, desde mutações genéticas até a superexpressão da aromatase endometrial.
Expressam receptores de estrogênio e de progestágenos, tendo estes últimos função
antiproliferativa, assim como ocorre em todo o endométrio.
3.1.4.Fatores de risco
Envolve principalmente aqueles que apresentam relação com hiperestrogenismo,
endógeno ou exógeno:
- Uso de Tamoxifen (risco maior em comparação ao uso do Raloxifen);
- Obesidade;
-Diabetes;
-Hipertensão;
-Uso de estrógenos exógenos (TRH);
- Menarca precoce e menopausa tardia;
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- Síndrome de Lynch (subtipo II);
-Síndrome do ovário micropolicístico.
3.1.5. Quadro clínico
-Sangramento uterino anormal: Sintoma mais comumente associado ao quadro,
aparecendo em aproximadamente 64-88% das mulheres com pólipos. O padrão mais
comum é o de metrorragia, geralmente com volume de pequena intensidade. Pode
aparecer como sangramento na pós-menopausa, quando deve ser descartada a hipótese
de câncer endometrial nestas pacientes.
-Dismenorréia secundária
-Infertilidade (estão presentes em cerca de 55% das mulheres com infertilidade
sem causa aparente). Não está associado a abortamentos ou outros eventos obstétricos
adversos.
- Sinusiorragia (nos casos de pólipo prolapsado, que podem ser visualizados
pelo orifício externo do colo ao exame especular).
-Estima-se que mais de 70% das mulheres com pólipos (sem outros achados
concomitantes) são assintomáticas.
3.1.6. Diagnóstico
-Anamnese: procurar história clínica compatível e fatores de risco presentes.
-Exame físico: Na ausência de pólipo prolapsado, não há outros sinais no exame
físico que possam indicar sua presença. Pólipos prolapsados aparecem geralmente
como lesões pedunculadas e friáveis exteriorizando pelo orifício externo do colo.
Atentar para os dignósticos diferenciais de pólipo cervical, cuja base pode ser
visualizada ou palpada no canal cervival, e leiomioma parido, cuja consistência
geralmente é mais firme e consistente, enquanto que os pólipos são friáveis e
amolecidos.
- Ultrassonografia transvaginal: Exame de primeira linha para investigação de
sangramento uterino anormal, por seu baixo custo, baixa invasividade e boa eficácia
na avaliação da anatomia uterina e anexial. Ao exame, os pólipos aparecem como
áreas de espessamento ecogênico focal ou difuso, de limites mal definidos.
Diferenciam-se dos leiomiomas submucosos, que, por sua vez, apresentam aspecto
hipoecogênico ao US. Apresenta sensibilidade de 27,3% para diagnóstico de pólipos
endometriais.
13
- Histerossonografia: Neste exame, há infusão de meio líquido salino na
cavidade uterina, sendo possível o delineamento do pólipo, não explicitado ao ultrassom
convencional. Pela identificação mais clara da base, do tamanho e da localização do
pólipo, é útil no diagnóstico diferencial com miomatose e com espessamento
endometrial difuso. Apresenta taxa de sensibilidade de 90,9% para o diagnóstico de
pólipo endometrial. Possui uma vantagem sobre a histeroscopia, que é a possibilidade
de avaliação também dos anexos uterinos, importante para mulheres com queixa de
infertilidade.
-Histeroscopia: Método mais acurado, pela visualização direta da cavidade
endometrial. Permite coleta de material para exame histopatológico.
3.1.7. Tratamento
Devem ser submetidas à polipectomia:
-Mulheres na pré-menopausa sintomáticas; nas assintomáticas com fatores de
risco para câncer endometrial, pólipo >1,5cm de diâmetro, prolapsado ou múltiplos.
- Mulheres inférteis: estudos mostraram benefício da polipectomia para a
fertilidade feminina, com taxas de sucesso na inseminação intrauterina subindo de 28
para 63% após polipectomia.
-Pós-menopausa: É recomendada a retirada e estudo histopatológico dos pólipos
em todas as mulheres menopausadas, pelas maioras taxas de malignidade presentes
nesta faixa etária.
3.1.7.1. Ressecção por histeroscopia: Método de escolha para a polipectomia pela
visualização direta que proporciona, certificando da retirada total da lesão e
possibilitando a análise de todo o endométrio com a coleta de material para
biópsia.
3.1.7.2.Curetagem uterina: Preterida nos dias de hoje pelo maior risco de não coletar
pequenos pólipos ou outras alterações estruturais, devido a não visualização da
cavidade endometrial.
3.1.7.3.Histerectomia: Tratamento definitivo, reservado para pacientes em idades mais
avançadas, com prole constituída e na impossibilidade de realização dos outros
métodos terapêuticos (ex: estenose cervical).
3.2. Adenomiose
3.2.1. Definição
Adenomiose corresponde a um distúrbio no qual há a presença de estroma e
glândulas endometriais entre as fibras miometriais, o que estimula a hipertrofia e
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hiperplasia do miométrio proximal, causando um útero aumentado (globular) e
amolecido.
