Perda auditiva induzida pelo ruído em servidores de

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Perda auditiva induzida pelo ruído em servidores de uma Universidade
Estadual Pública
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a perda auditiva induzida pelo ruído em servidores de uma
Universidade Estadual Pública. Estudo transversal descritivo, realizado na Universidade Estadual de
Pública do Norte do Paraná, de junho a julho de 2014. Os dados foram obtidos através de análise de
prontuários. Participaram da pesquisa 131 trabalhadores com idade média de 53 anos, com predomínio
do sexo masculino 83 (63%) e variação de tempo de trabalho ente 10 e 38 anos, sendo que cada
trabalhador realizou em média três audiometrias, desde sua admissão até o momento da pesquisa. O
número de trabalhadores que tiveram perda auditiva foi de 39 (30%), sendo que a primeira
audiometria representou 13%.
Palavras-chave: Audiometria; Saúde do trabalhador; Perda auditiva; Dispositivo de proteção das
orelhas.
INTRODUÇÃO
A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) está entre os principais problemas de
saúde do trabalhador brasileiro e ocupa o segundo lugar entre as doenças mais frequentes do
aparelho auditivo (1).
Dificilmente se tem um ambiente livre de contaminação sonora, sendo o ruído
mundialmente classificado como a maior causa isolada de risco ocupacional (2).
A exposição ao ruído, pela frequência e suas múltiplas consequências para o organismo
humano, constitui um dos principais problemas de saúde ocupacional e ambiental na
atualidade (3).
De acordo com a norma regulamentadora (NR) nº 07 de 1996 entende-se por perda
auditiva por níveis de pressão sonora elevados, as alterações dos limiares auditivos, do tipo
1
neurossensorial, decorrente da exposição ocupacional sistemática a níveis de pressão sonora
elevada. Tem como características principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o
tempo de exposição ao risco.
A PAIR tem como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho, perda
auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por
níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda
auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de
origem ocupacional (4).
De acordo com o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva no Boletim
n.º1(1999) (5), a PAIR tem como principais características: ser sempre do tipo neurossensorial,
por afetar as células de Corti; ser irreversível e afetar quase sempre ambos ouvidos;
geralmente manifesta-se com intolerâncias a sons intensos, zumbidos, comprometendo a
comunicação devido à dificuldade de compreensão da fala. A progressão do agravo cessa
quando o indivíduo quando há interrupção na exposição ao ruído. Alguns fatores são capazes
de influenciar diretamente a PAIR relacionada ao trabalho como: características físicas do
ruído (tipo, espectro, e nível de pressão sonora), susceptibilidade individual e tempo de
exposição (5).
Considera-se doenças ocupacionais patologias adquiridas decorrentes da atividade
laboral e segundo a Portaria nº 777 de 28 de abril de 2004, são de notificação compulsória os
seguintes agravos: acidentes de trabalho fatais; acidentes com mutilações, exposição a
materiais biológicos ou crianças e adolescentes; dermatoses ocupacionais; intoxicações por
substâncias químicas (incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados); lesões por
esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT);
pneumoconioses; perda auditiva induzida por ruído (PAIR) e câncer relacionado ao
trabalho(6).
2
No Brasil, políticas públicas voltadas para a saúde do trabalhador começaram a ser
implementadas a partir de 2003. Entre as estratégias para efetivação da Atenção Integral a
Saúde do Trabalhador, evidenciou a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador, que tem como principal objetivo unir a rede de serviços do SUS direcionado ao
atendimento prestado à vigilância, realizando também a notificação de agravos à saúde
ligados ao trabalho em redes de serviço sentinela
(4)
. Segundo dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no Brasil no ano de 2012 foram notificados
271 casos de PAIR, destacando os estados de São Paulo com 99 notificações, Mato Grosso do
Sul com 70 e Minas Gerais com 29
(7)
. Entretanto no Ministério da Saúde
(4)
, os dados
relativos à PAIR, ainda são raros e os que estão disponíveis expressam parcialmente a
ocorrência do risco relacionado à perda auditiva.
A PAIR ocupacional é uma doença prevenível que pode acarretar prejuízos à saúde do
trabalhador comprometendo sua qualidade de vida devido a alterações funcionais e
psicossociais (5).
Portanto é imprescindível que se desenvolvam mais ações de controle e prevenção de
riscos e agravos á saúde do trabalhador. Tanto a World Health Organization – WHO
(8)
,
quanto o Ministério da Saúde (4) corroboram em relação à perda auditiva induzida pelo ruído e
aos acidentes de trabalho, como sendo decorrentes de pratica do indivíduo que pode ser
extinta se houver ações de fiscalização, orientação e intervenção no ambiente de trabalho.
