O submarino «áutilo» (Expresso: 21-05-2005) Em Vinte Mil Léguas Submarinas, romance outra vez na moda, Jules Verne descreve o submersível «Náutilo», construído pelo prodigioso capitão Nemo. Mas, ainda antes do livro de Verne, que foi escrito em 1870, foram construídos vários submersíveis com esse mesmo nome. Ao que se sabe ao certo, o primeiro aparelho capaz de mergulhar e manobrar debaixo de água, embora de forma rudimentar, foi construído em 1620, em Inglaterra, pelo holandês Cornelius Van Drebbel (1572-1624). Mas esse aparelho e os que se seguiram eram apenas curiosidades. A revolução americana e a guerra civil levaram ao desenvolvimento de submersíveis mais avançados. Um dos inventores da época, o norte-americano Robert Fulton (1765-1815), construiu em 1800 um submarino com forma de charuto, como os actuais, com razoável autonomia de viagem e um sistema de retenção do ar. O nome desse submarino era precisamente «Nautilus». Depois de Fulton, são incontáveis os submarinos a que foi dado o mesmo nome. Não apenas por tradição. É uma homenagem a um antepassado dos modernos submarinos. Um antepassado que os antecedeu em qualquer coisa como 650 milhões de anos... O náutilo que inspirou os submarinos é um animal marinho que vive a cerca de 600 metros de profundidade e que todas as noites sobe a menos de 100 metros, à procura de comida. Enquanto outros animais morreriam com a mudança de pressão, o náutilo aguenta-a sem dificuldade. Pode mesmo viver em águas pouco profundas, num aquário, desde que a temperatura nunca suba acima dos 27 graus Os náutilos são moluscos muito curiosos. Reinaram no paleozóico, competindo com outros invertebrados e com as trilobites. Sobreviveram até à actualidade, com seis espécies que povoam as águas tropicais do Pacífico e do Índico. Da classe dos cefalópodes, semelhantes aos polvos e às lulas, com uma cabeça grande, olhos desenvolvidos e múltiplos tentáculos em torno da boca, têm concha externa, dividida em câmaras. Quando partida longitudinalmente, a concha revela um crescimento espiral muito curioso, com separações entre o que parecem ser compartimentos estanques. O segredo da capacidade de adaptação dos náutilos às diversas profundidades está precisamente nessas câmaras, que o animal vai construindo ao longo da vida. Enquanto cresce, constrói um prolongamento da concha para conter o corpo, e abandona a parte anterior, que se torna demasiado estreita. Sutura essa parte que abandona, mas deixa uma comunicação com as sucessivas câmaras através de um tubo (sifúnculo) por onde controla a passagem de um líquido que enche parte das câmaras. Outra parte é preenchida com gás. Para se deslocar, o náutilo segue um processo mecânico, expelindo água. Atingindo uma determinada profundidade, para flutuar em equilíbrio tem de ter o peso exactamente igual ao do seu volume em água. É o princípio de Arquimedes. Se tiver de se adaptar a profundidades maiores, tem de se tornar mais pesado, o que consegue bombeando líquido nas câmaras através do sifúnculo. O gás existente é comprimido e passa a ocupar menor espaço. O peso do náutilo aumenta até que a sua maior densidade equilibra a também maior densidade da água. Para se adaptar a profundidades menores, basta ao náutilo expelir água, e deixar que o ar nas câmaras se descomprima. Os modernos submarinos seguem este princípio e movem-se para cima e para baixo, comprimindo e descomprimindo ar das suas câmaras. Inspiraram-se neste animal fabuloso. É justo que honrem o seu nome. uno Crato