3.2.2. Epidemiologia
A estimativa da prevalência é difícil pelo fato de que somente pela análise
histopatológica do útero o diagnóstico pode ser firmado, ou seja, somente após
histerectomia. Pelo mesmo motivo, é difícil avaliar quais faixas etárias são mais
acometidas, uma vez que geralmente são submetidas à retirada do útero as mulheres
com idades mais avançadas. No entanto, estima-se que o distúrbio pode afetar até 20%
das mulheres, sendo mais comum entre 40 e 50 anos.
3.2.3. Fatores de risco
O distúrbio parece ser mais comum em mulheres com maior paridade e com
história de cirurgias uterinas prévias. Não há indicação de relação com raça ou
obesidade. A questão da paridade, no entanto, pode corresponder a viés, uma vez que a
histerectomia (diagnóstico definitivo) é mais praticada nas mulheres com prole
constituída e que a cesárea é fator de risco importante.
3.2.4. Fisiopatologia
Não é bem conhecida. As principais teorias propostas incluem a invaginação
miometrial do endométrio por hiperatividade uterina ou pós-cirurgias e o
desenvolvimento ectópico por metaplasia ou por restos embrionários originários dos
ductos de Müller. A teoria da metaplasia ganhou força recentemente devido a achado de
adenomiose em paciente com a síndrome de Rokitansky-Kuster-Hauser que não possuía
endométrio tópico e pela descoberta de que as glândulas adenomióticas diferem
molecularmente das glândulas endometriais tópicas.
Há evidências de que adenomiose e leiomiomatose uterina compartilhem
elementos fisiopatológicos, como anormalidades na angiogênese e desregulação de
fatores do crescimento.
3.2.5. Quadro clínico
-Sangramento uterino anormal: Sintoma importante, que geralmente se apresenta
num padrão de menorragia (60% dos casos)
-Dismenorréia, geralmente intensa e progressiva (25% dos casos)
-Dor pélvica crônica
-Dispareunia
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-Infertilidade.
- Aumento do risco de parto pré-termo (associação ainda pouco estudada), sem
evidências quanto ao aumento da taxa de abortamentos
-Cerca de um terço das mulheres são assintomáticas.
3.2.6. Diagnóstico
O diagnóstico definitivo da adenomiose só é possível através da confirmação
histopatológica. O diagnóstico presuntivo é sugerido em mulheres com história de
menorragia e dismenorréia intensa, com útero uniformemente aumentado (até em média
14 cm), na ausência de outras condições identificáveis.
3.2.6.1.Ultrassonografia Transvaginal (USTV)
Sensibilidade e especificidade de cerca de 83% e 85%, respectivamente, para o
diagnóstico de adenomiose, dependendo diretamente do grau de experiência do
examinador. Possui achados inespecíficos, de difícil diferenciação com leiomiomatose.
Apresenta áreas hipoecogênicas e limites imprecisos e agrupadas em topografia
miometrial. O espessamento apresentado na zona juncional entre miométrio e
endométrio pode ser confundido com espessamento endometrial.
3.2.6.2.Ressonância Magnética
Método mais acurado para o diagnóstico de adenomiose, pelo maior
delineamento das lesões e sua localização. Apresenta áreas de hiperintensidade em T1 e
T2, com espessamento e irregularidade da zona juncional acima de 8 mm. Acima de 12
mm, o exame é praticamente patognomônico de adenomiose. É o melhor exame para
exclusão de malignidade uterina.
3.2.6.3.Histerossalpingografia
Constitui outro método diagnóstico uma vez que as invasões endometriais
podem ser perceptíveis pela marcação do constraste num formato tubular ou espicular,
mais comumente, ou como saculações e cavitações. A capacidade diagnóstica do
exame, no entanto, é baixa (em torno de 25%), não sendo, portanto, usada de rotina no
diagnóstico de adenomiose.
3.2.6.4.Histeroscopia
Pode revelar imagens sugestivas da condição, como manchas acastanhadas,
deformidade vasculares, abaulamentos ou orifícios na parede uterina.
16
3.2.6.5.Tomografia computadorizada
Tem pouca acurácia, não sendo escolhida como exame para o diagnóstico da
doença.
3.2.7. Tratamento
O tratamento clínico, primeira escolha para pacientes jovens ou que ainda
desejam gestar, visa o controle sintomatológico, podendo passar pelo uso de AINE’s,
antifibrinolíticos (como o ácido tranexâmico), anticoncepcionais hormonais combinados
ou de progestágeno isolado, inclusive o DIU de levonorgestrel, e, em casos bem
selecionados, análogos do GnRH (para controle por, no máximo, 6 meses antes da
ressecção dos focos), ou inibidores da aromatase. A eficácia do uso de contraceptivos
combinados orais para controle da dor é questionada na adenomiose.
Opções de tratamento cirúrgico conservador passam pela ablação endometrial e
eletrocoagulação, quando disponíveis. Estudos recentes analisam ainda a eficácia da
embolização de artéria uterina, obtendo algum resultado no controle da menorragia,
porém o seguimento das pacientes nestas análises não ultrapassaram três anos.
O tratamento definitivo da adenomiose é a histerectomia, poupando ovários, já
que a doença está confinada ao útero, mas deve ser evitada em pacientes jovens sem
prole constituída.