O objetivo deste estudo foi analisar a perda auditiva induzida pelo ruído em servidores
de uma Universidade Estadual Pública.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, transversal de abordagem quantitativa. A pesquisa
foi desenvolvida dentro do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT) do Campus de uma Universidade Estadual Pública do Paraná, no ano de
3
2014. Este serviço é composto por técnicos, enfermeiros, engenheiro e médico do trabalho e
tem como principal responsabilidade promover e proteger a integridade de 5.353
trabalhadores no seu local de trabalho de acordo com a Norma Regulamentadora número 4
(NR-4).
A população deste estudo foi constituída de todos os prontuários de trabalhadores que
possuem risco de PAIR e que tinham o exame audiométrico incluído em seu exame médico
ocupacional periódico, durante seu tempo de serviço nesta instituição, perfazendo um total de
257 prontuários. Utilizou-se como critério de inclusão ter realizado pelo menos dois exames
audiométricos e ter o prontuário disponível nos arquivos durante o período da coleta de dados.
E como critério de exclusão possuir distúrbios de audição conhecidos anteriormente ao
ingresso deste trabalhador na instituição, dado obtido através do exame médico admissional,
ou em consultas médicas subsequentes que documentam este fato no prontuário médico
ocupacional disponível no serviço.
Foram analisados 231 prontuários, sendo que 25 prontuários não se encontraram
disponíveis durante o período da coleta de dados e um havia falecido.
Para a coleta de dados foi elaborada uma planilha no programa Microsoft Excel 2010
contendo as seguintes variáveis: número de prontuário, sexo, idade, tempo de atuação na
instituição, função, resultado do último exame audiométrico e conduta médica no exame
periódico ocupacional; resultados e condutas médicas em audiometrias anteriores se houver.
A análise dos dados foi realizada utilizando o pacote estatístico Statistical Package for Social
Sciences (SPSS) 20.0. Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos com CAAE: 21405214.7.0000.5231.
RESULTADOS
4
Participaram da pesquisa 131 trabalhadores dos 231 elegíveis. Sendo que 30 não
realizaram nenhuma audiometria e 53 foram submetidos a apenas um exame audiométrico, 5
tiveram diagnóstico de trauma acústico, 6 são ou tiveram patologias que comprometem o
aparelho auditivo e 6 tiveram as audiometrias com laudos inconclusivos ou interrogados. Dos
prontuários analisados a maioria era do sexo masculino 63% (n=83) e a média etária foi de 52
anos. O tempo de serviço na instituição variou entre 2 e 42 anos.
A prevalência de trabalhadores com perda auditiva bilateral representa 24% (n=31),
enquanto que a perda auditiva unilateral ocorreu em 6% (n=8), em média cada trabalhador
realizou três audiometrias, sendo que houve aumento significativo de 17% de perda auditiva
entre a primeira e a última audiometria.
Com relação às lotações desses funcionários, temos que as principais são as
relacionadas à manutenção e construção civil, seguida de profissões que trabalham na casa de
cultura e na cozinha do restaurante universitário Tabela 1.
Tabela 1 – Frequência relativa da primeira e ultima audiometria, segundo lotação,
realizada por trabalhadores de uma Universidade Estadual Pública. Londrina, Brasil,
2013
1ª Audiometria
Última audiometria
Lotação
00,0%
100%
Marceneiro
50,0%
100%
Manutenção
50,0%
100%
Construção
50,0%
50,0%
Jornalista
15,0%
35,0%
Casa de Cultura
17,0%
33,3%
Cozinha
00,0%
33,3%
Telefonista
12,5%
25,0%
Jardineiro
6,0%
22,4%
Músico
18,1%
18,1%
Radio/Tv
14,2%
14,2%
Serviços Gráficos
13,0%
30%
Total
Fonte: autor, 2013.
5
Considerando que a houve aumento significativo da perda auditiva durante o tempo de
serviço, a maioria dos trabalhadores 58,9% não recebeu, ou não foram encontrados registro
em prontuário de orientações relacionadas à prevenção ou tratamento de PAINPSE Tabela 2.
Apenas 25,9% receberam orientações quanto à importância do uso de Equipamentos
de Proteção Individual (EPI), neste caso uso de protetor auricular, 10,2% foram encaminhados
ao otorrinolaringologista e cerca de 7% foram orientados a utilizar solução otológica para
remoção de rolha de cerume, seguido de 5% orientados a se abster de locais com ruídos
intensos, utilizar prótese auricular e praticar lavagem auricular sempre que necessário e
também solicitação para revisão do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) do
serviço em que o trabalhador está lotado.
