2ª Reunião da SEÇÃO EPISTÊMICA DA CLIPP outubro de 2010 Resenha feita por: Juliana Gayoso Franco de Toledo Texto: Ferretti. M.C.G. Uma psicose sinthomatizada: o amor possível. Trabalho apresentado no XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano: “Nomes do Amor“ [Belo Horizonte, 2006]. In: Opção Lacaniana nº48, março de 2007, pp: 83-86. A autora apresenta o caso de um paciente da sua clínica, discorrendo a respeito de um tratamento sobre um sujeito de estrutura psicótica. O trabalho está calcado, sobretudo, no conceito de amor de Lacan (Seminário 20), tomado como suplência diante da inexistência da relação sexual. Sua hipótese é de que: “a sinthomatização alcançada na conclusão dessa análise, isto é, o enodamento entre real, simbólico e imaginário, foi o que possibilitou a reconciliação de N. com a vida - e a isso se pode chamar de amor.”. . Sua proposta é mostrar como o paciente chegou a uma suplência sinthomática que enlaça. A questão que trouxe N. para a análise foi a de ser pai, e essa é acompanhada de alusões à fragilidade da vida e ao medo da morte. O objeto e a angústia N. possuía o objeto, tinha a causa em seu bolso. Ao longo da análise, N. conseguiu amarrar o objeto a um determinado contexto sintomático, fazendo desse objeto um sintoma. Se, no início da análise, a presença do objeto surgia de forma sutil, esse passou a fazer parte de um quadro consistente. “A análise restituiu a ele a lógica de sua criação, de sua invenção, porém, para que chegasse a isso, percorreu um caminho de muita angústia.” E foi justamente o excesso de angústia um dos principais sinais que levaram a analista a estabelecer o diagnóstico de psicose. Para N., o objeto era portador de um poder contra a morte, era algo contra a fragilidade da vida. As mulheres e o saber imposto A autora nos diz que as mulheres imperavam na biografia de N., que era também o filho predileto da mãe. “Um de seus temas mais frequentes referia-se às mulheres...” Tudo enfim que faz parte do feminino. Mas, era o gozo das mulheres aquilo que o prendia: o gozo sexual, o gozo enquanto mães e até mesmo o gozo de seu saber” (Ferrreti). O paciente foi acometido de grande angústia, quando percebeu sua identificação às mulheres. N. era tomado por pensamentos ditos “primitivos”. E, neste contexto, a autora cita Miller, referindo-se ao Seminário: 3 de Lacan: “o sujeito psicótico está numa relação direta com a linguagem em seu aspecto formal de significante puro. Tudo o que se constrói não passa de reações de afeto ao fenômeno primeiro, a relação com o significante”. N., ao pronunciar frases impositivas, anunciava sua heresia ao Nome-do-Pai, juntando-se a isso uma significação pessoal e singular. Ser pai e a conclusão da análise Quando nascem os filhos de N., ele é tomado de profundo mal-estar, devido ao medo de perdêlos. A analista explica que, para o nascimento desses filhos, foi preciso que N. atravessasse sua hipocondria, superasse a interdição familiar de ter filhos, adquirisse um saber fazer com a sua sexualidade, e se afastasse da forma específica como se relacionava com a religião. N. acostumava-se com os filhos, mantendo com eles um distanciamento e conjuntamente um apego angustiado, explicado pela estrutura. E, nesse momento, a análise adquire caráter de fechamento. Naquilo que tange ao pai, figura sempre deficiente para ele, articula-se uma nomeação que surpreende a analista: N. avisa que ficaria apenas mais alguns meses na análise. “A construção do sinthoma se fez acompanhar da saída da transferência” (Ferreti) “A reconciliação de N. com a vida mostra que o amor não é somente narcísico, tendo uma função de suplência” (Ferreti).