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18
4.
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO NA GESTAÇÃO
4.1. Introdução
A doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) ocorre em 45% a 80% das
mulheres grávidas. Embora os sintomas associados ao refluxo na gravidez sejam
semelhantes aos da população geral, parte da etiopatogenia é distinta, devido às
flutuações hormonais e a outras mudanças fisiológicas associadas à gravidez. Importa
conhecer e saber lidar com essa condição porque ferramentas diagnósticas e terapêuticas
utilizadas rotineiramente no manuseio da DRGE devem ser cuidadosamente
consideradas na paciente grávida, levando em conta eventuais riscos para a saúde fetal.
4.2. Etiologia
Acreditava-se que o aumento do volume intra-abdominal durante a gestação
seria o fator mais importante para o aparecimento do refluxo. Esse mecanismo, contudo,
não explica a prevalência aumentada do mesmo já no primeiro trimestre da gestação,
quando ainda não existe aumento significativo da pressão intra-abdominal. Nesse caso,
são importantes as mudanças hormonais decorrentes da gestação. A literatura evidencia
que a progesterona, nas elevadas concentrações em que se encontra durante a gravidez,
contribui para o aparecimento de refluxo. Estudos demonstraram que a progesterona e o
estrogênio, isoladamente, reduzem significativamente a resposta da musculatura do
esfíncter esofagiano inferior (EEI) à gastrina e à acetilcolina. A progesterona mostra-se
mais eficiente em inibir a resposta máxima, mas a combinação dos dois hormônios é
mais potente que qualquer um dos dois isoladamente. Além disso, apesar da pressão
basal no EEI poder estar normal no primeiro trimestre, há menor resposta do EEI à
pentagastrina, edrofônio, metacolina e após refeição rica em proteínas. Parece, assim,
que a função deste esfíncter está alterada desde o início da gestação.
A progesterona é um hormônio esteróide essencial para a manutenção da
gravidez. Sua ação consiste basicamente em manter o miométrio em um estado de
relativa quiescência. Um dos efeitos colaterais poderia ser, portanto, o relaxamento da
musculatura lisa de outros órgãos. Já está bem documentada sua ação sobre a vesícula
biliar, causando diminuição das contrações, e sobre a motilidade gastrointestinal,
promovendo retardo no esvaziamento gástrico e no trânsito intestinal. Acredita-se,
contudo, que a progesterona não é o único fator responsável pelo aparecimento de
DRGE na gravidez.
4.3. Quadro clínico
As principais manifestações clínicas da DRGE encontram-se listadas a seguir:
19
Manifestações típicas: Pirose e regurgitação ácida.
Manifestações atípicas: Pulmonares (asma, tosse crônica, pigarro, bronquite
crônica, bronquiectasia, pneumonia de repetição), otorrinolaringológicas (faringite,
otite, sinusite, rouquidão) e orais (aftas, halitose, desgaste do esmalte dentário).
É importante ressaltar que a intensidade e a frequência dos sintomas são fracos
preditores da presença ou da gravidade da esofagite. Por outro lado, o tempo de história,
ou seja, a duração da doença encontra-se associada ao aumento do risco de
complicações.
As chamadas manifestações atípicas se devem à ação do material gástrico que
reflui sobre órgãos adjacentes ao esôfago e, provavelmente, ao aumento do reflexo
esôfago-brônquico. Pacientes com manifestações atípicas frequentemente não
apresentam concomitância com os sintomas considerados típicos e o achado de erosões
esofágicas ao exame endoscópico é menos comum nestas formas da doença.
Na gestante, o quadro clínico é semelhante ao da população em geral. O número
de casos complicados com úlceras, estenoses ou Esôfago de Barrett é insignificante
nessas pacientes.
4.4. Diagnóstico
A DRGE pode apresentar-se com erosões que são identificadas ao exame
endoscópico, constituindo a denominada forma erosiva da enfermidade. Pode também
se apresentar sem erosões, o que torna o diagnóstico mais difícil, devendo basear-se
apenas nas queixas clínicas da paciente. Nesse caso, a presença de pirose/regurgitação
com frequência mínima de duas vezes por semana, por período igual ou superior a
quatro semanas, confere o diagnóstico.
Assim, a principal ferramenta no diagnóstico da DRGE constitui a história clínica,
inclusive em grávidas. Seu sintoma mais característico, a pirose, tipicamente observada
30 minutos a 2 horas após a refeição, podendo ser aliviada pelo uso de antiácidos
tradicionais (hidróxido de alumínio e de magnésio). Cabe lembrar que a ausência de
sintomas típicos, como a pirose, não excluem a condição, já que as manifestações
podem ser atípicas. Faz-se importante a busca por sinais e sintomas que possam apontar
para complicações de DRGE, os chamados sintomas de alarme, que englobam a
disfagia, odinofagia, hematêmese, melena, anemia e emagrecimento, que podem
sinalizar uma complicação desta doença ou de outra enfermidade.
Pode-se utilizar dos seguintes métodos auxiliares de diagnóstico:
 Endoscopia digestiva alta e biópsia de esôfago;
 Raio X contrastado de esôfago;
 Manometria esofágica;
20
 Phmetria de 24h ou phmetria com impedanciometria;
 Teste terapêutico com inibidores da bomba de prótons (IBP).