Tabela 2 – Conduta médica em trabalhadores com perda auditiva induzida por ruídos.
Londrina, Brasil, 2013.
Condutas
n (%)
Sem orientação
58,9%
Uso de EPIs
25,6%
Encaminhado ao Otorrino
10,2%
Uso de solução otológica para remoção de rolha
07,6%
de cerume
Abster do local
05,1%
PPRA
05,1%
Prótese auditiva
05,1%
Lavagem auditiva
05,1%
Fonte: autor, 2013.
DISCUSSÃO
6
A prevalência de PAINPSE encontrada neste estudo foi de 39% somando todas as
formas de perda auditiva (unilateral e bilateral), percentual semelhante a um estudo realizado
com trabalhadores industriais, onde foi de 35,7% (9,10).
Quanto à função desempenhada a maior taxa foi entre os trabalhadores da marcenaria,
construção civil e manutenção. Houve piora do perfil audiométrico em todas as categorias
com exceção dos funcionários da rádio e televisão e os jornalistas que mantiveram o mesmo
perfil audiométrico. Levando em consideração que o intervalo médio entre a primeira e a
última audiometria é de 10 anos, o que corrobora com alguns estudos que demonstram que a
idade e o tempo de exposição ao ruído está associado a piora dos limiares auditivos (11) .
CONCLUSÃO
O presente estudo pode evidenciar que houve uma prevalência de PAIR de 30% entre
os trabalhadores desta instituição, o tempo de exposição, ou seja, por ser tratar de uma
instituição pública, média de tempo de serviço de 19 anos e a faixa etária elevada, favorecem
o rebaixamento dos limiares auditivos.
Entretanto mostrou a necessidade de estabelecer programas preventivos que realmente
sejam eficazes, visto que a PAIR é uma agravo irreversível, mas totalmente prevenível.
REFERÊNCIAS
1.Lopes Andréa Cintra, Otowiz Vanessa Guioto, Lopes Patrícia Monteiro de Barros, Lauris
José Roberto Pereira, Santos Cibele Carméllo. Prevalência de perda auditiva induzida por
ruído em motoristas. Int. Arch. Otorhinolaryngol. [serial on the Internet]. 2012 Dec [cited
2014 Aug 11] ; 16( 4 ): 509-514. Available from:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180948642012000400013&lng=en. http://dx.doi.org/10.7162/S1809-97772012000400013.
2.Couto H A, Santino E. Audiometrias ocupacionais: Guia prático. Belo Horizonte: Ergo
7
editora; 1995. p. 116.
3.BRASIL.Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doença
relacionadas ao trabalhado: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília:
Ministério da Saúde, 2001a. 580p.
4.BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Perda auditiva induzida por ruído (Pair) / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília
: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 40 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
(Saúde do Trabalhador ; 5. Protocolos de Complexidade Diferenciada)
5.Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva (CONARCA). Perda auditiva induzida
pelo ruído relacionado ao trabalho. Boletim , São Paulo, nº1, 29 de jun. 1994. Revisto em 14
de nov. 1999.
6.BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 777, de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os
procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em
rede de serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 28 abr. 2004. Disponível em:
<http://www.anamt.org.br/downloads/portaria_777.pdf> Acesso em 11 Set. 2013.
7. DATASUS. Informações de Saúde. População Residente, 2001. Disponível na Internet:
http://www.datasus.gov.br/cgi/ibge/popmap.htm. Acesso em 07 out. 2013
8.World Health Organization. Report on informal consultation on epidemiology of deafness
and hearing impairment in developing countries and update of the WHO protocol. Geneva:
WHO; 2004.
9. Miranda CR, Dias CR, Pena PGL, Nobre LCC, Aquino, R. Perda auditiva induzida pelo
ruído em trabalhadores da região metropolitana de Salvador, Bahia. Inf Epidemiol SUS 1998;
7:87-94.
8
10.Leão Rejane Noronha, Dias Fernanda Abalen Martins. Perfil audiométrico de indivíduos
expostos ao ruído atendidos no núcleo de saúde ocupacional de um hospital do município de
Montes Claros, Minas Gerais. Rev. CEFAC [serial on the Internet]. 2010 Apr [cited 2014
Aug 11] ; 12( 2 ): 242-249. Available from:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151618462010000200010&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462010000200010.
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