RESUMO EXPANDIDO PROPOSTO PARA O GT 05: EJA, juventude Negra, Trabalho e Direitos Humanos PASSINHO DO FUNK: A CONSTRUÇÃO DA DIFERENÇA E AS BATALHAS PELA LEGITIMAÇÃO Nicole Faria Batista1 INTRODUÇÃO: O funk carioca é estilo musical brasileiro, que nos anos 1990 se dissemina pelas periferias de todo país. Sendo consumido e produzido em maior escala por jovens, negros e negras pobres oriundos das periferias brasileiras, o funk se se apresenta como um ritmo musical marginal, feito e consumido por pessoas extremamente estigmatizadas pelas classes mais abastadas da sociedade. Portanto, o funk já surge carregado por diversos códigos que serão vistos como negativos pela maioria da sociedade. O passinho surge nas favelas cariocas no começo dos anos 2000. O estilo de dança que mistura passos do break, frevo e kuduro, se populariza entre os jovens de periferia com a ajuda do YouTube, onde esses jovens postam vídeos de suas batalhas, feitas em casa ou nos bailes. Em 2008, quatro amigos postaram o vídeo “Passinho Foda”, que atingiu mais de 4 milhões de visualizações nesse site, o passinho passa então a fazer parte da realidade de muitos jovens e ganha também espaço na grande mídia, que patrocinou diversos eventos, e posteriormente através do documentário “ A batalha do Passinho” de Emílio Domingos, que vem sendo exibido em diversos festivais do Brasil e do mundo. Desde então, os dançarinos do passinho tem ganhado destaque na grande mídia, elogiados por levar uma nova alternativa para a realidade dos jovens de periferia, que tem através da dança a oportunidade de se distanciar do universo entendido por muitas pessoas como envolto no crime e nas drogas. OBJETIVOS E METODOLOGIA Através do acompanhamento de sites, páginas e perfis nas redes sociais virtuais e canais do Youtube, entrevistas com os dançarinos e observações de campo no Baile do Passinho que ocorreu no dia 14 de dezembro de 2013, na favela da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro – RJ, buscou-se a aproximação com o tema. Com o objetivo de refletir sobre as estratégias que 1 Graduanda do 6º período de Ciências Sociais da UFMG. Membro do Programa de Educação Tutorial em Ciências Sociais (PET –CS/UFMG). Email: [email protected] os dançarinos usam para o passinho se constrói a partir da diferenciação (BOURDIEU, 2007) em relação a outros estilos que compõem o universo funk. DISCUSSÕES Sendo em sua maioria garotas e garotos moradores das periferias do Rio, entendemos que os dançarinos de passinho são marcados por preconceitos de raça e classe oriundos de processos históricos (FACINA, 2009), que puderam ser analisados através das noções bourdieusianas acerca das hierarquias no espaço social, os campos sociais e a noção de habitus de classe. Em primeira instância, fazendo parte do que Becker enquadraria como “comportamentos desviante”, foi discutido como os jovens em suas formas de se diferenciar, buscam se desviar desses estigmas para o chamado “comportamento apropriado” (BECKER, 2009), buscando assim certa legitimidade para o passinho. Outro ponto levantado pelo trabalho é o fato de que essa legitimação buscada pelos jovens só é atingida em algumas instâncias, fazendo com que em outras eles ainda sejam relacionados à esses estigmas dos quais procuram se diferenciar. CONCLUSÕES GERAIS Através do trabalho podemos perceber que as estratégias utilizadas pelos jovens para se legitimarem dentro de seu campo social vem, em certa medida, funcionando, visto que eles estão cada vez mais se inseridos em lugares que antes não eram reservados à eles. Por outro lado, sendo apresentado como o funk da paz, livre das drogas ou dos discursos carregados de palavrões, como pudemos observar em campo, o passinho também ajuda a reforçar os estereótipos dos outros funkeiros. Entretanto, por se tratar de um fenômeno ainda em emergência, temos esse trabalho como apenas um primeiro apontamento de uma pesquisa que ainda se encontra em andamento. PALAVRAS-CHAVE: Juventude negra; funk; diferença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER, Howard S., Outsiders: estudos da sociologia do desvio. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2009. BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre, Editora Zouk, 2007. FACINA, Adriana. Funk e criminalização da pobreza. V ENECULT- Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Salvador, 2009.