Destes, o padrão ouro é a phmetria com impedanciometria, porém, na prática
clínica, o mais empregado é o teste terapêutico.
Pacientes com menos de 40 anos de idade e que apresentam manifestações típicas
de DRGE, sem manifestações de alarme, serão candidatas a receber terapêutica com
inibidores da bomba de prótons (IBPs) em dose plena diária por quatro semanas como
conduta inicial. O teste é considerado positivo quando tornam–se abolidos os sintomas
inicialmente presentes, sugerindo fortemente o diagnóstico de DRGE.
4.5. Tratamento
Para as pacientes grávidas, devido ao fato da maioria apresentar sintomas leves, a
medida mais importante para o alívio dos sintomas seria a mudança comportamental.
Assim, é fundamental que a paciente seja esclarecida da natureza crônica de sua
enfermidade e da necessidade de modificações em seu estilo de vida para o sucesso do
tratamento.
Quanto ao tratamento medicamentoso, pode-se lançar mão dos seguintes grupos
de fármacos:
 Os antagonistas dos receptores H2 da histamina - ARH2 – tem ampla utilização
no ciclo gestatório. Os mais comuns são: ranitidina, famotidina e cimetidina.
 Os Inibidores da Bomba de Prótons – IBP (omeprazol, lanzoprazol,
pantoprazol) antes reservados apenas para mulheres com sintomatologia de difícil
controle são na atualidade, também, considerados seguros na gestação e podem ser
aplicados como tratamento de primeira linha.
 Antiácidos (hidróxido de alumínio e de magnésio) e o sucralfato, de modo
geral, constituem boa opção terapêutica durante a gravidez.
Não está indicado tratamento cirúrgico durante o ciclo gestatório.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS
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22
5.
COLELITÍASE E COLECISTITE
5.1. Introdução
Litíase biliar constitui a segunda causa de intervenção cirúrgica não obstétrica
em gestantes. Sua incidência situa-se entre 2-11%, mostrando-se assintomática em mais
de 80% dos casos. Nos EUA, 20% das mulheres com mais de 40 anos de idade
apresentam um quadro de cálculo da vesícula biliar. A colelitíase se apresenta como
uma das ocorrências frequentemente associadas à gestação, que pode cursar com as
seguintes complicações: colecistite aguda, pancreatite aguda ou peritonite severa.
Nestas circunstâncias, se elevam, sobremaneira, os riscos de morte materna e perinatal.
Na gestação, o tipo mais frequente de cálculo encontrado é o de colesterol.
5.2. Etiologia
A progesterona inibe a colecistoquinina resultando em diminuição do
esvaziamento da vesícula biliar com aumento do volume residual e maior taxa de
formação de lama biliar.
Os estrogênios e a progesterona levam à hipersaturação do colesterol biliar, o
que aumenta o risco de formação de cálculos.
Há ainda a compressão pelo volume aumentado do útero gravídico sobre a
vesícula biliar.
5.3. Quadro Clínico
-Assintomático, na maior parte dos casos.
-Dor intensa em região epigástrica e/ou hipocôndrio direito que mostra irradiação
para a região escapular ipsilateral, podendo durar várias horas.
-Náuseas e vômitos.
-Febre.
-Icterícia com padrão obstrutivo, que pode surgir de forma aguda.
5.4. Exames complementares
-Leucograma, bilirrubinas, TGO, TGP, fosfatase alcalina.
-Ultrassonografia abdominal.
-Cintilografia biliar.
-Ultrassonografia endoscópica.
Obs: Os exames de imagem, tipicamente, mostram apenas cálculos maiores que 1
mm de diâmetro.
5.5. Tratamento
23
5.5.1 Conservador
-Dieta zero.
-Hidratação e reposição hidroeletrolítica.
-Analgesia:
Evitar analgésicos comuns (paracetamol, dipirona) pela pequena resposta que
apresentam e derivados da morfina, por aumentarem a pressão vesicular.
Indometacina (até 34 semanas de gravidez): pode provocar fechamento precoce do
ducto arterial, hipertensão pulmonar, oligoidrâmnio, sangramento aumentado e gravidez
prolongada.
Diclofenaco (até 34 semanas de gravidez): pelo mesmo problema descrito com
outros AINES.
5.5.2 Cirúrgico
-Estudos mais recentes mostram-se favoráveis à indicação cirúrgica precoce em
pacientes sintomáticas, especialmente quando no segundo trimestre da gestação, pelos
altos índices de recorrência de crises dolorosas, observados naquelas pacientes tratadas
clinicamente. No último trimestre da gravidez o exagerado aumento do volume uterino,
torna difícil a realização de procedimentos cirúrgicos.
- Colecistectomia laparoscópica (padrão ouro), considerada segura tanto para a
gestante quanto para o concepto.
-Colecistectomia laparotômica: restringe–se a poucas indicações: locais sem
acesso a cirurgia laparoscópica ou no final da gravidez.
-Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE): aproximadamente 10%
das pacientes apresentarão cálculos também nas vias comuns (colédoco), onde a CPRE
mostra alto índice de resolução. O procedimento deve ser modificado com o objetivo de
reduzir tanto quanto possível a exposição à radiação da fluoroscopia, com vistas ao
porvir do feto.
Contra-indicações ao tratamento cirúrgico:
- Presença de coagulopatias;
- Gestações no primeiro ou terceiro trimestres (considerar risco-benefício),
períodos nos quais o abortamento e o parto prematuro podem ser desencadeados com
maior freqüência.
24
Complicações:
- Gangrena;
-Empiema;
-Perfuração da vesícula biliar;
-Peritonite;
- Fístula colecisto-entérica e íleo biliar.
5.6. Colecistite
A colecistite aguda apresenta–se como uma inflamação da vesícula biliar
comumente causada por obstrução do trato de saída (ducto cístico) por conta de
cálculos, onde uma infecção bacteriana sobreposta desempenha importante papel.
Geralmente, confirma–se uma história de crise de cólica biliar prévia por colelitíase.
Durante a gravidez, aproximadamente 1:1.000 mulheres desenvolvem esta condição.
5.7. Quadro clínico
-Dor progressiva e defesa à palpação do hipocôndrio direito, que se diferencia de
uma cólica biliar simples, por ter uma duração maior que 6 horas, ser mais intensa e não
ceder com o uso de analgésicos comuns. Assim como na cólica biliar, a dor pode sofrer
irradiação para a região escapular ipsilateral.
-Anorexia, náuseas, vômitos e febre persistente;
-Vesícula biliar palpável e dolorosa;
-Sinal de Murphy (especificidade 79 a 96%): parada da inspiração, de forma
súbita, quando a mão do examinador, posicionada profundamente no hipocôndrio
direito, toca a vesícula biliar inflamada.
5.8. Exames complementares
-Leucograma: uma leucocitose leve, que pode ser confundida com o aumento
fisiológico que ocorre na gestação.
-Bilirrubina sérica, fosfatase alcalina, transaminases e amilase: poderão exibir
elevações discretas. Caso haja aumento acentuado dos valores, considerar outros
diagnósticos como pancreatite, coledocolitiase e hepatites (virais e autoimunes).
-Ultrassonografia: evidencia a presença do cálculo (>1 mm), espessamento da
parede da vesícula (>4 mm) e líquido perivesicular. Pode se observar o “Sinal de
Murphy” ultrassonográfico, que se caracteriza por dor ao toque do transdutor na região
da vesícula biliar inflamada.
5.9. Diagnóstico diferencial
-Apendicite aguda
25
-Pancreatite
-Cólica nefrética
-Úlcera péptica aguda
-Outras causas de dor abdominal aguda.
5.10. Tratamento
Clínico:
-Dieta zero;
-Hidratação venosa rigorosa;
-Analgesia (evitar analgésicos comuns pela pequena resposta que apresentam, e
derivados da morfina, por aumentarem a pressão biliar);
-Antibioticoterapia venosa de modo a cobrir os germes mais comumente
associados: E. coli, Klebsiella sp., Proteus sp., Enterococos sp., etc:
Ambicilina/Sulbactam (1,5 a 3,0 g EV de 6 – 6 h) ou Ceftriaxona (1,0 a 2,0g EV
de 12 – 12 h);
Em casos mais graves ou pacientes imunossuprimidas considerar a associação
com o Metronidazol (500 mg de 6 – 6 h EV) . Tal antimicrobiano deve ser proscrito,
apenas, no primeiro trimestre da gravidez.
Cirúrgico:
A colecistectomia se apresenta como o tratamento definitivo desta morbidade.
Estudos mais recentes indicam melhores resultados na abordagem cirúrgica primária em
gestantes, pela atual segurança apresentada por tais procedimentos e pelas altas taxas de
recidiva observadas naquelas pacientes submetidas ao tratamento clínico. O momento
ideal mostra–se no segundo trimestre gestacional, onde ocorre uma menor chance de
abortamento e de parto prematuro. Percebe–se uma melhor facilidade para execução da
cirurgia, uma vez que o volume uterino ainda não adquiriu proporções que dificultem tal
procedimento. Dá–se preferência a via laparoscópica. Os desfechos indesejados na
gravidez não diferem daqueles encontrados na população em geral.
5.11. Colecistite Alitiásica
Afecção incomum, de fisiopatologia ainda pouco esclarecida, podendo estar
relacionada à isquemia da vesícula ou estase biliar. O quadro clínico mostra- se
semelhante àqueles anteriormente descritos. O ultrassom evidencia espessamento da
parede da vesícula biliar e líquido livre em seu entorno. Não se visualiza a presença de
cálculos. O tratamento cirúrgico deve ser indicado com maior prontidão, devido às altas
taxas de complicações sépticas relacionadas à esta doença, que cursa com elevado
índice de mortalidade podendo alcançar patamares de 40%.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS
26
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Colescistite aguda litiásica durante a gravidez: uso da ultra-sonografia laparoscópica
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27
6.
PROLACTINOMAS
6.1. Introdução
Os prolactinomas ou adenomas hipofisários produtores de prolactina,
correspondem a aproximadamente 40% de todos os tumores situados na hipófise. De
incidência ainda incerta, caracterizam–se por evidenciar níveis séricos elevados de
prolactina. Outras causas de hiperprolactinemias deveriam ser eliminadas antes de se
concluir um diagnóstico, dentre outras, desordens hipotalâmicas, doenças infiltrativas,
hipotireoidismo e uso de certas medicações.
A hiperprolactinemia interfere no eixo hipotálamo-hipófise-ovário em diversos
níveis, sendo responsável por cerca de um terço dos casos de infertilidade feminina. Daí
a importância dos prolactinomas como uma notável causa endócrina de infertilidade.
Estima–se que, entre as mulheres com dificuldade para engravidar, em torno de 15%
daquelas com anovulação e em 43% das que apresentam anovulação associada à
galactorréia, evidenciem quadro de hiperprolactinemia. Uma vez que o tratamento do
prolactinoma confere normalidade ao eixo hipotálamo-hipófise-ovário, temos como
consequências o retorno a ciclos ovulatórios e uma maior probabilidade de gestação.
A hipófise normal mostra um importante incremento de volume durante a
gravidez, algo em torno de 136 %. Isto tem confirmação através de estudos com
ressonância nuclear magnética. Seu crescimento acontece já nas primeiras semanas de
gravidez, atingindo o valor máximo no período pós-parto. Evidenciam -se hiperplasia e
hipertrofia de células lactotróficas, levando a um aumento progressivo dos níveis de
prolactina sérica. O aumento do estrogênio placentário induz essa atividade mitótica das
células lactotróficas e, por consequência, uma maior síntese de prolactina. As células
tumorais de pacientes portadoras de prolactinoma expressam receptores de estrogênio,
daí se esperar um provável aumento deste tumor durante o ciclo gestatório. Outro
motivo de preocupação diz respeito aos possíveis efeitos adversos dos agonistas
dopaminérgicos utilizados no tratamento do prolactinoma sobre o desenvolvimento
fetal.
Com um seguimento adequado, espera–se que a maioria das mulheres tenha uma
gravidez bem sucedida. Entretanto, deve-se notar que conduzir uma gestação de
paciente com prolactinoma tem seus desafios. Uma mulher com este tipo de tumor
deveria sempre discutir seus planos de engravidar com seu médico e buscar uma
acurada avaliação que inclua a realização de exames de imagem e consulta
especializada com neurologista e oftalmologista.
6.2. Diagnóstico
28
Com uma anamnese e exame físico cuidadosos, pode–se aferir possíveis
motivadores fisiológicos, farmacológicos ou patológicos de um quadro de
hiperprolactinemia.
A investigação do prolactinoma faz–se basicamente com dosagens hormonais e
com exames radiológicos. A simples identificação de níveis séricos aumentados de
prolactina não é suficiente para a conclusão diagnóstica. Os níveis séricos de prolactina
que são compatíveis com um prolactinoma situam-se em torno de 100 e 200μg/L. No
entanto, estes tumores não podem ser excluídos na presença de níveis séricos baixos de
prolactina, assim como níveis elevados também não confirmam seu diagnóstico de
forma isolada. Além disso, como a prolactina é liberada de forma pulsátil, a coleta das
amostras deve respeitar um padrão específico.
Após a confirmação da hiperprolactinemia, a realização de um exame de
imagem, preferencialmente uma ressonância nuclear magnética, faz–se necessária para
definir a presença de lesão compatível.
6.3. Tratamento
Agonistas dopaminérgicos:
Considerados o tratamento de primeira linha para pacientes com micro ou
macroprolactinomas. Os mais frequentemente empregados são:
6.3.1. Bromocriptina
A bromocriptina constitui um derivado semisintético do peptídeo αergobromocriptina, que além de controlar os níveis séricos de prolactina, promove uma
diminuição do tumor em aproximadamente 90% das pacientes não-gestantes. Durante o
ciclo gravídico apresenta–se como o agonista dopaminérgico mais empregado. Não há
relatos de aumento do número de abortamentos ou de malformações fetais com seu uso
nesta fase.
6.3.2. Cabergolina
A cabergolina, outro derivado do ergot, é geralmente mais bem tolerada do que a
bromocriptina. Ela possui uma ação prolongada atuando por até pelo menos duas
semanas após a suspensão de seu uso. Os baixos índices de efeitos colaterais favorecem
o seu largo emprego no tratamento de pacientes portadoras de quadro de
hiperprolactinemia. No entanto, ainda possui um emprego incerto em pacientes com
desejo de engravidar ou em gestantes devido à escassez de pesquisas sobre sua
segurança nestas eventualidades. Apesar disso, as evidências existentes atualmente
mostram que não há motivo de maiores preocupações caso a gestação ocorra na
vigência da utilização de tal fármaco.
29
6.3.3. Quinagolida
A quinagolida mostra–se como um agonista dopaminérgico não derivado do
ergot, estruturalmente semelhante à apomorfina. Seu emprego durante o ciclo gestatório
não parece ser seguro, embora em alguns países da Europa, encontrem–se relatos
favoráveis ao uso. Foram evidenciados alguns casos de abortamentos espontâneos na
vigência de seu uso, bem como de malformações fetais. Em pacientes que apresentem
quadros de hiperprolactinemia e com desejo de gestar deve-se evitar a exposição a tal
droga.
6.3.4. Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico está indicado nos seguintes casos:
I. Pacientes com distúrbios visuais repentinos, associados a cefaleia intensa,
alteração da consciência e colapso vascular devido a apoplexia pituitária.
II. Falha do tratamento clínico, definido como uma inadequada redução dos
níveis séricos de prolactina mesmo utilizando altas doses de agonistas dopaminérgicos;
ou crescimento tumoral, mesmo que acompanhado de queda
dos níveis de prolactina sérica.
III. Prolactinomas expansivos associados a déficits neurológicos ou
oftalmológicos não responsivos ao uso de agonistas.
Dentro dessas indicações, a abordagem por via transesfenoidal representa o
padrão-ouro no cuidado de pacientes portadoras de microprolactinomas e,
principalmente, de macroprolactinomas. A craniotomia deve ser reservada para os casos
de tumores inacessíveis através da abordagem transesfenoidal. Atualmente, é indicada
em casos extremamente raros.
6.3.5. Radioterapia
A indicação de radioterapia em pacientes com prolactinomas é feita
essencialmente naqueles casos onde os tumores mostram-se resistentes ao emprego de
drogas agonistas dopaminérgicas e à cirurgia.
6.4. Microprolactinomas
Os microprolactinomas (tumores com menos de 10mm de diâmetro)
correspondem a mais de 90% dos prolactinomas e tendem a seguir um curso benigno
em pacientes não-gestantes. Estudos demonstraram uma progressão de micro para
30
macroprolactinoma em pacientes com hiperprolactinemias não tratadas variando, em
média, de 0% a 12,5%.
Mesmo em gestantes, o risco de um aumento clinicamente relevante é
consideravelmente baixo. Dessa forma, na ocorrência de gravidez, opta-se pela
descontinuação do agente agonista dopaminérgico assim que houver confirmação. Na
ocasião, a paciente deve ser orientada a procurar atendimento médico na ocorrência de
sintomas como cefaleia de início recente e alterações visuais. Isto poderia estar
relacionado a um crescimento tumoral. Assim providenciar, incontinenti, uma
investigação com um exame de ressonância nuclear magnética (sem uso de gadolínio e
de preferência após o primeiro trimestre). Acresce que uma avaliação neurooftalmológica constitui boa prática nesta ocasião. Caso um crescimento tumoral
considerável seja constatado, indica–se o retorno da terapia com agonistas
dopaminérgicos de forma imediata.
É necessário atentar para o fato de que os níveis de prolactina sérica não são
úteis para avaliação do crescimento tumoral dos prolactinomas durante a gestação, já
que esses valores são bastante variáveis.
6.5. Macroprolactinomas
Os macroprolactinomas (tumores com mais de 10mm de diâmetro) são menos
frequentes que os microprolactinomas. Por serem frequentemente localizados perto de
estruturas nervosas, como o quiasma óptico e os nervos óculo-motores, apresentam uma
probabilidade bem maior de promover complicações. Apresentam também uma maior
chance de crescimento durante a gravidez.
A conduta diante destes casos deve ser individualizada. As pacientes necessitam
de acompanhamento regular, com exames clínico e neuro-oftalmológico de rotina, de
preferência, no meio de cada trimestre.
Cabe ao especialista decidir pela manutenção ou não do agonista dopaminérgico
por ocasião da confirmação da gravidez. Apenas em casos de clínica compatíveis com
crescimento tumoral, indica–se a realização de nova ressonância magnética para
confirmação radiológica, com posterior reintrodução do agonista dopaminérgico.
Caso seja indicada uma abordagem cirúrgica, a mesma deve ser realizada, de
preferência, a partir do segundo trimestre da gravidez, de modo a diminuir o risco de
abortamentos.
Embora pesquisas sugiram que mulheres com macroprolactinomas que desejem
engravidar devam ser submetidas a tratamento cirúrgico ou radioterapia previamente,
temos que levar em conta o fato de que esses procedimentos podem ser associados a
algumas morbidades, como o aparecimento de hipopituitarismo, entre outras.
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REFERÊNCIAS CONSULTADAS
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Family and Reproductive Health. 2010 Jun; 4(2):83-6. Availabre from:
http://journals.tums.ac.ir/upload_fi les/pdf/_/18256.pdf
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Metab. 2009 Oct; 23(5):575-96. doi: 10.1016/j.beem.2009.05.003.
IMRAN SA, UR E, CLARKE DB. Managing prolactin-secreting adenomas during
pregnancy. Can Fam Physician. 2007 Apr; 53:653-8. Availabre from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1952594/pdf/0530653.pdf
MOLITCH ME. Prolactinoma in pregnancy. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab.
2011 Dec; 25(6):885-96. doi: 10.1016/j.beem.2011.05.011
32
7.
ARTRITE REUMATÓIDE
7.1. Introdução
Doença crônica autoimune mediada por citoquinas, quimiocinas e
metaloproteases. Atinge articulações periféricas, de forma simétrica, podendo
acompanhar–se de manifestações sistêmicas. Apresenta–se em 1% da população, sendo
em mulheres três vezes mais frequente que em homens. Tem a peculiaridade de
melhorar durante a gravidez, e, invariavelmente, piorar no puerpério (talvez por
influência Th2).
7.2. Quadro Clínico
- Rigidez matinal
- Artrite de 3 ou mais articulações
- Artrite nas articulações das mãos
- Artrite simétrica
- Nódulos reumatóides
- Alterações radiológicas: erosões ou descalcificações localizadas em
radiografias de mãos e punhos.
7.3. Exames Laboratoriais
-Hemograma completo (anemia e leucopenia)
- VHS (elevada)
- Fator antinuclear (+) e fator reumatóide (+)
- Anticorpos antipeptídeos (anti-CCP), caso o fator reumatóide seja negativo.
- Proteína C reativa
7.4. Tratamento não medicamentoso:
Fisioterapia, educação do paciente e atividade física leve e moderada.
7.5. Tratamento medicamentoso:
Anti- inflamatório não esteróide:
Utilizar somente um AINE por período e apenas até completar 32 semanas de
gravidez. Assim se evita o possivel aparecimento de: fechamento precoce do ducto
arterial, hipertensão pulmonar, oligoidramnia e gravidez prolongada. Podem ser
utilizados: diclofenaco, etodolaco, ibuprofeno, indometacina, cetoprofeno, naproxeno,
piroxican, nimesulida, colecoxibe (COX–2 específico) e meloxican (COX–2
específico). A aspirina tem sido empregada na gravidez, em doses baixas (100 mg),
visando outros fins (trombofilias e pré–eclâmpsia).
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Drogas modificadoras da doença (DMARDS):
Hidroxicloroquina (reuquinol): 200 mg, 2x ao dia, via oral. Realizar exame
oftalmológico com periodicidade.
Sulfassalazina (azulfin): 500 mg, 2x ao dia, via oral.
Metotrexate: proibida a utilização em qualquer período da gravidez. Pode
promover múltiplas malformações no concepto (classe X).
Drogas citotóxicas ou imunossupressoras:
Azatioprina (imuran): embora possua potencial para promover malformações
fetais, é a droga mais utilizada, quando comparada com a ciclofosfamida.
Novas drogas:
Leflunomida: contra indicação absoluta em todo o período gestacional. Seu
potencial para causar danos ao concepto pode permanecer por um longo tempo (2 anos)
após a parada de seu uso (classe X).
Anankira: há relatos de relativa segurança na gestação.
Antagonistas do fator de necrose tumoral (TNF): etarnecepte, infliximabe e
adalibumabe: são tidos como relativamente seguros na gestação.
Corticóides
A preferência recai para a prednisona (meticorten) e a metilprednisolona
(prelone). Entende–se que tais fármacos não conseguem ultrapassar o filtro placentar de
forma adequada. Assim, a dexametasona (decadron) e a betametasona (celestone)
prestam–se para atuar em outras situações (como aceleração da maturidade pulmonar
fetal).
7.6. Exames laboratoriais para acompanhamento da doença
Hemograma completo, VHS, Proteina C reativa (PCR), Função renal (uréia,
creatinina), Função hepática (TGO e TGP), Raio X, Ultrassom e RNM.
7.7. Assistência ao parto
A via de parto é por indicação obstétrica. Pacientes que fizeram uso de
corticóide em doses acima de 7,5 mg/dia por mais de 7 dias na gravidez, devem receber,
34
por ocasião do parto, hidrocortisona (solucortef): 500 mg de 8/8 h, via EV, por 24 h,
com fins de evitar uma crise de falência adrenal.
Utilizam–se progestágenos para contracepção em pacientes que amamentam e
contraceptivos hormonais combinados para as não lactantes. O DIU de cobre ou
medicado (Mirena) pode ser empregado. É esperado o retorno das crises da doença ao
longo do puerpério.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS
DE MAN YA, DOLHAIN RJ, VAN DE GEIJN FE, WILLEMSEN SP, HAZES JM.
Disease activity of rheumatoid arthritis during pregnancy: results from a Nationwide
prospective study. Arthritis Rheum. 2008 Sept; 59(9):1241-8. Availabre from:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/art.24003/pdf. doi: 10.1002/
LIPSKI PE. Rheumatoid arthritis. In: Harrison TR, Fauci AS, editors. Harrison’s
principles of internal medicine: pretest self-assessment and review [v. 1]. 14nd ed.
New York: McGraw-Hill; 1998.
MÄRKER-HERMANN E, FISCHER-BETZ R. Rheumatic diseases and pregnancy.
Curr Opin Obstet Gynecol. 2010 Dec; 22(6):458-65. doi:
10.1097/GCO.0b013e3283404d67
MINEIRO AML, BRILHANTE AVM, ELEUTERIO FJC. Artrite reumatoide e
gestação. Fortaleza: EdUECE; 2013. Cap. 29, p. 261-72.
PAPI JAS, SOUTO MID, FONSECA ACC, et al. Lúpus eritematoso sistêmico,
síndrome antifosfolipídio e artrite reumatoide. In: Montenegro CAB, Rezende Filho J.
Rezende – obstetrícia fundamental. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2008. Cap. 47, p. 567-78.
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